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O percurso gerativo de sentido e a interpretação do texto bíblico

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

MEIRE DALVA FIGUEREDO DOS SANTOS

O PERCURSO GERATIVO DE SENTIDO E A

INTERPRETAÇÃO DO TEXTO BÍBLICO

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MEIRE DALVA FIGUEREDO DOS SANTOS

O PERCURSO GERATIVO DE SENTIDO E A

INTERPRETAÇÃO DO TEXTO BÍBLICO

Exame de Qualificação como

requisito à obtenção de título de

Mestre em Ciências da Religião

pela Universidade Presbiteriana

Mackenzie.

Orientador: Prof. Dr. Rodrigo

Franklin de Sousa.

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MEIRE DALVA FIGUEREDO DOS SANTOS

O PERCURSO GERATIVO DE SENTIDO E A INTERPRETAÇÃO DE TEXTO BÍBLICO

Exame de Qualificação como

requisito à obtenção de título de

Mestre em Ciências da Religião

pela Universidade Presbiteriana

Mackenzie.

Orientador: Prof. Dr. Rodrigo

Franklin de Sousa.

Aprovada em ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Rodrigo Franklin de Sousa

(Universidade Presbiteriana Mackenzie- UPM)

Prof. Dr. Jorge Luis Guitierrez

(Universidade Presbiteriana Mackenzie – UPM)

_____________________________________________________________________

Prof. Dr. Paulo Augusto de Souza Nogueira

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Ao meu Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, o Autor e Consumador da minha fé, A Ele toda glória e louvor para todo o sempre.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) através da Assessoria de Suporte ao Desenvolvimento de Pesquisa e Bolsas,

pela bolsa concedida para o desenvolvimento satisfatório desta pesquisa.

Ao meu orientador, professor Dr. Rodrigo Franklin de Souza, por ter me auxiliado e por ter tido tanta paciência para com os meus erros.

Ao Ronaldo, por tudo que ele representa na minha vida e pelo apoio que recebi dele durante este percurso.

A toda a minha família que de maneira direta ou indiretamente tem me animado a continuar nessa jornada em direção ao crescimento do conhecimento não só científico, mas também na possibilidade de torná-lo prático.

Ao pastor Jair Alvares Pintor pelo apoio incondicional em todos esses anos estudos.

A todos os meus professores que contribuíram para o meu crescimento não apenas pela ministração das aulas mais, sobretudo pelo apoio e incentivo que eu sempre pude encontrar neles.

À minha turma, cuja alegria e união proporcionaram um ambiente sadio para o nosso convívio.

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RESUMO

Esta pesquisa tem por objetivo estudar alguns aspectos semióticos no discurso religioso. Para tanto serão examinadas as estruturas narrativas, discursivas e a semântica profunda no capítulo 1 do Evangelho de João, constituindo, portanto, o “corpus” da pesquisa. O quarto evangelho é conhecido por sua maneira singular com que narra o nascimento, ministério, morte e ressurreição de Jesus com uma linguagem extremamente poética, possibilitando muitas leituras para o estudioso de religião e linguagem. Escrito na última década do primeiro século da era cristã, a narrativa bíblica aborda, entre outras coisas, a questão da fé em Jesus como o Verbo encarnado expressão perfeita de Deus num contexto político, econômico, social e religioso decadente. Nesse contexto a fé exercerá um papel fundamental de libertação e salvação. Do prólogo ao término o autor abordará essa temática exaustivamente. A análise contempla uma leitura sociossemiótica, uma reflexão sobre o fazer interpretativo e o fazer persuasivo na relação autor/leitor/ texto espaço social e a questão da identidade e construção do ethos de Jesus e, consequentemente, do autor/leitor.

Os modelos teóricos se fundem, essencialmente, na teoria semiótica de A. J. Greimas. Respeitando-se o limite do corpus, bem como outras abordagens teóricas de semelhantes proposições e seus autores são apresentados conforme a necessidade de uma melhor compreensão do exposto.

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relacionar, na medida do possível, as condições semântico-sintáxicas e discursivas do processo da identidade de Jesus sob o ponto de vista da semiótica, e as suas relações com o processo sociocultural, como um dos resultados de determinados processos mentais e sua extensão às questões da fé\aceitação no Verbo encarnado. Os valores que constituíam a ideologia da sociedade naquele contexto religioso vigente, época em que se insere a narrativa bíblica.

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ABSTRCT

This research aims to study some semiotic aspects in religious discourse.

Therefore we will examine the narrative structures, discursive and semantic depth in Chapter 1 of Gospel is known for his singular way in which narrates the birth, ministry, death and resurrection of Jesus with a very poetic language, enabling many readings to the student of religion and language. Written in the last decade of the fisrt century of the Christian era, the biblical narrative addresses, among other things, the question of faith in Jesus as the incarnate Word of God in a perfect expression of political, economic, social and religious decadence. In this context faith will play a key role in liberation and salvation. At the end of the prologue the author discuss this topic thoroughly. The analysis includes a reading sociossemiótica, a reflection on the interpretative and persuasive in relation to author\reader\text space and the issue of social construction of identity and ethos of Jesus and hence the author\reader. Theoretical models merge, essentially, in semiotic theory of A.J Greimas. Respecting the limits of the corpus as well as other theoretical approaches to similar propositions and their authors are presented as the need for a better understanding of the above.

The examination of narrative syntax, semantics, narrative, discursive syntax and semantics discourse leads to the study of semantic deep, revealing the ideology, the “world view” underlying the aforementioned gospel with regard to the manifestation of the incarnate Word in an environment that does not provide the minimum conditions for survival. The author of this gospel shows how Jesus attracted Jews and Gentiles. This context reveals a world full of conflicts under the Roman Empire, Jewish religion and Greek language.

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society prevailing in that religious context, time that fits the biblical narrative.

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SUMÁRIO

CAPÍTLUO I - INTRODUÇÃO... 12

1.1 Objetivo...12

1.2 Justificativa...13

1.3Problema...15

1.4 Hipótese...15

1.5 Metodologia ...15

CAPÍTULO II - REFERENCIAL TEÓRICO...17

2.1 Semiótica greimasiana ...17

2.1.1 A sintaxe Fundamental...16

2.1.2 A Semântica Profunda...27

2.1.3 A Semântica Discursiva...28

2.2 Métodos de interpretação bíblica...29

2.2.1 O Método histórico-crítico...28

2.2.2 Método Fundamentalista...28

2.2.3 O Evangelho de João num contexto pluralista do primeiro século: Influências, Origens, Os seguidores de João Batista, comunidade joanina, fonte literária, Império romano, a figura de Abrão, de Moisés e dos judeus...29

2.3 Descrição do Evangelho...31

CAPÍTULO III – APLICAÇÃO DO MÉTODO DA TEORIA SEMIÓTICA NO CAPÍTULO 1 DE JOÃO NOS VERSÍCULOS 1, 14 E 51...58

3.1 Noção Preliminar...58

3.2 Organização textual e sequenciação de João Cap.1 ...59

3.2.1 Sequenciação...59

3.2.2 Nível Narrativo – capítulo 1...60

3.2.3 A sequência narrativa do Verbo Pré- Encarnado em João 1:1...64

3.2.4 A Sequência Narrativa do Verbo Encarnado em João...66

3.2.5 A Sequência Narrativa da Glória Futura De Jesus...67

3.3 Nível Discursivo...71

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3.3.3 A Temporalização...74

3.3.4 Tematização: Qual o Ethos de Jesus...76

3.4 Nível Fundamental...77

3.4.1 Quadrado semiótico...78

3.5 Narrativa como transformação de conteúdo...73

3.6 Os três modos de organização do discurso no evangelho como argumentos do autor do evangelho fortalecer a fé dos seus leitores...81

CAPÍTULO IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS...85

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Só podemos compreender os detalhes de uma obra projetando o sentido do todo, assim como, inversamente, só podemos alcançar uma visão do todo, trabalhando através de suas partes(Armstrong, 1983, 341).

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

1.1 Objetivo

Pretende-se, nesta pesquisa, apresentar a semiótica como um método viável para a interpretação do texto sagrado, especificamente da Bíblia, estudando o percurso gerativo de sentido da semiótica greimasiana aplicado ao discurso religioso do evangelho de João. Para ilustrar a viabilidade da aplicação do método será analisado o capítulo 1 do evangelho de João que constitui o corpus deste trabalho, dando destaque para os versículos 1, 14 e 51.

