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Da África pré-colonial à Lei 10.639/2003

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MARINO LUIZ BALBINOT

DA ÁFRICA PRÉ-COLONIAL À LEI 10.639/2003

IJUÍ 2015

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MARINO LUIZ BALBINOT

DA ÁFRICA PRÉ-COLONIAL À LEI 10.639/2003

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de História da Universidade Regional do Noroeste do Estado – UNIJUI, como requisito parcial para a obtenção do diploma de Licenciatura em História.

Orientador: prof. João Afonso Frantz

IJUÍ 2015

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Figura 1 – Mapa da África Pré-Colonial ... 7

Figura 2 – Mapa do Reino de Ghana ... 8

Figura 3 – O rei de Ghana ... 10

Figura 4 – Rei Mansa Musa ... 12

Figura 5 – Mapa Império de Mali ... 13

Figura 6 – Timbuktu, capital do Império de Mali ... 14

Figura 7 – Caravana chegando do Saara em Timbuktu, Mali ... 15

Figura 8 – Mapa do Reino de Songhai ... 16

Figura 9 – Soni Ali Mansa e sua cavalaria ... 17

Figura 10 – Casas Cônicas ... 19

Figura 11 – Iemanjá, a rainha do mar ... 22

Figura 12 – Terreiro Candomblé ... 23

Figura 13 – Umbanda ... 25

Figura 14 – Roda de capoeira ... 27

Figura 15 – Mestre Bimba ... 28

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1 INTRODUÇÃO ... 4

2 OS IMPÉRIOS DA ÁFRICA PRÉ-COLONIAL ... 7

2.1 O IMPÉRIO DE GHANA ... 7

2.2 O IMPÉRIO DE MALI ... 11

2.3 O IMPÉRIO DE SONGAI ... 16

3 A CULTURA AFRICANA ATRAVESSA O ATLÂNTICO. ... 21

3.1 A RELIGIÃO CANDOMBLÉ ... 21

3.2 A RELIGIÃO UMBANDA ... 24

3.3 A CAPOEIRA ... 26

4 A IMPORTÂNCIA DA CULTURA DA ÁFRICA NO BRASIL... 30

5 CONCLUSÃO ... 33

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1 INTRODUÇÃO

Imagine um continente com uma diversidade incrível, diferente de todos os outros. Um lugar onde os extremos encontram-se, das altas temperaturas no deserto do Seara à neve nas montanhas do Kilimanjaro, na Tanzânia; dos edifícios modernos da cidade do Cabo, África do Sul às tribos Maasai, povo que vive igual há mais de quatro mil anos; África dos reinos ricos em ouro, civilizações que possuíam bibliotecas e universidades como o Reino de Mali. Foram vários impérios e civilizações que, na Idade Média, eram mais avançados que muitos reinos da Europa.

A África é um continente enorme, com uma grande diversidade geográfica. Nela há de tudo: altas montanhas – algumas, como o monte Kilimanjaro, com os picos permanentemente cobertos de neve: grandes desertos, como o Saara: florestas que parecem sem fim, como a do Congo: grandes extensões de matas baixas e estepes. (COSTA; SILVA, 2008, p. 11).

No ano de 2011, quando frequentava o 3º semestre do Curso de História, na Universidade Feevale, em Novo Hamburgo, Vale do Sinos, optei por fazer uma disciplina nova, que se chamava, “África”. Foi o ponto de partida para me apaixonar pelo continente africano. Fiquei surpreso quando meu professor falou que o continente tinha neve, mais surpreso ainda com reinos antigos que tinham universidade e bibliotecas, e as surpresas não pararam mais. A partir dali, livros, filmes, documentários sobre a África começaram a fazer parte da minha vida.

Durante muito tempo, o preconceito determinou que ficasse ocultado pela historiografia um continente que teve importância cultural para a formação de muitas civilizações que se espalharam pelo planeta. Esse continente, quando descoberto pelos europeus, foi tratado como inferior, por ter um povo de pele escura. Assim também ocorreu na colonização da América, indígenas e africanos não foram considerados seres humanos, mas sim animais selvagens que precisavam ser domesticados com um único propósito, a escravidão.

Passaram-se séculos e, mesmo com a abolição, os negros são tratados como inferiores, sofrem todo o tipo de discriminação. Mesmo com leis como a 10.639/2003, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e

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Africana para diminuir esses preconceitos, ainda temos um abismo social que separa a população negra da população branca.

Esta pesquisa, por conseguinte, tem a finalidade de trazer um novo olhar sobre a África, sua riqueza cultural e importância no contexto da história da humanidade. É fundamental que, na educação básica e universitária, quebremos paradigmas, conceitos que ficaram enraizados na sociedade, tais como a lembrança de um continente miserável, de doenças, guerras, escravidão.

Portanto, este trabalho teve o intuito de conhecer uma nova África. Nessa perspectiva, abordou-se, nesta pesquisa, a África pré-colonial, o continente antes da chegada dos europeus, seus grandes reinos, como os Reinos de Ghana, Reino de Songhai e o Reino de Mali. Essas três civilizações tiveram um reinado que duraram do século VIII ao século XVI. Foram sociedades que tiveram regimes parecidos e até melhores que muitos reinados europeus da mesma época. No Reino de Mali, por exemplo, havia universidade e biblioteca.

Além desses reinos, foram abordadas, neste estudo, as religiões africanas que junto com os negros escravos atravessaram o Atlântico e chegaram à América; os achados científicos na África que deram outra visão desse continente, visto que vários cientistas já têm teorias de que os ancestrais que deram os primeiros passos na Terra surgiram do coração da África; estudos sobre os primeiros tambores, que espalharam seus sons pela floresta africana e originaram muitas músicas ouvidas até hoje; a África das temperaturas extremas, ”sessenta graus no deserto do Seara”, e neve nas montanhas do Kilimanjaro; o continente, onde animais selvagens circulam livremente como há milhares de anos, onde é falado mais de dois mil idiomas, entre línguas e dialetos; as religiões, crenças, os mais de mil espíritos das florestas cultuados; enfim, uma pluralidade de riquezas que foram ocultados por muitos séculos, excluídas do ensino já que a educação era dominada por uma elite branca europeia que não aceitava a cultura negra.

