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Principais características do tribunal do júri no direito comparado

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA FRANCIELE PEREIRA

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO TRIBUNAL DO JÚRI NO DIREITO COMPARADO:

TRIBUNAL BRASILEIRO E NORTEAMERICANO

Tubarão 2011

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FRANCIELE PEREIRA

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO TRIBUNAL DO JÚRI NO DIREITO COMPARADO:

TRIBUNAL BRASILEIRO E NORTEAMERICANO

Monografia apresentada ao Curso de Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel.

Linha de pesquisa: Justiça e sociedade.

Orientador: Prof. Lauro José Ballock, Msc.

Tubarão 2011

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FRANCIELE PEREIRA

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO TRIBUNAL DO JÚRI NO DIREITO COMPARADO:

TRIBUNAL BRASILEIRO E NORTEAMERICANO

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovada em sua forma final pelo Curso de Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Tubarão, 16 de Junho de 2011.

_________________________________________________ Prof. e Orientador Lauro José Ballock, Msc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

__________________________________________________ Prof. Lester Marcantonio Camargo, Msc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

__________________________________________________ Prof. Lírio Hoffmann Júnior, Esp.

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Dedico este trabalho aos meus pais, Lauro e Sandra, aos meus irmãos, Jader e Aline e aos meus avós Nilda e Osmar, pelo incentivo, segurança e apoio incondicional durante o curso de graduação.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela minha vida, fonte de luz e sabedoria, por me dar a certeza de estar lutando por um ideal e por ter me dado amigos tão especiais, bem como uma família maravilhosa a quem sou devota eternamente.

A todos aqueles que de uma forma ou de outra contribuíram na jornada de elaboração deste Trabalho de Conclusão de Curso. Meus sinceros agradecimentos:

Aos meus pais, por terem me criado com caráter e dignidade, sempre me apoiando em minhas decisões, incentivo contínuo e apoio nos momentos de aflição;

Ao meu orientador Lauro José Ballock — grande balizador dos meus objetivos - pelo empréstimo de seus conhecimentos, tempo e dedicação na confecção deste trabalho;

A todos os professores que lecionaram no Curso de Direito Matutino da Universidade do Sul de Santa Catarina — dos quais tive o privilégio de ser aluna — pela sabedoria, dedicação e contribuição significativa na minha formação e construção de minha aprendizagem;

Aos companheiros de faculdade, pelo convívio salutar que empreendemos nestes anos e, para todos que de alguma forma caminharam comigo, expresso gratidão, saudade e a certeza de que terão em mim uma amiga;

Ao final, meus agradecimentos a toda a minha família, que simplesmente por existirem e estarem ao meu lado contribuíram para a conclusão deste trabalho.

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RESUMO

Pesquisa cujo objetivo é o estudo comparativo entre o Tribunal do júri brasileiro e norteamericano. Este trabalho visa a mostrar o surgimento e desenvolvimento do instituto na história dos dois países, bem como as principais características do instituto no tribunal americano e brasileiro, mostrando ainda o procedimento do júri nos modelos em questão. Mostrar-se-á também uma descrição sobre a atuação dos advogados, do Ministério Público e dos juízes perante tais tribunais, assim como uma análise quanto à escolha de jurados, à forma que se procede ao julgamento e ao veredicto nos dois modelos, não obstante a atuação dos jurados perante o júri. O presente estudo monográfico utilizou o método de procedimento comparativo e a técnica de pesquisa bibliográfica. Não se objetivou neste trabalho verificar qual modelo de júri é mais eficiente, mas tão somente fazer a comparação entre os institutos em questão. Os resultados indicam a existência de diversas similitudes e contradições entre os modelos em tela, as quais foram pontuadas e explicadas no decorrer do trabalho.

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ABSTRACT

Research whose purpose is the comparative study between brazilian jury court and north american jury court. This work aims to show the emergence and development of the institute on the story of both countries as well as the main features of the institute on brazilian and north american jury courts, showing the procedure of the jury on the models in question. Will be showed too one description about the performance of the lawyers, the prosecutor and the judges before such courts, as well as an analysis about the selection of jurors, the way it gives the trial and veredict on the two models, not nevertheless the performance of the jurors before the jury. Te point of this work was not verify what model of jury is more efficient, solely to make a parallel between this institutes concerned. The present monographic study used the comparative method of procedure and the bibliographic technique research. It was found lot similarities and contradictions between the models in question, wich was graded and explained during the work.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 09

