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Análise textual dos discursos: responsabilidade enunciativa no texto jurídico

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM

MARIA DAS VITÓRIAS NUNES SILVA LOURENÇO

A

NÁLISE

T

EXTUAL

D

OS

D

ISCURSOS

:

R

ESPONSABILIDADE

E

NUNCIATIVA

N

O

T

EXTO

J

URÍDICO

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MARIA DAS VITÓRIAS NUNES SILVA LOURENÇO

A

NÁLISE

T

EXTUAL

D

OS

D

ISCURSOS

:

R

ESPONSABILIDADE

E

NUNCIATIVA

N

O

T

EXTO

J

URÍDICO

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para a obtenção do título de Doutora em Linguística.

Orientadora: Profa. Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues.

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Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial de Currais Novos

Lourenço, Maria das Vitórias Nunes Silva.

Análise textual dos discursos: responsabilidade enunciativa no texto jurídico / Maria das Vitórias Nunes Silva Lourenço. – Natal, RN, 2013.

230 f.

Orientadora: Profa. Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Departamento de Letras. Programa de Pós-graduação em estudos da linguagem.

1. Análise Textual dos Discursos – Tese. 2. Discurso Juridico – Tese. 3. Petição Inicial – Tese. 4. Responsabilidade Enunciativa – Tese. I.

Rodrigues, Maria das Graças Soares. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

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MARIA DAS VITÓRIAS NUNES SILVA LOURENÇO

A

NÁLISE

T

EXTUAL

D

OS

D

ISCURSOS

:

R

ESPONSABILIDADE

E

NUNCIATIVA

N

O

T

EXTO

J

URÍDICO

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para a obtenção do título de Doutora em Linguística.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________ Profa. Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues – UFRN

Orientadora

_____________________________________________________ Prof. Dr. LuisÁlvaro Sgadari Passeggi – UFRN

Examinador interno

_______________________________________________________ Profa. Dra. Marise Adriana Mamede Galvão – UFRN

Examinadora interna

_______________________________________________________ Profa. Dra. Sueli Cristina Marquesi – PUCSP

Examinadora externa

_______________________________________________________ Profa. Dra. Virgínia Colares Soares Figueiredo Alves – UNICAP

Examinadora externa

NATAL/RN 2013

(5)

A Mário Lourenço,meu esposo, e aos nossos dois filhos, Gabriel Marcel e

Nícolas Heitor.

(6)

AGRADECIMENTOS

À Profa. Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues,o meu agradecimento pela oportunidade de realizar este trabalho de pesquisa. Meu respeito e admiração pela sua serenidade, pela sua ética, por sua capacidade de análise do perfil de seus alunos e pelo seu dom de reconhecimento das potencialidades, inibindo sempre a vaidade em prol da simplicidade e eficiência.

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

A Deus,por me presentear com a vida de Gabriel Marcel e Nicolas Heitor, meus filhos, crianças que transbordam alegria e vivem intensamente as curiosas descobertas da infância.

À minha família, em especial aos meus irmãos, Vilma Nunes e José Neto, pelo constanteestímulo e incentivo.

Ao CNPq, já que a realização de um projeto de pesquisa como este só foi possível com o apoio de sua bolsa.

Aos amigos e pesquisadores Anahy Zamblano e Alexandro Teixeira Gomes, que partilharam muitas ideias comigo durante a realização deste trabalho.

Ao casal Rildeci e Rogério, do qual tive a oportunidade de me tornar amiga. Muito agradecida pela hospitalidade sempre muito generosa.

À amiga Célia Medeiros, com quem divido, desde muitos anos, muitas ideias que se perderam no tempo e outras que tomaram corpo como o trabalho que agora apresento. Muito agradecida pelas constantes revisões.

Às amigas e Professoras Dra. Marise Adriana Mamede, Dra. Josilete Moreira Alves e Ms. Maria de Fátima Barros da Rocha, pelas contribuições com a minha formação universitária desde os primeiros anos na graduação do curso de Letras no campus

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(8)

RESUMO

Esta investigação objetiva descrever, analisar e interpretar a Responsabilidade Enunciativa (RE) em Petições Iniciais, gênero discursivo circunscrito ao domínio jurídico. Para tanto, elegemos como objeto o estudo das seções “Dos fatos” e “Da fundamentação jurídica”, da

petição, compreendendo, assim, respectivamente, a narração dos eventos, que deu margem à propositura da ação judicial, e à exposição do direito que ampara a pretensão da parte autora. Ancoramos a discussão no campo da Linguística, mais precisamente, na Análise Textual dos Discursos (ATD), cujas bases teóricas decorrem da Linguística Textual (LT) e da Linguística Enunciativa. Colocamos em relevo, particularmente, o modo como o autor dos textos, objetos de análise, faz uso das estratégias discursivas que indicam a RE. Dessa forma, a relevância deste estudo reside na construção da crítica ao texto jurídico, pois empreende uma abordagem dialógica do ponto de vista, suscitando não apenas questionamentos sobre a maneira como uma instância linguística concebe um objeto de discurso, mas também discutindo as questões de linguagem inerentes à escrita especializada e, nesse aspecto, contribuindo com o trabalho dos operadores do Direito acerca das várias maneiras de construção da RE no corpo do texto peticional. Selecionamos duas categorias de análise que, segundo Adam (2011), caracterizam na materialidade textual o grau de RE dos enunciados proposicionais: os diferentes tipos de representação da fala e as indicações de quadros mediadores. Nesse sentido, objetivando tal tarefa, baseamo-nos nos estudos acerca do ponto de vista realizados por Rabatel (2003, 2009a, 2010) no que concerne à abordagem enunciativa, inserindo o estudo do PDV no arcabouço das teorias polifônicas e dialógicas para estudar a RE a partir dos diferentes tipos de representação da fala que compreendem as formas de transmissão do discurso e o papel do sujeito enunciador no tocante à responsabilidade e à imputação pelos conteúdos proposicionais. Da mesma forma, tencionando estudar as indicações de quadros mediadores, observamos os postulados de Guentchéva (1994, 1996), que desenvolve a noção de categoria gramatical do mediativo (MED), a qual permite marcar linguisticamente o distanciamento ou engajamento do enunciador diante das informações expressas. No que concerne à metodologia, adotamos a pesquisa de base qualitativa, de natureza interpretativista e introspectiva, haja vista que este estudo focaliza processos e estratégias subjacentes ao uso da linguagem. O corpus da pesquisa é constituído por Petições Iniciais, que ensejaram ações

oriundas na Vara Cível da Comarca de Currais Novos-RN. A análise dos dados mostra que um objeto de discurso é sempre perspectivado e manifesta o ponto de vista de um ou mais enunciadores. Como consequência, o produtor do texto, ao utilizar-se dos PDV de outros enunciadores, influencia e estabelece a orientação argumentativa do texto. Da mesma forma, evidencia a relevância do uso das construções mediatizadas no texto jurídico, pois funcionam como estratégias atenuantes da responsabilidade do produtor do texto com o que é dito, e ao mesmo tempo visa um discurso de autoridade pela entrada das fontes do direito. Ainda, revela a importância documental e interacional dessa prática, ao mesmo tempo que expõe dificuldades de natureza composicional e normativa no que concerne aos aspectos legais e linguísticos.

