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ARTIGO
ORIGINAL
Acute
viral
bronchiolitis
and
risk
of
asthma
in
schoolchildren:
analysis
of
a
Brazilian
newborn
cohort
夽
,
夽夽
Heli
V.
Brandão
a,∗,
Graciete
O.
Vieira
a,
Tatiana
O.
Vieira
a,
Álvaro
A.
Cruz
b,
Armênio
C.
Guimarães
c,
Carlos
Teles
a,
Paulo
Camargos
de
Constanc
¸a
M.S.
Cruz
caUniversidadeEstadualdeFeiradeSantana(UEFS),DepartamentodeSaúde,FeiradeSantana,BA,Brasil
bUniversidadeFederaldaBahia(UFBA),NúcleodeExcelênciaemAsma,DepartamentodeClínicaMédica,Salvador,BA,Brasil cEscolaBahianadeMedicinaeSaúdePública,DepartamentodeClínicaMédica,Salvador,BA,Brasil
dUniversidadeFederaldeMinasGerais(UFMG),DepartamentodePediatria,BeloHorizonte,MG,Brasil
Recebidoem20deabrilde2016;aceitoem3deagostode2016
KEYWORDS Asthma; Riskfactors; Bronchiolitisviral; Child
Abstract
Objective: Toverifywhethertheoccurrenceofacuteviralbronchiolitis(AVB)inthefirstyear oflifeconstitutesariskfactorforasthmaatage6consideringaparentalhistoryofasthma. Methods: Cross-sectionalstudyinacohortoflivebirths.Astandardizedquestionnaireofthe InternationalStudyofAsthmaandAllergiesinChildhood(ISAAC)wasappliedtothemothers toidentifyasthmainchildrenattheageof6years.AVBdiagnosiswasperformedbymaternal reportofamedicaldiagnosisand/orpresenceofsymptomsofcoryzaaccompaniedbycough, tachypnea,anddyspneawhenparticipantswere3,6,9,and12months.Socioeconomic, envi-ronmentaldata, parental historyofasthma,anddata related to pregnancy were collected inthefirst 72hoursoflifeofthenewbornandinprospectivehomevisitsbytrained intervi-ewers.TheassociationbetweenAVBandasthmawasevaluatedbylogisticregressionanalysis andpotentialmodifiereffectofparentalhistorywasverifiedbyintroducinganinteractionterm intotheadjustedlogisticregressionmodel.
Results: PrevalenceofAVBinthefirstyearoflifewas68.6%(461).TheoccurrenceofAVBwasa riskfactorforasthmaat6yearsofageinchildrenwithparentalhistoryofasthmaOR:2.66,95% CI(1.10-6.40),modifiereffectp=0.002.ParentalhistoryofasthmaOR:2.07,95%CI(1.29-3.30) andmalegenderOR:1.69,95%CI,(1.06-2.69)wereotheridentifiedriskfactorsforasthma.
DOIserefereaoartigo:
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2016.08.004
夽 Comocitaresteartigo:BrandãoHV,VieiraGO,VieiraTO,CruzÁA,GuimarãesAC,TelesC,etal.Acuteviralbronchiolitisandriskof
asthmainschoolchildren:analysisofaBraziliannewborncohort.JPediatr(RioJ).2017;93:223---9.
夽夽EstudovinculadoàEscolaBahianadeMedicinaeSaúdePública,Salvador,BA,Brasil.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:helivb.fsa@gmail.com(H.V.Brandão).
Conclusion: AVBinthefirst yearoflifeisariskfactorfor asthmainchildren withparental historyofasthma.
©2016PublishedbyElsevierEditoraLtda.onbehalfofSociedadeBrasileiradePediatria.Thisis anopenaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(http://creativecommons.org/licenses/
by-nc-nd/4.0/).
