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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. RENATA CASTRO CARDIAS KAWAGUCHI. COMUNICAÇÃO, IMAGINÁRIO E IDENTIDADE QUILOMBOLA: A festa de Santo Antônio na comunidade do Mandira em Cananeia-SP. São Bernardo do Campo 2017.

(2) UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. RENATA CASTRO CARDIAS KAWAGUCHI. COMUNICAÇÃO, IMAGINÁRIO E IDENTIDADE QUILOMBOLA: A festa de Santo Antônio na comunidade do Mandira em Cananéia-SP. Tese apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), para obtenção do grau de Doutor. Orientadora: Professora Dra. Magali do Nascimento Cunha. São Bernardo do Campo 2017.

(3)

(4) FOLHA DE APROVAÇÃO A Tese de doutorado intitulada: “COMUNICAÇÃO, IMAGINÁRIO E IDENTIDADE QUILOMBOLA: A festa de Santo Antônio na comunidade do Mandira em Cananéia-SP”, elaborada por RENATA CASTRO CARDIAS KAWAGUCHI, foi apresentada e aprovada em 19 de setembro de 2017, perante banca examinadora composta por Profa. Dra. Magali do Nascimento Cunha (Presidente/UMESP), Profa. Dra. Cicília Peruzzo (Titular/UMESP), Prof. Dr. Helmut. Renders. (Titular/UMESP),. Profa.. Dra.. Cristina. Schmidt. (Titular/Universidade de Mogi das Cruzes-SP) e Prof. Dr. Jorge Miklos (Titular/Universidade Paulista-SP).. _____________________________________ Profa. Dra. Magali do Nascimento Cunha Orientadora e Presidente da Banca Examinadora. _____________________________________ _ Profa. Dra. Marli dos Santos Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. Área de concentração: Processos Comunicacionais Linha de Pesquisa: Comunicação comunitária, territórios de cidadania e desenvolvimento social.

(5) DEDICATÓRIA Este trabalho é dedicado à minha eterna avó materna Clarinda Castro Cardias, por todo amor, carinho e orientação que recebi nessa vida!.

(6) AGRADECIMENTOS Aos meus pais Dulce Maria Castro Cardias e Jorge Alvaro Correa pelo apoio; Aos meus irmãos: Fabio Cardias, Flavio Correa e Maurício Correa, pelas brincadeiras e conversas; À minha filha Beatriz Cardias Kawaguchi pela compreensão e amor incondicional; Ao meu esposo Luis Fernando Romano pelo amor, companheirismo e paciência; Aos meus tios Maria de Nazaré Franco e Adelino Franco por sempre me ajudarem; Aos professores Dra.Cicília Peruzzo e Dr. Helmut Renders pela generosidade e prontidão em me atender; À minha orientadora Dra. Magali do Nascimento Cunha, por me ensinar sobre ética, respeito e amor pela educação e pela pesquisa; Aos meus amigos e companheiros do grupo de pesquisa MIRE: Alexandra González, Marcos Correa, Paula Salles, Patrícia Garcia e Patrícia Machado pela amizade e ajuda mútua; Aos meus amigos e companheiros do grupo de pesquisa COMUNI, principalmente à Ariadne Bianchi e Adriana Rodrigues, pelas trocas e parcerias nos eventos acadêmicos; Ao quilombo do Mandira por me permitir conhecer e aprender sobre lutas e conquistas; Ao amigo e hospitaleiro Jonas Santana, por me receber muito bem nas minhas idas e vindas à Cananeia..

(7) LISTA DE FIGURAS Figura 1............................................................................................... Figura 2............................................................................................... Figura 3............................................................................................... Figura 4............................................................................................... Figura 5............................................................................................... Figura 6............................................................................................... Figura 7............................................................................................... Figura 8............................................................................................... Figura 9............................................................................................... Figura 10............................................................................................. Figura 11............................................................................................. Figura 12............................................................................................. Figura 13............................................................................................. Figura 14............................................................................................. Figura 15............................................................................................. Figura 16............................................................................................. Figura 17............................................................................................. Figura 18............................................................................................. Figura 19............................................................................................. Figura 20............................................................................................. Figura 21.............................................................................................. 70 149 149 151 153 155 157 158 160 161 162 163 165 166 176 177 177 178 179 180 191.

(8) LISTA DE QUADROS Quadro 1............................................................................................. Quadro 2............................................................................................. Quadro 3.............................................................................................. 144 146 147.

(9) SUMÁRIO INTRODUÇÃO......................................................................................... CAPÍTULO I - COMUNICAÇÃO E RESISTÊNCIA CULTURAL: HIBRIDISMO, IDENTIDADES, RELIGIOSIDADES DAS CULTURAS “TRADICIONAIS” NA CONTEMPORANEIDADE.................................... 1. Cultura e identidade cultural: cultura popular, globalização, hegemonia e resistência.......................................................................... 2. Cultura popular e suas manifestações no Brasil.................................. 3. Globalização e cultura popular............................................................. 4. Identidades e culturas.......................................................................... 5. “Culturas tradicionais” e comunicação na contemporaneidade: póscolonialismo e hibridismo cultural............................................................. 6. Uma dinâmica de contradições e conflitos.......................................... 7. Hibridismo e Religiosidade popular...................................................... 8. Comunicação e cultura: conceitos e dialogismos................................ 9. Os Estudos Culturais na América Latina.............................................. 10. O desafio da comunicação.................................................................. 14 26. CAPÍTULO II - COMUNICAÇÃO E CIDADANIA: A COMUNIDADE QUILOMBOLA DO MANDIRA EM CANANEIA – SP................................ 1. Comunicação e Comunidade: Cananeia, um território entre culturas... 2. Luta e resistência quilombola.............................................................. 3. A comunidade quilombola do Mandira................................................. 4. Comunicação e cidadania: a busca da democratização da comunicação............................................................................................ 5. Direitos e cidadania.............................................................................. 6. O direito à comunicação para promoção da democracia e cidadania... 7. Quilombolas: a luta pela voz e pelos direitos de expressão................ 8. Políticas e reivindicações dos povos e comunidades tradicionais: em busca do direito de se comunicar............................................................. 9. Iniciativas comunicacionais em Cananeia e narrativas identitárias: o olhar quilombola........................................................................................ 70. CAPÍTULO III - AS FESTAS RELIGIOSAS POPULARES COMO PROCESSOS COMUNICACIONAIS: A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE, DO IMAGINÁRIO E DA RELIGIOSIDADE DA CULTURA QUILOMBOLA EM CANANEIA................................................................ 1. A comunicação e a construção do imaginário..................................... 2. O imaginário na vertente religiosa....................................................... 3. Identidade, religiosidade e território: Cananeia e o mito do Paraíso Terrestre............................................................................................... 4. O mito da natureza intocada................................................................ 5. Os processos comunicacionais das expressões religiosas das devoções: festas e representações simbólicas.................................... 6.Festas e devoções................................................................................. 7. A festa religiosa como processo comunicacional: Folkcomunicação, identidade cultural e imaginário.................................................................. 108. 26 29 32 35 39 43 50 51 53 59. 70 75 80 88 91 93 97 97 103. 108 114 115 122 126 131 134.