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ABSTRACT

This investigation aims at describing, analyzing and interpreting the Commitment in Initial Petitions, which is a genre circumscribed in the judicial domain. For this purpose, we have

chosen sections, “facts as found” and “relevant law”, sections of the petition, with the understanding that, in this way, respectively, the narration of events, which gives margin to the propositioning to the judicial action, and the exposition of the law that upholds the

author’s intention. We base our discussion on the field of Linguistics, more precisely, Textual

Discourse Analysis (TDA), whose theoretical basis is derived from Textual Linguistics (TL) and Enunciative Linguistics. We foreground, particularly, the way in which the author of texts, objects of analysis, use discursive strategies that evidence ER. The relevance of this study, then, is in the formation of a critique of the judicial text, as it conceives of a dialogical approach to the point of view, raising not only questions about the way in which a linguistic instance conceives an object of discourse, but also considering questions of language inherent to technical writing and, in this aspect, contributing to the work of those operating in Law about the many ways ER is formed in the body of a petition. We selected two categories to analyze that, according to Adam (2011), characterize the degree of ER in the textual material of the propositional enunciations: the different types of representation of speech and the indications of profile of mediators. In this sense, with this task as an objective, we base our study regarding point of view on Rabatel (2003, 2009a, 2010) with relation to the enunciative approach, including the study of PDV in polyphonic and dialogical theoretical framework to study the ER from different types of speech representations that conceive forms of transmission of discourse and the role of the enunciating subject, mainly the responsibility and the prerogative by the propositional contents. In the same way, intending to study the indications of the mediator profiles, we observed the postulations of Guentchéva (1994, 1996), which develop the notion of mediative grammatical categories, of which permit the linguistic marking of distance and engagement of the enunciator with regard to the information expressed. The methodology we adopted was based on qualitative research, of an interpretive and introspective nature, in light of the fact that his study focuses on processes and strategies underlying language use. The corpus of the research is comprised of Initial

Petitions, which gave rise to actions originating in the Civil Court of Currais Novos County –

RN. The data analysis shows that an object of discourse is always perspective oriented and presents the point of view of one or more enunciators. Consequently, the producer of a text, using the PDV of other enunciators, influences and establishes the argumentative orientation of the text. In the same way, it evidences the relevance of the use of mediated constructions in the judicial text, as they function as strategies attenuated to the responsibility of the producer of the text with what is said, and at the same time points to a discourse of authority through the entrance of the sources of law. Moreover, it reveals the documental and international importance of this practice, at the same time that it exposes the compositional and normative difficulties with regard to legal and linguistic aspects.

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RÉSUMÉ

La présente recherche a pour but de décrire, d’analyser et d’interpréter la Prise en Charge

(PEC) telle qu’elle se présente dans les Pétitions Initiales, genre discursif circonscrit au

domaine juridique. Nous avons choisi à cet effet d’étudier les sections de la pétition intitulées

« Des faits » et « Du fondement juridique », comprenant, respectivement, le récit des

événements qui est à l’origine de la proposition de l’action judiciaire, et l’exposé du droit qui

soutient la prétention de la partie demanderesse. Notre discussion, de base linguistique, est

fondée plus précisément sur l’Analyse Textuelle des Discours (ATD), dont les principes

théoriques proviennent de la Linguistique Textuelle (LT) et de la Linguistique Énonciative.

Nous mettons paerticulièrement l’accent sur sur la façon dont l’auteur des textes qui fait l’objet de nos analyses, met en œuvre les stratégies discursives qui indiquent la RE. Ainsi,

l’importance de la présente étude réside dans la construction de la critique du texte juridique ; nous réalisons en effet une approche dialogique du point de vue, suscitant non seulement des réflexions sur la manière dont une instance linguistique conçoit un objet de discours, mais

remettant également en cause les questions de langage inhérentes à l’écriture spécialisée et,

sous cet aspect, contribuant au travail des opérateurs du Droit relatifs aux différents modes de constrction de la RE dans le corps du texte de la pétition. Nous avons donc retenu, en vue de

cela, deux catégories d’analyse qui, selon Adam (2011), caractérisent, sur le plan de la

matérialité textuelle, le degré de PC des énoncés propositionnels: les différents types de représentation de la parole ainsi que les indications des cadres médiateurs. En ce sens, et dans cette intention, nous nous sommes appuyée sur les études du point de vue menées par Rabatel

(2003, 2009a, 2010) en ce qui concerne l’approche énonciative, insérant l’étude du PDV dans

la charpente des théories polyphoniques et dialogiques, afin d’étudier la PC à partir des

différents types de représentation de la parole qui comprennent les formes de transmission du discours et le rôle du sujet énonciateur touchant la prise en charge et l’imputation par les contenus propositionnels. De la même manière, et dans le but d’étudier les indications des

cadres médiateurs, nous tenons compte des postulats de Guentchéva (1994, 1996), qui développe la notion de catégorie grammaticale du médiatif (MED), laquelle permet de

marquer linguistiquement la distance ou l’engagement de l’énonciateur face aux informations

exprimées. En ce qui concerne la méthodologie, nous avons adopté la recherche de base qualitative, de nature interprétativiste et introspective, étant donné que la présente étude privilégie des processus et des stratégies sous-jacents à l’utilisation du langage. Le corpus de la recherche est constitué par des Pétitions Initiales qui sont à l’origine d’actions provenant de

la Juridiction Civile du District de Currais Novos-RN. L’analyse des données montre qu’un objet de discours est toujours mis en perspective et qu’il manifeste le point de vue d’un ou de

plusieurs énonciateurs. En conséquence, lorsque le producteur du texte utilise les PDV

d’autres énonciateurs, il influence et établit l’orientation argumentative du texte. Il souligne de même l’importance de l’utilisation des constructions médiatisées dans le texte juridique,

car elles fonctionnent comme des stratégies atténuantes de la responsabilité du producteur du

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met au jour des difficultés de nature compositionnelle et normative relativement aux aspects légaux et linguistiques.

(12)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Esquema 4 – Níveis ou planos da Análise do Discurso...25

Esquema 10 – Responsabilidade enunciativa da proposição Ponto de vista [pdV]...30

Esquema 21 – ...119

Mapa conceitual sobre a Lógica Natural...38

Mapa semântico das operações de Responsabilidade Enunciativa...73

Quadro 01 – Grandes categorias...45

Quadro 02 – Responsabilidade Enunciativa e imputação...61

Quadro 03 – Ações ou aspectos do Judiciário mais importantes para melhorar a atuação da justiça no Brasil...80

Quadro 04 – Gênero, macrogênero ou sistema de gêneros...103

Quadro 05 – PI 01 (arrolamento sumário)...135

Quadro 06 – PI 02 (ação de adoção)...143

Quadro 07 – PI 03 (ação de alimentos)...147

Quadro 08 – PI 04 (ação declaratória de união estável c/c dissolução e pedido de alimentos) ...151

Quadro 09 – PI 05 (ação de adoção)...158

Quadro 10 – PI 06 (ação ordinária com pedido de liminar)...167

Quadro 11 – PI 07 (ação ordinária)...175

Quadro 12 – PI 08 (ação de usucapião)...178

Quadro 13 – PI 09 (ação de alimentos)...184

Quadro 14 – PI 10 (ação de execução de alimentos)...188

Quadro 15 – PI 11 (alvará judicial)...191

Quadro 16 – PI 12 (ação de divórcio)...195

Quadro 17 – PI 13 (ação de rescisão de contrato)...200

Quadro 18 – PI 14 (ação de interdição com constituição de curatela)...203

Quadro 19 – PI 15 (ação de adoção)...206

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LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS ABNT ATD AD AMB CF CPC CC CP ECA LT

L1/E1

e 2 MED RE Rd ORarg PEC PI PdV PDV DD DI ø - +

Associação Brasileira de Normas Técnicas Análise Textual dos Discursos

Análise do Discurso

Associação dos Magistrados Brasileiros Constituição Federal

Código de Processo Civil Código Civil

Conteúdo Proposicional

Estatuto da Criança e do Adolescente Linguística Textual Locutor/enunciador primeiro enunciador(es) segundo(s) Mediativo Responsabilidade Enunciativa Representação discursiva Orientação argumentativa

Prise en charge

Petição Inicial

Ponto de vista – sigla usada por Adam (2011)