Quando o historiador estuda os povos da África Pré-colonial, na maioria das vezes a historiografia é oral ou existem alguns escritos feitos por viajantes, na sua maioria árabe. Além de outras fontes, esta pesquisa teve como fonte principal as obras de dois especialistas no continente Africano e que já produziram vários livros sobre a África – Alberto da Costa e Silva e Mario Maestri.

A UNESCO e o MEC, nas últimas décadas, têm direcionado o ensino da África para valorizar essa importante cultura. Nesse sentido, este estudo pode

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colaborar com os currículos escolares para que a bela cultura afro-brasileira tenha o lugar merecido. Também, com certeza, a profissão de Historiador ficará enriquecida através do conhecimento e divulgação dessa cultura.

Para tanto, esta pesquisa visa à diversidade cultural da África. No capítulo I, foram destacados os três impérios mais importantes – os Impérios de Ghana, de Mali e de Songhai. No capítulo II, foram descritas as duas religiões – Umbanda e Candomblé, e caracterizou-se a dança da Capoeira, praticada pelos escravos que vieram da África para o Brasil, hoje patrimônio da UNESCO. No terceiro e último capítulo, apresentou-se a Lei 10.639/2003, que introduziu nos currículos escolares do Brasil o estudo da cultura indígena e africana.

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2 OS IMPÉRIOS DA ÁFRICA PRÉ-COLONIAL

Figura 1 – Mapa da África Pré-Colonial

Fonte: Wikimedia Commons, 2015.

2.1 O IMPÉRIO DE GHANA

Ghana foi o nome dado a um antigo estado localizado na África Ocidental, onde hoje temos o sudeste da Mauritânia e o oeste do Mali, e que teve seu apogeu entre os anos de 700 e 1200 da Era Cristã. A capital do estado localizava-se na cidade de Kumbi Saleh, hoje um sítio arqueológico na fronteira entre Mauritânia e Mali, que de acordo com as pesquisas, já era habitado desde o século III, por povos mandes.

A mais importante descrição do Império de Gana e comumente citada como fonte testemunhal é o relato do espanhol AL-Bakri, em seu "Kitāb AL-Masālik wa-al-Mamālik" (livro das estradas e reinos), escrito por volta de 1068 em Córdoba.

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Relatava a grande opulência do monarca local, que controlava uma economia bastante diversa a partir de uma capital rodeada por muros de pedra e que incluía entre as suas riquezas, diversas minas de ouro sob monopólio real. Al-Bakri destaca ainda a produção agrícola desenvolvida, a tecelagem, além do domínio da metalurgia, com a qual se manufaturavam muitos equipamentos, armas e ferramentas. A ideia obtida da leitura da descrição de Al-Bakri permite fazer a imagem do Império de Ghana como um imenso oásis protetor na fronteira sul do deserto do Saara, onde sua população rodeava-se de hortas, palmeirais, pepinos e figueiras em uma imagem de luxúrias.

O Reino de Ghana ficava na região oeste da África, na área que compreende hoje o Mali e o sul da Mauritânia, alcançou seu ápice entre os séculos VIII e XI. Através da captação dos recursos naturais, principalmente ouro e metais preciosos dos territórios dominados pelo reino, transformou-se na principal autoridade econômica da região. Desde já, percebemos a instigante história de um reino que prosperou mesmo não possuindo saídas para o mar e estando próximo a uma região considerada economicamente inviável.

Figura 2 – Mapa do Reino de Ghana

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O que surpreende quem pesquisa o reino de Ghana são as histórias que contam os viajantes árabes de um Soberano Negro, de uma ampla túnica com um turbante encimado por um gorro bordado em ouro. Trazia colares e pulseiras também em ouro. Atrás dele ficavam dez escravos com espadas e escudos ornamentados de ouro. Tudo era em ouro, os arreios dos cavalos do rei, a coleira dos cachorros. Conta mais o árabe de que o rei amarrava um de seus cavalos em uma pedra de ouro que pesava 14 quilos. Outras civilizações também têm histórias que parecem surreais, mas é surpreendente a história desse soberano, em uma época que esse metal, principalmente na Europa Medieval, era escasso.

O viajante Ibn Batuta viu esse rei, que tinha o titulo de mansa, dar audiência a seus súditos, de manto vermelho e gorro bordado de ouro, sentado em almofadas, sob um grande guarda-sol encimado por um grande pássaro de ouro. Estava cercado por seus chefes militares, com espadas e lanças de ouro. (COSTA; SILVA, 2008, p. 25).

O reino de Ghana foi o maior império fornecedor de ouro para os árabes e europeus. Era para adquirir ouro e fazer comércio, troca de mercadorias, que as caravanas com camelos carregados de mercadorias atravessavam o deserto do Saara. Com o ouro africano, cunhavam-se moedas na Europa e no Oriente Médio. Os africanos dominavam, já nessa época, as técnicas de mineração do ouro. O ouro era obtido tanto nos leitos dos rios, quanto em minas. A mesma técnica foi usada séculos depois na colonização europeia, na América.

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Figura 3 – O rei de Ghana

Fonte: Faculdade Humanidades Pedro II, 2014c.

Na agricultura, o Reino de Ghana desenvolveu uma agricultura de cereais, devido ao solo fértil que permitiu um acelerado crescimento demográfico e a implantação de importantes comunidades de agricultores e pastores. Com secas e solo pobre, os africanos foram obrigados a desenvolver práticas agrícolas complexas.

