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Universidade Federal do Rio de Janeiro

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Academic year: 2021

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A CLITICIZAÇÃO PRONOMINAL EM LEXIAS VERBAIS SIMPLES E EM COMPLEXOS VERBAIS NO PORTUGUÊS EUROPEU ORAL

CONTEMPORÂNEO: UMA INVESTIGAÇÃO SOCIOLINGUÍSTICA

Maria de Fatima Vieira

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A CLITICIZAÇÃO PRONOMINAL EM LEXIAS VERBAIS SIMPLES E EM COMPLEXOS VERBAIS NO PORTUGUÊS EUROPEU ORAL

CONTEMPORÂNEO: UMA INVESTIGAÇÃO SOCIOLINGUÍSTICA

Maria de Fatima Vieira

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira

Rio de Janeiro Fevereiro de 2011

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A CLITICIZAÇÃO PRONOMINAL EM LEXIAS VERBAIS SIMPLES E EM COMPLEXOS VERBAIS NO PORTUGUÊS EUROPEU ORAL

CONTEMPORÂNEO: UMA INVESTIGAÇÃO SOCIOLINGUÍSTICA

Maria de Fatima Vieira

Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Examinada por:

____________________________________________________________________ Presidente, Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira – UFRJ

____________________________________________________________________ Professora Doutora Ângela Marina Bravin dos Santos – UFRRJ

____________________________________________________________________ Professora Doutora Filomena de Oliveira Azevedo Varejão – UFRJ

____________________________________________________________________ Professora Doutora Marcia dos Santos Machado Vieira – UFRJ, Suplente

____________________________________________________________________ Professora Doutora Christina Abreu Gomes – UFRJ, Suplente

Rio de Janeiro Fevereiro de 2011

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VIEIRA, Maria de Fatima.

A cliticização pronominal em lexias verbais simples e em complexos verbais no Português Europeu oral contemporâneo: uma investigação sociolinguística./ Maria de Fatima Vieira. Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2011.

xvi, 168f.:il.; 31cm.

Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira

Dissertação (Mestrado) – UFRJ/ FL/ Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, 2011.

Referências Bibliográficas: f. 164-168.

1. Colocação Pronominal. 2. Sociolinguística. 3. Cliticização. 4. Português Europeu. I. VIEIRA, Silvia Rodrigues. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). III. Título.

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Aos meus pais, Antônio e Alzira, pelo incentivo, paciência e amor.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, quero agradecer a Deus, que tem me concedido muitas graças, como a de poder fazer o mestrado, que é, para mim, uma das graças mais especiais que recebi. Sou a primeira pessoa da minha família a cursar o mestrado. Nunca pensei que isso poderia me acontecer, mas, com a graça de Deus, está acontecendo. Muito obrigada por tudo, Senhor!

Quero agradecer também a Nossa Senhora. Sei que ela me ajudou muito nessa caminhada e vai continuar me ajudando e protegendo-me como sempre fez.

De modo muito especial, quero agradecer a minha avó, Conceição, in memoriam; ela sempre me ensinou que a fé em Deus é fundamental para conseguir realizar os nossos sonhos. Quando eu era criança, sempre conversávamos muito, e ela, mesmo sem ter ido à escola, sempre me disse que estudar é muito importante.

A meus pais, que são os melhores pais do mundo! São as pessoas responsáveis por quem sou hoje. Sempre me incentivaram a estudar e ajudaram-me em tudo o que eu precisava, desde a minha trajetória nas escolas municipais e estaduais até o mestrado. Muito obrigada por tudo e desculpem a falta de tempo para várias coisas. Sempre lhes dizia que não poderia ir a algum lugar ou fazer alguma coisa porque estava estudando, e vocês, sempre compreensivos, entendiam e falavam que “o estudo tem de estar em primeiro lugar”. Mãe, muito obrigada pela força e pelas orações. A senhora sempre me ajudou muito em tudo. Muito obrigada mesmo!

Quero agradecer também ao meu marido, Mauricio, que sempre foi muito paciente e teve muita tranquilidade para me ajudar nessa longa caminhada. São oito anos de crescimento e de muitas conquistas. Desde a escolha no vestibular até a decisão de fazer o mestrado. Sempre me ajudou e me deu muita força para prosseguir os estudos. Companheiro e amigo, sempre compreendia minha falta de tempo e, com seu exemplo, ajudou-me a ter mais calma, paciência e tranquilidade. Muito obrigada por tudo, amor!

Como a minha família é muito grande, não poderei falar de um a um, mas quero agradecer o incentivo, a colaboração e a compreensão de todos. Em especial, quero agradecer a meus irmãos Ana Lúcia, Antônio Carlos, Luiz Roberto e João; a meus cunhados Antônio, Adriano e Junior; e a minhas cunhadas Márcia, Renata, Vera e Damiana.

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Quero agradecer a meus doze sobrinhos: Ana Cláudia, Cristiane, João Vitor, Felipe, Carol, Fernando, Fabiana, Luiz Henrique, Maria Luiza, Gabriel, Emanuelle e Yuri, pela compreensão e pela distração nas horas de lazer nas pracinhas do bairro, nos últimos domingos de todos os meses.

A meu sogro e minha sogra, que sempre me apoiaram na continuação dos estudos. À dona Vitorina, que não sabe muito bem para que vai servir tanto estudo, mas que sempre me apoiou nessa caminhada. Assim como a Aline, que sempre trocou várias ideias comigo sobre vários assuntos de faculdade e de trabalho.

Mesmo sem saber o quanto foram importantes na minha vida, quero agradecer de todo o coração as minhas primas Conceição, Lourdes e Madalena. Elas foram as responsáveis, as pessoas que mais me incentivaram a continuar os estudos e me mostraram como o português e o espanhol são maravilhosos. São as pessoas que me ajudaram a decidir qual caminho seguir na universidade.

A minha tia Conceição, que sempre acreditou em mim, desde quando eu era pequena e me levava e trazia da explicadora. Antes de eu ir à escola, ela já me incentivava. Quando entrei na escola, conversava muito com as minhas professoras e, como a professora falou que eu estava adiantada, ajudou-me a pular uma série. As tias Cecília e Maria também acreditaram em mim e incentivaram-me muito em tudo.

Na faculdade, encontrei várias pessoas que me ajudaram muito; em especial, destaco Natália e Polyana, companheiras de idas e vindas de Campo Grande ao Fundão, sofreram comigo quando o carro enguiçava, o pneu furava, quando a Brasil parava e tínhamos prova às 7:30h, dentre muitas outras aventuras. Patrícia e Antônia também foram essenciais para meu crescimento profissional e ajudaram-me muito, em especial no espanhol V e VI, com a professora Letícia Rebollo. Foram as pessoas que mais me incentivaram a fazer a prova da prefeitura de Angra dos Reis, na qual, graças a Deus, consegui ser aprovada. Ter sido chamada antes de terminar a licenciatura, me fez chorar muito em vários setores da faculdade. Entretanto, com a ajuda de Deus, consegui colar grau na última semana de novembro e tomar posse na primeira de dezembro de 2008.

Quero agradecer a todos os colegas da F-310, como Alessandra, Olívia, Vinícius e, em especial, Maíra e Giselle, que me ajudaram muito nos trabalhos funcionalistas dos cursos de mestrado.

A Daniely, que desde o início da iniciação científica foi a minha companheira de vários congressos e de várias JICs. A pessoa com a qual aprendi muito durante as

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longas viagens pelo Brasil e com quem fui e voltei muito da reitoria para pedir auxílio para podermos viajar.

A Cristina, que veio para a pesquisa e alegrou a todos com o seu jeito de menina e sua responsabilidade de gente grande, que trazia vários textos para ampliar a nossa lista de leituras, que não era pequena. Além disso, é uma pessoa muito importante para mim, pois ajudou-me em vários momentos da graduação e do mestrado, em especial, no curso sobre fonética e fonologia, em que foi a minha “orientadora do semestre”, a pessoa com a qual retirei várias dúvidas e que me ajudou a gravar frases com as portuguesas que estiveram aqui no Brasil em julho de 2010.