Ponto de vista – sigla usada por Rabatel (2004, 2009) Discurso Direto

Discurso Indireto vazio

(14)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 15

Primeira Parte FUNDAMENTOS TEÓRICOS PARA UM ESTUDO DA RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA Capítulo I ... 22

ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS: A RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA DOS ENUNCIADOS ... 22

1.1 A ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS... 22

1.2 A UNIDADE TEXTUAL ELEMENTAR: A PROPOSIÇÃO-ENUNCIADO ... 26

1.3 A RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA ... 31

1.3.1 A(s) noção(ões) que abriga(m) a Responsabilidade Enunciativa ... 31

1.4 BAKHTIN: POLIFONIA E DIALOGISMO ... 46

1.4.1 As vozes do discurso ... 46

1.5 A TEORIA DO PONTO DE VISTA ... 50

1.5.1 As modalidades de expressão linguística do PDV: representado, assertado e narrado ou embrionário ... 54

1.6 A RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA COM RESPONSABILIZAÇÃO LIMITADA ... 58

1.6 RETOMANDO O CAMINHO ... 62

1.7 MARCANDO A RELAÇÃO ENTRE SISTEMAS ENUNCIATIVOS ... 64

1.7.1 A dinâmica da circulação dos discursos ... 64

1.7.2 GUENTCHÉVA: O quadro Mediativo...67

Capítulo II ... 75

A NATUREZA DISCURSIVA DA PRÁTICA PETITÓRIA JURÍDICA ... 75

2 DIREITO E LINGUAGEM ... 75

2.1 CAMINHOS CRUZADOS ... 75

2.2 O TEXTO JURÍDICO: SIMPLIFICAÇÃO E ACESSIBILIDADE ... 78

2.2.1 Da urgência da modernização da linguagem jurídica... 85

2.2.2 As características dos textos jurídicos ... 86

2.3 O GÊNERO PETITÓRIO EM FOCO ... 94

2.3.1 A perspectiva processual ... 94

(15)

2.4 A CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA LINGUAGEM AO DIREITO: DOS

ESTUDOS DO TEXTO E DO DISCURSO À LINGUÍSTICA FORENSE...104

2.4.1 Entrecruzando olhares: Os estudos da linguagem e o Direito ... 104

2.4.2 A consolidação da Linguística Forense enquanto campo de estudo ... 108

Capítulo III... 112

METODOLOGIA... 112

3.1 CONTEXTO DE PRODUÇÃO DAS PETIÇÕES INICIAIS ANALISADAS ... 121

3.2 ELEMENTOS PARA A CONSULTA E LEITURA DOS QUADROS... 123

Segunda Parte A EXPRESSÃO DA RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA NA PETIÇÃO INICIAL Capítulo IV ... 126

A RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA NO GÊNERO PETICIONAL ... 126

4.1 INDICADORES DA RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA: OS DIFERENTES TIPOS DE REPRESENTAÇÃO DA FALA E AS CONSTRUÇÕES MEDIATIZADAS ... 126

4.2 ANÁLISE ... 130

4.2.1 Petição Inicial 01 (PI – 01) ... 130

4.2.2 Petição Inicial 02 (PI – 02) ... 136

4.2.3 Petição Inicial 3 (PI – 3) ... 144

4.2.4 Petição Inicial 04 (PI – 04) ... 148

4.2.5 Petição Inicial 5 (PI – 5) ... 152

4.2.6 Petição Inicial 06 (PI – 06) ... 159

4.2.7 Petição Inicial 07 (PI – 07) ... 168

4.2.8 Petição Inicial 08 (PI – 08) ... 176

4.2.9 Petição Inicial 09 (PI -09) ... 179

4.2.10 Petição Inicial 10 (PI –10) ... 185

4.2.11 Petição Inicial 11 (PI –11) ... 189

4.2.12 Petição Inicial 12 (PI – 12) ... 192

4.2.13 Petição Inicial 13 (PI –13) ... 196

4.2.14 Petição Inicial 14 (PI – 14) ... 201

4.2.15 Petição Inicial 15 (PI – 15) ... 204

Capítulo V ... 211

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 211

BIBLIOGRAFIA ... 219

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INTRODUÇÃO

“Não podemos nos distanciar da língua [...] habitamos radicalmente nossa própria língua, seus jogos linguísticos, suas teorias, e trazemos em nós as reificações, as ontologias, as formas de construção do mundo” (BORUTTI, 2001, p. 80).

A noção de prise en charge (PEC), Responsabilidade Enunciativa (RE), na tradução

para o português do Brasil, é considerada tema presente, efetivamente, nas discussões contemporâneas sobre o discurso (RABATEL, 2004, 2005, 2009a; ADAM, 2011). Uma vez que se considera a dimensão dialógica do ponto de vista, este não pode ser entendido por suscitar apenas questionamentos sobre a maneira como uma instância linguística concebe um objeto de discurso.

Dessa forma, os estudos que investigam a Responsabilidade Enunciativa buscam

respostas para reflexões como “Quem é responsável pelo conteúdo proposicional enunciado, o falante do enunciado ou outra instância linguística, mencionada ou não mencionada reportada pelo falante? De acordo com as abordagens da Linguística Enunciativa podemos afirmar que nem sempre o locutor coincide com o enunciador, bem como as relações entre o par locutor/enunciador geram pontos de vista, perspectivas que marcam o posicionamento do sujeito no discurso.

Com base no exposto, a proposta deste estudo doutoral é descrever, analisar e interpretar a RE enquanto estratégia linguística no corpo do texto petitório do domínio jurídico, especificamente a Petição Inicial (doravante PI). Para perseguir esse propósito, fundamentar-nos-emos no quadro teórico da Análise Textual dos Discursos (ATD), que, de acordo com Adam (2011, p. 13), é “uma teoria da produção co(n)textual de sentido que deve,

necessariamente, ser fundamentada na análise de textos concretos”, e, dessa maneira, procuraremos colocar em relevo, particularmente, o modo como o autor dos textos, objetos de análise, faz uso das estratégias discursivas que indicam a RE.

(17)

seio da hermenêutica jurídica, que concebe a língua na sua imanência e, assim, aprisiona o sentido do texto. Nesse sentido, partilhamos do pensamento de Alves (2003, p. 25), ao afirmar:

Na perspectiva da interpretação jurídica, o sentido dito “objetivo” impõe-se à compreensão visto que trabalha com significados estáticos. O complexo conceito de direito, fundamentado na clássica teoria formal do direito de Kelsen, sustenta-se no dever ser atemporal, impessoal e transcendental. A interpretação jurídica ou hermenêutica de natureza teleológica (zweckrational – racionalidade finalística) relaciona um fato com sua causa final e considera o mundo (abstrato, ideal e homogêneo) como um sistema de relações entre meio e fins, palavras e referentes, como se a língua funcionasse in vácuo. A realização empírica do direito, como prática jurídica (lei, decisão judicial, inquirição etc.), entretanto, opera no mundo a partir de textos escritos.

A linguagem é indispensável ao direito porque é ela que possibilita sua existência. O conhecimento sobre o poder da linguagem para o direito reside desde os seus primórdios tanto no seu estabelecimento enquanto práxis quanto na constituição da ciência jurídica. Chauí (1999) menciona que no início o direito nada mais era que uma linguagem solene de fórmulas, isto é, palavras ditas pelo árbitro que eram reconhecidas e consignadas pelas partes, é tanto que o crime linguístico do perjúrio é considerado gravíssimo, valendo, quando do

testemunho, como resposta à pergunta “jura dizer a verdade?”, apenas “Eu juro” para se estabelecer a máxima da “boa fé”. Assim, a ciência jurídica, no dizer de Diniz (2000, p. 169-170, grifo nosso),

[...] encontra na linguagem sua possibilidade de existir porque: a) não poderia produzir seu objeto numa dimensão exterior à linguagem; b) onde não há rigor linguístico não há ciência, pois esta requer rigorosa linguagem científica; c) deve construir seu objeto sobre dados que são expressos pela própria linguagem; d) o elemento linguístico entra em questão como instrumento de interpretação, buscando verificar o sentido da lei; e) se a linguagem do legislador for incompleta, o jurista deverá indicar os meios para completá-la; f) o elemento linguístico pode ser considerado como instrumento de construção científica.

