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Pobreza e HIV/AIDS: aspectos antropológicos e sociológicos.

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Academic year: 2017

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Pobreza e HIV/ AIDS:

aspect os ant ropológicos e sociológicos

Po ve rty and HIV/ AIDS:

anthro p o lo g ic al and so c io lo g ic al asp e c ts

1 In stitu to d e Med icin a Socia l, Un iv ersid a d e d o Est a d o d o Rio d e Ja n eiro. Ru a Sã o Fra n cisco Xa v ier 524, 7oa n d a r, Bloco D, Rio d e Ja n eiro, RJ 20559- 900, Bra sil. 2 Sch ool of Pu blic Health , Colu m b ia Un iv ersit y, 600 W est 168t hSreet , 7t hfloor, N ew York , N Y, 10032, EUA. 3 Associação Brasileira In t erd iscip lin a r d e AIDS. Ru a d a Ca n d elá ria 79, 10oa n d a r, Rio d e Ja n eiro, RJ 20091- 020, Bra sil. Rich a rd Pa rk er 1,2,3

Ken n et h Roch el d e Ca m a rgo Jr.1,3

Abst ract Focu sin g on th e HIV/AIDS ep id em ic as a su m m ation of several ep id em ics coex istin g in th e sam e sp ace an d d raw in g on Braz ilian ep id em iological d ata, w e argu e th at th e ep id em ic th ere sh ow s variat ion s alread y d escribed elsew h ere, su ch as fem in iz at ion , p au p eriz at ion , ju ven iz at ion an d in terioriz ation , as a resu lt of th e d eep in equ alities ch aracteristic of Braz ilian society. We th en ex am in e th e con tribu tion s of th ree bod ies of sociological an d an th rop ological literatu re related to HIV/AIDS: 1) sociological research an d th eory on th e im p act of recen t global econ om ic restru ctu r-in g a n d socia l t ra n sform a t ion , a n d it s rela t ion sh ip t o p u b lic h ea lt h issu es; 2) t h e cross- cu lt u ra l a n d cross- n a t ion a l a n t h rop ologica l a n d sociologica l lit era t u re on st ru ct u ra l fa ct ors sh a p in g t h e cou rse of t h e ep id em ic in d ifferen t set t in gs; a n d 3) t h e b od y of a n t h rop ologica l a n d sociologica l resea rch on t h e syn ergist ic effect s of H IV/AIDS, socia l ex clu sion , a n d rela t ed socia l p rob lem s in p ock et s of ex t rem e p ov ert y in t h e la rge cit ies of core cou n t ries. We con clu d e t h a t p rev en t ion p olicies for HIV/AIDS sh ou ld d eal com p reh en siv ely w it h d iv erse d im en sion s t h at d et erm in e d ifferen -t ial v u ln erabili-t ies -t o -t h e ep id em ic, -t h u s requ irin g su bs-t an -t ial social -t ran sform a-t ion s.

Key words Acq u ired Im m u n od eficien cy Syn d rom e; HIV; Pov ert y; M ed ica l An t h rop ology; Socia l Con d it ion s

Resumo A p art ir d a p ersp ect iv a d as v árias ep id em ias d e HIV/AIDS qu e coex ist em em m esm o es-p a ço, bem com o d os d a d os ees-p id em iológicos d o Bra sil, a cred it a -se serem observ á v eis a s v a ria ções já d escrit a s a lh u res – fem in iliz a çã o, p a u p eriz a çã o, ju v en iliz a çã o e in t erioriz a çã o – com o resu l-t a d o d a s p rofu n d a s d esigu a ld a d es d a socied a d e b ra sileira . Fora m ex a m in a d a s a s con l-t rib u ições d e t rês v ert en t es d e a n á lise d os a sp ect os sócio- econ ôm icos d a AIDS: 1) p esq u isa s e t eoria s sociológica s a resp eit o d o im p a ct o d a reest ru t u ra çã o econ ôm ica e t ra n sform a çã o socia l glob a l recen -t es e su a rela çã o com a sa ú d e p ú b lica ; 2) li-t era -t u ra -t ra n scu l-t u ra l e -t ra n sn a cion a l em a n -t rop olo-gia e socioloolo-gia d ed ica d a a os fa t ores est ru t u ra is q u e con form a m o cu rso d a ep id em ia em d ife-ren t es con ju n t u ras; e 3) corp o d e p esqu isas an t rop ológicas e sociológicas con cern en t es aos efeit os sin érgicos d o H IV/AIDS, ex clu sã o socia l, e p rob lem a s socia is a ssocia d os n os b olsões d e ex t rem a p ob rez a en con t ra d os n a s gra n d es cid a d es d e p a íses cen t ra is. Con clu i- se q u e a s p olít ica s d e p re-v en çã o d o H IV/AIDS d ere-v em a b ord a r, d e form a in t egra d a , a s re-v á ria s d im en sões q u e d et erm in a m a s d iferen cia d a s v u ln era b ilid a d es à ep id em ia , d ep en d en d o, p ort a n t o, d e t ra n sform a ções socia is su bst an t iv as.

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Int rodução

Há qu ase d ez an os, Jon ath an Man n et al. (1993, 1996) já ch am avam a aten ção p ara o fato de qu e se d esign a va co rren tem en te co m o “a” ep id e -m ia d e HIV/ AIDS aqu ilo qu e, n a verd ad e, era o resu ltad o ob servável, em n ível m acro, d e d eze-n a s, ta lvez ceeze-n teeze-n a s, d e ep id em ia s ocorreeze-n d o em p a ra lelo, a com eten d o segm en tos d iversos d a socied a d e com p a d rões d e d issem in a çã o e velocid ad es variad as, d ep en d en tes d e u m a sé-rie d e fatores.

Em b o ra a q u eles a u to res estivessem a n a li-san d o os even tos em escala glob al, p od eríam os ap licar, m u tatis m u tan d is, o m esm o raciocín io p a ra o Bra sil, p a ís d e d im en sõ es co n tin en ta is com im p ortan tes d isp arid ad es sociais, econ ô-m icas e d eô-m ográficas eô-m su a p op u lação. É d e esp erar, p ortan to, q u e tais d isp arid ad es – e os vá rio s Bra sis q u e ela s d elim ita m – reflita m -se ta m b ém n a fo rm a co m o o HIV se p ro p a ga em n ossa p op u lação. Dito d e ou tra form a, estas d i-feren tes características con form ariam p op u la-ções d iferen tes, a in d a q u e em m esm o territó-rio, co m va ria çõ es q u a n to à p ro b a b ilid a d e d e q u e seu s co m p o n en tes viessem a in fecta r-se p elo H IV, co n figu ra n d o, p o rta n to, d iferen tes

v u ln era b ilid a d es à in fecçã o p elo H IV e, p o r

con segu in te, à AIDS.

Pod e-se su p or q u e esta s va ria ções se refli-tam n os d ad os coletad os em n osso m eio a res-p eito d o HIV/ AIDS, com o exam in arem os a se-gu ir. Deve-se ter em m en te, d e qu alqu er m od o, qu e as m esm as d esigu ald ad es qu e exp licam d iferen tes vu ln era b ilid a d es a o H IV/ AIDS ta m -b ém têm efeitos so-b re a p ossb ilid ad e d e in d i-víd u o s a co m etid o s serem ca p ta d o s p ela red e d e saú d e e, em con seq ü ên cia d isso, serem oficialm en te n otificad os com o “casos”. Sem elh an -te p ro b lem a o co rre, p o r exem p lo, n o registro de óbitos, em qu e algu m as regiões do p aís ap resen ta m n ú m ero eleva d o d e ó b ito s id en tifica -d os com o “cau sa -d escon h eci-d a”, o qu e é u su al-m en te in terp retad o coal-m o d eficiên cia d o siste-m a d e saú d e local. Sen d o assisiste-m , é p reciso q u e os d ad os d isp on íveis sejam sem p re ob servad os com a lgu m a ca u tela , p ois n ã o só d evem os es-p erar erros, com o tam b ém es-p resu m ir q u e estes erros, lon ge d e serem aleatórios, sejam en vie-sad os d e m od o d iferen ciad o p or fatores sociais e econ ôm icos.

Há ou tros p rob lem as p ara a an álise d estas in fo rm a çõ es. Os d a d o s a q u i estu d a d o s refe -rem -se – a n ão ser q u an d o exp licitam en te d ito d e o u tra fo rm a – a o Bolet im Ep id em iológico –

AIDS (CNDST/ AIDS, 1999).

As fich as d e n otificação n ão trazem m u itas in form ações acerca d e variáveis sócio-econ

ô-m icas – coô-m exceção d o grau d e in stru ção – e, n as in form ações con solid ad as, este in d icad or d eixa d e ser in form ad o p ara os m en ores d e 13 an os, p ois o grau d e in stru ção d a m ãe é con si-d erasi-d o com o b oa ap roxim ação si-d aq u ela variá-vel. Ou tras in form ações q u e p od eriam p erm i-tir an álise m ais criteriosa – com o, p or exem p lo, a co r o u etn ia d o s a co m etid o s – ta m b ém n ã o são cap tad as. Do p on to d e vista d a d istrib u ição esp acial, a disp on ibilização da in form ação agre-gad a ao n ível d e cid ad e im p õe, d a m esm a for-m a , certa s lifor-m ita ções; p en se-se, p or exefor-m p lo, n a in fin id ad e d e situ ações ap resen tad as p or ci-d aci-d es com o Rio ci-d e Jan eiro e São Pau lo.

