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Mesomorfologia da acção em Aristóteles: os limites da decisão no limiar da phronesis

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR

Faculdade de Artes e Letras

Departamento de Comunicação e Artes

MESOMORFOLOGIA DA ACÇÃO

EM ARISTÓTELES

Os limites da decisão no limiar da phronesis

Dissertação para obtenção de Doutoramento em Filosofia apresentada ao Departamento de Comunicação e Artes

da Faculdade de Artes e Letras da UBI por

José António Campelo de Sousa Amaral

sob orientação do

Professor Doutor António Manuel Martins e co-orientação do

Prof. Doutor José Manuel Boavida Santos

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AGRADECIMENTOS E DEDICATÓRIA

À semelhança de todas as demais, a presente dissertação envolve na sua urdidura um vasto e complexo entrelaçamento de influências. Umas mais directas, outras menos. Umas mais patentes, outras nem tanto. Umas mais inevitáveis, outras nem por isso. Uma coisa é certa, qualquer intento de destacar esta ou aquela influência para a sujeitar ao ritual propiciador de um agradecimento dependerá sempre de um exercício memorialístico enraizado em afinidades interpessoais, cumplicidades afectivas, interesses cognitivos e lealdades institucionais. Insinuadas no silêncio das entrelinhas do texto redigido, todas essas dimensões confluíram de uma forma ou de outra para a materialização do resultado final e, nesse sentido, seria inglório o esforço de as resgatar a todas do infinito tear onde cada uma se entrelaçou em imprevisível e complexa conspiração.

Nesse inextricável enredo de vontades, afinidades e compromissos, nunca se saberá ao certo que sibilino critério tornará umas influências mais decisivas do que outras. E ainda bem que não, pois é justamente graças a essa abissal indeterminação que sinto total liberdade de espírito para expressar um reconhecido gesto de gratidão em dois planos distintos.

Num plano mais genérico, e dada a impossibilidade de nomear um por um todos os visados, começo por dirigir um prévio agradecimento a uma notável geração de mestres (como poderia eu esquecer-me deles?) que, em diferentes tempos e de diferentes modos, me transmitiram e incutiram uma efusiva predilecção humanística pela Cultura Clássica e pela Filosofia Antiga; o mesmo agradecimento gostaria de estender de seguida a todos os colegas com quem partilhei em infindáveis e acaloradas discussões uma entusiástica devoção pelas artes e letras ao longo da minha formação académica; por fim, e porque não?, agradeço a todos os alunos com quem me tenho cruzado em variadíssimos âmbitos lectivos e de quem tenho recebido, mais vezes do que as que seria de esperar, o comovente testemunho do irrecusável poder transfigurador da reflexão filosófica e dos textos clássicos da antiguidade.

Todavia, dado que a apresentação formal da presente tese não pode de modo algum ser desligada da investigação que há vários anos venho realizando no âmbito da Filosofia Antiga em geral e da Ética em particular, quero endereçar de forma muito

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particular e específica três agradecimentos a um conjunto de personalidades pela influência directa que tiveram na génese, no desenrolar e no desfecho da elaboração deste trabalho. Antes de mais, começo por agradecer ao Professor António Manuel Martins, da Universidade de Coimbra, a amável disponibilidade que desde a primeira hora manifestou para proporcionar a orientação e o acompanhamento científico da presente investigação. A sua atitude solícita e tranquila, sem nunca deixar de ser firme e interventiva, deu-me acrescidos motivos de alento e confiança, sobretudo naqueles momentos mais críticos em que, submerso em tarefas lectivas e compromissos académicos, o espaço de manobra parecia demasiado estreito e a tarefa a realizar muito superior às forças de que dispunha. Todavia, a prontidão e o interesse com que sempre acudiu às minhas solicitações nunca me permitiram desanimar perante a ciclópica tarefa que enfrentava. Mais do que tudo, agradeço o modo sábio com que me permitiu ser eu próprio, sem jamais se demitir das suas funções de orientador exímio e rigoroso, designadamente na indicação de bibliografia relevante e na recomendação de opções metodológicas mais viáveis e consistentes. Todo o mérito da proposta teórica desta tese – e estou ciente de que algum terá – devo-o por inteiro à sua orientação; quanto aos erros, imprecisões e lapsos que nela houver, apenas ao meu demérito e incapacidade se devem e, por isso, só a mim devem ser imputados. De seguida, quero agradecer ao Professor Joaquim Cerqueira Gonçalves, da Universidade de Lisboa, não só o testemunho de um sublime magistério académico, mas também a provocação de uma criativa reflexão filosófica com a qual, de resto, mantenho um tácito e furtivo diálogo nas entrelinhas desta dissertação. Foi sob os seus auspícios e graças aos seus bons ofícios e diligências que se plasmou a minha decisão de dar início à investigação que culminou na presente dissertação. Convocado pela sua sugestiva concepção poiética do ser do mundo e do mundo da vida, aqui lhe presto um mais que justo tributo pessoal. Uma palavra de primordial gratidão não podia deixar de endereçar também ao Professor António Carreto Fidalgo, actual reitor da Universidade da Beira Interior. Um discreto e acurado sentido de integridade, ao qual se aliam elevados padrões de exigência pedagógica e científica, constituíram sempre motivo admiração e fonte de inspiração desde a minha formação na Universidade Católica Portuguesa, instituição onde tive o privilégio de ser seu aluno. Grato lhe estou pela indefectível confiança e pelo permanente estímulo e incentivo que mais tarde dele recebi, desta

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feita já como jovem docente e investigador da Faculdade de Artes e Letras da Universidade da Beira Interior.

Cingindo-me ao âmbito institucional da Universidade da Beira Interior, quero dirigir uma agradecida palavra de estima e consideração ao Prof. Doutor José Manuel Santos, responsável pela co-orientação desta dissertação na qualidade de Director do Instituto de Filosofia Prática da referida Universidade. A esse agradecimento institucional e pessoal associo igualmente o Prof. Doutor Joaquim Paulo Serra, Presidente da Faculdade de Artes e Letras, bem como a Prof. Doutora Anabela Gradim, Presidente Departamento de Comunicação e Artes, ambos incansáveis em decisões administrativas cujos nós foi sendo necessário desatar, sem esquecer o Prof. Doutor José Silva Rosa, amigo e compagnon de route que muito prezo e ao qual me unem momentos de assídua deambulação filosófica e uma maturada cumplicidade intelectual.

Uma palavra de sincero reconhecimento não poderia deixar de dirigir a um respeitável e reputado conjunto de especialistas quer da filosofia antiga em geral, quer da aristotélica em particular, com quem tive a sorte e o privilégio de me cruzar pessoalmente em Seminários e Colóquios Internacionais e de cuja voz autorizada recebi não só inestimáveis incentivos, mas também pertinentes observações críticas, a saber António Pedro Mesquita da Universidade de Lisboa, Tomás Calvo Martinez da Universidad Complutense de Madrid, Marco Zingano da Universidade de São Paulo, Cristopher Rowe da Durham University, Carlo Natali da Università Ca'Foscari di Venezia e Alonso Tordesillas da Université d'Aix-Marseille. A todos eles, sem excepção, aqui deixo uma nota de sentido apreço e reconhecimento.

Um agradecimento final gostaria de deixar aqui bem expresso aos diversos Centros de Estudos, Unidades de I&D e Bibliotecas onde pesquisei bibliografia e desenvolvi parte substancial da investigação plasmada na presente tese: dessa lista fazem parte o Instituto de Filosofia Prática Universidade da Beira Interior, a Unidade de I&D Linguagem, Interpretação e Filosofia da Universidade de Coimbra, o Gabinete de Estudos Políticos e o Centro de Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira (entretanto extintos ou refundios) da Universidade Católica Portuguesa, a Biblioteca Nacional, a Biblioteca Central da Universidade da Beira Interior e a Biblioteca Universitária João Paulo II da Universidade Católica Portuguesa.