(10) CAPÍTULO IV - COMUNICAÇÃO NA RELIGIOSIDADE POPULAR 142 QUILOMBOLA: A FESTA DE SANTO ANTÔNIO NO QUILOMBO DO MANDIRA................................................................................................... 1.A trajetória metodológica: dos livros à Festa........................................... 142 2. O Formato da Festa de Santo Antônio................................................... 148 3. A festividade de Santo Antônio e a memória da comunidade quilombola do Mandira................................................................................................. 4. A festa de Santo Antônio e os direitos culturais da comunidade quilombola do Mandira............................................................................... 5. A Procissão e a missa em devoção a Santo Antônio no quilombo do Mandira....................................................................................................... 6. Mensagens e conteúdo da Festa do padroeiro do Mandira.................... 7.A celebração e as mediações culturais................................................... CONCLUSÃO............................................................................................. REFERÊNCIAS.......................................................................................... ANEXOS...................................................................................................... 154 172 176 182 189 194 206 214.

(11) RESUMO Estudo sobre A festa de Santo Antônio na comunidade quilombola do Mandira em Cananéia –SP. A pesquisa tem por objetivo analisar a Festa de Santo Antônio como processo comunicacional na formação do imaginário e da identidade quilombola. Para tal, será tomado referencial teórico: os Estudos Culturais, o Pensamento Latino Americano e os Estudos do Imaginário para entender o contexto sociocultural do quilombo em questão, considerando as conexões entre conceitos tais como: comunicação, comunidade, cidadania, cultura popular, globalização, identidade, imaginário, hibridismo cultural, religiosidade popular. Tendo como expoentes: Raymond Willians, Stuart Hall, Nestor Garcia Canclini, Jesus Martin-Barbero, Luiz Beltrão, José Marques de Melo, Ana Taís Portanova Barros, Magali do Nascimento Cunha, Gilbert Durand, Mircea Elíade, Riolando Azzi, Eduardo Hooarnet entre outros pesquisadores. A metodologia empregada prevê a pesquisa bibliográfica, documental e etnográfica tendo como principais técnicas: a observação participante e a realização de entrevistas com membros da comunidade quilombola do Mandira. Resulta desta pesquisa a reflexão de que os quilombolas, enquanto populações marginalizadas, desenvolvem meios de comunicação através das expressões folkcomunicacionais de suas práticas religiosas, como a Festa de Santo Antônio, permitindo a construção coletiva, manifestar seus sentimentos e encontrar proteção frente às injustiças sociais que constantemente sofrem.. Palavras-chave: Comunicação; Religiosidade popular.. Cidadania;. Imaginário;. Quilombola;.

(12) RESUMEN Estudio sobre La fiesta de San Antonio en la comunidad quilombola del Mandira en Cananéia -SP. La investigación tiene por objetivo analizar la Fiesta de Santo Antônio como proceso comunicacional en la formación del imaginario y de la identidad quilombola. Para ello, se tomará referencial teórico: los Estudios Culturales, el Pensamiento Latinoamericano y los Estudios del Imaginario para entender el contexto sociocultural del quilombo en cuestión, considerando las conexiones entre conceptos tales como: comunicación, comunidad, ciudadanía, cultura popular, globalización, Identidad, imaginario, hibridismo cultural, religiosidad popular. Con los exponentes: Raymond Willians, Stuart Hall, Nestor Garcia Canclini, Jesus Martin-Barbero, Luiz Beltrão, José Marques de Melo, Ana Taís Portanova Barros, Magali do Nascimento Cunha, Gilbert Durand, Mircea Elíade, Riolando Azzi, Eduardo Hooarnet entre otros investigadores..La metodología empleada prevé la investigación bibliográfica, documental y etnográfica teniendo como principales técnicas: la observación participante y la realización de entrevistas con miembros de la comunidad quilombola de Mandira. De esta investigación la reflexión de que los quilombolas, como poblaciones marginadas, desarrollan medios de comunicación a través de las expresiones folkcomunicacionales de sus prácticas religiosas, como la Fiesta de San Antonio, permitiendo la construcción colectiva, manifestar sus sentimientos y encontrar protección frente a las injusticias sociales que Constantemente sufren. Palabras chave: Comunicación; Religiosidad popular.. Ciudadanía;. Imaginario;. Quilombola;.

(13) ABSTRACT This work is a study on the feast of Santo Antônio in the quilombola community of the Mandira in Cananéia - SP. The research aims to analyze the Feast of Santo Antônio as process of communication to the formation of the social imaginary and the quilombola identity. To this end, some theoretical references will be adopted: The Cultural Studies, The Latin American Thinking and Studies of the Social Imaginary to understand the sociocultural context of the quilombola site refered. It is going to be considered the connections between concepts such as communication, community, citizenship, popular culture, globalization, Identity, imaginary, cultural hybridity and popular religiosity, by the view of the following autors: Raymond Willians, Stuart Hall, Nestor Garcia Canclini, Jesus MartinBarbero, Luiz Beltrão, José Marques de Melo, Ana Taís Portanova Barros, Magali do Nascimento Cunha, Gilbert Durand, Mircea Elíade, Riolando Azzi, Eduardo Hooarnet and others. The methodology used includes bibliographical, documentary and ethnographic research, with the following techniques: participant observation and interviews with members of the Mandolan quilombola community. This research bring as result that the quilombola, as a declassed population, develops means of communication through folk-communicative expressions from their religious practices, such as the Feast of Santo Antônio, allowing it collectivelly express their feelings and to find protection from social injustices that it suffer constantly.. Key words: Communication; Citizenship; Social Imaginary; Quilombola; Popular religiousness..

(14) 14. INTRODUÇÃO Esta tese é resultado da pesquisa multidisciplinar desenvolvida entre os Programas de Pós-Graduação em Comunicação Social e Pós-Graduação em Ciências da Religião que trata a Festa de Santo Antônio na comunidade do Mandira como processo comunicacional na construção da identidade e do imaginário quilombola. O interesse pela temática surgiu em 2011, quando, por conta do envolvimento pessoal em atividades na área do Turismo, conhecemos o projeto de Turismo Comunitário em Cananeia, que revelou um rico patrimônio cultural ainda desconhecido de nossos povos originários, detentores de saberes e fazeres. Desde os anos 1980, há um interesse nos estudos voltados a compreender a comunicação e a cultura de forma mais ampla, a partir de uma perspectiva dialógica, capaz de favorecer a produção e a decodificação de sentidos, considerando, além dos seus interlocutores, a configuração dos contextos socioculturais em que acontecem essas manifestações. A presente investigação possibilitou um campo de pesquisa instigante, por favorecer a compreensão, a análise, a reflexão e o pensar sobre a interface entre as duas áreas: a comunicação e a religião, principalmente no que se refere à compreensão de como os processos comunicacionais, no caso as festas religiosas constroem o imaginário:. A noção de imaginário surge em relação a tudo que se aprende visualmente do mundo e é elaborado coletivamente. Deste modo o imaginário diz respeito às expressões culturais e se modifica na configuração da identidade que cada cultura produz e sustenta como sua (CUNHA, 2011, p. 38).. As comunidades quilombolas, principalmente as presentes no Vale do Ribeira, mais especificamente o quilombo do Mandira, localizado no município de Cananeia, têm na territorialidade a base para expressar suas manifestações culturais. É na vertente cultural religiosa, uma das formas possíveis, que são.