As comunidades aldeãs de Gana conheceram o modo de produção de linhagem ou doméstico. Esse modo determinava a formação das famílias e comunidades organizadas em torno da família ampliada (patriarca, filhos casados e solteiros, cativos, etc.) que praticavam a agricultura e o artesanato. Eram comunidades semiautárquicas, que se dedicavam a uma agricultura desenvolvida com instrumentos simples de ferro, com o fogo e força humana. A posse da terra era coletiva: sua utilização podia ser associada ou individual. Essas comunidades conheciam as formas produtivas da pesca, caça, coleta, mineração. Havia divisão do trabalho: pastores, ferreiros, mercadores. Eram trabalhadores semiespecializados.

A estrutura político-ideológica funcionava com as relações de parentesco, que justificavam as relações sociais de produção. O patriarca, por ser o mais velho da

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família, recebia tributos de seus filhos, agregados e cativos. Ele também geria os bens familiares e concedia as esposas e os dotes matrimoniais. As mulheres eram subordinadas aos homens, os jovens aos patriarcas, os agregados e cativos, mesmo quando velhos e casados, continuavam eternos “jovens‟”.

Na época de seu maior desenvolvimento, o monarca e os seus súditos praticavam uma religião baseada no culto aos ancestrais e manifestações da natureza, algo parecido com as religiões animistas atuais praticadas na África Ocidental. Por outro lado, o islamismo fazia-se presente, especialmente entre os habitantes dos subúrbios das grandes cidades. Aliás, Al-Bakri dá ênfase à influência muçulmana neste estado animista, provavelmente pelo fato de ser ele também muçulmano.

O império começou a declinar por volta de meados do século XI. Não existe um dado preciso, a versão popular é que os Almorávida, povos Bérberes muçulmanos vindos de onde hoje é o atual Marrocos, começaram a invadir Ghana pelo norte até conquistar totalmente o império. Também se acredita que disputas internas foram fatores para sua decadência.

2.2 O IMPÉRIO DE MALI

Se perguntasse quem já foi, na história da humanidade, o homem mais rico do mundo? Com certeza, seriam lembrados alguns nomes, tais como: Henry Ford, com seus 199 bilhões, Bill Gates, Rainha Elizabeth, entre outros. Mas o homem mais rico que já passou pelo planeta foi o rei Mansa Musa, que comandou um dos impérios mais ricos da África do século XIII e XIV. A fortuna dele foi estimada de US$ 400 bilhões, segundo levantamento da Celebrity Networth, que ajustou os valores pela inflação em dólares até 2012. Musa viveu entre 1280 e 1337 e governou o Império de Mali, onde atualmente são os países de Gana e Mali, na África Oriental.1

1A epopeia do rei Sundiata Keita do Mali foi a inspiração para o filme da Disney “O Rei Leão”. No

entanto, o filme apenas “dá uma pincelada” na riqueza da cultura, do patrimônio e da história real. (PROFISSÃO HISTÓRIA, 2013)

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Figura 4 – Rei Mansa Musa

Fonte: Grimes, 2015.

A riqueza deste império comercial ficou registrada quando da viagem de Mansa Kanku Mussa, em 1307 a Meca. Sua viagem marcou por anos a imaginação dos povos islâmicos. Afirmou-se que ele teria levado consigo, na viagem, milhares de servos e de 10 a 12 toneladas de ouro. Sua entrada no Cairo foi precedida de milhares de escravos ricamente vestidos. Em Meca, comprou casas e terrenos para abrigar futuros peregrinos negros (MAESTRI, 1988, p.30).

O Reino de Mali foi um dos mais importantes do continente africano, pois em plena escuridão da Idade Média teve universidades e bibliotecas. Começou seu apogeu por volta do século XI. Sua composição era formada por doze pequenos reinos, ligados entre si, a capital era Kangaba. Foram muitos anos de guerras com Gana, com os almorávidas e os sossos até o império conseguir se estabilizar e se tornar um dos mais poderosos da região. Pelo contato com mercadores vindo do norte da África, Mali acabou adotando o islamismo como religião. Em meados do século XII, Mali conseguiu sua independência. Depois de conquistar todo o território que pertencia a Ghana, o império expandiu-se sob a liderança de Maghan Sundiata, que recebeu o título de Mansa, que na língua mandinga significa imperador dos mandingas, povo de Mali. Ele impôs uma forma centralista de governar, estabeleceu

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fronteiras, formulou leis por meio de assembleias, compostas pelo diversos povos do império.

Percebe-se que o império de Mali teve uma organização politica mais avançada que o de Gana. Em vez de se preocupar em manter os povos dominados. Mali tornou-se uma civilização conhecida como um lugar onde a lei era implacável com os injustos. Muitos viajantes comentavam que esse povo negro foi o que mais odiava injustiças. Outro dado interessante é que se acredita que Mali tenha tido uma extensão territorial do tamanho da Europa Ocidental.

Figura 5 – Mapa Império de Mali

Fonte: Faculdade Humanidades Pedro II, 2014a.

Assim como Ghana, o povo de Mali tem muitas histórias contadas pelos viajantes, que cruzavam o deserto do Saara para comercializar trocas de mercadorias. Uma delas conta que entre 1324 e 1325, Mansa Mussa, em peregrinação a Meca, parou para uma visita ao Cairo e teria presenteado tantas pessoas com ouro, que o valor desse metal se desvalorizou por mais de 10 anos.