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 09

1.2 JUSTIFICATIVA... 09

1.3 OBJETIVOS ... 10

1.3.1 Objetivo geral ... 10

1.3.2 Objetivos específicos... 10

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 11

1.5 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS ... 12

2 TRIBUNAL DO JÚRI BRASILEIRO... 14

2.1 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ORIGEM DO TRIBUNAL DO JÚRI ... 14

2.2 BREVE RETROSPECTIVA HISTÓRICA DO JÚRI NO BRASIL E SUA PREVISÃO NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS ... 17

2.3 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS ... 20

2.4 PROCEDIMENTO PROCESSUAL DOS CRIMES DE COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI... 24

2.5 ATUAÇÃO DO ADVOGADO ... 28

2.6 ATUAÇÃO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA... 29

2.7 ATUAÇÃO DO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO... 31

2.8 ATRIBUIÇÕES DO JUIZ PRESIDENTE ... 33

2.9 ATUAÇÃO DOS JURADOS ... 35

3 TRIBUNAL DO JÚRI NORTEAMERICANO ... 39

3.1 BREVE RETROSPECTIVA HISTÓRICA DO JÚRI NORTEAMERICANO ... 39

3.2 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E PROCEDIMENTO PROCESSUAL ... 41

3.3 ATUAÇÃO DO ADVOGADO ... 46

3.4 ATUAÇÃO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA... 47

3.5 ATRIBUIÇÕES DO JUIZ ... 48

3.6 ATUACÃO DOS JURADOS ... 50

4 ANÁLISE DOS INSTITUTOS: SIMILITUDES E CONTRADIÇÕES ... 52

4.1 SURGIMENTO DO JÚRI NO BRASIL E NOS ESTADOS UNIDOS ... 52 4.2 DIVERGÊNCIAS E SIMILITUDES NAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS

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DOIS MODELOS ... 53

4.3 DIVERGÊNCIAS E SEMELHANÇAS NO PROCEDIMENTO DO JÚRI NOS DOIS MODELOS...55

4.4 COMPARAÇÕES CIRCUNSTANCIAIS DOS PROFISSIONAIS ATUANTES NOS TRIBUNAIS DO JÚRI BRASILEIRO E NORTEAMERICANO — ADVOGADOS, PROMOTORES E JUÍZES ... 56

4.5 ATUAÇÃO DOS JURADOS NORTEAMERICANOS E BRASILEIROS... 58

5 CONCLUSÃO ... 61

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa a desenvolver um estudo comparativo das principais características atinentes ao Tribunal do Júri brasileiro e norteamericano. Não há pretensão de se fazer uma abordagem comparativa minuciosa e exaustiva centrada nas incontestáveis diferenças e semelhanças entre os tribunais em questão, mas tão somente abordar as principais características dos modelos em tela.

Gize-se que o estudo comparativo se ateve às informações constantes nas bibliografias encontradas/disponíveis, tendo em vista a escassez de obras referentes ao tema do tribunal do júri norteamericano ao alcance desta acadêmica.

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

O Tribunal do Júri é um tema de extrema relevância devido sua importante forma de realização da justiça pela sociedade. O instituto do júri concede ao réu a prerrogativa de ser julgado pelos seus pares. Devido tal importância, o sistema do Tribunal do Júri é abarcado por diversos países, divergindo entre um país e outro quanto ao seu procedimento, quanto à escolha de jurados, quanto aos crimes de sua competência, entre outras questões.

O trabalho em comento teve como delimitação as principais características do tribunal do júri no direito comparado, abordando o instituto somente no Brasil e nos Estados Unidos.

Ao concluir este estudo foi possível responder a principal questão que o envolveu, qual seja: Quais são as principais semelhanças e divergências encontradas no Tribunal do júri norteamericano e brasileiro?

1.2 JUSTIFICATIVA

O instituto do júri é considerado uma conquista dos cidadãos no exercício de seus poderes soberanos, pois a prerrogativa do julgamento pela população constitui uma forma de

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garantir os direitos fundamentais assegurados na Constituição. O tema a ser estudado encontra-se inserido no contexto global, político e jurídico da atualidade, uma vez que o tribunal do júri norteamericano está sempre em pauta na mídia - precipuamente em filmes.

Julga-se importante o estudo em questão devido a crescente globalização, a qual nos traz uma integração econômica, social, política e cultural, nos proporcionando o conhecimento não só de nosso país, mas também de outros.