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relação sujeito-objeto, mantida através dos programas narrativos, realizar-se-á o estabelecimento cartorial, a distribuição actancial e o desenvolvimento do percurso do sujeito, bem como sua aplicação no esquema narrativo canônico; tanto do seu programa(s) principal quanto o(s) do(s) seu(s) programa (s) auxiliar(s).

Tendo em vista que os objetos de valor são imbuídos de valores sociais, serão examinados os elementos classificados como portadores dos valores positivos, na concepção do sujeito e também na concepção da sociedade, assim como os da ordem do Ter (nível pragmático) e os da ordem do Ser (nível cognitivo).

Tendo-se, também, como premissa o fato de que os objetos de valor revelam a axiologia, sistema de valores, quando atualizados em relação ao sujeito e que tal sujeito é representado por um ator, será examinado o ator-sujeito relacionado ao seu objeto de valor.

Observada a figura denotadora da identidade de Jesus no capítulo 1 do Evangelho de João, a temática da figura será desenvolvida; a tematização, por sua vez, permitirá algumas leituras, de acordo com a ideologia que a sustenta. Por meio do exame do capítulo 1 do Evangelho de João, chegar-se-á não só ao entendimento da complexidade das relações ali presente como também à “visão de mundo” que subjaz como ideologias pertencentes ao contexto no qual o texto está inserido, levando-se em conta o s seus primeiros leitores.

1.2 Justificativa

A escolha pela semiótica greimasiana deve-se a razões diversas, principalmente, de ordem profissional. Também vale a pena ressaltar que o caráter de teoria do texto que se volta para a análise interna do texto ou estrutural do texto como toma para si a semiótica teve influência na hora de optar por uma teoria para dar base à análise do Evangelho de João que constitui o objeto desta pesquisa.

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aborda alguns aspectos da teoria semiótica greimasiana apenas mencionando-os sem explicá-lmencionando-os. Além disso, por entender que o método histórico-crítico sozinho não é suficiente para a interpretação bíblica e que outros métodos como, por exemplo, a semiótica, é no mínimo desafiadora para o estudioso das ciências da religião; pois permite um diálogo com as teorias linguísticas principalmente pós anos sessenta do século vinte em diante.

A Semiótica constituiu-se como um ramo das ciências da linguagem e está dividida nas áreas da linguística, da antropologia e da lógica formal. A semiótica atravessou a fase dita “estrutural”. De acordo com Fontanille (2011, p.24) a objetividade científica proibia o interesse pelo implícito e pelos subentendidos do discurso. Segundo este autor, a partir dos anos 1980 e 1990 esses temas foram reintroduzidos, inspirado tanto pela pragmática, bem como pela linguística da enunciação. Barros (2005 p.8) diz que a semiótica, hoje, busca examinar os procedimentos da organização textual e, ao mesmo tempo, os mecanismos enunciativos de produção e de recepção do texto.

Diante disso, esta pesquisa se propõe a aplicar a teoria semiótica realizando uma análise do percurso gerativo de sentido do capítulo 1 do Evangelho de João com destaque para os versículos 1, 14 e 51. Busca-se, portanto, oferecer uma abordagem que permite fazer uma leitura, entre tantas possíveis, pois a maravilha está em dar um olhar novo sobre o aquilo já contemplado por tantos outros porque o texto se abre para várias leituras e interpretações. Parte-se do princípio que cada discurso é um microuniverso e a existência e o diálogo entre os vários microuniversos apresentam o macrouniverso discursivo de uma sociedade e, assim, possível de serem feitas diversas abordagens.

Será feito também uma breve explanação sobre os métodos de interpretação bíblica. Entretanto, o objeto dessa pesquisa não tem a intenção de estabelecer uma comparação entre os métodos utilizados.

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textos verbais e não-verbais.

1.3 Problema

Diante da relevância da teoria semiótica para análise interna do texto e da pouca exposição do método para interpretação bíblica dentro do contexto brasileiro, é imprescindível o estudo da aplicabilidade desse método. Outro motivo igualmente relevante é a dificuldade de se entender os manuais de interpretação bíblica que apenas mencionam alguns aspectos da semiótica sem explicá-los. Por exemplo, Uwe Wegner em Manual de exegese do Novo Testamento no capítulo 10 fala um pouco do quadrado semiótico, entretanto, professor ou aluno não familiarizado com a teoria fica um pouco sem saber como aproveitar as informações ali expostas.

1.4 Hipótese

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A obra que servirá de ilustração para a aplicabilidade da teoria semiótica greimasiana é o Evangelho de João, um texto bíblico, em forma narrativa. A teoria semiótica servirá de embasamento teórico para a presente pesquisa.

Num primeiro momento foi feito uma investigação da relevância do método para análise de interpretação de texto sagrado, adotou-se procedimento explicitado a seguir:

A contribuição da semiótica greimasiana para a interpretação bíblica;

Considerações sobre os Métodos de Interpretação Bíblica;

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CAPÍTULO II

2.0 O REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Semiótica greimasiana

Esta pesquisa, que tem por objetivo analisar o percurso gerativo do sentido no evangelho de João capítulo 1, visa, portanto, apresentar a teoria semiótica greimasiana1 como referente teórico que oferecerá elementos para compreender o texto como unidade de análise.

A Semiótica é o estudo da significação e esta só se dá em contexto (Semiose), ou seja, as relações entre os signos e o contexto onde estão atuando; os signos são os elementos que vão determinar os possíveis sentidos a serem percebidos. A significação, portanto, só é determinada pelo contexto. Pais (1993, p. 57-58) define a Semiótica como a “Ciência da Significação”. Afinal, o que pretende a Semiótica? A semiótica tem como objeto de estudo os sistemas semióticos, os sistemas de construção da significação dos discursos, sejam eles verbais, não-verbais, como as imagens, por exemplo, ou complexos/sincréticos, que representam a junção do verbal e não-verbal, como ocorre, frequentemente, em anúncios publicitários, revistas, jornais, televisão, cinema, ou seja, onde pode haver a utilização da palavra e também a da imagem juntas no mesmo cenário. Entende-se, assim, que para Pais (1993) a Semiótica tem por objetivo o estudo dos sistemas semióticos:

1GREIMAS,Algirdas Julien foi fundador da teoria que se convencionou chamar de semiótica

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De cette façon, la sémiotique se développe comme science (que la nécessaire redondance nous soit pardonée) lorsqu´elle se propose d´etudier les systèmes sémiotiques (verbaux, non-verbaux, complexes) et leurs discours, leur structure et fonctionnement au sein de la vie sociale, leur changement sur l´axe de l´histoire, les processus de production de signification, information, production et réitération d´idéologie, leurs articulations et tensions, en relation aux langues naturelles, la societé et la culture, en reconnaissant leur processus historique de production, leur changement sur l´axe de l´histoire, lorsqu´elle se propose d´élaborer une conception dialectique de système, structure, de processus sémiotique de production, lorsqu´ellese propose à élaborer, encore, une typologie des systèmes et des discours, em cherchant à construire des modèles et métamodèles théoriques qui permettent de les expliquier.2 (1993, p. 660-661).

Nota-se, desta maneira, que a Semiótica está além do estudo do signo por ele mesmo, ultrapassando esta concepção e indo de encontro ao contexto3. Daí ter sido necessária a criação de novas regras de análise, uma nova sintaxe que desse conta de explicar os sistemas de significação e elaborar modelos de análise que colaborassem para o estudo profundo sobre a significação dos discursos produzidos pelas culturas.

A Semiótica, assim, estuda os sistemas que colaboram para a construção da significação. Ao realizar esta tarefa, acaba por identificar como funcionam os discursos literários ou não literários, o que explica a divisão e o reconhecimento de ser um o discurso de natureza literária, publicitária, política,

2 PAIS, C.T. Conditions semantico-syntaxiques et semiotiques de la produtivite systemique,

lexicale et discursive. Tome I/Tome II, these présentée à L´université de Paris IV pour l´obtention du grade de Docteur d´Etat ès Lettres. Universite de Paris IV- Etudes iberiques Linguistique. Paris: 1993.

