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A abordagem sócio-construcionista e aprodução desentidos sobre o desemprego: um estudo no setor industrial da região metropolitana de Belo Horizonte (RM-BH).

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o&s - v. 1 5 - n . 4 7 - Ou t u b r o / D ezem b r o - 2 0 0 8

O

T

1 Est e ar t igo é par t e de um a t ese de dout or ado em Adm inist r ação. * Por fª da Univer sidade Feder al de Minas Ger ais/ UFMG

* * Pr of. da Univer sidade Feder al de Lavr as * * * Pr of. da UFMG

* * * * Pr of. da Univer sidade Feder al de Lavr as * * * * * Pr ofª da Univer sidade Feder al de Lavr as

A A

BORDAGEM

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INDUSTRIAL

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DE

B

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H

ORIZONTE

(RM-BH)

1

M a r i a Ce cí l i a P e r e i r a * M o z a r Jo sé d e Br i t o * * A l e x a n d r e d e P á d u a Ca r r i e r i * * *

Ju v ê n ci o Br a g a d e Li m a * * * * M ô n i ca Ca r v a l h o A l v e s Ca p p e l l e * * * * *

R

ESUMO

em pr ego, com o cat egor ia de t r abalh o for m al, ocu pa gr an de par t e dos t r abalh ado-r es n o Bado-r asil; poado-r isso, o desem pado-r ego é u m a qu est ão social cen t ado-r al e at u al paado-r a a discussão no cenár io br asileir o. Por t ant o, defende se que o fenôm eno do desem -p r eg o -p od e ser in v est ig ad o -p or m eio d e u m -p r ocesso d e -p r od u ção d e sen t id os, t e n d o p o r b a s e o s s u j e i t o s s o c i a i s . Pa r a t a n t o , a d o t a r a m - s e a s a b o r d a g e n s d o Con st r u cion ism o Social e a an álise d as p r át icas d iscu r siv as com o p ossib ilid ad e t eór ico-m et odológica par a o est udo. Desenv olv eu- se a ar guico-m ent ação coico-m o apor t e de uico-m a pes-quisa em pír ica, r ealizada na Região Met r opolit ana de Belo Hor izont e, Minas Ger ais, Br asil, com o obj et iv o de com pr eender o pr ocesso de pr odução de sent idos acer ca do fenôm eno d o d esem p r eg o, con sid er an d o as p r át icas d iscu r siv as d e su j eit os en v olv id os com esse fenôm eno. For am ident ificados quat r o r eper t ór ios discur siv os: condição de em pr egado( a) ; m u d a n ç a s n a s c o n f i g u r a ç õ e s d o e m p r e g o n o s e t o r i n d u s t r i a l ; c o n d i ç ã o d e n ã o -em pr egado( a) ; e, condição de t r abalhador ( a) . Desse m odo, est e est udo cont r ibui par a o av anço do debat e t eór ico- m et odológico acer ca dos est udos sobr e a r ealidade do t r abalho/ d esem p r eg o .

A

BSTRACT

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Introdução

au m en t o d o d esem p r eg o g er a p r eocu p ação, ex p l i ci t ad a n as p esq u i sas acadêm icas, de âm bit o in t er n acion al e n acion al. No âm bit o in t er n acion al, obser v ou - se ex pr essiv a pr eocu pação com as qu est ões da discr im in ação, ex clu são, p ob r eza e acessib ilid ad e ao em p r eg o, r elacion ad as ao est u d o d o d esem p r eg o, m ais esp ecif icam en t e, a p ar t ir d e 2 0 0 0 ( ANDERSEN, 2 0 0 0 ; DARI TY, 2 0 0 3 ; GALLI E et al., 2 0 0 3 ; PARKS, 2 0 0 4 ; REPORT V, 2 0 0 0 ; YAO, 2 0 0 4 ) . Al ém d i sso, v er i f i cou - se u m a t en d ên ci a em r el aci on ar o d esem p r eg o com a cr im inalidade e pr oblem as fam iliar es ( HOJMAN, 2004; KRAFT, 2001; LEVI TT, 2001) . No con t ex t o n acion al, ob ser v ou - se q u e a p r od u ção acad êm ica acer ca d o d e-sem p r eg o, a p ar t ir d e 1 9 8 0 , cen t r aliza esse f en ôm en o com o q u est ão social. Abr an gem - se as im plicações do desem pr ego, f ocalizan do os m ov im en t os soci-ais de lu t a con t r a esse qu adr o, a iden t idade polít ica de u m a n ov a classe t r aba-lh ador a e a cen t r alidade da edu cação ( qu alif icação) com o est r at égia de acessi-bilidade ( HI RATA e HUMPHREY, 1 9 8 9 ) .

No Br asil, o fenôm eno do em pr ego, ao m esm o t em po em que se car act er iza pela r elação salar ial e pelos padr ões int er nacionais ( sist em a for dist a) de r elações d e t r ab al h o ( MELO, 1 9 9 1 ; SI QUEI RA, 1 9 9 1 ) , t am b ém co n v i v e co m si st em as ar t esanais de pr odução; com um a m ão- de- obr a pouco qualificada, pr ovenient e do set or r ur al, e com um a polít ica pouco dir ecionada par a as quest ões t r abalhist as. Adm it e- se que as m udanças no m undo do t r abalho cont r ibuem par a o quadr o de desem pr ego; por um lado, associa- se ao aum ent o do desem pr ego e das r elações pr ecár ias de t r abalh o, e, por ou t r o, desen cadeia n ov as f or m as de r elações de t r abalho e a em er gência de novos suj eit os sociais, im pulsionando um debat e acer ca de v alor es sociais no cont ex t o da r eest r ut ur ação pr odut iv a e ev idenciando o su-j eit o t r abalhador em um a r elação dialógica com o t r abalho. Essa r elação pode ser ex plicit ada com o um pr ocesso de const r ução social do conhecim ent o acer ca do pr ópr io fen ôm en o em pr ego/ desem pr ego.

Diant e de t al cont ex t o, foi lev ant ada a seguint e quest ão: com o o fenôm e-no do desem pr ego pode ser com pr eendido e est udado, par a além das abor da-gens m acr osociais e psicofisiológicas, incluindo- se a per cepção dos suj eit os soci-ais? A par t ir desse qu est ion am en t o, adm it iu - se qu e o con h ecim en t o acer ca do fenôm eno do desem pr ego sej a socialm ent e const r uído e que sua análise depen-da depen-da for m a com o os suj eit os com pr eendem esse fenôm eno. Por t ant o, o fenô-m eno do desefenô-m pr ego pode ser inv est igado por fenô-m eio de ufenô-m pr ocesso de pr odu-ção de sen t idos, con sider an do os su j eit os sociais. O pr ocesso de pr odu odu-ção de sen t i d o s so b r e o f en ô m en o d esem p r eg o p od e ser an al i sad o, u t i l i zan d o- se a abor dagem do Const r ucionism o Social ( GERGEN, 1 9 8 5 ; I BÁÑEZ, 1 9 9 3 ; RORTY, 1994) . Nessa abor dagem , consider a- se que o conhecim ent o acer ca da r ealidade sej a socialm en t e con st r u ído, por m eio da lin gu agem , h ist ór ica e cu lt u r alm en t e con t ex t u alizada. Além da abor dagem con st r u cion ist a, r essalt a- se a an álise das pr át icas discur sivas ( BAKHTI N, 2 0 0 3 ; FOUCAULT, 2 0 0 4 ; PÊCHEUX, 1 9 9 7 ) com o possibilidade t eór ic m et odológica par a a an álise sóci con st r u cion ist a do pr o-cesso de pr odu ção de sen t idos.

Desenvolveu- se essa ar gum ent ação com o apor t e de um a pesquisa em pír ica, r ealizada na Região Met r opolit ana de Belo Hor izont e, Minas Ger ais, Br asil, m ais especificam ent e, o set or indust r ial. No que r efer e à pesquisa em pír ica, obj et ivou-se com pr eender o pr ocesso de pr odução de ivou-sent idos acer ca do fenôm eno do de-sem pr ego, t endo com o r efer ência as pr át icas discur siv as de suj eit os env olv idos com esse fen ôm en o. Os su j eit os são: t r abalh ador es desem pr egados; t r abalh a-dor es à pr ocur a do pr im eir o em pr ego; r epr esent ant es do Sindicat o dos Trabalha-dor es nas I ndúst r ias Met alúr gicas, Mecânicas e de Mat er ial Elét r ico de Belo Hor i-zont e e Cont agem ; e m em br os da Feder ação das I ndúst r ias do Est ado de Minas Ger ais ( FI EMG) .

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Desemprego no Brasil Contemporâneo:

metamorfoses das condições de trabalho

e não-trabalho no contexto

da reestruturação produtiva

O fenôm eno do t r abalho pode ser com pr eendido a par t ir da análise de t r ans-for m ações nos planos social, polít ico, econôm ico e cult ur al. Pode- se consider ar que a r ealidade cont em por ânea, na esfer a do t r abalho, sej a influenciada por es-sas t r ansfor m ações, ao m esm o t em po em que m odifica a m aneir a de analisar a t r aj et ór ia da condição de t r abalho, de não- t r abalho e das r elações sociais im plíci-t as em plíci-t ais caplíci-t egor ias.

Cast el ( 1998) r esgat a as condições de t r abalho e não- t r abalho com base na ev olução da condição de t r abalho ao longo das sociedades pr é- indust r ial ( t r aba-lho for çado) , indust r ial ( t r abaaba-lho pr olet ár io e oper ár io) e salar ial ( em pr ego) ; e suas negat ivas: o não- t rabalho e o desem pr ego. Pode- se afir m ar, ent ão, que, na socie-dade salar ial, sob as condições de t r abalho e não- t r abalho, em er gem e cr ist ali-zam - se as cat egor ias em pr ego - “ em pr ego é a inscr ição social e j ur ídica da par t ici-pação dos indiv íduos na pr odução das r iquezas” ( GAUTI É, 1998, p. 75) - , assim com o desem pr ego, est e, um a nova cat egor ia de com pr eensão diant e dos cam pos econôm ico e social.

