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O brincar em sala de espera de um ambulatório infantil na perspectiva de crianças e seus acompanhantes.

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Academic year: 2017

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1 Trabalho extraído do Proj eto inserido no Grupo de Estudos em Saúde da Criança e do Adolescente da Escola de Enferm agem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 2 Aluna do Curso de Graduação em Enferm agem ; 3 Orientador, Professor Doutor, em ail: lucila@eerp.usp.br; 4 Volunt ária do proj eto de extensão; 5 Professor Associado, e- m ail: lim are@eerp.usp.br; 6 Professor Doutor, e- m ail: defm ello@eerp.usp.br. Escola de Enferm agem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvim ento da pesquisa em enferm agem

O BRI NCAR EM SALA DE ESPERA DE UM AMBULATÓRI O I NFANTI L

NA PERSPECTI VA DE CRI ANÇAS E SEUS ACOMPANHANTES

1

I ara Crist ina da Silva Pedro2

Lucila Cast anheira Nascim ent o3

Livia Capelani Polet i4

Regina Aparecida Garcia de Lim a5

Débora Falleiros de Mello6

Flávia Mendonça Rosa Luiz4

O br incar é um a das for m as que a cr iança t em par a se com unicar com o m undo que a r odeia. O obj et ivo dest e est udo descrit ivo- explorat ório foi com preender a experiência do brincar para a criança e seu acom panhant e, que perm anecem em sala de espera am bulat orial. Realizaram - se ent revist as sem i- est rut uradas com 12 crianças e seus acom panhantes. A análise dos dados perm itiu a identificação de três tem as: tem po de esper a: “ não t em j eit o, t em que esper ar ” ; apr ov eit ando par a br incar : t or nando o am bulat ór io um espaço agradável e o brinquedo com o m ediador das relações. O brincar m ost ra- se com o um a efet iva est rat égia de in t er v en ção da en fer m agem pediát r ica, par a au x iliar a cr ian ça n a su per ação de bar r eir as im post as pelo at en dim en t o. É u m r ecu r so facilit ador do pr ocesso de com u n icação en t r e as cr ian ças, acom pan h an t es e profissionais, que m uit o cont ribui para a m elhoria do cuidado prest ado.

DESCRI TORES: criança; j ogos e brinquedos; am bulat ório hospit alar; enferm agem pediát rica

PLAYI NG I N THE W AI TI NG ROOM OF AN I NFANT OUTPATI ENT CLI NI C FROM

THE PERSPECTI VE OF CHI LDREN AND THEI R COMPANI ONS

Playing is one way children use t o com m unicat e wit h t he world t hat surrounds t hem . This descript ive-ex plor at or y st udy aim ed t o under st and t he ive-ex per ience of play ing for childr en and t heir com panions in an out pat ient wait ing room . We perform ed sem i- st ruct ured int erviews wit h 12 children and t hose responsible for t hem . I n t he dat a analysis, t hree t hem es were ident ified: wait ing t im e: “ t here is no ot her way, you have t o wait” ; using the tim e to play: turning the clinic into a m ore pleasant space; and the toy as a relations m ediator. Playing is revealed t o be an effect ive pediat ric nursing int ervent ion st rat egy in helping t he child t o overcom e barriers im posed by the assistance. This resource favors the com m unication process am ong children, com panions and professionals and, t hus, great ly cont ribut es t o im prove t he care delivery.

DESCRI PTORS: child; play and playt hings; out pat ient clinics, hospit al; pediat ric nursing

JUGANDO EN LA SALA DE ESPERA DE UN SERVI CI O AMBULATORI O I NFANTI L

BAJO LA PERSPECTI VA DE NI ÑOS Y SUS ACOMPAÑANTES

Jugar es una de las form as que el niño tiene para com unicarse con el m undo que lo rodea. La finalidad de est e est udio descript ivo- explorat orio fue com prender sobre la experiencia que el niño y su acom pañant e tienen con relación al jugar m ientras perm anecen en la sala de espera. Se realizaron entrevistas sem i-estructuradas con 12 niños y sus responsables. Mediante el análisis de los datos fue posible identificar tres tem as: tiem po de esper a: “ no se puede hacer nada, hay que esper ar ” ; apr ovechando par a j ugar : convir t iendo el ser vicio de am bulat orio en un espacio agradable siendo el j uguet e un m ediador en est as relaciones. El act o de j ugar se m uest ra com o una est rat egia efect iva de int ervención en enferm ería pediát rica, com o una form a de ayudar al niño a superar los obstáculos im puestos durante la atención. Es un recurso que facilita el proceso de com unicación ent re los niños, acom pañant es y profesionales y que cont ribuye para m ej orar el cuidado brindado.

(2)

I NTRODUÇÃO

A

s cr i a n ça s, g e r a l m e n t e , so f r e m co m g r an d es m u d an ças d e am b ien t e e a ch eg ad a n o hospital é, sem dúvida, m om ento gerador de estresse e m edo. Quer sej a por m ot ivo de hospit alização ou at endim ent o am bulat or ial, essa at iv idade ex ige da criança o est abelecim ent o de novas relações com o o u t r o e co n si g o m e sm a , a l é m d e co n st a n t e s adapt ações. As cr ianças, de um m odo ger al, e em especial os pré- escolares, t êm dificuldades para lidar com o desconhecido e, quando expost as a sit uações

de m edo, t or n am - se in segu r as e an siosas( 1 ). Par a

m inim izar esses sentim entos, buscam aj uda em quem co n f i a m , n o ca so , se u s f a m i l i a r e s, p o r é m , n e m sem pr e esses con segu em at en der essa dem an da, pois t am bém se sent em am eaçados e desprot egidos por est arem em um am bient e est ranho, nesse caso, o hospit al.