O reinado de Mali foi grandioso, a capital do reino, a cidade de Timbuktu foi uma das mais ricas e importantes da região. Nela havia uma universidade, que surpreende todos que a visitavam. Era um dos mais belos centros culturais muçulmano da época. Produzia várias traduções de textos gregos que ainda

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circulavam nos séculos XIV e XV. Na biblioteca visitada por muitos viajantes muçulmanos, havia milhares de livros principalmente da teologia muçulmana.

Incrível e surpreendente é saber que, em um continente esquecido, tenha uma sociedade com universidades, bibliotecas, ruas e casas com esgoto. A África teve reinos mais avançados do que muitos que existiram na Europa da Idade Média. Os próprios portugueses, que começaram a chegar ali por volta do século XI, surpreenderam-se com essas civilizações. Há relatos de navegadores portugueses que, quando chegaram a comunidades aldeãs que pertenciam a esse reino, surpreenderam-se com casas feitas de barro e areia de cor branca que muito se pareciam com as moradias das aldeias portuguesas.2

Tombuctu, nos fins do séc. XVI, possuía em torno de 25 mil habitantes, 26 alfaiatarias, com até 200 aprendizes cada uma, e nada menos do que 150 escolas alcoranistas. Há muitos médicos, juízes e letrados e todos recebem bons estipêndios do rei, que tem grande respeito pelos homens do saber. Tem ali grande procura por livros que é um comércio lucrativo. (MAESTRI, 1988, p. 32).

Figura 6 – Timbuktu, capital do Império de Mali

Fonte: Maurer Júnior, 2012.

Como era a organização social e política de Mali? As fontes orais africanas e escritas muçulmanas permitem narrar algo sobre a mesma, até porque a historiografia sobre a África Negra, só recentemente começou a ter interpretações.

2

Tratado como grande e inútil, o deserto do Saara foi, na África Pré-colonial, usado como transporte de mercadorias. Sobre o lombo dos camelos, era feita a travessia de ligação entre o norte e o sul do continente africano. (TURCI, 2010)

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Mali tinha uma formação tributária mais acabada que Ghana. A classe dominante (os keitas) assentava seu poder sobre a extração do excedente. As comunidades aldeãs pagavam tributos diretamente ao rei. Os agricultores e artesãos pagavam tributos em forma de dízimos. Esses impostos eram recolhidos em espécie, por caravanas imperiais, quando das colheitas. As comunidades eram divididas por castas produtivas por Sundiata – artesãos, camponeses, servidores domésticos, etc. Em relação aos ferreiros, por exemplo, por ano a família tinha que entregar cem flechas e cem lanças; os pescadores, dez pacotes de peixe seco. Outro tributo rentável era o comércio transaariano. O deserto do Saara sempre foi tratado como grande e inútil, mas esse deserto desprezado pela historiografia teve uma grande importância de ligação comercial entre a África Negra e a África do norte. Durante muitos séculos, milhares de caravanas atravessavam o Saara para trazer e levar mercadorias nos lombos dos camelos. Muitos árabes ficaram ricos trabalhando com o transporte saariano. Por ali era transportado ouro, escravos, tecidos, sal, artesanatos, etc. Esse comércio pelo Saara perdeu força em razão da chegada dos europeus pelo mar Atlântico.

Figura 7 – Caravana chegando do Saara em Timbuktu, Mali

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O Império de Mali entrou em crise a partir do final do século XIV, em função das disputas de políticas internas e das incursões dos tuaregues, que assim como em Ghana também eram povos Berberes. Foi conquistado, no século XV, pelos Songhais (povo africano até então dominado por Mali). Nesse século, os portugueses, em pleno processo de expansão marítima pelo Atlântico, conheceram o já decadente Mali.

2.3 O IMPÉRIO DE SONGAI

Foi o último grande império do Sudão Ocidental que rompeu a ascensão dos impérios negros da região africana. As origens desse império são desconhecidas. Alguns textos árabes falam de um príncipe Soni, chamado de Ali, o grande. Ele derrotou o Império de Mali e fundou o mais importante império comercial-tributário da região.

Figura 8 – Mapa do Reino de Songhai

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Songhai foi um grande império da África pré-colonial, século XV ao século XVI. Songhai veio do nome de seu grupo étnico, os Songhai. A capital do império era a cidade de Gao, onde já existia um pequeno estado Songhai no século XI. O poder de Songhai estava sobre a volta do rio Níger, que hoje é onde se situam os países africanos Níger e Burkina Faso.

Desde quando era um estado pequeno, Songhai vivia da pesca e do comércio local do ouro e do sal, pois essa região possuía grandes minas de ouro e sal.

O ouro e o sal serviam de moeda corrente em Songhai, mas a principal moeda eram os cauris, conchas de moluscos utilizadas como moeda de troca até meados do século XIX – e isso do Sudão à China. De qualquer modo, os imperadores Askias procederam a uma unificação de pesos e medidas para evitar fraudes (MAESTRI, 1988, p. 39).

Assim como Mali, o Reino de Songhai escolhia letrados com experiência na área mercantil, pessoas que tinham conhecimento na troca de mercadorias. Geralmente, eram contratados árabes comerciantes muçulmanos para conduzirem a política comercial.

Figura 9 – Soni Ali Mansa e sua cavalaria

Fonte: Faculdade Humanidades Pedro II, 2014b.

O império de Songhai tinha a economia baseada na mão de obra de escravos disponíveis para o trabalho no campo. Aqui há uma divergência entre alguns historiadores, que tratam esses escravos como servos, parecidos com o feudalismo europeu. Uma terra com duzentos escravos, por exemplo, deveria produzir cerca de 250 toneladas de arroz por ano. Outros historiadores descartam essa possibilidade de comparação desse sistema escravocrata com o feudalismo europeu, embora

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defendam semelhança entre os dois. O senhor da terra mantinha o sistema religioso-simbólico de dádiva, com isso existia a opressão escravocrata. O importante para o senhor era ter o maior número de famílias e aldeias de servos, não apenas a exploração econômica.