(18)

Nessa direção, a ATD, postulada por Adam (2011), é descrita como uma teoria de produção co(n)textual de sentido. Constitui-se, segundo Passegi et al. (2010a, p. 262), em uma

“abordagem teórica descritiva do campo da Linguística Textual”, objetivando “pensar o texto e o discurso em novas categorias”. Dessa maneira, Adam (2011) situa a Linguística Textual (LT) no quadro mais amplo da Análise do Discurso (AD), partilhando, assim, conceitos advindos do

quadro teórico da AD, em que propõe simultaneamente “separação e complementaridade” das tarefas e dos objetos dos dois campos teóricos mencionados.

Assim, para Jean-Michel Adam, a Linguística Textual (LT) figura como “um

subdomínio do campo mais vasto da análise das práticas discursivas” (ADAM, 2011, p. 43).

Dessa maneira, o citado autor propõe a substituição do termo “análise textual” por Análise Textual dos Discursos (ADAM, 2011, p. 26).

Nesta investigação, selecionamos como objeto teórico a ser explorado a

Responsabilidade Enunciativa dos enunciados, que para a ATD, assim como para as teorias que se ancoram na enunciação, situa-se na dimensão enunciativa. Segundo Adam (2011), a RE, enquanto ponto de vista, é registrada como PdV, postulando a existência de marcas linguísticas que possibilitam a explicitação de diferentes pontos de vista presentes nos textos e o movimento de identificação da voz do locutor com um ou outro PdV. Dessa maneira, pela dinamicidade, característica própria da linguagem, estudamos duas categorias/unidades linguísticas que funcionam como marcadores do grau de RE em uma proposição, de acordo com Adam (2011), que são os diferentes tipos de representação da fala e as construções mediatizadas.

Explicitadas as categorias de análise, passemos a descrever o gênero investigado. A Petição Inicial é um gênero discursivo, que comporta, principalmente, as sequências textuais narrativa e argumentativa. É um texto jurídico que o(a) advogado(a) constrói historiando minuciosamente os acontecimentos que deram origem à postulação em juízo e, simultaneamente, manifestando as teses defendidas para requerer o deferimento do seu pedido. Para surtir os devidos efeitos jurídicos, a PI deve possuir certos requisitos, todos eles determinados pelo Código de Processo Civil (CPC), em seu art. 282, que entre eles importa destacar os incisos III e IV por determinarem a estrutura redacional da PI.

(19)

–“do pedido” –, como observado no Código de Processo Civil, Lei n. 5.869/73, em seu art. 282, conforme transcrição:

A petição inicial indicará:

I – o juiz ou tribunal, a que é dirigida;

II – os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu;

III – o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV – o pedido, com as suas especificações; V – o valor da causa;

VI – as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;

VII – o requerimento para a citação do réu.

Os incisos III e IV são tipicamente redacionais, entretanto optamos pelo estudo apenas do inciso III. A escolha justifica-se pelo fato de que, nesse inciso explícito, estão o núcleo da narração e exposição dos argumentos, o uso de discurso citado e a entrada de outras vozes (requerente(s), doutrinadores, legisladores, juristas), visivelmente constituindo o corpo textual da PI, possibilitando, assim, o estudo das marcas textuais reveladoras da RE, sendo, portanto, o inciso III, para nossa análise, foco de interesse, já que o inciso IV apenas conclui o texto com a formulação dos requerimentos finais, aquilo que a pessoa pretende que lhe seja entregue ou garantido por ordem do Estado-Juiz materializado no Poder Judiciário.

Na elaboração deste estudo, procuramos entendimento para as seguintes questões: como se materializam as fronteiras linguísticas demarcando a voz do discurso citante e a voz do discurso citado? Como o locutor-narrador organiza o discurso no que concerne à Responsabilidade Enunciativa? Como o sujeito real faz uso de quadros mediadores visando atribuir autoridade ao dito? Dessa maneira, objetivamos descrever, analisar e interpretar marcas linguísticas que explicitam a assunção ou não da RE, a partir das operações de textualização, pensando texto/discurso de forma articulada.

Para Marcuschi (2008, p. 154), “toda a manifestação verbal se dá sempre por meio de

textos realizados em algum gênero. Em outros termos, a comunicação verbal só é possível por

(20)

no mundo jurídico, seja na argumentação, seja na determinação de algo (atos ilocutórios assertivo e diretivo), associado ao interesse pelo aprofundamento das investigações linguísticas sobre o citado gênero textual.

Assim, temos a consciência de que é pelo uso da língua que o homem, através do seu discurso, age sobre o mundo e atua sobre os demais modificando sua forma de pensar, provocando reações, levando-os a assumir determinadas posições e influenciando comportamentos. Confirmamos, assim, a não neutralidade da linguagem, principalmente nos gêneros circunscritos ao domínio jurídico que possuem a argumentatividade como algo que lhe é intrínseco.

O raciocínio jurídico, explicitado pelo discurso judiciário, não se reduz apenas à aplicação de normas em situações reais com o objetivo de tipificar delitos, pelo contrário, comporta também a linguagem e sua subjetividade. Desse modo, o raciocínio jurídico firma-se, também, nas orientações da lógica jurídica, que estabelece os critérios dos quais o jurista se utilizará para a adequação dos julgamentos entre os fatos sobre os quais ele deve se pronunciar e aqueles que o direito define, através do texto legal.

Dessa forma, tanto as habilidades para leitura e compreensão de textos como a adequada utilização da linguagem exigem a articulação de estratégias de produção e recepção de textos que proporcionem aos operadores do mundo jurídico uma ferramenta indispensável para a condução lógica do raciocínio e o domínio da argumentação.

Para a realização deste estudo, dividimos o trabalho em duas partes: a primeira contém as bases epistemológicas, ou seja, as considerações teóricas que irão fundamentar a análise dos dados, assim como a metodologia utilizada para a realização da pesquisa, e a segunda compreende a análise do corpus.

(21)

que orientaram a realização do estudo. A segunda parte mostra-se dividida em dois capítulos. O quarto capítulo expõe a análise dos dados. O quinto e último capítulo apresenta as considerações finais.

Todavia, temos a intenção de contribuir com o trabalho dos operadores do Direito, com sua formação, uma vez que refletimos acerca do processo de produção textual sobre as várias maneiras de construção da RE no corpo textual e a indicação dos posicionamentos enunciativos perspectivando o discurso jurídico e expondo o engajamento ou não do locutor/enunciador pelos conteúdos proporcionais veiculados.

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Primeira Parte

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Capítulo I

ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS: A RESPONSABILIDADE

ENUNCIATIVA DOS ENUNCIADOS

1.1 A ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS

“É sobre novas bases que propomos, hoje, articular uma linguística textual

desvencilhada da gramática de texto e uma análise de discurso emancipada da análise de discurso francesa (ADF). [...] postulando, ao mesmo tempo, uma separação e uma complementaridade das tarefas e dos objetos da linguística textual

como um subdomínio do campo mais vasto da análise das práticas discursivas”

(ADAM, 2011, p. 43).

A Análise Textual dos Discursos elaborada por Jean-Michel Adam (2011) constitui-se em uma proposta teórica e metodológica sobre o estudo do texto que satisfaz a inquietação e, simultaneamente, contempla reflexões de estudiosos do texto e do discurso no que concerne às relações postas nas articulações possíveis entre a análise textual e co(n)textual, assim como busca, no sentido da epígrafe acima colacionada, uma articulação envolvendo dois campos do saber: a Linguística Textual (LT) e a Análise do Discurso (AD), gerada a partir da LT e da Linguística da Enunciação.