A Adriana, que alegrou a todos da pesquisa com o seu jeito sempre bem-humorado de ver as coisas e que faz todos rirem e divertirem-se mesmo nos momentos de muita preocupação. Minha amiga de todas as horas, a pessoa que me ajudou muito a estudar para o mestrado e para o concurso de Angra dos Reis. Amiga com a qual pude contar antes e durante o mestrado e que começou a acreditar que tudo vai dar certo.

Quero agradecer também a todos os professores da prefeitura de Angra dos Reis que me ajudaram e me apoiaram muito no mestrado. Em especial, Sandra e Adonis, com quem conversava muito nas coordenações de quarta-feira, e a diretora Solange, que sempre me incentivou muito a prosseguir e me ajudou em tudo que eu precisava. Muito obrigada por tudo.

De forma muito especial, quero agradecer às professoras da Banca Filomena de Oliveira Azevedo Varejão e Ângela Marina Bravin dos Santos, que gentilmente aceitaram compor a minha banca de mestrado, bem como Marcia dos Santos Machado Vieira e Christina Abreu Gomes, que aceitaram participar como suplentes da banca.

Para que a presente dissertação se concretizasse, a brilhante orientação de Silvia Rodrigues Vieira foi fundamental. Orientadora e amiga que tive o prazer de conhecer e com quem pude pegar muitas caronas do Fundão a Campo Grande. Conheci a Silvia em 2005, no início da minha graduação, e, desde então, comecei a realizar vários trabalhos e a apaixonar-me, cada vez mais, pela língua portuguesa.

Enfim, quero agradecer a todos que rezaram e acreditaram em mim, sabendo que, com a graça de Deus, TUDO VAI DAR CERTO!!!

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"No fim tudo dá certo. Se não deu certo, é porque ainda não chegou ao fim!" (Fernando Sabino)

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SINOPSE

Análise da colocação dos pronomes oblíquos átonos em lexias verbais simples e em complexos verbais. Abordagem sociolinguística variacionista de dados orais do Português Europeu popular coletados no fim do século XX.

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RESUMO

A CLITICIZAÇÃO PRONOMINAL EM LEXIAS VERBAIS SIMPLES E EM COMPLEXOS VERBAIS NO PORTUGUÊS EUROPEU ORAL

CONTEMPORÂNEO: UMA INVESTIGAÇÃO SOCIOLINGUÍSTICA Maria de Fatima Vieira

Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de pós-graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas.

A presente investigação versa sobre a colocação dos pronomes átonos em relação a um e a mais de um constituinte verbal, tendo como foco a modalidade oral do Português Europeu popular a partir de um conjunto de registros do fim do século XX.

De cunho variacionista (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968; LABOV, 1972, 1978, 1994), a atual pesquisa, que busca sistematizar os parâmetros da ordem dos clíticos pronominais (KLAVANS, 1985), determina as variáveis linguísticas e extralinguísticas que se mostram relevantes em contextos com um e mais de um verbo. Para tanto, observa as ocorrências pré-verbal (Não se faz) e pós-verbal (Faz-se), em relação às lexias verbais simples, bem como as variantes pré-complexo verbal (Não se pode fazer), intra-complexo verbal (Pode-se fazer) e pós-complexo verbal (Pode fazer-se), nas estruturas com mais de uma forma verbal.

O estudo conta com dados do Português Europeu extraídos do corpus CORDIAL-SIN, que contém registros orais da fala de informantes não escolarizados do final do século XX coletados de diversas regiões de Portugal. Com o auxílio do instrumental técnico-computacional GOLDVARB-X, analisam-se sociolinguisticamente as ocorrências coletadas no material.

Vale ressaltar que o presente trabalho colabora para a ampliação dos estudos referentes à colocação dos pronomes átonos, já que não só confirma resultados de pesquisas anteriores (Vieira, 2002), como também acrescenta informações a respeito dos padrões de uso do Português Europeu popular, ao determinar o condicionamento linguístico e extralinguístico das estruturas sob análise. Em especial, deve-se destacar o tratamento do tema nas construções com complexos verbais, estruturas que são menos pesquisadas no âmbito da colocação pronominal.

Palavras-chave: Colocação Pronominal, Sociolinguística, Cliticização, Português Europeu.

Rio de Janeiro Fevereiro de 2011

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ABSTRACT

THE PRONOMINAL CLITICIZATION IN RELATION TO SINGLE AND COMPOUND WORD VERBS IN CONTEMPORARY ORAL EUROPEAN

PORTUGUESE: A SOCIOLINGUISTIC RESEARCH Maria de Fatima Vieira

Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira

Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de pós-graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas.

The present investigation concerns about object clitic pronouns positioning in relation to single word verbs and compound ones, keeping its focus on the oral modality of popular European Portuguese, departing from a set of records collected at the end of the twentieth century.

Variational nature (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968, LABOV, 1972, 1978, 1994) of the current research, that searches to systematize the parameters of the clitic pronouns order (KLAVANS, 1985), determines linguistic and extra-linguistic variables that turn out to be relevant in contexts with single or compound verbs. For this purpose, pre-verbal (Não se faz) and post-verbal (Faz-se) occurrences, with single word verbs, are observed, as well as the variants pre-verbal complex (Não se pode fazer), intra-complex verbal (Pode-se fazer) and post-verbal complex (Pode fazer-se), in structures with more than one verbal form.

The study is supplied with European Portuguese data extracted from the corpus CORDIAL-SIN, which contains oral records produced by unschooled informants from several regions of Portugal, by the end of the twentieth century. With the assistance of the techno-computational instrumental program GOLDVARB-X, the occurrences collected from the material are sociolinguistically analysed.

It's worth enhancing that the current work contributes to amplify the studies regarding object pronouns positioning, once it does not only confirm previous results (VIEIRA, 2002), but also aggregates further information respective to the usual pattern of popular European Portuguese, as it determines linguistic and extra-linguistic restrictions of the structures under analysis. Specially, when it comes to complex verbs, which are less researched structures in the sphere of object pronouns positioning.

Keywords: Pronominal order, Sociolinguistic, Cliticization, European Portuguese.

Rio de Janeiro February 2011

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO……….17

2. DIFERENTES ABORDAGENS SOBRE A ORDEM DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS...21

2.1. Abordagem tradicional...21

2.2. Abordagem da gramática descritiva de MATEUS et alii (2003)...23

2.3. Estudos sobre a ordem dos clíticos no Português Europeu...26

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...40

3.1. Cliticização...40

3.2. Teoria da Variação e Mudança...44

4. METODOLOGIA...52

4.1. Descrição do corpus...52

4.2. Etapas da pesquisa...54

4.2.1. Programa utilizado: o Goldvarb-X...54

4.3. Descrição das variáveis...55

4.3.1. Variável dependente...55

4.3.2. Variáveis independentes...61

4.3.2.1. Variáveis extralinguísticas...61

4.3.2.2. Variáveis linguísticas...62

4.4. Tratamento dos dados: procedimentos, recodificações e rodadas no Golvarb-X...82

5. ANÁLISE DOS DADOS...87

5.1. Lexias verbais simples...87

5.1.1. Distribuição geral dos dados pela variável dependente...87

5.1.2. Variáveis relevantes para o fenômeno...89

5.1.3. Sistematização dos resultados das lexias verbais simples...109

5.2. Complexos Verbais...111

5.2.1. Distribuição geral dos dados pela variável dependente...113

5.2.2. Complexos com particípio...115

(14)

5.2.4. Complexos com infinitivo...124

5.2.5. Sistematização dos resultados dos complexos verbais...145

5.2.5.1. Os resultados dos complexos com particípio...146

5.2.5.2. Os resultados dos complexos com gerúndio...147

5.2.5.3. Os resultados dos complexos com infinitivo...147

5.3. Breve tratamento dos dados de interpolação...152

6. CONCLUSÃO...158

(15)