Com a morte do Soni Ali Mansa, em 1492, assumiu um dos seus filhos, mas que não ficou um ano no poder, pois um ex-general de Ali, o Askia Mohammed derrotou o novo rei e assumiu o poder. Esse general transformou o reino de Songhai. Foi sob sua dinastia que o império expandiu-se. Ele dividiu o império em quatro vice-reinos, organizou o sistema de impostos, unificou pesos e medidas, explorou as minas de sal. Formou pela primeira vez no império um exército regular constituído por escravos e prisioneiros.

Songhai também foi um sucessor do reino de Mali e Ghana. Contudo, ele foi bem mais qualificado, visto que ultrapassou os dois anteriores no nível administrativo e político. Viveu plenamente uma organização estatal que aos poucos se distanciava da organização tribal. Teve pela primeira vez na história dos reinos africanos um exército profissional e uma arrecadação sistemática de impostos. A dinastia Askia continuou sendo a etnia base do império. O islamismo foi a religião oficial, mas o rei permitia outras crenças desde que não entrassem em conflito com a religião oficial.

Songhai foi um império que também fez mudanças na sociedade dos nômades berberes e as das fronteiras do mundo negro; inovou no modo e na tática de guerrear com seus inimigos. Esse reino inovou também nos seus exércitos. Acrescentou três fileiras de arqueiros. A Europa cristã só depois é que praticou igual medida, ou seja, constituição de uma infantaria de arqueiros. Também incluiu grupos com grandes tambores, com o intuito de fazer muito barulho e aterrorizar os inimigos.

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Figura 10 – Casas Cônicas

Fonte: Nishikawa, 2009, apud COSTA, 2015.

Os tipos de “casas cônicas” descritas por Al-Bakri em sua obra ainda podem ser vistas no Mali, como mostra a fotografia acima da Vila de Songo, no Mali.

Nas últimas décadas do século XVI, assim como a história dos outros grandes impérios que existiram, Songhai não foi diferente, inimigos de outras regiões do continente começaram a tentar invadir o reino. Além disso, os portugueses já tinham feitorias na costa africana e já afetavam o comércio pelo deserto do Saara, pois as caravelas, além de levar uma maior quantidade de mercadorias, eram bem mais velozes.

Outro fator para a decadência foi a substituição do grande líder Mohammed aos 86 anos, pelo seu filho, que governou com tirania, impondo terror às sete cidades-estados dos Hauçás, povos que falavam línguas semelhantes e pertenciam ao Reino de Songhai. Essa tirania começou a causar revoltas nos povos Hauçás. De olho nas riquezas de Songhai, os senhores muçulmanos de Marrocos, após várias tentativas, conseguiram invadir pelo Saara e se apoderar do império. Os invasores armados de fuzis venceram em 1591, na batalha de Tondibi, o último grande império

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africano. Essa região ocidental da África, onde os três grandes impérios prosperaram, era muito rica. O território de Ghana, conquistado por Mali, era praticamente o mesmo.

No próximo capítulo, apresenta-se o comércio escravista e a América, que por mais de três séculos transformou a vida de milhões de escravos africanos. Ao mesmo tempo, uma bela cultura atravessou o Atlântico e transformou a vida dos brasileiros.

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3 A CULTURA AFRICANA ATRAVESSA O ATLÂNTICO

No Brasil, existe um mito de que aqui temos uma democracia racial, ou seja, uma sociedade pluriétnica, onde não existe preconceito contra os afro-brasileiros. O futebol e o carnaval ajudam a expor esse mito racial, no qual uma multidão de negros e brancos se mistura, com largos sorrisos. Uma imagem de classe de iguais, mas que não é verdadeira.

Essa mistura de etnias começou com a colonização e a vinda décadas depois de milhões de africanos como escravos. Todavia, mesmo depois da abolição, continuaram a sofrer uma segregação social, que uma elite branca tenta esconder. Contudo, infelizmente, ela está aí e precisa ser mostrada e combatida.

As caravelas começaram a atravessar o Atlântico com os porões lotados de escravos africanos, em condições piores que o transporte de animais. Vieram junto com os escravos várias religiões e danças que, mesmo com a repressão feita pelos seus donos, sobreviveram e passaram a fazer parte da vida de milhões de brasileiros, mesmo com preconceitos e perseguições.

Assim como no capítulo I sobre os reinos, aqui neste capítulo também foram selecionadas duas religiões e a dança de capoeira. Foram dezenas de religiões e danças, mas foram abordadas aqui as duas principais religiões africanas que têm milhões de adeptos no Brasil – o Candomblé e a Umbanda. Por outro lado, as danças também foram muitas, trazidas com os escravos africanos; uma delas, em especial, depois de perseguida e tratada como crime, virou patrimônio da UNESCO e, atualmente, é muito praticada no Brasil: a Capoeira.

3.1 A RELIGIÃO CANDOMBLÉ

O Candomblé, diferente da Umbanda, é uma religião unicamente africana. Candomblé significa Nação. A mãe África é muito diversificada e seu povo é dividido em diferentes nações. Quando os escravos foram trazidos ao Brasil, vieram grupos de diferentes lugares. Por isso, a religião do Candomblé também é dividida em Nações.

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Assim como os cristões acreditam em almas, santos, vida após a morte, as religiões africanas também incorporam santos e espíritos. O Candomblé cultua os Orixás, incorporando-os, deixando no corpo e na alma de seus filhos os axés de amor, coragem e esperança. Os orixás são incorporados e não falam nada, apenas se fazem sentir. As consultas são feitas através do jogo de búzios, não aceitando a comunicação de espíritos e nem sua incorporação.

Figura 11 – Iemanjá, a rainha do mar

Fonte: Orixá Yemanjá, 2015.