PALAVRAS-CHAVE Asma;
Fatoresderisco; Bronquioliteviral; Crianc¸as
Bronquioliteviralagudaeriscodeasmaemescolares:análisedecoorte derecém-nascidosbrasileiros
Resumo
Objetivo: Verificarseaocorrênciadebronquioliteviralaguda(BVA)noprimeiroanodevida constituifatorderiscoparaasmaaosseisanosconsiderandoahistóriaparentaldeasma. Métodos: Estudodecortetransversalaninhadoaumacoortedenascidosvivos.Oquestionário padronizadodoInternationalStudyofAsthmaandAllergies inChildren(ISAAC)foiaplicado àsmães paraidentificar asmanascrianc¸asde seisanos.Odiagnóstico deBVAfoi feitopor relato maternode diagnóstico médico e/ou presenc¸ade sintomas decoriza acompanhados detosse,taquipneiaedispneiaquandoosparticipantestinhamtrês,seis, novee12 meses. Dadossocioeconômicos,ambientais,históriaparentaldeasmaereferentesàgestac¸ãoforam coletadosnasprimeiras72horasdevidadorecém-nascidoeemvisitasdomiciliaresprospectivas porentrevistadorestreinados.Associac¸ãoentreBVAeasmafoiavaliadaporanálisederegressão logísticaepotencialefeitomodificadordahistóriaparentalverificadopelaintroduc¸ãodotermo deinterac¸ãonomodeloderegressãologísticaajustada.
Resultados: AprevalênciadeBVAnoprimeiroanodevidafoi68,6%(461).AocorrênciadeBVA foifatorderiscoparaasmaaosseisanosemcrianc¸ascomhistóriaparentaldeasmaOR:2,66 (1,10-6,40),efeitomodificadorp=0,002.HistóriaparentaldeasmaOR:2,07IC95%(1,29-3,30) esexomasculinoOR:1,69IC95%(1,06-2,69)foramoutrosfatoresderiscoidentificadospara asma.
Conclusão: BVAnoprimeiroanodevidaéfatorderiscoparaasmaemcrianc¸ascomhistória parentaldeasma.
©2016PublicadoporElsevierEditoraLtda.emnomedeSociedadeBrasileiradePediatria.Este ´
eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/
by-nc-nd/4.0/).
Introduc
¸ão
Aasmaéadoenc¸acrônicademaiorprevalênciaemcrianc¸as eocasionaelevadademandaporatendimentosemservic¸os deemergênciaehospitalizac¸ões1,2comimpactonegativona
qualidadedevidadecrianc¸aseadultos.3
Váriosestudostêmdemonstradoassociac¸ãoentre bron-quiolite,sibilânciarecorrente easma.4,5 Bronquioliteviral
aguda(BVA)é adoenc¸aviralmaiscomumdas viasaéreas inferiores em lactentes, caracterizada por inflamac¸ão, edema e necrose de células epiteliais de pequenas vias aéreas, com aumento de produc¸ão de muco e broncoes-pasmo,cujodiagnósticoéeminentementeclínico.6
ABVAtemcomopatógenosovírussincicialrespiratório (VSR),rinovírus,influenzaAeB,parainfluenza, metapneu-movírus,adenovírus,papilomavírusebocavírus.7OVSRéo
patógenomaiscomum,responsávelpor70%dosepisódiosde bronquioliteemcrianc¸asmenoresdedoisanos.Alterac¸ões na resposta imune das crianc¸as com história parental de asmaacometidasporBVAcausadapelosVSRerinovírusestão implicadasnessaassociac¸ãovírus/asma.8---10Reinfecc¸õessão
comunsduranteosdoisprimeirosanosdevidadacrianc¸a.11
NoBrasil,oVSRéresponsávelpor31,9a64%dasinternac¸ões porBVA12,13ecoinfecc¸õesocorremem40%doscasos,o
rino-víruséoagentemaiscomum.14
Apesar das evidências da associac¸ão entre BVA e manifestac¸õesclínicasdaasma,sãoescassososestudosque avaliemaac¸ãodapredisposic¸ãogenéticanessaassociac¸ão. Assim,opapeldaBVAcomomarcadordeasmaemcrianc¸as com históriaparental deasmapara desenvolverasmaem médioelongoprazonãoéconhecidocomexatidão.