Im p õ e -se, p o rt a n t o, u m a p rim e ira co n sid era çã o: h á n ecessisid a sid e sid e revisã o sid o in stru -m en to d e n otifica çã o e/ ou a rea liza çã o d e es-tu d o s ep id em io ló gico s a d icio n a is q u e visem esp ecificam en te à d eterm in ação d o(s) p erfil(is) sócio-econ ôm ico(s) d a p op u lação afetad a p elo H IV/ AIDS. Nã o o b sta n te, a s in fo rm a çõ es d isp on íveis isp erm item algu m as ob servações, ain -d a qu e n ão a form u lação -d e m o-d elos m atem á-ticos p recisos (ver, p. ex., Gom es, 1998).

Um a p rim eira ob servação qu e p od e ser fei-ta, n o qu e con cern e à evolu ção d a ep id em ia n o Bra sil d esd e a id en tifica çã o d os p rim eiros ca -so s, refere-se à d istrib u içã o geo grá fica d o s m esm os.

Em b ora a in cid ên cia em term os ab solu tos – em esp ecia l, a in cid ên cia a cu m u la d a – a in -d a m ostre im p orta n te con cen tra çã o n a s -d u a s m aiores cid ad es b rasileiras – isto é, São Pau lo e Rio de Jan eiro – a in cidên cia p rop orcion al (com relação ao n ú m ero d e h ab itan tes) traz algu m as su rp resas (Tab ela 1) (CNDST AIDS, 1999). Das d ez cid a d es com m a iores in cid ên cia s n o p a ís, a p en a s u m a d ela s é ca p ita l d e Esta d o (Flo ria -n óp olis, em 4olu gar); São Pau lo está em 18olu

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em cid ad es com o San tos e Itajaí (Bastos, 1996; Castilh o & Ch equ er, 1997).

Ou tra característica im p ortan te d a p rogres-são d a ep id em ia d iz resp eito à d istrib u ição p or sexo. Com o já foi n otad o p or d iversos au tores, a p ro p o rçã o en tre in d ivíd u o s a co m etid o s d o sexo m a scu lin o e fem in in o – q u e já fo i d e 17 p a ra 1, em 1983 – esteve em 2 p a ra 1 n o s d o is ú ltim o s a n o s. A ressa lva feita p o r Ca stilh o & Ch eq u er (1997:25), d e q u e p a r te sign ifica tiva d os casos em m u lh eres seria com p u tad a n a ca-tego ria “u su á rio d e d ro ga s in jetá veis” (UDI) n ão m ais se ap lica; em 1998/ 1999, d e 6.055 ca-sos n otificad os em m u lh eres, 3.855 (63,7%) fo-ram classificad os n a categoria d e tran sm issão sexu al e ap en as 533 (8,8%), com o UDI.

Ma is a in d a , a segu n d a p rin cip a l ca u sa d e ób ito em m u lh eres en tre 20 e 49 an os d e id ad e n o Brasil eram , já em 1995, os tran storn os q u e en volviam os m ecan ism os im u n itários (Gom es, 1998), e esta categoria atu alm en te é a p rim eira n esta faixa etária e sexo em São Pau lo (Gom es, 1998). Sen d o assim , a ch am ad a “fem in ização” d a ep id em ia n ão é m ais m era con jetu ra.

Um ú ltim o asp ecto d e in teresse a ser ab or-d a or-d o n e st a in t ro or-d u çã o or-d iz re sp e it o à or-d ist r i-b u içã o segu n d o gra u d e in stru çã o, q u e, com o d it o a n terio rm en te, co n stitu i o ú n ico in d ica -d or -d en tre aqu eles -d isp on ib iliza-d os p elo siste-m a d e n otificação cosiste-m algu siste-m a correlação cosiste-m variáveis sócio-econ ôm icas, ain da qu e com res-trições: os d ad os con solid ad os d ivu lgad os p elo

Boletim Ep id em iológicoap resen tam este in d

i-cad or ap en as p ara in d ivíd u os com id ad e m aior ou igu al a 19 an os (CNDST/ AIDS, 1999). Com -p a ra n d o -se a -p en a s d o is -p erío d o s cita d o s n o

Boletim ,p od eríam os com p or a Tab ela 2.

Com tod as as ressalvas qu e d evem ser feitas qu an to ao ain d a elevad o n ú m ero d e casos sem in fo rm a çã o a resp eito d o gra u d e in stru çã o, b em com o acerca d a m agn itu d e d iversa d as in -cid ên cias n os d ois p eríod os, p arece-n os razoá-vel con siderar a existên cia de ten dên cia ao aco-m etiaco-m en to d e in d ivíd u o s co aco-m aco-m en o r gra u d e in stru ção, o qu e, p or su a vez, seria in dicativo d a p ro p a ga çã o d a ep id em ia em d ireçã o a o s seg-m en to s seg-m a is d esfa vo recid o s d a so cied a d e, já d escrita p or m u itos com o p au p eriz ação.

Um en ten d im en to m ais com p leto d as ten -d ên cias ep i-d em iológicas qu e têm si-d o i-d en tifi-ca d a s n a evo lu çã o d a ep id em ia d e H IV/ AIDS n o Bra sil, d ep en d e d e n o ssa ca p a cid a d e d e con textu a lizá -la s em rela çã o a p a d rões socio-ló gico s e a n tro p o socio-ló gico s m a is a m p lo s e, co m b a se n isso, d efin ir a gen d a p a ra p esq u isa e in terven ção q u e seja cap az d e resp on d er à p au -p erização, à fem in ização e à in teriorização d a ep id em ia d e AIDS n o Bra sil, sem d escu id a r,

n este p rocesso, d e gru p os qu e, em b ora m in ori-tários n a socied ad e b rasileira, ain d a p erm an e-cem p articu larm en te vu ln eráveis à m esm a.

Pelo m en os três áreas n a literatu ra sociológica e an trop olósociológica p arecem ser esp ecialm en -te im p ortan -tes n es-te asp ecto:

1) p esqu isas e teorias sociológicas recen tes voltad as ao im p acto d a reestru tu ração econ ô-m ica e tran sforô-m ação social glob al ao fin al d o sécu lo vin te, e a relação d este p rocesso d e m u -d an ça com q u estões -d e saú -d e p ú b lica com o a HIV/ AIDS;

2) litera tu ra tra n scu ltu ra l e tra n sn a cio n a l em a n tro p o lo gia e so cio lo gia rela tiva s a o s fa -t o re s e s-t ru -t u ra is q u e co n fo rm a m o cu rso d a ep id em ia d e HIV/ AIDS em d iferen tes con ju n -tu ras; e

Tab e la 1

Inc id ê nc ia d e c aso s d e AIDS p o r 100 mil

hab itante s, c id ad e s c o m o s d e z maio re s c o e fic ie nte s

d e inc id ê nc ia. Brasil, 1999.

Cidade Coeficient e

de Incidência

Itajaí (SC) 854,8

Balne ário Camb o riú (SC) 721,4

São Jo sé d o Rio Pre to (SP) 665,3

Flo rianó p o lis (SC) 651,9

Santo s (SP) 636,3

Rib e irão Pre to (SP) 626,6

Be b e d o uro (SP) 579,8

Barre to s (SP) 526,8

Catand uva (SP) 474,7

Brasil 218,0

Fo nte : Bo le tim Ep id e mio ló g ic o – CNDST/ AIDS, 1999.

Tab e la 2

Distrib uiç ão p e rc e ntual d o s c aso s d e AIDS

e m d o is p e río d o s se le c io nad o s. Brasil, 1999.

Grau de inst rução % 1985 % 1998/ 9

analfab e to 0,6 4,8

1og rau 13,3 55,6

2og rau 10,2 14,8

sup e rio r 20,1 6,6

ig no rad o 57,4 18,2

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3) corp o d e p esq u isas an trop ológicas e so-ciológicas qu e tratam d os efeitos sin érgicos d o H IV/ AIDS, p o b reza in ten sa , e p ro b lem a s so -ciais associad os n os b olsões d e extrem a p ob re-za en con trad os n as gran d es cid ad es d e p aíses com o os Estad os Un id os.

Na s p ró xim a s p á gin a s, revisa m o s ra p id a -m en te cad a u -m a d essas áreas e exa-m in a-m os as im p licações qu e p od em ter p ara en ten d im en to m a is co m p leto d a s ten d ên cia s q u e têm sid o iden tificadas n a ep idem ia de HIV/ AIDS n o Bra-sil. Na con clu são su gerim os as m an eiras p elas q u ais esta literatu ra já existen te p od e aju d ar a con form ar agen d a d e p esq u isa e ação d irigid a à HIV/ AIDS n o Brasil.