Nesse aspecto, para justificar e apresentar sua proposta teórica, Adam (2010, 2011) historia o desenvolvimento dos dois campos do saber acima referidos, fundamentado no posto por vários estudiosos do texto e do discurso que contemplam essa temática, ora criticando, ora absorvendo determinados postulados teóricos aceitos e difundidos entre a comunidade científica.

Assim, o referido autor passa a citar, por exemplo, T. A. Van Dijk (1981, p. 65), ao

mencionar que “os textos são sempre utilizados num contexto particular: a análise e

compreensão do texto exigem, por isso, a análise e a compreensão simultâneas do contexto”. Essa afirmação, para Adam (2010, p. 5), expressa uma aproximação imediata da Análise do Discurso.

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que é objeto da Linguística Textual, e as regulações, como “as situações de interação nos

lugares sociais, nas línguas e nos gêneros dados impõe [impostos] aos enunciados” (ADAM, 2010, p. 43), que são, por sua vez, objetos da Análise de Discurso.

Assim, constitui-se um jogo complexo as relações estabelecidas entre as determinações textuais e as regulações, que sofreram “impacto das infinitas formas de expressão e de interação” (ADAM, 2010, p. 43), pois os enunciados abrigam formas infinitas que, por sua vez, são reguladas pelos gêneros e pelas línguas. Para o autor, Foucault (1969, p. 128 apud ADAM, 2011, p. 45) fala com propriedade quando afirma que “um enunciado tem

sempre suas margens habitadas por outros enunciados”.

Dessa forma, Adam propõe a ATD, originada a partir da LT e da Linguística da Enunciação, através de um ponto central: os gêneros do discurso, asseverando que seus trabalhos, enquanto pesquisador, inserem-se no campo da Linguística Textual, mais especificamente, no estudo dos níveis ou nos planos da análise textual (N4, N5, N6, N7 e N8), que constituem a base do esquema 4, exposto nas próximas páginas.

Nesse sentido, Adam (2010, p. 9) traz também as reflexões de Coseriu (2007) no que concerne à autonomia do nível textual. Para Coseriu (2007, p. 86), o “nível dos textos”

constitui-se em uma “série de atos linguísticos conexos realizados por um locutor concreto,

numa situação concreta, que, naturalmente, pode se realizar na forma falada ou escrita”, tendo

como objeto “o nível individual do linguístico”. Adam (2010) afirma, ainda, que a Linguística Textual, por estudar o elemento comum entre diferentes textos, necessariamente, dispensa

atenção ao estudo das “‘classes de textos’ (gêneros de discurso, gêneros de texto, tipos de

texto), questões comuns à AD e à LT” (ADAM, 2010, p. 9). Dessa maneira, a autonomia do nível textual, segundo Coseriu (apud ADAM, 2010, p. 9), justifica-se porque “só o fato de

existir uma classe de conteúdo que é propriamente um conteúdo textual, ou conteúdo dado

através dos textos”, por si só, já garante a autonomia do nível textual.

(25)

plano discursivo ou externo ao texto, os quais, de acordo com o esquema 4, configuram-se na ação visada, na interação social, na formação sociodiscursiva e no interdiscurso.

Segundo Adam (2011, p. 63-64, grifos do autor), a Linguística Textual

[...] tem como papel, na análise de discurso, teorizar e descrever os encadeamentos de enunciados elementares no âmbito da unidade de grande complexidade que

constitui um texto. Ela tem como tarefa detalhar as “relações de interdependência”

que fazem de um texto uma “rede de determinações” (WEINRICH, 1973, p. 74). A linguística textual concerne tanto à descrição e à definição das diferentes unidades como às operações, em todos os níveis de complexidade, que são realizadas sobre os

enunciados [...] As unidades textuais são submetidas a dois tipos de operações de

textualização. Por um lado, elas são separadas por segmentação (tipográfica na escrita; pausa, entonação e/ou movimento dos olhos e da cabeça, na oralidade). [...] por outro lado, essas unidades textuais são, com base nas instruções dadas pelas marcas de segmentação e por diversos marcadores [...], vinculadas entre elas pelas operações de ligação, que consistem na construção de unidades semânticas e de processos de continuidade pelos quais se reconhece um segmento textual.

Assim, afirmamos que as reflexões postas pelo autor sobre a materialidade discursiva e a análise textual levam, por consequência, à necessidade de a ATD apresentar mecanismos que objetivem delimitar meios para o trabalho com textos, assim como manifestem coerência metodológica ao fazê-lo. Nesse sentido, Adam (2011) expressa claramente que as relações de significado vão construindo unidades mais complexas, as chamadas sequências ou períodos, que, por sua vez, são responsáveis pelo estabelecimento do plano de texto, isto é, o ordenamento dos conteúdos proposicionais que compõem o texto.

A proposta teórica constituída por Adam (2011) sobre a ATD é relevante porque funda o entendimento do texto enquanto circunscrito em um discurso – caracterizado por uma formação sociodiscursiva, pela interação autor/leitor, por objetivos e por um gênero determinado, representando a possibilidade de articular o texto e o discurso em que pese o intento da eficácia da interpretação do(s) sentido(s) do texto. Assim, podemos afirmar que a ATD analisa o texto considerando o seu comportamento discursivo.

Dessa maneira, a articulação entre dois campos de saberes, implica, para Adam (2011), abordar a LT como subdomínio da AD, pois, enquanto esta é mais ampla e externa ao texto, aquela aborda elementos internos constituintes do texto.

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Esquema 4 – Níveis ou planos da Análise do Discurso

Fonte: Adam (2011, p. 61).

Observamos no esquema dois conjuntos que, de forma associada, constituem a proposta da ATD. O autor nomeia o conjunto maior de “níveis ou planos de análise de

discurso”. O conjunto maior inclui os elementos de análise externos e internos ao texto,

inclusive os níveis do plano textual – elementos de textura, estrutura composicional, semântica, enunciação e atos de discurso. O conjunto menor, inserido no primeiro plano de análise, que forma a base do esquema, é reservado exclusivamente à análise textual, i. e.,

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Em relação às categorias de análise de textos, o autor inicia uma discussão e faz uso das palavras de Culioli (1984, p. 10 apudADAM, 2011, p. 74) ao afirmar que “o texto escrito

força-nos, de forma exemplar, a compreender que não se pode passar da frase (fora da prosódia, do contexto, da situação) ao enunciado, por um procedimento de extensão. De fato, trata-se de uma ruptura teórica de consequências incontornáveis”. Ressaltamos que, no

reportado por Adam, Culioli refere-se às questões que envolvem forma x conteúdo, dimensão frasal x dimensão textual.

Asseveramos que para efetuar a passagem da frase, objetivando adentrar nos domínios do período e do transfrasal, vemos razão quando Adam (2011, p. 75) compreende que sobre a

Linguística Textual pesa a tarefa de “definir as grandes categorias de marcas que permitam estabelecer essas conexões que abrem ou fecham segmentos textuais mais ou menos longos”.

É também tarefa da LT estruturar conceitos específicos e buscar definições de classes de unidades entre a língua e o texto. O passar de uma categoria a outra implica mudança do quadro de análise, assim como mudança de classificação. Nesse sentido, o autor oferece como exemplo o caso das conjunções coordenadas (mas, ou, e, pois, entretanto, nem, porque) em relação à classe textual dos conectores.

Assumimos que, seguindo o caminho trilhado por Adam (2011), nosso trabalho de pesquisa insere-se no conjunto pertencente à base do esquema, que considera os níveis de análise textual. Dentro desse quadro, privilegiamos a análise dos elementos correspondentes ao nível 7 (enunciação) – Responsabilidade Enunciativa e coesão polifônica.