No esp aço h o sp i t al ar, a cr i an ça v i v en ci a concom it ant em ent e as rot inas do serviço de saúde e

o seu pr ocesso espont âneo de desenv olv im ent o( 2),

por isso os pr of ission ais de saú de dev em en v idar esfor ços t ant o no sent ido de que essa ex per iência n ã o se j a t r a u m á t i ca , o u p a ssív e l d e ca u sa r int errupções nest e processo, quant o de hum anizar a assist ência prest ada. Os obj et ivos do t rat am ent o não devem se rest ringir a salvar vidas e curar doenças, m as, t am b ém , a p r ev en ir seq ü elas e a est im u lar par alelam ent e o desenv olv im ent o neur opsicom ot or e co g n i t i v o d e m o d o a d eq u a d o à r est a u r a çã o e p r om oção d a saú d e, sob u m a v isão m ais am p la. Assim , est r at égias cr iat iv as, com o os br in qu edos, dev em ser ut ilizadas par a m inim izar os efeit os da h o sp i t a l i za çã o( 3 ) e d e o u t r o s a t e n d i m e n t o s am bulat or iais, bem com o par a aux iliar a cr iança a superar adversidades. Além disso, o brincar pode ser vist o com o um recurso capaz de fort alecer relações e est reit ar o cont at o hum ano ent re o profissional de sa ú d e e o u su á r i o , p r o p o st a d e u m d o s e i x o s nort eadores da Polít ica Nacional de Hum anização da At e n çã o e Ge st ã o d o Si st e m a Ún i co d e Sa ú d e ,

im plant ada pelo Minist ério da Saúde( 4).

A cr iança, at r av és do br inquedo, inicia seu aut oconhecim ent o e int er age, pr im eir am ent e, com o m undo que a rodeia, o que a leva a descobrir as v á r i a s p o s s i b i l i d a d e s q u e e s s e l h e o f e r e c e ; post eriorm ent e, int erat ua com os out ros. Ao brincar el a se r el aci o n a co m su a ci r cu n st ân ci a e co m o

m om ent o v iv enciado num det er m inado cont ex t o( 5).

Além d isso, a m an ip u lação d os b r in q u ed os lib er a t em ores, t ensões, ansiedade e frust ração; prom ove sat isf ação, d iv er são e esp on t an eid ad e( 6 - 7 ). Assim , b r i n c a n d o a s c r i a n ç a s e x e r c i t a m s u a s pot encialidades e podem r eviver cir cunst âncias que lhes causar am enor m e ex cit ação e alegr ia, algum a ansiedade, m edo ou raiva. Nessa sit uação m ágica e d esco n t r aíd a, el as p o d em ex p r essar e t r ab al h ar diferent es em oções. Essa dualidade ent re o real e o i m a g i n á r i o p e r m i t e à c r i a n ç a , n o c a s o d e

hospit alização( 6), ou em at endim ent o am bulat or ial,

t ranspor seu papel de passiva e assum ir desem penho at ivo em seu t rat am ent o, pois quando se abre espaço para que a criança faça suas escolhas e m ost re do q u e g o st a e sa b e, el a se t o r n a a g en t e d e su a s t r an sf or m ações( 2 ).

Com em basam ent o nas funções do br incar com o r ecu r so p ar a p r om ov er o d esen v olv im en t o infant il e cont r ibuir com o r esgat e e for t alecim ent o do processo de hum anização, part icularizando aqui a in t er ação d a cr ian ça com o b r in q u ed o n o esp aço am b u lat or ial, or g an izou - se e im p lem en t ou - se u m proj et o de int ervenção de enferm agem que ut iliza as at ividades recreacionais com o t ecnologia de cuidado com as crianças em sala de espera am bulat orial de um hospit al universit ário. O obj et ivo dest a pesquisa é co m p r e e n d e r a e x p e r i ê n ci a d o b r i n ca r, so b a perspect iva da criança e de seu acom panhant e, após ela t er par t icipado das at iv idades desse pr oj et o de int ervenção. Nest e est udo, j ust ifica- se o enfoque do br incar no espaço am bulat or ial, pois a m aior ia das

invest igações encont radas na lit erat ura( 2, 6- 13)

refere-se ao u so desrefere-se r ecu r so apen as em sit u ações de i n t e r n a çã o d a cr i a n ça e o cu i d a d o d e ssa , n o am bulat ór io, t am bém dev e incor por ar int er v enções q u e v a l o r i ze m a h u m a n i za çã o e o p r o ce sso d e desenv olv im ent o infant il.

CAMI NHO METODOLÓGI CO

Este é um estudo descritivo-exploratório(14) e,

devido à natureza do objeto e dos objetivos propostos, encont ra- se apoiado nos pressupost os da abordagem qualit at iva. Foi realizado no Am bulat ório de Pediat ria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

(HCFMRP-USP) , unidade localizada no cam pus universitário. Por

(3)

Com it ê de Ét ica da in st it u ição selecion ada par a o desenvolvim ent o dest e est udo, t endo sido aprovado. Part iciparam da pesquisa doze crianças que aguar dav am at endim ent o am bulat or ial j unt am ent e com seus acom panhant es, t am bém em núm er o de doze, sendo: um t io, um a avó, um pai e os dem ais, m ães. Para selecionar os part icipant es, est abeleceu-se co m o cr i t é r i o s d e i n cl u sã o a s cr i a n ça s q u e par t icipar am do pr oj et o de ex t en são* “ O br in car / b r in q u ed o em sala d e esp er a d e u m am b u lat ór io infantil”, realizado no am bulatório da m esm a instituição onde se desenvolveu est a pesquisa; as que t ivessem idade m aior ou igual a sete anos, j á que, nessa faixa, elas possuem habilidades par a com unicação v er bal e co n se g u e m co m p r e e n d e r e e x p r e ssa r se u s sen t im en t os or alm en t e, em f u n ção d o est ág io d e

desenvolvim ento em que se encontram( 15). Tal proj eto

de ext ensão vem sendo im plem ent ado por alunos de graduação, desde m aio de 2003.

