w w w . r e u m a t o l o g i a . c o m . b r
REVISTA
BRASILEIRA
DE
REUMATOLOGIA
Artigo
original
Qualidade
de
vida
e
capacidade
funcional
de
pacientes
com
capsulite
adesiva:
identificac¸ão
de
fatores
de
risco
associados
a
melhores
desfechos
após
tratamento
com
bloqueio
de
nervo
Marcos
Rassi
Fernandes
a,∗,
Maria
Alves
Barbosa
ae
Ruth
Minamisawa
Faria
b aUniversidadeFederaldeGoiás(UFG),Pós-Graduac¸ãoemCiênciasdaSaúde,Goiânia,GO,BrasilbUniversidadeFederaldeGoiás(UFG),FaculdadedeEnfermagem,Goiânia,GO,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem26deagostode2016 Aceitoem11deabrilde2017
On-lineem25demaiode2017
Palavras-chave:
Qualidadedevida Bloqueiodenervo Avaliac¸ãodedesfecho Capsuliteadesiva Ombro
r
e
s
u
m
o
Introduc¸ão: Osobjetivosdesteestudoforamavaliaraqualidadedevidaeacapacidade fun-cionaldepacientescomcapsuliteadesivanoinícioenofimdoprocedimentodebloqueio denervoeidentificarfatoresderiscoassociadosamelhoresdesfechosapósotratamento.
Métodos:Fez-seum estudo decoorte prospectiva.Os critériosde inclusãoforam sinais clínicosdecapsuliteadesivaealterac¸õesda doenc¸anosexamesdeimagemdoombro. Administrou-seaformaabreviadadoquestionárioWorldHealthOrganizationQualityofLife
eoquestionárioDisabilitiesoftheArm,ShoulderandHandnoinícioenofimdotratamento. Foiusadaumapontuac¸ãode55pontosoumaisnoíndicedeConstantparadescontinuaro tratamento.Usou-seotestedeWilcoxonparaamostraspareadas.Aplicou-seaanálisede regressãomúltipladePoissoncomvariáveisdeexposic¸ãocomp<0,20naanáliseunivariada. Usou-seaqualidadedevidasatisfatóriaeamelhorcapacidadefuncionalcomodesfechos. Oníveldesignificânciafoide5%.
Resultados: Avaliaram-se43pacientes.Nacomparac¸ãoentreosvaloresmedianosnoinícioe nofimdotratamento(DomínioFísico:46,43a67,86;DomínioPsicológico:66,67a79,17; Domí-nioSocial:66,67a75;DomínioAmbiental:62,5a68,75;DASH:64,16a38,33),opfoi<0,05.O envelhecimento(Físico/Psicológico/DASH),amaiorescolaridade(Físico/Ambiental/DASH), amenorgravidade(apenasFísico)eamenorquantidadedebloqueiosdenervo(apenas Psicológico)foramfatoresderiscoindependentes.
Conclusões:Aqualidadedevidaeacapacidadefuncionaldospacientesmelhoramnofim doprocedimento.Pacientesmaisidososeumamaiorescolaridadesãoosfatoresderisco associados à qualidadede vidasatisfatóriae àmelhor capacidadefuncionaldepoisdo tratamentocombloqueiodenervo
©2017PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´eumartigoOpenAccesssobuma licenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:marcosombro@ig.com.br(M.R.Fernandes).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbr.2017.04.003
Quality
of
life
and
functional
capacity
of
patients
with
adhesive
capsulitis:
identifying
risk
factors
associated
to
better
outcomes
after
treatment
with
nerve
blocking
Keywords:
Qualityoflife Nerveblock
Outcomeassessment Adhesivecapsulitis Shoulder
a
b
s
t
r
a
c
t
Introduction: Theobjectivesofthisstudyweretoassessthequalityoflifeandfunctional capacityofadhesivecapsulitispatientsatthebeginningandendofprocedureandtoidentify riskfactorsassociatedtobetteroutcomesaftertreatmentwithnerveblocking.
Methods: Aprospectivecohortstudywasperformed.Inclusioncriteriawereclinicalsigns ofadhesivecapsulitisanddiseasechangesonshoulderimagingexams.Theshortform ofWorld HealthOrganizationQualityoflife andDisabilitiesofthe Arm,Shoulderand Handquestionnaireswereadministeredatthebeginningandendoftreatment.Ascoreof 55pointsormoreontheConstantindexwasusedfordiscontinuationoftreatment.Weused theWilcoxontestforpairedsamples.MultipleregressionanalysisofPoissonwascarried outusingexposurevariableswithp<0.20intheunivariateanalysisandthesatisfactory qualityoflifeandbetterfunctionalcapabilityasoutcomes.Thesignificancelevelwas5%.