LISTA DE TABELAS, GRÁFICOS E QUADROS

TABELAS:

1.Aplicação da próclise segundo o elemento antecedente ao clítico ...90 2.Aplicação da próclise segundo a forma verbal...98 3.Aplicação da próclise segundo o cruzamento das variáveis “forma verbal” e

“elemento antecedente ao clítico”...100 4.Aplicação da próclise segundo o tipo de oração...103 5.Aplicação da próclise segundo o cruzamento das variáveis “tipo de oração” e “elemento antecedente ao clítico”...104 6.Aplicação da próclise segundo a distância entre o clítico e um elemento antecedente ...106 7.Aplicação da próclise segundo o cruzamento das variáveis “distância entre o clítico e

um elemento antecedente” e “elemento antecedente ao clítico”...107 8.Distribuição da variável dependente de acordo com a forma do verbo principal...114 9.Distribuição das três variantes segundo o elemento antecedente ao clítico –

complexos verbais no infinitivo...125 10.Distribuição das três variantes segundo o tipo de clítico – complexos verbais no infinitivo...130 11.Distribuição das três variantes segundo o tipo de complexo verbal – complexos verbais no infinitivo...135 12.Distribuição das três variantes segundo a presença/ausência de elementos

intervenientes no complexo verbal com infinitivo...139 13.Distribuição das três variantes segundo a forma verbal do verbo auxiliar – complexos verbais no infinitivo...143

GRÁFICOS:

1.Ordem dos clíticos pronominais em lexias verbais simples: início absoluto de oração e/ou período...88 2.Ordem dos clíticos pronominais em lexias verbais simples: demais contextos

...88 3.Aplicação da próclise (peso relativo) segundo o elemento antecedente ao clítico

...89 4.Aplicação da próclise (peso relativo) segundo a forma verbal...98 5.Aplicação da próclise (peso relativo) segundo o tipo de oração...103

(16)

6.Aplicação da próclise (peso relativo) segundo a distância entre o clítico e um

elemento antecedente...106

7.Distribuição dos dados de acordo com a forma do verbo principal...111

8.Distribuição das variantes com o verbo principal no particípio...115

9.Distribuição das variantes com o verbo principal no gerúndio...118

10.Distribuição das variantes com o verbo principal no infinitivo...124

QUADROS: 1.Elementos favorecedores e desfavorecedores da próclise em lexias verbais simples...109

2.Contextos da variante intra-CV em complexos com infinitivo...148

3.Contextos da variante pré-CV em complexos com infinitivo...149

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo o estudo sociolinguístico da colocação dos pronomes oblíquos átonos na modalidade oral do Português Europeu (PE) que se pode identificar como popular. Para tanto, observa-se o comportamento dos clíticos pronominais em entrevistas produzidas no final do século XX por indivíduos não escolarizados. Consideram-se estruturas com um e mais de um constituinte verbal, as quais serão chamadas, doravante, respectivamente, de lexias verbais simples e complexos verbais1.

No que se refere às lexias verbais simples, os dados que serão analisados poderão aparecer em próclise (Não se vive melhor aqui) ou ênclise (Vive-se melhor aqui)2. Em relação aos complexos verbais, os dados poderão ocupar as seguintes posições: pré-complexo verbal (Não se pode viver melhor aqui); intra-complexo verbal (Pode-se viver melhor aqui); e pós-complexo verbal (Pode viver-se melhor aqui).

De cunho variacionista, a investigação inscreve-se no arcabouço teórico-metodológico da Sociolinguística Variacionista, de orientação laboviana (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968; LABOV, 1972, 1994) e na proposta de parâmetros de cliticização (KLAVANS, 1985). A Teoria da Variação e Mudança sugere, dentre seus princípios, que (a) a variação é inerente à língua, sendo, por isso, passível de sistematicidade; (b) a mudança pressupõe variação; e (c) fatores linguísticos e sociais atuam no condicionamento da variação. Tendo por base, em especial, o último princípio – o de que “fatores linguísticos e sociais atuam no condicionamento da variação” –, pretende-se, com o presente trabalho, verificar os elementos condicionadores da ordem dos clíticos pronominais na variedade europeia do Português. Para o desenvolvimento da análise, foram coletados todos os dados de clíticos pronominais em lexias verbais simples e em complexos verbais encontrados em dezesseis localidades do CORDIAL-SIN, corpus Dialetal para o Estudo da Sintaxe do Português Europeu, conforme se descreverá no capítulo referente à metodologia.

1

Nesta análise, conforme se detalhará no desenvolvimento do trabalho, são consideradas todas as estruturas em que há mais de uma forma verbal desde que haja certo grau de integração sintático-semântica e que seja possível a alternância do clítico pronominal, sendo mantido o mesmo conteúdo básico em questão. Sendo assim, são considerados não só os complexos verbais formados por auxiliares de uso mais frequente, como ter, haver, ser e estar (CUNHA & CINTRA, 2001), mas também os chamados semiauxiliares e outros que atendem a poucos requisitos de auxiliaridade (MACHADO VIEIRA, 2004).

2

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Sabe-se que dados do Português Europeu referentes ao tema da colocação pronominal já foram descritos em alguns estudos científicos, os quais consideram, fundamentalmente, ocorrências advindas da modalidade escrita ou oriundas da intuição do pesquisador. Com dados portugueses da oralidade, tem-se notícia do trabalho de Vieira (2002), que trata da ordem dos pronomes no PB e PE oral e escrito, e Catarina Magro (2004), que aborda a colocação dos clíticos pronominais em orações infinitivas no PE. Conforme se detalhará no capítulo referente à revisão bibliográfica, não se tem conhecimento de trabalhos que objetivem descrever o fenômeno investigando todos os contextos morfossintáticos nos quais o clítico pronominal possa aparecer com base em dados coletados na fala de portugueses com baixo nível de escolaridade.

Nesta investigação, que tem por objetivo maior contribuir para o conhecimento das normas objetivas em uso no Português Europeu, a modalidade oral foi a escolhida. Segundo orientação laboviana, os dados orais seriam os mais indicados para o estudo linguístico variacionista, uma vez que apresentariam a maneira como a língua efetivamente está sendo usada, em contexto de maior naturalidade e espontaneidade.

Mira Mateus et alii (2003:849-850) propõem para a variedade europeia, de forma geral, que:

(...) a posição enclítica é o padrão básico, não marcado, e a posição proclítica é induzida por factores de natureza sintáctico-semântica ou prosódica.

Acredita-se que a determinação dos fatores que efetivamente “induzem a posição proclítica”, bem como daqueles que favorecem/desfavorecem cada variante em contexto de complexos verbais precisa estar fundamentada numa descrição das regras objetivas de uso. Deseja-se, portanto, por meio da presente investigação, colaborar para a descrição de uma variedade linguística pouco explorada, em especial no que diz respeito aos estudos sociolinguísticos.

Para investigar a posição preferencial do pronome átono na modalidade oral, busca-se responder a algumas questões referentes ao fenômeno, tais como: (i) que variáveis linguísticas, efetivamente, determinam a colocação dos clíticos pronominais na modalidade oral do Português Europeu popular, nos contextos de lexias verbais simples e de complexos verbais?; (ii) quais são os elementos que funcionam como proclisadores?; (iii) as variáveis extralinguísticas controladas – sexo e localidade dos informantes – interferem na preferência por determinada variante, quanto à ordem dos pronomes oblíquos átonos em complexos verbais?

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Além do objetivo mais geral de expansão do conhecimento acerca da norma de colocação dos clíticos pronominais na modalidade oral do PE, pretende-se, também: (i) descrever, em dados orais contemporâneos, a variante mais produtiva das lexias verbais simples e dos complexos verbais no Português Europeu (próclise ou ênclise / pré-complexo verbal, intra-pré-complexo verbal ou pós-pré-complexo verbal), nos diversos contextos sintáticos, para que se possam estabelecer os parâmetros da cliticização pronominal do Português Europeu oral popular; (ii) identificar as variáveis linguísticas e extralinguísticas que determinam a opção por cada variante estudada; e (iii) verificar os elementos que funcionam, de fato, como elementos favorecedores da próclise, no caso das lexias verbais simples, e da variante pré-CV, no caso dos complexos verbais.