Desta forma, a semiótica se desenvolve como ciência (que a necessária redundância nos seja perdoada) quando ela se propõe a estudar os sistemas semióticos (verbais, não-verbais, complexos) e seus discursos, sua estrutura, seu funcionamento, no seio da vida social, sua mudança sob o prisma da história, os processos de produção da significação, informação, produção e reiteração de ideologia, suas articulações e tensões em relação às línguas naturais, à sociedade e à cultura, reconhecendo seu processo histórico de produção, sua mudança, sob o prisma da história, quando ela propõe-se a elaborar uma concepção dialética de sistema, estrutura, de processo semiótico de produção, quando ela propõe-se a elaborar, ademais, uma tipologia dos sistemas e dos discursos, buscando construir modelos e metamodelos teóricos que permitem explicá-los.

3Para Greimas, contexto pode ser explícito ou linguístico, ou então implícito, isto é, situacional.

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religiosa, pedagógica entre tantos. Pois há uma semelhança entre os textos que se comportam como literários, publicitários e outros como religiosos e assim por diante, daí a denominação de tipologias discursivas no interior de um universo discursivo. Barbosa (1981, p. 61-66, 263-270) considera que o sistema de significação engloba o sistema de signos, já que, além de ser um veículo gerador de significação e informação contém em si um universo semiótico.

O macro universo discursivo é formado por vários discursos, portanto, e esses, mantendo e regulando as suas características, formam os micro-universos discursivos em manifestação, segundo a sua competência. E são os microuniversos (os discursos sociais - o literário, o publicitário, o jornalístico e outros) que, num todo social, dialogam e geram a concepção de macrouniverso discursivo social. Assim, cada discurso é um microuniverso e a existência e o diálogo entre os vários microuniversos apresentam o macrouniverso discursivo de uma sociedade.

Neste panorama, a autora discorre, afirmando ser diálogo entre os discursos o objeto de estudo da Sociossemiótica,4 ou seja, como são construídos e como significam os discursos em função da “visão de mundo” de uma determinada sociedade, comunidade, logo, de como vivenciam os grupos, as suas ideologias, a sua cultura e suas relações com o todo do mundo, o que regulamenta e assegura o Ser e fazer de cada sociedade, pois, armazenam-se na memória os traços culturais que serão reiterados e serão colocados em associação com as novas informações recebidas para a efetivação de “novos atos de comunicação” (BARBOSA, 1981, p. 53).

Entende-se que Barbosa explica ser a memória um processo conceptual – mental- de armazenamento de signos e de como esses são recebidos e colocados em relação nos textos para que a significação seja concebida e observada por uma sociedade, gerando-se, desta forma, modelos de referências e que essa junção de significações tornar-se-á também um modelo

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para que haja um tipo de comunicação entre as pessoas de uma sociedade, de um grupo.

Segundo Pais, a “visão de mundo” de cada cultura orientará a

construção e a leitura dos seus próprios discursos e de suas significações, de maneira que no seio de determinada cultura não haverá conflitos, pode-se entender que as significações entre as categorias de produção e produtos discursivos serão percebidas, logo, os discursos poderão ser manifestados de formas diferentes, com tipologias diversas, porém, as ideologias subjacentes estarão presentes como modelos mentais de produção, segundo dada cultura:

Nous constatons, en effet, que les informations intra et intersemiótiques produite par les disccours des différentes sémiotiques qui se trouvent em opération, dans une même communauté linguistique et socioculturelle, ne sont pas, d´une manière générale, em conflit. La même vision du monde est sous-jacente aux différents discours des différents systèmes de significations, de telle sorte que les découpages culturels produits par ceux-ci sont compatibles e reiteres de système à système, et d´un univers de discours à l´ autre.(Pais, 1993, p. 399).5

Para Greimás (1976), a análise interna do texto se justifica pelo exame do percurso gerativo de sentido, o que significa estudar como o texto foi produzido, a cultura que o criou, para que a significação fosse, ao longo do caminho textual se configurando como tal e percebida, primeiramente, como um significante (parte material do signo); mas que já trazia em si um conteúdo, um significado (parte conceitual do signo), a pré-significação, a condição para que o texto fosse construído de determinada forma, de acordo com as seleções, as escolhas realizadas.

Compreende-se que há um conteúdo sociocultural registrado em nível mental e, a partir de certas concepções que se tem do mundo, os textos são iniciados, por isso, num primeiro momento, o contato com o texto é físico

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(frástico- em nível da frase), mas no seu interior há o que está além do dito, há uma “visão de mundo” que o construiu e que é a base das relações intrínsecas humanas no seio de dada sociedade, daí o termo transfrástico (o que está além da frase).

A imanência (transfrástico) e a aparência textual (frástico) contrapostas se caracterizam como estruturas profundas ou de superfície, ou seja, seu caráter operatório e o sentido desenvolvido no texto frástico ou discurso representam o percurso gerativo, este é portanto, o resultado das seleções mentais materializadas em texto, buscando significar algo para alguém e de determinada forma.

O nível semiótico trabalha três etapas do percurso, três estruturas: As Estruturas Fundamentais; as Estruturas Narrativas e as Estruturas Discursivas. Entende-se que as Estruturas Fundamentais são aquelas que determinam a Instância Profunda e nela são reconhecidas as articulações dos sentidos mínimos; a Instância Narrativa revela as relações entre os homens e os seus objetos de valor, o que se quer possuir e seus caminhos de busca e as Estruturas Discursivas demonstram como se articulam os elementos que compõem, o que está mais próximo do texto, o conceptual materializado.

Se a análise do sentido está dividida em três instâncias, seria natural que houvesse uma forma fixa de análise que assegurasse a ordem da natureza e, ao menos, uma das verdades dos fatos, esta condição metodológica é a Gramática Semiótica.

A Gramática Semiótica pressupõe a análise Sintática e análise Semântica como um todo. A Gramática Fundamental (lógico-conceptual) e a Gramática Narrativa (antropomórfica) situam-se como a Gramática Fundamental, apresentando uma sintaxe e uma semântica próprias e a Gramática Narrativa também, uma sintaxe e uma semântica particulares.

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O estudo do sentido tem como primeira tarefa examinar as relações entre os significantes, observáveis no texto discursivo, seu sistema de ordenação relacional e suas funções por meio da gramática (análise Sintático-Semântica) aplicada à forma do conteúdo textual, ou seja, observa-se a matéria que foi utilizada para a construção do discurso e qual o sentido selecionado para a construção temática pretendida; para o semioticista, a descoberta deste sentido revela, na verdade, o processo de produção e a sustentação ideológica que o construiu.

Segundo Fiorin (2005, p. 20), entende-se por percurso gerativo de sentido como uma sucessão de patamares, cada um dos quais suscetíveis de receber uma descrição adequada que mostra como se produz e se interpreta o sentido, num processo que vai do mais simples ao mais complexo.

Para a teoria semiótica greimasiana há três patamares do percurso gerativo: o profundo (ou fundamental), o narrativo e o discursivo. Em cada um deles há um componente sintáxico e semântico.

O esquema do percurso gerativo pode ser concebido da seguinte maneira6:

Componente Sintático

Componente Semântico Estruturas

Sêmio- Narrativas

Nível Profundo

Sintaxe Fundamental

Semântica Fundamental

6

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Nível de Superfície

Sintaxe narrativa

Semântica narrativa

Estruturas Discursivas

Sintaxe discursiva

Discursivilização (actorialização, Temporalização, espacialização)

Semântica discursiva Tematização Figurativização

Far-se-á necessário explicar o que vem a ser estas Estruturas sêmio-narrativas e sêmio-discursivas. De acordo com Fiorin (2005, p. 21), “a semântica do nível fundamental abriga as categorias semânticas que estão na base da construção de um texto”. Essas categorias se fundamentam em oposição, numa diferença. Essa oposição, entretanto, é baseada em um traço comum para que seja possível efetuar uma diferença. Assim os termos opostos de uma categoria semântica mantém entre si uma relação de contrariedade.

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Ainda euforia e disforia não são valores determinados pelo sistema axiológico do leitor, mas estão inscritos no texto. Assim, a sintaxe do nível fundamental abrange duas operações: negação e a asserção.

Segundo a teoria semiótica greimasiana, a semântica e a sintaxe do nível findamental representam a instância inicial do percurso gerativo e procuram explicar os níveis mais abstratos da produção, do funcionamento e da interpretação do discurso.