(15) 15. construídas as suas identidades e a formação de um lugar de pertencimento e de coletividade. Na comunidade quilombola do Mandira foi possível observar como as relações entre o ser humano e a natureza apresentam duas formas de apreensão da realidade e do imaginário: uma empírica, por meio do acúmulo dos saberes botânicos, zoológicos, ecológico e etnotecnológico; e outra simbólica, mitológica e mágica. Essa, portanto, ligada à ancestralidade e à representação do cíclico: tudo nasce, morre, renasce. As representações simbólicas de suas culturas estão unidas aos sinais dos ciclos, dos ritmos lunares: criação (lua nova); crescimento (lua crescente, lua cheia); morte (lua minguante). A lua determina as marés e, consequentemente, a pesca, as atividades agrícolas (plantio/colheita). Esses simbolismos associados à formação de um catolicismo popular (herança colonizadora) proporcionaram processos híbridos nas expressões religiosas, marcadas também pelas influências indígenas e africanas. Nesse sentido, a fé dessa comunidade é manifestada por meio das devoções, procissões, orações e festividades ao seu santo protetor. Defendemos, nessa pesquisa, com base nas teorias que relacionam comunicação e cultura, que essas manifestações são consideradas como fortes e significativos elementos comunicacionais, principalmente no que diz respeito às interações sociais e à ativação das relações humanas: as relações entre emissores (quem) e receptores (para); aspectos de permanência e continuidade; organização e desenvolvimento das atividades religiosas e profanas e os vínculos originados com os meios de comunicação, sejam eles oficiais ou alternativos. Nesse sentido, os processos comunicacionais espontâneos como as festas populares religiosas, nos últimos dez anos, originaram projetos e iniciativas comunicacionais como produções audiovisuais, livros, entre outros documentos. Ao ocuparem áreas naturais com características ímpares e nelas exercerem suas dinâmicas culturais, as comunidades quilombolas viram o seu território reduzir pela especulação imobiliária e pela transformação de seu espaço em áreas protegidas por meio da proibição do cultivo de subsistência..

(16) 16. A comunidade escolhida para nosso estudo faz parte das populações brasileiras de pobres e marginalizados, que lutam para manter seus territórios e respectivamente sua identidade no sentido de resistência. Os constantes conflitos são fruto dos embates contra a especulação imobiliária e contra o autoritarismo ambiental que não respeitou seus direitos, suas terras e modos de vida. Considerando a complexidade da temática e os diversos fatores e conexões presentes na realidade estudada, a pergunta que orientou a investigação foi: como a Festa de Santo Antônio atua nos processos de construção do imaginário e da identidade quilombola presente em Cananeia?. Tivemos como hipótese de partida: a) A festa do padroeiro do Mandira, Santo Antônio, é componente da construção e da reafirmação das identidades socioculturais ao tornar possível o (re) conhecimento da própria história e das tradições da população quilombola em Cananeia. Como hipóteses derivativas, teremos também: a) As expressões do religioso não estão ameaçadas ao desaparecimento, porém as mídias hegemônicas presentes na região não auxiliam na valorização e na preservação das expressões religiosas de suas culturas; b) Os quilombolas, enquanto populações marginalizadas, por meio das expressões. folkcomunicacionais. de. suas. práticas. religiosas,. manifestam coletivamente seus sentimentos e encontram proteção frente às injustiças sociais que constantemente sofrem; c) Os projetos de iniciativas comunicacionais, como livros e DVDs produzidos pela comunidade, proporcionam o reconhecimento da cultura e o desenvolvimento da cidadania para essas comunidades. A realização da pesquisa se justifica na verificação de que na contemporaneidade a comunicação e seus respectivos meios e atores integrados aos processos culturais modificam-se e transformam-se a cada dia, devido às tecnologias da informação e da comunicação que evoluem e repercutem em vários aspectos de nossa vida em sociedade..

(17) 17. Nesse novo papel, podemos averiguar que a comunicação não pode ser apenas compreendida por quem a faz e a produz intencionalmente, mas que os processos comunicacionais são inerentes às práticas socioculturais não só do emissor, mas também do receptor, que deixa de ter uma postura passiva e passa a decodificar, se adaptar ou se opor ao emissor. Para tanto, as mediações inseridas no contexto cultural passam a (de) formar sentido para o receptor em relação ao que lhe é transmitido, Laan Mendes de Barros nos aponta que: [...] já não é de hoje que pensadores – muito deles, latino-americanos – questionam essa visão unidirecional e instrumental do processo comunicacional e propõem o reposicionamento do receptor no processo como participante ativo, a quem cabe mais do que a decodificação dos sentidos inseridos na mensagem pelo emissor. [...] Mais do que um participante terminal das linhas de transmissão de informações, o receptor precisa ser pensado como cidadão e como agente gerador de informações e difusor de conhecimentos (BARROS, 2011, p.18).. Nessa linha de abordagem, consideramos que a comunicação converge para um modelo interpretativo e relacional da apropriação de conhecimentos e para a formação das imagens e das identidades culturais, ou seja, a comunicação assume um fator fundamental na formação do imaginário. A folkcomunicação interage com o imaginário, recria significações e participa da (re) configuração das identidades e das culturas, essas entendidas como o conjunto de todo ser e fazer humano em uma sociedade, em um determinado período, um modo de vida. As culturas são o resultado de como o ser humano se comunica, interpreta e reflete sua vivência em um determinado contexto, seja pela música, dança, linguagem, moda, artes, alimentação, comportamentos, consumo, visões de mundo, lazer e tradições. As culturas são dinâmicas e contínuas. Elas são construídas pelos membros de uma sociedade e transmitidas de uma geração à outra e vivem as transformações do tempo e dos contextos, numa dinâmica permanente. Em nosso país, assim como em outros territórios espalhados pelo planeta, não é possível definir a cultura como única; é preciso reconhecer a diversidade cultural brasileira como resultado de várias vivências e interculturalidades de muitos outros povos que se estabeleceram em nosso país, em diversas circunstâncias.