Cont ext o hist órico: globalização e emergência do “Q uart o M undo”

Talvez o fator relativo ao con texto m ais im p ortan te a ser tom ad o em con ta ao b u scarse o en -ten d im en to d a evolu ção glob al d a ep id em ia d e H IV/ AIDS seja a tra n sfo rm a çã o a m p la m en te sim u ltâ n ea , ta m b ém em n ível glo b a l, d a eco-n om ia ieco-n tereco-n acioeco-n al – b em com o u m a série d e tra n sfo rm a çõ es su b seq ü en tes n a s estr u tu ra s d e socied ad es, com u n id ad es e fam ílias. Com o tem sid o d ocu m en tad o in tern acion alm en te, as d éca d a s fin a is d o sécu lo XX ca ra cteriza m -se p or com p lexos p rocessos d e glob alização e d e reestru tu ração econ ôm ica qu e com eçam a ace-lera r-se, gro sso m o d o, n o in ício d a d éca d a d e 70 (p or volta d e 1973).

Em b ora estes p rocessos sejam com p lexos e d iversos, e a tra n siçã o esteja lon ge d e ter sid o com p letad a, a ten d ên cia geral tem sid o em d i-reçã o a u m a p a ssa gem fu n d a m en ta l d o q u e é costu m eiram en te d escrito com o o regim e Key-n esiaKey-n o-Ford ista d o cap italism o iKey-n d u strial p a-ra o q u e Man u el Castells, en tre ou tros, d escre-veu co m o “ca p ita lism o in fo rm a cio n a l” co m o m od o d om in an te d e d esen volvim en to ao red or d o m u n d o n este fim d e sécu lo (Castells, 1999).

Mesm o sem en tra r em d eta lh es a resp eito d e tod os os asp ectos d esta n ova form a d e organ ização ecoorgan ôm ica cap italista, vale a p eorgan a eorgan fa tiza r a lgu n s d e seu s elem en tos. Em p a rticu -lar, ob serva-se u m a su b stitu ição d os trad icio-n a is m a teria is b ru to s d a p ro d u çã o iicio-n d u stria l p elo con trole sob re o p rocessam en to d a in form ação coform o a característicach ave d a p rod u -ção e acu m u la-ção cap italistas glob ais (Castells, 1999). Esta su b stitu içã o co n ecto u -se, p o r su a vez, a n ova ên fa se n a flexib ilid a d e (a cu m u la -çã o flexível, esq u em a s flexíveis d e p ro d u -çã o, tra b a lh o e vín cu lo s em p rega tício s flexíveis e assim p or d ian te) b em com o a form as d e

orga-n ização social e ecoorga-n ôm ica em red e (Castells, 1999; Sen n ett, 1999). A n ova fo rm a d e o rga n ização tem , com o característica, a ráp id a circu -la çã o d e ca p ita l a o red o r d o glo b o a tra vés d o sistem a fin an ceiro in tern acion al, e o fato d e ser h o je p o ssível to d o o m erca d o glo b a l (e p a ra o sistem a glo b a l d e p ro d u çã o ) fu n cio n a r co m o en tid ad e ú n ica, trab alh an d o e in teragin d o em tem p o rea l (a ca ra cterística q u e m a is cla ra -m en te d istin gu e a fa se d a a ssi-m d en o -m in a d a “glo b a liza çã o” d e q u a lq u er eta p a p révia d o “sistem a m u n d ial”, com o d efin id a p or Wallers-tein e ou tros) (Harvey, 1989; Watters, 1995; Cas-tells, 1999).

A p a rtir d e u m a p ersp ectiva so cio ló gica e a n tro p o ló gica , ta lvez a co n seq ü ên cia cen tra l d este con ju n to d e tran sform ações econ ôm icas ten h a sid o a exten são com q u e, ap aren tem en -te, as elites ao red or d o m u n d o se con ectaram , ao m esm o tem p o em q u e foram criad as n ovas fo rm a s d e exclu sã o so cia l e extrem o s d e d esgu ald ad e, d iferen ciais d e ren d a, p ob reza e m i-séria em tod as as socied ad es, d e Norte a Su l.

Com efeito, p arece qu e estam os viven d o, ao térm in o d este sécu lo, n ova etap a h istórica, n a qu al d ivisões p révias en tre Norte e Su l, Prim ei-ro e Terceiei-ro Mu n d os, e assim p or d ian te, estão sen d o d em o lid a s, m a s n a q u a l, sim u lta n ea -m en te, está se d an d o a e-m ergên cia d o qu e Cas-tells ch a m a d e “Qu a rto Mu n d o”: segm en to s p op u lacion ais im p ortan tes n a m aior p arte d as socied ad es – talvez, m esm o, con tin en tes in tei-ros, n o caso d a África Su b -Sah arian a – q u e são essen cialm en te irrelevan tes p ara os in teresses b ásicos – tan to em term os d e p rod u ção qu an to d e co n su m o – d o sistem a d o ca p ita l in fo r m a -cion al (Castells, 1999).

Esta fase recen te d a glob alização tem se ca -ra cteriza d o, p o rta n to, p o r p ro fu n d a a cen tu a-ção d os p rocessos d e d iferen cia çã o socia l, p or

u m la d o, e p o r rela çõ es d e d ist rib u içã oe con -su m o, p or ou tro. A organ ização social d a d

ife-ren ciação ou d esigu ald ad e n a d istrib u ição tem sid o tip ificad a p or crescen te p olariz açãoen tre

ricos e p ob res, n a qu al os ricos torn am -se cad a vez m a is rico s e o s p o b res ca d a vez m a is p o -b res, com setores in term ed iários – a classe m é-d ia – graé-d ativam en te é-d esap arecen é-d o. Esta p o-la riza çã o, p o r su a vez, tem sid o a sso cia d a a o crescim en to sign ifica tivo d a m iséria p u ra e

sim p les (extrem a p ob reza, u su alm en te d efin d a com o m en os q u e 50% d a ren d a q u e d efin i-ria o n ível d e p ob reza em d ad a socied ad e), em tod os os p aíses em q u alq u er p arte d o m u n d o. Ao m esm o tem p o, a d iferen cia çã o so cia l n a s relações d e p rod u ção tem -se caracterizad o p e-la crescen te in d ivid u aliz ação d o trabalh o(tip

(5)

d o s sin d ica to s e p elo rá p id o crescim en to d o setor in form al d a econ om ia, com o os cam elôs e b iscateiros n o caso d o Brasil), a su p erexp lora

-çãod e trab alh ad ores (exem p lificad a p elo

cres-cim en to d o tra b a lh o in fa n til), a crescen te ex -clu sã od e gru p o s p o p u la cio n a is sign ifica tivo s

d o m ercad o d e trab alh o (ad olescen tes d o sexo m a scu lin o m e m b ro s d e m in o r ia s e m p a íse s com o o Brasil e os Estad os Un id os), d a m esm a form a qu e a in tegração p erversadestes m esm os

setores n o m u n d o p aralelo d a econ om ia crim i-n osa (Castells, 1998).

Esta s ten d ên cia s b á sica s fora m id en tifica-d a s em esca la p la n etá ria ta n to n o s ch a m a tifica-d o s p a íses d esen vo lvid o s q u a n to em d esen vo lvi-m en to. Talvi-m b élvi-m foralvi-m ligad as ao q u e p od eria ser d escrito com o p rogressiva fem in iz a çã o d a p obrez a e d a m iséria. Em b ora as m u lh eres

ve-n h am seve-n d o ive-n corp orad as ao m ercad o d e tra-b alh o em p rop orções sem p reced en tes n as ú l-tim as d écad as (ao m en os, em p arte, através d e fam ílias d e classe m éd ia, n as q u ais a p resen ça d e u m segu n d o m em b ro co m fo n te d e ren d a torn ou -se n ecessária com o estratégia de m an u-ten ção d o p ad rão d e vid a em con texto d e cres-cen te p o la riza çã o eco n ô m ica e sa lá r io s rea is declin an tes), a face da p obreza e, em p articu lar, d a m iséria, tem se torn ad o, d e m od o crescen -te, a fa ce d a s m u lh eres exclu íd a s n ã o a p en a s d evid o à o p ressã o b a sea d a em cla sse e etn ia , m as tam b ém à op ressão b asead a em gên ero.

Ta l op ressã o tem sid o reforça d a , a cim a d e tu d o, p ela ráp id a red u ção – q u e vem ocorren d o em tod o o m u n d o – n os p rogram as d e saú -d e, e -d u ca çã o e p ro t e çã o so cia l p e la a -d o çã o d e p o lítica s so cia is e eco n ô m ica s n eo lib era is orien tad as à p rod u ção d e crescen te in tegração n o sistem a cap italista glob al (sim u ltan eam en-te, m in im izan d o o p ap el d o Estad o). Tais tran s-fo rm a çõ es têm im p a cta d o d esp ro p o rcio n a l-m en te as vid as d as l-m u lh eres, acen tu an d o a fe-m in ização d a p ob reza e d a fe-m iséria fe-m esfe-m o efe-m m eio a u m a série d e ga n h o s im p o rta n tes em term os d o fem in ism o e d a con q u ista d e d irei-to s civis e p o lítico s a d icio n a is n a m a io r ia d o s p aíses.

O fa to d e q u e a p a n d em ia glo b a l d e H IV/ AIDS em ergiu p recisam en te d u ran te o m esm o p erío d o h istó rico em q u e ta is m u d a n ça s eco -n ôm icas e sociais m aciças tiveram (e têm tid o) lu gar, p od e ter sid o origin alm en te u m acid en te h istó rico, m a s a rela çã o en tre a evo lu çã o d a ep id em ia e a s co n seq ü ên cia s d issem in a d a s d estas m u d an ças h istóricas n ão é, d e m od o al-gu m , coin cid ên cia.