Ao r efer enciar o t r abalho de Cast el ( 1998) , em se t r at ando de um a análise que focaliza a r ealidade do ocident e eur opeu, dev e- se at ent ar par a out r os est udos, os quais per m it em a int er face com a r ealidade da sociedade br asileir a, obser -vando as assim et r ias e difer enças no plano hist ór ico- cult ur al. Par a Mar t ins ( 1994) e Sor j ( 2000) , na análise do Br asil at ual, pode- se consider ar a r ealidade com o um r esult ado da conv iv ência com plem ent ar e conflit uosa de v ár ios elem ent os her da-dos da hist ór ia br asileir a com out r os cont em por âneos, que se j ust ificam nos sist e-m as sociais do ocident e eur opeu. Ou sej a, dev e- se t er ee-m cont a o dualise-m o do t r adicional e do m oder no.

Dessa form a, alinhou- se à abordagem de Cast el ( 1998) , por um lado, e, por out ro, argum ent ou- se que não se pode m ais pensar a sociedade cont em porânea, principalm ent e o Brasil, com o em inent em ent e salarial fordist a. Por isso, agregou- se o argum ent o de Harvey ( 1996) acerca de um período de acum ulação flexível que, no Brasil, com bina t écnicas fordist as com novos m odelos de produção. Enfat iza- se o processo de reest rut uração produt iva e o período da acum ulação flexível no cont ex-t o brasileiro ( cenex-t ralizando o seex-t or indusex-t rial) com o elem enex-t os de ex-t ransform ações na esfera do t rabalho, o qual re- organiza o não- t rabalho com o quest ão social.

No Br asil, o per íodo de acum ulação flexível e o pr ocesso de r eest r ut ur ação pr odut iva podem ser com pr eendidos em um quadr o cont ext ual de dualidade, con-for m e afir m a Har vey ( 1996) , em que as t écnicas flexíveis convivem com t écnicas for dist as. A condição de assalar iado/ em pr egado na sociedade br asileir a configu-r a- se a paconfigu-r t iconfigu-r da pconfigu-r olifeconfigu-r ação de um a foconfigu-r m a m undial de oconfigu-r ganização do t configu-r abalho: o f or d ism o, em in t er f ace com u m a p ar t icip ação m aior d o Est ad o n a socied ad e ( FLEURY; FI SCHER, 1987) . No cam po polít ico, v er ifica- se a pr ecár ia pr ot eção do Est ado no que t ange às quest ões t r abalhist as. Por t ant o, o em pr ego indust r ial no Br asil, de 1945- 1980, car act er iza- se pela adm issão de m ão- de- obr a sem iqualificada e, em alguns set or es, ainda desqualificada ( FLEURY & FLEURY 1997) .

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Além disso, a pr ofissionalização cada vez m aior das r elações de t r abalho e a r econfigur ação do per fil do m er cado de t r abalho são elem ent os cent r ais diant e das t ransfor m ações no âm bit o do t rabalho ( MONTALI , 2003) . Par t icular izam - se as t r ansfor m ações nas for m as de acesso ao em pr ego no Br asil. É possív el obser v ar um m ovim ent o que car act er iza o acesso ao t r abalho baseado, pr incipalm ent e, em laços de pr oxim idade ( par ent esco, am izade et c) e no baixo cust o da for ça de t r a-balh o; par a u m acesso qu e depen de das pr ópr ias con dições con st r u ídas pelos t r abalh ador es par a ser em em pr egáveis ( possu ír em em pr egabilidade2) ( HI RATA,

1997; SARJENTI NI , 2001) , o que não significa a ausência da influência dos laços sociais nesse pr ocesso ( SORJ, 2000) .

As or ganizações pr iv adas, por sua v ez, ao int r oduzir em nov as t ecnologias de pr ocessos e de gest ão, m odificam a r elação dos em pr egados com sua pr ópr ia est r u t u r a e daqu eles qu e est ão à pr ocu r a de u m em pr ego ( LOMBARDI , 1 9 9 7 ) . Enr iquez ( 1999, p. 19) afir m a que: “ o indivíduo j am ais est eve t ão encer r ado nas m alhas das or ganizações ( em par t icular, das em pr esas) e t ão pouco livr e em r ela-ção ao seu cor po, ao seu m odo de pensar, à sua psique”. Com base nessa discus-são, pode- se r ef let ir acer ca de u m qu adr o de in segu r an ça ou m an u t en ção do em pr ego, o qual r efor ça o desem pr ego com o quest ão social e r ecoloca o t r abalha-dor com o u m su j eit o qu e in f lu en cia e é in f lu en ciado por essa qu est ão. Caldas ( 2000) apr esent a algum as dim ensões do desem pr ego com o a per da da ident ifica-ção e da aut o- est im a. Nesse cont ext o, Far ia ( 2004) e Tum olo ( 2001) adver t em que o pr ocesso de flex ibilização, pr in cipalm en t e n o cen ár io br asileir o, per m it e u m a per pet uação da ex plor ação do t r abalho.

Diant e de t ais consider ações, alegou- se que o r esgat e sócio- hist ór ico e o cont ext o da r eest r ut ur ação pr odut iva pr opiciam as condições de pr odução3 para o

fenôm eno desem pr ego. Assim , acr edit a- se que possam em er gir novas for m as de com pr eensão acer ca do em pr ego e desem pr ego na sociedade br asileir a, as quais podem ser car act er izadas com o elem ent os im por t ant es par a o est udo desse fe-nôm eno, ex am inando as alt er ações ocor r idas no per íodo de acum ulação flex ív el. Por t ant o, as for m as de agir e pensar, ou a com pr eensão a r espeit o do fenôm eno desem pr ego, são socialm ent e const r uídas, o que j ust ifica a adoção da abor dagem sócio- const r ucionist a par a a análise desse fenôm eno.

Abordagem Sócio-Construcionista

como Possibilidade para o Estudo

do Fenômeno Desemprego

O const r ucionism o social sit ua- se no âm bit o da psicologia social, m as pode-se dizer qu e essa discu ssão pode-se r ef let e n as ciên cias sociais com o u m t odo. Tal per spect iva fundam ent a- se, pr incipalm ent e, nos t r abalhos de Ger gen ( 1985) , au-t or da expr essão consau-t r ucionism o social. Par a Ger gen ( 1985) , o conhecim enau-t o sobr e a r ealidade é um pr ocesso socialm ent e const r uído na int er ação dialógica. Os sa-ber es são hist ór icos, sendo r efor çados pelas pr át icas sociais que cr iam as inst it ui-ções sociais. Ou sej a, a for m a de ver o m undo est á det er m inada pelo conhecim en-t o hisen-t ór ico- dialógico.

Ger g en ( 1 9 7 3 ) r essalt a q u e o con h ecim en t o n ão é ap en as r esu lt ad o d a acum ulação de um a pr át ica cient ífica usual, pois o conhecim ent o t r anscende os lim it es conceit uais e os pr essupost os da int er ação hum ana não per m anecem es-t áveis no es-t em po. É pr eciso eses-t ar aes-t enes-t o às ines-t er ações e pr áes-t icas, consider ando a hist ór ia, par a ev it ar um a m ascar ação por m eio de r eflex ões que obj et iv am um a ver dade a- hist ór ica. No que se r efer e ao car át er dialógico do conhecim ent o, Ger gen

2 Gazier ( 1990) afir m a que, na at ualidade, esse conceit o encont r a- se em m ut ação e pode ser definido

posit ivam ent e com o “ capacidade par a obt er um em pr ego“

3 Tr at a- se de um conceit o que auxilia na análise das pr át icas discur sivas, pois se r efer e à m em ór ia

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( 1985) afir m a que esse não det er m ina ou pr ovém de um a ident idade, de um eu j á const it uído, m as de um a polít ica r elacional. Baseado nos ar gum ent os de Br uner ( 1984) e Davies & Har r é ( 1990) , Ger gen ( 1985) desenvolve um a r e- t eor ização do self, do eu. A par t ir de ent ão, pr opõe algum as bases par a um a t eor ia r elacional da pr odução de sent ido, quais sej am : a) a pr odução de sent idos ocor r e por m eio dos r elacion am en t os h ist or icam en t e sit u ad os; b ) a p ot en cialid ad e d a p r od u ção d e sent idos est á int er ligada às condições r elacionais da sociedade; c) as ações fa-zem sent ido dent r o de seqüências r elat ivam ent e est r ut ur adas: ont ologia r elacional; d) a pr odução de sent idos é t em por ár ia; e, e) os enunciados fazem sent ido par a os out r os quando engendr am for m as de ação.

Nesse cont ext o, I báñez ( 1993) denom ina o processo de rom pim ent o com a dicot om ia suj eit o- obj et o e com out ras prem issas do realism o da ciência m oderna com o um processo de de sfa m ilia r iza çã o. Segundo o aut or, t ant o o suj eit o quant o o obj et o são const ruções sócio- hist óricas que precisam ser desfam iliarizadas. É nes-se m ovim ent o de desfam iliarização e dialogia que nes-se produz um discurso que é, ele próprio, produt o e produt or de um a nova possibilidade de avaliação e produção de conhecim ent o. Com t al perspect iva, Gergen ( 1985) t ent a rom per a dicot om ia suj ei-t o- obj eei-t o, ao afirm ar que o pesquisador deve se concenei-t rar no processo de inei-t eração ( linguagem ) com o um veículo para a obt enção do conhecim ent o.