I n icialm en t e, r ealizou - se a ex p lor ação d e cam po, para se m ant er proxim idade com as crianças e seu s acom pan h an t es, bem com o par a par t icipar das atividades recreacionais j untam ente com o grupo de alunos que desenvolve o proj et o de ext ensão no a m b u l a t ó r i o . Essa a t i v i d a d e é , r o t i n e i r a m e n t e , r ealizada t r ês v ezes por sem ana, no int er v alo que ant ecede os at endim ent os do período da t arde.

A coleta de dados foi realizada no período de j ulho de 2004 a j aneiro de 2005. No encontro com as cr ian ças e seu s acom pan h an t es, os pesqu isador es liam o “ Term o de Consent im ent o Livre e Esclarecido” e , a p ó s e scl a r e ce r a s d ú v i d a s, e n t r e g a v a - o a o r esponsáv el pela cr iança que concor dar a em fazer par t e da pesqu isa. O obj et iv o da in v est igação f oi cu i d a d o sa m e n t e e x p o st o à s cr i a n ça s e se u s responsáveis, ocasião em que os pesquisadores lhes g ar an t ir am o an on im at o e sig ilo d as in f or m ações colet adas. Asseguraram , ainda, aos suj eit os o direit o de participar ou não do estudo, sem prej uízos ao seu at en dim en t o. A segu ir, pedia- se ao r espon sáv el e criança que assinassem o t erm o, deixando- lhes um a có p i a . Ne ssa m e sm a o ca si ã o , so l i ci t a v a - se aut orização para gravar a ent revist a.

Utilizou- se a entrevista sem i- estruturada para a co l et a d o s d a d o s em p ír i co s. El a b o r o u - se d o i s instrum entos para tal atividade, um aplicado à criança e , o u t r o , a o se u a co m p a n h a n t e , e m m o m e n t o s distintos, no próprio espaço do am bulatório hospitalar, a n t e s o u d e p o i s d o a t e n d i m e n t o , co n f o r m e a

disponibilidade dos part icipant es. Para com plem ent ar as en t r ev ist as, u t ilizou - se, t am bém , u m diár io de ca m p o o n d e se r e g i st r a v a a s o b se r v a çõ e s e im pressões de cada encontro, dando especial atenção à com u n icação n ão- v er bal das cr ian ças e de seu s r esponsáv eis, com o pausas, post ur a, ex pr essões e int eração com o out ro e com o m eio.

Co m o j á h a v i a o e n g a j a m e n t o d a s pesquisador as no pr ocesso de desenvolvim ent o das at ividades relacionadas ao proj et o de ext ensão, num prim eiro m om ent o, ut ilizou- se essa est rat égia com o r e cu r so d e a p r o x i m a çã o e a q u e ci m e n t o p a r a a realização das ent revist as. Tal at ividade possibilit ou que se part icipasse das brincadeiras e se observasse o com por t am ent o das cr ianças; as int er ações com os brinquedos, com os pesquisadores e com out ras crianças; falas e silêncios, fat ores que enriqueceram os dados, os quais foram registrados ao final de cada encont ro, para que não se perdessem os det alhes.

Num segundo m om ento, ou seja, no próxim o ret orno da criança ao serviço am bulat orial, realizou-se ent r ev ist as com o r esponsáv el e com a cr iança, tendo com o guia questões norteadoras que auxiliaram a m anutenção da conversa centrada nos obj etivos do estudo. Para os acom panhantes, questionou-se “O que você gost aria de m e cont ar sobre o t em po em que você e seu filho ficam aguardando o at endim ent o no am bulat ór io do hospit al?” e “ Você per cebe algum a diferença no com port am ent o do seu filho quando ele brinca no am bulatório antes do atendim ento?”. Quanto às crianças, a pergunta que deu início à conversa foi “ O que você gostaria de m e dizer sobre o tem po em que passam os j unt os no am bulat ór io, ant es de ser atendido(a)?”. Vale com plem entar que, nesse segundo m o m e n t o d a co l e t a d e d a d o s, a s a t i v i d a d e s recreacionais do proj et o de ext ensão eram realizadas n o r m al m en t e, d e m o d o q u e as cr i an ças p o d i am p a r t i ci p a r d a s b r i n ca d e i r a s, e n q u a n t o se u s r esp o n sáv ei s er am en t r ev i st ad o s, e so m en t e ao térm ino das atividades das crianças é que efetuávam os a ent revist a com elas. De m odo geral, foi realizada apenas um a entrevista com cada criança e um a outra com seu responsável, entretanto, em certos m om entos sen t iu - se a n ecessid ad e d e r et or n ar ao cam p o e co m p l e m e n t a r a l g u m a s i n f o r m a çõ e s d a d a s p o r det er m in adas cr ian ças e/ ou acom pan h an t es, pois, durante a prim eira análise, suscitaram novas reflexões que m ereciam ser aprofundadas ou, ainda, dúvidas a ser em esclar ecidas.

(4)

As ent revist as foram t ranscrit as logo após o seu t ér m ino, par a não se per der det alhes v aliosos par a análise. Realizou- se o pr ocesso de t r anscr ição t en d o com o cr it ér io a p r eser v ação d as f alas d os p ar t icip an t es; r ealizad as alg u m as cor r eções, m as e ssa s n ã o a l t e r a r a m o co n t e ú d o d a s f r a se s, pr eser v ando a m ensagem . Ut ilizou- se, códigos C1, C2, C3 até C12, para identificar as crianças e A1, A2, A3 até A12, para os acom panhantes, visando m anter o anonim at o dos suj eit os da pesquisa.

