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REVISTA
PAULISTA
DE
PEDIATRIA
ARTIGO
ORIGINAL
Material
particulado
fino
estimado
por
modelo
matemático
e
internac
¸ões
por
pneumonia
e
asma
em
crianc
¸as
Ana
Cristina
Gobbo
César
a,
Luiz
Fernando
Costa
Nascimento
b,∗,
Katia
Cristina
Cota
Mantovani
be
Luciana
Cristina
Pompeo
Vieira
baInstitutoFederaldeEducac¸ão,CiênciaeTecnologiadeSãoPaulo,Braganc¸aPaulista,SP,Brasil
bDepartamentodeEnergia,UniversidadeEstadualPaulistaJúliodeMesquitaFilho,Guaratinguetá,SP,Brasil
Recebidoem3demarçode2015;aceitoem16dejunhode2015 DisponívelnaInternetem9deoutubrode2015
PALAVRAS-CHAVE
Asma; Pneumonia; Poluentesdoar; Materialparticulado; Saúdedacrianc¸a; Modelosmatemáticos
Resumo
Objetivo: Estimar aassociac¸ão entre exposic¸ão ao material particulado fino comdiâmetro
aerodinâmicoinferiora2,5 micra(PM2.5)easinternac¸õesporpneumoniaeasmaemcrianc¸as.
Métodos: Estudoecológicodesériestemporaiscomindicadoresdiáriosdeinternac¸ãopor
pneu-moniaeasma,em crianc¸ascomaté10 anos, residentesem Taubaté(SP), econcentrac¸ões
estimadasde PM2.5,entre agostode 2011ejulho de2012. Modelo aditivo generalizadode
regressãodePoissonfoiusadoparaestimaroriscorelativo,comdefasagemdezeroatécinco
diasapósaexposic¸ão;omodelounipoluentefoiajustadopelatemperaturaaparente,medida
definidaapartirdatemperaturaeumidaderelativadoar,sazonalidadeediadasemana.
Resultados: Osvaloresdosriscosrelativosparainternac¸õesporpneumoniaeasmaforam
sig-nificativosparalag0(RR=1,051;IC95%1,016-1,088);lag2(RR=1,066;IC95%1,023-1,113);lag
3(RR=1,053;IC95%1,015-1,092);lag4(RR=1,043;IC95%1,004-1,088)enolag5(RR=1,061;
IC95%1,018-1,106).Oincrementode5mcg/m3dePM
2.5contribuiparaaumentonorisco
rela-tivoparainternac¸õesentre20,3a38,4pontospercentuais;noentanto,adiminuic¸ãode5g/m3
naconcentrac¸ãodoPM2.5resultaemmenos38 internac¸ões.
Conclusões: Aexposic¸ãoaoPM2.5esteveassociadaàsinternac¸õesporpneumoniaeasmaem
crianc¸asmenoresde10anos,mostrouopapeldomaterialparticuladofinonasaúdedacrianc¸ae
forneceusubsídiosparaimplantac¸ãodemedidaspreventivasparadiminuíremessesdesfechos.
©2015SociedadedePediatriadeSãoPaulo.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Esteéumartigo
OpenAccesssobalicençaCCBY(https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt).
DOIserefereaoartigo:http://dx.doi.org/10.1016/j.rppede.2015.12.005 ∗Autorparacorrespondência.
E-mail:luiz.nascimento@pq.cnpq.br(L.F.C.Nascimento).
KEYWORDS
Asthma; Pneumonia; Airpollutants; Particulatematter; Childhealth;
Mathematicalmodels
Fineparticulatematterestimatedbymathematicalmodelandhospitalizationsfor pneumoniaandasthmainchildren
Abstract
Objective: Toestimatetheassociationbetweenexposuretofineparticulatematterwithan
aerodynamicdiameter<2.5microns(PM2.5)andhospitalizationsforpneumoniaandasthmain
children.
