• Nenhum resultado encontrado

O corpo híbrido: análise midiática da participação do atleta Oscar Pistorius no Mundial de Atletismo de 2011.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "O corpo híbrido: análise midiática da participação do atleta Oscar Pistorius no Mundial de Atletismo de 2011."

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

www.rbceonline.org.br

Revista

Brasileira

de

CIÊNCIAS

DO

ESPORTE

ARTIGO

ORIGINAL

O

corpo

híbrido:

análise

midiática

da

participac

¸ão

do

atleta

Oscar

Pistorius

no

Mundial

de

Atletismo

de

2011

Fabio

Zoboli

a,∗

,

Cristiano

Mezzaroba

a

,

André

Marsiglia

Quaranta

b

e

Elder

Silva

Correia

c

aDepartamentodeEducac¸ãoFísica,CentrodeCiênciasBiológicasedaSaúde,UniversidadeFederaldeSergipe,SãoCristóvão,

SE,Brasil

bSecretariadeEstadodaEducac¸ãodeSergipe(SEED-SE),Aracaju,SE,Brasil

cCursodeLicenciaturaemEducac¸ãoFísica,CentrodeCiênciasBiológicasedaSaúde,UniversidadeFederaldeSergipe,

SãoCristóvão,SE,Brasil

Recebidoem2demarçode2013;aceitoem13dejaneirode2014 DisponívelnaInternetem16dejaneirode2016

PALAVRAS-CHAVE

OscarPistorius; Corpohíbrido; Mídia;

MundialdeAtletismo 2011

Resumo O texto objetiva abordar questões pertinentes ao corpo híbrido --- fusão natu-ral/artificial---observadas noportal globo.comem relac¸ãoàparticipac¸ãopolêmicadeOscar PistoriusnoMundialdeAtletismo/2011.Duranteoeventoidentificamos23notícias relaciona-dasaPistorius,analisadas-asapartirdométododahermenêuticadeprofundidade.Constatamos umagendamentoemrelac¸ãoaoreferidoatleta,peloseuineditismoepelapolêmicaenvolvida, ouseja,porsereleumatletabiamputadoquecompetecompróteses---queocaracterizacomo um corpohíbrido---junto aatletassemdeficiência. A participac¸ão dePistoriusrequeruma aberturaparaapercepc¸ãodediferentesníveisderealidadeepercepc¸ão.

©2015ColégioBrasileirodeCiênciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todosos direitosreservados.

KEYWORDS

OscarPistorius; Hybridbody; Media;

AthleticsWorld Championship2011

Bodyhybrid:mediaanalysisoftheparticipationoftheathleteOscarPistoriusinthe

AthleticsWorldChampionshipof2011

Abstract The text aims at addressing issues related to the hybrid body---natural/artificial fusion---observedatGlobo.comportalregardingthePistoriuspolemicinvolvementinthe2011 WorldChampionshipsinAthletics.Duringtheeventwe haveidentified23 newsreport rela-tedtoPistorius,analyzing themtakingthedepthhermeneuticmethod inconsideration. We havefound ascheduling inrelationtothecited athletefor hisoriginalityand controversy, i.e.,becauseheisabi-amputatedathletewhocompeteswithprosthesis---whichcharacterizes

Autorparacorrespondência.

E-mail:zobolito@gmail.com(F.Zoboli).

http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2015.12.004

(2)

ahybridbody-alongwithathleteswithoutdisabilities.Pistorius’participationrequires open-nesstotheawarenessofdifferentlevelsofrealityandperception.

©2015ColégioBrasileirodeCiênciasdoEsporte.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrights reserved.

PALABRASCLAVE

OscarPistorius; Cuerpohíbrido; Mediosde comunicación; MundialdeAtletismo de2011

El cuerpo híbrido: análisis mediático dela participación del atleta Oscar Pistorius

enelMundialdeAtletismode2011

Resumen El presente texto aborda cuestiones relativas al cuerpo híbrido ---fusión natural/artificial--- planteadasenelportalGlobo.comenrelaciónconlapolémicaentornoala participacióndePistoriusenelMundialdeAtletismode2011.Duranteelevento,seencontraron 23 noticiasrelacionadasconPistoriusyselasanalizóapartirdelametodologíahermenéutica profunda.Seconstatóunseguimientoenrelaciónconesteatletainéditoypolémico,puesse tratadeundeportistacuyaspiernashabíansidoamputadasyquecompetíaconprótesis,por loqueseloclasificacomouncuerpohíbrido,almismoniveldecorredoresquenopresentan esadeficiencia.LaparticipacióndePistoriusexigellevaracabounareflexiónsobrediferentes nivelesderealidadypercepción.

©2015ColégioBrasileirodeCiênciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todoslos derechosreservados.

Introduc

¸ão

Ocorredor sul-africanoOscar Pistoriusficouconhecido no cenário esportivo mundial por não ter as duas pernas e usar prótesesfinas,feitasde fibrasde carbono,para cor-rer.Pistoriusfoioprimeirocorredorparaolímpiconahistória doatletismo acompetir igualmente com corredores ditos ‘‘normais’’emnívelmundial.Essefeitoocorreuem2011, emDaegu,naCoreiadoSul,quandoesseparatletaconseguiu participardeumeventomundialdeatletismocomatletas nãodeficientes,eventosoborganizac¸ãodaAssociac¸ão Inter-nacionaldeFederac¸õesdeAtletismo(IAAF)edaAssociac¸ão Sul-CoreanadeFederac¸õesdeAtletismo.

