• Nenhum resultado encontrado

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO"

Copied!
285
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

A ORDENAÇÃO DO CLÍTICO “SE” EM COMPLEXOS VERBAIS NAS PRODUÇÕES ESCRITAS DO BRASIL E DE PORTUGAL NOS SÉCULOS XIX E

XX SEGUNDO A PERSPECTIVA SOCIOLINGUÍSTICA

CARLA DA SILVA NUNES

(2)

2

A ORDENAÇÃO DO CLÍTICO “SE” EM COMPLEXOS VERBAIS NAS PRODUÇÕES ESCRITAS DO BRASIL E DE PORTUGAL NOS SÉCULOS XIX E

XX SEGUNDO A PERSPECTIVA SOCIOLINGUÍSTICA

Carla da Silva Nunes

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Orientadora: Profa. Doutora Silvia Rodrigues Vieira

Rio de Janeiro Fevereiro/2014

(3)

3

A ordenação do clítico “se” em complexos verbais nas produções escritas do Brasil e de Portugal nos séculos XIX e XX segundo a perspectiva sociolinguística

Carla da Silva Nunes

Orientador: Silvia Rodrigues Vieira

Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como partes dos requisitos necessários para a obtenção do título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Examinada por:

________________________________________________ Presidente, Profa. Doutora Silvia Rodrigues Vieira

_______________________________________________________ Prof. Doutor Marco Antonio Martins – UFRN

_______________________________________________________ Profa. Doutora Christina Abreu Gomes – UFRJ

_______________________________________________________ Profa. Doutora Maria Eugênia Lammoglia Duarte – UFRJ

________________________________________________________ Profa. Doutora Silvia Figueiredo Brandão – UFRJ

_________________________________________________________ Prof. Doutor Gilson Costa Freire – UFRRJ, Suplente

_________________________________________________________ Profa. Doutora Marcia dos Santos Machado Vieira – UFRJ, Suplente

Rio de Janeiro Fevereiro/2014

(4)

4

NUNES, Carla da Silva.

A ordenação do clítico “se” em complexos verbais nas produções escritas do Brasil e de Portugal nos séculos XIX e XX segundo a perspectiva sociolinguística / Carla da Silva Nunes. Rio de Janeiro: UFRJ/ FL, 2014. xxiv, 285 f.: il.; 31 cm.

Orientadora: Silvia Rodrigues Vieira. Tese (Doutorado) – UFRJ / FL / Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa), 2014. Referências Bibliográficas: f. 281-285.

1. Sociolinguística. 2. Cliticização. 3. Morfossintaxe. 4. Ordem dos pronomes. 5. Variação. I. VIEIRA, Silvia Rodrigues. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). III. A ordenação do clítico “se” em complexos verbais nas produções escritas do Brasil e de Portugal nos séculos XIX e XX segunda a perspectiva sociolinguística.

(5)

5

Agradecimentos

Não poderia começar a seção de agradecimentos sem prestar “meu muito obrigada” aos meus pais Carlos e Lucia, que sempre priorizaram a educação, mesmo quando isso não era tão fácil, e garantiram às filhas toda a educação básica de qualidade. Já na faculdade, o apoio era prestado em auxílio emocional e financeiro para que nada atrapalhasse a minha formação. Hoje, depois desses anos todos, espero que todo o meu esforço chegue a eles como um retorno de tudo o que investiram em mim. Agradeço ao meu marido Luciano, meu professor particular, que ao longo dessa caminhada aprendeu a ser casado com um doutorado, e que acredita que a Carla já esteja de volta. De tanto me ouvir falar do tema da tese, ele nunca mais disse que algo era difícil, mas sim que é “complexo, complexo verbal”. Obrigada a minha irmã Carol e ao meu cunhado Pablo, que me presentearam com meu lindo sobrinho Pedro, para quem não há distinção de títulos. Com seu olhar puro e sorriso inocente, reconhece em mim apenas a titulação de “Tia Carla”, com a função de madrinha, o que é muito bom!

Muito obrigada a minha professora, orientadora e madrinha Silvia Rodrigues Vieira, a primeira a ver em mim alguma possibilidade de ser pesquisadora e a me ensinar o ofício, além de acreditar, também, que eu podia ser professora. Obrigada por esses dez anos de convivência, orientação e amizade.

Agradeço, ainda, à professora doutora Maria Eugênia pela gentileza de fornecer orientações provenientes de sua experiência em pesquisa, além de material bibliográfico para o enriquecimento deste trabalho e por acompanhar a minha trajetória desde o início do mestrado e, agora, no doutorado, novamente como membro da banca. Obrigada aos professores doutores Marco Martins, Christina Abreu e Silvia Brandão por também terem aceitado compor a banca examinadora. Obrigada à professora doutora Maria Antónia Mota pela orientação no período do estágio da bolsa sanduíche em Portugal e à professora Ernestina Carrilho, pela disponibilidade em ceder o tempo de aula da sua turma para a aplicação dos questionários na Universidade de Lisboa. Muito obrigada especialmente ao colega e, agora, professor doutor Leonardo Marcotulio, pela paciência de ter me apresentado os caminhos para se viver em Portugal.

Obrigada ao órgão de fomento CAPES-CNPq por financiar parte da pesquisa de doutorado, especificamente quando da estada no período de estágio da bolsa de doutorado sanduíche em Portugal.

(6)

6

Obrigada aos alunos voluntários da Universidade de Lisboa e da UFRJ pela compreensão em responder aos extensos questionários.

Obrigada aos orientandos dos projetos da sala F-310 pela amizade, especialmente a Juliana Pires pelo grande auxílio na coleta de dados.

Obrigada a todos os familiares, amigos, colegas, diretores e alunos que diretamente ou indiretamente estiveram envolvidos nessa longa jornada, com quem, normalmente, pude contar com a compreensão por minhas raras, mas necessárias ausências.

Meu agradecimento especial a Deus, que me manteve sã em todos os momentos mais difíceis, nos quais a solução aparentemente mais fácil era fugir. Eu não fugi de nada!

(7)

7

RESUMO

A ordenação do clítico “se” em complexos verbais nas produções escritas do Brasil e de Portugal nos séculos XIX e XX segundo a perspectiva sociolinguística.

Carla da Silva Nunes

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Silvia Rodrigues Vieira

Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas, área de concentração Língua Portuguesa, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Língua Portuguesa. Esta pesquisa trata do tema da colocação do clítico “se” em estruturas verbais complexas nas amostras brasileira e europeia. Para tanto, vale-se de corpus da modalidade escrita extraído de editoriais, notícias e anúncios produzidos nos séculos XIX e XX. Com base no aporte teórico-metodológico da sociolinguística laboviana, desenvolve-se o tratamento estatístico dos dados provido pelo pacote de programas Goldvarb-X. Investigam-se, então, as trajetórias dos diferentes tipos de “se”, como ponto de partida para se atestar as possíveis semelhanças e diferenças entre as escritas brasileira e a europeia. Além disso, verifica-se se o comportamento dos dados reflete a existência de uma regra variável em cada uma das variedades. Assim, analisam-se os possíveis condicionamentos linguísticos e extralinguísticos favorecedores das variantes cl V1 V2 (se pode fazer), V1-cl V2 (pode-se fazer), V1 cl V2 (pode se fazer) e V1V2-cl (pode fazer-se).

Observa-se que a modalidade escrita, por vezes, aproxima as normas brasileira e europeia quanto ao fenômeno da ordem, como no contexto de início absoluto de período/oração, em se que recusa a próclise a V1 nas duas amostras, e aos complexos participiais, que não registram qualquer dado de ênclise a V2. Os padrões cultos escritos brasileiro e europeu aproximam-se, especificamente, no caso do indeterminador, nos dois séculos em questão. Por outro lado, o uso do reflexivo parece ser a questão central na diferenciação entre as duas normas estudadas.

Enquanto os brasileiros parecem vincular as suas escolhas aos tipos de “se”, em que o reflexivo tende a figurar adjacente a V2 (inclusive em próclise) e o indeterminador adjacente a V1, os europeus o fazem de forma mais suave e parecem relacionar suas escolhas também à forma do verbo principal e à presença de “proclisador”, especialmente com o indeterminador, mas distante de valores categóricos, de modo que se atesta nesse contexto uma regra efetivamente variável. A atuação do “proclisador” com o reflexivo é branda também no PE, mesmo assim, um pouco mais efetiva do que no PB. Ao final do século XX, as diferenças evidenciam-se ainda mais quando se registra o aumento da próclise a V2 no Brasil. No PE a variante nem sequer é legítima/natural, e por isso, não empregada. Quanto à análise da avaliação das variantes, com base nos questionários, as tendências apontadas podem ser confirmadas.