A imagem acima mostra Iemanjá, identificada como a “rainha do mar”, de maior popularidade no Brasil. Essa divindade é tida como a deusa-mãe da humanidade. Existe um sincretismo entre as santas católicas Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora da Glória e a orixá da Mitologia Africana Iemanjá. Em alguns momentos, inclusive em festas, as santas católicas e africanas se fundem. No Brasil, tanto Nossa Senhora dos Navegantes como Iemanjá têm sua data festiva no dia 02 de fevereiro. Costuma-se festejar o dia que lhe é dedicado, com uma grande procissão fluvial.

Uma das maiores festas ocorre em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, devido ao sincretismo com Nossa Senhora dos Navegantes. No mesmo estado, em Pelotas, a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes vai até o Porto de Pelotas.

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Antes do encerramento da festividade católica, acontece um dos momentos mais marcantes da festa de Nossa Senhora dos Navegantes em Pelotas, que em 2015 chegou a 85ª edição. As embarcações param e são recepcionadas por umbandistas que carregavam a imagem de Iemanjá, proporcionando um encontro ecumênico assistido da orla por milhares de pessoas.

No Brasil, a religião dos orixás fez adeptos não só entre originários de outras nações africanas, mas também entre descendentes de guaranis, pataxós, portugueses, espanhóis. Sua história não é, assim, diferente da história do cristianismo e do islamismo, que começaram como religiões locais- de um punhado de judeus, num caso, e de um grupo de árabes no outro e se expandiram pelo mundo (COSTA; SILVA, 2008, p. 64).

Foi no Nordeste, principalmente no Estado da Bahia, que o Candomblé começou a ser cultuado e desde aí tem sido sinônimo de tradições religiosas afro-brasileiras em geral. Durante a escravidão, com a proibição do culto aos orixás, os adeptos passaram a associar os orixás aos santos católicos. Hoje, o Candomblé é praticado por todas as regiões do Brasil e, assim como ele, dezenas de outras religiões africanas se fazem presente entre os afrodescendentes.

Com a abolição, os cultos africanos puderam ser cultuados com mais liberdade. Mas era uma liberdade restrita, porque o preconceito e as perseguições continuaram. Muitos africanos puderam voltar para a África, outros viajaram para lá, onde foram iniciados no culto dos Orixás e quando voltaram para o Brasil, fundaram terreiros para a prática religiosa.

Figura 12 – Terreiro Candomblé

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O Candomblé é hoje uma religião muito praticada no Brasil nas áreas onde mora grande quantidade de populações afro-brasileiras. Como é o caso de Salvador, na Bahia, e a zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Foi na Bahia que, em 1830, surgiu o primeiro terreiro. Essas novas religiões apareceram primeiro na periferia urbana brasileira, onde os escravos tinham maior liberdade de movimento e eram capazes de se organizar em nações. Daí eles se espalharam por todo o país, e tomaram diversos nomes como Catimbó, Tambor de Minas, Xangó, Candomblé, Macumba e Batuques.

Cada divindade preside uma família em particular e um aspecto da natureza. No Brasil, os escravos eram vendidos e separados de suas famílias, assim essas divindades se tornaram protetores dos indivíduos. As festas tinham como ponto central as divindades, como os Orixás e Vodus. Nessas festas, são feitas oferendas, como o sacrifício de animais.

3.2 A RELIGIÃO UMBANDA

Essa religião sofreu uma „desafricanização‟, no início do século XX, e foi apresentada como uma manifestação da supremacia branca. Recentemente, essa religião e outras africanas estão tendo uma mudança de „reafricanização‟. A umbanda teve origem nas senzalas em reuniões nas quais os escravos vindos da África louvavam os seus deuses através de danças e cânticos e incorporavam espíritos.

Ela se originou no sudeste brasileiro e se espalhou. Nos dias atuais, encontra seguidores em todas as regiões do Brasil. A palavra umbanda deriva de m‟banda, que em quimbundo (idioma banto) significa “sacerdote” ou “curandeiro”.

Os terreiros e centros são os locais dos cultos, onde os praticantes cantam músicas e usam instrumentos musicais como o atabaque. Apesar disso, quando a umbanda foi criada, não existiam manifestações musicais, como cânticos e utilização de instrumentos. Um chefe masculino ou feminino preside o culto durante as sessões. Nelas são realizadas consultas de apoio e orientação a quem recorre ao terreiro, práticas mediúnicas com incorporações de entidades espirituais e outros rituais. O culto assemelha-se ao candomblé. No entanto, são religiões que possuem

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práticas distintas. Ao longo do tempo, a umbanda passou por transformações e foi incorporando outras religiões e, assim, também criou ramificações,

As religiões africanas praticadas no Brasil não são politeístas, são monoteístas. Ioruba Olodum are é o nome do único Deus Supremo. É o juiz eterno, criador onipotente. Quando um africanista vai orar, inicia por „Axé‟ (se Deus puder aceitar esta minha oração).

Figura 13 – Umbanda

Fonte: Umbanda, 2015.

A religião umbanda trabalha com entidades do plano astral superior. É a incorporação dos caboclos, pretos-velhos, exus, entre outros. São guias espirituais que abrem o caminho da luz, que se manifestam na vibração dos Orixás. Por exemplo, o caboclo Ogum Rompe Mato manifesta-se na vibração do Orixá Ogum, que tem como elemento o ferro e as matas. O mesmo ocorre com uma cabocla de Oxum que se manifesta na vibração do Orixá Oxum, que tem como elemento os rios e as águas doces. São guias que trabalham para a cura das pessoas que buscam ajuda.