Oobjetivodesteestudofoiverificaraassociac¸ãoentre BVA no primeiro ano de vida e asma na crianc¸a aos seis anos,conformeahistóriaparentaldeasmaeoutras variá-veisdeconfundimento,emumacoortedenascidosvivosno NordestedoBrasil.
Métodos
O estudodecortetransversal foifeitoem umacidadede grandeportedoNordestedoBrasilapartirdedadosdeuma coortedenascidosvivos.Acoortefoiconstituídaentreabril de2004emarc¸ode2005cominclusãoconsecutivade nas-cidos vivosde todosos 10 hospitais deFeira deSantana, filhosdemãesresidentesnacidade.Osdadosusadosforam relativosaoscoletadosnamaternidadeeemquatrovisitas domiciliaresfeitasnoprimeiroanodevida(três,seis,nove e12meses)eaosseisanos.
complicac¸ões perinatais; recém-nascidos que não foram internadosnoberc¸árioporperíodomaiordoque24h.
Oscritériosdenãoinclusãoforamcrianc¸asnascidas de mãesqueapresentaramproblemasdesaúdeque contraindi-cassemaamamentac¸ãoaoseiomaternoemãesqueforam separadasjudicialmentedeseusfilhos.
Instrumentodecoletadedados
As crianc¸as que deram entrada na coorte ao nascimento foram seguidas mensalmente, por profissionais de saúde previamente treinados, mediante entrevistas domiciliares mensaisnosprimeirosseismesesdevidaeseguidasacada trêsmesesatéofimdoprimeiroanoeemidades programa-dasenosextoanodevida.
Amostra
Ocálculodotamanhoamostralfoifeitoemduasetapas,a saber,ocálculodaamostraparaestimar aprevalênciade asmaemescolareseemseguidaocálculodaamostrapara identificarospreditoresindependentesdeasma.
O cálculo daamostradaprevalênciade asmafoi feito peloprogramaPepi Sample(Winpepi ComputerPrograms) comosseguintesparâmetros:prevalênciaestimadadeasma em escolares de 20%, intervalo de confianc¸a de 95% e precisão de 1,25% em torno da prevalência estimada da populac¸ão. O resultado final revelou a necessidade de se estudarem202crianc¸as,acresceu-seaessetotalumaperda presumívelde10%,totalde223sujeitos.
Para identificar bronquiolitecomo preditor deasma,o cálculodaamostrafoifeitocomoprogramaOpenEpi(Open Source Epidemiologic Statistics for Public Health, versão 2.3.1). Adotaram-se osseguintes parâmetros: prevalência deBVAde27%,intervalodeconfianc¸ade95%,poder estatís-ticode80%,estimativaderiscorelativode2,considerou-se a prevalência de asma em não expostos de 10% e expos-tosainfecc¸õesrespiratóriasde20%.Nesseúltimocálculoo númerodaamostramínimoencontradofoide438.
Entre osdoiscálculos,optou-se poraquelequeindicou maiornúmerodeparticipantes(438indivíduos).Entretanto, foramincluídas no estudo todasas 684 crianc¸as com seis anosemacompanhamentonacoorte.
Variáveis
Adefinic¸ãodeasmaativaaosseisanosfoiobtidamediantea aplicac¸ãodoquestionáriopadronizadodoestudoISAAC15às
mãesconformerespostaafirmativaàpergunta:‘‘Seufilho teve‘chiadonopeito’nosúltimos12meses?’’