Palavras-chave: Sociolinguística, cliticização, morfossintaxe, ordem dos pronomes, variação.

Rio de Janeiro Fevereiro/2014

(8)

8

ABSTRACT

The ordering of clitic "se" in verbal complexes in written productions from Brazil and Portugal in the nineteenth and twentieth centuries according to sociolinguistic perspective.

Carla da Silva Nunes

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Silvia Rodrigues Vieira

Abstract da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas, área de concentração Língua Portuguesa, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Língua Portuguesa.

This research presents the theme of the “se” pronominal collocation in verbal complex structures, considering dates of Brazilian and European Portuguese. Accordingly, the investigation uses a written corpus composed by examples collected from journalistic and advertisement texts produced during 19th and 20th centuries. Based on labovian sociolinguistic, the dates have been investigated considering the theoretical and methodological foundations, through a statistic treatment offered by a chain of programs called Goldvarb-X, about the mentioned varieties. It has been analyzed differences and similarities between Brazilian and Portuguese texts through the two types of the “se”. It has been studied if there is a variety rule reflected on the dates. So, it is important to know which linguistic and extralinguistic factors can influence each variant. The search aims to discover what element, in fact, influences the use of which variant of the phenomenon, like: clV1V2 (se pode fazer), V1-cl V2 (pode-se fazer), V1 cl V2 (pode se fazer) e V1 V2-cl (pode fazer-se).

On the one hand it is observed that written modality, sometimes, can aproximate Brazilian and European varieties in the phenomenon analyzed, specifically with indeterminate “se”, in both centuries. On the other hand, reflexive “se” position seems to be the central question between Brazilian and European rules. Brazilian options seem to be associated to different types of “se”, in which reflexive stays around V2 and the indeterminate “se” stays around V1. Otherwise, European options seem to be related to morphossyntactic contexts, in which, specially with indeterminate “se”, cl V1 V2, V1-cl V2, V1 V2-cl depends on the presence or absence of “proclisador”, but far from categorical levels.

With reflexive “se”, “proclisador” acts softly even in PE, but more effectively than occurs in PB, mainly in twentieth century. At the end of the twentieth century, the differences between PB and PE are highlighted even more when it registers the increased proclisis V2 in Brazil, while the PE variant is even legitimate/natural, and therefore not used. Regarding the analysis of the evaluation of variants, based on evaluation questionnaires, trends can be identified confirmed with respect to the Brazilian relate their choices as to what kind of "se" and Europeans prioritize the contexts of "attraction" or not to position different types of "se”.

Key-words: Sociolinguistics, cliticization, morphossyntax, pronominal order, variation.

Rio de Janeiro Fevereiro/2014

(9)

9

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 14

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 21

2.1 Apresentação geral das fontes consultadas ... 21

2.2 Pesquisas diacrônicas ... 23

2.3 Pesquisas sincrônicas ... 52

2.4 Sistematização: a trajetória da ordem dos clíticos segundo os trabalhos apresentados ... 65

2.4.1 O Português dos séculos XVI ao XVIII: O Português Clássico ... 66

2.4.2 O Português dos séculos XIX e XX: O Português do Brasil ... 68

2.4.3 O Português dos séculos XIX e XX: O Português Europeu ... 71

2.4.4 O Português do Brasil e o Português Europeu: uma perspectiva sincrônica ... 73

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: Ordem do clítico “se” em complexos verbais e Teoria da Variação e Mudança ... 79

3.1 Cliticização ... 79

3.1.1 O que é cliticização? ... 79

3.1.2 O clítico “se”: diferentes tipos... 84

3.2 Noção e delimitação de complexo verbal ... 87

3.3 Pressupostos sociolinguísticos ... 93

3.3.1 Noção de regra variável ... 93

3.3.2 Outros pressupostos sociolinguísticos ... 96

4. METODOLOGIA ... 103

4.1 Descrição do corpus ... 103

4.2 Etapas do trabalho ... 104

4.2.1 Descrição das variáveis ... 104

4.2.1.1 Regra variável e colocação pronominal em complexos verbais ... 104

4.2.1.2 A variável dependente ... 108

4.2.1.3 As variáveis independentes ... 110

4.3 Procedimentos adotados no tratamento variacionista dos dados ... 124

(10)

10

5. ANÁLISE DOS DADOS ... 129 5.1 A ordem do clítico “se” em complexos verbais na amostra brasileira ... 130 5.1.1 Distribuição geral dos dados da amostra brasileira ... 130 5.1.1.1 Ordem do clítico “se” na amostra brasileira: início absoluto de período/oração X demais contextos ... 132 5.1.1.2 Distribuição dos dados de “se” na amostra brasileira por tipo de verbo principal: infinitivo X gerúndio X particípio ... 134 5.1.2 Ordem do clítico “se” na amostra brasileira por tipo de verbo principal ... 135 5.1.2.1 Ordem do clítico “se” na amostra brasileira em sentenças com o verbo principal no infinitivo ... 135 5.1.2.1.1 Distribuição dos dados por tipo de “se” na amostra brasileira em sentenças com o verbo principal no infinitivo ... 137 5.1.2.1.2 Distribuição dos dados por tipo de “se” na amostra brasileira em sentenças com o verbo principal no infinitivo por variável independente ... 139 5.1.2.2 Ordem do clítico “se” na amostra brasileira em sentenças com o verbo principal no gerúndio ... 151 5.1.2.2.1 Distribuição dos dados por tipo de “se” na amostra brasileira em sentenças com o verbo principal no gerúndio ... 154 5.1.2.2.2 Distribuição dos dados por tipo de “se” na amostra brasileira em sentenças com o verbo principal no gerúndio por variável independente ... 155 5.1.2.3 Ordem do clítico “se” na amostra brasileira em sentenças com o verbo principal no particípio ... 162 5.1.2.3.1. Distribuição dos dados por tipo de “se” na amostra brasileira em sentenças com o verbo principal no particípio ... 164 5.1.2.3.2 Distribuição dos dados por tipo de “se” na amostra brasileira em sentenças com o verbo principal no particípio por variável independente ... 165 5.1.3 Sistematização dos resultados da colocação do “se” em complexos verbais na amostra brasileira dos séculos XIX e XX ... 170 5.2 A ordem do clítico “se” em complexos verbais na amostra europeia ... 176 5.2.1 Distribuição geral dos dados da amostra europeia ... 176 5.2.1.1 Ordem do clítico “se” na amostra europeia: início absoluto de período/oração X demais contextos ... 180 5.2.1.2 Distribuição dos dados de “se” na amostra europeia por tipo de verbo principal: infinitivo X gerúndio X particípio ... 181

(11)

11

5.2.2 Ordem do clítico “se” na amostra europeia por tipo de verbo principal ... 182 5.2.2.1 Ordem do clítico “se” na amostra europeia em sentenças com o verbo principal no infinitivo ... 182 5.2.2.1.1 Distribuição geral dos dados por tipo de “se”, na amostra europeia em sentenças com o verbo principal no infinitivo ... 184 5.2.2.1.2 Distribuição dos dados por tipo de “se” na amostra europeia em sentenças com o verbo principal no infinitivo por variável independente ... 185 5.2.2.2 Ordem do clítico “se” na amostra europeia em sentenças com o verbo principal no gerúndio ... 198 5.2.2.2.1 Distribuição dos dados por tipo de “se” na amostra europeia em sentenças com o verbo principal no gerúndio ... 200 5.2.2.2.2 Distribuição das dados por tipo de “se” na amostra europeia em sentenças com o verbo principal no gerúndio por variável independente ... 201 5.2.2.3 Ordem do clítico “se” na amostra europeia em sentenças com o verbo principal no particípio ... 207 5.2.2.3.1 Distribuição dos dados por tipo de “se” na amostra europeia em sentenças com o verbo principal no particípio ... 209 5.2.2.3.2 Distribuição dos dados por tipo de “se” na amostra europeia em sentenças com o verbo principal no particípio por variável independente ... 210 5.2.3 Sistematização dos resultados da colocação do “se” em complexos verbais na amostra europeia dos séculos XIX e XX ... 215 5.3 Análise dos questionários ... 221 5.3.1 Análise dos questionários: primeiro teste ... 222 5.3.1.1 Contextos com o “se” em complexos verbais com o verbo principal no infinitivo ... 222 5.3.1.1.1 Contextos com o “se” indeterminador/apassivador em complexos verbais com o verbo principal no infinitivo ... 222 5.3.1.1.2 Contextos com o “se” reflexivo/inerente em complexos verbais com o verbo principal no infinitivo ... 226 5.3.1.1.3 Sistematização do emprego do “se” nas construções com o verbo principal no infinitivo ... 231 5.3.1.2 Contextos com o “se” em sentenças com o verbo principal no gerúndio ... 232