Methods: Anecologicalstudyoftimeserieswasperformed,withdailyindicatorsof
hospitali-zationforpneumoniaandasthmainchildrenupto10yearsofage,livinginTaubaté(SP)and
estimatedconcentrationsofPM2.5,betweenAugust2011andJuly2012.Ageneralizedadditive
model ofPoisson regressionwas usedtoestimatetherelative risk,withlagzerouptofive
daysafterexposure;thesinglepollutantmodelwasadjustedbytheapparenttemperature,as
definedfromthetemperatureandrelativeairhumidity,seasonalityandweekday.
Results: Thevaluesoftherelative risksforhospitalizationfor pneumoniaandasthmawere
significantforlag0(RR=1.051,95%CI;1.016to1.088);lag2(RR=1.066,95%CI:1.023to1.113);
lag 3(RR=1.053,95%CI:1.015 to1.092);lag4(RR=1.043, 95%CI:1.004 to1.088)andlag 5
(RR=1.061,95%CI:1.018to1.106).Theincreaseof5mcg/m3inPM
2.5contributestoincrease
therelativeriskforhospitalizationfrom20.3to38.4percentagepoints;however,thereduction
of5g/m3inPM
2.5concentrationresultsin38fewerhospitaladmissions.
Conclusions: ExposuretoPM2.5wasassociatedwithhospitalizationsforpneumoniaandasthma
inchildrenyoungerthan10yearsofage,showingtheroleoffineparticulatematterinchild
healthandprovidingsubsidiesfortheimplementationofpreventivemeasurestodecreasethese
outcomes.
©2015SociedadedePediatriadeSãoPaulo.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Thisisanopen
accessarticleundertheCCBYlicense(https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/).
Introduc
¸ão
A poluic¸ãodo ar temsido associada ao aumento norisco demorte,doenc¸ascrônicase,principalmente,doenc¸as res-piratórias em crianc¸as.1-4 Tal achado pode ser explicado
pelaimaturidadedosistemarespiratório, poiso
desenvol-vimento dos pulmões é progressivo e contínuo até os 10
anos,5 assimcomopeloaumentodaemissãodepoluentes
naatmosfera.6,7
Estudo feito em 20 cidades localizadas em duas
dife-rentes regiões da Califórnia (EUA) sugeriu que o nível
de exposic¸ão ao material particulado fino com menos de
2,5 micra de diâmetro aerodinâmico (PM2.5) em crianc¸as
entre um e nove anos está associado ao aumento de
hospitalizac¸õescausadasporinfecc¸õesrespiratóriasaguda,
comoapneumoniaeaasma.8
Dados doMinistério daSaúderelatam maisde570 mil
internac¸õesem2011referentesacrianc¸ascomaté10 anos,
quegeraramumadespesademaisde400 milhõesdereais
noBrasil.NoestadodeSãoPauloforamcercade100 mil
internac¸õescomdespesadecercade85milhõesdereais.9
Apneumonia eaasmasãodoenc¸asdecaráter
multifa-torial. Os fatores de risco mais comumente associados à
suaocorrência sãoo baixo peso ao nascer, apresenc¸a de
fumantesnaresidência, afalta dealeitamentomaternoe
a exposic¸ãoa poluentes doar.4,7,10,11 Especificamente nos
casosdeasma,otráfegoveicular,particularmentede
veí-culospesados,pareceserimportante.3
Dentreospoluentesdoar,tantoosgeradosporqueima
debiomassacomoosgeradosporfontesmóveis,implicados
comasinternac¸õespordoenc¸asrespiratóriasemcrianc¸as,
sedestacao materialparticuladocommenosde10 micra
dediâmetroaerodinâmicoe,dentreessematerial,afrac¸ão
commenosde2,5 micra dediâmetroaerodinâmico. Essa
frac¸ão,chamadadeparticuladofino,temumdiâmetroque
variaentre0,1me2,5m(PM2.5)erepresentaentre60%e
70%dototaldomaterialparticulado.12Comousoda