Algumas hipóteses gerais referentes à concretização do fenômeno foram postuladas inicialmente. Supõe-se, por exemplo, quanto à produtividade das variantes, que a ênclise, em relação às lexias verbais simples, seria a opção preferencial dos portugueses, enquanto a próclise só seria utilizada em contextos morfossintáticos específicos, como propõem Mateus et alii (2003); em relação aos complexos verbais, supõe-se que a variante intra-CV seria a mais produtiva, enquanto as variantes pré-CV e pós-CV seriam condicionadas pelo contexto morfossintático em que se inserem. Ademais, os dados revelariam indícios de que o clítico em posição interna ao complexo se apresentaria apoiado na forma verbal auxiliar. No que se refere ao condicionamento do fenômeno, acredita-se que ao menos a natureza do elemento antecedente ao grupo clítico-verbo e o tipo de oração influenciariam na colocação dos pronomes oblíquos átonos nas lexias verbais simples e nos complexos verbais.

Em linhas gerais, a resposta às questões formuladas e o cumprimento dos objetivos propostos permitirá aferir se as descrições normalmente atribuídas ao PE se aproximam do uso verificado em variedades populares.

Em relação à estrutura desta dissertação, todo o estudo é registrado ao longo de sete capítulos, incluindo este introdutório.

No capítulo 2, desenvolve-se a revisão bibliográfica, que faz uma apresentação panorâmica de pesquisas que tratam do tema da colocação pronominal na Língua Portuguesa, especialmente na variedade europeia, no contexto das lexias verbais simples e dos complexos verbais. Assim, expõe-se o que compêndios gramaticais de cunho tradicional e não-tradicional abordam sobre o tema proposto e, além disso, faz-se uma síntese dos principais resultados obtidos em estudos diacrônicos e sincrônicos sobre a

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colocação pronominal em lexias verbais simples e/ou complexos verbais, destacando-se a variedade europeia.

O capítulo 3, responsável pela fundamentação teórica, fornece o embasamento da pesquisa no que se refere aos pressupostos de cliticização e à abordagem da Sociolinguística Variacionista Laboviana que colaboraram para a delimitação do tema e fundamentaram a análise e o tratamento dos dados.

A propósito do quarto capítulo, trata-se das diretrizes metodológicas que orientam a presente investigação, referentes aos seguintes aspectos: a descrição do corpus, mostrando as dificuldades para constituí-lo; a apresentação das etapas de realização da pesquisa, bem como do programa utilizado, o Goldvarb-X; a descrição da variável dependente; e a exposição das variáveis independentes – linguísticas e extralinguísticas. Desse modo, faz-se referência à trajetória percorrida para a coleta dos dados, as etapas de codificação, o tratamento estatístico dos dados e, por fim, expõem-se as medidas adotadas para a interpretação dos resultados.

O quinto capítulo dedica-se à descrição dos resultados alcançados na pesquisa. Para melhor clareza dos resultados, optou-se por segmentá-lo em duas seções, cada uma delas ao final sistematizada: uma que trata especificamente da análise das lexias verbais simples, e outra que aborda a ordem dos clíticos nos complexos verbais. Acrescentou-se, ao final, mais uma seção que trata dos dados de interpolação.

No capítulo 6, apresenta-se a conclusão do presente trabalho, mostrando sistematicamente os resultados quanto à ordem dos clíticos pronominais no Português Europeu, nos contextos de lexias verbais simples e de complexos verbais na modalidade oral. Dessa maneira, além de mostrar os resultados mais relevantes, retomam-se conceitos importantes para a interpretação dos resultados e destacam-se as principais contribuições da presente pesquisa.

A bibliografia utilizada para o desenvolvimento da investigação encontra-se no capítulo 7, último capítulo da dissertação. Há também, nesse capítulo, o site utilizado para consultas e obtenção dos dados analisados no decorrer da presente dissertação.

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2. DIFERENTES ABORDAGENS SOBRE A ORDEM DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS

Neste capítulo, apresenta-se a descrição de diferentes abordagens sobre a ordem dos clíticos pronominais no Português Europeu. Primeiramente, expõe-se o que a tradição gramatical representada em Cunha & Cintra (1985 [2007]) – compêndio escolhido por contemplar não só a variedade brasileira, mas também a europeia – traz sobre a ordem dos pronomes oblíquos átonos; em seguida, apresenta-se a descrição da abordagem do tema na gramática descritiva de MATEUS et alii (2003), que privilegia o que considera a “norma-padrão” do PE (cf. p. 17); e, por último, são resenhados alguns estudos – diacrônicos ou sincrônicos – que contemplam a ordem dos clíticos no Português Europeu.

2.1. Abordagem tradicional

Cunha & Cintra (1985 [2007]), ao tratarem da questão da colocação pronominal na língua portuguesa, tecem explicações a respeito do tema, tendo como base a colocação dos clíticos pronominais em lexias verbais simples. De acordo com os autores, o pronome pode estar depois do verbo, ou seja, enclítico (Disse-me); antes do verbo, isto é, proclítico (Não me disse); ou no meio do verbo, com as formas do futuro do presente ou futuro do pretérito, sendo considerado mesoclítico (me-ei / Dizer-me-ia). Em seguida, os gramáticos apresentam os contextos morfossintáticos que atraem ou não os pronomes átonos, concretizando-se, assim, cada uma das variantes supracitadas em contextos com apenas um verbo e com mais de um verbo.

Os autores destacam – desconsiderando o que seria o padrão de uso vernacular do PB, por exemplo – que a posição enclítica é a opção normal e lógica, tendo em vista que os pronomes átonos têm como função ser objeto direto ou indireto do verbo. No entanto, ressaltam que há contextos em que é obrigatória a posição proclítica, uma vez que há a presença de um elemento antecedente ao verbo considerado como “atrator” dos clíticos.3

Em relação às formas finitas do verbo, salientam que há a preferência pela posição proclítica nos seguintes contextos:

3 Vale destacar que, na presente pesquisa, esses elementos serão considerados como elementos

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(a) Sentenças negativas (não, nunca, jamais, ninguém, nada etc.) quando não há pausa entre a palavra negativa e o verbo. Ex.: Nunca a vi tão magra!

(b) Orações interrogativas. Ex.: Quem me perguntou isso? (c) Orações exclamativas e optativas. Ex.: Que Deus te abençoe!

(d) Orações subordinadas desenvolvidas, mesmo se a conjunção não estiver explícita. Ex.: Espero que me veja aqui.

(e) Construções com certos tipos de advérbios (bem, mal, ainda, já, sempre, só, talvez etc.). Ex.: Aqui se estuda muito.

(f) Quando a oração, em ordem inversa, se inicia por objeto direto ou predicativo. Ex.: A boa notícia te dou agora.

(g) Pronomes indefinidos (todo, tudo, alguém, outro, qualquer etc.) e numeral ambos. Ex.: Todos os turistas se perderam.

(h) Orações alternativas. Ex.: Das duas uma: ou os levo, ou os deixo em casa.

Os gramáticos destacam que, se houver uma pausa entre um elemento proclisador e o verbo, pode ocorrer a ênclise (Pouco depois, beijavam-se de novo). Ressaltam também que é comum, principalmente com os escritores portugueses, inserir uma ou mais palavras entre o clítico pronominal em posição proclítica e o verbo, sendo mais comum a intercalação da negativa não (Faz muito tempo que o não abraçava!).