Baseado nas r eflex ões de Ger gen ( 1985) , e consider ando as condições de pr odução par a o fenôm eno desem pr ego, as quais com põem a m em ór ia e o con-t e x con-t o r e l a con-t i v o s à so ci e d a d e b r a si l e i r a , p r o p õ e m - se a s se g u i n con-t e s p r e m i ssa s con st r u cion ist as,

a) o desem pr ego faz sent ido no cenár io br asileir o ao se obser var a m em ór ia e o cont ext o de sua pr odução: o em pr ego com o elem ent o cent r al;

b) o dualism o - t r adicional x m oder no - que t angencia a m em ór ia e o cont ex t o influencia na const r ução do conhecim ent o acer ca do desem pr ego no Br asil; c) a com pr eensão do desem pr ego t am bém é influenciada pelos suj eit os e pela

r elação que eles est abelecem com o desem pr ego ( insegur ança, papel do Es-t ado eEs-t c.) no cenár io br asileir o;

d) o desem pr ego com o quest ão social em er ge da com pr eensão dos suj eit os so-br e o fenôm eno e de suas im plicações ( individuais ou sociais) ;

e) em er gem nov os conceit os acer ca do desem pr ego que, por sua v ez, engen-dr am for m as de agir e pensar : a em pr egabilidade no cenár io br asileir o, por exem plo, e a convivência com o dualism o.

Obser va- se que o est udo r equer um novo olhar sobr e a for m a de conheci-m ent o e pesquisa. Sinaliza- se que esse pr ocesso de const r ução do conheciconheci-m ent o é veiculado pela linguagem . A pr ópr ia linguagem dos at or es sociais acer ca do fe-nôm eno do desem pr ego pode ser analisada com o um pr ocesso de pr odução de sent idos sobr e o fenôm eno, o qual, por sua v ez, t am bém pode ser consider ado com o pr odut o e pr odut or desse pr ocesso.

Práticas Discursivas e Produção

de Sentidos Sócio-Construcionista

Para Foucault ( 1997 e 1979) , a linguagem funciona com o veículo de m anifes-t ação de for ças e exer cício de poder. Essas for ças, assim com o a subj eanifes-t iv idade, seriam difusas e não pert enceriam ao suj eit o int erior. Foucault ( 2004) defende que o t ext o é um a ação, um a prát ica; as condições que produzem esse t ext o são cons-t ruções hiscons-t óricas. A linguagem , porcons-t ancons-t o, pode ser com preendida com o um discur-so em m ovim ent o, e esse, por sua vez, com o um a prát ica. Nessa perspect iva, t ant o do pont o de vist a da descent ralização do suj eit o, quant o no que se refere à noção de prát ica discursiva ( a discursividade é um a form a de ação social) , pode- se sit uar a

a ná lise do discur so ou a ná lise da s pr á t ica s discur siva s, t om ando com o obj et o o

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Pressupostos para a análise das práticas discursivas

Não se t r at a de lim it ar um discur so a um det er m inado espaço, m as de abr ir cam inho par a descr ever j ogos de r elações dent r o e for a dos discur sos ( Foucault , 2004) . Tais j ogos de r elações, ou as r elações ent r e os enunciados, que acabam por definir dom ínios com o econom ia, m edicina et c., segundo Foucault ( 2004) , são definidos pela disper são dos pont os de escolha que os t em as deix am liv r es, ou sej a, pelas difer ent es possibilidades de suscit ar est r at égias opost as. Esse t ipo de ligação ent r e os enunciados nom eia- se for m a çã o discu r siv a . Tais r egular idades qu e con st it u em as for m ações discu r siv as são in t er pr et adas por Bak h t in ( 2 0 0 3 ) com o gê n e r os do discu r so. Trat a- se de um pr ocesso de int eranim ação dialógica. Par a Bak h t in ( 2 0 0 3 ) , os en u n ciados são lim it ados pela alt er n ân cia de su j eit os discur siv os, ou sej a, ant es do início de um enunciado j á ex ist e o enunciado de out r os ( o j á dit o) ; da m esm a for m a, ant es do t ér m ino de um enunciado, ex ist e um a r espost a de out r os ( o que ainda não foi dit o) .

Essa het er ogeneidade pode ser car act er izada pela pr esença, nos discur sos, dos elem ent os int erdiscursivos. Pêcheux ( 1997) preocupa- se com os relacionam en-t os enen-t re os elem enen-t os inen-t radiscursivos ( sisen-t em a lingüísen-t ico) e inen-t erdiscursivos. Para o aut or, o int erdiscurso cont ém a m em ória discursiva que ret orna ao discurso, pois o discurso est á relacionado com aquilo que est á dit o no t ext o, em out ros lugares, com o que não est á dit o aparent em ent e, e que nesse processo os suj eit os const it uem -se nos discursos. Pêcheux ( 1997) privilegia o int erdiscurso com o condição de produ-ção que se m at erializa pelo conj unt o de cont ext o e m em ória ( cont endo a ideologia) , ressalt ando que não se t rat a apenas das condições sócio- hist óricas, m as de um a art iculação ent re m em ória discursiva e cont ext o.

A r ef lex ão acer ca dos elem en t os con ceit u ais par a a an álise das pr át icas discur siv as, por m eio da concepção do discur so com o pr át ica discur siv a e social, evidencia, no cam po da linguagem , um a discussão quant o à super ação do discur -so da dualidade e das t r ansfor m ações conceit uais na idéia de suj eit o, obj et o e pr odu ção de con h ecim en t o. Nessa per spect iv a, con sider a- se o con st r u cion ism o com o u m pr ocesso de pr odu ção de sen t idos e com o u m a base epist em ológica par a a análise das pr át icas discur siv as.

Par a t ant o, pr opõe- se um a ar t iculação ent r e a análise das pr át icas discur sivas e a per spect iva sócio- const r ucionist a, com base na pr opost a de Spink & Medr ado ( 2004) . Par a os aut or es, as pr át icas discur sivas podem ser m ais bem com pr eendi-das se obser v aeendi-das t r ês dim ensões básicas: a linguagem , a hist ór ia e a pessoa. Na dim ensão da linguagem , os aut or es focalizam a linguagem em uso, com base na int er face ent r e discur so e as condições de pr odução. No que r efer e à dim ensão da pessoa ( suj eit o) , focaliza- se na dialogia e int er subj et iv idade e não no suj eit o em pír ico. Fin alm en t e, n a dim en são da h ist ór ia, essa con cepção é r efor çada ao afir m ar que conceit os com o const r ução hist ór ica são var iant es no t em po, pois exist e um diálogo ent r e sent idos nov os e ant igos.

Spink & Medr ado ( 2004) pr opõem a seguint e análise par a a t em por alidade: t em po longo ( r em et e à m em ór ia) , t em po vivido ( r em et e aos pr ocessos de sociali-zação dos suj eit os e dos discur sos, incluindo os cont ext os) e t em po cur t o ( m ar ca-do pelo pr ocesso dialógico e pela int er subj et ividade) . A noção de t em por alidade é cent r al na dim ensão da hist ór ia. Nessa dim ensão, abor da se o conceit o de r eper -t ór ios in-t er pr e-t a-t ivos ( POTTER; WETHERELL, 1987) . Po-t -t er e We-t her ell ( 1987) de-senv olv em a noção de r eper t ór ios int er pr et at iv os, fundam ent ada nos pr essupos-t os da essupos-t eor ia dos aessupos-t os de f ala, def in idos com o as u n idades de con sessupos-t r u ção das pr át icas discur siv as, que são hist ór ico e cult ur alm ent e const it uídos.

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t o s d e r u p t u r as d i scu r si v as. Par a t an t o , d esen v o l v eu - se a p r o p o st a d o s r e-p er t ór ios d iscu r siv os, f ocalizan d o os m om en t os d e r u e-p t u r as e n ão as r eg u la-r i d a d e s.

Ex i st em o s m o m en t o s d e r u p t u r a d as p r át i cas d i scu r si v as q u e são as descon t in u idades qu e m ar cam os r eposicion am en t os dos su j eit os ( lin gu agem é um pr ocesso inacabado) . Afir m a se que as r egular idades m anifest am se com o for -m ações discur sivas ( FOUCAULT, 2004) e r e-m et e-m aos const r uct os int radiscur sivos. A v isualização dos m om ent os de r upt ur as é ex plicit ada no m om ent o em que os suj eit os se r eposicionam nos discur sos e est á m ais ligada ao int er discur so. Esses posicion am en t os ocor r em n a an álise da t em por alidade, con sider an do as con di-ções de pr odução ( SPI NK; MEDRADO, 2004) .

Assim , r efor m ulou- se o conceit o de r eper t ór ios int er pr et at ivos par a a noção de r e pe r t ór ios discu r siv os, focalizando os m om ent os de r upt ur as par a a r eflexão acer ca d os cam in h os p er cor r id os p elos su j eit os n os d iscu r sos. Os r ep er t ór ios discur sivos são os cam inhos pelos quais os suj eit os const r oem det er m inados discur sos com r efer ência aos obj et os, bem com o explicit am as cont r adições e concor -r ências ent -r e as fo-r m ações discu-r sivas que com põem esse obj et o, pois a -r egula-r i-dade não ocor r e em um t em po hist ór ico. Trat a- se de cent ralizar, pr incipalm ent e, nas condições que const it uem os discur sos em um a t em por alidade, e de obser var o m om en t o em qu e as for m ações discu r siv as se m odificam ou qu ebr am a su a con t in u idade.

Vale r essalt ar que o pr ocesso não se fecha, pois os pr ópr ios sent idos pr o-duzidos sobr e det er m inado fenôm eno podem se configur ar com o m em ór ia e con-t excon-t o par a novos sencon-t idos ( a linguagem em ação é um pr ocesso inacabado) . Apoia-do nessa abor dagem t eór ico- m et oApoia-dológica, a seguir, ex plicit am - se as pr át icas a ser em adot adas par a a r ealização da pesquisa em pír ica acer ca do fenôm eno de-sem p r eg o.