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Na pessoa do Prof. Pe Manuel Gomes Barbosa, docente de Metodologia do Trabalho Científico aquando da minha formação académica na Universidade Católica Portuguesa, gostaria de deixar ao Instituto Religioso dos Dehonianos uma nota de grato e profundo reconhecimento pelo alojamento e meios logísticos proporcionados em Lisboa e em Coimbra durante o período de investigação e de elaboração da dissertação.

Last but not least,

à minha esposa Margarida (paciente Penélope tecendo o fio dos dias) e aos meus filhos António e Madalena (dias-a-fio adiando o eterno retorno das ausências paternas) dedico com amor os frutos desta interminável demanda.

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…ὃς κατέδειξεν ἐναργῶς οἰκείῳ τε βίῳ καὶ μεθόδοισι λόγων, ὡς ἀγαθός τε καὶ ἐυδαίμων ἃμα γἱνεται ἀνήρ…

...ele que claramente provou com a própria vida e por via das palavras de que modo o homem se torna simultaneamente bom e feliz.

[ARISTÓTELES, Frgm. 650 R³ apud OLYMPIODORUS in Platonis Gorgiam Commentaria, 41.9]

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CRITÉRIOS METODOLÓGICOS, SIGLAS E ABREVIATURAS

As siglas e abreviaturas empregues na presente dissertação reportam-se, em primeira linha, às obras atribuídas a Aristóteles quer se trate, quanto à sua autoria, de produção autêntica, duvidosa, pseudepigráfica ou apócrifa, quer se trate, quanto à sua conservação, de escritos subsistentes (em estado integral ou fragmentário), conhecidos através de testemunhos antigos ou tidos como perdidos.1 Todos os títulos mencionados no corpo do texto serão registados, in extensu, na versão latina que a tradição filosófica cunhou e vulgarizou (e que não vemos motivo realmente ponderoso para rejeitar), tal como se apresenta na tabela que se segue:

SIGLA/ABREVIATURA TÍTULO OBRA

Alx. Alexander sive De colonis

Amt. Amatorius

APo. Analytica Posteriora

APr. Analytica Priora

Ath. Atheniensium respublica

Aud. De audilibus Bn. De bono Cael. De caelo Cat. Categoriae Col. De coloribus Cv. Convivium De an. De anima

DivSomn. De divinatione per somnia

Dv. De divitiis

EE Ethica Eudemia

EN Ethica Nicomachea

Eud. Eudemus sive De anima

GA De generatione animalium

GC De generatione et corruptione

Grl. De rhetorica sive Gryllos

HA Historia animalium

IA De incessu animalium

Id. De ideis

Ins. De institutione

1 Adoptamos a classificação perfilhada por António Pedro Mesquita no “Conspecto geral da obra de Aristóteles” in Introdução Geral às Obras Completas de Aristóteles, coord. António P. MESQUITA, Vol. I, Tomo I, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005, 537ss.

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Insomn. De insomniis

Int. De interpretatione

Iust. De iustitia

Juv. De juventute et senectute; De vita et morte

LI De lineis insecabilis

Long. De longaevitate et brevitate vitae

MA De motu animalium

Mech. <Problemata> Mechanica

Mem. De memoria et reminiscentia

Metaph. Metaphysica

Mete. Meteorologica

Mir. De mirabilibus auscultationibus

MM Magna Moralia

Mn. De monarchia

Mu. De mundo

Mx. Menexenus

MXG De Melisso Xenophane Gorgia

Nb. De nobilitate Nrt. Nerinthus Oec. Oeconomica PA De partibus animalium Ph. Physica Phgn. Physiognomonica Phil. De philosophia Pl. De plantis Plt. Politicus Po. Poetica Pol. Politica Pr. Problemata Prc. De precatione Prt. Protrepticus Pt. De poetis Resp. De respiratione Rh. Rhetorica

RhAl. Rhetorica ad Alexandrum

SE Sophistici elenchi

Sens. De sensu et sensibilibus

SomnVig. De somno et vigilia

Sph. Sophista

Spir. De spiritu

Top. Topica

Vent. Ventorum situs et cognomina

Vl. De voluptate

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No que concerne aos dados coligidos nas antigas Vitae Aristotelis de que nos haveremos de socorrer em diversos passos e ocasiões, optámos por incluir, para além da respectiva autoria, a versão linguística, bem como a fonte de onde cada uma provém matricialmente, de acordo com o que na tabela abaixo se apresenta:

SIGLA AUTORIA VERSÃO FONTE

DL Diógenes Laércio grega

Hermipo de Esmirna > trad. peripatética

> escola grega do Perípato

VH Vita Hesychii 2 grega idem

VM Vita Marciana3 greco-latina

VV Vita Vulgata4 greco-latina

VLasc. Vita Lascaris5 greco-latina

VL Vita Latina6 greco-latina Ptolemeu [“o Obscuro”]

VSI Vita Syriaca I7 siríaca > trad. neoplatónica

VSII Vita Syriaca II siríaca > escola siríaca de Jâmblico

al-Nadim Ibn al-Nadim árabe

Mubashir al-Mubashir árabe

al-Qifti Ibn al-Qifti árabe

Usaibia Ibn Abi Usaibia árabe

Por outro lado, mantendo uniforme o critério utilizado para o corpus aristotelicum, recorrer-se-á à utilização de siglas e abreviaturas em latim para o conjunto da obra platónica, dada a persistente e matizada influência que esta exerce no pensamento do Estagirita, e, nesse sentido, de a ela nos reportarmos assiduamente na presente dissertação. Segue-se uma tabela onde se explicita esse intento.

2 Esta versão foi reproduzida pela Suda e editada por Gilles Ménage, em 1663, motivo pelo qual também é conhecida por Vita Menagiana.

3 Versão proveniente do manuscrito Marc. gr. 257 (= texto colectivo da escola alexandrina).

4 Versão atribuída ao círculo neoplatónico alexandrino, encabeçado por Amónio Hermeu e, por isso mesmo, também designada por Vita Ammoniana.

5 Versão acrescentada por um autor do mesmo nome como apêndice à VV, a partir de três excertos da VM.

6 Versão de autoria desconhecida, traduzida directamente da VM. 7 Versão de autoria desconhecida e data indeterminada, tal como VSII.

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SIGLA/ABREVIATURA TÍLULO OBRA

Alc.I Alcibiades I

Ap. Apologia Socratis

Chrm. Charmides Cra. Cratylus Cri. Crito Crt. Critias Def. Definitiones Ep. Epistulae Euthd. Euthydemus Euthphr. Euthyphro Grg. Gorgias Hipp. Hipparchus

HpMa. Hippias maior

HpMi. Hippias minor

La. Laches Lg. Leges Ly. Lysis Men. Menon Mx. Menexenus Phd. Phaedo Phdr. Phaedro Phlb. Philebus Plt. Politicus Prm. Parmenides Prt. Protagoras R. Res publica Smp. Symposium Sph. Sophista Tht. Theaetetus Ti. Timaeus

Assim sendo, cada referência directa ao corpus aristotelicum implicará sempre o registo do excerto, em original grego, no corpo do texto da dissertação, bem como a respectiva tradução vernácula em nota de rodapé, no termo da qual constará a indicação dos seguintes elementos: autoria da obra, sigla ou abreviação latina do título e cota8.

8 Cf. MESQUITA António P., «Introdução Geral» às Obras Completas de Aristóteles, op.cit., 27-28. Relativamente aos casos omissos, seguimos as opções editoriais de Jonathan Barnes em The Complete Works of Aristotle. The Revised Oxford Translation, I-II, ed. Jonathan BARNES et al., Princeton: Princeton University Press, 1995

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Fora do âmbito da antiga tradição filosófica greco-latina, todas as referências directas de fontes e autores primários de filosofia exibidas em caixa de citação no corpo textual da dissertação serão vertidas na língua de origem sem tradução adicional, excepção feita aos textos em alemão, cuja língua não dominamos: nesse caso, recorreremos a traduções caucionadas por edições de indiscutível valia científica, exibindo sempre em nota de rodapé a respectiva versão no original alemão, sempre que se justificar.