No que tange aos contextos com mais de um verbo, considerado no presente trabalho como complexos verbais, verifica-se que há possíveis colocações de acordo com as formas nominais do verbo (com poucas particularidades). Em relação às formas nominais, os estudiosos sugerem que a posição proclítica é a preferida em caso de gerúndio regido de preposição em. Com infinitivos, pode ocorrer tanto a posição proclítica, como a enclítica. Entretanto, ressaltam que ocorre, em geral, mais a ênclise, em especial quando o infinitivo é regido pela preposição a. Com o particípio, não ocorre nem a posição proclítica, nem a enclítica; segundo Cunha & Cintra (1985 [2007]), usa-se usa-sempre a forma oblíqua regida de preposição, quando o particípio não vem acompanhado de auxiliar.

Cunha & Cintra afirmam que, em relação às locuções verbais, quando o verbo principal estiver no infinitivo ou no gerúndio, pode ocorrer a posição enclítica (Veio levar-me / Ia levando-me). Advertem, ainda, que essa posição não pode ser realizada quando o verbo principal estiver no particípio. Dessa forma, o clítico pode estar proclítico ou enclítico ao verbo principal (Não se tinha dito isso / Tinha-se dito isso).

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No que tange à colocação proclítica ao verbo auxiliar, os gramáticos apresentam os mesmos contextos dessa variante apresentados nos casos com apenas um elemento verbal. São eles:

(a) Sentenças negativas (não, nunca, jamais, ninguém, nada etc.) quando não há pausa entre a palavra negativa e a locução verbal. Ex.: Ninguém o havia de levar.

(b) Orações interrogativas. Ex.: Em que lhe posso ajudar?

(c) Orações exclamativas e optativas. Ex.: Como se vinha trabalhando muito bem!

(d) Orações subordinadas desenvolvidas, mesmo se a conjunção não estiver explícita. Ex.: O presente que me vai dar será muito útil.

Vale ressaltar que a ênclise ao verbo auxiliar ocorrerá quando não houver um contexto favorecedor da variante proclítica ao verbo auxiliar.4

2.2. Abordagem da gramática descritiva de MATEUS et alii (2003)

Apresenta-se, nesta subseção, o que Mateus et alii propõem sobre a colocação dos clíticos pronominais na Língua Portuguesa, em sua gramática intitulada Gramática da Língua Portuguesa (2003). O principal objetivo das autoras é descrever as estruturas que fazem parte do padrão culto de uso, ou seja, as autoras, em sua obra, fazem a descrição da norma-padrão do Português Europeu.

Mateus et alii (2003), na seção referente à colocação dos clíticos pronominais, estabelecem que os pronomes átonos dependem de um hospedeiro verbal, que pode estar na forma finita ou não-finita. Dessa forma, o clítico pode ficar na posição adjacente à esquerda – proclítico – ou à direita – enclítico – desse hospedeiro verbal.

Em relação aos casos em que há a “posição inicial absoluta de frase”, as pesquisadoras afirmam que a variante proclítica não pode ocorrer, fazendo com que os pronomes átonos apareçam pospostos ao verbo (Dá-me um café?). Além disso, elas destacam que “a posição enclítica é o padrão básico, não-marcado, e que a posição proclítica é induzida por fatores de natureza sintáctico-semântica ou prosódica” (849-850). Sendo assim, a ênclise é o padrão de colocação básico e

4 Na presente pesquisa, essa variante será chamada de intra-complexo verbal, uma vez que o clítico se

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a distribuição da ênclise e da próclise na variedade europeia padrão pode, então, ser captada pela seguinte generalização: na ausência de atractores de próclise que c-comandem e precedam o clítico no mesmo sintagma entoacional, a ênclise é o padrão que se obtém. (853)

A obra destaca os contextos que são favorecedores da variante proclítica no Português Europeu, a saber:

(a) Operadores de negação frásicos e sintagmas negativos. Ex.: Ele nunca me chamou.

(b) Sintagmas-Q interrogativos, relativos e exclamativos. Ex.: Quem te entregou isso?

(c) Complementadores. Ex.: Sei que ele a levou ontem.

(d) Advérbios de focalização, de referência predicativa, confirmativos, de atitude proposicional e aspectuais. Ex.: Só ela o viu.

(e) Alguns quantificadores como: todos, ambos, qualquer, alguém, algo, bastantes, poucos etc.. Ex.: Qualquer pessoa te ajuda com isso.

(f) Conectores de coordenação do tipo correlativa com um elemento de polaridade negativa (não só... mas/ como também, nem...nem) e correlativas disjuntivas (ou...ou, ora...ora, quer...quer, seja...seja). Ex.: Ou você lhe dá o livro, ou ele se vai.

(g) Constituintes ligados discursivamente em construções apresentativas. Ex.: Aqui se ensina bem.

No que diz respeito às construções com mais de uma forma verbal, a gramática de Mateus et alii ressalta os contextos em que ocorre o fenômeno da subida de clítico, o que é de extrema importância para o estudo da colocação dos clíticos pronominais em complexos verbais. Tal fenômeno baseia-se no fato de o pronome átono selecionar um verbo como seu hospedeiro, mas o clítico pronominal não ser dependente do verbo selecionado, como pode ser observado no exemplo de Mateus et alii (2003:857): O João não a pode certamente convidar.

De acordo com Mateus et alii, no Português Europeu, quando o verbo principal está no particípio ou no gerúndio, o clítico aparece obrigatoriamente proclítico (caso haja elemento “atrator” do pronome) ou enclítico ao verbo auxiliar5 (Ele tinha-a

5 Segundo as autoras, há quatro critérios de auxiliaridade. Os verbos que respondem a todos os critérios

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chamado para a festa). Nas construções com verbos semiauxiliares do tipo aspectual que selecionam infinitivos preposicionados, na presença de um elemento proclisador, há o favorecimento da subida do clítico com as preposições a e de (Ele não lhe começou a dizer a verdade), mas, com a preposição por, isso não ocorre (ele acabou por se esquecer do casamento).

Quando não há a presença de “atrator” de próclise, e a preposição é a, dá-se a posição enclítica ao verbo auxiliar ou ao verbo principal (Ele começou-lhe a dizer a verdade / Ele começou a dizer-lhe a verdade). Com as preposições de e por, ocorre obrigatoriamente a posição proclítica ao verbo principal (Ele deixou de lhe dizer a verdade). Com os semiauxiliares que selecionam complementos não preposicionados, admite-se a subida de clítico ou a posição enclítica ao verbo principal (O João não a pode certamente convidar ou O João não pode certamente convidá-la).

Há, segundo as estudiosas, outro caso obrigatório de subida de clítico: em construções com verbos causativos e perceptivos, isto é, quando o sujeito do complemento do verbo no infinitivo é legitimado pelo verbo auxiliar. Sendo assim, aceitam-se as orações do tipo: Ele não os viu entregar o livro / Ele não os viu entregá-lo, mas não *Ele não viu entregá-los o convite. Tais estruturas estabelecem a subida de clítico.

Dessa forma, cabe ressaltar que, com as formas de particípio e gerúndio, não poderia ocorrer a variante enclítica ao verbo principal – chamada, no presente trabalho, de pós-complexo verbal. Segundo Mira Mateus et alii (2003:860), com essas formas, ocorre obrigatoriamente a Subida de Clítico, ou seja, o pronome não pode estar depois de gerúndio e particípio em complexos verbais:

O fenómeno da Subida de Clítico é determinado pela defectividade funcional do domínio frásico encaixado: quanto maior for tal defectividade, tanto menor será a autonomia sintáctica do domínio encaixado e, portanto, tanto menor será a possibilidade de legitimação de pronomes clíticos no interior desse domínio. Os complementos participiais e gerundivos de verbos auxiliares e os complementos infinitivos na construção de União de Orações representam os casos extremos de defectividade funcional, com

Subida de Clítico obrigatória para todos os pronomes clíticos.