O critério de diagnóstico clínico de BVA seguiu a definic¸ãodaAcademiaAmericana dePediatria,16 ouseja,
coriza acompanhada por taquipneia, tosse, dispneia e intensificac¸ãodas manifestac¸ões respiratórias,como bati-mentosdeasadonarizetiragemintercostaleousubcostal. Assim,essaafecc¸ãofoiconsideradaquandoamãedacrianc¸a respondeuafirmativamentequeseufilhoteveumadoenc¸a respiratória e o médico informou como diagnóstico BVA ourelatou ossintomasdecoriza, acompanhadosdetosse,
taquipneia,dispneianosúltimos15dias,nasentrevistasaos três,seis,novee12mesesdevida.
Covariáveis
Asdemaiscovariáveisforam:idadegestacional(<37 sema-nas,≥37semanas);paridade(primípara,multípara);renda
familiar(<2saláriosmínimos,≥ 2saláriosmínimos);
esco-laridade materna(< 8 anosde escolaridade, ≥ 8 anosde
escolaridade);sexo(masculino,feminino); pesoao nascer (< 2.500g, ≥ 2.500g); número de cômodos no domicílio
(<5 cômodos,≥ 5cômodos);númerodepessoasque
dor-memnoquartocomacrianc¸a(< 4pessoas,≥ 4pessoas);
tabagismomaternonagestac¸ão(sim,não);presenc¸adecão ougatonodomicílio(sim,não); frequênciaemcrecheaté osdois anos (sim, não); tráfego de caminhões na rua de residência(sim, não); aleitamento materno exclusivo até oterceiro mês(sim, não); aleitamento maternoexclusivo atéo quartomês (sim, não). As informac¸ões sobredados clínicosdasmãesforamcoletadaslogo apósonascimento nasmaternidades e conferidaspor consulta ao respectivo prontuáriomédico.
Ahistóriaparentaldeasmafoiconsideradapormeioda respostadasmãesàpergunta:‘‘Opaiouamãedacrianc¸a tem/teveasma?’’(sim;não).
Análiseestatística
Afrequênciadascaracterísticassociodemográficasfoi cal-culada e o teste x2 usado para comparar proporc¸ões, considerou-sesignificativop-valor<0,05.Modelosde regres-sãologísticamultivariadaforamusadosparaavaliarfatores associados à asma aos seis anos e a BVA aos três, seis, novee12mesesenoprimeiroanodevida. Consideraram--seasprincipaisvariáveis confundidorase asque tiveram p-valor≤0,10naanálisebivariada.
O efeito modificador da história parental de asma na associac¸ãoentreBVAeasmafoiverificadopelainclusãodo termodeinterac¸ãoentrehistória parentaldeasmaeBVA naanálise deregressão logísticamultivariada. As análises estatísticasforamfeitaspormeiodoprogramaestatístico SPSS(SPSSforWindows,versão14.0,Chicago,EUA).
Aspectoséticos
Oprojetoe otermo deconsentimentolivree esclarecido foramaprovadospeloComitêdeÉticaemPesquisada Uni-versidadeEstadualdeFeiradeSantana.
Resultados
Participaramdoestudo672(98,2%)das684crianc¸as elegí-veis,12 nãoforamlocalizadaspor mudanc¸adeenderec¸o. Foramavaliados30participantesamaisdoqueaamostra previamenteestimada.Aprevalênciadeasmaativafoide 13,8%.