Talacontecimento,entre27deagostoe4desetembro de2011,marcouahistóriadoatletismo.Enquantomuitos elogiamaparticipac¸ãodoreferidoatletanoMundial,outros criticameacabamgerandoumapolêmicaemrelac¸ãoàsua classificac¸ãoparatalcampeonato,devidoàssuaspróteses, queconfiguramPistoriuscomoumserhíbridonafusãodeseu corpo(natural)comaprótese(artificial)---carneesilício.

AescolhadeOscarPistoriusparamediarasinterlocuc¸ões midiáticas que faremos neste texto sedeve ao fato deo atleta polemizar a questão epistemológica que ronda os estudos do corpo na modernidade no que diz respeito à transformac¸ão ontológicadohumano, colocada em xeque com aruptura dolimiar entreo natural e o artificial ---o corpohíbrido.

Nesse sentido, o presente texto pretende investigar os modos como a mídia --- aqui circunscrita à esfera digital por meio do portal de internet Globo.com ---trouxeinformac¸õese tematizouasquestõesconcernentes àparticipac¸ãodeOscarPistoriusnoeventoanalisado. Identi-ficamos23reportagensespecíficascomOscarPistorius,tais

dadosforamcoletadosemummês,de15deagostode2011 (12diasantesdoevento)a15desetembro(11diasdepois doevento).

Seconsiderarmosquetalatletanãoéumrepresentante brasileirona competic¸ãoe o ‘‘detalhe’’deser umatleta com deficiência numa competic¸ão para ‘‘superatletas’’, podemosconsiderarqueaquantidadedeaparic¸õesdeOscar Pistorius no materiai produzido e publicado pelo veículo midiáticopesquisadoéalgoquenoschamouaatenc¸ão.

Metodologicamente, tal investigac¸ão se caracterizou como um estudo de abordagem qualitativa, pois procu-rou trabalhar com os ‘‘achados’’ da pesquisa em sua articulac¸ãocomo‘‘universodossignificados,dosmotivos, das aspirac¸ões, das crenc¸as, dos valores e das atitudes’’ (Minayo,2010,p.21).Emrelac¸ãoaotipodeestudo, trata--sedeumapesquisadescritivo-exploratória(Trivi˜nos,2010), pelodesejodetrazeràtonafatosdarealidadesema pre-tensãodecientificizac¸ãoou‘‘buscadeumaverdade’’ (ou comprovac¸ão),esimadescric¸ãoeascaracterísticasdaquilo quepodeserevidenciadonoquefoiveiculadosobreOscar Pistoriusesuadeficiência/excepcionalidade,oqueamplia nossoolharemtornodetalproblemática.

Poderíamos classificar, ainda, que este estudo, a par-tir do que vem sendo pesquisado e difundido em âmbito nacionalemrelac¸ãoaestudosmidiáticos,trata-sedeuma

(3)

produzidoeveiculadopelamídia,apartirdediversos recur-sos metodológicos ou de técnicas de análises de dados, desde abordagens mais positivistas ou quantitativas até abordagensmaisfenomenológicasoumesmoestruturalistas, decunhoqualitativo.

Com osdadosjácoletados,usamosahermenêutica de profundidade1(THOMPSONapudTeixeira,2008)para

tratá--los,comoobjetivodeexplorarseussentidosesignificados, tantopelo queestá nostextos escritos comonasimagens divulgadaspeloportal pesquisado,istoé, como ocorreua produc¸ãodesentidoemrelac¸ãoaoatletaPistorius.

Nasequênciadotexto,então,inicialmentetratamosdo sujeitoOscarPistorius,tidocomoumcorredorhíbrido,para, emseguida,abordarmosaproblematizac¸ãonoquetangeàs discussõesdafusãodohomemcomatecnologia,apartirdo queévisto em Pistorius.Finalmente,analisamososdados coletadosemnossapesquisa.

Oscar

Pistorius:

breves

considerac

¸ões

Pistorius nasceu na África do Sul em novembro de 1986 e ficoudeficiente aos 11meses, quandotevesuas pernas amputadasnaalturadojoelho.Aamputac¸ãosedeudevido aumproblemadetectadopelosmédicosnoatodeseu nasci-mento:OscarPistoriusnãotinhaafíbula(perônio),ouseja, nãotinhaumdosossosdocorpoquedásuporteaosmúsculos daperna.Por talmotivofoinecessáriofazeraamputac¸ão deambasaspernasdeOscar.

Antes dechegar aoatletismo,Pistoriuspraticou outras modalidades esportivas: tênis, rúgbi e lutas olímpicas. Porém, foi no atletismo que ele se encontrou e se fir-mou como atleta paraolímpico. No decorrer de suas participac¸ões em competic¸ões de atletismo para pes-soas com deficiência, ficou conhecido como o atleta paraolímpico mais rápido do mundo. Mas desde que Pistorius comec¸ou no atletismo, tinha o desejo de par-ticipar de competic¸ões com atletas que não fossem deficientes.

Sua trajetória como atleta paraolímpico foi de mui-tos recordes, vitórias e medalhas. Ele conquistou quatro medalhasdeouro nos JogosParaolímpicos, três delasnas ParaolimpíadasdePequimem2008.Eletambémérecordista mundialnos100,200e400metrosrasosnaclasseT44.2

Devidoaoseudesejodeparticipar deumacompetic¸ão compessoas semdeficiência, eletentouclassificac¸ãopara competirnasOlimpíadasdePequimem2008,masfoivetado

1Paraseconseguirfazeresse‘‘desvelamento’’doqueé

produ-zidopelamídia,apartirdahermenêuticadeprofundidade,duas fasessão essenciais. A primeira, compreender como as notícias sãoproduzidas,transmitidas erecebidas em condic¸õessociais e históricasespecíficas.Asegundafaseconsistenaquestãoformal oudiscursivadahermenêuticadeprofundidade,ouseja,entender queosobjetoseexpressõesquecirculamnoscampossociaissão, também,construc¸õessimbólicas complexasqueapresentamuma estruturaarticulada,elas‘‘dizemarespeitodealgumacoisa’’,seja porimagens,sejaportextos.