(18) 18. econômicas, políticas e sociais. Segundo Martin-Barbero, é necessário pensar comunicação a partir da cultura e de sua mestiçagem: [...] Reconhecimento de uma mestiçagem que, na América Latina, não remete a algo que passou, e sim àquilo mesmo que nos constitui, que não é só um fato social, e sim razão de ser, tecidos de temporalidade e espaços, memórias e imaginários que até agora a literatura soube exprimir. Talvez aí a mestiçagem tenha passado de objeto e tema a sujeito e fala: um modo próprio de perceber, narrar, contar e dar conta [...] (MARTIN-BARBERO, 1997, p. 259).. Sobre essa base teórica desenvolvemos o estudo no referido município. Além dos aspectos acima apresentados, as motivações investigativas justificamse pelas seguintes razões: primeiramente, pelas características singulares da realidade estudada, principalmente no que se refere aos aspectos socioculturais encontrados no município: situado a 230 km da capital paulista, conta com dois distritos: Ariri e Cananeia. Tem área de 1.242 km (IBGE, 2001) e é composto de parte continental e parte insular (Ilha de Cananeia e Ilha do Cardoso). Existem 39 bairros, sendo 15 situados na Ilha de Cananeia (área central), 11 na Ilha de Cardoso e 13 no continente. Nessa região, existem comunidades caiçaras, indígenas e afro-brasileiras (quilombolas). O modo de vida no quilombo do Mandira guarda práticas culturais tradicionais como a agricultura de subsistência, baseada, principalmente, no cultivo da mandioca e o cultivo de ostras. A identidade cultural quilombola presente na região de Cananeia é híbrida e pode ser entendida como um conjuntos de valores, visões do mundo, práticas cognitivas e símbolos compartidos, que orientam os indivíduos em suas relações com a natureza e com outros membros da sociedade e que se expressam também. em. manifestações. materiais. (tipo. de. moradia,. embarcação,. instrumentos de trabalho) e não materiais (linguagem, música, dança, rituais, religiosos), associadas à periodicidade das atividades de terra e de mar, de ligações afetivas fortes com o sítio e a praia. Grande parte da área que compõe o município se encontra em Unidades de Conservação, entre elas: o Parque Estadual da Ilha do Cardoso (PEIC), o Parque Estadual de Jacupiranga (PEJ), a Estação Ecológica dos Tupiniquins, a Área de Proteção Ambiental Cananeia-Iguape-Peruíbe (APA CIP) e a Reserva.

(19) 19. Extrativista do Mandira (REMA), onde localiza-se a comunidade quilombola, e essas são administradas pelo Estado ou União. A região do Vale do Ribeira abriga o maior remanescente contínuo de Mata Atlântica do Brasil, apresentando grande diversidade biológica, o que proporciona importante fonte de subsistência para as populações tradicionais que aqui vivem. No ano de 1991, a UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura declarou a região como “Reserva da Biosfera da Mata Atlântica”, e em 1999 como “Sítio do Patrimônio Natural da Humanidade”. A região vive muitas dificuldades, principalmente quanto à exclusão e ao preconceito em relação aos seus povos tradicionais, que ficam isolados em suas comunidades, assim como a falta de políticas públicas voltadas para a melhora da qualidade de vida dessas populações. Contudo, a preservação da natureza e de seus bens culturais possibilita uma variedade de opções para o desenvolvimento sustentável, pautadas em uma economia solidária, em que se destacam: valorização das manifestações culturais materiais e imateriais por meio de suas festividades e outras atividades, como a agricultura familiar, artesanato, motivos que aproximaram a proponente desse estudo com o município e de sua população ao pesquisar sobre atividades criativas e culturais da localidade como condutoras e articuladoras do Turismo Comunitário, atividade compatível com as características naturais e culturais da localidade. Outro aspecto que alicerçou o objeto de pesquisa está relacionado às dinâmicas e relações entre o global e o local: em um mundo em constantes transformações, em que somos condicionados a uma padronização de práticas, não podemos ignorar que a globalização modificou o processo cultural, caracterizado principalmente pela homogeneização e o consumo global de diversas produções culturais, como a música, o cinema, programas de TV, literatura e o turismo. Porém, da mesma forma que a globalização padronizou, ela também acentuou a heterogeneidade de manifestações culturais de agrupar-se e de se reafirmarem..

(20) 20. O fortalecimento da cultura local e da diversidade cultural faz parte do movimento de resistência, não ficou parado no tempo e assimilou de alguma forma e à sua maneira as transformações da sociedade. Nesse sentido, as expressões folkcomunicacionais da religiosidade popular, que têm nas suas tramas símbolos, gestos e representações, cruzam e revelam a realidade, consolidando não só a experiência do cotidiano, mas também narrativas. O conceito de imaginário é tomado como uma categoria de análise das representações sociais de um determinado grupo social no sentido amplo, reunindo as imagens que esta sociedade produziu ou produz durante a sua existência enquanto formação social específica. Considerando a comunidade quilombola estudada, o conceito de imaginário privilegiado é aquele que assume a perspectiva coletiva. Magali do Nascimento Cunha, em seu texto “Da imagem, à imaginação e ao imaginário: elementos-chave para os estudos em comunicação e cultura” (2011), afirma que o imaginário e o simbólico estão intrinsecamente ligados, “deste modo o imaginário diz respeito às expressões culturais e se modifica na configuração da identidade que cada cultura produz e sustenta como sua” (CUNHA, 2011, p. 38). Para entender as mediações culturais dos processos comunicacionais no município de Cananeia, é necessário identificar como são construídas e mantidas suas identidades culturais quilombolas por meio de sua religiosidade. A pesquisa teve como objetivo analisar a partir dos estudos culturais e da teoria das mediações como a Festa de Santo Antônio como processo comunicacional contribui para a formação do imaginário e da identidade quilombola. Para alcançá-los, tivemos como objetivos específicos: . Caracterizar a festa de Santo Antônio na comunidade quilombola do Mandira em Cananeia, a partir de seus aspectos locais: ambientais, culturais, sociais e econômicos;. . Mapear e selecionar os processos comunicacionais alternativos que serão analisados, tais como expressões religiosas (a Festa de Santo Antônio) e iniciativas comunicacionais, que abordam a imagem de sua comunidade tradicional;.

(21) 21. . Analisar como a festividade do padroeiro apresenta relações com o contexto sociocultural de onde é manifestada, considerando as mediações, as relações institucionais e os fluxos comunicacionais que estabelece ou não com as mídias presentes na região.. Quando propomos uma pesquisa tendo como objeto uma festividade religiosa popular como a de Santo Antônio, padroeiro do quilombo do Mandira, observamos uma aproximação entre os estudos culturais e a escola latinoamericana de comunicação, que permeia as iniciativas dos estudos na produção de sentido entre emissores e receptores, por meio das mediações socioculturais: Os estudos culturais dialogam bastante bem com o pensamento comunicacional latino-americano, estão entre as matrizes dos estudos de comunicação e educação que aqui se desenvolveram. Em ambas as correntes teóricas o resgate do receptor e a inserção da comunicação no âmbito da cultura são opções teórico-metodológicas que permitem a superação da visão instrumental e do midiacentrismo predominantes em nossa disciplina. Elas oferecem novas lentes para o estudo da cultura das mídias, para o estudo das mediações culturais (BARROS, 2008, p. 141).. O referencial teórico, além dos Estudos Culturais e do Pensamento Latino-Americano, foi elaborado a partir da escolha de autores que nos auxiliaram a entender o contexto sociocultural quilombola no Mandira, considerando a complexidade da temática e as conexões entre conceitos, tais como:. comunicação, comunidade, cidadania, cultura popular, globalização,. identidade, imaginário, hibridismo cultural, religiosidade popular, que poderão edificar referenciais teóricos compatíveis com a proposta da pesquisa. Ao nos referirmos às relações entre comunicação, cultura e identidade, destacamos as contribuições de Stuart Hall: A identidade cultural na pósmodernidade (2003); Jesus Martin-Barbero: Dos meios às mediações: comunicação e hegemonia (1997); e Nestor Garcia Canclini, com Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade (2000). Também recorremos a autores que tratam as questões do imaginário e do simbólico, em que se destacam, principalmente, os estudos de Cornelius Castoriadis, com a sua obra de referência: A instituição imaginária da sociedade (1982), as contribuições de Gilbert Durand, com Estruturas antropológicas do.