(12)

12

5.3.1.2.1 Contextos com o “se” indeterminador/apassivador em sentenças com o verbo principal no gerúndio ... 232 5.3.1.2.2 Contextos com o “se” reflexivo/inerente em sentenças com o verbo principal no gerúndio ... 234 5.3.1.2.3 Sistematização do emprego do “se” nas construções com o verbo principal no gerúndio ... 235 5.3.1.3 Contextos com o “se” em sentenças com o verbo principal no particípio ... 243 5.3.1.3.1 Contextos com o “se” indeterminador/apassivador em sentenças com o verbo principal no particípio ... 243 5.3.1.3.2 Sistematização do emprego do “se” nas construções com o verbo principal no particípio ... 237 5.3.2 Análise dos questionários: segundo teste ... 238 5.3.2.1 Teste do preenchimento de lacunas com o “se” em sentenças com o verbo principal no infinitivo ... 239 5.3.2.1.1 Teste do preenchimento com o “se” indeterminador/apassivador em sentenças com o verbo principal no infinitivo ... 239 5.3.2.1.2 Teste do preenchimento de lacunas com o “se” reflexivo/inerente em sentenças com o verbo principal no infinitivo ... 241 5.3.2.1.3 Sistematização do emprego do “se” nas construções com o verbo principal no infinitivo: preenchimento de lacunas ... 242 5.3.2.2 Teste do preenchimento de lacunas com o “se” em sentenças com o verbo principal no gerúndio ... 243 5.3.2.2.1 Teste do preenchimento de lacunas com o “se” reflexivo/inerente em sentenças com o verbo principal no gerúndio ... 243 5.3.2.2.2 Sistematização dos resultados do teste do preenchimento de lacunas com o “se” em sentenças com o verbo principal no gerúndio ... 244 5.3.2.3 Teste do preenchimento de lacunas com o “se” em sentenças com o verbo principal no particípio ... 244 5.3.2.3.1 Teste do preenchimento de lacunas com o “se” indeterminador/apassivador em sentenças com o verbo principal no particípio ... 244 5.3.2.3.2 Sistematização dos resultados do teste do preenchimento de lacunas com o “se” em sentenças com o verbo principal no particípio ... 246

(13)

13

5.3.3 Análise dos questionários: terceiro teste ... 246

5.3.3.1 Análise dos contextos produzidos livremente por falantes brasileiros... 246

5.3.3.2 Análise dos contextos produzidos livremente por falantes portugueses ... 248

5.3.3.3 Sistematização dos resultados dos contextos produzidos livremente por brasileiros e portugueses ... 249

6. CONTRASTE ENTRE OS PADRÕES DE COLOCAÇÃO DO “SE” EM COMPLEXOS VERBAIS NAS ESCRITAS BRASILEIRA E EUROPEIA ... 250

6.1 Comparação entre os padrões de colocação do “se” em complexos verbais nas escritas brasileira e europeia... 250

6.1.1 Comparação entre a distribuição do “se” com VP no infinitivo nas amostras brasileira e europeia ... 253

6.1.1.1 A ordem do “se” indeterminador/apassivador com VP no infinitivo nas duas amostras ... 253

6.1.1.2 A ordem do “se” reflexivo/inerente com VP no infinitivo nas duas amostras ... 256

6.1.2 A ordem do “se” indeterminador/apassivador e do reflexivo/inerente com VP no gerúndio nas duas amostras ... 258

6.1.3 A ordem “se” indeterminador/apassivador e reflexivo/inerente com VP no particípio nas duas amostras ... 259

6.2 Comparação entre as respostas aos questionários por parte de brasileiros e portugueses ... 260 7. CONCLUSÃO ... 262 8. ANEXO ... 273 9 BIBLIOGRAFIA ... 281

(14)

14

1. INTRODUÇÃO

A ordem do clítico “se” em estruturas com complexos verbais com base na modalidade escrita da língua portuguesa do Brasil e de Portugal configura o objeto de estudo central desta pesquisa. Para a investigação, utilizaram-se textos dos gêneros editoriais, notícias e anúncios produzidos em jornais nos séculos XIX e XX. Por meio de uma abordagem diacrônica que compreende o referido período, o estudo segue a linha da Teoria da Variação Laboviana (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968, doravante WLH; LABOV, 1972, 1994), ocupando-se de todas as etapas da pesquisa sociolinguística, desde a coleta de dados até a análise estatística e interpretação dos resultados (cf. Metodologia). Adicionalmente, a investigação vale-se de questionários aplicados a brasileiros e portugueses, para aferir a natureza variável do fenômeno, nos dias atuais, consoante a interpretação dos próprios falantes.

As quatro variantes que compõem a variável dependente investigada (a ser posteriormente detalhada) são as seguintes: próclise a V11 (cl V1 V2, ex.: se pode respeitar), ênclise a V1 (V1-cl V2, ex.: pode-se2 respeitar), próclise a V2 (V1 cl V2, ex.: pode se respeitar) e ênclise a V2 (V1 V2-cl, ex.: pode respeitar-se). Por hipótese, a variedade europeia não registraria casos de próclise a V2, já que essa não seria – conforme testemunham os estudos anteriores sobre o tema (cf. Revisão bibliográfica) e as próprias gramáticas descritivas portuguesas (cf. MATEUS et alii, 2003) – pertencente ao Português Europeu. Dessa forma, haveria quatro variantes possíveis na amostra brasileira, enquanto, na europeia, as variantes se reduziriam a três.

Em pesquisa anterior a esta, que resultou na dissertação de mestrado de NUNES (2009), considerando o comportamento de todos os clíticos em estruturas verbais complexas em amostras brasileira e europeia dos séculos XIX e XX, verificou-se, na escrita produzida no Brasil, além de casos de próclise a V2, em crescimento nos textos no decorrer do século XX, o uso das demais variantes, em frequência distinta a depender do período sob análise. No período de transição entre os séculos XIX e XX, registrou-se, por exemplo, um aumento no uso da variante proclítica a V1, o que representaria, conforme proposta de PAGOTTO (1992), uma evidência de reprodução

1 Considera-se V1 o verbo (semi)auxiliar do chamado complexo verbal, que é a construção de dois ou mais verbos com algum nível de dependência sintático-semântica. Utiliza-se a sigla V2 para o verbo principal. O conceito e a delimitação do que é complexo verbal, nesta pesquisa, será apresentado na Fundamentação teórica (Capítulo 3).

2 As questões da possível ambiguidade entre as variantes ênclise a V1 e próclise a V2, bem como a do hífen ligado a V1, serão apresentadas e discutidas na Metodologia (Capítulo 4).

(15)

15

do padrão europeu na escrita brasileira, o qual serviu de modelo para a instituição da norma gramatical brasileira. Sendo assim, parte-se do pressuposto de que o fenômeno pesquisado revela, de forma emblemática, acima de tudo, o comportamento das normas de uso brasileiras e europeias no que se concebe como padrão culto escrito.

Após a observação de diversas pesquisas (cf. Revisão bibliográfica) a respeito da colocação pronominal na língua portuguesa em construções com complexos verbais, avaliou-se que os resultados gerais apresentados não pareciam suficientes para dar conta de toda a descrição linguística do fenômeno, especialmente no que se refere à forma pronominal “se”.

Em nível diacrônico, embora se encontrem variadas investigações da ordem dos clíticos, é preciso salientar que nem todas se dedicaram à colocação em estruturas verbais complexas e nenhuma das investigações consultadas realizou uma análise empírica aprofundada sobre a trajetória percorrida por cada forma pronominal, em separado, o que acaba por fazer crer que os padrões de mudança detectados se aplicariam igualmente ou de forma semelhante a todos os clíticos. A esse respeito, cabe salientar que há trabalhos que nem sequer individualizam a coleta de dados consoante às funções do “se” e as possíveis implicações para a ordem pronominal.