2.1.1 A Sintaxe Fundamental

A Semiótica elaborou um “quadrado semiótico” que evidencia a significação por uma relação de oposição entre dois termos no chamado eixo semântico.

Segue-se o quadrado:

S¹ --- S²

S² --- S¹

--- Relação entre termos contrários Relação entre termos contraditórios Relação entre complementares

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Já no nível narrativo, são consideradas as fases da narratividade, isto é,

um estado inicial, uma transformação e um estado final. Na sintaxe narrativa,

há dois tipos de enunciados elementares como pode ser visto no seguinte trecho:

a) Enunciados de estado: são os que estabelecem uma relação de junção (disjunção ou conjunção) entre um sujeito e um objeto (no enunciado “Aurélia é rica”, há uma relação de conjunção, indicada pelo verbo ser, entre um sujeito “Aurélia” e um objeto “riqueza”, em “Seixas não é rico”, há uma relação de disjunção, revelada pela negação e pelo verbo ser, entre um sujeito “Seixas” e um objeto “riqueza” b) Enunciados de fazer: são os que mostram as

transformações, os que correspondem à passagem de um enunciado de estado a outro (no enunciado “Seixas não é rico” há uma transformação de um estado inicial “não rico” num estado final “rico”) (FIORIN, 2005, p. 28).

Para a teoria semiótica, há dois tipos de enunciados de estado. Um de privação e outro, de aquisição. No primeiro, ocorre um estado inicial conjunto e um estado final disfórico. No segundo, o estado inicial é conjunto e o estado final disfórico. Um fator importante a ser considerado no programa narrativo é a distinção entre sujeito e pessoa, como objeto e coisa; pois sujeito e objeto são papéis narrativos que podem ser representados num nível mais superficial por coisas, pessoas ou animais.

Quanto ao percurso discursivo, segundo (FIORIN, 2005, p. 41) “as formas abstratas do nível narrativo são revestidas de termos que lhe dão concretude”. O que se pode dizer que um objeto-valor “riqueza”, por exemplo, pode aparecer num nível discursivo como uma aquisição de uma herança, um roubo de jóias e etc. Para BARROS (2007, p.53), o nível discursivo é o patamar mais superficial do percurso, são mais específicas e ao mesmo tempo mais complexas. Para a autora:

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Assim, percebe-se nesse nível do percurso como o sentido foi construído e os valores que operaram na construção do texto. Também são vistas como foram estabelecidas as relações entre enunciador e enunciatário. Portanto, os efeitos de sentido revelam o procedimento e método aplicado para dizer o que é dito e como é dito e suas implicações na elaboração do texto.

Faz-se necessário ressaltar o significado de que vem a ser o que é percurso segundo a teoria semiótica. Assim, de acordo com (GREIMAS, 2007, p. 362) “o termo percurso refere-se não somente a uma disposição linear e ordenada dos elementos entre os quais se efetua, mas também uma progressão de um ponto a outro”.

Também para o autor, entende-se o percurso gerativo como a disposição dos seus componentes uns com relação aos outros. Os componentes se articulam uns com outros de acordo com um “percurso” que vai do mais simples ao mais complexo, do mais abstrato ao mais concreto. O trecho que se segue, do autor que desenvolveu a teoria, esclarece bastante como a semiótica compreende o percurso gerativo:

A teoria semiótica que estamos tentando elaborar, ainda que de inspiração gerativista, dificilmente é comparável aos modelos gerativistas, e isso porque o seu projeto é diferente: fundamentada na teoria da significação, ela visa a explicar todas as semióticas (e não somente as línguas naturais) e a construir modelos capazes de gerar discursos (e não frases). Considerando, por outro lado, que todas as categorias, mesmo as mais abstratas (incluindo-se as estruturas sintáticas), são de natureza semântica e, por isso, significantes, ela não sente nenhum constrangimento em distinguir, para cada instância do percurso gerativo, subcomponentes sintáticos e semânticos (stritu sensu) (GREIMAS, A. J. e COURTÉS J., 2007, p. 234)

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conceito de cultura precisa convocar dois componentes macrossemióticos que são a língua natural e o mundo natural ambos vão dar conta do que é cultura.

Desse modo a significação fosse ao longo do caminho textual se configurando como tal e percebida, não só como a parte material do signo (significante), mas também um conteúdo, um significado (parte conceitual) que já trazia em si a condição para que o texto fosse de determinada forma, com as seleções, as escolhas realizadas.

Compreende-se que há um conteúdo sociocultural registrado em nível mental e, a partir de certas concepções que se tem do mundo, os textos são iniciados, Por isso, num primeiro momento, o contato com o texto é físico (em nível da frase), mas no seu interior há o que além do dito, há uma “visão de mundo” que o construiu e que é a base das relações intrínsecas humanas no seio de dada sociedade, o que está para além da frase.

2.1.2 A Semântica Profunda

De acordo com Pais (1979, p. 103-104), a Semiótica é uma ciência multidisciplinar e na sua estrutura reside a análise contínua dos sistemas semióticos e das tensões opostas, isto é, dialéticas que orientam o seu funcionamento, ora por conservação, ora por mutação. Isso quer dizer que a articulação entre equilíbrio-desequilíbrio-equilíbrio vai garantir um tipo de funcionamento textual apesar das mudanças constantes, de forma que uma comunidade se revela e se vê nos textos que produz, integrando-se na mesma macrossemiótica, pois os membros de uma sociedade compartilham as suas experiências.

As Estruturas Fundamentais, de ordem semântica e sêmica, nesta troca criteriosa de informações, tornam-se Narrativas (fazer humano e valoração do objeto de fazer) e estas Discursivas, que por meio da expressão e conteúdo organizam o texto, considerando-se, ainda, que este pode unir-se a outros culturalmente manifestados, embora, muitas vezes, a “visão de mundo” não

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contexto, já que pode adquirir significações plurais de outro universo discursivo e sob a ótica de outras culturas.

Do que se pode compreender o porquê ser o texto um ir e vir, pois, a partir do discurso manifestado, lê-se o fazer humano e a valoração dos objetos de fazer e, a partir deste chega-se à leitura das ideologias que o construiu e, ainda, sabendo-se quais são as ideologias, tem-se as justificativas para as motivações de seleções que se apresentaram foram desta ou daquela forma no momento da construção discursiva.

2.1.3 A Semântica Discursiva

Os sujeitos da narrativa assumem valores no nível discursivo, estes valores são distribuídos no discurso ao longo da temática, que receberá investimentos de figuras, logo, figurativos. Os valores abstratos são organizados em percursos pela incorrência de traços semânticos, traços de significação que são reconhecidos no decorrer da formação da “visão de mundo” dos decodificadores.

Para que os percursos sejam analisados, portanto, é necessário examinar o sentido dos elementos (análise semântica), assim, além do emprego e sentido do léxico é preciso observar a estrutura profunda que assegura a existência do discurso.

A tematização (natureza dos temas) é o resultado do estudo dos traços mínimos de significação (semas-nucleares) e do conjunto deles (sememas) e dos classemas ou semas contextuais (o que os lexemas/palavras significam em determinado contexto) que são reduzidos a um papel temático no percurso narrativo no ambiente dos elementos espaço-temporais.

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espacial reconhecidos pelo enunciatário, contextualizados como elementos reais.

Esta interpretação por parte do enunciatário implica nas diferentes leituras que este pode captar, ou seja, como a significação através do código pode ser decodificada, definindo as isotopias figurativa e temática.

2.2.0 Métodos de Interpretação Bíblica

Será feito também uma breve explanação sobre os métodos de interpretação bíblica. Entretanto, o objeto dessa pesquisa não tem a intenção de estabelecer uma comparação entre os métodos utilizados. Pelo contrário, é apresentar a Semiótica greimasiana como um método viável de interpretação entre tantos outros que existem. Assim este capítulo dos métodos tem por objetivo oferecer ao leitor uma simples exposição sobre os métodos que vem sendo utilizados nas análises de narrativas bíblicas.

2.2.1 O Método Histórico-crítico

O método histórico-critico, de acordo com Wegner (1998)7, é um método que leva em conta dois fatores importantes. De um lado o histórico, que lida com fontes históricas. Visa fazer uma análise que leva em conta o lugar, dentro de uma perspectiva histórica; buscando verificar os diversos estágios da sua formação e evolução. Verificam-se também as condições históricas que produziram essas fontes em suas várias etapas de estágios evolutivos.