Explicitação dos passos da pesquisa

Com base n a pr opost a t eór ico- m et odológica, r essalt a- se qu e est e est u do est á in t im am en t e r elacion ad o aos p r essu p ost os d e u m a p esq u isa ed if ican t e e qualit at iva ( SPI NK; MENEGON, 2004) . Por m eio dessa pr opost a definiu- se o obj et o de est u do ( o f en ôm en o em est u do) , o f oco da in v est igação e, a par t ir dessas definições, selecionou- se o cor po da análise e os suj eit os.

O obj et o de est udo é o fenôm eno desem pr ego. O foco da invest igação r ecai sobr e o pr ocesso de pr odução de sent idos acer ca desse fenôm eno. Pr opõe- se a r ealização de um a pesquisa em pír ica, cuj o obj et o é o desem pr ego pr ovenient e do set or indust r ial. Por t ant o, o foco é o pr ocesso de pr odução de sent idos sobr e o desem pr ego indust r ial. Por m eio de um r ecor t e t em át ico par a a r ealização da pes-quisa em pír ica, além de se pr ivilegiar o desem pr ego indust r ial, t am bém r epor t ouse ao quadr o de r efer ência da Região Met r opolit ana de Belo Hor izont e e ao r ecor -t e -t em por al, que concen-t r ou- se no ano de 2006.

Selecionou- se com o cor po de análise par a a pesquisa em pír ica t odo o m at e-r ial docum ent al colet ado sobe-r e as condições de pe-r odução e, ainda, os discue-r sos const r uídos pelos suj eit os que, de algum a for m a, est avam envolvidos com o fenô-m eno efenô-m est udo - o desefenô-m pr ego indust r ial - , hist ór ica e cont ex t ualfenô-m ent e sit ua-dos no quadr o de r efer ência ( RM- BH) . Os suj eit os for am selecionaua-dos ent r e: a) t r abalh ador es desem pr egados pr ov en ien t es do set or in du st r ial ( 2 4 en t r ev ist a-dos) ; b) t r abalhador es à pr ocur a do pr im eir o em pr ego for m al ( quat r o) ; c) t r aba-lhador es - aposent ados ou não - r epr esent ant es do Sindicat o dos Trabaaba-lhador es nas I ndúst r ias Met alúr gicas, Mecânicas e de Mat er ial Elét r ico de Belo Hor izont e e Cont agem ( quat r o) ; d) t rabalhador es m em br os da FI EMG ( quat r o) . Tot alizar am - se 3 6 suj eit os nest a pesquisa.

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ida-de. O pr ocesso de colet a de infor m ações foi delineado em duas et apas: 1) colet a de in for m ações sobr e o con t ex t o do est u do; 2 ) colet a de in for m ações sobr e o fenôm eno em est udo. Na et apa 2, as infor m ações for am colet adas j unt o aos su-j eit os. Recor r eu- se à ent r evist a não- est r ut ur ada, baseada em um r ot eir o de t ópi-cos acer ca do desem pr ego ( ALENCAR, 1999) .

De acor do com a pr opost a t eór ico- m et odológica, são apr esent adas, a se-guir, as et apas para a invest igação do pr ocesso de pr odução de sent idos acer ca do desem pr ego indust r ial na RM- BH:

1) I n v est igação das pr át icas discu r siv as e in t er su bj et iv idade. Essa et apa com -põe a pr ópr ia or ganização da linguagem e a r elação dialógica ( int er subj et iva) com o suj eit o. Trat a- se da análise no t em po cur t o;

2) I nv est igação da influência das condições de pr odução. Nessa et apa, pr opõe-se a análiopõe-se da r elação da dim ensão da linguagem e do suj eit o com a dim en-são hist ór ica, os t em pos longo e vivido. Essa int er face pode ser com pr eendida pela int er discur siv idade, que se m at er ializa, pr incipalm ent e, pelos subent en-didos, ou sej a, pelos possív eis sent idos que o pesquisador elabor a o diálogo ent r e o dit o e o não dit o. Tais sent idos, por sua vez, devem levar em conside-r ação o aconside-r quivo a conside-r espeit o do desem pconside-r ego, a const conside-r ução sócio- hist óconside-r ica desse f e n ô m e n o , o s co n ce i t o s e m e r g e n t e s d e su a co n st r u çã o n o co n t e x t o d a r eest r ut ur ação pr odut iv a, no Br asil, e, além disso, o r ecor t e sócio- hist ór ico-t em por al da RM- BH e as ico-t r aj eico-t ór ias dos suj eiico-t os com o elem enico-t os consico-t iico-t uinico-t es de um pr ocesso de socialização com a m em ór ia acer ca do desem pr ego; 3) I dent ificação das sim ilar idades e concor r ências ent r e as for m ações discur sivas

par a o m apeam ent o dos r eper t ór ios discur siv os. Nessa et apa, ident ificam - se os cam inhos per cor r idos pelos suj eit os ao pr oduzir em discur sos sobr e o de-sem pr ego. Os cam inhos são os r eper t ór ios discur siv os, os quais podem ser bem visualizados e discut idos com base nas r upt ur as que ocor r em ent r e suas for m ações discur siv as.

Memória e Contexto de Estudo

A cidade de Belo Hor izont e, capit al do est ado de Minas Ger ais, localiza- se no cent r o sul do est ado e é a t er ceir a m aior ár ea m et r opolit ana e a quar t a cidade m ais populosa do Br asil ( I BGE, 2006a) . A cidade est abelece lim it es com os m unicí-pios de Ribeir ão das Nev es, Sant a Luzia, Sabar á, Nov a Lim a, I bir it é, Cont agem , Bet im e out r os m unicípios e dist r it os que com põem a RM- BH. Belo Hor izont e foi a pr im eir a capit al planej ada do país, com espaços definidos par a os set or es ur bano, subur bano e r ur al ( SANTI AGO, 1999) . O pr oj et o de sua concepção pr et endia abr i-gar um a população de, no m áxim o, duzent os m il habit ant es; em 2006, a cidade possuía m ais de 2 m ilhões de habit ant es ( I BGE, 2006a) .

Per cebe se com o os elem en t os t r adicion al e m oder n o con v iv em e con f lit am -se n o con t ex t o de est u do. Nes-se con t ex t o con t r adit ór io, ob-ser v a- -se u m a pr eo-cu pação cen t r al em desligar a n ov a capit al de u m a h er an ça m ais t r adicion al por m eio do cu idado com a localização e ar t icu lação f ísico- espacial das con st r u ções d a ci d a d e , v o l t a d a s p a r a a e f i ci ê n ci a d o e x e r cíci o d o s p o d e r e s d o Est a d o ( BARRETO, 1 9 9 6 ) . No pr oj et o da n ov a capit al, os oper ár ios n ão t êm on de m or ar. Est es, n o en t an t o, v ão se in st alar n a n ov a capit al desde a su a cr iação, pois são eles os con st r u t or es da cidade. As r elações com esses oper ár ios v ão ser pau -t adas, pr im or dialm en -t e, pelo qu e Negr o e Gom es ( 2 0 0 6 ) den om in am legado de ex per iên cia par a a f or m ação da classe oper ár ia br asileir a. Ou sej a, r elações de ex plor ação e r elações capit alist as con v iv em , cu lm in an do com a f or m ação dessa classe de t r abalh ador es, n a cr iação de Belo Hor izon t e. Dessa f or m a, os t r aba-lh ad or es se v êem à m ar g em d e u m sist em a q u e aba-lh es of er ece u m a lib er d ad e m ar g i n al i zad a.

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en con t r an do espaço par a se in st alar em n a cidade sín t ese ( plan ej ada par a abar -car f u n cion ár ios p ú b licos e p ar a ser u m esp aço -car t esian o d e n eg ociações) , f ix am se n a per if er ia da cidade e in au gu r am , n o in ício do sécu lo XX, as con st r u ções dos pr im eir os bair r os per iu r ban os, os qu ais abr igar iam u m cr escen t e con -t in gen -t e de m ão- de- obr a qu e se con s-t i-t u ir ia com o espaços de m or adia oper r ia. Com o ex em plos, na década de 1910, são cr iadas as vilas Oper ár ia e Pr olet á-r ia em Belo Hoá-r izont e ( BARRETO, 1996) .

A inaugur ação da Cidade I ndust r ial4 deu- se em 1946, com dest aque par a a

inst alação da Est am par ia S/ A. Dessa for m a, a década de 1940 m ar ca o início do m ovim ent o de t r ansfer ência de indúst r ias da ár ea ur bana de Belo Hor izont e par a a r egião m et r opolit ana. Por isso, o desenv olv im ent o indust r ial de Belo Hor izont e est á r elacionado ao desenv olv im ent o indust r ial de sua r egião m et r opolit ana.

Ao longo da década de 1970, inst aur a- se a cham ada nov a indust r ialização m ineir a, com a chegada de gr andes em pr esas m ult inacionais de bens de capit al. Um m ar co dessa n ov a in du st r ialização f oi a in st alação da Fabbr ica I t alian a di Aut om obili Tor ino ( FI AT) , no m unicípio de Bet im ( FI EMG, 2006a) . A par t ir de 1990, com o cr escim ent o da FI AT, de suas em pr esas sat élit es5 e de out r as indúst r ias,

obser v a- se u m pr ocesso de r eest r u t u r ação t ecn ológica n as in dú st r ias de BH e Região Met r opolit ana, t ant o na pr odução quant o na gest ão da for ça de t r abalho. Ver ificou- se um fenôm eno de r econfiguração espacial que env olveu a incor por a-ção de novas t ecnologias, bem com o as novas for m as de or ganizaa-ção do t r abalho, t endendo par a o est abelecim ent o de em pr esas em r ede, t er ceir izadas, inst aladas em esp aços m en or es. Em t od o esse m ov im en t o, r eaf ir m ou - se o d iscu r so d a globalização, da t ecnologia e do m odelo j aponês. Trat a- se de um pr ocesso acele-r ado de acele-r econfiguacele-r ação, não gacele-r adat iv o, com o se deu em out acele-r os países capit alis-t as, qu e ex igiu u m a r ápida adapalis-t ação dos alis-t r abalh ador es às n ov as f or m as de acesso ao em pr ego, os quais passar am a se pr eocupar com a em pr egabilidade ( CARVALHO, 2005) .