Conceitos isolados, expressões compactas ou segmentos textuais que se apresentem com irrecusável pertinência teórica, mas cuja extensão não aconselha o recurso a uma caixa de citação, comparecerão traduzidos entre aspas e imediatamente secundados pela versão original em itálico no interior de parêntesis rectos.9

Sendo certo que, como profere Italo Calvino em Perché leggere i classici, «classico è un libro che non ha mai finito di dire quel che ha da dire»10, impõe-se desde já uma clarificação hermenêutica: as de notas de rodapé que profusamente se disseminam ao longo da dissertação nem sempre visam corroborar ou litigar com a nossa perspectiva teórica, salvo indicação expressa em contrário, mas tão-só proporcionar a expressão multifacetada das infinitas formas de interpretação possível que uma obra clássica como a de Aristóteles necessariamente convoca.

Enfim, uma derradeira palavra se impõe para expressar publicamente um

imperativo de consciência cultural: devido ao património humanístico e clássico

herdado na minha formação filosófica e ao êthos greco-latino em que se domicilia o meu linguajar materno, informo que a matriz textual da presente dissertação não segue as normas linguísticas estipuladas pelo Acordo Ortográfico em fase transitória de aplicação.

9 Para a utilização, contextualização e clarificação de sentenças e expressões proverbiais greco-latinas revelou-se inestimável o recurso intensivo ao Dizionario delle sentenze latine e greche, ed. Renzo TOSI, Milano: Rizzoli, 1991

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ΣΤΟΑ

Rembrandt Harmenszoon van Rijn, Aristotle Before the Bust of Homer

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Se existem pinturas de Rembrandt que pictoricamente melhor materializam o ofício filosófico transfigurado em obra viva, o Retrato de Aristóteles perante o busto de Homero é, sem sombra dúvida, uma delas. Desafiando com mestria as leis impostas à arte pela cor local e pelo ar do tempo, o pintor do século de ouro holandês apresenta-nos um Aristóteles trajado de acordo com as convenções artísticas do barroco. Não apresenta-nos deteremos nas razões que motivam essa transposição anacrónica, embora seja legítimo pensar que nela se insinua uma subliminar aspiração do artista em situar-se no horizonte das suas referências culturais através da mediação transfiguradora da literatura e da filosofia clássicas. Importa assim, antes de mais, fixar a nossa atenção no efeito apelativo, tão real e quase tangível, da pose meditativa do filósofo grego. Completamente absorto numa espécie de demanda reflexiva, a mão direita repousa sobre o busto de Homero, como que abrindo o limiar mediacional de uma odisseia cuja travessia procura anular a distância entre a palavra mítica do aedo e a palavra logóica do filósofo.11 A mensagem pictórica aflora simples e directa: a filosofia não se inicia ex nihilo, mas enraíza-se no subsolo originário e radical da linguagem po(i)ética. Curioso é verificar que, apesar do vínculo táctil entre a mão do filósofo e a cabeça do poeta, o olhar do Estagirita não se direcciona focalmente para este, em bom rigor nem sequer parece olhar para ele; todavia, quem ousaria negar que nesse desencontro visual sobrevive ainda um olhar-por-ele que constitui paradoxalmente a forma mais fiel e genuína de olhar-para-além-dele, muito possivelmente para a crepuscular verdade do

11 Sobre esse despertar logóico a partir no fundo mítico da tradição lírica, épica e trágica, cf. as penetrantes análises de Bruno Snell na obra A descoberta do espírito, designadamente os capítulos que dedica 1. à concepção antropológica em Homero, 2. ao tímido assomo de uma teologia em Hesíodo de Ascra, 3. à emancipação da personalidade e da autoconsciência na lírica arcaica [quer na sua “comunitária” vertente coral (representada por Álcman de Esparta, Estesícoro de Himera, Íbico de Régio e Simónides de Ceos, inspirando poetas como Johann Goethe, Friedrich Hölderlin e Rainer Maria Rilke), quer no seu “solipsístico” recorte monódico (materializado em Safo e Alceu de Lesbos e em Anacreonte de Teos), quer nos respectivos pontos de contacto com o impressionismo psicológico de Baquílides de Ceos e Píndaro de Cinocéfalos], 4. à transfiguração dramatúrgica da mitografia na tragédia (assumida por Ésquilo de Elêusis e por Sófocles e Eurípides de Atenas), 5. à gradual autonomização da consciência histórica (induzida por Heródoto de Halicarnasso e Tucídides de Atenas) e do pensamento científico (já latente no esforço de sistematização genealógico-causalística de Hesíodo de Ascra, e paulatinamente depurado na reflexão conceptualmente mais formalizada dos fisiólogos jónios de Mileto, pitagóricos e atomistas), e finalmente 6. à consolidação literário-filosófica da reflexão moral (aspecto que nos interessa de sobremaneira, pelas preciosas indicações para a compreensão da génese e das linhas de desenvolvimento da ética grega até ao seu momento aristotélico de sistematização problematológica, crítica, metodológica e conceptual): cf. SNELL Bruno, A descoberta do espírito [= Die Entdeckung des Geistes. Studien zur Entstehung des europäischen Denkens bei dei Griechen, Hamburg: Claassen u. Goverts, 1948], trad. Artur MORÃO, Lisboa: Edições 70, 1992, 19-46; 67-120; 139-158; 195-246; 285-304

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ser? Por outro lado, a mão esquerda, tranquilamente amparada na cintura, toca noutro artefacto, desta feita um cordão do qual se pende um medalhão com a efígie do seu pupilo Alexandre Magno, fervoroso leitor da Ilíada de Homero. Nesta tríplice representação da inteligibilidade poética, da racionalidade filosófica e da discursividade política uma nova mediação se desvela: num plano histórico, a que envolve o aristotelismo no desígnio de entrelaçar dois classicismos, o helénico e o helenístico; num plano hermenêutico, a que investe a filosofia da tarefa de coadunar a responsabilidade poética pelo discurso-em-acção com a responsabilidade política pela acção-do-discurso. O cenário envolvente reflecte uma atmosfera quase intimista e acolhedora, é certo, mas também algo ambivalente na sua discreta ironia: quase imperceptíveis, por detrás de uma cortina, empilham-se uma série de volumes num espesso mutismo e anonimato, contrastando de imediato com a tranquila afabilidade de uma presença viva que nos parece cativar mais pelo charme de uma sabedoria vivida do que pela prosápia de uma erudição acumulada. Por tudo isto, fazem para nós pleno sentido as palavras de Joaquim Cerqueira Gonçalves para referir que «é na arte que que situamos o pólo de unificação da racionalidade de todos os saberes. Tal acerto e opção (…) representam, contudo, uma resposta parcial, enquanto não for esclarecido o que se entende por arte, tarefa, aliás, de contornos escarpados. No entanto, sem iludir essa polissemia do vocábulo arte, caracterizaríamos a racionalidade da acção artística pela intencionalidade de levar a efeito o máximo de sentido,

considerando a arte como acção constitutiva de elaboração do mundo. (…) Para

atenuar as consequências negativas dessa mesma polissemia, acrescenta-se que não se confunde, aqui, arte com estética, estando esta voltada mais para a contemplação do que para a elaboração da obra, no intuito de usufruir do sentimento provocado pela beleza desta. Com a arte, queremos denotar simultaneamente a actividade de realização de uma obra e o seu resultado, sem considerar, para este efeito, o referido sentimento. A acção artística, de cuja intencionalidade não pode ser dissociada a obra produzida, é aqui assumida na sua fundamental globalidade: entra nela a integralidade do ser humano (…) e também a relação constitutiva com o mundo, afastando-se assim qualquer horizonte de exclusiva feição antropológica. Por

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idêntica razão, considera-se que a obra de arte não modifica somente o seu autor, mediante o processo da acção, mas também e ao mesmo tempo o mundo».12

12 GONÇALVES Joaquim C., «O Estatuto das Humanidades. O regresso às artes», in Itinerâncias de Escrita, vol. I: Cultura e Linguagem, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2011, 553-554; destacado nosso.

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PRÓLOGO

"Arte Peripoética"

Aristóteles, visita

da casa de minha avó, não acharia esquisita esta forma de estar só esta maneira de ser contra a maneira do tempo esta maneira de ver

o que o tempo tem por dentro.