É também crítico, pois emite uma série de juízos sobre as fontes que tem por objeto de estudo. Segundo o autor, essa ‘crítica’ teve seu início a uma crítica dirigida contra a interpretação alegórica da Bíblia na Idade Média, valorizando o aprofundamento do sentido literal do texto. Ainda, segundo Wigner (1998), os reformadores acrescentaram a essa crítica uma outra em

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relação à interpretação feita pela tradição eclesiástica. Ele argumenta que a ênfase dada pelos reformadores em relação ao sentido literal da Escritura provocou tensões e contradições acerca de vários livros bíblicos, o que resultou em estabelecer critérios de discernimento para a verdadeira revelação de Deus, isto é, tudo aquilo que apontava e testemunhava a Cristo como Senhor.

Esse método é sobretudo questionador, o que justifica a sua origem no advento do iluminismo e da incorporação da pesquisa histórica das ciências em geral no que diz respeito à pesquisa bíblico-teológica. O método histórico-crítico por conta de sua influência, o iluminismo, tornou-se profundamente racional. Ainda, segundo o autor, a aplicação dos princípios da historiografia profana às tradições sagradas proporcionou alguns avanços consideráveis no melhor conhecimento das tradições e dos textos bíblicos. Segundo ele, essa ‘crítica’ aplicada de maneira sistemática à Bíblia ajudou nos avanços dos estudos nas áreas como a da crítica textual, crítica literária e crítica redacional.

Apesar de esse método ter recebido críticas quanto ao uso abusivo de pressupostos, tais como, analogia, apresentação de resultados parciais, e outros mais. Wegner (1998) apresenta em sua defesa da utilização do método a dimensão histórica, que segundo ele, leva a sério os textos bíblicos como expressão da revelação divina à humanidade em situações históricas concretas e definidas; argumenta que o estudo da evolução histórica dos textos bíblicos torna o leitor mais sensível para a rica pluralidade que representam os seus diversos estágios de conteúdo.

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histórica, busca dar testemunho de verdades cridas e vividas pelos fiéis. Em suma, o método histórico-crítico busca fazer um exame da veracidade fatual das narrativas dos textos sem, contudo, ter isso como único objetivo e, além disso, busca fazer um juízo sadio das raízes dos textos.

2.2.2O Método Fundamentalista

O fundamentalismo originou-se, de acordo com Wegner (1998), de um movimento desencadeado nos Estados Unidos após a Primeira Guerra Mundial. Teve como objetivo salvaguardar a herança protestante ortodoxa contra a postura crítica e cética da teologia liberal. Por ser um movimento de reação, seu interesse era reafirmar as doutrinas que julgavam essenciais para o cristianismo, por exemplo, a inerrância das Escrituras, o nascimento virginal de Jesus, sua ressurreição corpórea, sua expiação vicária e a historicidade dos seus milagres.

Segundo o autor, o método fundamentalista parte do pressuposto de que cada detalhe da Bíblia é divinamente inspirado. Esse método trem uma tendência a absolutizar o sentido literal da Bíblia. A Bíblia é o seu objetivo último, isto é, sua defesa como único referencial confiável e íntegro para a formulação da doutrina e ética cristãs.

O aspecto positivo desse método, de acordo com Wegner (1998), diz respeito à seriedade com que encara a revelação de Deus através de sua Palavra. Para ele, o compromisso e a responsabilidade que exige frente à sua mensagem e também na insistência de que um livro de fé para ser interpretado de maneira adequada, precisa que o Espírito rege o mesmo.

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Silva (2000) 8 apresenta três facetas da atitude fundamentalista quanto à leitura da Bíblia. A primeira delas, de acordo com o autor, diz respeito à dificuldade em lidar com a complexidade do texto bíblico e o pluralismo de ideias e de teologias propostas pelo fundamentalista, o que gera uma rejeição. Para o fundamentalista, as limitações culturais, linguísticas e cientificas dos hagiógrafos muitas vezes são desconsideradas ou descartadas, pois ele entende que os autores/redatores agiram sob divina inspiração.

A segunda faceta o autor define como realismo ingênuo. Para ele, o leitor fundamentalista julga desnecessário interpretar o escrito e tende a ignorar outras possíveis abordagens do mesmo texto. Já a terceira faceta, disfarça a atitude fundamentalista por meio da confessional idade, segundo Silva (2000), e se manifesta quando determinada doutrina ou teologia se utiliza do texto bíblico para comprovar seus dogmas.

Ainda uma outra faceta do fundamentalismo aponta para a própria ciência bíblica. A atitude fundamentalista pode levar o exegeta a realizar uma trapaça metodológica. Para Silva (2000), pode ser definida com o entendimento de que não é a ‘interpretação’ que abre o texto e sim o texto que comprova a ‘interpretação’.

2.2.3 O Evangelho de João num Contexto Pluralista do I Século: Influências, Origens, Os Seguidores de João Batista, Comunidade Joanina, Fonte Literária, Império Romano, A figura de Abraão, de Moisés e dos Judeus.

Apesar de a pesquisa tratar-se da verificação da aplicabilidade da teoria semiótica greimasiana num texto bíblico, faz-se necessário uma breve análise do contexto pluralista em que está inserido o Evangelho de João. Mesmo sabendo que os referentes externos ao texto não são abordados numa análise semiótica. Entretanto, cada vez mais estudiosos da Semiótica têm se apropriado desses elementos para um melhor entendimento de análise de narrativas. Segundo Barros (2007, p.8), “o estudo do texto com vistas à construção de seu ou de seus sentidos só pode ser entrevisto como o exame

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dos mecanismos internos quanto dos fatores contextuais ou sócio-históricos”. Ainda, segundo essa autora, a semiótica tem caminhado nessa direção e buscado conciliar sem mudar o seu aparato teórico-metodológico, as análises “interna” e “externa” do texto.

Por isso alguns desses elementos são levados em conta neste estudo do Evangelho de João, tais como: influências, origens, os seguidores de João Batista, comunidade joanina, fonte literária, império romano, figura de Abraão, Moisés e dos judeus.

Quanto à influência gnóstica, Brodie (1993) diz que o termo é moderno e no contexto do primeiro século se referia a um grupo religioso. Eles viam o mundo e o corpo humano como mal, produto de um poder maligno e como forma de salvação eles ofereciam gnosis (conhecimento). E este conhecimento foi muitas vezes transmitido por uma figura do revelador. Bultmann, um grande estudioso desse assunto, diz que o evangelista utilizou fontes gnósticas chamadas “discursos reveladores” como uma das suas fontes. Entretanto há falta de documentos que comprovem a existência do Gnosticismo na época da escrita do evangelho. Alguns falam em um pré-gnosticismo e que o autor do Quarto Evangelho teria incorporado em sua linguagem aspectos desse pré-gnosticismo. Aspectos tais como; a linguagem dualística e a questão do revelador, Jesus o revelador do Pai.

Quanto à influência do helenismo, nota-se no evangelho semelhanças com aspectos da literatura helénica, por exemplo,a ideia da descida do céu do mensageiro divino é encontrada mesmo em tais escritores importantes como Homero e Virgílio. Brodie (1993) faz menção da pesquisa desenvolvida por Dodd (1953 apud BRODIE, 1993) em que o autor sugere que há uma estreita relação entre os escritos joaninos e o Platonismo, o Platonismo misturado com o Estoicismo.Estoicismo enfatizou o logos. Para essa teoria o logos era Deus, mas havia elementos dos seres humanos, e o ideal era que deveria orientar a vida. Em relação à influência do judaísmo tudo sugere que João filtrou e sintetizou todos os escritos e pensamentos contemporâneos judaicos.

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dentro da tradição judaica e para distingui-los um do outro. Quanto à fonte, o trabalho do evangelista foi o de organização e de adaptação desses diversos materiais é coloca-los aberto à inspeção.

Era necessário defender-se contra essas teorias, por isso se forjavam armas teológicas e se declarava publicamente a sua fé, sua crença, sua confissão. Certamente os cristãos ameaçados e perseguidos encontravam consolo nas declarações do autor do Quarto Evangelho.