Com a r ecuper ação da m em ór ia sócio- hist ór ica da RM- BH, nest a pesquisa, subsidiou- se a análise das condições de pr odução no que se r efer e aos sent idos do fenôm eno do desem pr ego na r egião em est udo. Par a t ant o, j ulgou- se t am bém necessár ia a r ecuper ação de alguns aspect os das t r aj et ór ias dos suj eit os da pes-quisa e suas inst it uições.

A apr esen t ação das t r aj et ór ias com u n s e a apr esen t ação de algu n s ele-m ent os par t icular es, eele-m cada t r aj et ór ia, são subst anciais par a a coele-m pr eensão do pr ocesso de pr odução de sent idos e das per sonagens que em er gir am nas pr át i-cas discur siv as. Por t ant o, ao com pr eender as t r aj et ór ias, delineiam - se as condi-ções de pr odução, a m em ór ia, a t em por alidade, m ais especificam ent e, o t em po vivido, par a a análise das pr át icas discur sivas. Est as, por sua vez, baseiam - se no vivido dos suj eit os sociais, segundo a idéia de Pêcheux ( 1997) , em suas exper iên-cias par t icu lar es. Por isso, r eafir m a- se qu e a pr odu ção dos sen t idos é social e hist or icam ent e cont ext ualizada e que é um a for m a de ação social.

Sen do assim , apr esen t am - se as t r aj et ór ias: a) Tr aj et ór ia 1 : m em br os da FI EMG com o su j eit os qu e v iv en ciam a r ealidade do set or in du st r ial n a RM- BH, n a qu alidade de set or de desen v olv im en t o econ ôm ico, por m eio dos t r abalh os qu e r ealizam n esse set or ; por ou t r o lado, com o su j eit os qu e dev em pr opiciar con d ições p ar a a am p liação d a com p et it iv id ad e n esse set or, con sid er an d o o pr ocesso de r eest r u t u r ação; b) Tr aj et ór ia 2: r epr esen t an t es do sin dicat o com o su j eit os qu e v iv en ciam o t r abalh o n o set or in du st r ial, n a con dição de m er cado de t r abalh o; por ou t r o lado, com o su j eit os qu e dev em se com pr om et er com as gar an t ias de seu s r epr esen t an t es, dian t e do au m en t o da com pet it iv idade e do p r ocesso d e r eest r u t u r ação; c) Tr aj et ór ia 3 : t r ab alh ad or es d esem p r eg ad os e t r abalh ador es à pr ocu r a do pr im eir o em pr ego, com o su j eit os qu e v iv en ciam a

4 Essa expr essão é ut ilizada par a denom inar o par que indust r ial inst alado na cidade de Cont agem . 5 Em pr esas de pequeno e m édio por t e que são cr iadas par a at ender necessidades de um a em pr esa

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con dição de desem pr egado( a) ou a con dição de n ão- em pr egado( a) . Além dis-so, n o caso dos desem pr egados, com o su j eit os qu e v iv en ciar am o t r abalh o n o set or in d u st r ial.

Com o r esg at e d a m em ór ia e d o con t ex t o d e est u d o, p ossib ilit ou - se a an álise d as p r át icas d iscu r siv as d os su j eit os d a p esq u isa, con sid er an d o ele-m en t os in t r a e in t er discu r siv os ( r ef er e- se às et apas 1 e 2 de pesqu isa) , o qu e cor r obor a com a pr opost a t eór ico- m et odológica. A discu ssão dessas an álises é ap r esen t ad a d e m an eir a su cin t a, sen d o ob ser v ad os os lim it es t ex t u ais. Por -t an -t o, n ão se ap r esen -t a os -t r ech os d iscu r siv os seg u id os, sep ar ad am en -t e, d e an álises específ icas r ef er en t es a cada t r ech o ( a an álise do discu r so) , e sim a sín t ese d a d i scu ssã o p r o v en i en t e d essa s a n á l i ses, a b o r d a n d o o s p r i n ci p a i s p er cu r sos id en t if icad os.

Repertórios Discursivos e a

Produção de Sentidos sobre

o Desemprego Industrial na RM-BH

Por m eio d a an álise d as p r át icas d iscu r siv as, f or am id en t if icad os os r e-per t ór ios discu r siv os com o cam in h os e-per cor r idos pelos su j eit os ao pr odu zir em sen t id os q u an t o ao f en ôm en o d esem p r eg o. Nesse cap ít u lo, ap r of u n d ou - se a discu ssão sobr e o con t ex t o ( t r aj et ór ias) e su a in t er f ace com a m em ór ia ( con di-ções sócio- h ist ór icas) . Por m eio da an álise das pr át icas discu r siv as, os r eper t ór ios discu ór siv os f oór am iden t if icados e classif icados. Além dos ór epeór t óór ios, t am bém se v isu alizar am as f or m ações qu e com pu n h am os discu r sos; ou sej a, pu -d er am - se o b ser v ar as r eg u l ar i -d a-d es e r u p t u r as n as p r át i cas -d i scu r si v as, o s m om en t os d e f azer sen t id o sob r e o d esem p r eg o, ao p r od u zir d iscu r sos, p or ex em plo, acer ca de ex clu são, t r abalh o, em pr ego e m u dan ças. Por t an t o, t r at a-se d a an ália-se d os t em p os lon g o e v iv id o em in t er f ace com o t em p o cu r t o d a pesqu isa, o qu al se r ef er e à et apa 3 .

Dessa f or m a, f or am obser v adas v ár ias f or m ações, ou sej a, v ár ias con s-t r u ções qu e r em es-t em às r egu lar idades, aos s-t em as m ais r ecor r en s-t es qu e apa-r ecem com o con st it u in t es do discu apa-r so aceapa-r ca do desem papa-r ego in du st apa-r ial n a RMBH. De acor do com a pr opost a t eór ico m et odológica da pesqu isa, pr im eir o, iden -t if icar am - se e n om ear am - se as f or m ações discu r siv as de m an eir a ger al; pos-t e-r ioe-r m en t e, essas f oe-r m ações f oe-r am age-r u padas em n ív eis m ais am plos de f oe-r m a-ções, de acor do com su as sim ilar idades - esses gr u pos de f or m ações t am bém f or am n om eados; f in alm en t e, est abelecer am - se os m om en t os de con cor r ên cia ( r u p t u r as) en t r e os g r u p os m ais am p los d e f or m ações. Esses m om en t os, p or su a v ez, den om in am os r eper t ór ios discu r siv os, por m eio dos qu ais se v er if ica-r am os cam in h os peica-r coica-r ica-r idos pelos su j eit os ao con st ica-r u íica-r em o discu ica-r so sobica-r e o d e se m p r e g o .

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Qu a dr o 1 - M a pe a m e n t o dos Re pe r t ór ios D iscu r sivos

Fon t e: elab or ad o com b ase n a an álise d as p r át icas d iscu r siv as

O r eper t ór io discur sivo da condição de em pr egado( a) é com post o pelo con-j unt o de for m ações que r em et em ao em pr ego for m al. Ou secon-j a, o início da const r u-ção do discur so sobr e o desem pr ego envolve o em pr ego, pr opr iam ent e dit o. Ver i-f icou - se, p r in cip alm en t e, a p r esen ça d e d ois g r u p os d e i-f or m ações: o v ín cu lo em pr egat ício e o em pr ego no set or indust r ial. Explicit a- se o r eper t ór io discur sivo da con dição de em pr egado( a) com base n as for m ações r econ h ecim en t o social, vínculo em pr egat ício e dir eit os gar ant idos. O discur so do vínculo em pr egat ício est á de acor do com a m em ór ia do cont r at o r ígido de t r abalho e, conseqüent em ent e, com a noção de gar ant ias e r elat iva est abilidade. Essa m em ór ia, confor m e Cast el ( 1998) , é const r uída pelo per cur so t r açado acer ca da noção de t r abalho, evoluin-do da condição de t r abalho r egulaevoluin-do e for çaevoluin-do, pr olet ár io, oper ár io, at é chegar à configur ação do em pr ego, quando se obser va um a r elação social e j ur ídica ent r e t r abalhador e em pr esa.

Com base nessa configur ação do t r abalho ( com o em pr ego) , Enr iquez ( 1999) r essalt a que t odos os aspect os da sociedade passam a se concent r ar nessa r ela-ção, o qu e r efor ça a m em ór ia qu e per passa os discu r sos n esse r eper t ór io. Tal discur so é t am bém ex plicit ado pela sit uação específica do set or indust r ial e das caract er íst icas de um em pr egado( a) nesse set or, considerando o cont ext o da RM-BH e as t r aj et ór ias dos suj eit os da pesquisa.