Aristóteles diria entre dois goles de chá que o melhor ainda será deixar o tempo onde está pô-lo de perto no tema e de parte na poesia para manter o poema dentro da ordem do dia. Aristóteles, visita

da casa da minha avó, não acharia esquisita esta forma de estar só. Ele sabia que o poeta depois de tudo inventado depois de tudo previsto de tudo vistoriado teria de fazer isto para não continuar

com o que já estava acabado teria de ser presente não futuro antecipado não profeta não vidente mas aço bem temperado cachorro ferrando o dente na canela do passado adaga cravando a ponta no coração do sentido palavra osso furando pele de cão perseguido.

Aristóteles, visita da casa da minha avó, não acharia esquisita esta forma de estar só esta maneira de riso que é a mais original forma de se ter juízo e ser poeta actual. Aristóteles, visita

da casa da minha avó, também diria antes só do que mal acompanhado antes morto emparedado em muro de pedra e cal aonde não entre bicho que não seja essencial à evasão da palavra deste silêncio mortal.

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Estar à janela ou vir à porta, não para pôr a cabeça de fora para ver quem passa ou sair para ver o que se passa, mas para, no parapeito da janela ou à soleira da porta, receber e acolher quem chega na inesperada epifania da sua presença. Assim são os clássicos. Cada visita sua torna-nos “novos”: lê-los é lermo-nos não só no horizonte das determinações do que já somos, mas, sobretudo, no risco das possibilidades daquilo em que ainda nos podemos tornar...

Πολλὰ τὰ δεινὰ, κοὐδὲν ἀνθρώπου δεινότερον πέλει [muitas são as coisas admiráveis, mas nada mais admirável do que o homem]: normalmente proclamada como signo da grandeza humana, a expressão constitui o início do estásimo recitado pelo coro ao entrar em cena na peça Antigona de Sófocles de Atenas com o intuito de exaltar o carácter radicalmente ambíguo das conquistas do homem.13 Tal ambiguidade é dada pelo emprego polissémico de deinÒw, termo que, em grego,

está conotado com um sentido demiúrgico e poiético de “habilidade”, podendo, todavia, significar também, em pauta semântica diametralmente bipolarizada, “espantoso” e “terrível”, “admirável” e “tremendo”, “respeitável” e “indigno”. A ambivalência é especialmente apreciada em registo tragediográfico por aludir tanto às proezas do homem capaz de cultivar campos e sulcar mares, como à sua falta de “jeito” para se conter num limiar de possibilidades que tenta porfiadamente expandir e superar, ou para lidar com uma série de limitações que tenta em vão superar, a não ser arriscando o lance crítico de um excesso, desmesura, ou exorbitância [ὕβρις]. Na ambiguidade dessa infinita trama – que tanto pode ser rede (web) salvífica como teia (net) mortífera – importa não necessariamente “o que” decidir, mas antes “como” decidir.

Qual o significado prático de uma decisão cujo sentido poiético se declina tangencialmente no que faço, no modo como faço e no que por mim e de mim faço? De uma visita tão (in)esperada como a de Aristóteles não há que esperar um oráculo para obter resultados infalíveis, soluções estáveis e respostas definitivas, outrossim apenas o que se espera de um clássico: uma arte de indagar, inquirir e questionar que transforma cada partida em promessa de novas chegadas e cada chegada em apelo a novas partidas. Por isso, parecem-nos francamente oportunas e certeiras as palavras de

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António Pedro Mesquita na sua Introdução à recente edição crítica portuguesa das Obras Completas de Aristóteles: «a antiguidade do que foi novo é um garante de que a sua novidade nunca se perca, se formos capazes de o trazer renovadamente à superfície no que a própria tradição tem de vinculação à origem, mesmo, ou porventura principalmente, nos usos tornados para si próprio opacos que inconscientemente a recordam e celebram».14

14 MESQUITA António Pedro, «Introdução Geral» às Obras Completas de Aristóteles, op. cit., 472

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INTRODUÇÃO

Plano prospectivo de investigação e

status quaestionis

O que significa decidir? Melhor dito: o que significa tomar ou fazer uma decisão no acto consciente de a decidir tomar ou fazer? Pesando os “prós” e os “contras” para encontrar o balanceamento certo de uma escolha? Mantendo a “cabeça fria” para avaliar os riscos inerentes à possibilidade de sucesso ou fracasso de uma opção? Neutralizando a torrente impulsiva das paixões e das emoções para melhor escutar a voz da consciência, seguir os ditames da razão, ou decifrar a codificação electroquímica da estrutura neuronal, consoante a perspectiva adoptada? E se a configuração ética do acto decisionário não sendo apenas isso, mas, pressupondo e incluindo isso, for mais do que isso, a saber uma experiência discursiva da acção na sua irrecusável epifania?

Estamos em crer que, dada a sua peculiar propensão para conjugar subtileza heurística, consistência sistematizadora e densidade reflexiva, a filosofia prática do Estagirita encontra-se conceptualmente dotada para cartografar o território e o epicentro desse radical questionamento. Nesse sentido, sendo certo que o esforço histórico-crítico de estabilização do texto aristotélico aliado ao consenso da respectiva tradição exegética em torno de um vasto leque de temáticas bem delimitadas e articuladas impõem a toda a interpretação adveniente uma base estável, de modo algum cederemos à trágica insolência [ὕβρις] de distorcer definições ou subverter distinções como as que inerem, por exemplo, às noções de arte [τέχνη], produção

[ποίησις], acção [πρᾶξις] e especulação [θεωρία]. Todavia, pese embora o recorte doutrinalmente bem tipificado e atestado da referida conceptualização no corpus aristotelicum, não pudemos nem quisemos ficar indiferentes a três hipóteses de trabalho que, no mínimo, nos convidam a repensar a aparente rigidez que parece encapsular cada um desses domínios:

- a primeira tem a ver com a paradoxal constatação de que a vida contemplativa [βίος θεωρητικός] encerra na sua máxima abrangência uma

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forma de acção que aponta ao cerne ontológico da verdade prática [ἀλήθεια πρακτική];

- a segunda diz respeito à forma de domiciliar analogicamente a infra-estrutura conceptual da racionalidade prática [διάνοια πρακτική] no domínio das

artes [τέχναι], sejam elas produtivas ou criativas;

- a terceira joga-se na conjectural sugestão de que o recorte prudencial da

deliberação [προαίρεσις] instaura mediacionalmente um limiar decisionário cuja modelação – designadamente em situações críticas de aplicação normativa, discernimento avaliativo e determinação jurisdicional – releva mais da habilidade criativa do artesão manual [χειροτέχνης] do que propriamente da precisão lógica da racionalidade noética ou apodíctica.

Em abono do nosso desígnio teórico, lançamos mão das palavras de John Wall para assumir que «contemporary Aristotelian perspectives on phronesis illustrate (…) strategies for distinguishing it from, even while in successively deeper ways relating it to, the inventive, making, creative activity of poetics. Even [Joseph] Dunne, who retains the distinction most sharply, suggests in contrast with Aristotle that poetic rationality may be itself a form (…) of morality (…). MacIntyre [After virtue, 1984] and Nussbaum [The fragility of goodness, 2001] go even further beyond Aristotle’s distinction by connecting phronesis with certain poetic dimensions of morality either implicitly as forming moral ends or explicitly as a vital moral means. Despite these important possible qualifications on Aristotle’s distinction, however, none of these perspectives seriously entertains the possibility – which would question Aristotle’s distinction fundamentally – that phronesis may be poetic in itself».15

Assumindo o excerto supracitado como verdadeiramente inovador no actual panorama da investigação em torno da filosofia prática aristotélica e, por via disso, tomando o pulso ao acervo dos estudos que constituem na sua interacção teórica o que se poderá designar de status quaestionis, estamos em crer que a tese de uma

15 WALL John, «Phronesis, Poetics and Moral Creativity», in Ethical Theory and Moral Practice, 6 (2003) 2, 323: destacado nosso; a posição sustentada pelo autor é precedida de um estudo mais abrangente, mas nem por isso menos provocador, onde as mesmas teses são reexpostas num contexto historicamente mais enriquecido: reportamo-nos obviamente a Idem, «Phronesis as Poetic: Moral Creativityin Contemporary Aristotelianism», in Review of Metaphysics, 59 (1995) 2, 313-331

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transformação teleológica da virtude [ἀρετή] em deliberação ponderada

[προαίρεσις] com base na configuração mediacional [μεσότης] da prudência

[φρόνησις] regida pela recta razão [ὀρθὸς λόγος] poderia ser levada um pouco mais longe. Em que sentido? Mostrando até que ponto a dimensão poiética assinala à racionalidade prática não uma presença intrusiva, confundível ou sobreponível ao domínio específico da acção realizada, mas antes a aproximação tangencial de uma perícia experienciada e vivida no ápice da qual a decisão exercida na esfera contingente das situações-limite exige não uma proclamação “abstracta” e “generalista” de princípios ou uma aplicação “mecânica” e “rotineira” de procedimentos, mas uma modelação prudencial da forma universal ou genérica do princípio normativo na matéria indeterminada de cada caso particular.