Po r u m la d o, a lgu n s d o s su p o rtes técn ico s qu e p erm itiram a tran sform ação rad ical d o ca-p ita lism o, “en co lh en d o” o m u n d o, ca-p rova

velm en te fo ra velm ta velm b évelm fa cilita d o res d a p ro p a -gação d a ep id em ia. Por ou tro lad o, os im p actos n egativos d a glob alização aqu i ap on tad os – em esp ecia l, a q u ilo q u e Ca stells d en o m in a “in te-gração p erversa” (Castells, 1998) – isto é, a p ro-d u ção ro-d a m argin alização e m esm o ro-d a crim in a-lid ad e com o p arte in tegran te d a n ova ord em ca-p italista m u n d ial, e n ão com o m ero d esvio ou

acid en te d e p ercu rso – são os in gred ien tes es-truturais da p rodução de suscep tibilidades cres-cen tes à in fecção – a vu ln erabilid ad e– e d a in cap acid ad e crescen te d e in d ivíd u os e socied a -d es cu i-d arem -d e seu s -d oen tes, -d e m o-d o geral, e dos acom etidos p elo HIV/ AIDS, em p articular.

Pobreza e (sub)desenvolviment o na lit erat ura int ernacional

Ao lon go d a ú ltim a d écad a, p esqu isad ores têm d ocu m en tad o certo n ú m ero d e fatores estru tu -ra is q u e fa cilita m a t-ra n sm issã o d o H IV e su a co n cen tra çã o em á rea s geo grá fica s e p o p u la-çõ es p a rticu la res (Ayres, 1994; Swea t & Den i-son , 1995; Tawil et al., 1995; Tu rsh en , 1995; Ag-gleton , 1996; Ca ra ël et a l., 1997; Sin ger, 1998). Estes fatores p od em ser agru p ad os em três ca-tegorias d istin tas, m as in tercon ectad as:

1) (su b )d esen volvim en to econ ôm ico e p o -b reza;

2) m obilidade, in clu in do m igração, trabalh o sa zon a l, e con vu lsã o socia l em ra zã o d e gu er-ra s e d e in sta b ilid a d e p o lítica , q u e in teer-ra gem freq ü en tem en te com a p ob reza, con d icion an -d o a vu ln erab ili-d a-d e relacion a-d a ao HIV/ AIDS; 3) d esigu a ld a d es d e gên ero, q u e ta m b ém in teragem com a p ob reza (e a con tín u a fem in i-zação da p obreza), colocan do as m ulheres, b em com o h om en s d esvian tes com relação ao gên e-ro (p or exem p lo, travestis), em situ ações de vu l-n erab ilid ad e acel-n tu ad a à il-n fecção p elo HIV.

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Nor-te (Des Ja rla is et a l., 1992; Lin d en b a u m , 1998; Sin ger, 1998).

Um d os tem as-ch ave exam in ad os n esta li-tera tu ra é a co n exã o en tre o su b d esen vo lvi-m en to econ ôlvi-m ico e a vu ln erab ilid ad e ao HIV/ AIDS. Com efeito, o p róp rio p rocesso d e d esen -vo lvim en to cria , co m freq ü ên cia , fo rm a s d e d eslo ca m en to so cia l, a s q u a is, p o r seu tu rn o, p rod u zem ações e p ráticas sociais qu e au m en -tam o risco d e in fecção p elo HIV. Exem p lo excelen te, m o stra n d o a s co n seq ü ên cia s n ã o in -ten cion ais d o d esen volvim en to econ ôm ico em relação ao HIV/ AIDS, é a an álise h istórica em -p reen d id a -p or Jose-p h Decosas d e com o a con stru çã o d a b a rra gem Akosom b o, em Ga n a , d u -ra n te o s a n o s 60, co n trib u iu p a -ra a ep id em ia de HIV/ AIDS n o p ovo Krobo, de Gan a, n os an os 80 e 90 (Decosas, 1996).

Du ran te a con stru ção d a b arragem , m u itos h o m en s Kro b o se d eslo ca ra m rio a b a ixo p a ra tra b a lh a r n o p ro jeto, en q u a n to d iversa s m u lh eres Krob o p assaram a forn ecer serviços, in -clu sive trocas econ ôm icsexu ais, p ara os h o-m en s qu e trab alh avao-m n o can teiro d e ob ras d a b arragem . Qu an d o a criação d o Lago Volta d es-tru iu a b a se a gríco la d o s Kro b o, u m n ú m ero co n sid erá vel d esta s m u lh eres, e m a is ta rd e, su a s filh a s, em igra ra m p a ra tra b a lh a r co m o p rostitu tas, e os gan h os com o trab alh o sexu al se to rn a ra m im p o rta n te fo n te d e d esen vo lvi-m en to n esta regiã o. Esta s d u a s gera çõ es d e m u lh eres têm elevad a in cid ên cia d e HIV. Hoje, co m a m elh o ra d a s p ersp ectiva s eco n ô m ica s d e Ga n a , o s ga n h o s d e m u lh eres tra b a lh a n d o em ou tros p a íses se torn a ra m m en os releva n -tes, u m a q u a n tid a d e m en o r d e m o ça s joven s está se torn an d o trab alh ad ora d o sexo, e a in ci-d ên cia ci-d o HIV en tre as m u lh eres Krob o joven s está se ap roxim an d o d as b aixas taxas ob serva-d as n o resto serva-d e Gan a.

A an álise d e Decosas d em on stra as d ificu ld ald es em estab elecer o m ecan ism o ld e associa -çã o en tre o d esen vo lvim en to eco n ô m ico e o HIV, u m a vez qu e cau sas e efeitos, tal com o cu s-tos e b en efícios, são d in âm icos e se d esen vol-vem ao lon go d e d écad as.

A p esqu isa an trop ológica d e lon go p razo d e Pau l Farm er, n o Haiti, d ocu m en ta d e m od o si-m ila r co si-m o o s d eslo ca si-m en to s ca u sa d o s p o r in iciativas d e d esen volvim en to d e larga escala p o d em im p u lsio n a r a d issem in a çã o d a in fec-çã o p elo H IV (Fa rm er, 1992). De m o d o m a is am p lo, p olíticas in tern acion ais e in tergovern a-m en tais d e d esen volvia-m en to têa-m sid o associa-d as à associa-d esin tegração associa-d e estru tu ras sócio-econ ô-m icas trad icion ais e à acen tu ação d e d esigu al-d a al-d es só cio -eco n ô m ica s, o q u e, p o r su a vez, tem co n trib u íd o d e fo rm a sign ifica tiva p a ra a

severid ad e d a ep id em ia em tod os os p aíses em d esen volvim en to. Com efeito, a p róp ria p ob re-za tem sid o id en tificad a com o, p ossivelm en te, a força sócio-econ ôm ica cen tral n a d eterm in a-ção d a ep id em ia, e, virtu alm en te, tod a a litera-tu ra estru litera-tu ra l e a m b ien ta l tem en fa tiza d o a p o d ero sa in tera çã o en tre a p o b reza e o u tra s form as d e d esigu ald ad e, in stab ilid ad e e d iscri-m in a çã o socia l n a p rod u çã o d a d isseiscri-m in a çã o d o HIV (Farm er et al., 1996; Sin ger, 1998).

Um n ú m ero sign ificativo d e p esq u isas tem associado a p obreza à m igração e à m obilidad e, su gerin d o qu e a m igração, em resp osta a im p e-ra tivo s eco n ô m ico s, está a sso cia d a a m a io res in cid ên cias d e vu ln erab ilid ad e ao HIV em u m a varied ad e d e con textos e lu gares, aí in clu in d o-se: tra b a lh a d o res sa zo n a is, n o su l d a África (Rom ero-Daza & Him m elgreen , 1998) e n a Áfri-ca Ocid en ta l (Deco sa s et a l., 1995); m igra n tes d a Rep ú b lica Dom in ican a, n os EUA (Kren iske, 1997); m igran tes d e áreas ru rais p ara u rb an as, n o Haiti (Farm er, 1992, 1999) e Zaire (Sch oep f, 1992a ); filip in os, tra b a lh a n d o p or em p reita d a n o exterior (Tan , 1993); trab alh ad oras d o sexo, n a Tailân d ia (Arch avan itku l & Gu est, 1994), em Ga n a (An a rfi, 1993), n o Zim b a bwe ( Wilso n et al., 1990) e n as Filip in as (Tan , 1993), assim co-m o trab alh ad ores d o sexo e ou tros h oco-m en s qu e fazem sexo com h om en s n o Brasil (Larvie, 1997; Parker, 1993, 1997).

Os n exos cau sais su b jacen tes à con exão en tre m obilidade e dissem in ação do HIV são com -p lexos. Trab alh ad ores m igran tes, -p or exem -p lo, freqü en tam trab alh ad oras d o sexo com regu la-rid ad e (freqü en tem en te, elas p róp rias tam b ém m igra n tes) e/ o u esta b elecem fa m ília s secu n dárias n o cam p o de trabalh o, levan do a au m en -to d a s in fecçõ es sexu a lm en te tra n sm issíveis (IST), in clu sive d a in fecção p elo HIV, em locais u su alm en te caren tes d e serviços ad equ ad os d e aten ção à saú d e. De volta à com u n idade de ori-gem , as m u lh eres defron tam -se com d em an d as econ ôm icas e em ocion ais severas, q u e ten tam eq u acion ar através d o trab alh o n a agricu ltu ra e, às vezes, m ed ian te a p rática d o sexo com er-cial. Fin alm en te, u m a vez q u e trab alh ad ores e tra b a lh a d o ra s m igra n tes d eslo ca m -se co n ti-n u am eti-n te eti-n tre d ois ou m ais locais, o HIV p o-d e-se o-d issem in ar o-d e áreas com alta in cio-d ên cia a ou tras on d e esta in cid ên cia é m en or ou m es-m o p reviaes-m en te in existen te.