Results: 43 patients were evaluated. For the comparison between medians values at the beginning and end of treatment (Physical Domain: 46.43-67.86; Psychologic Domain: 66.67-79.17; SocialDomain: 66.67-75; Environment Domain: 62.5-68.75;DASH: 64.16-38.33),pwas<0.05.Aging(Physical/Psychologic/DASH),highereducationallevel (Phy-sical/Environment/DASH), less severity (only Physical) and fewer nerve blocking (only Psychologic)weretheseindependentriskfactors.
Conclusions: Qualityoflifeandfunctionalcapacityofthepatientsimproveattheendof procedure.Olderpatientsandhighereducationlevelsaretheriskfactorsmostassociatedto satisfactoryqualityoflifeandbetterfunctionalcapacityaftertreatmentwithnerveblocking.
©2017PublishedbyElsevierEditoraLtda.ThisisanopenaccessarticleundertheCC BY-NC-NDlicense(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc¸ão
Amensurac¸ãododesfechoéumcomponenteessencialpara definiraefetividadedapráticaclínica.Nacomunidade ortopé-dicaereumatológica,temhavidouminteressecrescentenas medidasdedesfechoquecapturamaperspectivadopaciente desuaprópriacondic¸ãoclínica.Essasmedidasincluema aná-lisedaqualidadedevida(QV)edacapacidadefuncional(CF), indicadoresdesaúdeamplamenteaceitosemintervenc¸õesde saúde.1,2,3
AformaabreviadadoquestionárioWorldHealth Organiza-tionQualityofLife(WHOQOL-BREF)éumamedidagenérica, multidimensionalemulticulturaldeQV.Podeserusadoem pacientescomtranstornospsicológicosefísicos,bemcomo porindivíduossaudáveis.4,5Umalimitac¸ãodessequestionário éque elenão aborda todas asquestões relevantes à inca-pacidadenaQV. Outroinstrumento,o DASH,avalia a CFe refleteoimpactodossintomasedafunc¸ãofísicaempacientes comtranstornosmusculoesqueléticoscrônicosdemembros superiores.6 Recomenda-se a inclusão de pelo menos um questionáriogenéricoeumquestionárioespecíficoem estu-dosque avaliam os distúrbios do ombro, uma vezque os questionáriossecomplementam.7,8
Amaior parte dosestudos empacientes com capsulite adesivaabordaossintomasdadoenc¸a.Essesestudos anali-samosresultadosdotratamento comescalasdedor, forc¸a eescalasdeamplitudedemovimento.Ousodessesmétodos clínicosconvencionaispodelevaraumaavaliac¸ãoincompleta
dasaúde.9 Noentanto,umaanálisedessesdesfechos(QVe CF)pode fornecer informac¸õescomplementares eajudara caracterizarapercepc¸ãodevidadosindivíduosafetadosem diferentesdimensões,umavezquenadaéconhecidosobreo usosimultâneodoWHOQOL-BREFedoDASHnessadoenc¸a, apesardacorrelac¸ãoqueháentreosinstrumentos.10O trata-mentodacapsuliteadesivaédesafiador,umavezqueamaior partedospacientestemrespostaparcial,evoluc¸ãocrônicae limitac¸ãofuncional.Areabilitac¸ãofísicaemedidaspara tra-taradoreainflamac¸ão/adesãosãoinsuficientes,sugeremque háumcomponentepsicossocialrelevante.Osobjetivosdeste estudoforamavaliaraQVeaCFdospacientescom capsu-liteadesivanoinícioenofimdoprocedimentoeidentificaros fatoresderiscoassociadosàqualidadedevidasatisfatóriaeà melhorcapacidadefuncionalapósotratamentocombloqueio denervo.
Material
e
métodos
Participantes
Fez-se um estudo de coorte prospectiva com pacientes com capsulite adesiva. Selecionaram-se os participantes duranteconsultasderotinaemumaclínicaespecializadade agosto/2010afevereiro/2012.
movimentoativaepassivadosombros,elevac¸ãoanterior a 130◦,rotac¸ãoexternaa50◦erotac¸ãointernaatéL5.11
Oscritériosdeinclusãoforamsinaisclínicosdecapsulite adesiva, presenc¸a de osteopenia por desuso nas radiogra-fiasdeombro(incidência APverdadeira,axilareescapular) e reduc¸ão no volume da cápsula articular associada à obliterac¸ãodo recessoaxilar naressonância magnética do ombrorealizadanosúltimos30dias.