O vínculo em pr egat ício, m uit as vezes, é m at er ializado pela figur a da car t eir a assi n ad a. Tr at a- se d e u m d i scu r so r eco r r en t e, p r i n ci p al m en t e, n as p r át i cas discur sivas dos suj eit os desem pr egados e à pr ocur a do pr im eir o em pr ego, os quais, ao se encont r ar em em condição de não- em pr ego, valor izam o conceit o do vínculo. Além disso, os discur sos const r uídos por t r abalhador es desem pr egados que t iv e-r am ex pee-r iên cias in du st e-r iais em ou t e-r as e-r egiões e poe-r su j eit os qu e pe-r ocu e-r am o pr im eir o em pr ego cent r alizam a possibilidade de conquist a e m anut enção de vín-culo em pr egat ício, especificam ent e no set or indust r ial de Belo Hor izont e e Região Met r opolit ana, m anifest ando um a ligação com a idéia de cidade indust r ial. Essa v isão é par alela aos discur sos const r uídos no cont ex t o da inst it uição FI EMG. A

N º For m a çõe s Re gu la r ida des Ru pt u r as: Re pe r t ór ios

01 Gar ant ia/ dir eit os 02 Papel social

03 Reconhecim ent o social 04 Elo com a or ganização

Vínculo em pregat ício 05 O t r abalho na indúst r ia

06 Em pr egado( a) indust r ial Em pr ego indust r ial

( 1 ) Con diçã o de e m pr e ga do( a )

07 Mudança abr upt a 08 Com pet it iv idade 09 Pr ecarização

10 Dualism o de m odelos

Reest r ut ur ação indust r ial 11 Manut enção da em pr egabilidade

12 Conceit o de em pr egabilidade

Em pr egabilidade no set or 13 I ndiv idualização e fr agm ent ação

14 I ndefinição da ação sindical Mov im ent o sindical

( 2 ) M u da n ça s na s con figu ra çõe s do e m pr e go n o set or

in du st ria l

15 Tem por alidade e funcionalidade

16 Ausência de um papel social Ausência do v ínculo 17 Discr im inação

18 Mar ginalidade e ex clusão 19 Não per t encim ent o social 20 Pr oblem a social

Suj eit o não-em pregado

( 3 ) Con diçã o de n ã o- e m pr e ga do( a )

21 Liber dade e poder

22 O suj eit o t r abalhador Tr abalho 23 For m as de inclusão social Opor t unidades

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visão de cidade indust r ial pode ser com pr eendida no quadr o do desenvolvim ent o desse set or.

O conceit o de v ínculo t am bém est á r elacionado à possibilidade de cum pr i-m ent o de ui-m papel social que pode envolver o papel do pr ovedor ( a) da fai-m ília, do consum idor, do m em br o or ganizacional, ent r e out r os. Esses papéis, por sua v ez, veiculam o per t encim ent o a um núcleo social, legit im ado pelo vínculo em pr egat ício ou car t eir a assinada. Nesse sent ido, nega- se, no cont ex t o e no r ecor t e t em por al do est udo, a desconst rução do em prego com o um a form a cent ral de inclusão social. Um dos papéis possibilit ados pelo vínculo é o de m em br o or ganizacional, por m eio do qual se est abelece um elo ent r e em pr egado( a) e or ganização, configur ando u m a n oção de in clu são, t em por alidade e fu n cion alidade. O pr ópr io con ceit o de em pr ego, segundo Gaut ié ( 1998) , im plica um a r elação de subor dinação ent r e um indivíduo e um a ent idade colet iva, que ser ia a em pr esa.

No que r efer e à cent r alidade do v ínculo em pr egat ício, especificam ent e no set or indust r ial, deve- se t er em cont a a idéia de em pr ego indust r ial e em pr egado( a) in du st r ial qu e per passa, por ex em plo, o discu r so do per t en cim en t o social e do cum pr im ent o dos papéis, pr incipalm ent e de m em br o or ganizacional. A idéia do em pr ego indust r ial e do em pr egado( a) indust r ial é const r uída por m eio de discur -sos par adox ais com o: a segur ança e o r isco; o t r abalho pesado e os m elhor es salár ios. Out r o conceit o que apar ece é o de em pr egado( a) indust r ial com o condi-ção de inclusão/ ex clusão. Esse conceit o cor r esponde à m em ór ia da const it uicondi-ção do em pr ego e do em pr egado indust r ial na r egião de Belo Hor izont e. A const r ução de um a classe oper ár ia nessa r egião conv iv eu com o conflit o ent r e t r adicional e m oder no, em que se r essalt a a sim ult aneidade ent r e obj et iv os de const r ução de um a cidade adm inist r at iv a - v olt ada par a a ar t iculação de poder es polít icos - e par a obj et ivos de m oder nização, por m eio do desenvolvim ent o indust r ial. Assim , o oper ar iado encont r a um espaço pouco fav or áv el par a sua inst alação.

Vale r essalt ar que esse é um discur so que m ant ém ligação com a m em ór ia do m ovim ent o sindical, pr incipalm ent e com os ideais do pr im eir o per íodo do m ovi-m ent o sindical na r egião eovi-m est udo ( 1930) , r efor çado pela ovi-m eovi-m ór ia das idéias de um segundo per íodo, consider ado nov o sindicalism o ( 1980) , quando a conquist a de dir eit os par a os t r abalhador es e as lut as por esses dir eit os er am o foco das ações. Na RM- BH, é cent ral a inst alação da m ont adora FI AT com o m ar co div isor par a a ação sindical, dev ido ao aum ent o da concent r ação de t r abalhador es.

Nesse cont ext o de lut a por dir eit os, r efor ça- se a im por t ância do vínculo de em pr ego, pois, sem esse v ínculo, os dir eit os dos t r abalhador es não podem ser gar ant idos. Em cont r apar t ida, obser vou- se o int er discur so do vínculo ent r e t r aba-lhador e or ganização com o um fat or inibidor de lut as, dev ido à m anut enção de r elações pat er nalist as ao longo do est abelecim ent o do set or indust r ial em Belo Hor izont e. Com base nesse r eper t ór io, v er ificou- se a em er gência do discur so da r eest r ut ur ação pr odut iva que r edir eciona o per cur so da condição de em pr egado( a) no set or indust r ial para o conceit o das m udanças nesse set or.

O r eper t ór io discur sivo das m udanças nas configur ações do em pr ego indus-t r ial se con sindus-t iindus-t u i d os d iscu r sos d o p r ocesso d e r eesindus-t r u indus-t u r ação p r od u indus-t iv a, d a em pr egabilidade no set or indust r ial e do papel do m ovim ent o sindical nesse con-t ex con-t o. No discur so da r eescon-t r ucon-t ur ação pr oducon-t iv a, escon-t ão pr esencon-t es os conceicon-t os de ev olução t ecnológica, com pet it iv idade e globalização. Com base em t ais concei-t os, puder am - se idenconcei-t ificar algum as for m ações discur siv as per m eadas por r egr as e ideologias div er sas.

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set or est ar ia am plian do su as possibilidades de at u ação em div er sos m er cados. Com o ar gum ent o par a esse discur so, sur ge o discur so da globalização.

Na const r ução dos r epr esent ant es do sindicat o, o discur so r em et e à m em ó-r ia m ais ó-r ecent e desse m ov im ent o, ligada à pó-r ecaó-r ização do t ó-r abalho, quando o foco da ação sindical r ecai sobr e as condições de t r abalho, saúde dos t r abalhado-r es e d esem p abalhado-r eg o p abalhado-r ov en ien t e, seg u n d o esses d iscu abalhado-r sos, d e u m p abalhado-r ocesso d e r eest r ut ur ação na pr odução. Sendo assim , quest iona- se a cent r alidade das ex i-gências or ganizacionais, pr incipalm ent e no que r efer e ao nível de qualificação.

Nos discur sos dos suj eit os desem pr egados e à pr ocur a do pr im eir o em pr e-go, o diálogo com os conceit os em er gent es se deu por m eio das figur as desse pr ocesso, com o a m áquina e a im agem de um gr ande núm er o de t r abalhador es sendo dem it idos sim ult aneam ent e ( a dem issão em m assa) . Nesse caso, ocor r e a int er nalização do discur so de que se deve ger enciar a pr ópr ia em pr egabilidade. O conceit o de em pr egabilidade e a necessidade de m ant ê- la são dissem inados pelas pr ópr ias inst it uições que fazem a int er m ediação ent r e o t r abalhador e o m er -cado de t r abalho. No Sist em a Nacional de Em pr ego, SI NE- BH, os pr ogr am as volt a-dos par a a qualificação e pr epar ação a-dos t r abalhador es j á ex põem , par a esses suj eit os, o quadr o no qual est ão inser idos, consider ando as m udanças no m undo do t r abalho. Com base nesse quadr o, os suj eit os devem agir par a a conquist a de um novo em pr ego.

Em par alelo, obser vou se um discur so que quest iona as exigências em t er -m os de qualificação, pr incipal-m ent e no set or indust r ial, devido à visão de per -m a-nência de m odelos pr odut ivos t r adicionais, confr ont ando com o nível de qualifica-ção exigido nesse set or. A visualizaqualifica-ção desse confr ont o ger a um discur so que ora r em et e à necessidade de aum ent o do nív el de qualificação pelas ex igências do set or ; or a r em et e ao quest ionam ent o da necessidade dessas exigências devido à m anut enção de sist em as de pr odução t r adicionais. Com o discut ido por Enr iquez ( 1999) , as est r ut ur as at uais pr egam obj et iv os inconciliáv eis.

Essa visão t em o apor t e do pr ocesso de inst alação da fábr ica da FI AT na RM-BH, com algum as t écnicas consider adas for dist as ( com o o sist em a linha de m ont a-g em ) , em u m p er ío d o q u e, n o p l an o m u n d i al , j á se o b ser v a o p r o cesso d e r eest r ut ur ação. Essa análise cor r obor a com as r eflexões de Fleur y e Fleur y ( 1997) e Negr o e Gom es ( 2006) . Sendo assim , pod se per ceber um a evolução em sist m as de gest ão da for ça de t r abalho convivendo com um a per m anência nos sist e-m as de pr odução.