(grifo nosso)

Verifica-se que a subida de clítico pode ser um fenômeno obrigatório ou ser motivado pelo contexto. De qualquer forma, na presença de elementos atratores de

andar, estar, ficar, ir e vir + gerúndio – aspectuais – e ser + particípio – passiva). Os verbos que não

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próclise, é aceita a subida de clítico com semiauxiliares aspectuais com o verbo principal no infinitivo preposicionado, levando em consideração as preposições a e de, e com semiauxiliares em que seus complementos não são preposicionados. No entanto, a subida de clítico com os verbos causativos e sensitivos é obrigatória.

Embora a descrição proposta em Mateus et alii (2003) ora sintetizada tome como variedade da língua o que se identificou como “norma-padrão do português europeu” (p. 17), as tendências apontadas na obra serão, em alguns pontos específicos, comparadas a resultados da presente investigação. Desse modo, pode-se avaliar a proximidade ou a distância dessas tendências em relação ao português praticado por indivíduos não escolarizados, identificados no presente trabalho como usuários das normas populares do Português Europeu.

2.3. Estudos sobre a ordem dos clíticos no Português Europeu

Sintetizam-se, nesta seção, os resultados oriundos de alguns estudos – expostos em ordem cronológica de publicação – que tratam do tema da colocação dos pronomes oblíquos átonos em lexias verbais simples e em complexos verbais. Foram selecionados trabalhos sincrônicos e diacrônicos que oferecem contribuição descritiva e/ou explicativa sobre o Português Europeu. Apesar de o presente trabalho se valer de amostra de um período específico da língua, justifica-se a apresentação também dos trabalhos diacrônicos em função de eles terem sido importantes não só para a formulação de algumas hipóteses da investigação, mas também para o conhecimento geral do tema na variedade europeia, já que ele é objeto de poucos trabalhos de perfil variacionista.

Lobo (1992), em sua dissertação de mestrado denominada A colocação dos clíticos em Português: duas sincronias em confronto, investiga a colocação dos pronomes átonos na norma culta do Português Quinhentista, comparando-o com o Português Brasileiro contemporâneo. Além do mais, compara este último com o Português Europeu atual, tendo como base trabalhos de outros pesquisadores.

Para tanto, a autora utiliza como corpus, para analisar a ordem no Português Quinhentista, documentos da corte de Dom João III e, para o Português Brasileiro, inquéritos disponibilizados pelo Projeto NURC. Em relação à metodologia utilizada, a pesquisadora vale-se do arcabouço teórico metodológico da Sociolinguística

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Quantitativa Laboviana, verificando as possíveis motivações para as variantes encontradas.

De forma geral, o estudo mostra a colocação pronominal no português contemporâneo e faz uma breve comparação entre o Português do Brasil e o Português Europeu. No que tange ao Português Europeu, a autora faz um resumo das descrições apresentadas em Mateus et alii (1989), Salvi (1990) e Martins (1992), e destaca que, em orações principais ou absolutas em que o verbo está em posição inicial, ocorre apenas a variante pós-verbal. Já nos contextos em que os clíticos não estão em posição inicial:

(i) Com a presença de elemento antecedente ao verbo sendo um Sadv de negação, há a preferência pela colocação pré-verbal.

(ii) Quando o verbo é precedido por SN sujeito nominal ou pronome pessoal, há a colocação pós-verbal.

(iii) Com sintagmas adverbiais circunstanciais que possuem uma estreita relação com o verbo, há a anteposição do clítico. Já com os demais sintagmas adverbiais e preposicionais circunstanciais, a colocação do clítico é variável. (iv) Quando o verbo está precedido por uma oração subordinada, a colocação do

clítico é pós-verbal.

Em relação às orações coordenadas, predomina a ocorrência da colocação pós-verbal. O mesmo ocorre com as orações subordinadas reduzidas de infinitivo, quando não é regida de preposição; quando é, a posição é variável. Nas reduzidas de gerúndio não regidas por preposição há a colocação pós-verbal.

Para finalizar, a autora destaca que:

O Português Europeu contemporâneo conserva um sistema de colocação dos clíticos que se define a partir dos condicionamentos sintáticos. Já no Português do Brasil, esses condicionamentos sintáticos praticamente desapareceram, em função do uso generalizado da colocação pré-verbal. (LOBO 1992:228)

Martins (1994) analisa a ordem dos clíticos pronominais em dois períodos: (i) do século XIII ao XVI – com base na descrição de documentos não literários (notariais) – e (ii) do século XVI aos dias atuais – com base na descrição de documentos literários. Tal investigação deu origem a sua tese de doutorado intitulada Clíticos na história do Português, que postula, fundamentando-se na teoria de princípios e parâmetros em sua versão minimalista, que a mudança na ordem dos clíticos pronominais nas línguas românicas está relacionada à natureza categorial funcional Sigma.

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A pesquisadora faz uma detalhada descrição do comportamento linguístico verificado nos dois períodos. Em relação às lexias verbais simples, mostra que há a preferência pela colocação pós-verbal no século XIII, mas que ocorre uma mudança, lenta e gradual, fazendo com que, no século XVI, ocorra, preferencialmente, a posição pré-verbal. A autora ressalta que, após o século XVI, a posição pré-verbal sofre um forte declínio em relação a sua ocorrência, fazendo com que a variante pós-verbal se tornasse mais produtiva nos séculos XVII e XVIII. Dessa forma, pode-se verificar o fenômeno de mudança sintática em relação à colocação dos clíticos pronominais a partir do século XVII.

No que diz respeito ao fenômeno de interpolação, a estudiosa mostra que havia ocorrências de elementos posicionados entre o clítico e o verbo durante os séculos XIII ao XVI. No entanto, houve uma baixa na realização de tal fenômeno a partir do século XVII, verificando-se apenas a interposição da partícula não. A autora ressalta que, no Português Europeu atual, os pronomes ocorrem, em geral, adjacentes ao verbo, mas ainda há alguns dados com a partícula não interpolada em determinados contextos.

Em relação aos complexos verbais com verbo principal no infinitivo (tendo em vista que a autora não abordou as estruturas em que havia gerúndio e particípio como verbo principal), Martins verifica que, do século XIII ao XVI, os pronomes, em geral, se ligam ao verbo auxiliar, não ao verbo principal no infinitivo. Vale ressaltar que, somente quando o auxiliar está elíptico, o clítico, necessariamente, ocorre adjacente ao infinitivo. Acredita-se que os complexos verbais não foram analisados no período do século XVI ao XX, uma vez que Martins (1994) não apresenta nenhuma consideração em relação a tais estruturas durante esse período de tempo.

Destaca-se que, em geral, a colocação do pronome em relação ao verbo auxiliar se mostra semelhante à ordem em lexias verbais simples. Assim, a anteposição ocorre em orações subordinadas finitas, orações com partículas negativas, orações subordinadas finitas introduzidas por determinadas preposições e em orações principais afirmativas introduzidas pelo advérbio asy. Em orações não-dependentes, o pronome pode aparecer anteposto ou posposto ao verbo auxiliar, nos mesmos contextos observados em lexias verbais simples.

Martins ressalta que havia o predomínio da colocação enclítica ao verbo auxiliar no século XIII, passando, no século XIV, por um equilíbrio distribucional entre as posições enclítica e proclítica. Já nos séculos XV e XVI, há a preferência pela posição proclítica.

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Segundo a autora, os dados em que há a variante enclítica ao verbo auxiliar ocorre quando o complexo verbal apresenta preposição e advérbios intervenientes – separando o clítico do infinitivo – ou quando há a contração entre os pronomes acusativos o(s), a(s) e uma forma verbal terminada em –s ou por vogal nasal, mostrando que “a cliticização ao auxiliar é fonologicamente visível” (MARTINS, 1994: 152).

A autora ressalta que há algumas estruturas em que o verbo principal precede o verbo auxiliar. Sendo assim, nessas construções, o v1 e v2 estariam em posições inversas e o pronome átono figuraria, preferencialmente, à esquerda dos dois verbos (cl Vp. Vaux.).