Excluíram-se os pacientes que tivessem ou relatassem essesdados:idadeinferiora24anos,doenc¸asconcomitantes comolacerac¸ãocompletadomanguitorotador,instabilidade, artroseglenoumeraleluxac¸ãobloqueadadoombro;sequelas motorasdeacidentevascularencefálico(hemiplegiaou hemi-paresia),históriadecirurgiademamanosúltimostrêsmeses; quimioterapiaouradioterapia;capsuliteadesivacom envolvi-mentobilateral,cirurgiaprévianoombroafetado;diagnóstico dediabetesdescompensadaouhemoglobinaglicosilada supe-riora7%nos30diasanteriores;ouinfiltrac¸ãosubacromialou bloqueiodonervosupraescapular(SSNB)nos15dias anterio-resaorecrutamento.
Ferramentasdeavaliac¸ão
Ospacientesincluídosnoestudopreencheramos instrumen-tosWHOQOL-BREFeDASHnoinícioenofimdotratamento, emambienteprivado,semapresenc¸adeninguém.Os ques-tionáriosforamautoaplicadoseospacientesgastaramuma médiade15minutosporinstrumento.Imediatamenteapósa inclusãodopacientenoestudo,iniciou-seotratamento sema-naldacapsuliteadesivacomSSNB.
Fez-seaavaliac¸ãofinalquandoapontuac¸ãode Constant--Murley fosse maior ou igual a 55 pontos. Esse método clínicoavalia ador(15pontos),asatividadesdevidadiária (20pontos),amobilidadearticularativa(40pontos)eaforc¸a doombro(25pontos).12Esseparâmetrofoiusadopara deci-dirseobloqueiodenervodeveriaounãosercontinuadoefoi aplicadonoiníciodecadaconsultasemanaldopaciente.
TécnicadeSSNB
Os SSNB foram feitospor apenas ummédico treinado via acessoposterior,de acordocoma técnicaDangoisse,13 em regimeambulatorial,semaajudadeumestimuladordenervo perifériconemde técnicas deimagem. Usaram-se 8mLde cloridratodebupivacaínaa0,5%combitartratodeepinefrina 1:200.000,semaassociac¸ãodecorticoides.
Coletadedados
Trataram-se as variáveis de exposic¸ão de acordo com categorias predeterminadas: idade em anos no momento dorecrutamento;gêneromasculino/feminino);escolaridade (maior ou igual a oito anos de escolaridade formal); estado civil (solteiro/casado);dor no momento do recruta-mento (leve ou moderada/grave),12 classificac¸ão da doenc¸a (primária/secundária),14 gravidade da doenc¸a no momento do recrutamento (não grave/grave),14 durac¸ão da doenc¸a (menorou igual a três/superior a três meses), quantidade debloqueiosdenervo(inferioratrês/maiorouigualatrês). Consideraram-se também outras variáveis: lado do ombro
afetado (direito/esquerdo), dominância (destro/sinistro); e sono(nãoafetado/afetado).12
Desfechos
As variáveis de desfecho foram a QV e a CF. Usaram-se para avaliac¸ãoosdois instrumentosmencionadosacima,o WHOQOL-BREFeoDASH.OWHOQOL-BREFinclui26questões geraisdeQVeécompostopelosdomíniosfísico,psicológico, relacionamento socialeambiente.Oescorefinalparacada domíniopodevariarde0a100,emque0correspondeaopior estadogeraldesaúdee100aomelhorestadodesaúde.4 O DASHéuminstrumentocom boaconsistênciainternaque usa30questõesparaavaliaraCFdospacientescom transtor-nosdemembrosuperior.Quantomaiorapontuac¸ão,maiora incapacidadefuncional.6
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pes-quisaDr.HenriqueSantillo/GOem23/06/2010sobonúmero 0014.0.177.000-10.
Análiseestatística
OsdadosforaminseridosemumaplanilhadoMicrosoftOffice ExceleanalisadoscomosprogramasStatisticalPackageofSocial Sciences(IBM-SPSS20.0)eStata12.0.Usou-seocoeficientede confiabilidadedeCronbachparaavaliaraconsistênciainterna dosinstrumentos.
Apresentaram-seasvariáveisdeexposic¸ãoeoutras variá-veis comonúmeros absolutosefrequências.Calcularam-se aspontuac¸õesdosdomíniosDASHeWHOQOL-BREFdecada paciente tanto noinícioquantoao finaldotratamento. As pontuac¸õesDASHeosescoresemcadaumdosdomíniosdo WHOQOL-BREFforamtransformadosemumaescaladezero a100.
Emrazãodasuadistribuic¸ãonãonormal,calcularam-seas medianas,osintervalosinterquartiseosvaloresmínimose máximosdosescoresdoDASHedomíniosdoWHOQOL-BREF. Paracompararadistribuic¸ãodosescores(medianas)no iní-cioeaofinaldotratamento,foiutilizadootestedeWilcoxon paraamostraspareadas.Construíram-segráficosBoxplotpara osescoresdoDASHedomíniosdoWHOQOL-BREFusandoas medianaseosintervalosinterquartis.