Para a ATD, todo texto se constitui a partir da leitura que se lança sobre ele, não sendo algo pronto e definitivo. O sentido é construído quando considerado imerso numa formação sociodiscursiva, na interação entre interlocutores.

Na perspectiva da ATD, destaca-se como um dos pontos principais a noção de proposição-enunciado como a unidade textual básica de análise, a qual passaremos a examinar.

1.2 A UNIDADE TEXTUAL ELEMENTAR: A PROPOSIÇÃO-ENUNCIADO

(28)

De acordo com Adam (2011), a proposição-enunciado manifesta-se como a menor unidade de sentido que pode ser encontrada num texto. Dessa maneira, o referido autor desenvolve uma reflexão no que concerne às noções de frase e de período, passando, assim, a diferenciá-las. Para Adam (2011, p. 104), “a noção de frase dificilmente pode ser mantida

como unidade de análise textual. Ela é, certamente, uma unidade de segmentação tipográfica pertinente, mas sua estrutura sintática não apresenta uma estabilidade suficiente”. Ele

continua afirmando que a frase é uma “unidade gráfica cujos limites são assinalados por uma

maiúscula e um ponto” (ADAM, 2011, p. 107) e, em relação ao período, o autor postula: “em

fazer do período uma unidade textual e rejeitar a frase, que diz respeito ao domínio do sistema

da língua e cujos limites não são verificáveis e cujas descrições são igualmente imprecisas”

(ADAM, 2011, p. 105). Nesse sentido, por uma redefinição de período, afirma que1

a noção de “período”, que foi destacada pelos trabalhos sobre a oralidade do Grupo

de Aix de pesquisa em sintaxe, e a de “parágrafo”, desenvolvida por Marie-Annick

Morel e Laurent Danon-Boileau (1998), não nos servirão para descrever os textos escritos que escolhemos como objeto de estudo. Preferiremos uma abordagem originada na retórica oratória, que apresenta a imensa vantagem de estar ligada à oralização da escrita (o que os antigos chamavam actio) e de ser historicamente anterior à invenção da frase. [...] a noção não se gramaticalizou até o século XVIII. As obras de retórica definiram, então, o período, como uma frase complexa, cujo conjunto forma um “sentido completo” e no qual cada proposição constitui um membro, o último formando um fechamento (ADAM, 2011, p. 209-210).

[...]

uma terminologia metalinguística que permita descrever uma complexidade de unidades mínimas das quais a gramática não permite, por si só, dar conta. Temos necessidade, metalinguisticamente, de uma unidade textual mínima que marque a natureza do produto de uma enunciação (enunciado) e de acrescentar a isso a designação de uma microunidade sintático-semântica (a que o conceito de proposição atende, finalmente, bastante bem). Ao escolher falar de proposição-enunciado, não definimos uma unidade tão virtual como a proposição dos lógicos ou a dos gramáticos, mas uma unidade textual de base, efetivamente realizada e produzida por um ato de enunciação, portanto, como um enunciado mínimo (ADAM, 2011, p. 106).

Disso resulta que o autor acredita que conceitualmente e na prática de uma análise textual discursiva, que não há espaço para a frase enquanto unidade de análise, e, assim, com base na noção de período retórico, desenvolve o conceito de proposição-enunciado, enquanto unidade textual mínima.

1 Adam se refere, nessa citação, aos textos que ao longo da obra são analisados, pertencentes à escrita oralizada,

(29)

Para a ATD, o período é pensado como “os conjuntos mais ou menos complexos de enunciados que entram na composição textual” (ADAM, 2011, p. 106) e que levam em conta tanto relações rítmicas quanto lógico-gramaticais.

É, portanto, nesse contexto que o autor acompanha o raciocínio de Gardes-Tamine (apud ADAM, 2011, p. 105) no que se refere ao fato de que a noção de frase é muito pouca

precisa, pois “fala-se em frase simples, complexa, frase verbal, sem verbo [...] mas discorda quanto às noções empregadas pela autora no que concerne às noções de proposição e de enunciado”. Para ele, a proposição-enunciado consegue dar conta de uma proporção de texto de forma mais definida.

Nos termos de Adam (2011), a noção de proposição-enunciado é definida como “o produto de um ato de enunciação”, acrescentando:

Toda proposição-enunciado compreende três dimensões complementares, às quais se acrescenta o fato de que não existe enunciado isolado: mesmo aparecendo isolado, um enunciado elementar liga-se a um ou a vários outros e/ou convoca

outros em resposta ou como simples continuação. Essa condição de ligação é, em

grande parte, determinada pelo que chamaremos de orientação argumentativa (ORarg) do enunciado. As três dimensões complementares de toda proposição enunciada são: uma dimensão enunciativa [B] que se encarrega da representação

construída verbalmente de um conteúdo referencial [A] e dá-lhe uma certa

potencialidade argumentativa [ORarg] que lhe confere uma força ou valor ilocucionário [F] mais ou menos identificável (ADAM, 2011, p. 109, grifos do autor).

Em relação à microunidade de análise, Adam (2011) afirma que deve portar, simultaneamente, um caráter textual e enunciativo. Assim, na concepção do autor, o termo proposição garante a ideia de que se adota um critério sintático-semântico na definição da unidade textual mínima e a noção de enunciado marca a dimensão enunciativa da microunidade. Ademais, de acordo com Adam (2011), toda proposição-enunciado porta três dimensões – enunciativa, referencial e argumentativa –, que, por sua vez, são articuladas entre si e complementam-se de forma dinâmica.

Inicialmente, discutiremos sobre a dimensão enunciativa. Essa dimensão, também denominada por Adam de ponto de vista (PdV), viabiliza o estudo da RE e “permite dar conta

(30)

Na sequência, temos a dimensão referencial, a qual dá conta das questões atinentes à representação discursiva (Rd), interpretada a partir do conteúdo proposicional:

Toda proposição enunciada possui um valor descritivo. A atividade discursiva de referência constrói, semanticamente, uma representação, um objeto de discurso comunicável. Esse microuniverso semântico apresenta-se, minimamente, como um tema ou objeto de discurso posto e o desenvolvimento de uma predicação a seu respeito. [...] É o interpretante que constrói a Rd a partir dos enunciados (esquematização), em função de suas próprias finalidades (objetivos, intenções) e de suas representações psicossociais da situação, do enunciador e do mundo do texto, assim como de seus pressupostos culturais. [...] Com a escolha da expressão “construção de uma representação discursiva”, pretende-se dar a entender que a linguagem faz referência e que todo texto é uma proposição de mundo que solicita do interpretante [...] uma atividade semelhante, mas não simétrica, de (re)construção dessa proposição de (pequeno) mundo ou Rd (ADAM, 2011, p. 113-114).

Nesse caso, a Representação discursiva (Rd) refere-se ao fato de que, sabendo-se que a comunicação é falha, uma vez que não se diz textualmente todas as coisas, podem os sujeitos

fazer referência ao “mundo, às palavras, à própria situação de enunciação e aos coenunciadores” (ADAM, 2011, p. 115).

Por fim, colocamos em destaque a dimensão argumentativa da microunidade, que é a dimensão indicativa de que a enunciação dá ao conteúdo referencial “uma certa potencialidade argumentativa [ORarg] que lhe confere uma força ou valor ilocucionário [F]

(31)

Esquema 10 - Responsabilidade enunciativa da PdV

Fonte: Adam (2011, p. 111).

Nesse sentido, o autor expõe as articulações existentes entre a Rd, a RE, enquanto PdV, e a ORarg, que se encontram na atividade enunciativa e dela não se separam. Para tanto, afirma:

Toda representação discursiva [Rd] é a expressão de um ponto de vista [PdV]

(relação [A] – [B]) e que o valor ilocucionário derivado da orientação

argumentativa é inseparável do vínculo entre o sentido de um enunciado e uma atividade enunciativa significante (relação [C1] – [B]). Enfim, o valor descritivo de um enunciado [A] só assume sentido na relação com o valor argumentativo desse enunciado [C1]. O sentido de um enunciado (o dito) é inseparável de um dizer, isto é, de uma atividade enunciativa significante que o texto convida a (re)construir (ADAM, 2011, p. 113).

