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Os títulos que fizeram a minha cabeça

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Academic year: 2017

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gETuLIO

julho 2010 julho 2010

gETuLIO 53

O advogado e professor Carlos Alberto Carmona recomenda

os ícones do Direito Processual, mas incentiva a leitura sem

compromisso, apenas por prazer

OS TíTULOS

QUE FIZERAM A

MINhA CABECA

B I B L I O T E C A

B I B L I O T E C A

S

empre gostei muito de ler. Na

época em que era jovem gos-tava de livros que não eram as leituras usualmente recomen-dadas. Apreciava dos escritores como Eça de Queirós e Machado de Assis. Eu tinha 15 anos e isso não era tão comum. Júlio Verne foi outro autor essencial, todos os jovens deveriam ler. Reler é ainda mais importante. O mes-mo livro comporta leituras em épocas distintas. Eu mesmo tenho esse costu-ma de ler o mesmo livro dez anos depois e são mesmo outras leituras. Outro dia, até meio por brincadeira, estava lendo um autor dos velhos tempos, o José Mauro de Vasconcelos. Um livro que ganhei quando fiz 13 anos, chamado Coração de Vidro. São quatro histórias românticas, ligadas à pré-adolescência, mas lindíssimas. Eu, hoje com 50 anos, consegui ler o livro e me emocionar. Acredito que são emoções para reviver. Os jovens de hoje não leem muito e a culpa é nossa. Os professores não os incentivam a descobrir as Vinte Mil Léguas Submarinas, por exemplo. Que-rem que leiam autores jovens e atuais. É pena, a linguagem se perde, assim como os costumes. Os jovens hoje tam-bém têm pouco interesse em conhecer uma realidade de duzentos anos atrás. Eles precisam de informações que es-ses livros às vezes já não dão conta. Eu entendo, mas lamento. Clarice Lispec-tor, Machado de Assis... Esses autores se perderam. O jovem os lê para o

ves-tibular, então tem um ano para engolir esses autores, mas são leituras obrigató-rias, que não são livros lidos por prazer.

Direito Processual

Estudei onze anos no Colégio Ma-ckenzie, no ensino fundamental e mé-dio. Depois cursei Direito na Univer-sidade de São Paulo (USP). Quando me formei, ingressei na pós-graduação, também na USP, e ganhei uma bolsa de estudos da Fundação Rotary, quando fui para Nápoles, na Itália, onde morei durante um ano, entre 1983 e 1984. Logo após terminar o doutorado sobre arbi-tragem fui contratado como professor. Lecionei na Universidade Presbiteriana Mackenzie, na cadeira de Direito Pro-cessual Civil, mas saí em 2005, por estar com tempo curto. Continuo lecionan-do na São Francisco, na graduação e na pós. Coordeno um curso sobre estraté-gias de processo e também dou aulas no curso de arbitragem, todos do GVlaw.

Em Direito Processual existe um au-tor fundamental: o Cândido Rangel Di-namarco, que foi aluno do grande En-rico Tullio Liebman. Dinamarco tem de ser lido por qualquer um que queira aprender processo. Ele foi meu pro-fessor, sou seu seguidor. Uma de suas obras-primas é Vocabulário Jurídico Pro-cessual, seu grande mote é mostrar que para o cientista a linguagem é impor-tante. É preciso dominar o vocabulário e Dinamarco mostra isso com exemplos de termos técnicos. É um livro

funda-mental para quem quer entender bem processo. José Carlos Barbosa Moreira também tem livros excepcionais sobre esse tema. Um que me agrada muito são

os Comentários ao Código de Processo

Civil. É um autor formidável. Em ar-bitragem, o Brasil está formando uma tradição, pois a lei tem quinze anos apenas. Não há ainda um clássico. Eu recomendaria talvez Bruno Petit, um excelente autor francês, mas é difícil que nossos alunos tenham acesso a essa bibliografia mais especializada.

Mas autor para mim é uma questão de gosto. Algumas linguagens agradam mais. Por exemplo, o citado professor ita-liano Enrico Tullio Liebman, que esteve no Brasil em 1940, escreveu seu manual com uma linguagem claríssima, o aluno entende, absorve. Dá para ler num do-mingo deitado na rede. Já o Francesco Carnelucci, também italiano, tem outra forma de escrever, sua linguagem é mais difícil, as ideias não fluem tão claras.

