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O AMOR MEDIEVAL NO ROMANCE DE AMADIS

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Academic year: 2021

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O AMOR MEDIEVAL NO ROMANCE DE AMADIS

ÂNGELA MARIA LEITE AIRES- (UEPB)

Durante a Idade Média, perdurou a concepção de que o amor não era a busca do gozo, da satisfação do desejo carnal, mas, sim, um desejo sublimado, transferido para a união indissolúvel de dois corações. Considerando-se que o romance de Amadis centra-se na narração dos amores dele, ora idílicos, ora contrariados, pela bela Oriana, a Sem-Par, mostraremos como o enredo da referida obra dialoga com a ideia do fino, do belo amor medieval.

O Romance de Amadis, narra toda história de um jovem, ele que é fruto dos amores clandestinos de Elisena, filha de Garínter, rei da Bretanha e do rei D. Perion de Gaula, que ao nascer é abandonado no mar. Salvo por cavaleiro chamado Gandales, que o leva e mete-se em fantasias aventurosas, tornando-se um forte cavaleiro, sempre sendo protegido por Urganda. Amadis é escolhido pela rainha para guardar Oriana, a mais linda princesa Sem-Par, filha do rei da Grã Bretanha, desde então Amadis se apaixona pela princesa, dedicando sua vida inteiramente à amada, passando por várias aventuras perigosas, arriscando sua própria vida em nome de seu amor à Oriana. O amor entre os dois vai se firmando, um amor puro, único, embora se torne impossível, um dos motivos a presença de Briolanja na trama, eles vivem uma linda e alucinante historia de amor, que vence todos os obstáculos ao longo do tempo.

A historia acaba, quando o pai de Oriana mal aconselhado para afastar Amadis da amada, decide casar a filha com o Imperador e leva-la para Roma, no entanto o cavaleiro consegue salvar a amada de casar sem querer, porém não se sabe ao certo como tudo terminou, deixa aberto para outras interpretações.

Análise

O enredo clássico do romance de cavalaria consiste na busca da fama e de justiça, empreendida por um cavaleiro, sempre disposto sacrifício para defender além de sua honra cristã, belas damas e aquela que por ele é amada. O Amadis transformou num dos mais celebres romances de circulação da época medieval, por possuir todas as características do cavaleiro heroico aventureiro, dedicado a defender sua amada, enfrentado em nome dela todo

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perigo, mantendo-se sempre fiel e valente perante todos. Exemplo de sua fidelidade dar-se nesta passagem: “Amadis, moço de vinte anos, reconquista o reino e o trono da deserdada niña hermosa. Mas não cede aos desejos da romântica e apaixonada donzela, que ignora a sua lealdade ideal e verdadeiro amor por Oriana”.( VIEIRA, 1984, pg 21)

Nota-se que o personagem atende a ordem da novela de cavalaria, no momento em que ao cuidar da “niña hermosa” como um herói escudeiro, ver sua paixão dela por ele, mas mesmo assim permanece fiel a Oriana, embora que sofra os castigos que a ele é dado, permanece forte, até que seja libertado para voltar para amada, mostrando que o herói, ele pode e deve vencer a tudo que é imposto ao seu redor e que o figura da mulher amada é o que o faz viver ou morrer.

Outros pontos que pode ligar o Amadis as novelas medievistas: além dele ser pleno de ações, ele possuem muitas intrigas que vai sendo interligadas no desenrolar do romance, e essas intrigas tem como intenção principal separar os amantes, sendo que, ha versões diferentes, porém cada uma é criada outras situações, mas com um só objetivo.

O texto de fins do século XIII e princípios do XIV, breve relativamente, em prosa com certeza ingênua e hesitante, foi retocado quanto ao vocabulário e à sintaxe, ao cabo de um século; e por haver agradado muito, seria ampliado em harmonia com os gostos cada vez mais cavalheirescos e aventureiros dos tempos das lanças em África, e com o nobre idealismo da ínclita geração. (VIEIRA, 1984, pg12).

Como toda novela de cavalaria, o final não é definido pelo autor, ele fica aberto para outras versões e interpretações, sem nada falsificar, apenas alterando os feitos dos cavaleiros e seu ideal amoroso, deixando a obra a caráter da época que está sendo reescrita e do trovador que irá reescrever.

O romance de Amadis serve como total exemplo para entendermos a concepção de amor na época medieval, como o trovador idealizava o ser amado, ou seja, a figura feminina, como a impossibilidade dos amantes ficarem juntos era marcante nesta época, tomando como contribuições teóricas os textos de SPINA(1972) e GANDILLAC(1990).

Os trovadores da época medieval tiveram um grande tema de inspiração para suas cantigas: o Amor. Sendo assim, a paixão amorosa passa a ser algum inspiratório para temas mais simbólicos e belos da vida, o principal tema era do ser amado e como ele era idealizado

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pelos trovadores medievais. ...o Amor é fonte perene de toda poesia, e de que o amor é leal, inatingível, sem recompensa (porque a dama é sans merci) decorre todo o formalismo sentimental (SPINA,1972, p.25)

O amor é visto como algum puro, inatingível, divino, cortês, uma submissão absoluta ao ser amado sem outros interesses, promessas de fidelidade eterna a sua dama, idealizando-a como algum provedor de divindades, portadora de coragem, de ideal e de bondade, com isso o ao ama-la, sente-se possuidor do mesmo sentimento que Deus tem sobre suas criaturas, tornando-a única entre todas, sendo que o culto a sua dama, tinha um sentimento de fundo religioso, pois tinha o serviço humilde do cavalheiresco correspondente aos fiéis da virgem Maria.