Ora, desde que Pierre Aubenque assiste, em 1963, à auspiciosa publicação da sua obra La prudence chez Aristote16, até ao momento em que Paul Ricoeur aceita o desafio de dedicar um estudo À la gloire de la phronesis17, sem esquecer, no encalço desse interlúdio, os incisivos reexames da questão assumidos quer por Carlo Natali num artigo intitulado «La phronesis d’Aristote dans la dernière décennie du XXe siècle»18, quer, mais recentemente, por Olav Eikeland numa meticulosa investigação de fundo intitulada The Ways of Aristotle: Aristotelian Phronesis, Aristotelian Philosophy of Dialogue, and Action Research19, são praticamente incontáveis as incursões sobre uma temática cuja abordagem receberá decisivo impulso histórico graças ao advento de uma espécie de renascimento da filosofia aristotélica que, sob o revivalista designativo de neo-aristotelismo, começará a germinar no panorama filosófico alemão do início dos idos anos 70 sob o signo de uma reabilitação da

16 AUBENQUE Pierre, La prudence chez Aristote, Paris: PUF, 1997 (réed. Quadrigue)

17 RICOEUR Paul, «À la gloire de la phronèsis (Éthique à Nicomaque, Livre VI)», in CHATEAU Jean-Yves (org.), La vérité pratique. Aristote: Éthique à Nicomaque, Livre VI, Paris: Vrin, 1997, 13-22

18 NATALI Carlo, «La phronesis d’Aristote dans la dernière décennie du XXe siècle», in L’excellence de la vie. Sur L’ "Éthique à Nicomaque" et L’"Éhique à Eudème" d’Aristote, dir. par Gilbert ROMEYER DERBEY, Paris: Vrin, 2002, 178-194

19 EIKELAND Olav, The Ways of Aristotle: Aristotelian Phronesis, Aristotelian Philosophy of Dialogue, and Action Research, Bern [etc.]: Peter Lang, 2008

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filosofia prática [Rehabilitierung der praktischen Philosophie]20. Assim, estudos como os de Pierre Aubenque [La place de l’Éthique à Nicomaque dans la discussion contemporaine sur l’éthique]21, Enrico Berti [La philosophie pratique d’Aristote et sa réhabilitation récente, bem como Aristotele nel Novecento]22, Franco Volpi [Réhabilitation de la philosophie pratique et néo-aristotélisme]23, Sergio Cremaschi [Neo-Aristotelian trends in contemporary ethics]24, Robert Sharples [Whose Aristotle? Whose Aristotelianism?]25, sem esquecer Sarah Broadie [Aristotle and Contemporary Ethics] e os estudos pioneiros de Gertrude Elizabeth Anscombe [v.g. Modern moral philosophy]26, constituem etapas e marcos de uma travessia a que não nos poderíamos furtar para perceber os contornos de uma contextualização tão vasta e complexa.

É nesse contexto que, emergindo no panorama português da produção filosófica sobre Aristóteles27, se nos afiguram incontornáveis as leituras das obras A

20 RIEDEL Manfried, Rehabilitierung der praktischen Philosophie, 2 Bdd., Freiburg: Rombach, 1972-1974

21 AUBENQUE Pierre, «La place de l’Éthique à Nicomaque dans la discussion contemporaine sur l’éthique», in L’excellence de la vie. L’ "Éthique à Nicomaque" et L’"Éhique à Eudème" d’Aristote, dir. par Gilbert ROMEYER DERBEY, Paris: Vrin, 2002, 397-407

22 Vide respectivamente BERTI Enrico, «La philosophie pratique d’Aristote et sa réhabilitation récente», in Revue de Métaphysique et de Morale 95 (1990) 2, 249-266 ; Ibid., Aristotele nel Novecento, Roma – Bari: Laterza, 1992 [= Aristóteles no século XX, trad. D.D. MACEDO, São Paulo: Loyola, 1997]

23 VOLPI Franco, «Réhabilitation de la philosophie pratique et néo-aristotélisme», in Aristote Politique. Etudes sur la Politique d’Aristote, dir. par Pierre AUBENQUE, Paris: PUF, 1993, 461-484 [reed. Idem, «Rehabilitación de la filosofía práctica y Neo-aristotelismo», trad. Alejandro Vigo, in Anuario Filosófico 32 (1999) 315-342]

24 CREMASCHI Sergio, «Neo-Aristotelian trends in contemporary ethics» [in portuguese = «Tendências aristotélicas na ética actual», trad. Manfredo OLIVEIRA], in Correntes fundamentais da ética contemporânea, org. Menfredo OLIVEIRA, Petrópolis, RJ: Vozes, 2000, 9-30

25 SHARPLES Robert (ed.), Whose Aristotle? Whose Aristotelianism?, Aldershot: Ashgate, 2001 26 Vide respectivamente BROADIE Sarah, «Aristotle and Contemporary Ethics», in KRAUT Richard (ed.), The Blackwell Guide to Aristotle's Nicomachean Ethics, Malden (MA): Blackwell Publishing, 2006, 342-361 e ANSCOMBE Gertrude, «Modern moral philosophy», in Philosophy 33 (1958) 1-19 [sobre o primordial contributo histórico de Gertrude Anscombe, vide infra 545, not. 1211].

27 Exceptuando o deliberado e estratégico impulso escolar dos conimbricenses [vide MARTINS António M., «Conimbricenses», In Logos: Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, vol. 1, Lisboa-São Paulo: Editorial Verbo, 1989, col. 1112-1126], convém não ignorar que a superior, ilustrada e erudita cultura portuguesa nutriu desde sempre uma relação tensa com o pensamento aristotélico: cf. RIBEIRO Álvaro, «Aristóteles e a tradição portuguesa», in Filosofia (Lisboa) 2 (1955) 34-44

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areté como possibilidade extrema do humano: fenomenologia da práxis em Platão e Aristóteles, de António Caeiro, bem como Introdução Geral à edição crítica portuguesa das Obras Completas de Aristóteles, de António Pedro Mesquita28, neste caso particular porque o autor oferece através dela um balanço actualizado e criterioso de algumas questões controversas, mormente as ligadas seja à validação das fontes literárias e doxográficas e à fixação da crono-biografia do Estagirita [vejam-se os capítulos que formam a parte intitulada Breve conspecto da biografia aristotélica (41-123)], seja ao esclarecimento aturado de alguns conceitos aristotélicos cuja tradução e interpretação suscita ainda hoje acirrada discussão [veja-se o capítulo Dificuldades particulares do vocabulário aristotélico (467-534)], seja à perspectivação dos múltiplos e intensos debates em torno da história não só da formação textual e da estabilização editorial da obra do pensador macedónio [vejam-se os capítulos O corpus aristotélico (207-339) e Problemas de cronologia (439-463)], como também da matriz evolutiva do seu pensamento [veja-se o capítulo Evolução e linhas de força do pensamento de Aristóteles (341-438), onde se procura reequacionar criticamente o modelo de abordagem “genética” de Werner Jaeger e seus predecessores, bem como de algumas das suas mais recentes e destacadas variantes, v.g. as preconizadas por Daniel Graham e Gwilym Owen], oferecendo uma ampla e sistematizada visão integrada com a qual nos identificamos por inteiro.