Em relação à ordem do clítico pronominal enclítico ao infinitivo, quando esta forma verbal está depois do verbo auxiliar, Martins destaca que este tipo de cliticização (v1 v2-cl) ocorreu em apenas 5 dados dentre os 106 analisados.

Verifica-se, assim, que o estudo de Martins (1994) mostra que, no que diz respeito aos complexos verbais analisados durante os séculos XIII e XVI, a opção preferencial dos pronomes átonos é a adjacente a v1, sendo pouco produtiva a ligação a v2. Mesmo nos casos em que o infinitivo está anteposto, observou-se que a cliticização ao verbo auxiliar foi mais produtiva.

Em sua tese de doutoramento intitulada Colocação pronominal nas variedades europeia, brasileira e moçambicana: para a definição da natureza do clítico em português, Vieira (2002) mostra os resultados comparativos da ordem dos clíticos pronominais entre as três variedades supracitadas, com base nos dados das modalidades oral e escrita do Português no século XX. A autora mostrou os condicionamentos linguísticos e sociais referentes às lexias verbais simples e aos complexos verbais, além de realizar a análise da colocação dos clíticos com base prosódica.

Com o objetivo de estabelecer os condicionamentos linguísticos e extralinguísticos que determinam os parâmetros de colocação dos clíticos pronominais, Vieira (2002) baseia-se no arcabouço teórico metodológico da Sociolinguística Variacionista Laboviana. A análise dos dados pela base acústica permitiu verificar a relevância dos parâmetros prosódicos na ordem dos pronomes átonos; para tanto, a autora utilizou o programa CLS (Computerized Speech Lab), valendo-se de dois procedimentos metodológicos: medição dos parâmetros acústicos de acento e síntese de fala associada a testes de percepção auditiva.

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Vale ressaltar que a análise realizada conta com um conjunto de 5.196 ocorrências de clíticos pronominais, sendo 4.167 no contexto de lexias verbais simples e 1.029 em complexos verbais. Como ao presente trabalho interessa o estudo da variedade europeia, busca-se destacar, aqui, o que a autora ressalta em relação a essa variedade do português.

A título de curiosidade, salienta-se que o corpus utilizado para a modalidade oral do Português Moçambicano é o do Projeto “Panorama do Português Oral de Maputo” (PPOM), considerado como os únicos dados de língua oral de Moçambique disponíveis para estudo. Para o Português do Brasil foram utilizadas as entrevistas coletadas de três Projetos de Pesquisa: o Projeto NURC/Rio (Norma Linguística Urbana Culta do Rio de Janeiro), o Projeto PEUL (Programa de Estudos do Uso da Linguagem) e o Projeto APERJ (Atlas Etnolinguístico dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro).

Em relação aos resultados do Português moçambicano, em contextos de lexias verbais simples, realiza, em geral, a posição enclítica, mesmo em contextos em que se esperaria a realização da posição pré-verbal. Em complexos verbais, usa-se, preferencialmente, a colocação intra-complexo verbal. Já o Português do Brasil apresenta um comportamento bem diferente em cada modalidade: em lexias verbais simples, na modalidade oral, a próclise é o que prevalece de modo generalizado, independentemente da presença de um possível elemento proclisador; na modalidade escrita, a posição pós-verbal tende a ocorrer quando não há a presença de elementos proclisadores. Em estruturas com complexos verbais, há a realização, em geral, da colocação intra-complexo verbal.

No que tange à variedade europeia, a autora utilizou, para os dados orais, inquéritos de informantes com diferentes níveis de escolaridade e com faixas etárias diferenciadas, extraídos do “Corpus de Referência do Português Contemporâneo” (CRPC), especificamente os inquéritos que pertencem ao “corpus” do Português Fundamental. Para a modalidade escrita, os dados são de textos publicados em revistas e jornais portugueses.

A análise dos dados do Português Europeu, em contextos com lexias verbais simples, mostrou que há um condicionamento estrutural sistemático, tanto na modalidade oral, como na modalidade escrita. Essa variedade mostrou um equilíbrio de dados em posição proclítica e enclítica, tendo em vista o grande número de contextos de subordinação, havendo, assim, a presença de elementos proclisadores. Quando não há a

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presença desses elementos, a variante enclítica torna-se mais produtiva. Mostra-se, dessa forma, a efetiva atuação dos elementos “atratores” no PE.

No âmbito dos complexos verbais para o PE oral, a variante mais utilizada é a intra-complexo verbal, em que o clítico está, na maioria dos casos, enclítico a v1. A colocação pré-complexo verbal é favorecida, em especial, pela presença de um possível elemento proclisador no contexto anterior ao complexo verbal. No que diz respeito à modalidade escrita, destaca-se que a variante pré-complexo verbal também é a colocação preferencial quando há a presença de elementos “atratores” de próclise.

Com a análise prosódica desenvolvida em Vieira (2002), pode-se verificar que o clítico pronominal no PE, em relação à duração e à intensidade, possui as mesmas características das sílabas postônca/pretônica vocabular; e que a ligação fonológica do pronome oblíquo átono no PE adota o parâmetro de ligação fonológica para a esquerda.

Em seu trabalho denominado O fenómeno da subida de clítico a luz de dados não-standard do PE, Magro (2004) apresenta os contextos em que ocorre a subida de clítico no Português Europeu, isto é, a possibilidade de um clítico, que é argumento de v2 (o verbo principal), “subir” e cliticizar-se ao verbo auxiliar (v1), na posição proclítica ou enclítica a v1.

Para tanto, coleta dados dialetais do PE contemporâneo encontrados no corpus CORDIAL-SIN – Corpus Dialectal para o estudo da Sintaxe – e analisa 824 estruturas em que a subida de clítico é possível.

A autora mostra que, no PE standard, a subida de clítico é obrigatória em contextos com mais de uma forma verbal, sendo o verbo principal constituído com as formas de gerúndio ou particípio. No entanto, com o verbo principal no infinitivo não-flexionado, há maior variabilidade, pois a subida de clítico pode ser opcional, obrigatória ou agramatical. Logo após essa constatação, a pesquisadora mostra diferentes propostas para a análise da subida de clítico, no PE standard e em outra línguas (como o italiano e o espanhol).

Baseando-se em construções que permitem a subida de clítico, a pesquisadora verifica que, no corpus analisado, se dá, preferencialmente, em contextos infinitivos não-preposicionados e preposicionados introduzidos por a. As estruturas infinitivas introduzidas por que e os contextos com infinitivos preposicionados introduzidos por de, em e para são os domínios que não privilegiam a subida de clítico.

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No trabalho intitulado The Change in Clitic Placement from Classical to Modern European Portuguese: Results from the Tycho Brahe Corpus, Charlotte Galves, Helena Britto e Maria Clara Paixão de Souza (2005) fazem uma análise da colocação pronominal na história da língua portuguesa, do século XVI ao XIX. As autoras estudam a ordem dos clíticos – tendo como base textos escritos por autores portugueses nascidos de 1.500 a 1.850 –, fazendo uma associação da mudança ocorrida no PE a uma provável competição de gramáticas.

As pesquisadoras analisam os dados, dividindo-os em três contextos de variação: (1) verbo antecedido por um sujeito referencial não focalizado, alguns tipos de advérbio ou por um sintagma preposicional com função adverbial; (2) orações em que o elemento que antecede o verbo é uma conjunção coordenativa ou uma oração independente; (3) contextos em que não há variação. A ênclise é categórica quando o verbo está em posição inicial absoluta de oração e a próclise é categórica nos seguintes casos: orações negativas, orações subordinadas, orações em que o verbo é antecedido por um quantificador, por um operador QU, por um sintagma focalizado ou por alguns advérbios.

As autoras fizeram essa divisão, tendo em vista a alternância da colocação pré-verbal e pós-pré-verbal durante o tempo analisado. Elas verificaram que, no segundo contexto de variação – orações em que o elemento que antecede o verbo é uma conjunção coordenativa ou uma oração independente –, dependendo do autor, há uma variação muito significativa desde o século XVI. Já no primeiro contexto de variação – quando o verbo é antecedido por um sujeito referencial não focalizado, alguns tipos de advérbio ou por um sintagma preposicional com função adverbial –, há certa uniformidade entre os autores e há poucos dados na posição enclítica nos século XVI e XVII.