Amadis demostra todo esse sentimento de vassalagem e fidelidade perante Oriana, idealizando-a, mantendo sempre submisso à amada, de um amor sem igual.

É que toda esta historia que se vos conta, só por amor dela se pôde contar. E, entre todas as Bem-Amadas, nenhuma foi mais bem-amada. Nem Genevra, a quem tanto amou Lançarote do lago; nem Brancaflor, a quem tanto quis Flores, nem a própria rainha Iseu a Loira, por quem morreu Tristão de Leonis, foram mais adoradas que a Oriana. Mas, sobretudo, em nenhum desses amores houve a candura deste e sua graça de mocidade em flor. Senhores, aqui o amor não foi crime ou vergonha; foi o amor de um rapaz por uma menina, e para alcançar por mulher essa princesa é que ele, que não tinha nome, ambicionou ser ilustre (VIEIRA, 1984, pg 64).

Embora todas as personagens importantes citadas no trecho tenham sido amadas, Oriana foi a mais, e responsável por todas as lutas e vitorias de Amadis, assim o fato dele ser visto como um herói fazia com que ele sentisse mais ainda merecedor de seu amor.

Para melhor falar de sentimentos na idade média, trovadores sabiam expressar de maneira singela, todo esse culto à mulher, em forma de poesias, assim como Amadis exclamou todo seu bem querer na canção feita para Oriana, comparadas aos cancioneiros, que em função de cortejar e expressar a sua amada um sentimento tão sublimado como o amor, sem confessar pra quem era direcionada a canção.

Senhor genta, Min tormenta

Voss’amor em guisa tal, Que tormenta

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Que eu senta,

Outra nom m’e nem mal,

Mais la vossa m’e é moral... (VIEIRA, 1984, pg 143)

Da mesma maneira que a canção exalta um amor puro, nobre, eleva também um sentimento que nos faz pulsar, o amor carnal de desejos a ser realizados, porém é bem claro no romance que para o amor puro existir, não necessitava do gozo do desejo carnal, embora o gozo tenha sido realizado, o amor venceu todas as batalhas, inclusive o tempo.

Eis aí vai Amadis gozando, pela vez primeira, este bem sem igual de se achar só com a bem-amada. Ali com ela, tendo-a salvo do horrendo perigo a que a arrastara mal precavida palavra, e conquistando-a agora em batalha, sentia no coração tão bela aventura que esta quase o empedecia de a gozar, tamanha era....( VIEIRA, 1984, pg 97)

Percebe-se que o cavalheiro, embora tivesse de tamanho desejo, não se deixava levar pelo gozo carnal, o sentimento, o amor puro dele por Oriana vai mais além do que seu desejo de tê-la, embora que por eles o gozo carnal não sejam visto como pecado, porque estava se concretizando por cristãos amantes.

Todo esse amor idealizado na idade média, sempre eram amores impossíveis de se concretizar, eram criadas situações pelos próprios amantes, como punição por ter desobedecido a algum ou a alguém ou até mesmo as forças contra a natureza divina, e esta impossibilidade de se unir é que fazia com que o vosso amor se tornasse mais forte.

Em Amadis, o amor deles não se concretizou pelo fato, de ter havido outra personagem no romance Briolanja, com isso Oriana pensa haver traição por parte de Amadis assim criaram uma barreira entre os dois, havendo um mal entendido com isso a separação vem, e com ela todo um sofrimento de desespero de Amadis e desilusão de Oriana

Agora, que vou morrer, ouve a minha última vontade: esta ilha Firme, que eu ganhei, a te a dou pra que a ela tragas por senhores teu pai e mãe. De te me despeço com pena, pois tão leal foste. Mas sabe que já não tenho coração, nem cabeça, nem nada! Tudo perdi ao perder o amor de quem amo. Amigo não me procures, e adeus, que não vos veremos mais! (VIEIRA, 1984, pg106)

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Notamos até onde a impossibilidade deste amor incondicional pode chegar, é preferido morrer por não ter a amada, do que viver sem ela, com isso deixa amostra como um cavaleiro como Amadis, que próprio o idealizava um herói forte, torna-se fraco por não ter ao seu lado a sua amada, mais uma vez a figura da mulher como o centro da vida do cavaleiro, e como ela pode mudar a vida de quem por ela sofra.

O Romance de Amadis é de grande referencia para destacarmos e fazer uma ligação entre os enredos das novelas e romances de cavalaria, e como se dava o amor na época medieval, levando em conta aspectos envolvidos como: a figura da mulher e sua idealização e a impossibilidade de tão puro amor não ser concretizado. Sabendo que este romance analisado, é mais uma das demais interpretações que o romance pode ter, mas sempre com todos essas características aqui citadas.

Referencias Bibliográficas.

GRANDILAC, Maurice. O amor na idade media. In: NOVAES, Adaulto (org). O desejo. São Paulo: Comapnhia das letras. Funarte, 1990.

VIEIRA, Afonso Lopes. Romance de Amadis. Lisboa: Ulmeiro, 1984.

SPINA, Segismundo. Introdução. In: ___________. A lírica trovadoresca: estudo, antologia critica e glossário. 2. Ed. Rio de Janeiro: Grifo, 1972, p. 19-76.

Referências

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