Tabela 1 Características da amostra e associac¸ão dasvariáveiscomasma(n=672)
Variáveis N(%) ORIC95% pa
Sexo
Masculino 336(50,0) 1,79(1,14-2,81) 0,010 Feminino 336(50,0)
Pesoaonascer(gramas)
<2.500 30(4,5) 1,25(0,40-3,37) 0,646 ≥2.500 642(95,5)
Idadegestacional(semanas)
<37 28(4,2) 0,46(0,10-2,00) 0,295 ≥37 644(95,8)
Rendafamiliar(saláriomínimo)
Até2 477(71,0) 1,28(0,77-2,12) 0,326 ≥2 195(29,0)
Escolaridadedamãe(anosdeestudo)
Até8 202(30,1) 0,88(0,54-1,44) 0,634 >8 470(69,9)
Paridade
Primípara 336(50,0) 0,88(0,56-1,36) 0,576 Multípara 336(50,0)
Aleitamentomaternoexclusivo3◦mês
Sim 248(36,8) 0,93(0,59-1,47) 0,760
Não 424(63)
Aleitamentomaternoexclusivo4◦mês
Sim 137(20,4) 1,08(0,63-1,84) 0,773 Não 535(79,6)
Tabagismomaternonagestac¸ão
Sim 20(3,0) 2,13(0,75-6,02) 0,142 Não 652(97,0)
Pessoasquedormemnoquartodacrianc¸a(pessoas) <4 641(95,4) 2,71(1,20-6,09) 0,012
≥4 31(4,6)
Cômodosnodomicílio(cômodos)
<5 541(80,5) 0,74(0,44-1,26) 0,275 ≥5 131(19,5)
Frequentoucreche24m
Sim 104(15,5) 0,69(0,35-1,34) 0,277 Não 568(84,5)
Cãoougatoemcasa
Sim 297(44,2) 0,99(0,77-1,27) 0,982 Não 375(55,8)
Tráfegodecaminhãonaruadomicílio
Sim 341(50,7) 1,02(0,85-1,22) 0,814 Não 331(49,3)
Históriaparentaldeasma
Sim 180(26,8) 2,01(1,27-3,17) 0,002 Não 492(73,2)
IC,intervalodeconfianc¸a;N,número;OR,oddsratio.
aTestedox2.
Osfatores derisco para asmana análise de regressão logística foram sexo masculino, ter história parental de asma;BVAaostrêse12mesesenoprimeiro◦ anodevida.
(tabela2).
Onúmerodecrianc¸asexpostasaBVAnoprimeiroanode vidafoide50,7%(341)eafrequênciadeBVAde461 episó-dios,75(11,5%) noprimeiro, 136(20,3%)nosegundo,114 (16,9%) no terceiro e 136 (20,3%) no quarto trimestre de vida.AfrequênciadeBVA/crianc¸anoprimeiroanodevida deumepisódiofoide234,doisepisódios83etrêsoumais episódios 15. AfrequênciadeBVA nãoesteve associada a maiorriscodeasmaaosseisanos(tabela3).
Aprevalência de aleitamento materno exclusivo até o terceiromêsdevidaentreascrianc¸asfoide36,4%(248)e foifatordeprotec¸ãoparaBVA,OR=0,49IC95%(0,28-0,84); p=0,009.Oaleitamentomaternoexclusivoatéoquartomês nãoconferiuprotec¸ãoparabronquioliteaosseismeses,OR: 0,76 IC95%(0,42-1,16),nove meses OR:1,19IC95% (0,74-1,93),12meses,OR:0,08IC95%(0,94-2,29)ounoprimeiro◦
anodevidadascrianc¸as,OR:0,60IC95%(0,29-1,24). Houveefeito modificador dahistória parental deasma paraaassociac¸ãoentrebronquioliteeasmaaostrês,seis, novee12mesesenoprimeiroanodevida;BVAaos12meses enoprimeiroanodevidafoirisco paraasmanascrianc¸as comhistóriaparentaldeasma,OR:3,90IC95%(1,36-11,1) eOR:2,66IC95%(1,10-6,40),efeitomodificadorp<0,001e p=0,002,respectivamente.(tabela4).