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esp ecial, aq u elas d os segm en tos d e b aixa ren -d a – extrem am en te vu ln eráveis à in fecção p elo H IV. Nã o o b sta n te, têm sid o ra ro s o s estu d o s ap rofu n d ad os a resp eito d o gên ero e d a sexu a-lid ad e com o fatores estru tu rais – em con trap o-siçã o a estu d o s co m p o rta m en ta is – n a d eter-m in ação d a tran seter-m issão d o HIV.

As in ad eq u ações resu ltan tes d as p esq u isas e in terven ções em AIDS orien ta d a s à s m u lh e-res levaram algu n s p esq u isad oe-res a olh ar m ais a ten ta m en te p a ra o s sistem a s d e gên ero e se-xu a lid a d e, d e m o d o a d esen vo lver o p çõ es d e redu ção de risco p ara o HIV m ais realistas e efe-tivas p ara as m u lh eres (Sch oep f, 1992a, 1992b ; Sch oep f et al., 1991; Gu p ta & Weiss, 1993; Elias & Heise, 1994; Mich a l-Jo h n so n , 1994; Heise & Elia s, 1995; Ka m m erer et a l., 1995; Sym o n d s, 1998; Zoysa et al., 1996).

Heise & Elias (1995), p or exem p lo, argum en -ta m q u e a estra tégia em três fren tes d a m a io r p a rte d o s p ro gra m a s d e p reven çã o d a AIDS (q u ais sejam : red u ção d e p arceiros, p rom oção d o u so d os p reservativos e tratam en to d as IST) é in a d eq u a d a p a ra p roteger a m a ior p a rte d a s m u lh eres d o m u n d o, as qu ais são p ob res e n ão d etêm o p o d er d e n ego cia çã o d o s en co n tro s sexu ais. Mais ain d a, a associação d os p reserva-tivo s co m a d esco n fia n ça e co m a s fa lh a s d e com u n icação en tre h om en s e m u lh eres n o qu e d iz resp eito a o s a ssu n to s sexu a is e rep ro d u ti-vos, além d a falta d e p ercep ção d a vu ln erab ili-d aili-d e ao HIV, lim itam ain ili-d a m ais a cap aciili-d aili-d e d e m u ita s m u lh eres p ra tica rem o sexo segu ro (Mich a l-Jo h n so n , 1994; Heise & Elia s, 1995; Pa rker & Ga lvã o, 1995; Zoysa et a l., 1996; Ba r-bosa, 1999), situ ação agravada p ela falta de tec-n ologias d e p revetec-n ção d o HIV cotec-n trolad as p e-la s m u lh eres (Stein , 1990; Elia s & Heise, 1994; ABIA, 1999).

Na literatu ra d e gên ero e sexu alid ad e existem várias an álises etn ográficas im p ression an -tes q u e ilu m in a m os fa tores cu ltu ra is e p olíticos su b jacen tes à vu ln erab ilid ad e ao HIV. Kam -m erer et al. (1995), p or exe-m p lo, d escreve-m co-m o a p en etra çã o d o Esta d o e d o ca p ita lisco-m o p ro d u zira m co la p so d a eco n o m ia d a s tr ib o s d as m on tan h as n a p eriferia d o n orte d a Tailân -d ia. Com o resu lta-d o, joven s têm m igra-d o p ara as cid ad es d o vale p ara trab alh ar – às vezes, n a p ro stitu içã o –, en q u a n to, a o m esm o tem p o, a sexu alid ad e m on tan h esa trad icion al, com seu s valores d e “vergon h a, n om ear e cu lp ar” (n o in -glês, “sh am e, n am e an d blam e”), tem con stitu

í-d o ob stácu lo sign ificativo à aí-d oção í-d e m eí-d ií-d as p reven tivas con tra o HIV.

Sym on d s, escreven d o igu alm en te a resp eto d o n orte d a Tailân d ia, exp lica d e form a sim i-la r a vu ln era b ilid a d e a o H IV en tre o s H m o n g

com o p rod u to d e com b in ação d e fatores p olí-tico s, eco n ô m ico s e cu ltu ra is, in clu in d o -se a en trad a d os Hm on g – origin ários d as terras al-tas – n os m ercad os d as terras b aixas, o crescim en to d a in d ú stria d o sexo, o u so d e d rogas in -jetáveis, o racism o e a d iscrim in ação con tra os Hm on g p or p arte d a m aioria Th ai e o d u p lo p a-d rão sexu al (Sym on a-d s, 1998).

A a n á lise feita p o r Sch o ep f d e h istó r ia s d e vid a d e m u lh eres n o Za ire ta m b ém evid en cia q u e o HIV n ã o é d issem in a d o p o r p rá tica s se -xu a is exó tica s, m a s p o r resp o sta s n o rm a is a p roblem as do cotidian o, tais com o dificu ldades econ ôm icas su b stan ciais e in certeza (Sch oep f, 1992b ).

To d o s o s a u to res a q u i cita d o s p ro m ovem fo rm a s p a rticip a tiva s e co la b o ra tiva s d e p es-q u isa -a çã o co m m u lh eres vu ln erá veis co m o m od o d e red efin ir os p ap éis sociais d e gên ero e a s co n d içõ es só cio -eco n ô m ica s q u e co n tri-b u em p ara a d issem in ação d o HIV (Sch oep f et al., 1991; Sch oep f, 1992a, 1992b ; Kam m erer et al., 1995; Sym on d s, 1998).

Fin alm en te, ain d a qu e u m volu m e con sid e-ravelm en te m en or d e p esqu isas ten h a sid o rea-lizad o n o q u e se refere aos h om en s q u e fazem sexo co m h o m en s em p a íses em d esen vo lvm en to, o s a ch a d o s lvm o stra lvm q u e a vu ln era b i-lid a d e a o H IV rela cio n a d a à d esigu a ld a d e d e gên eros e ao sexism o tam b ém estão p resen tes q u a se u n iversa lm en te em rela çõ es en tre p a r-ceiros d o m esm o sexo (McKen n a, 1996).

Neste co n texto, a s estru tu ra s d e d esigu a l-d a l-d e l-d e gên ero sã o tip ica m en te rep lica l-d a s através d a estigm atização d os h om en s h om os-sexu ais p articu larm en te efem in ad os e p essoas tra n sexu a is q u e, co m freq ü ên cia , têm p o u ca s o p çõ es fo ra d o tra b a lh o em sexo e sã o o b jeto d e violên cia s física s socia lm en te sa n cion a d a s (Pa rker, 1993). Estes estu d o s su gerem q u e o s h o m en s q u e fa zem sexo co m h o m en s estã o p resen tes em tod as as socied ad es e q u e op ressõ es m ú ltip la s – in clu in d o se a p o b reza , o ra cism o, a d esigu a ld a d e d e gên ero e a h o m o fo -b ia – in teragem d e form a sistem ática, fazen d o co m q u e ta is h o m en s fiq u em em situ a çã o d e acen tu ad a vu ln erab ilid ad e à in fecção p elo HIV (Parker et al., 1998).

A “sinergia de pragas” ou “AIDS como sindemia”

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ch a m a d o s “p a íses em d esen vo lvim en to” m a s ta m b ém n a q u eles d en o m in a d o s “d esen vo lvi-d os”. De acorlvi-d o com esta ten lvi-d ên cia, à m elvi-d ilvi-d a qu e a reestru tu ração econ ôm ica foi-se desen lan d o em p aíses com o os Estad os Un id os, p ro-d u ziu -se sign ificativa rero-d u ção n as op ortu n iro-d a-d es a-d e em p rego p a ra a s p o p u la çõ es a-d e b a ixa ren d a e m en or in stru ção form al – com o os gru -p os d e m in orias qu e se con cen traram n as áreas m a is in tern a s, o ch a m a d o in n er cit y, d os cen

-tros u rb an os m ais im p ortan tes (Wilson , 1996). Nesta Am érica d as áreas in tern as d as gran d es cid ad es, tan to q u an to n a África su b d esen -volvid a, o resu ltad o foi a con cen tração d a p o-b reza em certas com u n id ad es qu e se torn aram , em gran d e m ed id a, irrelevan tes p ara o p roces-so d e d esen vo lvim en to d o ca p ita lism o – e, n a esteira d e n íveis crescen tes d e p ob reza e m isé-ria, exp lod iu u m con ju n to d e p rob lem as associa d o s, liga d o s a o b em esta r so associa l. As exten -sas in vestigações sociais e an trop ológicas q u e têm sid o co n d u zid a s n a s co m u n id a d es d a s áreas in tern as d as gran d es cid ad es d os Estad os Un id o s – a ssim co m o o s tra b a lh o s rela tivo s à p o b reza , m igra çã o e d esigu a ld a d e d e gên ero em u m a gam a d e p aíses em d esen volvim en to – são, em p rin cíp io, d iretam en te relevan tes p ara a an álise d as ligações en tre p ob reza, d esigu al-d aal-d e e HIV/ AIDS n o Brasil.