(22) 22. imaginário (2002), além de outros autores como, Joseph Campbel, Ana Taís Portanova Barros, Dênis de Moraes, Magali do Nascimento Cunha e Mircea Eliade, autores que tratam o conceito de imaginário. O traço folkcomunicacional presente na socialização das expressões culturais populares foi estudado com base nas contribuições de Stuart Hall, em Da diáspora: identidade e mediações culturais (2011). Assim como recorremos a autores brasileiros como Edison Carneiro, em A Dinâmica do Folclore (2008), José Marques de Melo e seu trabalho Mídia e cultura popular: história, taxionomia e metodologia da Folkcomunicação (2008) e também a Luiz Beltrão, com. Folkcomunicação,. a. comunicação. dos. marginalizados. (1980). e. Folkcomunicação: Teoria e Metodologia (2004), complementando com as discussões de Jorge Gonzalez em Frentes Culturales: para uma compreension dialógica de las culturas contemporâneas (2001). A escolha da teoria de Luiz Beltrão se adéqua à proposta da pesquisa, pois permite conhecer e analisar os processos comunicacionais espontâneos presentes na dinâmica da cultura popular. Ou seja, a Folkcomunicação busca compreender os mecanismos artesanais para expressar mensagens, assim como a teoria “adquire cada vez mais importância, pela sua natureza de instância mediadora entre a cultura de massa e a cultura popular, protagonizando fluxos bidirecionais e sedimentando processos de hibridação simbólica”. (MELO, 2008, p. 25). Recorremos às contribuições de autores que tratam as temáticas sobre direito à comunicação, comunidade e cidadania, tais como Zigmunt Bauman, Alain Bourdin, Ferdinand Tönies, Milton Santos e Cicília Peruzzo. Na compreensão do lugar da religiosidade popular como expressão da identidade cultural do grupo estudado, buscamos como referencial os estudos de Carlos Rodrigues Brandão, Os Deuses do Povo: Um Estudo sobre a Religião Popular (1986), Sergio Ferreti, Repensando o Sincretismo, e outras contribuições de autores como Riolando Azzi, Eduardo Hoornaet e Mauro Passos. Ao atendermos às sugestões da banca de qualificação para estabelecer como objeto de estudo a Festa de Santo Antônio na comunidade quilombola do.

(23) 23. Mandira, foi possível desenvolver uma metodologia a partir da combinação de métodos técnicos compatíveis com os objetivos da pesquisa. A trajetória de investigação contou com a realização de uma pesquisa bibliográfica e documental, combinada com a realização de uma pesquisa etnográfica que possibilitou as práticas da observação participante e das entrevistas com membros da comunidade como principais técnicas utilizadas para compreender a dinâmica da celebração. A maior dificuldade que encontramos foi desenvolver entrevistas com o maior número possível de pessoas da comunidade. Devido à dinâmica da festividade, não foram muitas que aceitaram participar, já que boa parte delas estava no exercício de suas atividades de lazer e devoção, porém quem participou da entrevista (um total de seis pessoas) contribuiu bastante para compreender o desenvolvimento da festividade e o seu significado para a comunidade. Além de observar e entrevistar, elaboramos um registro fotográfico e um diário de campo. Com a metodologia definida e ajustada à pesquisa foi possível criar um protocolo de análise, a partir das contribuições de José Marques de Melo para a pesquisa em Folkcomunicação, em que consideramos os seguintes elementos com relação ao estudo da expressão religiosa: formato, memória, conteúdo e as mediações. Todo este processo metodológico está descrito detalhadamente no capítulo quatro dessa tese. A organização da pesquisa e seus respectivos resultados foram concretizados em quatro capítulos. O primeiro capítulo teórico teve como proposta discutir e compreender a comunicação e as culturas a partir de uma perspectiva dialógica, considerando temáticas contemporâneas, tendo como base as contribuições dos estudos culturais originados na escola de Birmingham e de autores do pensamento latinoamericano. Foram abordados os conceitos de convergências entre culturas tradicionais, identidade, hegemonia, resistência e cultura popular, globalização, pós-colonialismo, hibridismo cultural e religiosidade popular. Já o segundo capítulo buscou apresentar a configuração das hibridações culturais e religiosas dos quilombolas na comunidade do Mandira, assim como.

(24) 24. procurou discutir a busca da cidadania por meio da democratização da comunicação desses povos que historicamente foram e continuam sendo marginalizados. Também pontuamos suas reivindicações, os processos comunicacionais espontâneos a partir de seus bens imateriais considerando a vertente religiosa de sua cultura e o desenvolvimento de. produtos. comunicacionais alternativos desenvolvidos no quilombo estudado. No terceiro capítulo trouxemos as relações entre comunicação e o imaginário, considerando suas complexidades, a partir da concepção do imaginário nas expressões religiosas no quilombo do Mandira. Para um melhor entendimento do contexto, tentamos entender a configuração da cidade de Cananeia a partir do mito do paraíso terrestre (desde o período da colonização) e do mito da natureza intocada na contemporaneidade. Apresentamos também os valores característicos da cultura quilombola e suas festas religiosas como processos comunicacionais e representação simbólica a partir da teoria da Folkcomunicação. No quarto e último capítulo, detalhamos a metodologia utilizada para a realização da pesquisa, assim como desenvolvemos a análise da Festa de Santo Antônio na comunidade do Mandira, no ano de 2016. Para uma melhor articulação utilizamos o diário de campo como “trilha” da análise, articulado com as entrevistas e os materiais (documentos) recolhidos na pesquisa de campo que contou também com um registro fotográfico. Com este trabalho esperamos contribuir para os estudos em comunicação no sentido de ampliar nossas compreensões e conhecimento sobre nossos povos e comunidades tradicionais, principalmente sobre quem são os quilombolas e como fazem parte da nossa identidade brasileira. O quilombo do Mandira, localizado no município de Cananeia é uma das poucas comunidades que possuem o título de suas terras. A luta por seu direito de se comunicar e de se expressar é latente, não só no meio ambiente físico, mas também está e se faz. presente. espontâneos.. nas. festas. religiosas. como. processos. comunicacionais.

(25) 25.