(32)

Ademais, as referidas ligações agrupam-se em níveis mais complexos que compõem um todo não diretamente correspondente à soma de suas partes. Adam indica dois tipos de agrupamento de proposições-enunciado, os períodos e as sequências.

Os períodos, para o autor, são frouxamente tipificados. Já as sequências configuram-se como unidades mais complexas e tipificadas que os períodos.

As sequências são unidades textuais complexas, compostas de um número limitado de conjuntos de proposições-enunciados: as macroproposições. A macroproposição é uma espécie de período cuja propriedade principal é a de ser uma unidade ligada a outras macroproposições, ocupando posições precisas dentro do todo ordenado da sequência. Cada macroproposição adquire seu sentido em relação às outras, na unidade hierárquica complexa da sequência (ADAM, 2011, p. 204).

A sequência é vista como uma estrutura composta por partes que se relacionam entre si e se ligam ao todo, formando uma rede relacional hierárquica. Desse modo, a visão cognitivo-semântica empregada às sequências dá conta de um caráter pragmático no que se refere à ATD.

Passaremos, agora, a tratar do tópico Responsabilidade Enunciativa, uma das dimensões constitutivas da microunidade, nosso foco de trabalho.

1.3 A RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA

1.3.1 A(s) noção(ões) que abriga(m) a Responsabilidade Enunciativa

Trataremos, nesta seção, de examinar a(s) noção(ões) que dão conta da Responsabilidade Enunciativa, assim como situaremos o nosso campo de pesquisa. Para tanto, subsidiar-nos-emos em vários autores, entre eles Coltier, Dendale e De Brabanter, A. Culioli, J.B. Grize, Henning Nølke e a ScaPoLine (Nølke, Fløttum, Noren), J.M. Adam e Rabatel, o que permitirá trazer os vários estudos e promover o diálogo e a sua interpretação.

Para Coltier, Dendale e De Brabanter (2009), a RE configura-se no discurso linguístico por meio de expressões como responsabilizar-se, responsabilização e suas

extensões negativas, como (não) responsabilizar-se, (não) responsabilização. A partir desses

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da linguística da enunciação da RE ao citarmos o texto legal referente à Constituição Federal do Brasil de 1988, no seu art. 5º inciso LXVII:

Exemplo 12

Art. 5º

LXVII – não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;

Nesse excerto, percebemos o uso não técnico da locução do responsável, por

considerarmos a utilização da referida locução no sentido genérico do termo. Assim, não há que se perguntar sobre quem é a entidade do dito, porque sabemos que é a norma constitucional, e sobre quem recai a responsabilidade, já que temos consciência de que se trata do devedor de pensão alimentícia e do depositário infiel, os quais, logicamente, são entidades abstratas, pois a lei será aplicada ao caso concreto e, nesse caso específico, o responsável é virtual.

Para Coltier, Dendale e De Brabanter (2009, p. 4),

As locuções levar em consideração, assumir a responsabilidade acham-se

frequentemente utilizadas nos estudos linguísticos que tratam de fenômenos empíricos ligados de uma forma ou de outra à enunciação: atos de linguagem (asserção, interrogação), modalidade e modalização, evidencialidade e mediação, discurso direto, modalização autonímica (e.a. aspas de distanciamento), polifonia enunciativa, argumentação, pressuposição, expressões de enquadramento (conforme N,...) etc., isso em quadros teóricos bem diversos (teorias da “semântica da verdade”, do sentido, teorias da polifonia e do dialogismo, teoria universal das crenças, teoria dos atos da linguagem, teoria das operações enunciativas, teoria dos blocos semânticos), para não citar apenas aqueles em que retomamos o conceito

(COLTIER; DENDALE; DE BRABANTER, 2009, p. 4).3

Dessa maneira, observamos que por uma abordagem enunciativa da RE expressa pelo PDV, objeto teórico que se encontra inserido no quadro mais amplo das teorias polifônicas e dialógicas, juntam-se os fenômenos empíricos listados pelos autores. Assim, ao propormos o estudo da RE, tornamos evidentes as relações entre os referidos fenômenos pela escolha de

2 Os exemplos se encontram numerados em ordem crescente, tanto os que transcrevo de autores como os dos

meus dados. 3 Les locutions

(34)

nossas categorias de análise, os diferentes tipos de representação da fala e as indicações de quadros mediadores.

Para os autores, outros empregos dessas expressões do discurso linguístico são nomeados como empregos técnicos e, mais particularmente, enunciativos, para distingui-los

do emprego utilizado no excerto acima, que não possui relação direta com as problemáticas enunciativas.

Na sequência, ilustramos com os exemplos (2) e (3) quando as locuções

responsabilizar-se e responsabilização assumem um interesse enunciativo de investigação:

2)

A constituição da República Federativa do Brasil também é clara a respeito do tema,

devendo a família ser responsável por garantir assistência ao menor [...] (PI 3).

3)

Os PAIS do Requerido, senhor xxxxxx e a senhora xxxxx, se comprometeram aassumir as responsabilidades de alimentar a Requerente, alegando que o Requerido xxxxx estava sem emprego. Na verdade, começaram a ajudar nos primeiros meses, mas, sem nenhuma motivo aparente e sem justificativa plausível, há cerca de 02 (dois) meses não mais honraram com o prometido (PI 9).

Como percebemos, o uso técnico da locução ser responsável é aplicado nesses

excertos, uma vez que, em (2), o locutor não se responsabiliza pelo dito e atribui ao texto constitucional a RE, pois, através do uso do verbo modal “devendo”, com valor epistêmico,

pode ser considerado um marcador mediativo4, pois configura uma expressão indicando que a informação transmitida nesse enunciado foi retomada pelo locutor a outrem.

Em (3), a instância que se responsabiliza pelo que é enunciado segue o quadro de

referência do dictum. Assim, o locutor se refere ao dito “alegando que” atribui aos “pais do

requerido” a RE, sendo eles fonte da informação primeira. Dessa maneira, inferimos que o locutor não é a fonte e que essa informação chegou até ele de forma mediata, como atesta o

uso do tempo verbal do pretérito perfeito “se comprometeram”, e que, nos termos de Rabatel (2009a), tanto (2) como (3) constituem-se em imputação da responsabilidade, i. e.,

configuram-se em uma “quase-responsabilidade”, expressando, dessa forma, respectivamente em PDV assertado e PDV narrado. Assim, em (3), a RE é do discurso citante (L1/E1), que

(35)

reporta se referindo a vozes externas que assumiram civilmente as responsabilidades de alimentar.

Nesse sentido, buscaremos, em seguida, oferecer uma explanação acerca das reflexões teóricas e aplicações empíricas do conceito de Responsabilidade Enunciativa, a fim de apresentar um quadro contextual, estado da arte assim como explicitar o trato e a compreensão que são dados ao termo em nossa tese.

Antoine Culioli é pioneiro no estudo do conceito da Responsabilidade Enunciativa. Para Coltier, Dendale e De Brabanter (2009, p. 7), em um texto de 1971 sobre a modalidade, publicado na enciclopédia ALFA, Culioli se refere à noção de RE sem defini-la. Dessa maneira, os referidos autores construíram uma hipótese de leitura objetivando conceituar a RE, postulando dois possíveis entendimentos que contemplem o termo. São eles:

I – O estabelecimento de uma relação entre os conceitos de enunciação e de Responsabilidade Enunciativa,tendo em vista que, para Culioli, “toda a enunciação supõe uma RE do enunciado por um enunciador” (CULIOLI, 1971a, p. 4031).5

Por esse viés, podemos afirmar que a RE é posta como condição necessária da enunciação e distinta desta, visto que a enunciação supõe a RE, o que implica a existência em todo enunciado de uma proposição ou dictum ou “um enunciado que ainda não foi afirmado”.