É nesse sentido que a presente pesquisa busca verificar se os padrões de ordem dos clíticos já atestados se manifestam indistintamente também no caso do clítico “se” em suas diversas funções. Dos estudos diacrônicos ou de sincronias passadas tomados como referência (cf. PAGOTTO, 1992; MARTINS, 1994; CYRINO, 1996; LOBO, 2001; SCHEI, 2003; GALVES, BRITO & PAIXÃO DE SOUZA, 2005 – doravante GBPS –; NUNES, 2009, MARTINS, 2009; CASSIMIRO, 2010), pode-se propor que as estruturas com “se”, consoante às funções de apassivador, indeterminador e reflexivo/inerente, podem concretizar opções diferenciadas de colocação; essas opções também acarretam implicações para a aproximação ou o distanciamento entre as normas escritas brasileira e europeia. Resumidamente, os resultados encontrados nas obras supracitadas revelaram que a colocação do “se” na escrita lusitana tendia a figurar primordialmente em função dos condicionamentos morfossintáticos da chamada atração pronominal; de outro lado, notou-se que a ordem do clítico em questão na escrita brasileira parecia estar relacionada também aos condicionamentos morfossintáticos, mas de forma especialmente sensível ao tipo de “se”.

(16)

16

Do ponto de vista sincrônico, pode-se compreender que o processo de mudanças por que a língua portuguesa vem passando ao longo dos séculos resultou em nítidas diferenças no Português do Brasil (PB) e no Português Europeu (PE). Dessa forma, quanto à ordem do “se”, postula-se que essas diferenças sejam verificadas tanto no uso quanto na avaliação/interpretação do falante a respeito das estruturas. Não se tem conhecimento de pesquisas que atestem a interpretação do falante a respeito da colocação do “se” em complexos verbais na língua portuguesa. Dessa forma, o presente estudo, ainda que em uma instância preliminar, propõe-se a discutir, em uma segunda frente de trabalho, as intuições de falantes a respeito do fenômeno analisado, a partir de questionários submetidos a brasileiros e europeus. O objetivo central da realização desse outro tipo de análise é o de avaliar se os falantes ainda reconhecem determinadas posições do clítico “se” em diferentes estruturas como aceitáveis na variedade que praticam. Em outras palavras, investiga-se se o efeito da mudança dos padrões de colocação pronominal teria abalado o próprio estatuto variável da ordem do “se” em complexos verbais.

Em síntese, por meio da observação de dados escritos em editoriais, notícias e anúncios dos séculos XIX e XX, será possível acompanhar, sobretudo, a evolução dos padrões cultos escritos praticados quanto à ordem do clítico “se” em complexos verbais. Além disso, a pesquisa, contemplando a avaliação subjetiva de falantes brasileiros e portugueses quanto a construções alternantes da ordem do clítico “se” nos dias atuais, busca trazer contribuições quanto ao impacto da mudança no reconhecimento de cada construção como natural/aceitável.

Com base na perspectiva diacrônica, cumpre salientar que o questionamento central desta pesquisa, de natureza assumidamente sociolinguística, se relaciona ao fato de se investigar se os textos brasileiros e europeus apresentam a mesma trajetória para cada tipo de “se” em complexos verbais, ao longo dos séculos XIX e XX. Até hoje, permanece evidente que, embora o chamado Português do Brasil e o Português Europeu concretizem na fala vernacular, a naturalmente adquirida, padrões distintos de colocação em geral, a escrita concretiza padrões muito diferentes da fala, o que aproxima e, em algumas construções, até iguala os textos brasileiros e europeus. Desse modo, os resultados apresentados sempre estarão vinculados fundamentalmente ao comportamento da norma em cada subamostra, a dos textos brasileiros e a dos textos europeus, e não ao da gramática vernacular do PB e do PE como um todo.

(17)

17

Sem dúvida, embora não constitua objetivo da pesquisa propor generalizações acerca da mudança gramatical, entendida como alteração paramétrica (cf. CHOMSKY,1995), supõe-se que a evolução do fenômeno quanto aos padrões cultos escritos possa refletir, ainda que timidamente em algumas estruturas, padrões de mudança gramatical. A título de ilustração, supõe-se que a ausência de determinada construção, mediante um número significativo de ocorrências, possa ser, por exemplo, um indício de que não pertença àquela variedade a estrutura em questão. Ocorre que as generalizações acerca do que estaria ocorrendo na gramática vernacular da época, que sempre precisam ser muito cuidadosas, resultam usualmente da soma de resultados de pesquisas em diversos corpora, que contemplem gêneros textuais diversos quanto aos graus de formalidade empregados, bem como quanto à representatividade de variedades linguísticas, mais ou menos cultas/populares.

Assim, as questões da investigação variacionista sobre a colocação pronominal do “se” em complexos verbais podem ser formuladas da seguinte forma:

a) Os textos brasileiros e europeus apresentam uma mesma trajetória para cada tipo de “se” em complexos verbais, ao longo dos séculos XIX e XX?

b) Em que se assemelham e/ou se diferenciam as amostras quanto à colocação pronominal das construções com a forma pronominal “se”?

c) A observação dos dados dos séculos XIX e XX do Português revela, em cada amostra, uma manutenção e/ou alteração do padrão culto escrito consoante cada tipo de “se”?

d) Os padrões detectados nos textos escritos refletem a mudança linguística em direção ao que outros estudos, que se ocupam da variação paramétrica ou da competição de gramáticas, propõem ser o parâmetro brasileiro de colocação pronominal (PB vernacular), diferentemente do que se concebe como parâmetro europeu de colocação?

Se confirmado que os diferentes tipos de “se” apresentam histórias distintas quanto à colocação, interessa averiguar de que maneira isso se dá em cada amostra linguística do português. Se atestada, ainda, a existência da regra variável nas duas amostras, investiga-se qual(is) e de que maneira as variáveis independentes estabelecidas para esta pesquisa podem influenciar na posição do “se” em suas diferentes funções.

(18)

18

Com base na análise dos questionários de avaliação linguística, é necessário identificar se há diferenças significativas na avaliação dos enunciados por parte de brasileiros e portugueses, no que tange à colocação do “se” e, ainda, se o tipo de “se” costuma condicionar determinada posição do clítico. Desse modo, podem-se formular duas questões:

a) Existem diferenças relevantes na aceitação/compreensão de um mesmo enunciado por parte de brasileiros e portugueses, conforme atestam as respostas dos questionários?

b) A função do “se” leva brasileiros e europeus a realizarem, intuitivamente, escolhas distintas nas respostas aos questionários aplicados?

Em relação à formulação das hipóteses gerais para a pesquisa, os estudos anteriores já mencionados observaram que o século XX demonstra ser uma época importante para que se ateste, de forma mais clara, a implementação dos indícios de mudança linguística que se refletem nos padrões da escrita brasileira. Postula-se, com isso, que, nas décadas finais desse século, se tornaria evidente no Brasil um padrão diferente do europeu, ainda que sutil em alguns contextos, por se tratar da modalidade escrita.

A descrição da totalidade dos dados em termos diacrônicos, que apresentará toda a trajetória do fenômeno no período em análise, evidenciaria, de um lado, uma aproximação da escrita brasileira com a europeia, especialmente em fins do século XIX (cf. PAGOTTO, 1998), e, de outro, um forte distanciamento em fins do século XX. A escrita brasileira, na transição de um século para outro, tenderia a reproduzir padrões europeus, como o uso da variante proclítica a V1 ou enclítica a V2. Por outro lado, a amostra brasileira apresentaria padrão distinto do verificado na europeia a partir das primeiras décadas do século XX, especialmente a partir da década de 30, época em que o Modernismo surge no Brasil, tendo como consequência a busca por uma identidade nacional, o que se refletiria na escrita da imprensa. Como resultado, a variante proclítica a V2, ainda tímida na escrita do Brasil no século XIX, tenderia a ser um pouco mais produtiva nos textos brasileiros, enquanto a colocação pronominal em Portugal estaria sempre relacionada a motivações estruturais bem definidas, como, por exemplo, o emprego da variante proclítica a V1 diante da presença de um “proclisador”.