(26) 26. CAPÍTULO I. COMUNICAÇÃO E RESISTÊNCIA CULTURAL: HIBRIDISMO, IDENTIDADES, RELIGIOSIDADES DAS CULTURAS “TRADICIONAIS” NA CONTEMPORANEIDADE Este capítulo propõe uma revisão da literatura a partir do diálogo entre os estudos culturais ( Raymond Williams; Stuart Hall; Hommi Bhabha); a escola latino-americana de comunicação (Néstor Garcia Canclini; Luiz Beltrão; José Marques de Melo; Jesus Martín-Barbero, Guillermo Orozco Gomez), e outros autores que contribuem com reflexão sobre a relação comunicação-culturareligiosidade (Riolando Azzi; Laan Mendes de Barros; Edison Carneiro; Manuel Castells; Teixeira Coelho; Ana Carolina Escoteguy; Sergio Ferreti; Eduardo Hoornaet; Mauro Passos; José Fernando Ávila Soares; Dominique Wolton). São introduzidos pesquisadores e suas contribuições, que permeiam as iniciativas dos estudos na produção de sentido entre emissores e receptores através das mediações socioculturais. São essas discussões que vão edificar os conceitos, convergências. e. cruzamentos. entre:. culturas. tradicionais,. identidade,. globalização, hegemonia, hibridismo cultural e imperialismo, temas que se complementam e são apresentados como base para a construção e análise dos capítulos subsequentes.. Cultura e identidade cultural: globalização, hegemonia e resistência 1.. cultura. popular,. Ao iniciarmos nossas reflexões acerca do tema proposto para essa investigação, é importante considerar, discutir e refletir sobre a complexidade do conceito cultura, assim como suas transformações no percurso o tempo. A partir de um olhar histórico marcado pelas mudanças sociais e econômicas na Europa, a formação do conceito de cultura pode ser verificada a partir do Iluminismo francês, associado à ideia de progresso, educação e razão. A partir do século.

(27) 27. XVIII, seu sentido passou a incorporar o entendimento de civilização e desenvolvimento social. Com o advento das ciências humanas e sociais no século XIX, e, especificamente a antropologia, esta concepção sofreu transformações marcantes para o estudo da cultura. Edward Burnett Tylor (1874), em Cultura primitiva, destaca-se neste processo ao conceber o conceito de que cultura seria algo complexo que abarca conhecimento, crenças, arte, moral, leis, costumes e outras aptidões adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade, ou seja, a partir de um olhar antropológico, a cultura faz parte da organização e configuração de um povo, considerando seus costumes, suas vivências e tradições em comum, transmitidas de geração em geração, que lhe dão a identidade desse povo. A grande contribuição de Tylor nas concepções de cultura em uma perspectiva antropológica foi não a entender apenas como algo restrito, mas sim concebê-la considerando os fatos socioculturais nos quais está inserida. O conceito de cultura, portanto, deve compreender também os diferentes graus de avanços culturais e seus diferentes caminhos. O autor considerou em suas investigações a cultura dos povos primitivos, representando a cultura original da humanidade. Para Laraia (2000), o conceito antropológico de cultura a compreende como sistemas e padrões de comportamentos transmitidos no âmbito social (modos, atitudes, linguagens, conhecimentos, costumes etc.), ou seja, o ser humano é resultado do meio cultural em que foi socializado. A cultura determina e justifica seu comportamento, seja nas suas expressões materiais ou simbólicas. Nesse sentido, faz abordagens distintas sobre cultura considerando: a) a cultura como sistemas cognitivos entre membros de uma comunidade; b) a cultura como sistema cognitivo, na perspectiva de Lévi-Strauss, que a define como um sistema simbólico resultante da acumulação da mente humana; c) a cultura como elaborações culturais. O autor também pontua que a cultura tem um caráter dinâmico e está em constantes mudanças. Essas transformações podem ser internas do próprio.

(28) 28. sistema cultural ou externas, resultado das relações entre diferentes sistemas culturais. A cultura é manifestada partir dos contextos sociais. Raymond Williams, um dos pensadores fundadores dos estudos culturais britânicos, contribuiu significativamente para o debate e ampliação da temática cultura, opondo-se ao conceito elitista, considerando também sua vertente oriunda das camadas populares no livro Marxismo e Literatura. Cultura, para Williams (1979, p. 23), “[...] um processo social fundamental que modela modos de vida específicos e distintos, é a origem efetiva do sentido social comparativo de cultura e de seu plural, já agora necessário, de culturas”. O autor aponta a cultura como uma experiência ordinária, que designa os significados comuns a uma sociedade humana, abarcando seus modos de vida e suas produções intelectuais e artísticas. Stuart Hall, outro expoente do Contemporary Center of Cultural Studies da Universidade de Birmingham, no texto “Estudos culturais: dois paradigmas”, na obra Da diáspora: identidades e mediações culturais (2008), afirma que a cultura se entrelaça a todas as práticas sociais e essas práticas se referem às experiências adquiridas, suas inter-relações e condições históricas. O autor apresenta que há duas maneiras de conceituar cultura:. A primeira relaciona cultura à soma das descrições disponíveis pelas quais as sociedades dão sentido e refletem suas experiências comuns. Essa definição recorre à ênfase primitiva sobre as “ideias”, mas submete-a a todo um trabalho de reformulação. [...] a segunda ênfase é mais deliberadamente antropológica e enfatiza o aspecto da “cultura” que se refere às práticas sociais (HALL, 2008, p. 136).. Verificamos, portanto, que a cultura é a herança humana surgida através da sua vontade em satisfazer suas necessidades primordiais, varia segundo o espaço e o tempo e é dinâmica e contínua independente da sua origem. Ela é acumulada pelos membros de uma sociedade e transmitida socialmente de uma geração à outra e perpetuada de forma original ou modificada..

(29) 29. 2. Cultura popular e suas manifestações no Brasil As manifestações da cultura popular brasileira só começaram a receber a atenção da elite nacional em meados do século XIX, durante o período do Romantismo, movimento que prestigiava as singularidades e as diferenças, consagrando os vários povos e tradições como dignos objeto de atenção intelectual. Naquele contexto, acompanhando as mesmas movimentações de interesse pela cultura popular que crescia nos países da Europa e EUA, destacam-se as contribuições de alguns expoentes brasileiros, como Celso de Magalhães, Sílvio Romero e Amadeu Amaral, que passaram a pesquisar as manifestações nativas e publicar estudos sistemáticos. Com o advento do movimento Modernista em nosso país, marcado pela Semana de Arte Moderna de 1922, os aspectos da cultura popular passaram a serem vistos como a verdadeira essência da brasilidade. Mário de Andrade, um dos líderes do Modernismo brasileiro, foi um grande pesquisador e incentivador, e teve a oportunidade de agir oficialmente pelo folclore, criando a Sociedade de Etnologia e Folclore. Ele dirigiu o Departamento de Cultura do Estado de São Paulo entre 1935 e 1938, abrindo cursos para a formação de pesquisadores, onde palestraram pesquisadores renomados como Lévi-Straüss. Na década de 1950, essa movimentação se ampliou, atraindo a atenção de Cecília Meireles, Câmara Cascudo, Florestan Fernandes e Gilberto Freyre. O movimento folclorista, nessa época, encontrou a consagração institucional maior na Comissão Nacional de Folclore, fundada em 1947 por Renato Almeida através de recomendação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). No contexto do pós-Segunda Guerra, a preocupação com a cultura popular se inseria nas iniciativas em prol da paz mundial, por ser vista como elemento de compreensão entre os povos, incentivando o respeito pelas diferenças e permitindo a construção de identidades diferenciadas. A partir de 1961, os pesquisadores da área passaram a contar com um importante meio de divulgação e discussão, a Revista do Folclore Brasileiro, que circulou até 1976 totalizando 41 volumes e se tornando um catalisador das pesquisas. Mas, apesar das conquistas ao folclorismo nacional, ainda faltava.