Paraidentificar asvariáveis associadasaumaqualidade de vida satisfatória ea umamelhorcapacidade funcional, realizou-seumaanáliseunivariadautilizandootestede qui--quadradoouotesteexatodeFisher,conformeapropriado.
Todasasvariáveisdedesfechoforamdicotomizadas. Inici-almente,calculou-seamedianadasquestõesdecadapaciente paradicotomizarosvaloresemcadadomíniodo WHOQOL--BREFemsatisfatóriaeinsatisfatória.Seamedianadeum pacienteeramaiorouigualaquatro,suaQVeraconsiderada satisfatória.ParadicotomizarosescoresdoDASH,calculou-se amedianadecadapacientenasquestões.Seamedianafosse menorquetrês,opacienteeraconsideradocomotendouma CFmelhor.
Tabela1–Dadosclínicosesociodemográficos dapopulac¸ãoestudada(n=43)
Variáveis n %
Idade
>50 29 67,4
≤50 14 32,6
Sexo
Masculino 20 46,5
Feminino 23 53,5
Escolaridade
>8anos 26 60,5
≤8anos 17 39,5
Estadocivil
Casado 11 25,6
Solteiro 32 74,4
Lado
Direito 18 41,9
Esquerdo 25 58,1
Dominância
Destro 41 95,3
Sinistro 02 4,7
Classificac¸ão
Primária 15 34,9
Secundária 28 65,1
Dor
Leve/Moderada 22 51,2
Grave 21 48,8
Sono
Afetado 04 9,3
Nãoafetado 39 90,7
Gravidade
Nãograve 37 86
Grave 06 14
Durac¸ãodadoenc¸a
≤3meses 13 30,2
>3meses 30 69,8
Paratodasasanálisesestatísticas,oníveldesignificância foifixadoem5%.
Resultados
Participaramdoestudo47pacientes.Nãofoipossível calcu-larosescoresdequalidadede vidaecapacidadefuncional dequatropacientesnofimdotratamento,queforamentão excluídosdoestudo.Assim,aamostrafinalfoicompostapor 43pacientes.
Amédiadeidadefoide54,7anos,de40a75,e23(53,5%)dos participanteseramdosexofeminino.Amaioria(60,5%)tinha maisdeoitoanosdeescolaridadeformal.Aformasecundária dadoenc¸aocorreuem65,1%doscasos,comhipotireoidismoe diabetesmellitusem11,6%e4,7%doscasos,respectivamente (tabela1).
Avaliou-sea consistência internado DASHe WHOQOL--BREFnoinícioenofim dotratamento.NoWHOQOL-BREF, calculou-seoalfadeCronbachparaosdomínios,asquestões ecadadomínioindividualmente,comomostradonatabela2. OsvaloresdoscoeficientesalfadeCronbachobtidosparaas
Tabela2–Coeficiente␣deCronbachdoWHOQOL-BREF
eDASH(n=43)
␣deCronbach Númerodeitens
WHOQOL-BREF
26questões
Inicial 0,91 26
Final 0,91
Domínios
Inicial 0,90 24
Final 0,90
Domíniofísico
Inicial 0,85 7
Final 0,68
Domíniopsicológico
Inicial 0,73 6
Final 0,82
Domíniosocial
Inicial 0,62 3
Final 0,70
Domínioambiental
Inicial 0,77 8
Final 0,80
DASH
Inicial 0,95 30
Final 0,96
Tabela3–Mediana,valoresmínimoemáximo eintervalointerquartildosescoresdoDASH eWHOQOL-BREFnoinícioenofimdotratamento empacientescomcapsuliteadesiva(n=43)
Domínios Mínimo–máximo Mediana Intervalointerquartil
Físico
Inicial 11–86 46,43 28,57–60,71
Final 36–93 67,86 60,71–78,57
Psicológico
Inicial 25–88 66,67 50,00–79,17
Final 25–96 79,17 62,50–83,33
Social
Inicial 17–100 66,67 58,33–83,33
Final 25–100 75,00 66,67–83,33
Ambiental
Inicial 19–91 62,50 50,00–71,88
Final 22–94 68,75 56,25–75,00
DASH
Inicial 16–100 64,16 50,00–74,16
Final 5–85 38,33 30,00–57,50
questõeseparaosdomíniosmostraramconsistênciainterna satisfatóriaparaoWHOQOL-BREFeoDASH.Quandoavaliados individualmente,odomíniorelacionamentossociais apresen-touosvaloresmaisbaixos.