(19)

19

Supõe-se que a diferença de padrão entre a escrita produzida no Brasil e em Portugal apresentaria comportamento particular em função do tipo de “se”. Especialmente quando se tratar do “se” reflexivo/inerente, diferentemente do que ocorre em Portugal, na variedade brasileira tenderia a se adjungir procliticamente a V2, o verbo que lhe confere papel semântico. Já o “se” indeterminador tenderia a se posicionar adjacente a V1 (especialmente quando se tratar de um modal, como no exemplo “deve-se dormir cedo”). Quanto ao ““deve-se” apassivador, a tendência “deve-seria “deve-semelhante ao comportamento do indeterminador. Se as hipóteses se confirmarem, os resultados permitirão propor que a colocação do “se” indeterminador, em vez de evidenciar alguma mudança entre a escrita brasileira e a europeia, demonstraria um comportamento semelhante nas duas variedades e períodos investigados, de modo que a alteração dos padrões de colocação no Brasil e em Portugal (que, nesse caso, refletiriam as mudanças gramaticais gerais, de que o Brasil assumiria a próclise ao verbo principal) só seria observável efetivamente no caso do “se” reflexivo/inerente ligado tematicamente a V2.

Postula-se, ainda, que os resultados da interpretação do falante em relação às estruturas avaliadas nos testes corroborariam a ideia de que o brasileiro teria uma aceitação e uma compreensão de determinadas construções distintas das de um português. A título de ilustração, supõe-se que, ao se deparar com um enunciado do tipo “Deve-se dirigir...” e “Deve dirigir-se ...”, por exemplo, um brasileiro faria distintas interpretações: o primeiro “se”, com função de indeterminador, estaria ligado preferencialmente ao verbo auxiliar, e dirigir teria o sentido de “guiar um carro, por exemplo”, enquanto o segundo “se”, com função reflexiva/inerente, ligado às adjacências do verbo principal, receberia a interpretação de “encaminhar-se a algum lugar”. Assim, imagina-se que a posição do clítico estaria condicionada, fortemente, à função que ele exerce no contexto. Não se cogita que as mesmas leituras diferenciadas ocorram em Portugal que, associando seu padrão de colocação dos clíticos sobretudo aos contextos de “atração” pronominal, atribuiria a cada construção as duas possibilidades de leitura.

Em termos de estruturação do presente texto, a tese subdivide-se em sete capítulos, incluindo-se este primeiro de introdução. O capítulo dois trata da revisão bibliográfica, que se ocupa do levantamento das diversas obras de estudiosos que, de maneira direta ou indireta, retratam algum tema relacionado ao fenômeno da colocação

(20)

20

pronominal na língua portuguesa em lexias verbais simples ou complexas, e, ainda, de algumas descrições em manuais gramaticais. O terceiro capítulo apresenta a fundamentação teórica que norteia os pressupostos relacionados ao tema da investigação e ainda os referentes à Sociolinguística Variacionista. Já o capítulo quatro descreve não só os procedimentos adotados nas etapas da investigação variacionista da tese, que contempla desde a coleta de dados até a tomada de decisões para a codificação e recodificação dos dados, passando pela apresentação das variáveis independentes linguísticas e extralinguísticas estabelecidas para a observação do fenômeno, mas também as medidas adotadas quanto à aplicação dos questionários de avaliação linguística. O quinto capítulo trata da análise dos resultados, além de trazer o debate, sempre que possível, do contraste entre as variedades brasileira e europeia, pelo viés da colocação do “se” em complexos verbais ao longo dos séculos XIX e XX. O capítulo cinco apresenta, ainda, a análise dos questionários dos falantes brasileiros e europeus, a partir do levantamento das suas interpretações a respeito das construções verbais complexas com os diferentes tipos de “se”. Tendo em vista a necessidade de sintetizar os resultados das amostras e apresentá-los comparativamente, apresenta-se o capítulo seis com o contraste entre as análises realizadas, a partir da apreciação comparativa do fenômeno nas duas variedades e período de tempo contemplados. Por fim, cabe ao capítulo sete encerrar a tese com as considerações finais do trabalho.

(21)

21

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Apresentação geral das fontes consultadas

A colocação pronominal é assumidamente um dos fenômenos morfossintáticos que mais marcam a diferença entre o Português do Brasil e o Português Europeu, motivo pelo qual vários trabalhos científicos se ocupam do assunto, cada qual assumindo procedimentos teórico-metodológicos específicos. Alguns tomam por base a colocação pronominal apenas em lexias verbais simples, enquanto outros em complexos verbais, com análises de natureza sincrônica e/ou diacrônica. Quanto aos corpora que costumam servir de objeto para análise, alguns estudos consideram apenas a variedade brasileira do português, enquanto outros consideram a variedade europeia, sem contar os poucos que se ocupam das variedades africanas.

Tendo em vista a extensão dos resultados oferecidos por esses estudos, destacam-se, neste capítulo, as tendências gerais que interessam diretamente à análise da presente pesquisa: a perspectiva diacrônica na observação da colocação pronominal em estruturas com complexos verbais em dados da modalidade escrita, que contemplem tanto a variedade brasileira quanto a variedade europeia do Português. Sempre que possível, será dado destaque à colocação pronominal por tipo de clítico e, mais especificamente, por tipo de “se”, já que esta forma pronominal constitui o foco da presente investigação. Por vezes, recorrer-se-á, ainda, a resultados tangenciais ao tema desta pesquisa, como os apresentados por meio de investigações que analisam a colocação pronominal em lexias verbais simples, sob perspectivas sincrônicas e até mesmo com base em corpus da oralidade.

Em função da oferta de cada trabalho, os resultados por contexto morfossintático de ordenação dos clíticos também ocupam seu espaço de importância, para que se ateste a possível interinfluência da presença ou ausência de elementos “proclisadores”. Além disso, eventualmente pode-se recorrer a diferentes aspectos para ilustrar outros resultados importantes, que se relacionem indiretamente a este estudo. A título de sistematização, segue um quadro de orientação sobre o objeto de cada trabalho estudado:

(22)

22

Quadro 1: Apresentação resumida dos trabalhos utilizados na revisão bibliográfica da tese acerca do tema da colocação pronominal na língua portuguesa

3 Na realidade, trata-se de textos publicados nos séculos XVI e XVII produzidos por europeus residentes no Brasil.

Fontes Estrutura analisada

Abordagem cronológica

Amostra Origem dos dados Pagotto (1992) Lexias verbais simples e complexas Diacrônica (séculos XVI-XX) Brasileira3 Diversos (documentos em geral) Cyrino (1996) Lexias verbais simples e complexas Diacrônica (séculos XVIII-XX)

Brasileira Peças teatrais

Lobo (2001) Lexias verbais simples e complexas Sincrônica (século XIX)

Brasileira Cartas particulares

Vieira (2002) Lexias verbais simples e complexas Sincrônica (século XX) Brasileira, europeia e moçambicana Editoriais, crônicas e notícias Schei (2003) Lexias verbais simples e complexas Sincrônica (fim do século XX) Brasileira e europeia Romances GBPS (2005) Apenas lexias verbais simples Diacrônica (séculos XVI-XIX) Português clássico Romances Carneiro (2005) Lexias verbais simples e complexas Diacrônica (séculos XIX e XX) Português do Brasil Cartas Nunes (2009) Apenas lexias verbais complexas Diacrônica (séculos XIX e XX) Brasileira e europeia Anúncios, editoriais e notícias Martins (2009) Lexias verbais simples e complexas Diacrônica (séculos XIX e XX) Brasileira e europeia Peças teatrais Cassimiro (2010) Apenas lexias verbais complexas Diacrônica (séculos XIX e XX) Brasileira e europeia Romances Rodrigues Coelho (2011) Apenas lexias verbais complexas Sincrônica (fim do século XX)

Brasileira Redações escolares

Vieira, F. (2011) Lexias verbais simples e complexas Sincrônica (fim do século XX)

Europeia Entrevistas do Projeto CORDIAL-SIN Corrêa (2012) Apenas lexias verbais complexas Sincrônica (fim do século XX)

Brasileira Entrevistas do Projeto VARPORT

(23)

23

Com a diversidade de material à disposição acerca do assunto, procede-se à apresentação dos principais pontos de cada obra. Dessa forma, os trabalhos diacrônicos serão apresentados primeiramente, sempre que possível, com o foco nas análises das estruturas verbais complexas. Posteriormente, as pesquisas sincrônicas serão abordadas.