2Usa-seessaexpressãoT44paraidentificaraclassereferentea

cadadeficiência. OT(track)=pista,ouseja,elecorreempista eanumerac¸ão44éparaindicarograudecomprimentomotordo atleta.

pelaIAAF(Associac¸ãoInternacionaldasFederac¸õesde Atle-tismo),quesecolocoucontraaparticipac¸ãodelenosJogos, devido às suas próteses de fibras de carbono. Segundo a IAAF, o uso dessas próteses daria vantagem a Pistorius sobre os demais competidores, ou seja, alegararam que seriadesigualcompetircasoo referidoatletausasseessas próteses.Depoisdessefato,Pistoriusficouconhecido mun-dialmente. Apartir desse episódio, Oscar Pistoriustravou uma grande batalha para conseguir a aprovac¸ão da IAAF paracompetirjuntocomatletassemdeficiênciaemeventos mundiais.

ComoaIAAFnãoconseguiuprovarcientificamentequeas prótesesdePistoriuslheconferiamvantagem,aCorte Arbi-traldoEsporte (CAS)anulouo vetodaIAAFe deurazãoa Pistorius.Commuitainsistênciaededicac¸ão,eleconseguiu a permissão para competir com pessoas sem deficiência. EoCampeonato MundialdeAtletismorealizadoemDaegu em2011foiopalconoqualseviuPistoriusquebrarotabu dasegregac¸ãodeeventosdesportivos‘‘deficientes’’versus

‘‘normais’’.

Em 2012, Pistoriusmais umavez fez história ao parti-cipardosJogosOlímpicosdeLondresentreos‘‘normais’’, naequipesul-africanadeatletismo.Algunsdiasdepoisdos Jogos Paraolímpicos,também em Londres,Oscar Pistorius foisuperadonaprovade200metrosparaamputadospelo brasileiroAlanOliveira.Suamíticaesimpatiasãopostasem questão quando Pistorius, numa atitude deselegante,não aceitaaderrotaparaobrasileiroeexigiuanálisedas próte-sesdeAlan.Alegouqueelaseramlongasdemais,oquelhe confeririaumavantagememrelac¸ãoaosseusoponentes.

Aquivale mencionar que já em 2007 Pistorius compe-tia emprovasdeatletismodecunhoregionalem seupaís com atletas ‘‘normais’’’. Porém, isso não repercutia no âmbito internacional, logonão setinhaa visibilidade que hoje temos das questõesque mediavam osjogostensivos dainclusão/segregac¸ão.Porisso,oMundialdeAtletismode 2011emDaegueaOlimpíadade2012emLondressão consi-derados,dentrodahistóriadoesporte,comoosmomentos em que um atleta com deficiência rompe com a lógica dasegregac¸ãoparacompetircomos‘‘maisnormais’’’,ou ‘‘menosdiferentes/deficientes’’.

Pistorius:

um

corredor

híbrido

OscarPistoriusassumecentralidadenoâmbitoesportivoda atualidade,3 pois, mesmonão tendoduas pernascomo os

ditos ‘‘normais’’’, adquire o direito de ser tratado como tal, conquista marcasnas pistasque lhedão o direito de participardeeventosfeitosparaopúblico‘‘normal’’---não deficiente --- ou seja, com suas pernas protetizadas, Pis-torius corre tão rapidamente quanto os normais bípedes intactos de membros inferiores. Suaparticipac¸ão no con-texto não segregadocausa incômodo, na medida em que sãomediadosdiscursosdequeoatletanãoseria suficiente-mentehumanoparacompetircomos‘‘normais’’,poissuas

3Aquiéimportantefrisarqueapesquisafoifeitaantesdo

(4)

próteses defibra lhe atribuemcaracterísticas híbridas da fusãohomem/máquina.

ÉcomomencionaGoellnere Silva(2012,p.199):‘‘Com seucorpoeugenizadopelabiotecnologia, Pistoriusassusta ao reivindicar o direito de competir junto aos obsoletos corpos,meramentehumanos’’.Aofundirsuacarneao silí-cio e ao carbono de suas próteses, Pistorius coloca em xequeanaturezahumananosentidodemetamorfosearseu corpo com o artificial. Aliado aos estigmas históricos de um corpo com deficiência, soma-se o nascente estranha-mento do homem que se funde com o artificial,ou seja, comanaturezahíbridaoriundadatecnologia.

Comoterritóriodemúltiplossignificadosetransgressões, este corpo---meiomonstro,meiociborgue--- carregao emblemahegemônicodadiferenc¸aedesliza contempo-raneamenteentreasfronteirasdesuamaterialidade.Um corpodiferente,marcado,aomesmotempo,pela defici-ência,pelaperformanceepelatecnologia(Novaes,2009, p.170-71).

Pela manipulac¸ão por meio da técnica, o corpo cada vezmaisfoisendoalvodedomíniodatécnica.Ocorpose transformousob as condic¸ões que asciências/tecnologias lhe oportunizam para transcender sua natureza. O ser humanonãoaceitouocorpoqueDeuslhedeu,nabuscade transcendê-loelecriouaciência,queoportunizoutécnicas para superá-lo. Assim, a técnica/tecnologia constante-mente está buscando dominar e ultrapassar as fronteiras docorpohumano,tornando-o‘‘[. . .]escaneado,purificado,

gerado, remanejado, renaturado, artificializado, recodi-ficado geneticamente, decomposto e reconstruído [. . .]’’