Tabela4–AnáliseunivariadadefatoresderiscoassociadosaosdomíniosdoWHOQOL-BREFeDASH(n=43)
Variáveisdeexposic¸ão total PD PsD SD ED DASH
QV+ p QV+ p QV+ p QV+ p CF+ p
Sexo
Masculino 20 16 0,056 15 0,935 17 1.000 12 0,954 13 0,158
Feminino 23 12 17 19 14 10
Idade
>50 29 23 0,008 26 0,002 25 0,665 20 0,101 18 0,104
≤50 14 05 06 11 06 05
Estadocivil
Casado 11 07 1.000 09 0,698 09 1.000 08 0,480 07 0,434
Solteiro 32 21 23 27 18 16
Escolaridade
>8anos 26 20 0,045 21 0,295 23 0,407 19 0,036 17 0,053
≤8anos 17 08 11 13 07 06
Durac¸ãodadoenc¸a
≤3meses 13 11 0,096 09 0,709 10 0,655 08 0,925 08 0,486
>3meses 30 17 23 26 18 15
Gravidade
Nãograve 37 26 0,161 28 0,637 31 1.000 23 0,666 20 1,000
Grave 06 02 04 05 03 03
Classificac¸ão
Primária 15 11 0,408 11 1,000 12 0,680 10 0,543 09 0,531
Secundária 28 17 21 24 16 14
N◦deSSNB
<3 25 19 0,078 22 0,031 22 0,427 15 0,941 15 0,313
≥3 18 09 10 14 11 08
Dor
Leve/moderada 22 17 0.087 16 0,795 19 0,698 13 0,850 12 0,887
Grave 21 11 16 17 13 11
CF+,melhorcapacidadefuncional;ED,domínioambiental;N◦,número;PD,domíniofísico;PsD,domíniopsicológico;SD,domíniosocial;
QV+,qualidadedevidasatisfatória;SSNB,bloqueiodonervosupraescapular.
pré-SSNB.Houvetambémumaumentosignificativona capa-cidade funcional do ombro afetado, medida com o DASH (p<0,001).
Depoisdadicotomizac¸ãodosdesfechos,aanálise univa-riada identificou variáveis de exposic¸ão associadas a uma QVsatisfatóriaemcadadomíniodoWHOQOL-BREFeauma melhorCFno DASH.Somenteo domíniosocialnãoobteve variáveisparainclusãonomodeloderegressãomultivariada dePoisson(tabela4).
Pacientesmaisidososestiveramindependentemente asso-ciadosàQVsatisfatórianosdomíniosfísicoepsicológicodo WHOQOL-BREF.Amaiorescolaridadefoipreditordeescores maiselevadosnosdomíniosfísicoeambiental.Asquestõesde domíniofísico3,10,17e18foramasquemaiscontribuíram paraaaltaQVentreaspessoascommaisde50anos,enquanto asperguntas3,4e18foramasquemaiscontribuírampara osquetinhammaisdeoitoanosdeescolaridade.Essesdois fatorestambémfavoreceramaCFaumentadanoombro afe-tado,conformemedidopeloDASH.Umamenorquantidadede bloqueiosnervososcontribuiuparamelhoresescoresdeQV apenasnodomíniopsicológicoeumdiagnósticodecapsulite adesivanãograveresultouemescoresmaiselevadosapenas nodomíniofísicodoWHOQOL-BREF(tabela5).
Tabela5–AnálisederegressãomultivariadadePoisson dosfatoresderiscoparaosdomíniosdoWHOQOL-BREF
eDASH(n=43)
IRRa IC95%b p
Domíniofísicoc
Idade>50anos 1,40 1,20–1,61 0,000 Capsulitenãograve 1,37 1,13–1,68 0,002 Escolaridade>8anos 1,19 1,01–1,40 0,041 Durac¸ãodadoenc¸a≤3meses 1,19 0,99–1,43 0,063
Domíniopsicológicod
Idade>50anos 1,46 1,25–1,70 0,000 Quantidadedebloqueiosdenervo<3 1,34 1,15–1,57 0,000
Domínioambientald
Idade>50anos 1,21 1,00–1,48 0,053 Escolaridade>8anos 1,28 1,05–1,54 0,012
DASHd
Idade>50anos 1,21 1,01–1,45 0,040 Escolaridade>8anos 1,21 1,00–1,45 0,048
a Razãodetaxasdeincidência.
b Intervalodeconfianc¸a.
c Ajustadoporsexoedor.