regres-sãologísticaidentificou-seaassociac¸ãoentreaexposic¸ãoao
PM2.5eo aumentodoriscodeinternac¸ão porbronquiolite
infantil(OR=1,09;IC95% 1,04-1,14)emumestudofeitona
Califórnia.13
Omaterialparticuladofinoédiretamenteemitidopela
combustão de carvão, óleo, gasolina e madeira. É
tam-bém formado secundariamente de precursores gasosos. É
composto principalmente por sulfatos, nitratos, cloreto,
compostosdeamôniaecarbonoorgânicoeelementaralém
demetais.Podepermanecermuitotempona atmosferae
percorrerlongasdistânciaseatingirporc¸õesmaisprofundas
dotratorespiratório.14
Ospoluentesparticuladoscommaiordiâmetrosão
reti-dos nas vias aéreas superiores, enquanto os de menor
diâmetro chegam até os alvéolos.5 Nos pulmões, essas
partículas são fagocitadas pelos macrófagos alveolares e
removidas pela ac¸ão dos cílios e do sistema linfático.15
Entretanto, as altas concentrac¸ões de oxidantes e
pró--oxidantes contidos nos materiais particulados podem
provocaraformac¸ãoderadicaislivres,iniciarumaresposta
inflamatóriacomaliberac¸ãodecélulasemediadores
infla-matórios, provocar uma inflamac¸ão subclínica do sistema
respiratório.16
No caso do PM10, sua quantificac¸ão costuma ser feita
estaduais; por outro lado, o PM2.5 conta com poucas
estac¸ões medidoras no Estado de São Paulo. Entretanto,
estudos que usaram concentrac¸ões estimadas de alguns
poluentes do ar, dentre eles, o PM2.5, disponibilizadas
pelo modelo matemático Chemical Coupled Aerosol and
Tracer Transport Model to the Brazilian Developments on
theRegionalAtmosphericModelingSystem (CCATT-BRAMS)
têmsidousadosna avaliac¸ãodos efeitosdaexposic¸ãoaos
poluentesdoar.17,18Ousodedadosestimadostorna-seuma
opc¸ão,nocasodecidadesondenãoháestac¸õesmedidoras
decertosouquaisquerpoluentes.11,19
O objetivo deste estudo foi avaliar o papel do PM2.5
estimadopormodelomatemático,nasinternac¸õespor
pneu-moniaeasmaemcrianc¸ascomaté10 anos,residentesem
Taubaté(SP),quenãotemestac¸ãomedidoradessetipode
poluente.
Método
Estudoecológicodesériestemporaiscomindicadores diá-riosdeinternac¸ãopordoenc¸asrespiratórias(CID10:J12.0 aJ18.9;J45.0;J45.1;J45.8;J45.9eJ46),emcrianc¸ascom até10 anoseresidentesemTaubaté(SP),de1◦ deagosto de2011 a31dejulhode2012.Essesdadosforamobtidos doDepartamentodeInformac¸õeseInformáticadoSistema Únicode Saúde9 (Datasus), alémdo valor médio de cada
internac¸ãoporessasdoenc¸as.Tambémforamcalculadasas
médiasdiáriasestimadasdemonóxidodecarbono(COem
ppb),óxidosdenitrogênio(NOxemg/m3)ematerial
par-ticuladofino (PM2.5 em g/m3)e o máximode oito horas
para o ozônio (O3 em g/m3) obtidos do sistema
CCATT--BRAMS.17
Os dadosde temperatura e umidade foramfornecidos
pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec-Inpe)
e, a partir deles, foi calculada a temperatura aparente,
que é func¸ão datemperatura e umidade. A temperatura
aparente consideraa experiência fisiológica daexposic¸ão
combinadadaumidadeetemperaturaepermiteavaliarcom
maioreficiênciaarespostadessasvariáveissobreasaúdedo
indivíduo.20
Variáveisrelacionadasatemperaturaaparente,
sazonali-dadeeefeitosdecalendário(diadasemana)foramincluídas
paraajustaromodelo.