Na análise, organizou- se sistem aticam ente os dados em pír icos colh idos n as en t r ev ist as, e, após exaustivas leituras, classificou- se as falas dos suj eitos e m g r u p o s, d e a co r d o co m a s se m e l h a n ça s

encont r adas( 14). Depois dessa et apa, foi r ealizada a

cat eg o r i zação d o s d ad o s, sep ar an d o - o s em t r ês tem as, que perm itiram a com preensão da experiência do brincar tanto por parte da criança, que perm anece em sala de esper a par a at endim ent o am bulat or ial, quanto para seu acom panhante. Na apresentação das falas selecionadas para ilust rar os t em as, ut ilizou- se a se g u i n t e p a d r o n i za çã o : o s p a r ê n t e se s ( . . . ) i n d i ca v a m r e co r t e s d e n t r o d a m e sm a f a l a e a s inform ações cont idas ent re colchet es [ ] referiam - se a observações im portantes, as quais contextualizavam as falas ou expressavam com portam entos não- verbais dos part icipant es.

RESULTADOS

O processo de análise qualit at iva dos dados perm it iu a ident ificação de t rês t em as, ao redor dos

quais se or ganizou o m at er ial em pír ico: t em po de

e sp e r a: “ n ã o t e m j e i t o , t e m q u e e sp e r a r ” ;

apr ov eit ando par a br incar: t or nando o am bulat ór io

um espaço agradável e, por últim o, o brinquedo com o

m e d i a d o r d e r e l a çõ e s. A se g u i r, se r á f e i t a a apr esent ação dos m esm os.

Tem po de espera: “ não t em j eit o, t em que esperar ”

Os resultados deste estudo evidenciaram que o tem po de espera, durante o qual as crianças e seus acom p an h an t es ag u ar d av am p ar a o at en d im en t o a m b u l a t o r i a l , co n f i g u r o u - se co m o f a t o r desencadeante de situações, em sua m aioria, de difícil m anej o para am bos. Nas crianças, a espera causava a n si e d a d e , a g i t a çã o / i n q u i e t a çã o , n e r v o si sm o , i m p a ci ê n ci a , ch o r o , i r r i t a çã o , a g r e ssi v i d a d e e

cansaço, porém , essas repercussões foram além das situações vivenciadas em sala de espera, pois quando v iam a necessidade de r et or nar em ao am bulat ór io para um novo at endim ent o, elas declararam que não se sen t iam m ot iv ad as p ar a t al. As f alas a seg u ir elucidam essas afir m ações.

Ah, não tem nada pra fazer, tem que ficar sentado,

esperando o m édico. I sso irrita, né? ( C2) .

Quando eu venho aqui e quando vocês vêm , a gente até

esquece. Quando vocês vêm , o tem po passa m ais rápido e quando

vocês não vêm , o tem po dem ora pra passar. Fica dem orando, aí dá

problem a, né? Aí fica dem orando, a gente fica enj oado. ( ...) Ficar

esperando sentado, a gente cansa, dá um a fom e e não tem jeito de

ficar sentado. As pernas, a coluna da gente fica doendo, aí, ficar

brincando, fica bem m elhor ( C7) .

(...) Tem vez que eu estou cansado e eu não quero vir (C1).

Al é m d i sso , a s cr i a n ça s p a r e ci a m t e r a sensação de est ar presas no am bulat ório, sem poder e x p l o r a r e sse a m b i e n t e q u e se e n co n t r a v a e m const ant e m odificação. Com fr eqüência, r ev elar am aos seus acom panhantes o desej o de retornarem aos seus dom icílios, ou de desbravarem out ros espaços. As falas abaixo ilust ram o expost o.

Ele gosta de ficar andando. Da últim a vez que eu vim , a

m édica cham ou ele, eu não encontrava ele. Ele não entrou no

consultório. Aí eu conversei com a m édica e ela m e dispensou. Eu

não achava ele no hospital. Hoj e eu falei para ele não andar, m as

daí tem as brincadeiras (...). Ele não gosta de ficar parado! (A11).

Ela é agitada. Ela não gosta de ficar quieta num lugar

só. Porque ela quer ficar andando pra lá e pra cá: quer ir no

banheiro, beber água, sair. E não pode ( A13) .

Se fosse para ela ficar sentada, ela não tem paciência,

aí ela pede para ir em bora. Agora m esm o ela estava inquieta, daí

ela te viu lá no fundo, e falou “ m ãe eu vou brincar” ( A9) .

Vixi, eu j á quero sair logo [ da consult a, quando não

brinca antes de ser atendido] . Eu viro um a coisa, um a coisa ruim ,

porque eu não quero ficar aqui [ no am bulatório] ( C5) .

Para os acom panhant es, os desdobram ent os relacionados ao t em po de espera t am bém est iveram pr esen t es, con t u do, em ou t r a dim en são. Além de m an if est ar em in sat isf ação com r elação ao lon g o per íodo em que aguar dav am pelo at endim ent o, os acom panhant es m ost r ar am - se env olv idos na t ar efa de tentar conter as crianças, ou pelo m enos m inim izar a sit u ação, m an t en do v igilân cia con st an t e. Nesse sent ido, relat aram o que segue.

Ah, esperar não é fácil seja pra qualquer coisa que você

for fazer. Não é fácil esperar, m as tem que esperar, você vai fazer

o quê? Então, não tem jeito. Tem vezes em que eu venho aqui, que

(5)

atendido lá nos outros setores que eles vão. E, às vezes, eu sou

a últim a, sabe? Mas, não tem j eito. I r em bora sem a consulta eu

não posso, porque j á vim por causa disso, né? ( A6) .