2.2 Pesquisas diacrônicas

PAGOTTO (1992) apresenta a análise variacionista de natureza diacrônica da colocação pronominal, em textos produzidos por europeus recém-chegados ao Brasil a partir do século XVI, tanto em lexias verbais simples quanto em complexos verbais, a que se teve acesso. A fim de representar a ordem dos clíticos e as possíveis influências morfossintáticas exclusivamente em estruturas com dois verbos ou mais, os resultados serão sintetizados aqui a partir dos percentuais obtidos para cada variante tendo em conta as construções sem a presença de “atratores” e aquelas com a presença de “atratores”, o que poderá ser visualizado por meio dos gráficos adiante.

No tratamento das lexias verbais simples, o autor opta por isolar dados de construções gerundivas e infinitivas para análise à parte e, primeiramente, sistematiza os resultados com as construções com tempo finito. Na análise dos complexos verbais, considera separadamente cada construção de acordo com a forma nominal de V2. Pagotto isola os dados em contexto de início absoluto de oração. Assim, alerta que os resultados são sensíveis à posição que a estrutura verbal complexa ocupa na sentença. O autor separou, também, os dados que são precedidos de advérbios ou elementos de negação para análise.

Apresenta-se, a seguir, um gráfico com os resultados da colocação pronominal em contextos sem “atração”, desconsiderando-se os dados de início absoluto de oração.

(24)

24

Gráfico 1. Distribuição dos dados da colocação pronominal no Português em complexos verbais em contexto sem “atrator” segundo PAGOTTO (1992)

Observa-se que, em contextos sem a presença de um elemento considerado “atrator”, a variante cl V1 V2 sofre uma brusca queda a partir de meados do século XIX até desaparecer no início do século XX, na amostra. Enquanto isso, há indícios de que a variante proclítica ao segundo verbo já se mostraria presente a partir do século XVIII, com forte aumento a partir da segunda metade do século XIX, o que se confirma sobre a variedade brasileira em outros estudos, como o de NUNES (2009), a ser apresentado ainda nesta seção.

Outro resultado bastante relevante diz respeito à variante V1 V2-cl, que começou a aparecer no corpus a partir do século XVIII e sofre uma importante queda no primeiro período do século XIX. Após esta fase, a variante ascende até atingir índice próximo aos 60% no início do século XX. Depois do período em questão, sofre uma relevante queda. Ao que parece, com o aumento do uso da variante inovadora, a proclítica ao segundo verbo, após a segunda metade do século XX, as demais variantes tenderam a diminuir significativamente.

Quanto aos contextos com presença de “atrator”, ilustram-se os resultados a partir do seguinte gráfico:

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% sec. XVI a sec. XVI b sec. XVII a sec. XVII b sec. XVIII a sec. XVIII b sec. XIX a sec. XIX b sec. XX a sec. XX b Cl-V1 V2 V1-cl V2 V1 cl-V2 V1 V2-cl

(25)

25

Gráfico 2: Distribuição da colocação pronominal no Português em complexos verbais diante de contexto com elemento “atrator” segundo PAGOTTO (2002)

É interessante observar que, diante da presença de um elemento “atrator”, a diferença expressa na análise diacrônica torna-se ainda mais evidente. A variante pré-CV mantém índices próximos aos 100% até a segunda metade do século XIX. Na transição do século XIX para o século XX, considerada uma época importante para o estabelecimento da norma brasileira (cf. PAGOTTO, 1998, no artigo intitulado “Norma e condescendência: ciência e pureza”), mas ainda com muita influência europeia, há uma oscilação entre os 80% e 90% da colocação proclítica a V1. A partir do início do século XX, registra-se uma queda vertiginosa da variante em questão, mesmo diante da presença de elemento “atrator”.

Nos dados dos séculos XVI a XVIII, o clítico figura prioritariamente na posição proclítica ao verbo auxiliar. No século XIX, permanece a mesma preferência, mas com menor frequência. No entanto, é interessante notar que a variante proclítica a V2 agrega altos índices no século XX, figurando em 67% dos dados. Nenhum caso de ênclise a V1 foi registrado nessa época.

A partir da segunda metade do século XIX, destaca-se o fato de a variante proclítica ao segundo verbo apresentar relevante aumento de seus índices, chegando à marca de 70 pontos percentuais ao final do século XX. Ainda perseguindo explicações para os resultados, Pagotto apresenta dados distribuídos por tipo de “se”, a partir dos seguintes tipos: “se” tema, “se” apassivador, “se” pronominal e “se” indeterminador. O

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% sec. XVI a sec. XVI b sec. XVII a sec. XVII b sec. XVIII a sec. XVIII b sec. XIX a sec. XIX b sec. XX a sec. XX b Cl-V1 V2 V1-cl V2 V1 cl-V2 V1 V2-cl

(26)

26

autor notou certa peculiaridade no clítico “se”, apesar de não ter se aprofundado na questão, mas declarou, a respeito da mudança a partir do século XVIII, que seria o “período em que a turbulência se manifestou na língua”: “Teria ela começado pelos clíticos ‘se’ e ‘me’?” (p.118). Apesar de poucos dados, a análise revela resultados importantes.

Considerando-se o período que compreende os séculos XVI ao XVIII, registraram-se dados categóricos do apassivador e do indeterminador em posição proclítica a V1. Já na função de tema e com o “se” pronominal, os dados da variante proclítica a V1 figuraram em torno de 78%. Houve registro apenas de dois dados em posição de ênclise a V2. É relevante observar que ocorreu um dado da variante em próclise a V2 do clítico “se” pronominal (inerente) na amostra do século XVI a XVIII. Embora se trate de apenas um dado, resultado semelhante foi observado em NUNES (2009) a respeito da colocação pronominal nos séculos XIX e XX. Supõe-se, assim, segundo Pagotto, que “a mudança teria se iniciado com clíticos tematicamente ligados ao verbo, especialmente aqueles extremamente ligados, como é o caso dos clíticos que aparecem nos chamados verbos pronominais” (p. 119). Ainda que em uma amostra pequena, Nunes expõe que os dados de “se” pronominal na fase final do século XX (1975-2000) figuraram categoricamente em próclise a V2, na escrita brasileira.

Outro trabalho diacrônico de suma importância para o conhecimento da ordem dos clíticos pronominais na língua portuguesa é a tese de doutorado desenvolvida por MARTINS (1994), com dados produzidos em textos portugueses, que foram segmentados em dois períodos: do século XIII ao XVI, que conta com documentos não literários (notariais), e do século XVI aos dias atuais, que se vale de documentos literários.

MARTINS (1994, p. 267) relata que, em lexias verbais simples – nas orações não dependentes afirmativas e não introduzidas por quantificadores, advérbios, sintagmas qu- ou focalizadores –, no período que compreende o século XIII ao século XIX, incluindo, então, o que a autora chama de Português Medieval e Clássico, os clíticos podiam antepor-se ou pospor-se ao verbo, excetuando-se os dados de contexto de início absoluto de oração. No Português Europeu atual, o estudo demonstra que o pronome átono necessariamente se pospõe nesses contextos. Como um panorama da trajetória da colocação do clítico ao longo dos séculos, a autora registra que, no século

(27)

27

XIII, havia preferência pela ênclise e, progressivamente, no século XVI, a próclise passa a ser privilegiada nos contextos morfossintáticos supracitados. Em orações subordinadas, os clíticos, assim como no PE atual, eram necessariamente pré-verbais. Entre os séculos XVII e XIX, registra-se, ao contrário, um forte decréscimo da colocação proclítica e, consequente aumento da variante pós-verbal. A evolução destacada apresenta caráter lento e gradual registrado ao longo de séculos de alterações. A única passagem em que se registra uma mudança mais rápida é a referente à transição do século XVI para o XVII. Inicialmente, observa-se a próclise entre 70% e 100% de uso, excetuando-se os contextos de início absoluto de oração e, no século XVII, nota-se um declínio para 30% do seu emprego. Dessa forma, constata-se uma mudança na sintaxe do clítico a partir do século XVII, época em que se verifica, também, a perda da interpolação de constituintes entre clítico e verbo, com exceção do “não”.

Observaram-se, de acordo com MARTINS (1994), várias ocorrências, do século XIII ao XVI, em que clítico e verbo figuram separados por qualquer constituinte a eles interpolado, enquanto, no PE atual, os pronomes átonos ocorrem essencialmente adjacentes à forma verbal. A partir do século XVII, a generalização do fenômeno, comum no período anterior, desaparece e dá lugar, de acordo com a autora, apenas ao termo “não” como possível “interpolador” no PE até os “dias atuais”, e apenas em determinados contextos.