Taubatéfica noVale doParaíbapaulista, a 120 km da
capitaldoestado,nascoordenadas22◦45′Se45◦30′W,com
umapopulac¸ãode300 milhabitantes, numterritóriocom
poucomaisde625km2.Contacomumimportanteparque
industrialcomindústrias automobilísticaesiderúrgica.21 É
cortada pelaVia Dutra, que liga asduas maiores cidades
doBrasilerecebeumafrotadeaproximadamente200mil
veículos.21
Paraavaliaraspossíveiscorrelac¸õesentreasinternac¸ões
eosníveis estimados dePM2.5 usou-se otestecoeficiente
decorrelac¸ãodePearson.Comoosefeitosdaexposic¸ãoaos
poluentesambientaispodemacarretarinternac¸ãonomesmo
diaouemdiasposteriores,foraminvestigadososefeitosno
aparelhorespiratórionodiadainternac¸ão(lag0)etambém
noscincodiassubsequentes(lag1alag5).Usou-seomodelo
aditivogeneralizadoderegressãodePoisson,poiso
desfe-choéumavariávelquantitativadiscreta.Osresultadosdo
Tabela1 Análisedescritivadospoluentesdoare
tempe-raturaaparente(TA◦C).Taubaté,SP,2011-2012
Média(dp) Mínimo-máximo
CO(ppb) 119,1(39,3) 33,3---281,3
O3(g/m3) 36,4(16,2) 10,5---98,0
Nox(g/m3) 2,1(1,7) 0,2---15,8
PM2,5(g/m3) 15,4(3,8) 11,5---41,3
TA 20,7(3,8) 7,2---36,4
riscodeinternac¸ãosereferemàexposic¸ãoaoPM2.5ajustado
portemperaturaaparente,sazonalidadeedia dasemana. Usou-seoprogramaStatisticav7paraasanálises.
Osefeitos estimados são os riscos relativos (RR), cor-respondentes ao incremento de 5g/m3 de PM
2.5. Para
interpretar os resultados, os RR foram convertidos para aumentos percentuais do risco de internac¸ão (ARI). Foi aplicadaa expressãoARI=[exp (*pol)-1]*100,o
coefi-cienteobtidodaregressãodePoissonepolavariac¸ão,em g/m3,aseracrescentadanaconcentrac¸ãodopoluenteem
análise.4 Esse aumento permite calculara frac¸ão
atribuí-velpopulacional,istoé,quantasinternac¸õesocorreramem
decorrênciadesseaumento.Foramcalculadososgastoscom
internac¸õesemfunc¸ãodesseaumentonasconcentrac¸õesdo
materialparticuladofino.Oníveldesignificânciade5%foi
adotadoemtodasasanálises.
OpresentetrabalhofoiaprovadopeloComitêdeÉticaem
PesquisadaUniversidadedeTaubaté(Parecern◦ 068/12).
Resultados
Noperíodoavaliado,ocorreram 140internac¸õespor pneu-monia e asma em crianc¸as até 10 anos, residentes em Taubaté(SP).Amédiadiáriadeinternac¸õesfoide0,4±0,7,
com um mínimo de zero e um máximo de quatro.
A concentrac¸ão média diária estimada de PM2.5 foi de
13,2±5,7g/m3eosvaloresmínimoe máximoforam,
res-pectivamente,0,40-41,30g/m3;ultrapassaramolimitede
25g/m3estabelecidopeloDecretoEstadualn◦ 59113/13,22
em oito diasdoperíodoavaliado.Amédia diáriada
tem-peratura aparente foi 20,4±4,0◦C. A análise descritiva
dasvariáveisindependentes(poluentesetemperatura
apa-rente)encontra-senatabela1.