Perguntam-se as ideias da comunidade de Qumran, chamados essênios, influenciou a comunidade joanina. Há uma presença do estilo Qumran no texto joanino, tais como: o dualismo entre o bem e o mal; da luz e das trevas; da verdade e da mentira; da vida e da morte; o espírito de Luz dirigindo os filhos da luz contra os filhos das trevas. Há uma diferença fundamental entre Quarto Evangelho e Qumran. Para a comunidade de Qumran o mestre da justiça centraliza sua reforma na Lei de Moisés e visa criar um grupo isolado dos filhos da iniquidade. Já o autor do QE deixa claro que Jesus revela o Pai e é Ele que convida todos a se tornarem filhos de Deus por meio da aceitação de sua pessoa por meio da fé.

Pergunta que se faz, será que haveria alguns da comunidade joanina que pertenceram à comunidade de Qumran que teriam entrado para a comunidade joanina após a destruição de Qumran na ocasião da guerra judaica pós-70. Constata-se que os textos do Quarto Evangelho apresentam-se traços de releituras na perspectiva qumranica, portanto, estabelecido um contato, uma discussão e diálogo.

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No prólogo, o evangelista quer colocar João Batista no seu devido lugar e desfazer qualquer mal-entendido a esse respeito. Assim nos versículos 6 -8 aparecem uma mudança brusca a referência a João Batista. Alguns estudiosos acreditam que o versículo 6 pode ter sido a abertura do Evangelho antes do prólogo ser acrescentado. A única referência ao versículo anterior é com o termo "luz”. Um homem enviado de Deus para testemunhar a respeito da luz”.

Para Baldensperger (1898 apud BRODIE, 1993, p. 12) o evangelista introduz João Batista porque ‘luz’ é a palavra-chave tanto para a obra do Filho de Deus encarnado como também, para desfazer qualquer mal-entendido com os discípulos de João Batista que reivindicavam esse título para o seu mestre. McHugh (2009)9 em comentário exegético diz que o papel de João Batista é dar testemunho e testemunho da luz. Ele faz referência ao comentário de Orígenes a respeito da ‘luz’ e não dos outros títulos de Jesus, o qual diz que o povo habitava na escuridão necessitava mais urgentemente de Luz. O papel do João Batista também tinha como objetivo fazer com que as pessoas cressem.

Conclusões sobre a comunidade joanina: pode-se dizer que a comunidade joanina foi se formando definitivamente após anos 70 D.C. O autor do Quarto Evangelho reafirma o valor da fé e reconstrói a sua identidade. Brodie apresenta um resumo de várias teorias de estudiosos que debruçaram sobre a questão da comunidade joanina. Segue alguns exemplos:

Para A. Culpeper (1975 apud BRODIE, 1993) a comunidade joanina foi uma escola como as antigas escolas greco-romana que tem como figura central o discípulo amado; já para G. Richter (1975 apud BRODIE, 1993) a comunidade consistia de judeus-crentes que cujo envolvimento cristológico foi a causa da expulsão deles da sinagoga (do norte da Palestina, Síria e Transjordânia;

Enquanto que para O. Cullmann (1976 apud BRODIE, 1993), a comunidade desde seu início foram ouvintes de João Batista que estava à margem entre o helenismo e judaísmo. Eles tinham uma profunda fidelidade ao Jesus histórico e ao entendimento de Jesus do discípulo amado.A comunidade joanina, bem como mantendo a essência de um desses estilos, manteve

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também uma tradição histórica e independente seu próprio senso forte de Jesus; Ainda M. E. Boismard (1977 apud BRODIE, 1993)não fala muito sobre a história de uma comunidade a partir da mudança de ethos que envolve os vários escritores (em número de três), que durante um período de duas gerações (50-110 D.C) produziu o evangelho. M.E. Boismard mostra a fase da comunidade em torno da composição do Evangelho:

At first the atmosphere was integrated and peaceful: around 50 C.E.,

some writer (perhaps the beloved disciple) composed a gospel which in

many ways would have been acceptable to a Jew—the picture of Jesus

was relatively simple (largely the prophet-like-Moses), and the attitude

toward the Jews was not negative. Nothing marginalized here: it was

written in Palestine, in Aramaic. But during subsequent decades (65-90

CE), as relations with the world and the Jews grew worse, a second

writer (John the Presbyter, referred to by Papias) refashioned the gospel,

first in Aramaic and then in Greek, and did so in such a way that the

attitude both to the world and to the Jews was strongly negative. Furthermore,

the picture of Jesus was rewritten—no longer simply like

Moses, but far above him, even pre-existent. By now, for the writing of

the Greek version, the author had moved from Palestine to Ephesus and

had come to know a much wider world, Jewish and Gentile, and in

particular had come to know the synoptic gospels and some of Paul's

epistles. Later, at the beginning of the second century, the gospel was

revised by an unknown member of the Johannine school at Ephesus. (BRODIE, 1993 p. 17)

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judaica, na verdade, a mesma sinagoga judaica, e toda a ação se dão na cidade ou aldeia em que essa sinagoga está localizada.

Num primeiro estágio há um senso de harmonia, falam de Jesus dentro das sinagogas. Num segundo momento, não mais existe um clima de harmonia, pelo contrário, crescem entre eles uma disputa. O grupo messiânico leva a uma reação aguda pelos outros. Num terceiro momento, eles já foram expulsos e vivem na mesma cidade.Sua preocupação agora não é tanto com aqueles que nunca tinham acreditado em Jesus como com aqueles que tinham acreditado, mas que agora estão separados. A comunidade joanina (aqueles que foram expulsos, mas que permanecem juntos na cidade) mantem a esperança que o bom pastor vai reunir todos os judeus cristãos que foram dispersos de suas sinagogas.

R. E. Brown (1979 apud BRODIE, 1993) em seu estudo sobre a comunidade retrata-a como uma comunidade de imensa complexidade. Assim como Martyn, a reconstrução de Brown põe a primeira fase não de décadas de harmonia, mas um grupo pequeno de judeus pregando dentro desse grupo. O segundo período os anos 90 da nossa era, mostra a composição do evangelho e um movimento da comunidade da Palestina para a Diáspora. Brown identifica dentro das páginas do evangelho seis grupo de judeus e cripto-cistãos. Ele também detectou cinco estágios. Para Brown a última fase da comunidade vivencia uma grande divisão: um grupo alcançou a união da Grande Igreja e; outro, mudou-se para as práticas gnósticas;

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Culpepper: A school, centered on the beloved disciple. Richter: Judeo-Christians, split in four, especially by docetism. Cullmann: Jerusalem Hellenists, with a distinct historical fidelity to Jesus.

Boismard: A multi-document production, from Palestine to Ephesus.

Martyn: A synagogue drama (no role given to the beloved discipie).

Brown: A multiplicity of groups, of compositional stages, and of relationships; the community becomes two groups tearing at each other.

Wengst: Jewish Christians, in Gaulanitis, Batanea, and Trachonitis,

suffering hostility, expulsion and apostasy. (1993, p. 20)

Em resumo, cada uma dessas reconstruções foram feitas baseadas na leitura do Novo Testamento e da literatura joanina e também, segundo Brown, de outras evidências externas. Em relação à fonte literária joanina, Bultmann apresenta três: dos Sinais; dos discursos de revelação e o relato da paixão e ressurreição. Segundo Bultmann, o evangelista teria selecionado um número de milagres realizados por Jesus presente na fonte, juntamente com algumas narrações. Ainda, o texto 1;35-49 poderia ser o que introduziria a fonte dos sinais. Bultmann acredita que foi a partir da fonte dos discursos e da revelação que o evangelista desenvolveu sua pregação. O texto primitivo, fruto do pensamento gnóstico oriental, foi modificado com uma conotação cristã, colocado na boca de Jesus de forma cristianizada e desmitologizada.

Faz-se necessário verificar também a relação entre João e o Império romano, uma vez que Jesus foi crucificado sob este império. Segundo Carter (2008), a retórica de distância presente no evangelho sugere que havia uma acomodação da sinagoga com o império romano. Por isso o escritor desse evangelho não só pede a separação dos seguidores de Jesus da sinagoga, bem como uma criação de forma contrária a moldes do império romano; buscando criar uma instância de resistência e oposição.

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Carter (2008) argumenta que tentar estudar os conflitos e problemas no evangelho apenas em termos religiosos, é anacrônico e insuficiente, pois no contexto da última década do primeiro século religião e política eram misturados; políticas imperiais, economias, estrutura social e religião eram entrelaçadas. A tentativa de separar a religião do resto da vida é arbitrária.