Focando-nos mais especificamente na filosofia praxiológica de Aristóteles, importa destacar um punhado de estudos que se destacam no panorama editorial mais recente. No plano historiográfico da recepção cultural dos textos éticos de Aristóteles e de todas as peripécias que envolveram a respectiva transmissão, impõe-se uma indispensável alusão às obras The Development of Ethics: a historical and critical study de Terence Irwin, bem como The Reception of Aristotle's Ethics de Jon Miller, às quais importa associar um esclarecedor artigo de Christopher Rowe intitulado O estilo de Aristóteles na Ethica Nicomachea.29 Já no plano sistémico da estabilização

28 Vide CAEIRO António, A areté como possibilidade extrema do humano: fenomenologia da práxis em Platão e Aristóteles, Lisboa: IN-CM, 2002 e MESQUITA António Pedro (coord.), Introdução Geral às Obras Completas de Aristóteles, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005

29 Vide respectivamente IRWIN Terence, The Development of Ethics: a historical and critical study. Vol I: From Socrates to the Reformation, Oxford: Oxford University Press, 2007; MILLER Jon, The

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textual e da urdidura interpretativa do pensamento do Estagirita avultam três edições de grande envergadura pela fiabilidade dos estudos coligidos: uma organizada em 2006 por Richard Kraut sob o título The Blackwell Guide to Aristotle's Nicomachean Ethics30, na qual se coligem estudos de reputados especialistas na matéria como o próprio Richard Kraut [How to Justify Ethical Propositions: Aristotle's Method (76-95)], Chris Bobonich [Aristotle's Ethical Treatises (12-36)], Gavin Lawrence [Human Good and Human Function (37-75)], Rosalind Hursthouse [The Central Doctrine of the Mean (96-115)], Gabriel Lear [Aristotle on Moral Virtue and the Fine (116-136)], Susan Meyer [Aristotle on the Voluntary (137-157)], Roger Crisp [Aristotle on Greatness of Soul (158-178)], Charles Young [Aristotle's Justice (179-197)], Charles Reeve [Aristotle on the Virtues of Thought (198-217], Paula Gottlieb [The Practical Syllogism (218-233)], Anthony Price [Akrasia and Self-control (234-254)], Dorothea Frede [Pleasure and Pain in Aristotle's Ethics (255-275)], Jennifer Whiting [The Nicomachean Account of Philia (276-304)], Malcolm Schofield [Aristotle's Political Ethics (305-322)], Terence Irwin [Aquinas, Natural Law, and Aristotelian Eudaimonism (323-341)] e Sarah Broadie [Aristotle and Contemporary Ethics (342-361)]; a outra, mais recente, dirigida por Jon Miller sob o designativo de Aristotle's Nicomachean Ethics: A Critical Guide31, relativamente à qual nos pemitimos destacar o estudo de Terence Irwin, Beauty and morality in Aristotle (239-253), já para não falar – e imperdoável seria se não o fizéssemos – da colectânea de estudos organizada por Marco Zingano, intitulada Sobre a Ética Nicomaqueia de Aristóteles32, onde são criteriosamente coligidos vários artigos que marcaram o debate especializado em torno dos principais problemas e tópicos da filosofia prática aristotélica a partir de meados do século passado, de entre os quais cumpre destacar o de Christoph Rapp, «Para que

Reception of Aristotle's Ethics, Cambridge: Cambridge University Press, 2013; ROWE Christopher, «O estilo de Aristóteles na Ethica Nicomachea» in Analytica 8 (2004) 2, 13-29

30 KRAUT Richard (ed.), The Blackwell Guide to Aristotle's Nicomachean Ethics, Malden (MA): Blackwell Publishing, 2006; não podemos deixar passar em claro a oportuna e incisiva recensão crítica da obra por Marco Zingano in Notre Dame Philosphical Reviews. An electronic journal, 22.5.2006 [http://ndpr.nd.edu/news/25036-the-blackwell-guide-to-aristotle-s-nicomachean-ethics/]

31 MILLER Jon, Aristotle's Nicomachean Ethics: A Critical Guide, Cambridge: Cambridge University Press, 2011

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serve a doutrina aristotélica do meio termo?» (405-438) tendo em conta o cenário de fundo da presente dissertação. Finalmente, com publicação já anunciada para breve encontra-se a colectânea de estudos The Cambridge Companion to Aristotle's Nicomachean Ethics, organizada e editada por Ronald Polansky33: sobre ela não nos pronunciaremos por desconhecer ainda o seu conteúdo.

Seja como for, damos por absolutamente incontornável o empreendimento teórico de problematização heurística, de interpretação textual e de clarificação conceptual que actualmente Marco Zingano encabeça, com mérito amplamente reconhecido, no domínio da filosofia prática de Aristóteles não apenas no plano epistémico do método apropriado à ética, como se comprova no estudo Aristotle and Method in Ethics34, mas sobretudo, em espectro teórico mais dilatado e denso, no arrojado projecto de síntese reflexiva presente em Estudos de Ética Antiga, onde se encontram plasmadas algumas das tematizações mais inovadoras e clarividentes da actualidade sobre a filosofia prática do Estagirita. Para o desígnio da nossa dissertação, afiguram-se cruciais e relevantes as análises em torno 1. da dimensão aretiológica da integração racional das diferentes virtudes em Emoção, ação e felicidade em Aristóteles (143-165), A conexão das virtudes em Aristóteles (393-425) e Acrasia e o método da ética (427-461); 2. da vertente eudemónica do finalismo prático em Eudaimonia e bem supremo em Aristóteles (73-110) e Eudaimonia e contemplação na ética aristotélica (485-519), 3. da estrutura deliberativa da acção em Deliberação e vontade em Aristóteles (167-211), Notas sobre a deliberação em Aristóteles (212-239), Deliberação e indeterminação em Aristóteles (241-276), Deliberação e inferência prática em Aristóteles (277-300) e Escolha dos meios e tÚ aÈya¤retn (301-325), 4. da explicitação criteriológica da rectitude da razão na sua inscrição prática em Agir secundum rationem ou cum ratione? (363-391); e, por fim, 5. da perspectiva integradora da compatibilização ética do particular e do universal em Particularismo e universalismo na ética aristotélica (111-142) e Lei moral e escolha singular (327-362).

33 POLANSKY Ronald, The Cambridge Companion to Aristotle's Nicomachean Ethics, Cambridge: Cambridge University Press (forthcoming)

34 ZINGANO Marco, «Aristotle and Method in Ethics», in Oxford Studies in Ancient Philosophy. Volume XXXII (Summer 2007), ed. by David SEDLEY, Oxford: Oxford University Press, 2007, 297-330

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Ora, é no âmago dessa multifacetada configuração problematológica, conceptual e sistemática que gostaríamos de enfatizar o recorte específico da presente dissertação, não só dialogando, debatendo e, porventura até, divergindo das perspectivas teóricas mais autorizadas e sedimentadas, como sucede, por exemplo, no tocante à obra L’éthique dans le projet moral d’Aristote. Une philosophie du bien sur le modèle des arts et techiques de Pierre Métivier35, onde se explana a relação tensa entre arte, acção e produção criativa, e também no que concerne à obra Ethics and the Limits of Philosophy de Bernard Williams36, para quem a questão da mediedade não passa de uma questão perfeitamente colateral e negligenciável no âmbito da filosofia prática de Aristóteles, sem olvidar, como não poderia deixar de ser, a tese exposta em A False Doctrine of the Mean por Rosalind Hursthouse37. Por outro lado, pretendendo levar tão longe quanto possível, ou mais longe até se possível, o mosaico de perspectivas em jogo – reportamo-nos neste caso a perspectivas teóricas de inquestionável autoridade como as sustentadas por John McDowell em Deliberation and Moral Development in Aristotle's Ethics38, por Carlo Natali em L’action efficace. Études sur la philosophie de l’action d’Aristote39, por Heda Segvic em Deliberation and Choice in Aristotle40 e por Nancy Sherman em The Fabric of Character. Aristotle’s Theory of Virtue41 – procurámos na presente dissertação explorar uma