(30) 30. credibilidade, o que só seria conseguido, como pensava Almeida, quando ele penetrasse nas universidades. Em meio à polêmica que cercava o tema, o folclore foi gradativamente sendo alijado do modelo acadêmico que se consolidava, embora encarado na universidade ainda com muito preconceito na atualidade. Embora muitos de seus estudiosos permanecessem ligados às universidades, a disciplina foi se acomodando como um subcampo das ciências sociais, nas disciplinas de Antropologia e, posteriormente, na Comunicação com Luiz Beltrão. A campanha liderada por Edson Carneiro, interrompida em 1964 devido ao golpe militar e retomada posteriormente por Renato Almeida, foi incorporada à Funarte, transformando-se em 1979 no Instituto Nacional do Folclore. Em 1990, o Instituto passou a ser denominado Coordenação de Folclore e Cultura Popular, hoje chamado Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular vinculado ao Instituto do Patrimônio e Artístico Nacional e tendo como missão declarada “formular, fomentar e executar programas e projetos em nível nacional voltados para a pesquisa, documentação, difusão e apoio a expressões das culturas populares brasileiras”. (CNFCP, 2008, p. 13). Em 1995, realizando uma revisão da Carta do Folclore Brasileiro no VIII Congresso Brasileiro de Folclore, reunido em Salvador, os folcloristas brasileiros adotaram o conceito de que folclore é o conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade(COMISSÃO NACIONAL DO FOLCLORE, 1995, p. 2).. Como se observa em outras partes do mundo, a cultura popular brasileira está experimentando modificações importantes em virtude do apelo turístico, e da influência dos novos meios de comunicação de massa e das novas tecnologias. de. registro. e. difusão. de. informações.. A. partir. dessas. transformações, podemos dizer que a cultura popular não é um conjunto fixo de práticas, objetos ou textos, nem um conceito simples ou rígido definido aplicável a qualquer período histórico..

(31) 31. No Brasil, podemos afirmar que a cultura popular não se conceitua, enfrenta-se, pois precisa ser contextualizada e analisada a partir de um lugar, mais especificamente a partir de alguma experiência social e cultural. Ecléa Bosi, pesquisadora e defensora das causas sociais contra as desigualdades e injustiças, em sua obra Cultura de massa e cultura popular: leituras de operárias de 1986, salienta o elemento político, uma espécie de “resistência teimosa” da cultura popular, Uma resistência diária à manifestação e ao nivelamento, eis o sentido das formas da cultura popular (...) Empobrecedora para a nossa cultura é a cisão com a cultura do povo: não enxergamos que ela nos dá agora lições de resistência como nos mais duros momentos de luta de classes (BOSI, 1986, p.23).. Bosi, também acrescenta que a cultura popular está vinculada ao tempo cíclico. Os usos e as percepções do tempo característico das práticas culturais populares vinculam à experiência comunitária. Edson Carneiro, brasileiro e outro estudioso e atuante da cultura popular, na década de 1950, manifestava sua indignação em relação ao desprezo ao conhecimento e sabedoria popular na obra A sabedoria popular (1957). Outra contribuição de relevância do autor foi o livro Dinâmica do folclore, de 1965, reeditado em 2008. Nesse trabalho, Carneiro ressalta que. A experiência humana, que se disciplina em cultura, constitui em um continuum de que participam tanto o conhecimento empírico do povo como o conhecimento científico dos letrados. A sua existência na mesma sociedade faz com que ambos os tipos de conhecimento se verifiquem mutuamente. O fato de terem uma origem comum – a cultura universal sintetizada na civilização greco-romana propicia a circulação dessa corrente vivificadora. Há assim, um intenso intercâmbio cultural entre vários estratos sociais-resultado direto da comunicação pessoal, das relações de produção, da comunidade de língua, de sentimento religioso e nacional, da educação e cidadania. Em consequência, e sob a pressão da vida social, o povo atualiza, reinterpreta e readapta constantemente os modos de sentir pensar e agir em relação aos fatos da sociedade e aos dados culturais do tempo. O folclore é, portanto, dinâmico. Não obstante partilhar, em boa porcentagem, da tradição e caracterizar-se pela resistência à moda, o folclore é sempre, ao mesmo tempo uma acomodação, um comentário e uma reivindicação (CARNEIRO,2008, p. 4)..

(32) 32. A partir desse posicionamento do autor, o conceito de folclore, ou melhor, de cultura popular, emerge ao procurar entender como as pessoas comuns, as camadas pobres ou os populares (ou pelo menos o que se considerou como tal) enfrentam (enfrentaram) as novas modernidades (nem sempre tão novas assim); de como criam (recriaram), vivem (viveram), denominam (denominaram), expressam (ou expressaram), conferem significados (ou conferiram) a seus valores, suas festas, religião e tradições, considerando sempre a relação complexa, dinâmica, criativa, conflituosa, política entre os diferentes segmentos da sociedade. Considerando o continuum apresentado por Carneiro, e o posicionamento político apresentado por Bosi, podemos dizer que a expressão cultura popular pode servir também não só para denominar expressões culturais que têm como origem o povo, mas utilizá-la também para se enfrentar a globalização. Não somente no sentido de valorização da existência de diferentes significados sociais em torno das manifestações culturais coletivas, mas também como estímulo ao reconhecimento de identidades sociais/culturais e vínculos duradouros entre grupos de reconhecida expressão cultural. É importante reforçar que as distintas formas de manifestações culturais, sejam elas eruditas, de massa ou de caráter popular, podem coexistir na vida cotidiana, ou seja, se interpenetram no dia a dia em nosso contexto contemporâneo marcado pela globalização. Ou seja, vão além de um modo de vida, refletem ações e reações entre grupos diversos. Isso implica ser e estar na sociedade,. assim. como. estabelece. relações. de. alteridade.. Portanto,. ressaltarmos que essas dinâmicas culturais se caracterizam não só pelas trocas sociais entre sujeitos e grupos, mas também pela luta, confronto e tensões sociais.. 3. Globalização e cultura popular Lembramos que a globalização não é um processo novo, pelo contrário iniciou-se na Europa, nos séculos XV e XVI. Acentuou-se e expandiu-se internacionalmente no final do século XX devido ao desenvolvimento das novas.