A p a rtir d o fim d o s a n o s 80, p o r exem p lo, au tores com o Rod rick Wallace, Deb orah Walla-ce, Min d y Fu llilove, Ro b ert Fu llilove e Peter Gou ld exp loraram a in teração d e u m a série d e p rob lem as sociais qu e afetavam as vizin h an ças h ab itad as p or m em b ros d e m in orias d as áreas in tern as d as gran d es cid ad es d os Estad os Un i-d os. Eles focalizaram , em p articu lar, o im p acto d a red u ção d e u m con ju n to d e serviços essen -cia is – co m o ser viço s d e co m b a te a in cên d io p ara com u n idades de baixa ren da – e docu m en -ta ra m o s m o d o s p elo s q u a is a s a ltera çõ es n o forn ecim en to d estes serviços levaram a n íveis crescen tes d e “d esertifica çã o u rb a n a” em ta is com u n id ad es.

A d esertifica çã o u rb a n a – ca ra cteriza d a , p o r exem p lo, p o r h a b ita çõ es in cen d ia d a s o u d em olid as p ara d ar p assagem à con stru ção d e vias exp ressas – levou ao ab an d on o d estas vizi-n h avizi-n ças p or p arte d e q u alq u er u m com recu r-sos p ara fazê-lo, d eixan d o p ara trás ap en as os resid en tes m a is p o b res e d estitu íd o s, cria n d o efetivam en te u m a “terra d e n in gu ém”, n a q u al os asp ectos regu lares d a ord em social – com o o p o licia m en to efetivo – fu n cio n a m p reca ria -m en te ou n ão existe-m , e on d e n íveis extre-m a-m en te elevad os d e a-m ortalid ad e p or violên cia, trá fico d e d ro ga s e a b u so d e su b stâ n cia s ile -ga is, m o rta lid a d e in fa n til e in fecçã o p elo H IV

têm sid o d ocu m en ta d os (Wa lla ce, 1988, 1990, 1991a , 1991b ; Wa lla ce et a l., 1994; Wa lla ce & Wallace, 1995).

Co m b a se em ta is a n á lises, Wa lla ce et a l. (1994, 1995) têm argu m en tad o q u e tais com u -n id a d es em p o b recid a s d a s á rea s i-n ter-n a s d a s gran d es cid ad es são cad a vez m ais caracteriza-d as p or “sin ergia caracteriza-d e p ragas”, n a q u al os efeitos n ega tivo s d e u m a ga m a d e p ro b lem a s so cia is d iferen tes – relacion ad os ao d éficit h ab itacio -n a l e d e ser viço s liga d o s a o b em -esta r so cia l ta n to q u a n to à ca rên cia o u in a d eq u a çã o d e serviços d e saú d e – in teragem sin ergicam en te p ara criar vu ln erab ilid ad e au m en tad a ao HIV e à AIDS (Wallace, 1988).

Tais an álises têm sid o reforçad as e esten d id a s em , p elo m en os, id u a s id ireções im p orta n -tes. Em p rim eiro lu gar, algu m as p esqu isas têm en focad o a im p ortân cia d a raça ou etn icid ad e em ta is co m u n id a d es d a s á rea s in tern a s d a s gran d es cid ad es, exam in an d o os efeitos, n o to-can te à saú d e, d a d iscrim in ação étn ica e racial e en fatizan d o as in ter-relações en tre alcoolis-m o, ab u so d e d rogas e in fecção p elo HIV en tre p op u lações afro-am erican as e latin o-am erica-n a s m a rgierica-n a liza d a s e so cia lm eerica-n te exclu íd a s. De m od o sem elh an te a Wallace, Merrill Sin ger, em seu tra b a lh o a resp eito d a crise n a sa ú d e e n fre n ta d a p e la p o p u la çã o p o b re d e á re a u r-b an a n o s Esta d o s Un id o s, tem fa la d o d o H IV/ AIDS com o u m a esp écie d e “sin d em ia”, qu e in -tera ge n ega tiva m en te co m o s d em a is p ro b le-m as d e saú d e en fren tad os p or esta p op u lação, p rod u zin d o n íveis ain d a m aiores d e vu ln erab i-lid ad e (Sin ger, 1994; Baer et al., 1997).

Pau l Farm er, Margaret Con n ors e Jan et Sim -m on s associara-m tais p rob le-m as à q u estão d o gên ero, exa m in a n d o os efeitos in tera tivos d a-quilo que é descrito com o “violên cia estrutural”, q u e vin cu la p ob reza e gên ero – tan to em con -textos d esen volvid os/ in d u strializad os q u an to n o s su b d esen vo lvid o s/ em in d u stria liza çã o – situ a n d o a s m u lh eres m a is p ob res n o q u e ta vez seja m a s con d ições m a is extrem a s d e vu l-n era b ilid a d e el-n frel-n ta d a s p o r q u a lq u er gru p o p op ulacion al (Farm er, 1999; Farm er et al., 1996). No co n texto m a is gera l d e d eca im en to e em p ob recim en to u rb an o en con trad o n os Estad os Un iEstad os – em p articu lar, n as ciEstad aEstad es ao lon -go d a co sta Leste d a q u ele p a ís –, o s a n a lista s têm p rocu rad o exp licitar os m od os p elos qu ais a in tera çã o en tre p o b reza , ra cism o, o p ressã o d e gên ero e to d o u m co r tejo d e m a les so cia is se assem elh a às relações en con trad as em p es-q u isa s d esen vo lvid a s n o s p a íse s m a is p o b re s (Sin ger, 1998).

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gran d es cid ad es d os Estad os Un id os tem en fa-tiza d o o q u e a lgu n s a n a lista s d esign a m co m o “terceirom u n d ização” d estas com u n id ad es. De fa to, n ã o sem a lgu m gra u d e h ip érb o le, m a s n em p o r isso d e fo rm a m en o s in triga n te, em algu n s veícu los d e im p ren sa su rgiu a exp ressão “brasilian ização”, referin do-se às alterações n as relações sociais e d e trab alh o n os Estad os Un i-d os, su gerin i-d o u m con ju n to im p ortan te i-d e co-n exões eco-n tre os feco-n ôm eco-n os q u e fora m exa m in a d o s co m rela çã o a o H IV/ AIDS in a s p o p u la ções em p obrecidas das áreas in tern as das gran -d es ci-d a-d es am erican as e as ten -d ên cias ob serva d a s n o q u e co n cern e à s m u d a n ça s d o co n -torn o d a ep id em ia d e HIV/ AIDS n o Brasil.

Na seção fin al d este texto, ten tarem os d eli-n ear algu m as d as im p licações d o coeli-n ju eli-n to d e p u b licações p rod u zid o p or estas p esq u isas n o toca n te a o en ten d im en to m a is a b ra n gen te d a ep idem ia de HIV/ AIDS em sua evolução n o Bra-sil e qu an to à p ossib ilid ad e d e resp on d er a esta evolu ção d e form a m ais eficien te n o fu tu ro.

Delineando uma agenda de pesquisa e ação para o Brasil

Talvez o p on to cru cial a ser en fatizad o com b a se n esta revisã o, seja a existên cia d e u m co n -ju n to exp ressivo d e p u b lica çõ es n a s á rea s d e a n tro p o lo gia e so cio lo gia q u e p o d e a p o ia r a con stru ção d e b ase teórica e con ceitu al p ara o estu d o em p írico d a s tra n sfo rm a çõ es d o co n -torn o d a ep id em ia d e HIV/ AIDS n o Brasil, b em com o d as ten d ên cias em ergen tes associad as à p au p erização, fem in ização e in teriorização evi-d en ciaevi-d as a p artir evi-d os evi-d aevi-d os ep ievi-d em iológicos. Em p articu lar, ch am am os a aten ção p ara a im p ortân cia d os trab alh os recen tes a resp eito d e: a ) p ro cesso d e glo b a liza çã o e reestru tu ra -çã o so cia l e eco n ô m ica d o sistem a ca p ita lista m u n d ia l; b ) litera tu ra b a sea d a em p esq u isa s tran scu ltu rais relativa aos fatores am b ien tais e estru tu rais qu e con form am a ep idem ia (ou ep i-d em ia s) i-d e H IV/ AIDS n o co n texto i-d e vá r io s p a íses em d esen vo lvim en to, e c) in vestiga çã o d etalh ad a d as d im en sões geográficas, cu ltu rais e so cia is d o H IV/ AIDS n a s p o p u la çõ es em p o -b recid a s e m a rgin a liza d a s en co n tra d a s n o s cen tros u rb an os m ais im p ortan tes d a Am érica d o No rte. Ta is lin h a s d e tra b a lh o co n stitu em três im p o rta n tes co n ju n to s d e p esq u isa s q u e oferecem in sigh tsd iretam en te relevan tes p ara

a an álise, in vestigação e in terven ção com rela-ção ao caráter m u tan te d a ep id em ia n o Brasil.