Discussão
OpresenteestudoevidenciaqueBVAnoprimeiroanodevida foifatorderiscodeasmaemcrianc¸aseaumenta conside-ravelmentequandoassociadaàhistóriaparentaldeasma.A exposic¸ãoaBVAeentreoutrosmúltiplosfatoresambientais éimportanteparaodesenvolvimentodadoenc¸a, especial-menteemcrianc¸aspredispostas.17
Asinfecc¸õesrespiratóriasporvírus eBVA sãomais fre-quentesemlactentesetêmsidoassociadasariscodeasma por estar relacionadas à sua patogênesee ao desencade-amento de exacerbac¸ões.17,18 Embora algumas infecc¸ões
por vírus influenzae parainfluenzapossaminibiro desen-volvimento de asma, a despeito de repetidas infecc¸ões respiratórias de vias aéreas superiores nos dois primei-ros anos de vida da crianc¸a, outras infecc¸ões por VSR e rinovírus podem favorecer o aparecimento de asma e atopia.7,19,20
Ashipótesesparaexplicar osmecanismosimunológicos envolvidosnarelac¸ãoentreinfecc¸ãoviral,dispneia persis-tente e asma sãovárias: (i) induc¸ão datípica inflamac¸ão deasmaalérgicapeladiferenciac¸ãodolinfócitoTemTh2; (ii)ativac¸ãopelovírussincicialrespiratóriodecélulasTh17 e produc¸ão deIL17,citocina indutorada inflamac¸ão neu-trófila. As células Th17 induzem a regulac¸ão de outras citocinas pró-inflamatóriascomo a IL6e TNF-␣,
quimioci-nas e metaloproteases com possível papel na patogênese da asma;21,22 (iii) elevac¸ão donível de IL-4 e reduc¸ão do
Tabela2 Fatoresassociadosàasmanaanálisederegressãologística(n=672)
Variáveis OR(IC95%) pa OR(IC95%)ajustado pb
Sexomasculino 1,79(1,14-2,81) 0,010 1,69(1,06-2,69) 0,025
Bronquioliteaos3meses 1,82(1,00-3,38) 0,047 1,76(0,95-3,27) 0,007
Bronquioliteaos6meses 1,09(0,63-1,86) 0,749 1,08(0,62-1,86) 0,772
Bronquioliteaos9meses 1,20(0,68-2,10) 0,513 1,02(0,57-1,82) 0,930
Bronquioliteaos12meses 2,71(1,49-4,91) 0,011 2,42(1,31-4,46) 0,004
Bronquioliteno1◦anodevida 1,31(1,00-1,72) 0,028 1,59(1,01-2,53) 0,040
Históriaparentaldeasma 2,01(1,27-3,17) 0,002 2,07(1,29-3,30) 0,002
Númeropessoasdormemquartodacrianc¸a>4 2,71(1,20-6,09) 0,012 2,31(0,99-5,40) 0,051
IC,intervalodeconfianc¸a;OR,oddsratio.
a Testex2.
b Testederegressãologísticamultivariadaajustadaparasexo,BVA,históriaparentaldeasma,númerodepessoasquedormemno
quartocomacrianc¸a,tabagismomaternonagestac¸ão.
Tabela3 FrequênciadeepisódiosdeBVAeassociac¸ãocomasma
FrequênciadeBVA % OR(IC95%) pa OR(IC95%)ajustado pb
1episódio 34,8 1,15(0,73-1,81) 0,540 1,19(0,75-1,89) 0,454
2episódios 12,3 1,73(0,96-3,12) 0,610 1,58(0,87-2,88) 0,132
3emaisepisódios 2,2 1,57(0,43-5,69) 0,485 1,27(0,33-4,83) 0,717
IC,intervalodeconfianc¸a;OR,oddsratio.
a Testex2.
b Testederegressãologísticamultivariadaajustadaparasexo,históriaparentaldeasma,númerodepessoasquedormemnoquarto
comacrianc¸a,tabagismomaternonagestac¸ão.
paraasmanacrianc¸apodemestarrelacionadosàassociac¸ão direta entrebronquioliteeasma, talcomo apresenc¸a de viasaéreas de menor calibreem crianc¸as dosexo mascu-lino,podepredisporàdispneiaduranteinfecc¸õesporvírus edesenvolvimentodeasma.