( ...) Às vezes, com out ras crianças, fica agressivo,

assim , tem que ter m ais cuidado pra olhar, né? ( A4) .

Na o p i n i ã o d o s a co m p a n h a n t e s, o u t r o s fat or es cont r ibuír am par a t or nar a per m anência no am bulat ór io ainda m ais despr azer osa, t ais com o: o calor; o barulho; problem as financeiros, devido aos g a st o s co m a a l i m en t a çã o d u r a n t e a esp er a n o hospital e dificuldade de m anter a criança aguardando o m om en t o do at en dim en t o. Além desses fat or es, m encionaram a dificuldade de se ausentarem do local, inclusive para satisfação de necessidades básicas, sej a por não se sent ir em segur os em deix ar seus filhos d esacom p an h ad os, sej a p elo f at o d e t em er em a ch a m a d a p a r a o a t e n d i m e n t o e n ã o e st a r e m present es no m om ent o.

Tem vezes tam bém que foi super difícil segurar ele

quieto, pra ele ficar quieto esperando o horário dele. Ele fica sem

paciência. ( ...) Agora, eu acho que um pouco ruim é esse negócio

do financeiro m esm o. Porque a gente tem que trazer de tudo, e

ainda m ais ele, que se ele for querer com er as coisas, tem sem pre

que tá escolhendo pra ver o que ele pode com er [ a criança era

alérgica a vários tipos de alim entos] . Mas, tam bém , antes era a

dificuldade de ir no banheiro, porque largava ele sozinho. Agora,

não, porque ele tá bem m aior, né? Mas, antes era um a dificuldade

que eu t inha. E esse calor, né? ( A1) .

É muito barulho! Aqui não dá [ pra assistir televisão] (A13).

A part ir dos exem plos expost os, observa- se que a origem dos problem as vivenciados, tanto pelas crianças com o pelos acom panhant es, reside na longa espera pelo at endim ent o. O t em po de espera para a co n su l t a n o am b u l at ó r i o é v ar i ad o e n ão ex i st e agendam ent o com hora m arcada, ou sej a, t odas as crianças são agendadas para um único horário.

Apr ov eit ando par a br incar : t or nando o hospit al um espaço agr adáv el

O t e m p o d e e sp e r a p a r a a co n su l t a am bulat orial apresent ou significados dist int os para as cr ian ças e acom p an h an t es, p od en d o r ep r esen t ar desde um a et er nidade, algo longe de t er seu fim , pela ausência das br incadeir as, at é a sensação de q u e h o r a s p a ssa r a m co m o se g u n d o s, q u a n d o p a r t i ci p a v a m d a s a t i v i d a d e s r e cr e a ci o n a i s p r op or cion ad as p elo p r oj et o d e ex t en são. A esse respeito, os participantes exem plificaram em detalhes essa difer ença.

É difícil [ sem as brincadeiras] , porque não tem nada

pra gente se divertir e o tem po passar. É que, às vezes, eu trago

livro de historinhas, só que às vezes eu esqueço, e aí é ruim ( C6) .

É por causa que quando a gente vem aqui [ participar

das brincadeiras] , o t em po passa m ais rápido. A gent e fica

brincando e nem percebe o tem po passar. O m édico cham a, nem

precisa parar de brincar. Ele fica aí gritando. E outra, quando está

sentado, fica com a cabeça doendo. Então, você fica pintando

desenho, você nem vê nada (C7).

Quando ela tá brincando, ela fica tranqüila. Quando tá

sentada, ela fica nervosa. Fala da dem ora, quer ir em bora. Quando

tá brincando pode deixar até am anhã. Daí não tem pressa ( A10) .

(...) [ Quando está brincando] ela fica calma, ela fica parada

num lugar, ela sabe esperar o m édico. Não im porta! Tanto faz para

ela o m édico cham ar hoje ou não cham ar, tá bom dem ais (A3).

Eu v ej o, assim , quando ela t á br incando ela fica

tranqüila e quando não tem nada pra fazer ela fica m al hum orada,

ela tem um m au hum or terrível, ela em burra. Aí, ela fica com a

cara fechada, não tem nada para ela fazer (A12).

As r e p e r cu ssõ e s d o o f e r e ci m e n t o d a s brincadeiras em sala de espera am bulat orial t am bém f o r a m m e n ci o n a d a s p e l o s a co m p a n h a n t e s, a o d escr ev er em q u e as at i v i d ad es r ecr eaci o n ai s o s d e i x a r a m m a i s d e sca n sa d o s, d e sco n t r a íd o s e tranqüilos. A realização de tais atividades em sala de esp er a, ou sej a, n o m esm o am b ien t e em q u e os acom p an h an t es p er m an eciam , f oi ap on t ad o com o positivo, pois contribuíram para aum entar a segurança dos acom panhant es, à m edida que v iam que seus f i l h o s e st a v a m se n d o “ cu i d a d o s” , se m co n t u d o per der em seus papéis de cuidador es e pr ot et or es; o b se r v a n d o - o s à d i st â n ci a e st a v a m se m p r e d e pront idão, caso fosse necessário.

Enquant o t em essas brincadeiras, por exem plo, é

im portante porque ele fica, assim , a gente fica descansando,

descansa a cabeça, fica sent ado, m ais t ranqüilo. Aí, ele fica

brincando e a gente tá vendo de longe, se está tudo direitinho (A4).

( ...) porque se ele tá brincando lá, a gente tam bém tá

aqui sossegado. Pode até dar um cochilinho ( A7) .