Tabela 2 Matriz de correlac¸ão de Pearson entre as
variáveisinternac¸ões,PM2.5,temperaturaaparente(TA◦C),
sazonalidade(SZ)ediadasemana(DS).Taubaté,SP,
2011-2012
Variáveis Internac¸ões PM2.5 TA◦C SZ DS
Internac¸ões 1
PM2.5 0,21b 1
TA◦C 0,11a 0,52b 1
SZ 0,28b 0,34b 0,32b 1
DS −0,05 0,054 −0,04 −0,01 1
Tabela 3 Valores dos coeficientes e respectivos erros
padrãoparaaexposic¸ãoaoPM2.5,modelounipoluente
ajus-tado pela temperatura aparente, sazonalidade e dia da
semana,segundodefasagens(lag)de0a5dias. Taubaté,
SP,2011-2012
Defasagem(dias) Coeficientes(erropadrão)
Lag0 0,04982(0,01755)
Lag1 0,03527(0,02129)
Lag2 0,06449(0,02154)
Lag3 0,05177(0,01871)
Lag4 0,04434(0,02056)
Lag5 0,05940(0,02100)
Osvaloresemnegritoapontamp<0,05.
A tabela 2apresenta acorrelac¸ãode Pearsonentreas
variáveisdoestudo.Asinternac¸õesporpneumoniaeasma
apresentaram correlac¸ão positiva (p<0,05) com o PM2.5,
sazonalidadeetemperaturaaparente(p<0,01).A
tempera-turaaparenteapresentoucorrelac¸ãopositivacomomaterial
particuladoesazonalidade(p<0,05).Issojustificaousode
taismedidascomovariáveisdeajustenomodelo.
Quanto àregressãodePoisson,aanálisecomomodelo
unipoluente (PM2.5) ajustado pela temperatura aparente,
sazonalidadee dia dasemana, oscoeficientes e
respecti-vos erros padrão obtidos estão apresentadosna tabela 3.
Os efeitos do poluente sobrea saúdedas crianc¸as foram
quantificadospormeiodoriscorelativo(RR),queexpressa
a probabilidadede umindivíduo desenvolveruma doenc¸a
relativaàexposic¸ãoaumfatorderisco.
Os RR e respectivos intervalos de confianc¸a de 95%
que se mostraram significativos, segundo a exposic¸ão ao
PM2.5 e internac¸ão, se referemao lag 0(RR=1,051; IC95%
1,016-1,088); lag 2 (RR=1,066; IC95% 1,023-1,113); lag 3
(RR=1,053; IC95% 1,015-1,092); lag 4 (RR=1,043; IC95%
1,004-1,088)elag5(RR=1,061;IC95%1,018-1,106).Os
ris-cosrelativosecorrespondentes intervalosdeconfianc¸ade
95%paratodososlagsestãoapresentadosnafigura1.
Os aumentos nos riscos relativos com o incremento
de 5g/m3 nas concentrac¸ões de PM
2.5 implicam
aumen-tos entre 20,3 a 38,4 pontos percentuais nos riscos de
internac¸ão. Na figura 2 são observadas as concentrac¸ões
diáriasdoPM2.5duranteoperíododeestudo.
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
–20,0
Lag 0 Lag 1 Lag 2 Lag 3 Lag 4 Lag 5
Figura1 Aumentospercentuaisdosriscosrelativose
corres-pondentesintervalosdeconfianc¸ade95%paratodososlagsapós
incrementode5g/m3nasconcentrac¸õesdePM
2.5.Taubaté,SP,
2011-2012.
45,0
40,0
35,0
25,0
15,0
5,0
0,0
01/08/1
1
01/10/1
1
01/12/1
1
01/02/12 01/04/12 01/06/12 01/08/12 01/10/12 01/12/12 30,0
20,0
10,0
Figura2 Valores diários,em g/m3,das concentrac¸õesdo
poluentePM2.5.Taubaté,SP,2011-2012.
Discussão
Esteestudousoudadosdepoluentesestimadospelosistema CCATT-BRAMS,oqualconsideraadinâmica atmosférica,e demonstrouaassociac¸ãopositivaentreaexposic¸ãoaoPM2.5
easinternac¸õesporpneumoniaeasmaemcrianc¸as residen-tesemTaubaté(SP).