Na seção da tese que trata especificamente do comportamento do clítico em complexos verbais no corpus do século XIII ao XVI, contemplam-se as construções representadas pelos auxiliares (na concepção tradicional das gramáticas de Língua Portuguesa) modais: dever (a/de), poder, haver a/de (no sentido de estar obrigado a), aspectuais: começar a/de, tornar a, soer a/de e temporais ir, vir (a), haver de + infinitivo. Saliente-se, então, que o estudo de Martins (1994) não oferece resultados relativos às formas participiais e gerundivas, já que, segundo adverte, não há variação na colocação dos clíticos e, por isso, a variável tipo de verbo principal não foi considerada.

A autora advoga que normalmente os clíticos se ligam ao verbo auxiliar, e não ao verbo no infinitivo. Apenas quando o auxiliar está elíptico, por ser idêntico ao da oração precedente, o clítico ocorre necessariamente adjacente ao infinitivo. Em situações “normais” de ligação do clítico ao auxiliar, a colocação pronominal mostra-se semelhante à distribuição em lexias verbais simples. A anteposição, então, manifesta-se

(28)

28

obrigatoriamente em orações subordinadas finitas, orações negativas, orações subordinadas finitas introduzidas por certas preposições (pera – séculos XV e XVI –, de, sem), e orações principais afirmativas introduzidas pelo advérbio “asy”. Em orações não-dependentes, o clítico pode antepor-se ou pospor-se ao verbo auxiliar, nas mesmas condições dos contextos previstos para as lexias verbais simples. Dessa forma, a ênclise ao verbo auxiliar é predominante no século XIII. Passa a haver um equilíbrio entre próclise e ênclise no século XIV e, nos séculos XV e XVI, a próclise torna-se dominante.

Registram-se 16 dados de clíticos em ênclise ao verbo auxiliar. Detectam-se os contextos em que figuram tais construções, a saber: (i) quando há preposição dentro do complexo verbal; esta sempre separa o clítico do infinitivo, segundo Martins; (ii) quando há advérbio interveniente; este pode separar o grupo “auxiliar+clítico” do infinitivo; (iii) quando há contração entre os clíticos “o, a(s)” e uma forma verbal terminada em –s ou em vogal nasal, o que gera “uma cliticização fonologicamente visível ao auxiliar” (p.152).

A autora destaca algumas construções de verbo principal precedendo verbo auxiliar encontradas no corpus; trata-se de estruturas em que V1 e V2 estariam em posições inversas, trocadas. Nesses casos, o clítico figura preferencialmente à esquerda dos dois verbos (cl Vp. Vaux.), como demonstra o seguinte exemplo extraído do trabalho (p. 153): em testemonho desto mãdey asy fazer huu strometo A adicta lionor gomez e mais se cõprir o mais firme que se fazer poder e tal auto [NO, 1407]).

O clítico é registrado, também, entre o infinitivo e o Vaux., em dado que suscita dúvida quanto à ligação do clítico: se proclítico ao auxiliar ou enclítico ao infinitivo. Observe-se o exemplo disponível no trabalho em exposição (p. 153): o quall cassall lhe asi emprazou (...) asy e per aquella guyssa que ao dicto moesteiro pertence e de derreito pertencer lhe deue (NO, 1513). Segundo a autora, a ocorrência “e assi conhocer non vos podia (Ogando 1980:269)” (p. 153) romperia com esse questionamento, já que, através dela, se torna evidente a ligação do clítico ao auxiliar. Embora Martins não mencione, pode-se observar, nesse dado, a partícula de negação, típico proclisador, precedendo o átono vos.

Por fim, a autora apresenta a possível cliticização após a forma infinitiva (pelo menos quando este figura em posição habitual – depois do verbo auxiliar), que

(29)

29

configura uma pequena parte do corpus. Registraram-se apenas 5 ocorrências dentre as 106 analisadas, como no seguinte exemplo: o que non for / veervos (Ogando 1980:271). Sintetizando a análise apresentada a respeito das ocorrências de complexos verbais, do período entre os séculos XIII e XVI, observa-se que os clíticos se adjungem preferencialmente a v1, sendo raras as ocorrências de ligação enclítica a v2. Até mesmo quando o infinitivo figura anteposto, verifica-se a cliticização preferencialmente ao verbo auxiliar.

Na seção que trata das mudanças posteriores ao século XVI, a autora não apresenta resultados concernentes a dados de complexos verbais, o que faz supor que tais construções não foram contempladas no período do século XVI ao XX.

Por meio de uma análise que leva em consideração a colocação pronominal em estruturas verbais simples e complexas, CYRINO (1996) apresenta seus resultados diacrônicos em relação a dados de peças teatrais produzidas nos séculos XVIII, XIX e XX. Além da colocação pronominal, a autora observa também o preenchimento do objeto nulo; entretanto, tal análise não será apresentada aqui por não se inserir nos limites desta tese.

Considerando-se os resultados do século XVIII, a autora chama atenção para o fenômeno denominado subida de clítico, ou seja, a possibilidade de um clítico, que é argumento do segundo verbo, “subir” e se cliticizar ao auxiliar, seja em próclise seja em ênclise a ele. Em alguns casos, o clítico pode subir até ultrapassar o limite esperado da ordem dos pronomes e se estabelecer numa posição acima até mesmo da partícula negativa da sentença, interpolado entre um SN sujeito, por exemplo, e a partícula “não” (ex.: João o não pode chamar.). Quanto ao emprego das variantes, a ênclise, tanto a V1 quanto a V2, limita-se aos pronomes “o (s)”, “a(s)” diante de infinitivo.

Constata-se, assim, que, no período entre os séculos XVIII ao XX, se deu a diminuição da ênclise tanto ao verbo principal quanto ao verbo auxiliar e da próclise a V1, ao passo que aumentou o índice da próclise a V2. A autora generaliza que o clítico não seria móvel no século XX, mas fixo ao verbo mais baixo do complexo. Além disso, o clítico tenderia a manter-se à esquerda do verbo principal, mesmo diante de “atratores” precedendo a estrutura verbal complexa. Um dado interessante é o fato de que se encontra a próclise a V2 na 1ª metade do século XIX. A partir desse período, a variante proclítica ao verbo principal, com o passar do tempo, tornou-se a variante

(30)

30

preferencial na escrita de peças teatrais, partindo de zero na primeira metade do século XVIII, chegando ao relevante índice de colocação categórica na segunda metade do século XX, segundo os dados da autora.

Produziu-se um gráfico para a exposição dos dados supracitados de forma mais didática, baseando-se exclusivamente nas informações fornecidas no trabalho da autora, sem os valores absolutos e sem a explicitação das quatro variantes para apresentação dos resultados. Dessa forma, observam-se os índices somente da próclise ao verbo principal no período do século XVIII ao século XX, em contexto sem as partículas “atratoras” (em estrutura matriz) e, posteriormente, outro gráfico com os dados de próclise a V1 e a V2 diante das partículas ditas atrativas. Entende-se por “atrativas” na investigação de Cyrino as partículas de negação, sujeito de tipo quantificador e presença de CP preenchido em que houvesse variação.

Gráfico 3: Distribuição da próclise ao verbo principal no PB, em estrutura matriz sem “atrator” segundo CYRINO (1996)

Observa-se o progressivo aumento da variante proclítica a V2 no PB ao longo dos séculos, conforme tendência apontada em estudos já mencionados nesta tese, ainda que sem a presença de partículas atrativas, fato que leva a crer que, no século XX, o clítico não seria mais móvel, independentemente do contexto morfossintático, mas tenderia a se fixar ao verbo mais baixo do complexo verbal. Na primeira metade do século XVIII, por exemplo, não há indícios de construções como “João queria lhe

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 1ª met. Sec. XVIII 1ª met. Sec. XIX 2ª met. Sec. XIX 1ª met. Sec. XX 2ª met. Sec. XXa 2ª met. Sec. XXb

V1 cl V2

V1 cl V2

(31)

31

falar”. Com o passar do tempo, o pronome proclítico ao verbo principal apresenta forte aumento até o índice de 100% na segunda metade do século XX, fato interessante, já que em outras línguas românicas o mesmo não ocorre, segundo observações de Cyrino.

A título de comparação, segue abaixo o gráfico com os resultados da colocação pronominal em complexos verbais diante de contextos de atração.