( ...) m as só de eu estar aqui despreocupada com ela,

que ela tá ali brincando, j á é bom dem ais, né? Senão ela estaria

chorando e pedindo pra ir em bora. Fica m uito tem po parada, né?

Ent ão isso aí é m uit o bom ( A8) .

(6)

próprios m eios para driblar a espera, com os recursos dispon ív eis: assist em a t elev isão; con v er sam com o u t r as p essoas; f azem cr och ê; d i st r aem - se com r ev i st as, l i v r o s, p al av r as cr u zad as e b r i n q u ed o s t r azidos do pr ópr io dom icílio, assim com o algum as

crianças ent ret êm - se ouvindo m úsicas em walkm ans.

Às vezes eu faço bordado, às vezes eu faço crochê, às

vezes eu não faço nada. Tam bém nem toda vez a gente traz, né?

Então, é assim , a gente fica esperando assim , sem fazer nada

m esm o (A6).

[ Quando não tem as brincadeiras] eu brinco com a minha

irm ã. Se só venho com a m inha m ãe, daí eu trago algum a coisa,

algum livrinho para eu ler. Só hoj e que eu não trouxe ( ...) ( C11) .

Os par t icipan t es do est u do cit ar am ou t r as a t i v i d a d e s d e se n v o l v i d a s n o a m b u l a t ó r i o p o r v o l u n t á r i o s, e a p ó s v i v e n ci á - l a s d e m o n st r a r a m r e co n h e ce r a su a i m p o r t â n ci a co m o f o r m a diferenciada de cuidar. Um a das crianças participantes da pesquisa r et r at ou com o o env olv im ent o com as br incadeir as er a capaz de descont r air o am bient e, f azen do- a esqu ecer, in clu siv e, o m ot iv o pelo qu al

est ava no hospit al. Era brinquedo pra lá, brinquedo

pra cá. A esse respeit o, assim se referiu:

Ah, eu gost ava quando t inha aquele cercado, que aí

vinha e tinha aquele tanto de brinquedo e tinha joguinho. Quando

vinha aqueles palhaços tam bém . Aí ficava bem m elhor. Aí a gente

chegava aqui, a m édica gritava na orelha da gente, a gente nem

escutava. Era brinquedo pra lá, era brinquedo pra cá. Aí ficava

m elhor (C7).

O brinquedo com o m ediador de relações

A a n á l i se d o s d a d o s e v i d e n ci o u q u e o s acom panhant es perceberam que quando as crianças participaram das atividades recreacionais, em período q u e a n t e ce d e a co n su l t a m é d i ca , e l a s se ap r esen t av am co m d i sp o si ção d i f er en ci ad a p ar a iniciar o at endim ent o. O t em po de esper a, quando a p r o v e i t a d o d e m o d o a p r o p i ci a r u m a m b i e n t e d esco n t r aíd o e al eg r e, m i n i m i za o s sen t i m en t o s n e g a t i v o s v i v e n ci a d o s p o r a m b o s, cr i a n ça s e a co m p a n h a n t e s, e a b r e ca m i n h o s p a r a o est abelecim ent o de relações harm oniosas ent re eles e os pr ofissionais de saúde. Com o conseqüência, a i n t er ação en t r e as p esso as q u e co m p õ em esses m u n d o s d i st i n t o s - cr i a n ça , a co m p a n h a n t e e profissionais - é facilit ada pela oport unidade de um d iálog o ab er t o, q u e v ai além d a t r an sm issão d e infor m ações, em busca da com unicação efet iv a. As falas dos acom panhant es ilust ram esse benefício.

Com as brincadeiras, ele j á fica m ais am igo do m édico.

Já chega m ais descontraído ( A1) .

Aqui, parece que eles tão tratando a pessoa com o se

fosse um da fam ília m esm o. Faz, faz [ diferença ser tratado desta

form a] pra criança e pros pais, porque a criança sente m ais à

vontade, tem liberdade pra brincar com o m édico. Então, faz a

diferença sim ( A7) .

O r e l a t o d a s o b se r v a çõ e s f e i t a s p e l o s a co m p a n h a n t e s, a r e sp e i t o d o co m p o r t a m e n t o positivo das crianças durante a consulta m édica, após part iciparem das at ividades do proj et o de ext ensão, b e m co m o a o p i n i ã o d a s p r ó p r i a s cr i a n ça s dem onst r ar am que a ut ilização de est r at égias par a “ quebrar o gelo” e facilitar a com unicação, durante a con su lt a, f or am v alor izad as p or eles. Cr ian ças e a co m p a n h a n t e s r e v e l a r a m p r e f e r ê n ci a s p e l o at endim ent o prest ado por profissionais de saúde que t en t am est abelecer r elações com am bos, qu e v ão além do ato do atendim ento em si ou do m otivo pelo qual estão no am bulatório. Perceber que o profissional está aberto para o diálogo e que ele se im porta com a cr i an ça e seu aco m p an h an t e p ar ece ser v i r d e p ar âm et r o d e av aliação d a q u alid ad e d o cu id ad o prest ado para os dois. A esse respeit o, t ranscreve-se o s t r e ch o s q u e d e st a ca m a s q u a l i d a d e s d o s pr ofissionais, segundo a pr efer ência das cr ianças e acom pan h an t es.

( ...) prefiro os brincalhões, porque é m ais legal. Ficam

brincando, perguntando, perguntando com o é que eu estou, se eu

vim aqui só pra nam orar. Ela [ um a m édica] brincava, gostava de

conversar com igo. Os m édicos que não brincam , eles perguntam

algum as coisas e só. ( C1) .