Otipodeflorabacterianaquecompõeomicrobiomada nasofaringeemcrianc¸asnosprimeirosanosdevidatemse relacionadoariscofuturodeasma.Acolonizac¸ãoda naso-faringeporS.pneumoniae,M.catarrhalise H.influenzae
comummêsdevidaestáassociadaariscodeasmaaoscinco anos.Ainfecc¸ãopeloVSRemidadeprecocepodealteraro microbiomadanasofaringeeodesequilíbriodessa microbi-otapodelevarainfecc¸ãodotratorespiratórioinferiorpor bactériaspatogênicaseinflamac¸ão.21
Hápoucosestudosqueconsideramoefeitomodificador dahistóriaparentaldeasmanaassociac¸ãoentreBVApelo VSRerinovírusedesenvolvimentodeasmaemcrianc¸as. Car-rollet al.demonstraram queo rinovírus esteve associado a infecc¸ão demaior gravidade em crianc¸as de mães com asmaatópica.23Damesmaforma,Jungetal.demonstraram,
pormeiodegenotipagem,queocorreu efeitomodificador deTLR4(rs1927911),CD14(rs2569190)eIL-13(rs20541)na associac¸ãoentreasmaeBVAemcrianc¸ascoreanas;orisco dedesenvolvimentodeasmaapósBVAfoisignificativamente maiselevadonascrianc¸asquetinhamumdostrês polimor-fismos descritos acima.24 É bem conhecido que a história
parentaldeasmaéofatorderiscomaisimportanteparao desenvolvimentodeasma.25 Noatual estudofoi umfator
Tabela4 Associac¸ãoentreBVAeasmadeacordoahistóriaparentaldeasma
Variáveis Semhistóriaparental deasma(n=496)
Históriaparental deasma(n=176)
Efeitomodificador p-valorb
OR(IC95%) OR(IC95%) OR(IC95%) OR(IC95%)
Crua Ajustada Crua Ajustadaa
Bronquioliteaos3meses 1,35(0,57-3,17) 1,37(0,58-3,23) 2,30(0,93-5,71) 2,48(0,94-6,52) 0,003 Bronquioliteaos6meses 1,07(0,54-2,11) 1,05(0,53-2,09) 1,14(0,47-2,78) 1,30(0,51-3,34) 0,001 Bronquioliteaos9meses 1,31(0,64-2,66) 1,23(0,60-2,53) 0,96(0,38-2,43) 0,76(0,28-2,05) 0,004 Bronquioliteaos12meses 2,28(1,03-5,06) 2,00(0,88-4,55) 3,11(1,21-8,03) 3,90(1,36-11,11) <0,001 Bronquioliteno1◦ano 2,28(1,03-5,06) 1,66(1,10-6,40) 3,11(1,21-8,00) 2,66(1,10-6,40) 0,002
IC,intervalodeconfianc¸a;n,número;OR,oddsratio.
a Ajustadoparasexo,númerodepessoasquedormemnoquartocomacrianc¸a,históriaparentaldeasma,tabagismomaternona
gestac¸ão.
de risco independente para asma e exerceu um impor-tanteefeito modificadorna associac¸ãoentreBVA e asma, aumentouo risco deasma em crianc¸asque apresentaram bronquiolite.
Estudo feito em Salvador (BA) para verificar a relac¸ão entreinfecc¸õesporvírus e asmaentrecrianc¸as dequatro a 13 anos não evidenciou associac¸ão entre asma atópica e não atópica e os vírus herpes simples, varicela zos-ter, Epstein-Barr e hepatite A,26 vírus não relacionados a
infecc¸ões do trato respiratório inferior. As infecc¸ões por vírus herpessimples e Epstein-Barrem crianc¸as ocasiona-ram atenuac¸ão da resposta de hipersensibilidade imedi-ataverificadapelotestecutâneodehipersensibilidade ime-diata por punctura para aeroalérgenos. O resultado do referidoestudodemonstrouqueinfecc¸õesviraiscomunsna crianc¸a estiveram associadas à atenuac¸ão da respostade hipersensibilidadeimediata,masnãoadoenc¸aclínica.