(Le Breton, 2003, p. 26). Assim, cada vez mais a bio-tecnologia está visando penetrar/invadir/metamorfosear a organicidade do corpo, não mais normalizando suas func¸ões, mas sim ampliando, transpondo, potenciali-zando, transcendendo essas func¸ões. Ou seja, pela técnica busca-sesanar aprecariedadedo corpoenquanto natureza.

Em meio a essa simbiose ‘‘corpo/tecnologia’’, o ser humano vai incorporando realmenteem seuscorpos essas tecnologias,resultandoemnovasconfigurac¸ões---ohíbrido. São corpos virtualizados via informática, corpos recons-truídos por meiode prótesesbiônicas de últimagerac¸ão, corposmodificadosgeneticamente,emsuma,corpos híbri-dos.Nessesentido,compactuamoscomTadeu(2009)quando menciona que uma das características mais notáveis de nossaeraéprecisamenteopromíscuoacoplamentodoser humano com a máquina. ‘‘Do lado do organismo: seres humanos que se tornam, em variados graus ‘artificiais’. Doladodamáquina:seresartificiaisquenãoapenas simu-lam características dos humanos, masque se apresentam melhoradosrelativamenteaessesúltimos’’’(Tadeu,2009, p.11).

Sendo assim,cabe-nos deixarclaroao leitorque neste estudo o ‘‘corpo híbrido’’ é caracterizado pela fusão corpo/tecnologia,sejaeladadanoâmbitodavirtualizac¸ão, robótica(produc¸ãodesistemascapazesdecomportamentos autônomos), biotecnologia (manipulac¸ão de componen-tes dos seres vivos) e nanotecnologia (fabricac¸ão de dispositivos moleculares). Amparados nessa hibridac¸ão do corpo/naturalcomatecnologia/artificial,percebemosouso

em nosso redor de expressões tais como biocibernético, ciborgue,4 corpo protético, pós-orgânico, pós-biológico,

dentreoutros.ParaHaraway(2009,p.37),‘‘nofimdoséculo XX,nestetempo,umtempomítico,somostodosquimeras, híbridos---teóricosefabricados---demáquinaeorganismo; somos,emsuma,ciborgues’’.

Nãopodemosnegarqueessasnovastecnologiasligadas aocorpo estão causandopolêmicasnoque tangeàs fron-teirasdohumano, confundindoatésuaontologia,afinal o quecaracterizaamáquinanosfazpensarnaquiloque carac-teriza o homem. Essa realidade vem fomentando estudos epistemológicosquegiramemtornodocorpoesua ontolo-gia.AfirmamosissosustentadosemContreras(2011,p.139), quandomencionaqueahibridac¸ãodocorpo‘‘correspondea todaunaontologíaeunaepistemología,quehundesus raí-cesenloscâmbiosenlarepresentacióndelosobjetosdela naturezaydelatecnologia---losseresvivosylasmáquinas’’. Aindanessesentido,Santaella(2004,p.31)citaque:

Amisturacrescenteentreovivoeonãovivo,onaturale oartificial,permitidapelastecnologias,atingehojeum tallimiarderupturaquefazexplodiraprópriaontologia dovivo[. . .].Eis,portanto,aconsiderávelruptura

filosó-ficaeculturalqueenfrentamos.Quandoocorpoetodos os seres vivos tornam-se informac¸ão codificada, o que permiteamanipulac¸ãoereplicac¸ãodaprópriavida,éa transformac¸ãoontológicadohumanoqueestáemjogo.

O corpo híbrido fez nascer novos binários: natu-ral/artificial,carne/silício, real/virtual, homem/máquina. Bináriosessesquevêmnãosósesomar atantosoutrosjá históricos;muitomaisdoqueisso,elesvêmressignificaros mesmos: corpo/mente, natureza/cultura, sujeito/objeto. Alguns deles já são descritos como sepultados ou joga-dos ao lixo: ‘‘complexos híbridos de carne e metal que jogam conceitos como ‘natural’ e ‘artificial’ para a lata do lixo. Essas redes híbridas são os ciborgues e eles não selimitam a estar à nossa volta --- eles nos incorporam’’ (Kunzru,2009,p.24).OfilósofofrancêsMichelSerres com-pactuacomtalentendimento,namedidaemque,aoversar sobre o corpo híbrido, ele anuncia que esse soluciona o velhoproblema doacordo oudasínteseentrenatureza e cultura:

Nada mais ‘‘natural’’ do que o gesto de instalar um equilíbrio distante de uma antiga estabilidade, e isso porque a palavra natureza significa, justamente, um nascimento, e o processo em questão descreve o nas-cimento da própria vida a partir do inerte preso na armadilha dosegundoprincípiodatermodinâmica;mas a repetic¸ãodoprocessoprojetaahistória, essamesma história que nos separa da evoluc¸ão vital, bacteriana, vegetalouanimal.Aculturacomec¸apelanatureza;ela éapróprianatureza,cujacontinuidadesedáporoutros meios.Porisso,acadaetapa,ela setorna irreconhecí-vel.Nãoteríamosjamaisnostransformadosnoshomens quesomossemotreinamento(Serres,2003,p.46).