A umbanda é uma religião natural que segue ensinamentos de várias vertentes da humanidade. Ela traz lições de amor e fraternidade. É considerada uma

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religião brasileira, mas com um sincretismo que mistura o catolicismo, os espíritos de origem indígenas e os orixás africanos. O dia 15 de novembro é considerado a data do surgimento da umbanda pelos seus adeptos.

Para entender melhor as duas religiões, o quadro abaixo traz um resumo das suas principais características.

Quadro 1 – Quadro comparativo das características

UMBANDA CANDOMBLÉ/NAÇÃO

É uma religião tipicamente brasileira, com influência africana, indígena e europeia (Kardecismo).

É um culto, de raiz unicamente africana.

Incorpora caboclo, preto-velho, crianças,

exus, etc. Incorpora somente Orixás.

O caboclo e o preto-velho são guias espirituais.

O caboclo e o preto-velho são considerados oguns.

É uma religião essencialmente brasileira, que trabalha com o sincretismo.

É dividida por Nações: Queto, Angola, Xangô, Djedji.

Fonte: elaborado pelo autor.

3.3 A CAPOEIRA

Uma linda dança ao som de uma bela música é praticada no Brasil há 500 anos. Só recentemente, nas últimas décadas, a capoeira começou a ganhar seu lugar merecido. No ano passado, foi transformada pela UNESCO em patrimônio cultural. Foi ocultada por cinco séculos, devido ao racismo contra os negros. Mesmo com a abolição, no Brasil, a capoeira foi tratada como crime até o início do governo de Getúlio Vargas.

A história da capoeira começou com a vinda, no século XVI, dos primeiros escravos angolanos para trabalharem no cultivo da cana de açúcar. No início, os escravos praticavam lutas ao ritmo de tambores na senzala das fazendas; alguns senhores de engenhos deixavam que os escravos praticassem em volta da fogueira. Mas logo os africanos começaram a usar essas lutas como forma de defesa contra a violência de seus donos. Sabendo disso, os senhores dos engenhos reprimiram violentamente, proibindo qualquer tipo de luta praticada por escravos.

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Figura 14 – Roda de capoeira

Fonte: UC 725 Anos, 2015.

Nos terreiros próximos aos galpões onde os escravos dormiam, chamados de senzala, a capoeira era praticada. Às vezes, as lutas aconteciam em campos com pequenos arbustos, chamados de capoeirão. Foi aí que surgiu o nome capoeira. Ela servia para aliviar o estresse do trabalho, manter a saúde física dos escravos e também manter a cultura africana.

Para enganar seus donos, os escravos utilizaram o ritmo e os movimentos de suas danças africanas, adaptando a um tipo de luta. Foi assim que surgiu a capoeira, uma arte marcial disfarçada de dança. Ela foi usada como um instrumento importante da resistência cultural e física dos escravos brasileiros.

Na Velha República, os negros foram proibidos de praticar a capoeira no Brasil, pois era vista como uma luta violenta e subversiva. Foi só a partir de 1930, que a capoeira começou a ser reconhecida. Um capoeirista, chamado mestre Bimba, apresentou a luta para Getúlio Vargas. Após assisti-la, Getúlio transformou-a em esporte nacional brasileiro.

A capoeira foi dividida em três estilos:

a) Capoeira Angola: esse estilo foi criado na época da escravidão. As características são o ritmo musical lento, golpes jogados mais baixos, próximos ao solo e muita malícia.

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b) Capoeira regional: nesse estilo, há uma mistura da malícia da capoeira angola com o jogo rápido de movimentos, ao som do berimbau. Os golpes são rápidos e secos, sendo que as acrobacias não são utilizadas.

c) Capoeira contemporânea: esse estilo une um pouco da capoeira Angola e regional. A contemporânea é o estilo de capoeira mais praticado na atualidade.

Figura 15 – Mestre Bimba

Fonte: Wikipédia, 2015.

A imagem acima é de um grande líder, referenciado por capoeiristas como um rei. Manoel dos Reis Machado, conhecido como Bimba, nasceu em 23 de novembro de 1899 e faleceu em 5 de fevereiro de 1974. Foi o grande defensor e criador da Capoeira Regional na Bahia. Quando viu que a capoeira estava perdendo seu valor cultural, misturou elementos da capoeira tradicional com o batuque, criando uma luta com movimentos mais rápidos e acompanhados de música.

A capoeira virou uma dança nacional praticada em vários setores da sociedade. Na Semana da Consciência Negra, no mês de novembro, as apresentações dessa dança intensificam-se por todo o Brasil.

A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura UNESCO, em 26 de novembro de 2014, declarou a roda de capoeira como sendo um patrimônio imaterial da humanidade. De acordo com a organização, a capoeira

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representa a luta e resistência dos negros brasileiros contra a escravidão durante os períodos colonial e imperial. A data de comemoração do dia do capoeirista é 3 de agosto.

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4 A IMPORTÂNCIA DA CULTURA DA ÁFRICA NO BRASIL

A lei 10.639/2003 estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Já temos doze anos da criação da lei, mas poucas mudanças aconteceram na educação sobre a cultura afro-brasileira. Para a escola, é vista apenas como mais uma lei, muito boa na teoria, mas que na prática pouca coisa mudou. Esse é um dos objetivos desta pesquisa, isto é, resgatar uma linda cultura e colocá-la no lugar que sempre mereceu estar.

A lei 10.639/2003 traz ações básicas acerca da importância da cultura Afro-brasileira. Destacam-se três do Ensino Básico e uma do Ensino Superior.

No Ensino Básico:

a) Assegurar formação inicial e continuada aos professores desse nível de ensino para a incorporação dos conteúdos da cultura afro-brasileira e indígena e o desenvolvimento de uma educação para as relações etnicorraciais;

b) Abordar a temática etnicorracial como conteúdo multidisciplinar e interdisciplinar durante todo o ano letivo, buscando construir projetos pedagógicos que valorizem os saberes comunitários e a oralidade, como instrumentos construtores de processos de aprendizagem.