Com esse trabalho, as autoras puderam verificar dois momentos na variação ênclise/próclise: (i) com exceção de Os Sermões, de Vieira, em que há 45% dos pronomes na posição enclítica – segundo as autoras, tal fato ocorre por causa de razões estilísticas próprias do Barroco –, observou-se que, em todos os textos dos autores que nasceram até o final do século XVII, a ênclise era muito pouco produtiva, variando entre 0% a 20%; e (ii) em textos de autores nascidos no início do século XVIII, a utilização da posição pós-verbal aumentou significativamente, chegando a quase 90% dos dados.

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Galves, Britto e Paixão de Souza acreditam que esses dois momentos são compostos por duas fases gramaticais diferentes. No primeiro período, tendo como reflexo o Português Clássico, a próclise seria a opção preferencial – não-marcada –, mas não descartaria a utilização da ênclise. No segundo momento, por causa de uma mudança gramatical em que a ênclise era a única colocação possível, houve uma inversão na utilização da posição proclítica, passando a haver mais dados em ênclise, e a próclise passou a ser considerada, durante um bom tempo, como resquício da gramática antiga na escrita.

Por fim, as autoras destacam que os autores nascidos no século XVIII modificaram a colocação dos pronomes oblíquos átonos por causa de uma mudança gramatical encontrada na base do PE.

Magro (2007), em sua tese de doutorado intitulada Clíticos: Variações sobre o tema, estuda a construção de interpolação nas variedades dialetais do PE contemporâneo, utilizando o corpus CORDIAL-SIN – Corpus Dialectal para o estudo da Sintaxe. A autora verifica os casos em que os pronomes átonos aparecem interpolados. Embora o trabalho de Magro não trate da colocação pronominal – somente da interpolação –, será feita uma exposição dos resultados gerais obtidos pela autora, tendo em vista que o fenômeno de interpolação será abordado ainda que brevemente na presente dissertação e o corpus utilizado pela autora é o mesmo da presente investigação.

O quadro teórico utilizado pela pesquisadora é o de Princípios e Parâmetros em sua versão minimalista e a análise adota o modelo de organização da gramática previsto pela Teoria da Morfologia Distribuída.

O estudo mostra que a interpolação é uma construção produtiva em muitas das variedades dialetais consideradas pela autora. No entanto, ressalta-se que a interpolação é uma construção opcional e ocorre somente nos contextos em que é obrigatório o aparecimento do clítico antes do verbo por causa de certos elementos anteriores a forma verbal como as partículas encontradas nas orações subordinadas e negativas, ou seja, apenas quando a próclise é obrigatória.

A autora verificou os contextos em que era possível a realização da interpolação nas localidades estudadas. Dessa forma, de 6719 ocorrências de pronomes átonos em próclise do CORDIAL-SIN, apenas 707 estão dentre os casos de efetiva ou possível

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interpolação. Dos 707 dados, 272 apresentam a interpolação e 435 não a apresentam, mas poderiam apresentá-la.

Com a análise dos dados interpolados, Magro verificou que a interpolação ocorre com diferentes elementos, como pronomes (eu, ela, esta, isso etc.), advérbios (aqui, ai, lá, agora, depois, ontem etc.), sintagmas preposicionais (para lá, para aí, às vezes, a nós) e partícula de negação (não).

Em relação aos pronomes, os advérbios e a partícula de negação, a pesquisadora mostra que, quantitativamente, houve mais interpolação com os pronomes (124) do que com os advérbios (66) e a partícula não (88). No entanto, tendo como base o percentual de interpolação em contextos que a permitem, verificou que, em primeiro lugar, houve mais interpolação com os advérbios (51,2%), em segundo lugar, com os pronomes (34,6%) e, por último, com a partícula de negação (33,2%).

Antes de analisar os dados do CORDIAL-SIN, a autora mostrou os resultados referentes a outros séculos do português, tendo como base o trabalho de Martins (1994). Sendo assim, Magro verificou que a interpolação dialetal contemporânea é algo inovador e recente na história do português e não possui uma origem direta da interpolação do português antigo, isto é, não é vestígio do passado. A autora chegou a essa conclusão tendo como base (i) a falta de dados interpolados nos textos da segunda metade do século XVII e de todo o século XVIII e (ii) o aparecimento de dados interpolados nos textos do século XIX, parecidos com os dados dialetais contemporâneos.

Por fim, a autora ressalta que, com base em sua proposta, a sintaxe dos clíticos é comum a todas as variedades do Português Europeu contemporâneo, tanto na variedade dialetal como na variedade standard.

Em sua tese de doutorado denominada Competições de gramáticas do português na escrita catarinense dos séculos 19 e 20, Marco Antonio Martins (2005) verifica os padrões empíricos da colocação dos pronomes átonos na escrita de Santa Catarina, no PB, e de Lisboa, no PE. Analisa dados de orações finitas não-dependentes, com um ou mais verbos, extraídos de vinte e quatro peças teatrais de autores catarinenses (no âmbito da escrita brasileira) e vinte e uma peças de autores lisboetas (no cenário da escrita de Portugal) nascidos durante os séculos 19 e 20. Para tanto, o autor utiliza dois quadros teóricos: o da teoria da Variação e Mudança e o da teoria de Princípios e Parâmetros (em sua versão minimalista).

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Martins pretende averiguar o padrão de variação/não-variação dos pronomes átonos e examinar a possível influência da gramática do Português Europeu nos textos brasileiros em questão. A hipótese, segundo o autor, tomando por base o cenário brasileiro, é a de que a escrita de Santa Catarina refletiria um processo de mudança sintática que poderia ser interpretado como um processo gradual que é conduzido via competição de diferentes gramáticas: gramática do Português Brasileiro, gramática do Português Europeu e gramática do Português Clássico, pautando-se na proposta apresentada por Galves, Britto & Paixão de Souza (2005). De acordo com as pesquisadoras, os autores nascidos a partir da metade do século XVIII seriam os primeiros a usar as estruturas de colocação pronominal pertencentes às gramáticas do Português Europeu e do Português Brasileiro, abandonando as estruturas que eram típicas do Português Clássico.

De modo geral, sugere-se que a gramática do PB utilizaria a posição proclítica como opção preferencial em todos os contextos, enquanto a gramática do PE empregaria a ênclise como opção preferencial em início absoluto de oração e nos contextos em que não haveria elementos proclisadores. Nas estruturas compostas por mais de um verbo, o PB adotaria próclise ao verbo principal, que também seria uma forma inovadora da gramática do PB.

A pesquisa verifica que há variação entre a posição proclítica/enclítica em orações iniciadas por sujeitos não focalizados, advérbios não modais e sintagmas preposicionais. Essa variação ocorre, por exemplo, em textos de origem portuguesa do século 20, com progressivo aumento para o uso da posição enclítica, e nos textos oriundos do Brasil durante os séculos 18 a 20, com progressivo aumento da colocação proclítica.

No que tange às construções com mais de uma forma verbal, o autor verifica que a próclise ao verbo auxiliar e ao verbo não-finito começa a aparecer nos textos brasileiros de autores nascidos no século 19, ainda que de forma não recorrente, e aumenta, de forma significativa, em textos dos autores nascidos no século 20. Vale ressaltar que o padrão enclítico se mostrou bem produtivo no corpus do PB, que seria influenciado pela gramática do PE.

Dessa forma, Martins (2005), baseando-se nos resultados empíricos descritos e analisados, defende a ideia de que, de modo geral, a colocação dos pronomes na escrita do litoral de Santa Catarina é oriunda de um caso complexo de competição de três gramáticas do português: Português Clássico, Português do Brasil e Português Europeu.

Referências

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