35 MÉTIVIER Pierre, L’éthique dans le projet moral d’Aristote. Une philosophie du bien sur le modèle des arts et techiques, Paris: Cerf, 2000

36 WILLIAMS Bernard, Ethics and the limits of philosophy, London: Fontana Press – William Collins, 1993 (3ed.)

37 HURSTHOUSE Rosalind, «A False Doctrine of the Mean», in Proceedings of the Aristotelian Society 81 (1980-81) 57-72; na mesma linha vide também Idem, «The Central Doctrine of the Mean», in KRAUT Richard (ed.), The Blackwell Guide to Aristotle's Nicomachean Ethics, op. cit., 96-115 38 McDOWELL John, «Deliberation and Moral Development in Aristotle's Ethics», in Idem, The Engaged Intellect: Philosophical Essays, Cambridge (Mass.): Harvard University Press, 2009, 41-58

39 NATALI Carlo, L’action efficace. Études sur la philosophie de l’action d’Aristote, Louvain – Paris: Peeters, 2004

40 SEGVIC Heda, «Deliberation and Choice in Aristotle», in Idem, From Protagoras to Aristotle: Essays in Ancient Moral Philosophy, Princeton: Princeton University Press, 2009, 144-171

41 SHERMAN Nancy, The Fabric of Character. Aristotle’s Theory of Virtue, Oxford: Clarendon Press, 1989

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dupla perspectiva que, a nosso ver, ainda não vimos suficientemente tematizada no quadro bibliográfico que acabámos de expor: 1) por um lado, inspirados pelas sólidas prospecções historiográficas de António Pedro Mesquita na obra Vida de Aristóteles42, pretendemos enfatizar uma biografia muito menos centrada no relato meramente factual das suas peripécias existenciais, mas antes em captar a discursividade de uma ética vivida e atestada nas disposições finais do seu testamento, procurando, de caminho, colmatar uma lacuna ainda persistente no puzzle da cronologia aristotélica no que concerne à determinação da idade da filha Pitíade II aquando da redacção das respectivas disposições testamentárias; 2) por outro lado, estimulados pela leitura do estudo Aristote et la juste mesure de Mari-Hélène Gauthier-Muzellec43, para quem a ética aristotélica percorre, a par de uma explícita via essencial e naturalista, um implícito trilho poiético-racional no tocante à operacionalização mediacional da prática da virtude, a ideia de uma estrutura mesomorfológica da acção não tardou a germinar e a ganhar forma.

A partir da dupla perspectiva apontada, estamos em crer que a nossa tese sai substancialmente reforçada em ulterior contacto textual não só com a vigorosa e convincente teorização desenvolvida por João Hobuss no estudo Sobre o significado da doutrina da ‘mediedade’ em Aristóteles44 (na qual o autor disseca e reposiciona criticamente o aceso debate entre James Urmson45 e Rosalind Hursthouse46), mas também pelo providencial contributo de outros estudiosos da praxiologia do Estagirita movendo-se no mesmo horizonte de análise como Patrice Guillamaud, em La médiation chez Aristote47, Emmanuel Alloa em Metaxu. Figures de la médialité chez

42 MESQUITA António P., Vida de Aristóteles, Lisboa: Sílabo, 2006

43 GAUTHIER-MUZELLEC Mari-Hélène, Aristote et la juste mesure, Paris: PUF, 1998

44 HOBUSS João, «Sobre o significado da doutrina da ‘mediedade’ em Aristóteles», in Revista de Filosofia Antiga [= Journal of Ancient Philosophy] 2 (2008) 2, 1-27

45 Vide URMSON James, «Aristotle’s doctrine of the mean», in Essays on Aristotle’s Ethics, ed. by Amelie O. RORTY, Berkeley: University of California Press, 1980, 157-170 [= in American Philosophical Quarterly (Pittsburgh) 10 (1973) 223-230]

46 Vide supra 31, not. 37

47 GUILLAMAUD Patrice, «La médiation chez Aristote», in Revue Philosophique de Louvain 85 (1987) 457-474

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Aristote48, William Hardie em Aristotle’s doctrine that virtue is a mean49, Mark McCullagh em Mediality and rationality in Aristotle’s account of excellence of character50, Pierre Rodrigo em À-propos: éthique et médiété axiologique chez Aristote51 e Stephen Salkever em Finding the Mean. Theory and Practice in Aristotelian Political Philosophy52. Com base neste fluxo de investigações não hesitamos em demarcar e vincar a tese de que uma tangencial aproximação poiética ao acto decisionário só se torna viável através da explicitação mesomorfológica de

uma virtude peculiar, a da prudência, cujo recorte dianoético herda toda a sua espessura onto-praxiológica [vide, a propósito, os estudos coligidos por Jean-Yves

Chateau em La vérité pratique. Aristote: Éthique à Nicomaque, Livre VI53, bem como o fascículo nº 73 do periódico Philosophie, denominado Aristote. Ontologie de l’action et savoir pratique54] no entrecruzamento mediacional de dois eixos: um

horizontal que, sob o signo das seminais noções gregas de limite [πέρας] e medida

[μέτρον], procura visar o meio [τὸ μέσον] face aos extremos no plano do exercício individualizado das virtudes, sejam elas quais forem; outro vertical que, sob o signo

da movediça noção grega de habilidade [δεινότης], procura interligar numa espécie de modelação o plano universal ou generalizável dos princípios ao plano particular e

indeterminado das situações. Na intersecção destes dois eixos, parece-nos defensável a ideia de que a prática das virtudes só adquire definitiva e plena consumação ética

48 ALLOA Emmanuel, «Metaxu. Figures de la médialité chez Aristote», in Revue de métaphysique et de morale 62 (2009) 2, 247-262

49 HARDIE William, «Aristotle’s doctrine that virtue is a mean», in Articles on Aristotlevol 2: Ethics and Politics, ed. Jonathan BARNES, Malcolm SCHOFIELD and Richard SORABJI, London: Duckworth, 1977, 33-46

50 McCULLAGH Mark, «Mediality and rationality in Aristotle’s account of excellence of character», in Apeiron 28 (1995) 4, 155-174

51 RODRIGO Pierre, «À-propos: éthique et médiété axiologique chez Aristote», in AA.VV., Hommage au Professeur Jean Frère, Hildesheim - Zürich – New-York: G. Olms Vg, 2004

52 SALKEVER Stephen, Finding the Mean. Theory and Practice in Aristotelian Political Philosophy, Princeton: Princeton University Press, 1990

53 CHATEAU Jean-Yves (org.), La vérité pratique. Aristote: Éthique à Nicomaque, Livre VI, Paris: Vrin, 1997

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quando elevada teleologicamente ao plano aperfeiçoado do exercício da boa deliberação [εὐβουλία] tanto no horizonte instrumental da adequação entre meios e fins, como no horizonte relacional daquele sentido de alteridade na base do qual se alicerça o estatuto arquitectónico da política no quadro dos saberes práticos.