Discussão
Acompreensãoda QVdospacientescomcapsuliteadesiva aindaélimitada,emboraadoenc¸asejarelativamentecomum. Opresenteestudomostrouumamelhorqualidadedevidae capacidadefuncionaldessespacientesapósotratamentocom SSNB.Aidadeacimade50anoseoensinosuperiorforamos principaisfatoresassociadosàQVsatisfatóriaemelhorCF.
OpresenteestudoconfirmouosachadosdeBaumsetal., queencontraramqueodomíniofísicodaQVdepacientescom capsulite adesiva estava comprometido antes da liberac¸ão cirúrgica.15 Esse resultado fazsentidoporque,além da dor crônica,ospacientescomcapsuliteadesivafrequentemente experimentamalterac¸õesnospadrõesdesonoena capaci-dadedefazeratividadesdiárias.16Osresultadosdopresente estudoconfirmaramqueaspontuac¸õesemtodososdomínios daQVaumentaramsignificativamenteapósotratamento.A menordiferenc¸anosescoresnoinícioenofimdotratamento foi no domíniosocial, conformetambém relatado por Lor-bachet al.17 Isso sugereque acapsulite adesiva não afeta muitoasrelac¸õesinterpessoais.OsescoresDASH apresenta-ramincapacidadesignificativanomomentodorecrutamento eumaumentonaCFnoperíododoestudonoombroafetado pelacapsuliteadesiva,oquecorroboraosresultadosdeHsieh
etal.18eBuchbinderetal.19
Arelac¸ãoentreaidadeeaQVtemsidorelativamente con-troversa.Umanoapósumacidentedetrânsitoeemcasos decâncerdetestículo,respectivamente,Khatietal.20eFleer
etal.21encontraramqueosindivíduosmaisjovens apresenta-rammaioresescoresdeQV,enquantoestudoscompacientes comtranstornosmentaisedoenc¸asoraisencontraram mai-ores escores de QV entre os idosos.22,23 Esses resultados sugeremquea variabilidadenaassociac¸ão entreaidade e aQVprovavelmentedependedotipodeproblemadesaúde edas diferenc¸asde sensibilidadeculturaldaferramentade avaliac¸ãodaQV.24–26NoBrasil,amenorexperiênciaemlidar comdeficiênciase/ouperdasfinanceiraspodesignificarque osindivíduosmaisjovenstêmmaiordificuldadedeadaptac¸ão àsuanovacondic¸ão.27Tambémérazoávelsuporqueaqueles comescolaridademaiselevadanãoperderiamoportunidades porcausadadoenc¸aequesuaadaptac¸ãoàincapacidade tem-poráriaseriafacilitadapelomelhoracessoàsinformac¸õesde saúde.
Passar por menos de três bloqueios nervosos esteve associado aumamaiorpontuac¸ão nodomínio psicológico, possivelmente porque procedimentos invasivos sucessivos têmopotencialdeaumentaraansiedadedopaciente. Tam-bém é possível que as pessoas com melhores desfechos psicológicosprecisassemdemenosintervenc¸ãoporque esta-vam mais satisfeitos com sua condic¸ão. É indispensável mencionarqueostatuspsicológicoeoperfildoserhumano sãoumimportantefatordemelhoria.28 Amenorgravidade dos pacientes com capsulite adesiva resultou em maiores pontuac¸õesno domínio físico do WHOQOL-BREF, provavel-menteporqueamenorlimitac¸ãodosmovimentosdoombro facilitouacapacidadederealizaratividadesdiárias,bemcomo acapacidadedetrabalhoeasatisfac¸ãocomosono.16
Àmedidaqueaidadecronológicaaumenta,aspessoasse tornammenosativasegradualmentemenoscapazesdefazer
atividadescotidianas.29,30Entretanto,umaavaliac¸ãoobjetiva da CFnemsemprecoincide comapercepc¸ão doindivíduo sobreasuaincapacidade,medidapeloDASH.Nesteestudo,os pacientesmaisvelhosrelatarammelhorCFdoombrodoque ospacientesmaisjovens,talvezporquetinhammaisrecursos disponíveisparaseadaptarouaceitaraslimitac¸õesimpostas peladoenc¸a.Aassociac¸ãoentreabaixaescolaridadeeaCF maisbaixapoderiaserexplicadapelamaneirainadequadade lidarcomasuaincapacidade.31
Entre aslimitac¸õesdo estudo,aamostra de conveniên-cia pode não ser verdadeiramente representativade todos ospacientescomcapsuliteadesivaepodetersido insufici-enteparadetectartodasasassociac¸ões.Fatoresderiscocomo comorbidadeseoutrasmodalidadesterapêuticasnãoforam analisadosnesteestudo.Poroutrolado,todos ospacientes desteestudoreceberamumaavaliac¸ãoclínicacompletapelo mesmo cirurgião ortopédico ea capsulite adesiva foi con-firmada por exames de imagem (radiografia e ressonância magnética). Um dospontos fortesdoestudoéo seu dese-nhoprospectivoeousodasferramentasdeavaliac¸ãodaQVe CFtraduzidasevalidadasparaoportuguês,oquepossibilita comparac¸õescomdiferentesculturas.