Segundo Carter (2008), vários estudiosos, entre eles, Richter, Martyn, Brown, e Painter tem oferecido teorias de desenvolvimento detalhado para explicar a emergência do evangelho de João através de múltiplos estágios com três e cinco versões:

1- A identificação de múltiplas versões com a presença de inconsistentes aporia.

2- A relação entre textos e seus contextos. O texto de João narra eventos da história de Jesus; ou reflete eventos a partir do ponto de vista da comunidade construída;

3- A reivindicação de Raymond Brown de que a entrada dos samaritanos para a comunidade joanina proporcionou o desenvolvimento do pensamento cristão do evangelho de João concernente a Jesus como revelador das palavras e ações do Pai;

4- A linguagem dualística de João: pessoas pertencem a Deus ou ao Diabo, (8.42-44), a luz ou as trevas (8:12), a vida ou a morte (8:16), ao Pai ou ao mundo (8:23; 17:9, 14, 16). Esta linguagem reforça a divisão da comunidade joanina e a sinagoga;

5- Estes modelos de desenvolvimento assumem as fontes escritas e versões do evangelho, mas os estudiosos reconhecem a predominância ora\audível natural do mundo do primeiro século.

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ideal do mundo moderno deve ser funcional, deve permitir aos homens trabalharem e repousarem a fim de assegurarem o trabalho. Na modernidade houve uma dessacralização da nossa morada humana, a industrialização teve forte papel nessa dessacralização. Instalar-se num território, construir uma morada pede, conforme vimos, uma decisão vital, tanto para a comunidade como para o indivíduo.

Segundo Carter (2008), a retórica de distanciamento presente no evangelho de João, ressalta a participação ativa dos judeus nas cidades da Ásia sob o império romano. O autor discorre sobre essa questão no capítulo intitulado “boundaries and bridges” limites e pontes, o que ele entende como interações cívicas de judeus que mantinham suas práticas distintas.

Ainda, Trebilco (1991 apud CARTER, 2008) conclui seu estudo das comunidades judaicas na Ásia Menor, observando que "muitos membros das comunidades interagiam regularmente com os gentios e foram envolvidos de forma significativa na vida da cidade". Além disso, algumas comunidades judaicas foram influentes e respeitados em suas cidades Eles eram uma parte das redes sociais da cidade e compartilharam muitas das características da vida diária. Harland, outro estudioso, também vê pontos positivos da interação dos judeus e o contexto urbano na Ásia Menor. A associação dos judeus ia além das participações sociais também incluía práticas de culto dentro do império romano.

Segundo Harland (2000 apud CARTER, 2008), essa negociação não está muito clara, entretanto, é fato que acontecia. O que é importante, contudo, é que Harland fornece um vislumbre de um envolvimento significativo de judeus na vida social, vida econômica, política e religiosa de cidades como Éfeso, através da participação em corporações profissionais ou associações de artesãos. Carter (2008) traz um estudo de Harland em que ele apresenta quatro exemplos da participação dos judeus:

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roubadas de uma sinagoga. Esta homenagem para César Augusto mostra pelo menos esta comunidade sinagoga na Ásia para ser profundamente enraizada em práticas sociais. Outra evidência sugere que tais incrustações não eram de forma incomum;

Segundo exemplo refere-se a uma inscrição datada do final dos anos 80-90 mesma época da escrita final do evangelho diz:

This building was erected by Julia Severa: P[ublius] Tyrronios Klados, the head for life of the synagogue, and Lucius, son of Lucius, head of the synagogue, and Publius Zotikos, archon, restored it with their own funds and with money which had been deposited, and they donated the [painted] murals for the walls and the ceiling, and they reinforced the windows and made all the rest of the ornamentation, and the synagogue honored them with a gilded shield on account of their virtuous disposition, goodwill, and zeal for the synagogue. (CARTER, p. 32)

A inscrição da cidade de Akmoneia leste de Efésios é importante por várias razões, uma delas, atesta a recente presença da sinagoga na Ásia Menor e sua influência;

Um terceiro exemplo trata-se de “títulos de honra” que sugere a aceitação dos valores cívicos difundidas por grupos de sinagoga e sua participação ativa nas estruturas sociais mais amplas. Os titulares de liderança da sinagoga com posições, em particular (mas não exclusivamente) beneficiada com maior honra social e acesso a estruturas de poder.

O quarto exemplo refere-se a um monumento proveniente da cidade de Afrodisia. O monumento continha uma lista de nomes daqueles que contribuíram para a construção do projeto. Os nomes da comunidade judaica estavam lá também.

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Carter (2008) no capítulo intitulado “Models of Empire” discorre sobre a dificuldade em reconstituir o contexto do primeiro século da nossa era, uma delas é a própria distância (quase 2000 mil anos); outra, o registro que não sobreviveu e as fontes que sobreviveram pertencentes à elite, o que muitas não dão conta de elucidar todo o cenário e do alcance da presença e domínio do império romano em Efésios. Ainda, para o autor os modelos da estrutura do império construído por cientista social; por um lado proporciona facilidade no entendimento das interações e negociações, por outro, apresentam limites. O autor propõe um modelo fundado em “agrarian-aristocratic-commericialized empires” emprestado de G. Lensky (1984 apud CARTER, 2008) e J. Kautsky (1982 apud CARTER, 2008). Segundo o autor esse modelo permite:

Com pinceladas largas identificar alguns das principais características do sistema imperial romano e depois olhar para os dados de Éfeso para compreender a presença e o poder de Roma, uma vez que foi expressa e com experiência nesta localidade em particular no final do primeiro século dC. (CARTER, p.52)

O modelo foca o exercício do poder como uma dinâmica central do império:

This model poses and answers the question, "Who gets what and why?" In an agrarian empire like Rome, a small group of about 1-3 percent of the population (comprising senatorial, equestrian, and decurion orders) controlled much of the power, wealth, and status. The remaining 97 percent or so experienced varying but significant degrees of powerlessness and poverty. Elite-controlled land and labor (slaves) were the basis of wealth, though trade was also lucrative. Elites, often residing in urban centers, controlled production and consumption whereby by some estimates 2 - 3 percent of the population consumed over 50 percent of agrarian production. Rent and taxes, commonly paid in kind, literally transferred goods from nonelite producers to elite consumers (Pliny, Ep. 10.8.5).7 Cities like Ephesus

were "consumer" cities that siphoned off the productivity of surrounding territory. Elites also controlled much urban production, intercity trade and commerce, and urban-rural

interactions involving trade, investment, and banking. Elite households gained necessary cash flow from land, loan interest and repayment, trade, inheritances, and rents from houses, warehouses, apartments, and shops. (CARTER, p.52)

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herança ou legado. Para a elite, a vida era confortável, porque a maioria do resto, que envolveu uma luta diária que pedalaram por períodos acima, ao redor e sob níveis de subsistência. Não surpreendentemente, inúmeras tensões marcaram essa sociedade estratificada: ricos e pobres (e mais pobres). Evangelho de João em si mostra que o mundo da narrativa está profundamente enraizado em estruturas hierárquicas de Roma. Sem pretender aprofundar, a tabela a seguir indica alguns dos pontos de contato entre o modelo de Lenski-Kautsky de estruturas hierárquicas do império e as características das pessoas da narrativa do evangelho:

I RULING ELITE

1 Emperor

Caesar 19:12,13,15

Friend of Caesar 19:12

2 Provincial Figures

Governor Pilate 18:29, 31, 35, 37, 38; 19:1,4, 6, 8,10,12,13,15,19, 21, 22,31,38

Jesus as King 1:49; 6:15; 12:13, 15 (Zech

9:9); 18:33, 37, 39; 19:3,14, 15,19,21

Rival king 19:12

lhe Romans 11:48

3 Allied Local Elites

Chief priests 7:32,45; 11:47,49,51,57;

12:10; 18:3,13,15,16, 19, 24, 35; 19:6,15,21; Caiaphas 11:49; 18:13,14,24,28 Rulers/authorities 3:1 (Nicodemus, 3:4, 9; 7:50;

19:39); 7:26,48; 12:42 (ruler of the world, 12:31; 14:30; 16:11)

Pharisees 1:24; 3:1; 4:1; 7:32,45,47,48;