No atual estudo tivemos frequência de amamentac¸ão exclusivanoquartomêsdevidade20,4%compatívelcoma médianacionaleessefatopodetercontribuídopara prote-gercrianc¸asdeBVAedeasmaaostrêsmesesemaleitamento materno exclusivo, pela presenc¸a de fatores imunológi-cos,anti-infecciososeimunomoduladorespresentenoleite humano,deacordo como demonstradonoestudo deKull etal.27
Aprevalênciadeasmanoatualestudofoimenorquando comparada com estudo prévio de prevalência feito em FeiradeSantana.28 Aspossíveisjustificativassãoaelevada
taxadealeitamentomaternoexclusivo nosprimeiros qua-tromesesdevidadascrianc¸aseasac¸õesdoprogramade controle de asma e rinite alérgica implantado na cidade em2004,comadistribuic¸ãogratuitademedicamentosde controledaasma.1,2 Nosestudosplanejadosparao futuro
iremosacrescentaroutroscritériosparaaidentificac¸ãoda doenc¸a,talcomousoregulardemedicac¸õesparaaasma, quepodemmanterospacientesemsintomas.
O sexo masculino e a hereditariedade também repre-sentaram fatores de risco para asma no estudo atual. O maiorrisco deasmanosexomasculinode2,4vezes com-parado com o sexo feminino em escolares foi também encontrado no estudo de Casagrande et al. e pode ser justificadopelomenor calibredasvias aéreasde meninos comparadoscommeninas,nessafaixaetária,eque desapa-recenaadolescência.29,30Estudostêmdemonstradoqueter
paiscomasmaéoprincipalfatorderiscoparaasma.25
Algumas limitac¸ões inerentesa estudo de corte trans-versal, como o viés de memória, foram minimizadas no nosso estudo por ter sido feito em uma coorte prospec-tivadecrianc¸as.Odiagnósticodeasma,comoquestionário do estudo ISAAC, foi padronizado e validado no Brasil, é usado para medir a prevalência mundial de sintomas de asma e doenc¸as alérgicas em crianc¸as em idade escolar, comperguntas limitadas asintomas noúltimoano,o que reduzo viés de memória. O diagnóstico de BVA feitopor meiodeinformac¸õesdasmãessobreodiagnósticomédico e a presenc¸ade sintomas do trato respiratório é passível deerrosepodetersuperestimadoodiagnósticodeBVA.A taquipneiafebrilecoriza sãocomunseminfecc¸õesvirais. Em percentual significativoda amostraossintomas respi-ratóriosnãoforamacompanhadosdefebre. Anãofeitura deexamessorológicosparaidentificac¸ãodevírusconstituiu tambémumalimitac¸ãodoatualestudo.
A BVA noprimeiro ano devida foi fator derisco para asmaemcrianc¸asnoNordestedoBrasil.Ahistóriaparental deasmaaumentaaindamaiso riscodeasmaem crianc¸as expostasabronquiolite.Aadoc¸ãodemedidasdeprevenc¸ão e controledeinfecc¸õesrespiratóriaspeloVSRe rinovírus, tais como a vacinac¸ão para VSR e evitar o contágio com lavagemdasmãoselocaisdeaglomerac¸ãodepessoas,deve serampliadaeintensificadapelosórgãospúblicosdesaúde, sobretudoparacrianc¸ascomhistóriaparentaldeasma,com oobjetivodeobterreduc¸ãonamorbimortalidadepor bron-quioliteedaprevalênciadeasma.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Agradecimentos
Paulo Camargos é depositário de Grants provenientes do CNPq (ConselhoNacional deDesenvolvimento Científico e Tecnológico, Grant #303396/2012-1) eFAPEMIG (Fundac¸ão de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais, Grant #PPM0065-14)
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