Por outro lado, norteados pela leitura da obra Les ruses de l’intelligence. La mètis des grecs de Marcel Detienne e Jean-Pierre Vernant55, a que se juntam não só as já supramencionadas Phronesis, Poetics and Moral Creativity de John Wall56, bem como Nature, craft and phronesis in Aristotle e Nature and craft in Aristotelian teleology de Sarah Broadie57, La signification philosophique de la poiesis aristotélicienne e Le rôle de la techne dans les Éthiques aristotéliciennes de Lambros Couloubaritsis58, Artifacts, substances, and essences de Lloyd Gerson59, Alcuni aspetti della concezione della techne nella Metafísica di Aristotele de Margherita Isnardi Parente60, La importancia de la Poética para entender la Etica aritotélica de Ralph McInerny61, Nature artifex. Le sens de l’analogie nature-technique chez Aristote de Marie-Christine Roessler62, Chose, cause et oeuvre chez Aristote de Gilbert Romeyer-

55 DETIENNE Marcel – VERNANT Jean-Pierre, Les ruses de l’intelligence. La mètis des grecs, Paris: Flammarion, 2002

56 Vide supra 25, not. 15

57 BROADIE Sarah, «Nature and craft in Aristotelian teleology», in Biologie, logique et métaphysique chez Aristote. Actes du Séminaire CNRS-NSF, Oléron 28 Juin – 3 Juillet 1987, pub. Daniel DEVEREUX – Pierre PELLEGRIN, Paris: Éditions du CNRS, 1990, 389-405; Idem, «Nature, craft and phronesis in Aristotle», in Philosophical Topics (Stamford – Conn.) 15 (1987) 2, 35-50

58 COULOUBARITSIS Lambros, «La signification philosophique de la poiesis aristotélicienne», in Diotima 9 (1981) 94-100; Idem, «Le rôle de la techne dans les Éthiques aristotéliciennes», in Justifications de l’éthique. XIXe Congrès de l’Association des Sociétés de Philosophie de langue française, Bruxelles – Louvain-la-Neuve 6-9 Septembre 1982, Bruxelles: Éditions de l’Université de Bruxelles, 1984, 131-137

59 GERSON Lloyd, «Artifacts, substances, and essences», in Apeiron 18 (1984) 50-58

60 ISNARDI PARENTE Margherita, «Alcuni aspetti della concezione della techne nella Metafísica di Aristotele», in Rivista Critica di Storia della Filosofia (Milano) 17 (1962) 26-40

61 McINERNY Ralph, «La importancia de la Poética para entender la Ética aristotélica», in Anuario Filosófico, Universidad de Navarra 20 (1987) 2, 85-94

62 ROESSLER Marie-Christine, «Nature artifex. Le sens de l’analogie nature-technique chez Aristote», in La nature. Thèmes philosophiques. Thèmes de l’actualité. Actes du XXVe Congrès de l’Association des Sociétés de Philosophie de langue française, Lausanne 25-28 Août 1994, dir. Daniel SCHULTHESS in Cahiers de la Revue de Théologie et Philosophie, 18, Lausanne: Revue de Théologie et Philosophie, 1996, 411-415

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Derbey63, Opera d’arte e organismo in Aristotele e Il concetto di fare in Aristotele de Gianni Vattimo64, Aristotle's Ethics and the Crafts: A Critique de Thomas Angier65, Praxis and poiesis in Aristotle’s practical philosophy de Oded Balaban66, La tekhne dans l’Éthique à Nicomaque de Giuseppe Cambiano67, La comprensión aristotélica del trabajo de Carmen Innerarity68, Aristotle on artifacts. A metaphysical puzzle de Errol Katayama69, Aristote: Vers une poétique de la politique? de Jean-Louis Labarrière70, How flexible is Aristotelian right reason? de Joseph Owens71, Ergon and Eudaimonia in Nicomachean Ethics I. Reconsidering the intellectualist interpretation de Timothy Roche72, Équité et kaironomie de Alonso Tordesillas73, Ethics and the Craft Analogy

63 ROMEYER-DERBEY Gilbert, «Chose, cause et oeuvre chez Aristote», in Archives de Philosophie du Droit (Paris) 24 (1979) 127-137

64 VATTIMO Gianni, «Opera d’arte e organismo in Aristotele», in Rivista di Estetica (Padova – Torino) 5 (1960) 358-382 e Idem, Il concetto di fare in Aristotele, Torino: Pubblicazione della Facoltà di Lettere e Filosofia del’Univesità di Torino, 1961

65 ANGIER Thomas, Aristotle's Ethics and the Crafts: A Critique, Toronto: T-Space at The University of Toronto Librairies, 2009

66 BALABAN Oded, «Praxis and poiesis in Aristotle’s practical philosophy», in The Journal of Value Inquiry (Dordrecht) 24 (1990) 3, 185-198

67 CAMBIANO Giuseppe, «La tekhne dans l’Éthique à Nicomaque», in L’excellence de la vie. Sur L’ "Éthique à Nicomaque" et L’"Éhique à Eudème" d’Aristote, dir. par Gilbert ROMEYER DERBEY, Paris: Vrin (2002) 161-177

68 INNERARITY Carmen, «La comprensión aristotélica del trabajo», in Anuario Filosófico (Pamplona) 23 (1990) 2, 69-108

69 KATAYAMA Errol, Aristotle on artifacts. A metaphysical puzzle, Albany: State University of New York Press, 1999

70 LABARRIÈRE Jean-Louis, «Aristote: Vers une poétique de la politique?», in Philosophie 11 (1986) 25-46

71 OWENS Joseph, «How flexible is Aristotelian right reason?», in The Georgetown Symposium on ethics, Lanham: University Press of America, 1984, 49-65

72 ROCHE Timothy, «Ergon and Eudaimonia in Nicomachean Ethics I. Reconsidering the intellectualist interpretation», in Journal of the History of Philosophy (St. Louis) 26 (1988) 2, 175-194 73 TORDESILLAS Alonso, «Équité et kaironomie», in CORDERO Nestor (dir.), Ontologie et dialogue. Mélanges en hommage à Pierre Aubenque, Paris: PUF, 2000, 149-169

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de James Wallace74, Norma y situación en la ética aristotélica de Wolfgang Wieland75, procuramos sondar até que ponto o conceito de rectitude [ὀρθότης] confere à

racionalidade prática contornos ergonómicos e estocásticos [termos usados no seu matricial sentido grego de “obra” e “pontaria”: vide infra Elucidário terminológico, 882]. Com efeito, tudo nos faz crer que a fascinante e ainda pouco explorada noção grega de métis se pode constituir como uma espécie de fio condutor de um lógos hábil que se vai testando e atestando em, na feliz expressão de Charles Reeve, práticas da razão76 (antes mesmo de ser “razão em prática” de um lógos já formalmente habilitado) sob o signo poiético da experiência vivida, da imaginação indutiva e da temporalidade cairológica, dimensões essas, aliás, sem as quais permanecerá obscura e incompreensível a reiterada alusão aristotélica ao paradigma incarnado do prudente

[φρόνιμος] como signo vivente e critério vivo de uma eticidade inscrita e domiciliada no fluxo da contingência. A esta tangencial aproximação poiética da eticidade acresce o aspecto porventura mais controverso e arriscado da presente dissertação: a proposta conjectural de uma presença implícita do hilemorfismo como modelo de fundamentação metafísica do que nos atreveríamos a designar de onto-poiese da decisão, em cuja urdidura ética vislumbramos potencial hermenêutico suficiente para

inspirar uma eficaz modelação decisionária em contextos críticos de adensada indeterminação (quanto às variáveis em jogo) e de elevada incerteza (quanto ao

desfecho resultante), designadamente nas esferas clínica, jurídica e económica.

Enfim, se outras razões não houvesse, mantemos intacta a convicção de que, por si só, a tarefa a que lançamos mão já seria mais do que suficiente para, na esteira de Ronald Polansky em Phronesis on Tour: Cultural Adaptability of Aristotelian Ethical Notions77 e Kurt Von Fritz em Aristotle’s anthropological ethics and its

74 WALLACE James, «Ethics and the Craft Analogy», in FRENCH Peter – UEHLING Theodore – WETTSTEIN Howard (eds.), Midwest Studies in Philosophy XIII: Ethical Theory: Character and Virtue, University of Notre Dame Press, 1988, 222-232

75 WIELAND Wolfgang, «Norma y situación en la ética aristotélica», in Acción, Razón, y Verdad. Estudios sobre la filosofía práctica de Aristóteles: in Anuario Filosófico 32 (1999) 1, 107-127

76 REEVE Charles, Practices of Reason: Aristotle’s “Nicomachean Ethics”, Oxford: Clarendon Press, 1992

77 POLANSKY Ronald, «Phronesis on Tour: Cultural Adaptability of Aristotelian Ethical Notions», in Kennedy Institute of Ethics Journal 10 (2000) 4, 323-336

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