(33) 33. tecnologias e das comunicações, que possibilitaram a ampliação dos mercados econômicos, o intercâmbio de pessoas e ideias ao redor do mundo. Este processo assumiu características que interferiram diretamente nos modos comportamentais da humanidade. Para Stuart Hall, “o que é importante para nosso argumento quanto ao impacto da globalização sobre a identidade é que o tempo e o espaço são também as coordenadas básicas de todos os sistemas de representação”. (HALL,2011, p.70). O termo globalização ou mundialização refere-se não só para expressar a ampliação e consolidação do capitalismo, mas também para buscar explicações sobre a organização e a conduta da sociedade humana sob esta ordem. Para entender o processo de globalização, é importante compreender as etapas e os marcos mais significativos sob do ponto de vista histórico. As grandes navegações do século XV e a descoberta de novos territórios iniciaram a criação e a expansão europeia/mercantilista e do sistema capitalista em nível mundial; em contrapartida, minimizou-se o risco e ampliaram-se as possibilidades de exploração de um “novo mundo”, que permeava o imaginário europeu. A Revolução Industrial, na segunda metade do século XVIII, foi marcada pela mudança do modo de produção artesanal para a produção industrial em grandes quantidades, graças ao desenvolvimento da máquina a vapor. A busca por matéria-prima e a expansão comercial contribuíram consideravelmente para o desenvolvimento dos transportes marítimos e ferroviários. No século XIX, com a descoberta da eletricidade, nos continentes europeu e norte-americano, houve o fortalecimento e a expansão do setor industrial, assim como em diferentes países, inclusive no Brasil. Já no início do século XX, após duas guerras mundiais, respectivamente em 1914 e 1945, definiram dois sistemas antagônicos: o socialista e o capitalista; simbolicamente, a queda do Muro de Berlim, no final da década de 1980, consagrou o sistema capitalista e, como consequência, o processo de globalização e o alinhamento comercial dos países. Na década de 1990, consolidou-se a revolução científico-tecnológica, que atingiu vários aspectos da sociedade, gerando novas práticas e comportamentos em relação ao consumo, bens e serviços e, consequentemente, à produção cultural humana..

(34) 34. Podemos perceber que a globalização da cultura intensificou as interações culturais e sociais devido à rapidez e intensidade da circulação da informação, que propiciou novas formas de relacionamento e comportamentos que se espalharam entre indivíduos e em diferentes sociedades dispersas pelo mundo. Porém, da mesma forma, o processo de globalização possibilitou a heterogeneidade de manifestações culturais de se agruparem e se reafirmarem em uma avalanche cultural global, ou seja, há uma articulação entre a cultura global de consumo através dos meios de comunicação da massa e o fortalecimento da cultura local e da diversidade como movimentos de resistência, em que não ocorre a destruição e sim a evolução dessas culturas, que não perderam a identidade e acabaram se consolidando em relação a outras manifestações. As interações sociais contemporâneas imersas em um contexto global hegemônico são marcadas também pelas resistências culturais, muitas vezes acompanhadas por conflitos, esses relacionados diretamente tanto com os direitos humanos quanto com as representações identitárias. As identidades, podem ser compreendidas como um conjunto de conhecimentos, de língua e demais aspectos culturais que permitem aos sujeitos reconhecer e estabelecer vínculos a certo grupo social e identificar-se com ele. Os. processos. de. resistências. culturais. assumem. posição. de. enfrentamento à globalização e ao interesse de grupos hegemônicos; são gerados pelas entidades da cultura popular, assim como são construídos a partir da articulação com seu entorno, no sentido de preservar a memória coletiva, constituindo elementos de identidade. Essas identificações resultam em reações defensivas em contraposição às condições impostas pelos sistemas políticos, ou pelas constantes transformações globais, ou ainda pelos processos de póscolonialismo e novos imperialismos produzidos pela modernidade tardia, como é o caso dos países da América Latina, da qual fazemos parte. Porém é importante destacar que resistir é, ao mesmo tempo, resultado de uma ação de opor-se, assim como um conjunto de estratégias utilizadas para defender uma posição,.

(35) 35. um lugar ou um conjunto de práticas culturais que estão em constante movimento na contemporaneidade. A ideia de que esses são lugares “fechados”- etnicamente puros, culturalmente tradicionais e intocados, até ontem pelas rupturas da modernidade – é uma fantasia ocidental sobre a “alteridade”: uma “fantasia colonial” sobre a periferia mantida pelo Ocidente, que tende a gostar de seus nativos “puros” e de seus lugares “intocados”. Entretanto as evidências sugerem que a globalização, está tendo efeitos em toda parte, incluindo o Ocidente e, a “periferia” também está vivendo seu efeito pluralizador. Embora num ritmo mais lento e desigual (HALL,2011, p.80).. A partir de uma dinâmica cultural, resistir pressupõe a capacidade que detém as mais diferentes culturas para defender os traços distintivos que as caracterizam. Isso implica a capacidade de articular e negociar estratégias variadas para manter-se viva, com ritmo, como um modo peculiar de ser e existir no tempo histórico assim como ser e existir no campo simbólico. Compreender a participação da cultura popular e seus distintos grupos e comunidades não se restringe a reconhecê-los como foram no passado, mas como vivem e tencionam suas relações no presente, da mesma forma que projetam melhores condições de vida no futuro. Como vimos, faz parte das características da cultura humana o acúmulo, não no sentido linear, mas no sentido de interação incessante de tradição e transformação, persistência e adaptações. Os meios de produção artesanais não desapareceram para ceder lugar aos meios de produção industriais. Da mesma forma que a cultura transmitida pelos meios de comunicação de massa promoveram mudanças de papéis, cenários sociais, a cultura de massa não erradicou as formas mais tradicionais da cultura. A cultura popular; mudou e/ou adaptou o modo de produzir e difundir.. 4. Identidades e culturas Em nossa realidade caracterizada pela globalização, verificamos os vínculos entre a cultura e a comunicação, assim como reforça-se o papel das.

(36) 36. identidades. Wolton apresenta o conceito de identidade a partir de duas dimensões: A identidade cultural refúgio, que traduz o recolhimento identitário ante a uma abertura ameaçadora, a tentativa de se opor a um mundo que não abre espaço. Formam-se então as evoluções possíveis, para o populismo ou para o nacionalismo; a identidade cultural relacional traduz, ao contrário, a capacidade de administrar simultaneamente a identidade e o elo com a comunidade internacional, a identidade e os valores democráticos. São duas maneiras coletivas de reagir à globalização da comunicação (WOLTON,2006, p. 231).. Ao mesmo tempo que observamos a padronização de gostos, comportamentos e costumes, verificamos também a negociação e a resistência de práticas culturais, colocando em questão as identidades culturais. Para Castells (2002), há uma diferença entre três formas e origens de configurações de identidades: a) identidade legitimadora: introduzida pelas instituições dominantes; b) identidade de resistência: criada por atores que se encontram em posições marginalizadas ou estigmatizada pela lógica de dominação de grupos hegemônicos; c) identidade de projeto: quando os atores sociais, utilizando-se de suas características culturais, constroem uma nova identidade capaz de redefinir sua posição na sociedade. Podemos dizer que a formação das identidades não depende somente do nascimento ou das escolhas realizadas pelos sujeitos, e sim são formadas a partir da realidade da onde se vive e se estabelecem suas relações sociais. No atual contexto global, não há como ignorar a forte relação entre o modelo econômico capitalista e a produção/consumo e perecibilidade de bens e serviços. A hegemonia está presente nos discursos e produtos midiáticos, sendo caracterizada pela capacidade de um grupo social unificar em torno de seu projeto político um bloco mais amplo não homogêneo, marcado por contradições de classe. O grupo ou classe que lidera este bloco é hegemônico e, muitas vezes, é organizado e estruturado com interesses unicamente mercadológicos e.

Referências

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