Gráfico 4: Distribuição da próclise a V1 e da próclise a V2 diante de contextos sem “atrator” no Português segundo CYRINO (1996)

O gráfico ilustra claramente o uso inversamente proporcional entre a colocação da variante proclítica a V1 e a proclítica a V2, isto é, ao passo que a próclise a V1 foi perdendo força a partir do século XIX, a próclise a V2 assume a posição de variante preferencial. Segundo os dados da pesquisa de Cyrino, estruturas do tipo “estou lhe vendo”, “quero lhe falar” e “tinha lhe escrito” ocorrem em todas as épocas analisadas com exceção da 1ª metade do século XVIII. Por outro lado, construções com ênclise a V1, do tipo “estou-lhe vendo”, “quero-lhe falar” e “tinha-lhe escrito”, ocorrem em todas as épocas com exceção da 2ª metade do século XX. Contudo, não se pode detalhar o que de fato ocorreu em termos numéricos, já que o percentual de ênclise não foi fornecido no trabalho da autora.

O trabalho de LOBO (2001) ocupa-se da análise da colocação de clíticos baseando-se em 158 cartas particulares do recôncavo baiano produzidas no século XIX.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 1ª met. séc. XVIII 1ª met. séc. XIX 2ª met. séc. XIX 1ª met. séc. XX 2ª met. séc. XX a 2ª met. séc. XX b Cl-V1 V2 V1 cl V2

(32)

32

A autora chama atenção para a composição de diferentes subcategorias de corpus, a saber: (i) as variedades do português europeu trazidas para o Brasil; (ii) as variedades do português falado como segunda língua pelos aloglotas; (iii) as variedades do português do Brasil, que se constituía aos poucos e se dividia em variedades cultas (supostamente descendentes do português europeu) e variedades populares (supostamente derivadas das variedades do português adquirido como segunda língua). A constituição dos corpora (i) e (iii) realizou-se mais facilmente por haver, por razões de ordem sociocultural, maior registro de material à disposição para análise.

A tese de Lobo explora estruturas com lexias verbais simples e estruturas complexas com apenas duas formas verbais (estruturas com mais de duas formas verbais não foram computadas para a análise). Antes, ainda, cabe ressaltar que a divisão dos tipos de grupos verbais pela autora se dá da seguinte forma: a) complexos verbais em que o primeiro verbo é um auxiliar temporal, auxiliar modal ou auxiliar aspectual; b) complexos verbais em que o primeiro verbo é um volitivo ou causativo4; c) construções passivas.

Para a análise do fenômeno em cartas produzidas por portugueses, conta-se com 103 dados de clíticos pronominais em complexos verbais, distribuídos por 5 variantes distintas, a saber: cl V1 V2 (ex.: “se devia fazer”); V1-cl V2 (ex.: “Foe-me intregue”); V1 cl V2 (sem marcas gráficas de hífen ou ligação a V1 – ex.: “vamos nos rezignando”); V1 V2-cl (ex.: “veio mostrarme”) e V1 x cl V2 (com algum elemento interveniente na estrutura – ex.: “avia de lha remeter”). A partir dos dados sob análise, tornou-se possível sistematizar os resultados da distribuição dos dados europeus no seguinte gráfico:

4Cabe salientar que, diferentemente de LOBO, ficam de fora desta tese grupos verbais com o primeiro verbo na função de causativo (deixar, fazer, mandar).

(33)

33 0% 20% 40% 60% 80% 100% cl V1 V2 V1-cl V2 V1 cl V2 V1 V2-cl V1 x cl V2

Gráfico 5: Distribuição da colocação pronominal no Português do Brasil em formação no século XIX, em complexos verbais, nas cartas produzidas por portugueses segundo LOBO (2001)

Chama-se atenção para o registro da colocação da variante proclítica a V2 (V1 cl V2 ou V1 x cl V2), considerada inovadora no PB, e já produzida no século XIX, mesmo expressa em poucas ocorrências, totalizando 3 dados (sendo um dado sem elementos intervenientes, do tipo V cl V, e duas ocorrências da variante com algum elemento interveniente no complexo, do tipo V1 x cl V2). Ainda assim, a preferência pela variante pré-complexo verbal (cl V1 V2) é computada na escrita do século XIX do recôncavo bahiano, em quase 62% dos casos, enquanto a variante enclítica a V2 figura como segunda opção, em 26% das ocorrências, seguida da colocação da ênclise ao verbo auxiliar em 11% dos dados do corpus.

A autora analisa o ambiente linguístico da colocação dos clíticos em complexos verbais para atestar as possíveis interinfluências de natureza morfossintática, tomando por base dois grandes grupos pré-identificados: (A) de ordem fixa pré-verbal (aqueles em que se determinaria a próclise categórica) e (B) de ordem fixa pós-verbal (aqueles em que determinaria a ênclise categórica).

No primeiro grupo, consideraram-se as orações não-dependentes que exibem verbo precedido por negação e as orações dependentes finitas. Nos dois casos, a variante 1 (cl V1 V2) figurou em 75% dos dados e a segunda variante mais empregada foi a variante 4 (V1 V2-cl), em torno de 25% das ocorrências.

No contexto pré-identificado como de ordem fixa pós-verbal, tomando-se por base as orações não-dependentes com verbo em posição inicial absoluta, a única variante não registrada foi a variante 1 (cl V1 V2), as demais figuraram em equilíbrio,

(34)

34

ocorrendo em 33% dos dados cada uma. Como a porcentagem é representada por apenas uma ocorrência para cada variante, não se pode afirmar qual seria a opção preferencial no contexto determinado. Considerando-se as orações dependentes não-finitas (como as infinitivas e gerundivas não regidas por preposição), registram-se 75% de ocorrências da variante 2 (V1-cl V2), enquanto as variantes 4 (V1 V2-cl) e 5 (V1 X cl V2) são empregadas equilibradamente em 12,5% dos dados cada.

Portanto, segundo os dados apresentados por Lobo (2001), “enquanto a variante 1 (75,4%) é característica dos contextos que determinavam a colocação categoricamente pré-verbal do clítico, a variante 2 (63,6%) é característica dos contextos que determinavam a colocação categoricamente pós-verbal.” (p.674). Já as variantes 4 e 5 parecem ser de ocorrência livre, tendo em vista sua colocação indistinta tanto em contextos pré-identificados como de colocação categoricamente pré-verbal quanto pós-verbal, enquanto a variante 3 é a menos utilizada no corpus, embora já se mostre presente.

Já nas cartas produzidas por brasileiros, em 146 ocorrências da colocação pronominal em complexos verbais, foram atestadas as 5 variantes na sentença, tal qual já mencionado na ocasião da apresentação da sintaxe portuguesa. Curiosamente, uma construção em que o verbo principal figura antes do verbo auxiliar ocorreu em um dado nas cartas brasileiras, a saber: “Emtregue mefoi ade Vossa Senhoria” FSM, I. Assim sendo, sistematiza-se a distribuição dos dados no seguinte gráfico:

0% 20% 40% 60% 80% 100% cl V1 V2 V1-cl V2 V1 cl V2 V1 V2-cl V1 x cl V2 V2 cl V1

Gráfico 6: Distribuição da colocação pronominal no Português do Brasil em formação no século XIX, em complexos verbais, nas cartas produzidas por portugueses segundo LOBO (2001).

Referências

Documentos relacionados

Nas amostras do PB, por sua vez, foram encontrados dois tipos de estruturas predicativas com esse referente, ambas no masculino, havendo variação apenas quanto ao número, a

Nesta aula falamos sobre as principais formas de utilização de arquivos em Java, desde as estruturas mais simples até estruturas complexas para tratar dados e salvar em

de ocorrências ainda não seja relevante para se pensar em uma competição entre as formas de realização do perfect universal (como ocorre no PB), além da perífrase

Assim, a razão primeira para o foco sobre a ausência de marcas de concordância e o uso não-padrão de estruturas de relativização se deveu ao fato de que esses fenômenos são

Tese de Doutorado (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. Na atualidade, consideramos existir uma

massa foram computados com o modelo Langmuir - sítio simples. O teste F para homogeneidade de variâncias e o teste de médias foram aplicado aos dados dos tempos de retenção da

Assim além da utilização do H−bridge, para permitir o controle do sentido de rotação, tem−se um circuito responsável pelo controle da corrente de armadura. Um exemplo simples

Para ler esta realidade, a tese aciona duas unidades: a trajetória de vida de duas Mestras da Capoeira Angola que fundaram seus grupos independentes – Mestra Elma e Mestra Cristina –; e