Co m efeito, o Bra sil p o d e ser visto co m o co m p lexa sín tese em q u e estã o vir tu a lm en te p resen tes tod os os d iferen tes fatores

socioeco-n ôm icos id esocioeco-n tifica d os com o estru tu ra socioeco-n tes d a vu ln erab ilid ad e relacion ad a à AIDS. Tan to p elo grau d e h eterogen eid ad e com o d e d esigu ald a-d e, o Brasil rep ete, em escala n acion al, os p ro-cesso s q u e a u to res co m o Ca stells d escrevem n o âm b ito glob al. Form as variad as d e d esigu al-d a al-d e e o p ressã o, co n ju n ta m en te co m va ria al-d a gam a d e fatores estru tu rais e am b ien tais, com -b in am -se n o território n acion al d o Brasil p ara p rod u zir e rep rod u zir forças sociais q u e foram id en tificad as, em âm b ito in tern acion al, com o m otores d a ep id em ia: os m ovim en tos m igrató-rios d as m u lh eres d e Gan a, citad os acim a, p or exem p lo, p odem ocorrer in tern am en te, n o País, en tre o n ord este e o su l-su d este; a falta d e p o-d er o-d a s m u lh eres su jeita s sim u lta n ea m en te à op ressão econ ôm ica e à op ressão d e gen êro re-p ete-se tan to n as gran d es cid ad es q u an to n as áreas ru rais d o p aís; o en colh im en to d o m erca-d o form al erca-d e trab alh o e a erca-d esin tegração social p rod u zid a p elo crim e organ izad o e o tráfico d e d ro ga s fa zem p a rte d a vid a co n tem p o râ n ea brasileira da m esm a form a qu e da vida n ovaior-qu in a; e assim p or d ian te.

Ao vasto con ju n to d e d esigu ald ad es sociais e econ ôm icas en con trad o h oje n o Brasil, d eve-se a grega r fa to res igu a lm en te a gra va n tes, ta is co m o a b a ixa in co rp o ra çã o d o s va lo res d a ci-d a ci-d a n ia , m en o r a in ci-d a p a r a o s ci-d esp o ssu íci-d o s, qu e acab a con stitu in d o com p licad or ad icion al n o ca so b ra sileiro – o n o sso gu eto n ã o co n ta com u m a NAACP – Nation al Association for th e Ad van cem en t of Colored Peop le, en tid ad e n

or-te-am erican a p ion eira n a d efesa d as m in orias d e origem african a n aqu ele p aís – ou en tid ad es sem elh an tes qu e lu tam , com gran d e exp ressão social, p elos d ireitos sociais e p olíticos d os ex-clu íd o s. A sin ergia a q u i en co n tra d a in ex-clu i, a o co n trá rio, a fa lta q u a se a b so lu ta d e m eca n ism os d e p roteçã o socia l e u ism sisteism a d e b eism -estar social ab ortad o qu ase an tes d e existir.

Em su m a, en q u an to virtu alm en te tod os os fa to res estru tu ra is e a m b ien ta is a sso cia d o s à vu ln erab ilid ad e au m en tad a ao HIV/ AIDS – em p articu lar, en tre os p ob res – estão p resen tes n o Bra sil d e h o je – m u ita s vezes em exp a n sã o –, d en tre as estru tu ras p oten cialm en te m itigad ora s d o im p a cto d estes fa to res, co m o o s siste -m as d e b e-m -estar e as red es d e p roteção social – existen tes em algu m as d as socied ad es d escri-tas n os estu d os revisad os –, p ou cas p arecem d e fato em op eração n o p aís, d e m od o qu e p u d es-se efetiva m en te a u xilia r n a resp o sta à s fo n tes p oten ciais d e vu ln erab ilid ad e.

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im p ortan tes com relevân cia d ireta p ara q u e se p ossa estab elecer recom en d ações sob re o d esen volvim en to fu tu ro d e p esq u isa s, in terven -ções, p olíticas e p rogram as relacion ados à AIDS n o Brasil.

Um a discussão exaustiva destas im p licações requ ereria u m texto bem m ais exten so do qu e é p ossível aqu i. Vale a p en a, n o en tan to, d estacar p elo m en o s três p o n to s cen tra is, ju n ta m en te com algu n s d esd ob ram en tos a eles associad os. Em p rim eiro lu ga r, go sta ría m o s d e en fa ti-zar a n ecessid ad e u rgen te d e d esen volver qu ad ro s co n ceitu a is ad e referên cia m a is so fistica -d os p a ra a -d iscu ssã o -d a -d esigu a l-d a -d e com relação ao HIV/ AIDS. A n ecessid ad e d e m aior so -fistica çã o co n ceitu a l n ã o é, d e fo rm a a lgu m a , n ovid a d e. Está evid en te, p o r exem p lo, n a im -p ortan te red efin ição d as n oções d e risco in d i-vid u al ou gru p al em term os d e sistem as d e vu l-n era b ilid a d e so cia l, l-n o çã o esta q u e ser viu d e p on to d e p artid a p ara este en saio e qu e tem si-do objeto de discu ssão teórica exten sa e im p or-ta n te (Ma n n et a l., 1993; Ayres, 1994; Ma n n & Taran tola, 1996; Parker, 1996; Ayres et al., 1999). Ist o é e sp e cia lm e n t e ve rd a d e iro n o q u e d iz re sp eito à rela çã o en tre AIDS e p o b reza , ex-p ressão d e u so cad a vez m ais am ex-p liad o – qu ase u m b o rd ã o –, m a s co m ela b o ra çã o co n ceitu a l relativam en te restrita.

A d iscu ssã o d estes tó p ico s ca rece d e d eli-n ea m eeli-n to teó rico -co eli-n ceitu a l d ireto e p reciso com o aq u ele oferecid o p or au tores com o Cas-tells n a su a d iscu ssão a resp eito d a d iferen cia-çã o so cia l, d iscu tid a a n terio rm en te (Ca stells, 1998). Um refin am en to d as ferram en tas teóri-co-con ceitu ais – qu e p erm ita, p or exem p lo, es-tab elecer relações con sisten tes en tre d esigu al-d aal-d e geral e p ob reza, al-d esigu alal-d aal-d e e p olariza-ção, p obreza e m iséria, exp loração extrem a e ex-clu são social ou ain da exex-clu são social e in tegra-çã o p erversa – a ju d a ria a u ltra p a ssa r a s gen e-ralizações su p erficiais qu e freqü en tem en te ca-racterizam as discussões relativas à AIDS e à p o-b reza, d e m od o a d esen volver referen ciais an a-líticos m ais com p lexos e p oten cialm en te m ais ú teis, co m o s q u a is se p o ssa co n d u zir ta n to a in vestigação qu an to a in terven ção n o fu tu ro.

Lem b ra n d o Ba ch ela rd (filó so fo fra n cês – 1884-1963), o esta d o a tu a l d a d iscu ssã o, p ela p roliferação d e b an alid ad es, con stitu i, d e fato, u m ob stácu lo ep istem ológico a este avan ço.

Um a segu n d a lição im p ortan te a ser en fatiza d a , co m b a se n a b ib lio gra fia a q u i exa m in a -d a , -d iz resp eito a em q u e m e-d i-d a a p o b reza , p or si m esm a, é ao m en os p arcialm en te lim ita-d a com o categoria u n icau sal ita-d e an álise ita-d a vu l-n era b ilid a d e a o H IV/ AIDS. Ao co l-n trá rio, virtu alm en te tod a a b ib liografia sociológica e an

-trop ológica p or n ós revisa d a su gere q u e a p o-b reza (m esm o qu an d o re-sign ificad a com m ais co m p lexid a d e co m o m isér ia , exclu sã o so cia l, in tegração p erversa e assim p or d ian te) fu n cion a, em q u ase tod as as circu cion stâcion cias, em cocion -ju n ção com u m leq u e d e ou tros fatores sociais e cu ltu ra is n a a rticu la çã o d e fo rm a s va ria d a s d e vu ln erab ilid ad e ao HIV/ AIDS.

Em tod a esta b ib liografia, a ên fase con stan -te é n a in -tera çã o en tre fa to res estru tu ra is d i-versos – a sin ergia cau sad a p elo con tato en tre o s fa to res. Esta b ib lio gra fia a b o rd a a p o b reza em relação ao d eslocam en to esp acial, ao p od er associad o a gên ero, à violên cia e d iscrim in ação sexu al, à d esertificação u rb an a e à d esin tegra-çã o socia l a ssocia d a a o trá fico d e d roga s e a s-sim p o r d ia n te. Ten d ên cia s a m p la s, co m o a p a u p eriza çã o, a fem in iza çã o o u a in terio riza -ção são in egáveis, m as n ossa u tiliza-ção, p or ve-zes, d em asiad o sim p lista d estas categorias p o-d e m a sca ra r a rea l co m p lexio-d a o-d e so cia l o-d o s p rocessos d e vu ln erab ilização.

A d iscu ssã o rela tiva à fem in iza çã o, p o r exem p lo, u su a lm en te m a sca ra n ã o a p en a s o fato d e q u e n em tod as as m u lh eres são vu ln e-ráveis; d eixa-se tam b ém d e lad o qu e a vu ln era-b ilid a d e d iferen cia l a feta m u lh eres d iferen tes d e m od o d iverso, d ep en d en d o d e ou tros fato-re s e stru tu ra is, o u se ja , q u e m u lh e fato-re s p o b fato-re s são m ais vu ln eráveis qu e as qu e n ão o são, qu e a s m u lh e re s p o b re s jove n s sã o m a is vu ln e rá -veis q u e a s m a is velh a s p erten cen tes a o m es-m o estrato, qu e as es-m u lh eres p ob res joven s sees-m a lte r n a tiva s e co n ô m ica s viá ve is a lé m d o tra -b a lh o co m sexo sã o m a is vu ln erá veis d o q u e aq u elas q u e d isp õem d e ou tras op ções econ ô-m icas e assiô-m p or d ian te.