4Otermociborguederivadecyborg,queéaabreviaturade

(5)

Sob esse viés, é inerente o entendimento de que essa ideiadepotencializarocorpopelatecnologianãoérecente, ela ‘‘compõe o imaginário dediferentes culturas que, há muito tempo, buscam superar a finitude, a condic¸ão de animalidade e a precariedade do corpo e da vida’’. Não podemos reduzir a ideia de tecnologia de potencializac¸ão de corpos humanos simplesmente aos fiosdesilícioeaprótesesdecarbono,nemàsintervenc¸ões decunhogenéticoque fazemdenossa‘‘heranc¸adivina’’’ ummitoem desconstruc¸ão,nem tãosomente ascirurgias plásticasdemodelagemoureparac¸ãofuncionalouestética.

Aerado ciborgueé aqui e agora, onde quer que haja umcarro, umtelefoneouumgravadordevídeo. Aera dociborgue nãotem a vercom quantos bits desilício temos sob nossapele ouquantas próteses nossocorpo contém.TemavercomofatodeDonnaHaraway[assim comoqualqueroutrapessoa]iràacademiadeginástica, observarumaprateleirade alimentosenergéticospara

bodybuilding,olharasmáquinasparamalhac¸ãoedar-se contadequeelaestáemumlugarquenãoexistiriasem aideiadocorpocomoumamáquinadealtaperformance (Kunzru,2009,p.23).

Afusãocomatecnologiafaznascernovassignificac¸ões sobre o pensar/agir e sentir o corpo. ‘‘Al transformar la naturaleza,elhombrenosoloproducecosas,sinoque tam-biénproducedecierta formasusproprios sentidos,lesda nuevas propiedades, produce sus sentidos como sentidos humanos’’(Contreras,2011,p. 131).Nesse sentido, acre-ditamosquesefaznecessáriaumaressignificac¸ãodoolhar noquetangeàvisualizac¸ãodessasnovasmanifestac¸ões cor-poraisqueseapropriamdohumano.Mudarasestruturasde significac¸ãonosmodosdeconcebê-loétambémpartedeum processodemudarsuasrelac¸ões.

Esse movimento de ressignificar acontecerá na medida em que as novas metáforas forem dando bases para que o híbrido não nos cause mais espanto e se naturalize ---afinal ele é artefatohumano. Acreditamos que em breve esseestranhamentoseráexauridoeaospoucosseperderá na medidaem que for nãosóalgo subjetivado, mas tam-bémquandosetornarumaconstantenassuasmaisvariadas manifestac¸õesenosseusmaisvariadoscontextos.Afinal,o corposóexiste enquantolinguagemesigno.Dessaforma, namedidaemqueaciênciaeosseuscoadjuvantestécnicos avanc¸am nosentidodecriar novossentidos paraocorpo, cabeanóshumanossempreressignificararespostaà per-gunta:o que é corpo? Pois, como alerta Serres (2003, p. 41):

Oque é corpo?Ele nãoexiste;existia, masnãoexiste mais, pois vive inteiramente na modalidade do possí-vel.Apenasumalógicamodalpermiteapreendê-lo;ele saidanecessidadeparaentrarnopossível.Eisamelhor definic¸ãoque sepodedar:o corpoéumvirtual encar-nado.

Dialogando

com

os

dados

Apartirdeagora,trazemosparadiscussãoosdados encon-trados no portal Globo.com, no qual foram encontrados 23 registros jornalísticos sobre Oscar Pistorius de 15 de agostoa15desetembrode2011.Emtodasasreportagens

veiculadas comPistoriusse faziaalusão ao corpohíbrido. Semexcec¸ão,todasasreportagenssedirigiamaoatletaa partirdesuacondic¸ãocorporalhíbrida.

Para uma exemplificac¸ão, abaixo apresentamos três recortesdenossacoletadedados:

‘‘[. . .] Pernas metade humanas e metade artificiais.’’

Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/ 2011/08/pauta-das-principais-noticias-da-afp-681.html. Acesso:13deJulhode2012.

‘‘Oscar Pistorius, que teve as pernas amputadas e corre com próteses de fibra de carbono.’’ Disponível em: http://extra.globo.com/esporte/oscar-pistorius- faz-historia-se-classifica-para-semifinal-dos-400-metros-do-mundial-de-atletismo-2540847.html. Acesso: 13 de Julhode2012.

‘‘O atleta de24 anos que correcom próteses defibra decarbononolugardaspernasamputadas.’’Disponível em: http://oglobo.globo.com/esportes/brasileiro-vai- disputar-final-da-prova-dos-200m-no-mundial-de-atletismo-2703618.Acesso:13deJulhode2012. Assim,Pistorius,comseucorpohíbrido,dissolveas bar-reirasentrecarneepróteses,homemeobjetotécnico:

A heterogeneidade de que é feito o ciborgue [corpo híbrido---Pistorius]---oduroeomole,asuperficialidade eaprofundidade---invalidaahomogeneidadedohumano talcomooimaginamos.Aideiadociborgue[híbrido],a

realidadedociborgue[. . .]éaterrorizante,nãoporque

colocaemdúvidaaorigemdivinadohumano,mas por-quecolocaemxequeaoriginalidadedohumano(Tadeu, 2009,p.13-14).

AtéporseuhibridismoPistoriusémetaforicamente cha-madodeBladeRunner,que significa‘‘corredor lâmina’’’. Essacaracterizac¸ãosedeveaofatodesuaspernasdefibra decarbonoseassemelharemaduaslâminas.Emquatrodas 23reportagensidentificamosessametáforapara caracteri-zare darnomeao atleta.Outraexpressão usadatambém porquatrovezesnasnotíciasfoi:um‘‘estranho’’emmeio aos‘‘normais’’.