Esteestudoforneceuevidênciasdeumaassociac¸ãoentre característicassociodemográficaseamelhorianaqualidade devidaecapacidadefuncionalempacientescomcapsulite adesiva.Esses resultadospodemcontribuirpara umavisão maisampladasaúdedessespacientesepodeserútilparaos profissionaisqueatendemindivíduosquerecebemomesmo tipodetratamentousadonestapesquisa.
Existeumaassociac¸ãoentreosdadossociodemográficose amelhoriadosdesfechosestudados.Essainformac¸ãopode ser útil para os profissionais que usam os SSNB no trata-mento dessa doenc¸a,queprecisam prestaratenc¸ão nessas variáveisparaobtermelhoresresultadosclínicos.Aavaliac¸ão subjetiva dosconstrutos QVeCFexpandeo conhecimento do profissional além de perspectivas meramente clínicas, compreende-secomoospacientespensam,sentemeagem napresenc¸adacapsuliteadesiva.Ocuidadodessespacientes com aapreciac¸ão da suasubjetividadeeseus fatores rela-cionadosganhanovasnuances,umavezqueomédicoque osatendedevereconhecerquediferentesindivíduosnãodão importânciaàsmesmascoisaseque,portanto,devem abordá--los de maneiraindividualizada. Recomenda-se umestudo populacionalcomtécnicasdeamostragemprobabilísticapara abordartodasasvariáveisdapresentepesquisa.
Conclusão
AQVeaCFdospacientescomcapsuliteadesivamelhoram pós-procedimentodeSSNB.Aidademaisavanc¸adaeamaior escolaridadesãoosprincipais fatoresde riscoassociadosa umaqualidadedevidasatisfatóriaeaumaumentona capa-cidadefuncionaldoombroapósotratamentocombloqueio denervo.
Conflitos
de
interesse
r
e
f
e
r
ê
n
c
i
a
s
1. NesvoldIL,ReinertsenKV,FossaSD,DahlAA.Therelation betweenarm/shoulderproblemsandqualityoflifeinbreast cancersurvivors:across-sectionalandlongitudinalstudy.J CancerSurviv.2011;5:62–72.
2. PaananenM,TaimelaS,AuvinenJ,TammelinT,ZittingP, KarppinenJ.Impactofself-reportedmusculoskeletalpainon health-relatedqualityoflifeamongyoungadults.PainMed. 2011;12:9–17.
3. PiitulainenK,YlinenJ,KautiainenH,HäkkinenA.The relationshipbetweenfunctionaldisabilityandhealth-related qualityoflifeinpatientswitharotatorcufftear.Disabil Rehabil.2012;34:2071–5.
4. FleckMPA,LouzadaS,MartaX,CachamovichE,VieiraG, SantosL,etal.Applicationoftheportugueseversionofthe abbreviatedinstrumentofqualitylifeWHOQOL-bref.JPublic Health.2000;34:178–83.
5. FleckMP,LealOF,LouzadaS,XavierM,CachamovichE,Vieira G,etal.DevelopmentoftheportugueseversionoftheOMS evaluationinstrumentofqualityoflife.RevBrasPsiquiatr. 1999;21:21–8.
6. AktekinLA,EserF,BaskanBM,SivasF,MalhanS,ÖksüzE, etal.DisabilityofArm,ShoulderandHandQuestionnairein rheumatoidarthritispatients:relationshipwithdisease activity,HAQ,SF-36.RheumatolInt.2011;31:823–6.
7. StaplesMP,ForbesA,GreenS,BuchbinderR.Shoulder-specific disabilitymeasuresshowedacceptableconstructvalidityand responsiveness.JClinEpidemiol.2010;63:163–70.
8. BeatonDE,RichardsRR.Measuringfunctionoftheshoulder.J BoneandJointSurg.1996;78:882–90.
9. DeCarliA,VadalàA,PerugiaD,FrateL,IorioC,FabbriM,etal. Shoulderadhesivecapsulitis:manipulationandarthroscopic arthrolysisorintra-articularsteroidinjections.IntOrthop. 2012;36:101–6.
10.FernandesMR.Correlationbetweenfunctionaldisabilityand qualityoflifeinpatientswithadhesivecapsulitis.ActaOrtop Bras.2015;23:81–4.
11.ZuckermanJD,RokitoA.Frozenshoulder:aconsensus definition.JShoulderElbowSurg.2011;20:322–5.