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Ao fim e ao cab o, tais relações sin érgicas – e a com p lexid ad e in côm od a qu e elas n ecessaria-m en te ca u sa ecessaria-m a os esq u eecessaria-m a s b eecessaria-m a rru ecessaria-m a d os da saú de p ú blica, da ep idem iologia e da ciên cia em geral – devem n ecessariam en te ser con fron -ta d a s se p reten d em os ir a d ia n te n a a n á lise d a ep id em ia ou n a in terven ção em su a trajetória. Fin a lm en te, a va n ça r n a u tiliza çã o d e q u a -d ro s referen cia is m a is co m p lexo s, visa n -d o a o en ten d im en to m ais am p lo d as relações sin ér-gicas en tre a p ob reza e ou tras form as d e op ressão, d esigu ald ad e e exclu são social, d em an d a rá, p or seu tu rn o, algu n s d eslocam en tos fu n d a -m en tais e-m u -m con ju n to razoavel-m en te en tra-n h a d o d e p rá tica s q u e evo lu íra m a o lo tra-n go d o tem p o e qu e, d este m od o, se torn aram crescen -tem en te assu m id as com o d ad as e n ão qu estio-n ad as estio-n a p rogram ação, p esqu isa e iestio-n terveestio-n ção vin cu lad as à AIDS.

Em a lgu n s ca so s, e st a s m u d a n ça s d e ve -ria m ser d e efetiva çã o rela tiva m en te sim p les, com o, p or exem p lo, a n ecessid ad e d e in iciar a co le t a d e d a d o s e t ra b a lh a r o s b a n co s d e d a -d os -d e m o-d o a in clu ir, -d e fato, in -d ica-d ores so-cia is, d em o grá fico s, étn ico s, eco n ô m ico s etc. p a ra q u e p ossa m os d isp or d e p a râ m etros q u e p ossib ilitem an alisar qu estões sociais e econ ô-m icas coô-m o as q u e foraô-m ap on tad as aq u i. Eô-m o u t ro s ca so s, t a is m u d a n ça s p o d e m se r m a is d ifíceis, u m a vez qu e vão d e en con tro n ão ap e-n as à p rática estab elecid a, m as tam b ém a rela-ções p rofu n d am en te en raizad as d e p od er, d o-m in ação e o-m eso-m o, p or vezes, d e d ep en d ên cia, tal com o se d esen volveram n as p ráticas cien tí-ficas e n a con stru ção d e p rogram as d e con tro-le e p reven ção d a AIDS, com o a n ecessid ad e d e m aior criativid a d e n o q u e d iz resp eito à s p es-q u isa s fin a n cia d a s p elo p od er p ú b lico (e p ro-p o sta s ro-p ela co m u n id a d e cien tífica b ra sileira ) co m re cu r so s n a cio n a is t a n t o q u a n t o in t e r -n acio-n ais, rom p e-n d o com os a-n éis d e ferro d o b eh aviorism o.

Prin cip a lm en te em virtu d e d e o s m o d elo s b eh avioristas d om in arem a agen d a d e p esq u i-sa em q u ase tod as as agên cias in tern acion ais, e n os p rin cip ais cen tros de p esqu isa sobre AIDS n os Estad os Un id os e m u itos p aíses n a Eu rop a, m od elos m ais sofisticad os e cap azes d e in cor-p orar a an álise d os fatores aq u i levan tad os ca-m in h aca-m n a con traca-m ão n ão soca-m en te d a h ege-m on ia econ ôege-m ica d a ord eege-m econ ôege-m ica e p olí-tica estab elecid a, m as tam b ém d a h egem on ia ep istem ológica d a ord em cien tífica. Prom over tran sform ação n este sen tid o en fren tará fortes resistên cias d e d iversas in stân cias.

Fin alm en te, o recon h ecim en to d e tais fato-res em su a p len itu d e d em a n d a rá o rep en sa r n ã o a p en a s d o s m o d o s co m o co n d u zim o s a

p esq u isa q u e b u sca en ten d er a ep id em ia d e HIV/ AIDS, m as tam b ém d os m eios qu e u tiliza-m os p ara in tervir etiliza-m resp osta a ela. Utiliza-m p asso ab solu tam en te essen cial n este rearran jo será o estím u lo à p esq u isa e in terven çã o co m m a io r b a se com u n itá ria com o a ch a ve p a ra a im p lem en tação d e p rogralem as. Até aqu i, lem u ito d a in -ter ven çã o – e, p rova velm en te, m a is a in d a d a p esq u isa – tem en focad o os gru p os ab ran gen tes, com b ase p op u lacion al, m ais d o qu e a m o b iliza çã o e tra n sform a çã o fu n d a d a em com u n id a d es. Em a lgu n s ca so s, co m o en tre o s h o m en s q u e fa zem sexo co m h o m en s, ta l tra b a lh o se m ostra associad o à form ação d e com u -n id a d es -n ova s e im p o rta -n tes (Pa rker, 1999) e, em con seq ü ên cia, teve resu ltad os talvez in es-p erad os e, em geral, m u ito es-p ositivos. Ain d a as-sim , m u ito s d estes tra b a lh o s, m esm o q u a n d o im p lem en tad os p or ONGs, falh aram em en fo-ca r a s re a is n e ce ssid a d e s d a s co m u n id a d e s afetad as – em esp ecial, as com u n id ad es em p o-b recid as e m argin alizad as – d e m od o exp ressi-vo. A im p le m e n t a çã o d e a t ivid a d e s liga d a s a estes p ro jeto s, ta n to a tra vés d e ONGs q u a n to d e agên cias govern am en tais, com u m en te n ão con ta com b ase com u n itária sign ificativa.

Mais ain d a, em b ora a relação en tre o setor gove r n a m e n t a l e a s ONGs/ AIDS t e n h a e xp e -r im en ta d o p -ro g-ressiva m elh o -ra a o lo n go d o s a n o s, a in d a p ersiste u m m o d elo d e in tera çã o m old ad o à im agem d e ou tras in terações in stitu cion ais, com o, p or exem p lo, o fin an ciam en -to d e p esq u isa s p or p a rte d o Con selh o Na cio-n a l d e Desecio-n volvim ecio-n to Ciecio-n tífico e Teccio-n oló-gico – CNPq ou o p róp rio fin an ciam en to d a as-sistên cia n o SUS, em q u e o Esta d o a ssu m e o p a p el d e co m p ra d o r d e ser viço s e a u d ito r d a p restação d e con tas sem in tegração efetiva d e ações. Neste sen tido, m odelos com o os p rogra-m as d e ações b ásicas d e saú d e ou d e saú d e d a fam ília p od em oferecer exem p los in teressan tes d e p rá tica s in ova d o ra s n a rela çã o Esta d o / so-cied a d e civil. In felizm en te, co n tu d o, a in d a é b a ixa a in tegra çã o d estes p ro gra m a s co m a s d em ais ações d o p od er p ú b lico n a área d a saú -d e, aí in clu in -d o-se o Program a -d e AIDS e o p ró-p rio SUS. Precisa m en te ró-p or con ta d a com ró-p le-xid ad e d a “in d ú stria d a AIDS” (Patton , 1991) – ta l co m o esta evo lu iu , a o lo n go d o tem p o, n o Brasil e em ou tras p artes do m u n d o – d esen vol-ver n ovas m od alid ad es d e ab ord agem p ara es-tes p rob lem as n ão será, d e m od o algu m , tarefa sim p les e segu ram en te d esp ertará resistên cias ap reciáveis p or vários m otivos.

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ser a grega d a s. Po r exem p lo, é n ecessá rio ga -ra n tir a in teg-ra çã o d a a ssistên cia à sa ú d e à s p essoas com HIV/ AIDS com m ed id as d e p rote-çã o so cia l (ju ríd ica , a ssistên cia so cia l etc.); é p reciso d esen vo lver in terven çõ es fo ca liza d a s n as situ ações d e m aior vu ln erab ilid ad e (com o trab alh o in fan til, in clu sive a p rostitu ição) e su -p o rte so cia l -p a ra exclu íd o s, m u ita s vezes -p o r fatores m ú ltip los (p or exem p lo, os travestis p o-b res o u o u tro s gru p o s m a rgin a liza d o s p o r d

i-verso s fa to res e p o r m eio d e d ii-verso s eixo s d e op ressão). No fim d as con tas, a in terven ção em resp o sta a o H IV/ AIDS d ep en d erá n ã o a p en a s d a s a çõ es técn ica s d a sa ú d e p ú b lica , m a s d e n o ssa ca p a cid a d e m a is a m p la em co n tr ib u ir p ara tran sform ações sociais verd ad eiram en te p rogressistas – em u m m u n d o n o qu al as tran s-form ações m ais am p las q u e se d esen rolam ao n osso red or p arecem freqü en tem en te estar ca-m in h an d o n a d ireção op osta.

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Agradeciment os

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