Porcontadabiotecnologia,Pistoriusteveseu‘‘destino’’ modificado.Deumcorpocom deficiênciaatecnologiafez nascerumatletaqueatingemarcasdignasdeparticipac¸ão emcompetic¸õesemnívelmundialcomatletasconsiderados normais.Assim,ocorpodoatletaOscarPistorius:

Tornou-se alvodeinvestimento e, naarticulac¸ãoentre várias áreas do saber,deu origem aum ser híbrido de carne e fibras de carbono. Aos moldes da eugenia do século XIX,o atleta sul-africano jamaissetornaria um emblemade‘‘homempuro-sangue’’,sobretudo porque nasceumarcadoporumamalformac¸ãocongênita. Entre-tanto,sobosimperativosdaneoeugenia,suamazelafoi extirpadaesua‘‘deficiência’’suplantadapela tecnociên-cia.Pistoriuséoemblemadaneoeugeniaaopotencializar seu corpo para além de suas condic¸ões ‘‘puramente’’ humanas(GoellnereSilva,2012,p.197-98).

(6)

atletas.Duasmatériasnoticiavamessespossíveisperigosna medidaemquehouvesseumcontatofísicodePistoriuscom outroatleta.

Foiexatamenteporissoquenorevezamento4·4005

Pis-torius correu como ‘‘primeiro atleta’’ de sua equipe. Na provaderevezamento4·400,oprimeiroatletacorredentro

desuaraia,osegundocorreos100primeirosmetros raia-dospara depoiscorrerem raia livre.Apartir deentão,o segundo,bemcomooterceiroequartoatletas,corremem raialivre.Essacaracterizac¸ãodaregraexplicaomotivode aFederac¸ãoInternacionaldeAtletismo(IAAF)terliberadoo atletaparafazerorevezamentocomaequipesul-africana somentenacondic¸ãodeprimeirocorredor,jáquesendo pri-meiroatletanãoteriacontatocomosdemaispelarestric¸ão dasraias.

Noentanto,aspolêmicasquemaisatingemohibridismo de Pistorius estão ligadas àsvantagens de suas próteses. Nas23reportagensforamdetectadasseisquemencionavam quePistoriustinhavantagensdevidoaousodaspróteses ---valemencionarqueduasdasseisreportagenssimplesmente anunciavamquePistoriustemvantagemaocorrercomsuas pernasprotetizadas,noentantonãoexplicitavamomotivo quegeratalvantagem.Asoutrasquatroreportagensse refe-riamatrêstiposdevantagens,vejamos:

a) umareportagemalegavquePistoriusteriamaior veloci-dadeaofazerusodaspróteses;

b) duasreportagensanunciavamquePistoriusteria vanta-gemde10segundosaoscorrercomsuaspróteses,porém semanunciarosmotivos;

c) umanota aludiaa quePistorius, ao corrercom pernas mecânicas,usava25%amenosdeoxigênioqueosdemais atletas.

Todasasvantagensacimadescritaspoderiamenquadrar OscarPistoriusnumcontextodedopingtecnológicoeé exa-tamente por conta disso a dificuldade de se estabelecer acordos nosentido dedeixá-locompetir com atletas nor-mais.Miah(2008,p.53)enumeraoutroseventoshistóricos em queatecnologiafoivistacomo eticamente problemá-tica no âmbito esportivo, no que diz respeito ao doping tecnológicoeaousodemateriais:

Nadécadade1980,odesenvolvimentodavaradefibra nosaltocomvaralevouasituac¸õesemqueoutros atle-tas tinham o benefício de umavara melhor do que os outros que não tinham [. . .] uma regra semelhante foi

feitacomrelac¸ãoaodesigndabicicletasuperman,que ajudavanacorridaporterumaposic¸ãodoassentomais aerodinâmica[. . .].Asroupasdenatac¸ãoFastSkinda

Spe-edo despertaram controvérsias parecidas nas vésperas dosJogosOlímpicosdeSidneyem2000[. . .].

Ascontradic¸õesqueenvolvemessetipodedopingsofrem deargumentosmuitofrágeiseporvezesatécontraditórios:

5NaprovaindividualdePistorius,os400metrosrasos,elenão

temoproblemadocontatofísico,jáqueasprovasdeatletismoaté einclusive400metrossãotodascorridasemraias,ouseja,aregra nãopermitequeoatletaavanceparaaraiaadversáriaexatamente paraquenãoobstruaosdemaiscompetidores,etambémparaque nãotenhavantagemdepercurso.

seoesporteestápautadonalógicadorendimentomáximo, por que o doping --- que potencializa tal rendimento --- é ilegal?O mitodo doping estáfundado na pureza natural, logo,‘‘nãoépossívelpensaroimpurosenãofaceaopuro’’ (PereraeGleyse,2005,p.62).Nocontextodenossoescrito, oimpurovemmascaradosobaroupagemdoartificial---as próteses de Pistorius. Ou seja, não há como se falar em dopingna modernidadesem estabelecerastensões entre obinárionatural/artificial.

Essaéumaquestãobastantecontroversasefor conside-radoqueousodealgumatecnologia---droga,manipulac¸ão genética,prótese/material---pareceserimprescindívelpara o esporte de alto rendimento e que nele há pouco do que se poderia chamarde ‘‘natural’’ noque se refere à relac¸ão com o corpo --- como se pudéssemos delimitar o queseriaumanatureza‘‘livre’’doscondicionantes cultu-raisdatecnologia(Vaz,2005).Alémdomais,‘‘Nãoparece fácilresponderporqueélícitofazerumacirurgiaplástica paraaumentarabeleza,masnãointervircirúrgicaou qui-micamenteparaaumentaraperformanceesportiva’’.(Vaz, 2005,p.34)

Assim, aqui novamenteperguntamos: o que seria uma vantagemtecnológica?Oslimitesentrenaturezaecultura, como analisamos acima, já foram superados, até porque ‘‘não existe nada mais que seja simplesmente ‘puro’ em qualquerdoslados dalinhade‘divisão’:a ciência,a tec-nologia,anaturezapuras;opuramentesocial,opuramente político,opuramentecultural.Totaleinevitávelembarac¸o’’ (Tadeu,2009,p.11).