O discur so da m udança, além de explicit ar - se com o discur so de pr ecar ização ( FARI A, 2004; TUMOLO, 2001) , r eflet e, t am bém , o cot idiano dos suj eit os, pr incipal-m ent e dos deseincipal-m pr egados e à pr ocur a do pr iincipal-m eir o eincipal-m pr ego. Uincipal-m a das for incipal-m ações que em er gem nesses discur sos est á r elacionada às t r ansfor m ações nas r elações fam iliar es, influenciadas pelas t r ansfor m ações no m undo do t r abalho. As m ulher es desem pr egadas declar ar am ser em as pr incipais m ant enedor as da fam ília. Alguns dos hom ens desem pr egados afir m ar am que as esposas est av am sust ent ando a fam ília dur ant e o per íodo de desem pr ego. Essas alt er ações est ão r elacionadas ao m ov im ent o de inser ção das m ulher es no m er cado de t r abalho for m al e, conse-qüent em ent e, à pr ecar ização dessa inser ção e suas r eflex ões no t r abalho m as-culino, e que r eflet e no discur so const r uído acer ca do desem pr ego.

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Assim , o discur so da em pr egabilidade focaliza t ant o em conceit os que sina-lizam par a um a nova configur ação do t r abalho e das r elações ( pr ofissionalização, i n d i v i d u al i zação et c. ) , q u an t o n a n oção d e col et i v o, t r ad i ci on al ( i n d i cação e m ult it ar efa) , ex plicit ando o dualism o pr esent e no conceit o de em pr egabilidade, especificam ent e no cont ext o dest e est udo. Essa r eflexão pode ser obser vada pela sínt ese dos est udos de Sar gent ini ( 2001) e Sor j ( 2000) .

Diant e desses discur sos, per cebe- se que a m anut enção do em pr ego e das condições de em pr ego, no cont ext o da r eest r ut ur ação pr odut iva, est á m ais ligada à em pr egabilidade do que às r eivindicações ou m ovim ent os sociais. Por isso, ver i-f icou - se a in t r odu ção do papel do sin dicat o n o r eper t ór io das m u dan ças. Esse p er cu r so é com p ost o p elo d iscu r so d a in d iv id u alização d o su j eit o t r ab alh ad or ( desconst r ução da classe) e pela conseqüent e fr agm ent ação do m ovim ent o sindi-cal. Revela- se a desconst r ução de um a noção de t r abalhador indust r ial com o cat e-gor ia com for t e r epr esent ação social par a a figur a do t r abalhador volt ado par a a m a n u t e n çã o d e su a e m p r e g a b i l i d a d e . Co n si d e r a - se q u e e ssa m a n i f e st a çã o discur siva r em et e à m em ór ia do m ovim ent o sindical br asileir o, confor m e apont ado por Leit e ( 1997) , com o um m ov im ent o que t ende a um a capacidade pr oposit iv a diant e das cr ises r elacionadas ao t r abalho.

O r eper t ór io da condição de não- em pr egado( a) r epr esent a, além da ausên-cia do v ín cu lo em pr egat ício, as con seqü ên ausên-cias dessa au sên ausên-cia, con sider an do o cont ext o do est udo e o per íodo de m udanças nas r elações de t r abalho. A ausên-cia do vínculo em pr egat ício r em et e a um a condição de incer t eza e indefinição. Tal r eper t ór io pode ser visualizado com base nas for m ações ausência do vínculo e o suj eit o não- em pr egado e nas r espect iv as conex ões ent r e os sent idos pr oduzidos por essas for m ações. Na const r ução discur siva dos r epr esent ant es do m ovim ent o sindical, por ex em plo, a gener alização da condição de não- em pr egado( a) r em et e à inclusão de um novo suj eit o par a o qual o m ovim ent o deve dir ecionar esfor ços -o desem pr egad-o - , -o que r epr esent a um a r ec-onfigur açã-o n-o papel d-o sindicat -o par a com o t r abalhador indust r ial, e r efor ça, ainda, a incer t eza e indefinição em seu pr ópr io papel com o inst it uição.

Par a os t r abalhador es desem pr egados ou à pr ocur a do pr im eir o em pr ego, o discu r so n ão est á dir et am en t e r elacion ado à per da fin an ceir a, v ist o qu e, pelas pr át icas discur siv as, o que é gar ant ido pelo v ínculo, ult r apassa a quest ão finan-ceir a. Por isso, em cont r ast e com o discur so do vínculo em pr egat ício, ver ificou- se a não- possibilidade de cum pr im ent o de um papel social e a ausência da t em por alidade e da funcionalidade, culm inando com o discur so da m ar ginalidade e da ex clusão dos não- em pr egados ou dos não- em pr egáv eis.

A não- possibilidade de cum pr im ent o de um papel social é um a for m ação pr esent e nos discur sos dos suj eit os pr ov edor es da fam ília, par a os quais o em -pr ego possibilit a o ex er cício da r esponsabilidade e da conv iv ência em um núcleo fam iliar e social. Quando o pr ovedor é do gêner o m asculino, o discur so apr esent a ligação com o discur so do papel do hom em per ant e sua fam ília, influenciado pelo int er discur so de um a sociedade com car act er íst icas pat er nalist as ( MARTI NS, 1994) . Já par a os su j eit os qu e est ão à pr ocu r a do pr im eir o em pr ego, o discu r so est á int im am ent e r elacionado ao cum pr im ent o de um papel social, ou sej a, ser r espon-sável por sua pr ópr ia sust ent abilidade. Dessa for m a, t em - se a liber dade e a con-quist a do r econhecim ent o social.

Quant o à ausência de t em por alidade e funcionalidade, esse discur so r efe-r e- se à falt a de um elo com a oefe-r ganização, m odificando a noção de t em po- espa-ço- ut ilidade par a o suj eit o não- em pr egado. Esse suj eit o passa a lidar com um a condição de liber dade e pr isão, sim ult aneam ent e. Liber dade, pois possui um t em -po livr e e não -possui vínculo for m al com um a em pr esa; e pr isão, -pois, devido ao sist em a no qual est á inser ido ( sociedade capit alist a e com baixa pr ot eção do Es-t ado) e a um desej o de inclusão ( CALDAS, 2000) , ele deve pr ocur ar um a m aneir a de r econquist ar esse v ínculo.

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de não- em pregado( a) com o um problem a social, ou sej a, com o um a quest ão social. Por ou t r o lado, essa qu est ão t am bém r em et e à falên cia do sist em a capit alist a devido a não- inclusão dos t r abalhador es sem em pr ego na sociedade de consum o. Em er gem , aí, os discur sos da idade em pr egáv el, do est er eót ipo em pr egáv el, do g ê n e r o e m p r e g á v e l e d o g r a u d e q u a l i f i ca çã o co m o e l e m e n t o ce n t r a l d e em p r eg ab ilid ad e.

Com isso, pode- se r eflet ir sobr e a exclusão não apenas com o um a conseqüên-cia da condição de não- em pr egado, m as com o um a conseqüênconseqüên-cia da condição de t r abalhador não- em pr egáv el, ou sej a, que não possui condição com pet it iv a par a a conquist a de novos em pr egos ou t r abalhos. O r eper t ór io da r eest r ut ur ação pr odut iva pode ser ent endido não com o um pr ocesso que encam inha par a o desem -pr ego, m as com o um -pr ocesso que dir eciona par a o discur so do t r abalho em si, dist anciando- se do em pr ego com o possibilidade de inclusão.

O r eper t ór io discur siv o da condição de t r abalhador ( a) é com post o das for -m ações que co-m ple-m ent a-m o pr ocesso de pr odução de sent idos acer ca do de-sem pr ego indust r ial na RM- BH. O discur so do dede-sem pr ego, por t ant o, culm ina com o discu r so das n ov as possibilidades de t r abalh o par a além do em pr ego. Est ão pr esent es nesse r eper t ór io as for m ações discur siv as do t r abalho e das opor t uni-dades de in clu são social com base n essa per spect iva. Tal discu r so é cen t ral, é quest ionado pelos r epr esent ant es do sindicat o e é lat ent e nos discur sos dos su-j eit os desem pr egados e à pr ocur a do pr im eir o em pr ego; m as per passa as pr át i-cas discur siv as de m aneir a ger al. Esse r eper t ór io pode ser v isualizado com base n as f or m ações t r ab alh o e op or t u n id ad es e n as r esp ect iv as con ex ões en t r e os sent idos pr oduzidos por essas for m ações. No discur so do t r abalho, ver ificou- se a desvinculação com a noção de gar ant ias e a ligação com um discur so de liber dade e t om ada de poder por par t e do suj eit o t rabalhador.

No discur so da opor t unidade, obser vou- se a possibilidade de out r as for m as de t r abalho, com o o t r abalho cooper at ivo, por exem plo, com o for m as de inclusão social de suj eit os não- em pr egados. Sinaliza- se um a r econfigur ação nas for m as de const r ução dos laços sociais, em bor a o em pr ego ainda m ant enha um a cent r alidade, pr incipalm ent e no cont ext o em est udo, por m eio da explicit ação da im por t ância do vínculo de em pr ego.

Consider ando a ident ificação dos r eper t ór ios discur sivos, t am bém for am idt ificados os senidt idos ulidt im am enidt e m anifesidt os nas pr áidt icas discur siv as. Ger alm en-t e, após a m anifesen-t ação desses senen-t idos, os suj eien-t os encer r avam seu discur so, ou faziam um a longa pausa e r edir ecionav am o assunt o ( r upt ur as) . Nom ear am - se esses sent idos de sent idos últ im os. Vale r essalt ar que o sent ido últ im o não se ex pr essou t ex t u alm en t e, m as, sim , su ben t en dido; dessa for m a, pôde ser m ais bem com pr eendido à m edida que as for m ações for am ident ificadas e or ganizadas. Ver ificam - se, assim , alguns conceit os que podem r epr esent ar um a possibilidade de pesqu isar o desem pr ego, con sider an do os r ecor t es dest a pesqu isa: o set or indust r ial, o cont ext o hist ór ico e cult ur al e as pr ópr ias t r aj et ór ias dos suj eit os.