12.ConstantCR,MurleyAHG.Aclinicalmethodoffunctional assessmentoftheshoulder.ClinOrthopRelatRes. 1987;214:160–4.
13.FernandesMR,BarbosaMA,SousaALL,RamosGC.Bloqueio donervosupraescapular:procedimentoimportantena práticaclínicaParteII.RevBrasReumatol.2012;52:616–22.
14.ZuckermanJD,CuomoF,RokitoS.Definitionand classificationoffrozenshoulder:aconsensusapproach.J ShoulderElbowSurg.1994;3:S72.
15.BaumsMH,SpahnG,NozakiM,SteckelH,SchultzW,Klinger HM.Functionaloutcomeandgeneralhealthstatusin patientsafterarthroscopicreleaseinadhesivecapsulitis. KneeSurgSportsTraumatolArthrosc.2007;15:638–44.
16.HandC,ClipshamK,ReesJL,CarrAJ.Long-termoutcomeof frozenshoulder.JShoulderElbowSurg.2008;17:231–6.
17.LorbachO,KiebM,ScherfC,SeilR,KohnD,PapeD.Good resultsafterfluoroscopic-guidedintra-articularinjectionsin
thetreatmentofadhesivecapsulitisoftheshoulder.Knee SurgSportsTraumatolArthrosc.2010;18:1435–41.
18.HsiehLF,HsuWC,LinYJ,ChangHL,ChenCC,HuangV. AdditionofIntra-articularHyaluronateinjectiontophysical therapyprogramproducesnoextrabenefitsinpatientswith adhesivecapsulitisoftheshoulder:arandomizedcontrolled trial.ArchPhysMedRehabil.2012;93:957–64.
19.BuchbinderR,HovingJL,GreenS,HallS,ForbesA,NashP. Shortcourseprednisoloneforadhesivecapsulitis(frozen shoulderorstiffpainfulshoulder):arandomised,double blind,placebocontrolledtrial.AnnRheumDis.
2004;63:1460–9.
20.KhatiI,HoursM,CharnayP,ChossegrosL,TardyH,Nhac-Vu H,etal.Qualityoflifeoneyearafteraroadaccident:Results fromtheadultESPARRcohort.JTraumaAcuteCareSurg. 2013;74:301–11.
21.FleerJ,HoekstraHJ,SleijferDT,TuinmanMA,KlipEC, Hoekstra-WeebersJEHM.Qualityoflifeoftesticularcancer survivorsandtherelationshipwithsociodemographics, cancer-relatedvariables,andlifeevents.SupportCare Cancer.2006;14:251–9.
22.FontaniveV,AbeggC,TsakosG,OliveiraM.Theassociation betweenclinicaloralhealthandgeneralqualityoflife:a population-basedstudyofindividualsaged50–74inSouthern Brazil.CommunityDentOralEpidemiol.2013;41:154–62.
23.KuehnerC,BuergerC.Determinantsofsubjectivequalityof lifeindepressedpatients:theroleofself-esteem,response styles,andsocialsupport.JAffectiveDisord.2005;86:205–13.
24.LinSC,KakigiC.Additiveeffectofage-relatedmacular degenerationandglaucomaonqualityoflife.Clin ExperimentOphthalmol.2016;44:365–6.
25.YilmazF,SahinF,ErgozE,DenizE,ErcalikC,YucelSD,etal. QualityoflifeassessmentswithSF36indifferent
musculoskeletaldiseases.ClinRheumatol.2008;27:327–32.
26.SchneebergerEE,MarengoMF,DalPraF,CoccoJAM,CiteraG. Fatigueassessmentanditsimpactinthequalityoflifeof patientswithankylosingspondylitis.ClinRheumatol. 2015;34:497–501.
27.MercierC,P’eladeauN,TempierR.Agegenderandqualityof life.CommunityMentHealthJ.1998;34:487–500.
28.VanWijkA,LindeboomJA,JonghA,TukJG,HoogstratenJ. Painrelatedtomandibularblockinjectionsandits relationshipwithanxietyandpreviousexperienceswith dentalanesthetics.OralSurgOralMedOralPatholOral Radiol.2012;114:S114–9.
29.GelfmanR,BeebeTJ,AmadioPC,LarsonDR,BasfordJR. Correlatesofupperextremitydisabilityinmedical transcriptionists.JOccupRehabil.2010;20:340–8.
30.GironP.Timetrendsinself-ratedhealthanddisabilityin olderspanishpeople:differencesbygenderandage.IranJ PublicHealth.2016;45:289–96.
31.VanEijsden-BesselingMD,VandenBerghKA,StaalJB,DeBie RA,VandenHeuvelWJ.Thecourseofnonspecific