No Ensino Superior:

- Implementar as orientações do Parecer nº 03/2004 e da Resolução nº 01/2004, no que se refere à inserção da educação das relações etnicorraciais e temáticas que dizem respeito aos afro-brasileiros entre as IES que oferecem cursos de licenciatura.

A Lei 10639, o Parecer do Cne03/2004 e a resolução 01/2004 são instrumentos legais que orientam ampla e claramente as instituições educacionais quanto a suas atribuições. No entanto, considerando que sua adoção ainda não se universalizou nos sistemas de ensino, há o entendimento de que é necessário fortalecer e institucionalizar essas orientações, objetivos desse documento (RADAD, 2009, p. 05).

A lei traz dezenas de ações para que seja instituído, de fato, no Brasil, o estudo da cultura afro-brasileira. Destacam-se essas três principais para justificar

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esta pesquisa. Conhecendo melhor a África, os historiadores estarão mais preparados para ensinar a cultura africana.

Um continente com uma diversidade incrível, com mais de duas mil línguas e dialetos, povo que ama cantar e dançar, não pode ter toda essa riqueza cultural ocultada ou esquecida. O continente e toda essa riqueza cultural são milenares, mas a lei que implementa essa diversidade cultural, infelizmente, é recente.

Figura 16 – Cultura e Sociedade

Fonte: O Polvo, 2008.

Passaram-se cinco séculos e só agora estamos tentando reparar danos e erros que prejudicaram a identidade e direitos de brasileiros negros e pardos. É importante dizer que a história da cultura afro-brasileira e africana não se restringe apenas à população negra, mas sim a todos os brasileiros. Para termos um país democrático, precisamos ter uma sociedade multicultural e pluriétnica.

O que é para ser uma solução para a cultura afro-brasileira, pode se tornar um problema. Já se tem noticias de adolescentes evangélicos, em escolas, negando-se a fazer atividades com temas sobre as religiões africanas. Esses alunos alegam que essas religiões fazem adorações ao demônio, que isso seria tentativas de demonização. Afinal, de quem é a culpa? Esse problema surgiu pela falta de conhecimento e educação. Por isso, é importante que o professor conheça o tema, a complexidade e a abordagem que deve ser feita com seus alunos.

O povo afro-brasileiro, mesmo sofrendo exclusão, segregado em todos os setores da sociedade, é um povo alegre, que samba e canta; sua cultura se faz

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presente todos os dias na vida dos brasileiros, nas roupas coloridas, nos cabelos rastafári, Black Power, trançados; nas comidas, como o acarajé, vatapá, feijoada, entre tantas outras; nas religiões, como o Candomblé e a Umbanda. Nessa assertiva, é uma cultura que precisa ser vista com um olhar diferente.

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5 CONCLUSÃO

É comum escutarmos que o Brasil é uma sociedade complexa, plural, de grande diversidade cultural, mas uma sociedade muita desigual. Precisamos incentivar nossos professores a conhecer a diversidade cultural que a sociedade negra criou. Não adianta só criarmos vagas, cotas para afrodescendentes, precisamos valorizar a história e a cultura desse povo.

Esta pesquisa foi de grande importância, visto que trouxe um estudo mais aprofundado sobre a África Pré-colonial; os grandes reinos de Ghana, Mali e Songhai; suas religiões, como a Umbanda e o Candomblé; danças como a Capoeira que se tornou um símbolo da cultura afro-brasileira. Essa prática trouxe um reforço no aprendizado e um conhecimento que me auxiliará como professor de história, na minha profissão docente.

As pesquisas e observações realizadas mostraram como um continente, que possui uma riqueza cultural, foi ocultado por séculos, devido a preconceitos contra a sociedade negra. A complexidade da África é grande, mas muito bela e valiosa para ficar escondida. A África é um tema que exige conhecimento e preparação do professor em sala de aula. Os temas são muitos, por isso o professor precisa estar sempre atualizado, ou seja, fazer muitas leituras, pesquisas, cursos de atualização.

Esta pesquisa foi dividida em três capítulos. Mesmo assim, foram mais de vinte páginas que me surpreenderam e me deram subsídios para continuar a pesquisar e aprofundar esse tema. Com certeza, depois de formado, farei uma pós-graduação a fim de aprofundar mais o conhecimento acerca do continente Africano. Alguns Reinos da África Pré-colonial têm legados muito importantes para a historiografia, portanto, precisam sair do anonimato e se mostrarem ao mundo.

Esta pesquisa, além de representar uma qualificação, fez-me ter uma nova compreensão da importância de ter, nos currículos escolares, a cultura africana. A temática da África tem um valor cultural e precisa ganhar seu espaço na comunidade escolar para que a exclusão e os preconceitos saiam de cena, dando lugar a uma sociedade plural, tolerante com todas as diferenças.

A lei 10.639/2003 é muito boa, visto que institui o estudo de uma bela cultura. Contudo, é necessário conhecer melhor os povos da África. Este trabalho apresentou a história de um continente que tem muito ainda para mostrar. Talvez eu

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tenha plantado uma semente para que outros colegas também pesquisem acerca dessa temática. A minha intenção foi que este trabalho não seja como muitos que são produzidos por mera obrigação formal e acadêmica. Quero que ele fique na minha estante de livros para que possa usá-lo como uma ferramenta nas minhas aulas de história.

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__________. Mestre Bimba. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Mestre_Bimba>. Acesso em: 13 de maio de 2015. Correção ortográfica.

Profª Me. Eliana Müller de Mello

Mestre em Educação, especialista em Linguística Aplicada, pós-graduada em Metodologia de Ensino, graduada em Letras - Língua Portuguesa e Literatura.

Referências

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