Arriscamosafirmarqueoesporteémediadonasua tota-lidadepelatecnologia,ao mesmotempoemqueservede laboratórioparaela.O corpoeo esporteestão fadadosa umaprogressãotecnológicairreversível.Materialesportivo (bolas, raquetes, pistas de atletismo, gramado de cam-posdefutebol),vestimentas(camisas,calc¸ados,aparelhos de seguranc¸a), suplementac¸ão alimentar e fármacos (uso racionaldeanabólicosehormônios,proteínase carboidra-tosde alta absorc¸ão). ‘‘Venceros jogosolímpicos na era dociborguenãotemaver simplesmentecomcorrer mais rápido.Temaver comainterac¸ãoentremedicina,dieta, práticasdetreinamento,vestimentasefabricac¸ãode equi-pamentos,visualizac¸ãoecontroledetempo’’(Kunzru,2009, p.23).

Dessa forma, acreditamos não ser mais possível parar atecnologiae nemperceber oslimitesonde comec¸am as máquinase onde terminam os humanos, pois ‘‘[. . .] é no

confrontocom clones, ciborgues e outros híbridos tecno-culturaisquea‘humanidade’denossasubjetividadesevê colocadaemquestão’’(Tadeu,2009,p.10).

Assim,pensararelac¸ãoentreocorpoeamáquina,entre sujeito e objeto, e buscar entender de que forma se estabelecem identidades e significados sociaise cultu-rais, que não desfrutavam davisibilidade hegemônica, remete-nos a olhar para práticas e fenômenos sociais que, apesardeterem umainegável dimensãocultural, parecem residir em uma zona de pouca visibilidade e aceitac¸ão(Novaes,2009,p.166).

(7)

metáforadeJeanBaudrillardéperfeitapara transcender-mostalepisteme:6

Como na história do ilusionista forc¸ado, no palco, a tornar artificialmente mecânicos os seus gestos para diferenciar-se do autômatocom o qual divide a cena, cujocomportamentoperfeitoimpedeadistinc¸ão entre homemeamáquina(Baudrillard,2011,p.150).

Como tal, perceber que ambos --- ilusionista e autô-mato --- fazem parte de um só movimento é transcender aideiadodualismoparaounofundido.Noentanto, rein-ventartaisepistemes ontológicasqueenvolvemocorpoé partedacriac¸ão denovasmetáforasparase olharparao mesmo---umareeducac¸ãodoolhar.Issotudo,porém,é pró-prio/inerentedacondic¸ãohumana,condic¸ãoquereiteramos sóexistirnaepelalinguagem.

Podemos afirmarque só nós temos corpo, e este está nalinguagem,nomundo(nãoéum‘‘dado’’).Épossível assimtermosvárioscorpos,eelesseconstituemparanós emconquista,damesmaformaqueohomemconquista oseupróprioser(Fensterseifer,2004,p.293).

Levandoissoemconsiderac¸ão,entendemosocorpoaqui comoumasededesignos---aquiloquerepresentaecriana mentedapessoaoutrossignosequivalentesoumais desen-volvidos. Nesse sentido, o corpo, apreendido como signo pelamente,apresentaaessaúltimaenigmasaserem deco-dificadosepossibilidadesaseremcodificadaseinscritasna matéria.Ocorpo,assim,transmitesentido,ousignificac¸ões, se considerarmos aqui que não conseguimos apreender o sentido em si, considerando que essa (significac¸ão) éo‘‘poderdeviraser’’dosentido;dequeamentecria,a partirdesignosexternos,outrossignosequivalentesoumais desenvolvidos.

Considerac

¸ões

finais

Umsujeitofadadoà‘‘incapacidade’’figurandoentreatletas quesãovistoseanunciadoscomosendooápiceda perfec-tibilidadehumana em questões de rendimento--- técnica, forc¸aevelocidade---sóépossívelgrac¸asàpotencializac¸ão humanageradapelasbiotecnologiasquedãooportunidade aocorpodefazercoisasdasquaisasuaprópriaestruturac¸ão biológica/natureza não seria capaz. Porém, será que as novasconfigurac¸ões humanas geradas por essas biotecno-logiasjáencontramosesquemasdepercepc¸õesàalturade seutempo?

Nessa instigante possibilidade urge a necessidade de acompanhar essa relac¸ão inaugurada por Oscar Pistorius. Comojácitado,em2012oatletasul-africanotambém par-ticipoudosJogosOlímpicosdeLondres,oquecertamente gerounovosfatosexploradospelos meiosdecomunicac¸ão demodogeral.

6Namenc¸ãodeVeiga-Neto(2004),MichelFoucaultdesignaa

epis-temecomocategoria queusamosparadefiniredividir omundo social,constituiverdadeirossistemasquenospermitempensar,ver edizercertascoisas,aomesmotempoemqueimpededeveredizer tantasoutras.Aepistemefuncionainformandoaspráticas (discur-sivasenãodiscursivas)edandosentidoaelas.Aomesmotempo,a

epistemefuncionatambémemdecorrênciadetaispráticas.