Os sent idos últ im os, definidos no decor r er das análises, culm inar am com os s e g u i n t e s e l e m e n t o s : m a n u t e n ç ã o d a e m p r e g a b i l i d a d e ; c o m p e t i t i v i d a d e ; pr ecar ização nas r elações de t r abalho; pr oblem a social e dificuldade de m anut en-ção da em pr egabilidade, que se r efer em aos elem ent os suj eit os não em pr egáveis, quest ionam ent o do sist em a e inclusão social. Esses elem ent os são de ex t r em a im por t ância par a a com pr eensão do fenôm eno do desem pr ego.

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suas conseqüências par a o t r abalhador indust r ial, além do nív el de desenv olv i-m ent o do set or indust r ial na r egião.

No que t ange aos elem ent os com pet it iv idade e pr ecar ização nas r elações de t r abalho, os quais com põem o r eper t ór io das m udanças nas configur ações do em pr ego, configur am - se sent idos r elacionados ao pr ocesso de r eest r ut ur ação pr o-dut iva no set or indust r ial, pr incipalm ent e. Obser vou- se que, em Belo Hor izont e e r egião m et r opolit ana, esses sent idos t om am dim ensões consider áv eis, dev ido ao fat o de se t r at ar de um a r egião indust r ial, com a pr esença de sindicat o, segundo os pr ópr ios desem pr egados.

Qu an t o aos elem en t os p r ob lem a social e d if icu ld ad e d e m an u t en ção d a em pr egabilidade, su j eit os n ão em pr egáv eis são elem en t os qu e se r epor t am à condição de não- em pr egado( a) com o um a condição gener alizada, com im plica-ções par a o suj eit o e par a a sociedade, pr incipalm ent e no que r efer e ao discur so da exclusão e da m ar ginalidade social. Com o discur so da necessidade de m ant er a em pr egabilidade diant e das ex igências no cont ex t o do set or indust r ial, ev iden-ciou- se a quest ão at ual, não apenas com o o desem pr ego em si, m as com o a con-dição de ser em pr egáv el na sociedade capit alist a br asileir a. No que r efer e à r e-gião de Belo Hor izont e, a em pr egabilidade envolve conceit os diver sos com o a indi-cação, a qu alif icação e a capacidade de adapt ação. Tais elem en t os dev em ser consider ados em conj unt o ao se est udar o fenôm eno do desem pr ego na r egião de pesquisa. Esses sent idos int r oduzem um out r o discur so, que r em et e a um a possibilidade diant e da condição de não- em pr egáv el: t r at a- se do t r abalho em si, par a além do em pr ego.

Os elem en t os qu est ion am en t o do sist em a e in clu são social ilu st r am esse discur so, pois, por m eio desses conceit os, r eflet e se o sent ido de que o desem -pr ego pode ger ar opor t u nidades alt er nat iv as ao t r abalho assalar iado in du st r ial, com o o em pr eendedor ism o e o cooper at ivism o, por exem plo. No que se r efer e à r egião de Belo Hor izont e, pod se cit ar a or ganização de diver sas feir as de ar t e-san at o qu e r epr esen t am u m a alt er n at iv a, en t r e ou t r as, à f or m a t r adicion al de em pr ego. Dessa for m a, t em - se m ais um a possibilidade de est udo do fenôm eno desem pr ego, o qual r em et e à descent r alização do t r abalho assalar iado com o ele-m ent o cent r al de alt er nat iva de vida ou de r elações sociais.

Par a t ant o, as condições de pr odução exer cer am papel cent r al par a a inves-t igação consinves-t r ucionisinves-t a. Especificam eninves-t e com r elação ao esinves-t udo r ealizado na RM-BH, pode- se r elacionar as pr em issas const r ucionist as, t endo- se em cont a o con-t ex con-t o da sociedade br asileir a, às condições de pr odução r efer encon-t es ao concon-t ex con-t o específico da pesquisa da seguint e m aneir a: a) o em pr ego indust r ial é cent r al no con t ex t o d e est u d o e é con sid er ad o u m a f or m a d e in clu são social; p or ém , é per m eado por um a m em ór ia de exclusão: inclusão pr ecár ia; b) a m em ór ia acer ca do em pr ego indust r ial est á pr esent e nos discur sos sobr e desem pr ego ( t r abalho pesado, de r isco) ; a com pensação v em por m eio do est abelecim ent o do v ínculo em pr egat ício, ou sej a, o desem pr ego ainda é ent endido com o sit uação de exclu-são pela per da do vínculo, por exem plo; c) na análise, obser vou- se que o discur so do desem pr ego é const r uído com base na com pr eensão dos suj eit os e dos luga-r es d e o n d e são p luga-r o d u zi d o s o s d i scu luga-r so s; d ) p o luga-r i sso , o d esem p luga-r eg o co m o pr ecar ização e com o opor t unidade é r esult ado de um a const r ução social; e) na ident ificação dos r eper t ór ios discur sivos sobr e o desem pr ego indust r ial na RM- BH, ver ificou- se, por um lado, a cent r alidade do vínculo em pr egat ício, e, por out r o, a em er gên cia de n ov as f or m as de in clu são. Por m eio desse per cu r so, podem - se est abelecer for m as de agir acer ca desse fenôm eno.

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o&s - v. 1 5 - n . 4 7 - Ou t u b r o / D ezem b r o - 2 0 0 8

Considerações Finais

Com base na pr oblem át ica acer ca do ent endim ent o do fenôm eno desem -pr ego, no cont ext o br asileir o, por m eio da qual se buscou super ar as abor dagens m acr ossocial/ econôm ica e psico- fisiológica, est abeleceu- se a possibilidade de es-t u do desse f en ôm en o, a par es-t ir da com pr een são dos su j eies-t os ( desem pr egados, t r abalhador es, ent r e out r os) , consider ando suas exper iências, linguagem e a his-t ór ia. Por his-t anhis-t o, a his-t ese defendida no escopo deshis-t e his-t r abalho r essalhis-t a a necessida-de necessida-de focalizar o conhecim ent o a r espeit o do necessida-desem pr ego por m eio necessida-de um a r ela-ção dialógica ent r e os suj eit os sociais, obser v ando o per íodo de m udanças nas r elações de t r abalho.

Os discur sos acer ca da em pr egabilidade for am r ecor r ent es e, m uit as vezes, sobr essaír am - se sobr e aqueles r efer ent es ao desem pr ego no set or indust r ial. A for m ação de um conceit o de em pr egabilidade que t r anscende a qualificação ( t éc-nica ou não) par a o set or indust r ial, englobando a indicação, a exper iência, ent r e out r os elem ent os, dir ecionou par a a idéia da m anut enção da t r aj et ór ia da car r eir a p esso al e n ão d o em p r eg o em si . Nesse sen t i d o , a d i scu ssão cen t r al i zo u a em pr egabilidade com o um dos discur sos que com puser am a t r aj et ór ia dos discur -sos sobr e o desem pr ego. A m anut enção da em pr egabilidade, por t ant o, super a a pr ópr ia m anut enção do em pr ego.

A invest igação do desem pr ego indust r ial por m eio da pr odução de sent idos, se consider ada a ident ificação de r eper t ór ios discur siv os, per m it e um nov o olhar sobr e o fenôm eno. Dessa for m a, os passos da pesquisa r evelam - se m ais do que est r at égia m et odológica; t r at a- se de um a pr opost a par a novos est udos e pesqui-sa acer ca do desem pr ego no Br asil. Com o m apeam ent o e discussão dos r eper t ó-r i o s e su a asso ci ação co m as f o ó-r m açõ es, i d en t i f i caó-r am - se o s el em en t o s d a em pr egabilidade, por exem plo, com o um cam inho par a a análise sobr e o desem -pr ego e o t r abalho, lev ando em consider ação o cont ex t o sócio- hist ór ico de pes-quisa. A noção de r eper t ór ios discur sivos é cent r al par a a análise const r ucionist a, pois evidencia j ust am ent e os cam inhos per cor r idos pelos suj eit os ao se expr essa-r em , o que indica ação e m ovim ent o. Na const essa-r ução desses cam inhos, exist em os r elacionam ent os ent r e os elem ent os legit im ados acer ca do desem pr ego ( os dis-cur sos explícit os, as for m ações) e os elem ent os que não se explicit am , ou sej a, os discur sos sobr e o desem pr ego que não apar ecem dissem inados, com o, por exem -plo, que o desem pr ego é r esult ado de um a per cepção que se t em de inclusão na sociedade ( capit alist a) , por m eio do vínculo em pr egat ício.

Por t ant o, os elem ent os cent r ais par a o est udo em er gir am no decor r er da an álise da pr odu ção de sen t idos, au x ilian do n a pr ópr ia con st r u ção do con h eci-m en t o sobr e o f en ôeci-m en o e r eaf ir eci-m an do esse con h ecieci-m en t o coeci-m o socialeci-m en t e const r uído. A const r ução social não se r efer e ao desem pr ego, m as à for m a de com pr eendê lo, analisá lo, de pr oduzir nov os discur sos, dissem inar esses discur -sos na sociedade com o um t odo e, finalm ent e, de ex plicit ar um a r ealidade que or igina de t ais discur sos. É um ciclo que deve ser com pr eendido em sua pr odução e r econst r ução, pois, ao afir m ar que o desem pr ego é r esult ado de est at íst icas e que se explica por est as apenas, elim ina- se um a sér ie de possibilidades de ação sobr e essa r ealidade.

Referências

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