Osistema CCATT-BRAMSéummodelo matemático que
abrangeaAméricadoSuleconsideraaemissãoeo trans-portedediferentesgasesepartículasdeaerossóis,obtidos por satélites, e gera estimativas diárias para diferentes poluentes.17Omodelofornecemedic¸õesdePM
2.5acadatrês
horassobreumagradedecélulascom 30×30km2.Médias
aritméticas diárias de concentrac¸ões do PM2.5 foram
cal-culadascom base nas médias do conjunto decélulas que
compõemaáreaterritorialdomunicípiosobinvestigac¸ão.
Ousodosdadosestimadosporessesistema,validadospor
Ignottietal.,10Cesaretal.11eSilvaetal.,19évantajosoao
seraplicadoemcidadesemquenãoháestac¸õesmedidoras
depoluentes,comoéocasodeTaubaté.Issopermite
bara-tearoscustosdepesquisaeagilizaroprocessodeanálisedos
efeitosdapoluic¸ãoatmosféricanasaúde.Contudo,ofatode
asmedidasdoCCATT-BRAMSseremestimadasnumaaltitude
de40m,enãoemregiõesmaispróximasdosolo,emqueas
concentrac¸õespodemserdiferentes,poderepresentaruma
limitac¸ãodesteestudo.11
Durante o período de estudo, observou-se que as
internac¸õesporpneumoniaeasmaemcrianc¸asaté10 anos
apresentaramassociac¸ãopositivaesignificativacomoPM2.5,
tantonodiadaexposic¸ão(lag0)quantodosegundoatéo
quintodiadaexposic¸ão(lag2a5),oquesugereumaac¸ão
agudaàexposic¸ão. Osefeitos agudosse manifestamapós
umcurtotempoentrea exposic¸ãoeosefeitos, que pode
serdehorasoudias.2
Estudos epidemiológicos evidenciamque aexposic¸ão a
poluentes gasosos e material particulado está associada
a maior incidência de sintomas das vias aéreas
inferio-res, como tosse, dispneia e sibilância, especialmente em
crianc¸as.2
Em Taubaté (SP), a fonte principal dos poluentes é
a queima de combustíveis fósseis pela frota veicular do
municípioque apresenta o maior númerode veículos por
com as demais cidades localizadas no Vale do Paraíba
(SP). Outra importante contribuic¸ão é dada pela frota
que trafega pela rodovia interestadual Presidente Dutra,
composta principalmente por ônibus e veículos pesados
de carga. Estudo feito com dados recentes de São José
dos Campos (SP) mostrou que houve uma diminuic¸ão das
internac¸õesporpneumoniasemcrianc¸ascomadiminuic¸ão
das concentrac¸ões de SO2 e PM10, mas houve associac¸ão
entreexposic¸ãoaomonóxidodecarbono(CO)eozônio(O3)e
asinternac¸ões.Issosugerequeosefeitosdemedidasde
con-troleadotadasnoperíodoforamneutralizadospeloaumento
dafrotadeveículos.23
Noscentrosurbanos, aexposic¸ãoaospoluentes
atmos-féricosé caracterizadaporlongosperíodosebaixosníveis
depoluentes,3 diferentemente dapoluic¸ão do ar
originá-ria de queimadas, que tem como principal característica
a sazonalidade bem definida e elevados níveis
principal-mente de material particulado.19 A queima de biomassa,
comomostramosresultadosdePiracicaba(SP)edaregião
amazônica,tem o papel relevante nasconcentrac¸ões dos
poluentes.7,10,11
EstudosfeitosnoBrasilmostramainfluênciadomaterial
particulado com menos de 10 micra de diâmetro
aero-dinâmico (PM10) na gênese de internac¸ões por doenc¸as
respiratórias em crianc¸as.3,4,24 No entanto, o particulado
fino PM2.5 é pouco estudado pelo fato de as estac¸ões
das agências ambientais não o quantificarem;
recente-mente,forampublicados artigosnacionaisquemostraram
opapeldessafrac¸ãonagênesedasinternac¸õespordoenc¸as
respiratórias.10,11,19 Em Taubaté, os riscos relativos para
internac¸õesporpneumoniaseasmavariaramentre4,1%e
6,3%.Mesmodepequenamonta,forammaioresdoqueos
encontradosemPiracicaba(SP).11EmTaubaté,oincremento
de5 g/m3nasconcentrac¸õesdoPM
2.5 implicaaumentos
consideráveisnoriscodeinternac¸ão,entre20,3e38,4
pon-tospercentuais.