( ...) C1 gostava m uito dela [ de um a m édica] . Ela foi

em bora. Ela brincava m uito com ele. Via ele aqui de fora [ na sala

de espera] e falava que lá vinha o fofo dela. Eram essas coisas,

elogio pra ele. Tem uns m édicos que são assim m esm o, são m ais

quietos, não são m uit o de brincar, m as são bonzinhos. Ai, eu

prefiro os m ais brincalhões! Aí, a criança se sente m ais à vontade.

Dá um out ro j eit o na consult a ( A1) .

Ah, [ prefiro] os que brincam m ais, deixam m ais à

vontade. As crianças ficam m ais à vontade, até a gente assim ,

pra conversar. Se tem um m édico que tem a cara m eio ruim ,

fechada, a gente fica até com m edo de conversar, fica até com

vergonha de conversar com o m édico ( A7) .

(7)

m a i s a ce ssív e i s a o s p r o f i ssi o n a i s d e sa ú d e se houvesse a brincadeira para m ediar a interação entre est es dois m undos. Exem plificaram que, por m eio do br incar, linguagem nat ural das cr ianças, ser ia m ais f áci l ab o r d á- l as, p r i n ci p al m en t e n o m o m en t o d a realização de cert os procedim ent os invasivos, com o punção v enosa par a colet a de sangue. O r elat o da a co m p a n h a n t e A1 i l u st r a a i m p o r t â n ci a d a s h a b i l i d a d e s d o p r o f i ssi o n a l p a r a d e se n v o l v e r o t rabalho com crianças e os benefícios da int rodução do brinquedo, para além do espaço da sala de espera am bulat orial. Nesse sent ido, ela relat ou:

Ele tem m edo [ de tirar sangue] . Ele endurece o corpo

assim . Ah, eu tento passar pra ele ficar m ais calm o, que é só um a

picadinha, né? Que vai passar rápido. É o que eu falo pra ele. Aí,

ele acaba perdendo um pouco do m edo e acaba deixando tirar o

sangue. A penúltim a vez que ele veio tirar sangue teve um m oço

que veio assim , que ele [ a criança] chorou e ele foi sem paciência

com ele. Eu achei aquilo assim , né, que ele é um a criança e ele tem

m edo. Não tem com o fazer, até a gente que é grande tem [ m edo] .

Aí, o m oço falou pra ele parar de chorar e ficar quieto, porque era

pra ele relaxar, senão não tinha j eito. Aí, até ficou roxinho e

m achucou bastante neste dia (...) eu não gostei! Eu acho que eles

deveriam pôr um as pessoas pra tirar sangue brincando. I a ser

bem m elhor! Acho que as crianças iriam gostar m ais ( A1) .

DI SCUSSÃO

O br incar é um a das for m as que a cr iança tem para se com unicar com o m undo que a rodeia. A pr om oção do br incar e do br inquedo com o r ecur so t er apêut ico no espaço de int er nação t em sido foco d e i n ú m e r a s i n v e st i g a çõ e s( 2 , 6 - 1 3 ) e p o d e se r i n st r u m e n t o f a ci l i t a d o r p a r a a i n t e g r a l i d a d e d o cu id ad o, ad esão ao t r at am en t o, m an u t en ção d os

direit os da criança( 7) e est abelecim ent o de canais de

com unicação m ais apropriados( 7,16). Considerando que

a or ganização do cuidado à saúde da cr iança dev e cont em plar os difer ent es cenár ios, buscou- se nest e est u d o , d i r eci o n ar o o l h ar p ar a as cr i an ças q u e perm anecessem em sala de espera am bulat orial.

Na com preensão da experiência de crianças em at iv idades r ecr eacionais im plem ent adas em um pr oj et o de ex t ensão, nas per spect iv as das pr ópr ias crianças e de seus acom panhantes, o tem po de espera m ost rou- se com o im port ant e fat or capaz de int erferir n a q u alid ad e d o cu id ad o of er ecid o. É ev id en t e o descont ent am ent o das crianças que, na m aioria das v ezes, se v êem im pedidas de se av en t u r ar em , de

desbravarem novos espaços e de exercerem o que é próprio da sua idade, o brincar. Exigir que as crianças p e r m a n e ça m a co m o d a d a s e m se u s l u g a r e s, aguardando pelo atendim ento é pedir algo que, m uitas vezes, pode estar além da sua idade cronológica. Com isso, p od em se sen t ir d esm ot iv ad as p ar a f u t u r as visit as ao serviço, o que reflet irá negat ivam ent e na i n t e r a çã o e n t r e p r o f i ssi o n a i s, cr i a n ça s e acom panhant es, prej udicando a própria qualidade da assist ência ofer ecida.

A i n sa t i sf a çã o m a n i f e st a d a p e l o s acom panhant es revela sent im ent os de im pot ência e, m u it as v ezes, descon t r ole da sit u ação, alt er an do, n a t u r a l m e n t e , su a s r e sp o n sa b i l i d a d e s co m o cu i d a d o r e s. Esse s e v e n t o s ca u sa m e f e i t o s q u e dificult am a perm anência, no am bulat ório, t ant o das cr i a n ça s q u a n t o d e se u s a co m p a n h a n t e s. Conseqüent em ent e, esse desgast e físico e em ocional pode int er fer ir na disposição dos acom panhant es e crianças, no m om ento de se estabelecer com unicação ef et i v a com os p r of i ssi on ai s d e saú d e. Assi m , o p r i n ci p a l o b j e t i v o d a v i si t a d e sse s su j e i t o s a o am bulatório deixa de ser a saúde da criança e o que p r e v a l e ce é o d e se j o d e a m b o s, cr i a n ça s e acom panhant es, para o t érm ino do at endim ent o. Só assim podem se livrar daquela sit uação.