É importante ler nossos clássicos do direito. Jorge Americano, João Mendes Júnior escreveram há cem anos, mas é uma delícia de texto. João Monteiro também escreveu textos claros. Esses autores não tinham de quem copiar, eles tinham de criar, não tinha o re-corta e cola de hoje. São escritores que precisam ser revisitados. Agora nós te-mos um código de processo civil que está no forno, foi apresentado ao Sena-do e irá ensejar um debate, então está na hora de ler esses autores antigos e

Por Carlos Alberto Carmona

voltar um pouco à simplicidade. Como gosto dos autores românticos, essa volta ao passado, sem muito barroco, é um pouco de minha maneira de ser.

O direito de não ler

Sempre gostei muito de livros de aventura e a obra de Júlio Verne, de que já falei, me encanta. Quando era garoto, meu pai me deu uma coleção com todos os livros dele. São coisas que hoje já não se conhecem. Ele tem contos maravilho-sos, com descrição de viagens. O último livro não técnico que li foi O Símbolo Perdido, de Dan Brown. Tem gente com muito preconceito, eu sei. Mas costumo ler em inglês, para treinar. Quanto ao preconceito em relação a best-sellers, lê-los não é errado, não é pecado nem perda de tempo. São informações inte-ressantes. O lazer também é importan-te. É para ler sem compromisso. Como tenho de ler semanalmente uma tese ou dissertação, então caso fique ligado apenas aos textos da academia, acabarei uma pessoa monótona.

Também aqui devemos prestigiar o que é nosso. O Moacyr Scliar tem livros interessantes, bem escritos, agradáveis. Outra coisa que é preciso pôr na cabeça: existe o direito de não ler um livro. Se o assunto não agrada ou não interessa, você pode deixar de lado. Tem gente que não suporta Dostoievski, por exemplo, é um autor lúgubre, difícil. James Joyce é

chato. Isso não significa que eu não saiba do que se trata, mas não é preciso ler. É importante saber o contexto, a impor-tância, mas não é necessária uma leitura obrigatória de um autor que não nos diz nada. Ler é prazer, não obrigação.

Hoje não se dão muitas possibilida-des de escolha para o jovem. Não se ofe-rece mais Machado de Assis, mas Harry Potter. Nada contra o bruxinho, eu mes-mo li e apreciei, entretanto, também já li e releio o Machado. Mas o jovem gos-ta de ler o moderno e utilitário, o que é uma pena. Apurar o gosto estilístico é um dos motivos pelo qual se deve ler. Para quem trabalha com ciências hu-manas é fundamental a diversidade lin-guística. Como professor ora falo para profissionais, ora para pós-adolescentes. A linguagem tem de mudar, precisa se adequar a cada situação.

Na semana passada comecei a ler um livro do John Boyne, O Garoto no Con-vés. O romance anterior dele, O Menino do Pijama Listrado, até virou filme. É uma boa tradução, leitura agradável. Esse autor tem muita facilidade de se colocar na situação de um jovem. O li-vro conta a história do navio de guerra britânico HMS Bounty, que foi palco de uma revolta de parte da tripulação con-tra o capitão William Bligh. A história da expedição é narrada do ponto de vista de John Jacob Turnstile, um garoto de Porstmouth, sul da Inglaterra, que sofre

abusos no orfanato e pratica pequenos furtos nas ruas da cidade. Detido após roubar um relógio, é salvo pela própria vítima do roubo quando esta lhe faz uma proposta: em vez de ficar encarce-rado, embarcaria no HMS Bounty para passar pelo menos 18 meses como criado particular do capitão Bligh.

Filmes de guerra

Gosto de filmes históricos, pelícu-las de guerra e de ação. O último que acompanhei foi a série The Pacific, da HBO. Estou lendo também o livro, do Hugh Ambrose. Vi Avatar e gostei. É bom ver esse tipo de filme, não precisa ter vergonha de confessar. Adorei as-sistir a Harry Potter e li todos os livros. É bom para espairecer, incentivar a imaginação e a criatividade. Woody Allen é um diretor de que não gosto. Uma confissão que pode ser herética [risos]. Revejo filmes, por exemplo, o MacArthur (1977), de Joseph Sargent, estrelado por Gregory Peck, me agrada muito. Ou a Ponte do Rio Kwai (1957) é outro clássico, dirigido por David Lean, um belo filme. Como gosto de filmes de guerra, esses são muito especiais. E, é claro, não poderia deixar de citar O Res-gate do Soldado Ryan (1988), de Steven Spielberg, que para mim é um clássico dos clássicos desse gênero.

[Depoimento recolhido por Ga-briella de Lucca]

Foto / Divulgação

Referências

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