Osachados deste estudo concordam com os deoutros
artigosnacionais7,10,11ecomosresultadosdeHertz-Picciotto
et al.,25 que apontaram o papel desse poluente nas
internac¸ões pordoenc¸as dotrato respiratório inferior em
pré-escolaresdaRepúblicaCheca.Karretal.,13comousoda
regressãologísticacondicional,mostraramque exposic¸ões
ao PM2.5 estiveram associadas ao aumento do risco para
hospitalizac¸ão por bronquiolite infantil (OR=1,09; IC95%:
1,04-1,14).Osestudosnacionaiscitadosusaramdados
esti-madospormodeloseosdeHertz-Picciottoetal.25edeKarr
et al.13 usaram dados coletados por estac¸ões medidoras.
OsmecanismospotenciaispelosquaisoPM2.5podelevara
doenc¸asrespiratóriassãonumerosos,incluindoestresse
oxi-dativo, danoestrutural, transporteeficiente demicróbios
patogênicos e alterac¸ão no sistema imunológico,
possi-velmente correlacionados com compostos orgânicos com
carbono.26
Outropontoimportanteaserdestacadoéoaumentodos
custoshospitalarespelas internac¸ões pordoenc¸as
respira-tóriasassociadasàexposic¸ãoaomaterialparticuladofino.27
Nesteestudo,estimou-sequeadiminuic¸ãoem5g/m3 na
concentrac¸ãodePM2.5naatmosferapoderiacontribuirpara
a reduc¸ão em 38 internac¸ões pediátricas por pneumonia
e asma de Taubaté, nesse período de um ano, e gerar a
economia de R$ 84 mil para o Sistema Único de Saúde
(SUS).
Esteestudoapresentalimitac¸ões,algumasprópriasdos
estudosecológicos;ofatodesetrabalharcomdados
secun-dários, mesmo de fonte oficial comumente usada para
estudossobreessetema,permitesuporerrosnacodificac¸ão
dosdiagnósticos,alémdeessesdadosnãoinformaremsobre
comorbidades,tabagismonaresidência(fumantepassivo)e
escolaridadeparental,entreoutrosfatoresassociados.Essa
fontetemafinalidadebásicacontábileosdadosfornecidos
sobreasinternac¸õesserestringemaosusuáriosdoSistema
ÚnicodeSaúde,exclueminformac¸õessobrecrianc¸as
aten-didas por planos de saúde ou de forma particular. Outra
limitac¸ão deste estudo pode residir no fato de as
medi-das do CCATT-BRAMS serem estimadas numa altitude de
40m, e não em regiões mais próximas do solo, onde as
concentrac¸õespodemserdiferentes;alémdisso,assumiu-se
queasconcentrac¸õeseramhomogênease queascrianc¸as
seexpuseramigualmenteaospoluentesdoar,emespecial
ao particuladofino, considerac¸õesque podemrepresentar
outrapossívellimitac¸ão.
Apesardaforteplausibilidadebiológica,osnossos
resul-tados não permitem presumir que existam associac¸ões
causais. São necessárias investigac¸ões mais aprofundadas
dos papéis de outros poluentes, como O3, PM10, CO, NO2
e metais,que têmsido associadoscomumavariedade de
diagnósticosrespiratórios.
Dessaforma,a exposic¸ão ao material particulado com
menosde2,5 micradediâmetroaerodinâmicoesteve
asso-ciada às internac¸ões por pneumonia e asma em crianc¸as
menoresde10 anos,emumacidadedeportemédio.Essas
informac¸ões corroboram os achados em outros estudos e
mostramo papel importantedoparticulado finona saúde
dacrianc¸a,alémdefornecersubsídiosparaimplantac¸ãode
medidaspreventivasparadiminuiressesdesfechos.
Financiamento
Oestudonãorecebeufinanciamento.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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