O l o n g o t e m p o d e e sp e r a t e m si d o considerado um aspect o desum anizant e nos serviços d e sa ú d e h á d é ca d a s, p o i s, d e n t r e o u t r a s i n co n v e n i ê n ci a s q u e i n t e r f e r e m n o s d i r e i t o s, singular idade e int egr alidade do pacient e, t am bém t êm influência negat iva sobre o seu confort o e bem

-est ar( 1 7 ). Nessa dir eção, pr oj et os qu e v alor izem o

processo de com unicação e o m elhor acolhim ento dos usuár ios nos ser v iços, a ex em plo da int r odução do br incar / br inquedo em sala de esper a am bulat or ial, qualificam o cuidado prest ado.

(8)

crianças e seus acom panhantes. Assim , o lúdico passa a ser vist o com o um a possibilidade de se ganhar ou

construir algo positivo num m om ento de perdas( 7) ou,

ainda, indir et am ent e, pr opiciar aos acom panhant es o benefício de se sent irem am parados e “ cuidados” em um am bient e que, por si só, é um a am eaça ao seu papel prot et or.

Por m eio do br incar, linguagem de dom ínio in f an t il, a cr ian ça r elacion a- se com os ou t r os e, por t ant o, é nat ur al ela se ex pr essar usando esses sím bolos e sua preferência é que o m undo at ue da m esm a form a. Estudo realizado na Finlândia, com 20 crianças pré- escolares e 20 escolares, cuj o obj et ivo f o i ex a m i n a r a s ex p ect a t i v a s d essa s cr i a n ça s a r esp eit o d a q u alid ad e d o cu id ad o p r est ad o p elas enferm eiras pediát ricas, m ost rou que elas esperavam q u e as en f er m eir as f ossem h u m an as, con f iáv eis, alegres, divert idas e apresent assem senso de hum or. Most r ou , ain d a, q u e esses p r of ission ais d ev er iam conscientizar- se da im portância do brinquedo e utilizá-lo com m aior freqüência ao dar instruções às crianças,

ou ao infor m á- las sobr e t r at am ent os e cuidados( 9).

Esse est udo apr esent a ev idências de que a cr iança r econ h ece e v alor iza o p r of ission al q u e u t iliza a b r i n ca d e i r a co m o r e cu r so d e a p r o x i m a çã o e abor dagem .

A avaliação da experiência da int rodução de at iv idades r ecr eacion ais par a cr ian ças em sala de espera am bulat orial, na voz das crianças e de seus a co m p a n h a n t e s, t r o u x e r e p e r cu ssõ e s p o si t i v a s dir et as à cr ian ça e in dir et as aos acom pan h an t es. Além disso, m esm o não sendo o foco dest a pesquisa, percebe- se que a at it ude de alguns profissionais na int eração com a criança, pode ser influenciada pelo envolvim ent o dessa nas at ividades recreacionais na sala de espera. Em out ras palavras, é possível que o profissional que observa a criança brincando num m o m e n t o a n t e r i o r à c o n s u l t a , a p r o v e i t e a “ co n t a m i n a çã o d o cl i m a ” p a r a , o p o r t u n a m e n t e , ut ilizar esse m esm o r ecur so, m odificando, assim , a q u a l i d a d e d o a t e n d i m e n t o p r e st a d o . As v á r i a s m aneiras de se aproxim ar de um a criança: de m odo b r i n c a l h ã o , c o n v e r s a n d o , e s t i m u l a n d o p a r a

at iv idades lú dicas, of er ecen do- lh e obj et os, den t r e

out ras, são form as legít im as de brincadeira( 13).

I MPLI CAÇÕES PARA A ENFERMAGEM

O brincar/ brinquedo pode ser ut ilizado para au x iliar a cr ian ça a am pliar su a capacidade de se r elacionar com a r ealidade ex t er ior, est abelecendo um a pont e ent re seu próprio m undo e o do hospit al. Ao brincar, a criança m odifica o am bient e da sala de espera, aproxim ando- o de seu cot idiano, o que pode ser u m a est r at ég i a p o si t i v a d e en f r et am en t o d a sit uação que vivencia. As at ividades relacionadas ao b r i n car / b r i n q u ed o são r ecu r so s q u e v al o r i zam o pr ocesso de desenv olv im ent o da cr iança e do seu bem - est ar.

As experiências que obt iveram êxit o com a ut ilização do br incar / br inquedo, dur ant e o pr ocesso de internação infantil, oferecem sustentação para que int er v enções dessa nat ur eza sej am im plem ent adas p ela en f er m ag em p ed iát r ica, t am b ém , n o esp aço am bulat orial. Além disso, considerando que essa não d e v a se r u m a p r á t i ca e x cl u si v a d a e q u i p e d e en f er m ag em , o u t r o s p r o f i ssi o n ai s d e saú d e, em parceria, podem contribuir para a m elhoria do cuidado prest ado a essa client ela. Acrescent a- se que est udos f u t u r os d ev em ser con d u zid os com o ob j et iv o d e investigar, a partir da visão dos profissionais de saúde, o im pact o do uso do brincar/ brinquedo em sit uações q u e e n v o l v e m o cu i d a d o d e cr i a n ça s, e m circunst âncias de saúde e doença.

O ato de brincar neste novo cenário constitui-se em recurso de com unicação viável e adequado da eq u ip e d e en f er m ag em p ed iát r ica. No en t an t o, é e sse n ci a l q u e e l a co n h e ça o s b e n e f íci o s d e ssa e st r a t é g i a e a v a n ce n a co n st r u çã o d e u m conhecim ento intuitivo, pautado na prática diária, para um out ro nível conceit ual, no qual a sist em at ização da assist ência de enfer m agem , a incor por ação dos result ados de est udos e, ainda, as reflexões sobre a singularidade da criança e o contexto em que se dá o cuidado sej am levados em consider ação.

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(9)

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