Aparticipac¸ãodehíbridosemmeioaos‘‘normais’’pode ser vista como mais uma ferramenta a contribuir para a construc¸ão da cultura e do ethos inclusivo. Para tal, a diferenc¸aprecisaserumdosmaisnobrespilaresparaa con-vivênciahumana.Alémdomais,odiscursoéticoemoraldo corpo,doesporteedodopingpassaporquestõesque envol-vem o entendimento dos limites ontológicos sob os quais entendemososerhumanoenessesentidoPistoriustambém écentral.

OcaráteraparentementeenigmáticoquePistoriusveio daraodesportoaomisturardeficiênciacomaressignificac¸ão do humano com a máquina/tecnologia requer de nós muitomaisdoqueumsimples‘‘aceitar’’.Requeruma aber-turaparaapercepc¸ãodediferentesníveisderealidadeede diferentesníveisdepercepc¸ão.

Conflitos

de

interesse

Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.

Referências

BaudrillardJ.Telatotal:mito-ironiasdovirtualedaimagem.5ed. PortoAlegre:Sulina;2011.

ContrerasRC.Ontologíayepistemologiacyborg:representaciones emergentesdelvínculoorgânicoentreelhombreyla natura-leza.RevistaIberoAmericanadeCiência,TecnologiaySociedad 2011;7(19):131---41,BuenosAires.

FensterseiferPE.Corpoelinguagem.In:Strey,M.N.;Cabeda,S.T.L. (org.) Corpos e subjetividades em exercíciointerdisciplinar. PortoAlegre:EDIPUCRS,2004,p.289-303.

GoellnerSV,SilvaALS.Biotecnologiaeneoeugenia:olharesapartir doesporteedaculturafitness.In:CoutoES,GoellnerSV(org).O triunfodocorpo:polêmicascontemporâneas.Petrópolis:Vozes, 2012,p.187-210.

Haraway D. Manifesto ciborgue: Ciência, tecnologia e feminis--socialistanofinaldoséculoXX.In:HarawayD,KunzruH,Tadeu T(org.)Antropologiadociborgue:asvertigensdopós-humano. 2ed.BeloHorizonte:Autêntica,2009,p.33-118.

KunzruH.Vocêéumciborgue:umencontrocomDonnaHaraway.In: HarawayD,KunzruH,TadeuT(org.)Antropologiadociborgue: asvertigensdopós-humano.2ed.BeloHorizonte:Autêntica, 2009,p.17-32.

LeBretonD.Adeusaocorpo:antropologiaesociedade.Campinas: Papirus;2003.

Miah A. Atletas geneticamente modificados: ética biomédica, dopinggenéticoeesporte.SãoPaulo:Phorte;2008.

MinayoMCdeS(org.)Pesquisasocial:teoria,métodoecriatividade. 29ed.Petrópolis:Vozes,2010.

Novaes VS. A performance do híbrido: corpo, deficiência e potencializac¸ão. In: Couto ES, Goellner SV, editors. Corpos mutantes: ensaios sobrenovas (d)eficiênciascorporais.2 ed. PortoAlegre:UFRGS;2009.p.165---79.

Perera E,Gleyse J. O dopingao longodo século XX naFranc¸a: representac¸õesdopuro,doimpuroedosegredo.Revista Brasi-leiradeCiênciasdoEsporte2005;27(1):55---74,Campinas.

SantaellaL.Corpoecomunicac¸ao:sintomadacultura.3aed.São

Paulo:Paulus;2004.

SerresM.Hominiscências:ocomec¸odeumaoutrahumanidade?Rio deJaneiro:BertrandBrasil;2003.

(8)

Teixeira DV. A ética no discurso do jornal Zero Hora sobre as mudanc¸as climáticas. 2008. 98f. Dissertac¸ão (Mestrado em Educac¸ãoAmbiental).ProgramadePós-Graduac¸ãoemEducac¸ão Ambiental, UniversidadeFederal de RioGrande, RioGrande, 2008. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov. br/download/texto/cp075260.pdf>. Acesso em: 29 out. 2011.

Trivi˜nosANS.Introduc¸ãoàpesquisaemciênciassociais.SãoPaulo: Atlas;2010.

Vaz AF. Dopping, esporte, performance: notas sobre os limi-tes do corpo. Revista Brasileira de Ciências do Esporte 2005;27(1):55---74,Campinas.

Referências

Documentos relacionados

A avaliac ¸ão da facilidade de ventilac ¸ão e do grau da classificac ¸ão de Cormack-Lehane antes e depois da administrac ¸ão do rela- xante muscular não despolarizante no

Na lista de autores do artigo original ‘‘Associac ¸ão entre prática de atividades físicas, participac ¸ão nas aulas de Educac ¸ão Física e isolamento social em

O copo tem sido indicado pela Organizac ¸ão Mundial de Saúde como o método de transic ¸ão e ou complementac ¸ão da alimentac ¸ão oral do prematuro, com a justificativa de

Em todas as empresa objeto de ação fiscal, os responsáveis pela contabilidade e Departamento de Pessoal, são os Srs. João Goes Xavier e José Reinaldo,

O município de Ponta Grossa, assim como os demais apresentam enormes dificuldades, tanto operacional quanto estrutural para captar recursos oriundos do Governo Federal,

Nesse sentido, vale destacar, novamente, a afirmação de Antunes (2003) sobre a importância da tomada de consciência, por parte dos docentes de língua portuguesa, acerca do ensino

6.1 Findo o prazo contratual, sem que a CONTRATADA tenha concluído, totalmente, o serviço, ficará sujeita à multa diária de 0,05% (cinco centésimos por cento) do valor do

Exercício: Represente relacionamento de uma classe com uma associação , utilizando UML, considerando um sistema de gestão acadêmica. Introdução