Assim, para Coltier; Dendale; De Brabanter (2009, p. 8), na teoria construída por Culioli, a Responsabilidade Enunciativa consiste na tomada de uma atitude, isto é, na escolha de modalidade, e tem por objeto a lexis. Seguindo esse raciocínio, os autores explicitam que

“a enunciação supõe a RE, o contrário não é verdade: é teoricamente possível de se

responsabilizar, fazer uma escolha de modalidade, sem anunciar, no sentido de ‘dizer’ ou ‘escrever’” (COLTIER; DENDALE; DE BRABANTER, 2009, p. 8).6

Nesse sentido, a RE apresenta-se anterior à enunciação, sendo a primeira de ordem cognitiva, não estritamente enunciativa, o que a distingue também da modalização que passa a existir apenas no ato da enunciação.

II – Referente à modalidade. Culioli (1971a, p.4031) indica quatro ordens de modalidades:

5Toute énonciation suppose une prise en charge de l’énoncé par un énonciateur” (CULIOLI, 1971a, p. 4031). 6 “l’énociation

suppose la prise en charge, l’inverse n’est pas vrai: il est en théorie possible de prendre en charge – de faire un choix de modalité – sans énoncer, au sens de “dire” ou “écrire” (grifos dos autores)

(36)

Poderemos, pela comodidade do que foi exposto, distinguir quatro ordens de modalidades, contanto que se lembre que temos uma causa com a estrutura complexa que não pode ser reduzida a um simples catálogo:

- Categorias da asserção (afirmação, negação, interrogação);

- Categorias do certo/não certo, provável, necessário, possível, contingente; - Apreciações, tais como: ele está triste, alegre, estranho, claro que;

- Valores complexos que dependem da relação entre sujeitos [...]. (CULIOLI, 1971a, p. 4031)7

Ora, refletindo sobre o exposto por Culioli (1971a) Coltier; Dendale; De brabanter (2009, p. 9) interpretam que:

Se a Responsabilidade Enunciativa suposta pela enunciação consiste, “antes” da enunciação, em efetuar a lexis da modalidade, nenhuma ordem de modalidade é excluída da RE. Um enunciado interrogativo (enunciado efetivo e não lexis) deve ser dito PEC porque ele é afirmação (no sentido amplo) e uma asserção no sentido

amplo é uma enunciação[…] (COLTIER; DENDALE; DE BRABANTER, 2009, p.

9).8

Sendo assim, para os citados autores, a RE possui dois sentidos: um sentido amplo, designando a operação cognitiva que concede modalidade à lexis, e um sentido estrito, instituindo uma função de valor de verdade à lexis.

Segundo Coltier; Dendale; De brabanter (2009) Culioli, em texto de 1980, propõe a PEC como operação enunciativa, em que se responsabilizar é reformulado para dizer “o que

acreditamos ser verdade”, sendo determinado como uma operação enunciativa (dizer); o objeto de dizer é um estado mental, uma convicção, é o que acreditamos que é, cujo conteúdo concerne à verdade. Nesse sentido, entendemos que a Responsabilidade Enunciativa é associada à asserção.

Continuando o raciocínio, os autores afirmam que há, entre os textos de 1971 e de 1980, uma nítida mudança, não de concepção, mas do status dado à RE na teoria – ela passa

de operação cognitiva à operação enunciativa.

7

On pourra, pour la commodité de l’exposé, distinguer quatre ordres de modalités, à condition de se souvenir qu’on a affaire à une structure complexe qui ne peut être réduite à um simple catalogue:

- Catégories de l’assertion (affirmation, négation, interrogation)

- Catégories du certain/non certain, probable, nécessaire, possible, contingent - Appréciatifs tells que il est malheureux, heureux, étrange, clair que;

-Valeurs complexes qui dependente de relations entre sujets [...]. (CULIOLI, 1971a, p. 4031)

8

Si la prise en charge supposée par l’énonciation consiste, “avant” énonciation, à affecter la lexis de modalités, aucun ordrede modalité n’est exclu de la prise en charge. Un énoncé interrogatif (énoncé effectif et non lexis), et

(37)

Nos trechos que seguem de Culioli de 1990 e 1997 observamos a relação estabelecida no que concerne à Responsabilidade Enunciativa vista como engajamento:

Quando produzimos um enunciado, construímos uma relação predicativa que designa uma representação. Essa relação predicativa não é nem verdadeira nem falsa. Para se tornar um enunciado, o qual poderemos dizer que ele é verdadeiro ou falso (asserção), será preciso que essa relação predicativa esteja situada em um espaço enunciativo munido de um sistema de coordenadas variáveis (eu me esquivo dessas alusões técnicas). A relação predicativa é situada em relação a uma declaração subjetiva (um sujeito enunciador, que se responsabiliza, se engajará, ficando desconfiado da asserção). Em uma asserção, no sentido estrito do termo, temos uma tomada de decisão que podemos caracterizar como a seguir: eu tenho a dizer que eu sei (eu creio) que p é verdade (Culioli 1990, p. 43).

[voltemos] ao esquema constitutivo da asserção. Esta última assume (1) um

engajamento, uma responsabilização (eu tenho á, eu quero), (2) uma materialização

(dizer, escrever, enfim fazer existir de forma perceptível), (3) uma instância de representação (segundo o caso, eu penso, eu creio, eu sei), (4) uma representação, ou seja, uma ocorrência conceitual que o enunciador situa em relação a um espaço de referência (“que ele aceitou, é o caso”). Resumindo, obtemos tenho que dizer o que penso (etc.) que < p >é o caso. (CULIOLI, 1999, p. 96)9

Assim, como em 1971, a Responsabilidade Enunciativa continua conectada à transformação da lexis no enunciado. Observemos o seguinte texto de Culioli e Normand (2005, p. 166-167):

“CULIOLI: e quando eu digo, em seguida, o que é a asserção e o que há nela: eu tenho de dizer, ou seja, tornar público, o que eu sei, o que acredito, o que penso (é um retorno a validação) que tal coisa é o caso, se não existi uma teoria do engajamento em seu interior, gostaria de saber o que é uma asserção! Sou levado a

definir a afirmação estrita: Eu, enquanto sujeito, sujeito, ou seja, fonte subjetiva... [...]

CULIOLI: fonte das minhas palavras, em um campo Intersubjetivo, no interior de uma relação institucional, referente a um certo número de fenômenos, digo - e, dizendo eu não faço nada a mais que dizer, são apenas palavras, me empenho enquanto sujeito responsável pelo o que eu digo - digo que eu sei, eu penso, eu creio, que tal coisa é o caso. [...]

9 Quand nous produisons un énoncé, nous construisons une relation précative qui désigne une representation. Cette relation predicative n’est ni vraie, ni fausse.Pour devenir um énoncé dont on pourra dire qu’il est vrai ou faux (assertation), il faudra que cette relation prédicative soit situéedans un espace énonciatif muni d’un système

de coordonnées paramétré (je m’excuse de ces allusions techniques). La relation prédicative est située par rapport à un repère subjectif (un sujet énonciateur, qui prendra en charge - s’engagera en se portant garant – l’assertion). Dans une assertion, au sens strict du terme, on a une prise de position que l’on peut caractériser comme suit: “je tiens à dire que je sais (je crois) que p est vrai (Culioli 1990, p. 43).

[remontons] au schéma constitutif de l’assertion. Cette dernière comport (1) un engagement, un prise em charge (je tiens à, je veux), (2) une matérialisation (dire, écrire, bref faire exister de façon perceptible), (3) une instance de représentation (selon le cãs, je pense, je crois, je sais), (4) une représentation, c’est-à-dire une

Referências

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