8:13; 9:13, 15, 16,40; 11:46,47, 57; 12:19,42; 18:3 (often linked with chief priests, 7:32,45; 11:47,57; 3:1; 7:48; 12:42; with Ioudaioi,

1:19,24)18:3; with authorities/rulers, The Ioudaioi (recognizing

the term's diverse use, Jerusalem-based, alliances with other elites and with local supporters)

1:19; 2:18,20 (temple authorities); 3:1 (one of Pharisees);

5:10, 15,16,18; 6:41, 52; 7:1, 11, 13,15, 35; 8:22,

31,48, 52,57; 9:18 (with Pharisees, 9:15,16), 22; 10:19,

(44)

18:12,14, 33, 35, 36, 38, 39; 19:7,

12, 14,19,20,21,31,38; 20:19

Royal Official 4:46,49

4 Retainers (do the bidding of/agents of ruling elites) Chiliarch/omcer in command

of 1000 soldiers 18:12

Soldiers 19:2, 23, 24, 32, 34

Band of soldiers 18:3,12

Servant/slave of high priest 18:10 (Malchus), 26

Priests 1:19

Levites 1:19

Officers 7:32,45,46 (from and to the

chief priests and Pharisees); 18:3 (from chief priests), 6,12,18,22, 36 (of Jesus); 19:6

Temple money changers 2:14

Sellers in temple 2:14,16

II. NONELITE 5. Artisans

Fishermen 21:3

Teacher Jesus, 1:38; 3:2; 11:28;

13:13,14; 20:16; Nicodemus, ruler) 3:10.

6. Rural Peasants and Urban Poor

Crowds 5:13; 6:2, 5, 22, 24; 7:12, 20,

31, 32,40, 43,49; 11:42; 12:9,12,17,18, 29, 34

City/village dwellers 4:8, 28, 39; 7:25; 9:8; 11:1,18

Laborers 4:38

Sowers 4:36, 37

Reapers 4:36, 37, 38

Poor 12:5, 6, 8; 13:29

Door-/gatekeeper 10:3; 18:16-17 (woman)

Hired worker 10:12,13

Shepherd 10:2,11,12, 14,16

Tenant-farmer 15:1

Gardener 20:15

7 Slaves

Slaves 5oi)Ao<;, doulos, 4:51; 8:34,

35; 13:16; 15:15, 20; 18:10,18,

26; Malchus 18:10 Head servant at wedding

Feast

2:8,9

Servants 8idKOvoq, diakonos, 2:5,9;

12:26

(45)

Diseased 4:46; 5:3, 5, 7; 6:2; 11:1,2, 3,6

Blind 5:3; 9:1, 2,13,17, 18,19,20,

24, 25, 32, 39,40,41; 10:21; 11:37

Lame 5:3

Paralyzed 5:3

Mad 10:20

Demon-possessed Jesus 7:20; 8:48-49, 52;

10:20-21

Bandits 10:1,8; Barabbas 18:40

Thieves 10:1, 8, 10; 12:6

Pelo o exposto é possível depreender que o evangelho de João reflete a estrutura hierárquica de Roma. Religião é parte da estrutura política e social. Por exemplo, os fariseus são descritos no evangelho de João como líderes influentes.

Carter (2008) traz ainda o conceito de antilinguagem do sociolinguístico M. A. K. Halliday (1976 apud CARTER, 2008). Este conceito refere-se ao modo de resistência do grupo que busca uma forma alternativa de se relacionar com o mundo. Halliday sugere que os leitores do evangelho de João é um exemplo dessa antilinguagem, identificado por Carter (2008) como uma retórica de distância mantida ao longo do evangelho.

Segundo o autor, a retórica de distância cria limites sociais, estabelece clareza de identidade e urge distância entre aqueles que o escritor ou escritores acha que tem pouco limites. Assim, segundo o autor, a retórica de distância e antilinguagem do Evangelho proporciona uma estratégia retórica para negociar no mundo de Roma por meio de chamada para práticas correntes dos seguidores de Jesus e criação de distância social maior.

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O texto do Evangelho enfatiza o conflito que inevitavelmente ocorre entre a manutenção do status quo do império romano e Jesus, o Messias, revelador do propósito da vida de Deus e seus seguidores pela distância e criação de uma antisociedade que reflete uma ordem cósmica diferente. Ainda, segundo o autor, o Evangelho emerge como expressão textual da interação do poder dominante e dos subjugados.

Um pouco da missão do Evangelho de João como discurso escondido, uma leitura alternativa, uma visão da realidade contestiva, antilingagem e uma missão contestiva que vem contrapor com a devoção a Roma. O trecho a seguir mostra um pouco da missão do evangelista na forma de apresentar Jesus como o revelador da vida de Deus, contrastando com o sistema estabelecido:

Johns mission centers on Jesus, whom God has charged to reveal God and Gods purposes (1:18). God is presented as the creator of the world and thus its sovereign (1:1-3). Jesus is light for the world (1:8-9; 3:19-21; 8:12; 9:5). His mission is possible because he was with God in the beginning before creation (1:13). God has revealed Godself to Jesus (1:18; 5:20; 8:38, 40; 12:50; 14:8-9) and commissioned Jesus to reveal God. God's revealing activity in Jesus is expressed fundamentally by two key verbs: "send" and "give." The narrative uses the verb "send"129 over forty times to describe God as the sender of Jesus. This sending is expressed in God's sealing (6:27) and consecrating (10:36) of Jesus. God initiates, authorizes, and guarantees the revelation of God and God's life-giving purposes in Jesus' ministry. God "gives" or entrusts to Jesus "all things" (3:35; 13:3; 17:7), including judgment (5:22, 26-27), life (4:10,14; 5:26; 6:27, 33; 10:28; 17:2), actions/works (5:36; 17:4; cf. 14:10), words (12:49; 17:8), God's name (17:11-12),

and the cup of Jesus' suffering (18:11). God gives Jesus as an expression of God's love for "the world" (3:16). The divine purposes that Jesus reveals can be summed up in the term "life," as we saw in chapter 1 (above) in the Gospel's statement of purpose in 20:30-31 (cf.3:16; 10:10). . (CARTER, p. 80)

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Entretanto a missão de Jesus contrasta, colide e repara a missão de Roma, pois apresenta uma vida plena e abundante e não tem pretensão de subjugar.

Tanto o conceito de antilinguagem e antisociedade de Halliday e o de negociação com o poder de Scott, alerta sobre a matriz complexa que constituía a interação entre o poder imperial e as províncias subjugadas. Carter (2008) sugere que o Evangelho cria uma retórica de distância para tentar criar uma linha entre o império e os seguidores fiéis de Jesus, exigindo menos acomadação e mais uma maneira distintiva de vida como uma comunidade alternativa ou antissocial.

Outro aspecto importante destacado por Carter (2008) presente em João é o que ele chama de “turn to the past”, uma olhada para o passado; representado pelas figuras de Abraão e Moisés que ali aparecem tanto para a urgência de se manter a retórica de distância e também por sancionar a participação ativas dos judeus. Segundo Carter (2008), as figuras de Abraão e Moisés quer dizer poder, autoridade, uma fonte de identidade e sanção para um modo particular de vida. Como é possível vê no seguinte trecho:

I will then argue that this "turn to the past" is an important strategy in Johns Gospel for negotiating Roman power. The attention given to Abraham and Moses provides examples of this negotiation. Rememberings of Abraham and Moses are disputed in the Gospel by Jesus and his opponents, suggesting in all likelihood contested forms of imperial negotiation among Jesus' believers. I will argue that some remember Abraham and Moses in order to sanction active societal participation, while others remember these figures to urge greater societal distance. Moreover, on the basis of Jesus' greater antiquity, the presentation of Jesus as being "in the beginning with God" (1:1) outweighs any turn to Abraham and Moses, thus providing greater authority for the crucified yet risen and ascended Jesus to shape present engagement with Roman power. Antiquity thus remembered has authority and is a means of power, a source of identity and sanction for a particular way of life. The Gospel's "turn to the past," to the very beginning with God, reasserts the origin and task of the one to whom Jesus believers are committed as the basis for a distinctive rather than accommodationist identity and lifestyle in Roman Ephesus. This turn to the past comprises a further aspect of the Gospel's rhetoric of distance. (CARTER, p. 94)

Referências

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