O motivo que levou a ser escolhido o tema em comento foi a curiosidade desta estudante perante os filmes que abrangem o Tribunal do Júri norteamericano, em decorrência de serem constatadas diversas contradições com o modelo de júri brasileiro. Desta forma, a presente pesquisa trará maior visão do Tribunal do Júri brasileiro e norteamericano, sanando eventuais dúvidas concernentes aos institutos em tela.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Identificar as semelhanças e divergências existentes no Tribunal do Júri norteamericano e brasileiro.

1.3.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos da monografia são:

a) Fazer um estudo histórico acerca do Tribunal do Júri brasileiro e norte-americano;

b) Classificar as principais características atinentes aos modelos em questão; c) Analisar o procedimento processual dos crimes de competência do Tribunal do Júri no Brasil e nos Estados Unidos;

d) Descrever sobre a atuação dos advogados, dos juízes e do Ministério Público nos institutos em comento;

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e) Reconhecer as divergências e similitudes na atuação dos jurados norteamericanos e brasileiros;

1.4PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O método científico se caracteriza pela transição do estado de ignorância para o estado de conhecimento. Leonel e Motta (2007, p. 66) classificam os métodos em dois tipos, quais sejam, método de abordagem e de procedimento. Ademais, os autores explicam sobre tais métodos: “Enquanto o método de abordagem está relacionado ao pensar, os métodos de procedimento estão ligados ao fazer” (LEONEL; MOTTA, 2007, p. 72). Cumpre destacar que o presente trabalho utilizou como via de estudo o método de procedimento, mais precisamente o método comparativo, o qual está dentro deste último.

Foi utilizado o método de procedimento comparativo devido à natureza da pesquisa, a qual verificou as semelhanças e divergências entre os dois modelos de júri em questão.

Quanto ao tipo de pesquisa, esta pode ser classificada quanto ao nível, abordagem ou quanto ao procedimento (LEONEL; MOTTA, 2007, p. 92).

O estudo em tela, quanto ao nível, foi caracterizado como pesquisa descritiva, pois este apenas analisou, registrou e correlacionou os aspectos (variáveis), não os manipulando. Não se objetivou descrever neste trabalho se o Tribunal do Júri norteamericano possui maior ou menor eficácia que o Tribunal do Júri brasileiro, apenas se pretendeu expor os institutos analisando suas semelhanças e divergências.

Quanto à abordagem, as pesquisas geralmente são classificadas como quantitativas ou qualitativas (LEONEL; MOTTA, 2007, p. 105), entretanto o estudo em tela não pode se caracterizar como quantitativo ou qualitativo. Bicudo (2004, p. 104 apud LEONEL; MOTTA, 2007, p. 106) descreve acerca da abordagem quantitativa:

[…] nesta abordagem, é necessário utilizar sempre o recurso das representações gráficas, principalmente, na forma de tabelas, quadros e gráficos, a partir da aplicação de instrumentos como questionários, por exemplo, que contenham questões fechadas, a fim de facilitar a análise e interpretação dos dados.

Desta forma, pode-se vislumbrar a não caracterização desta pesquisa como quantitativa, uma vez que nela não foram utilizadas apresentações gráficas, tabelas ou quadros, bem como as variáveis não foram analisadas com base em recursos estatísticos.

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Quanto às pesquisas qualitativas, o caso em tela também não se enquadra, pois a abordagem qualitativa tem caráter exploratório, estimulando os entrevistados a pensarem livremente sobre algum tema, fornecendo ao pesquisador a possibilidade de interpretação dos dados (LEONEL; MOTTA, 2007, p. 108), o que não é o caso em questão.

Sendo assim, quanto à abordagem, o tema em questão não se classifica.

Já quanto ao procedimento utilizado na coleta de dados, foi classificado como pesquisa bibliográfica, pois segundo Leonel e Motta (2007, p. 112) “Pesquisa bibliográfica é aquela que se desenvolve tentando explicar um problema a partir das teorias publicadas em diversos tipos de fontes: livros, artigos, manuais, enciclopédias, anais, meios eletrônicos, etc.” Por conseguinte, pode-se concluir que o presente caso se enquadra na pesquisa bibliográfica, pois foram utilizados livros, artigos, meios eletrônicos, entre outros, para embasar o estudo.

Por derradeiro, a técnica utilizada na monografia em comento foi a leitura de livros, artigos, revistas e pesquisas em meio eletrônico.

1.5 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS

O desenvolvimento da monografia foi estruturado em três capítulos.

No primeiro capítulo foi abordado o Tribunal do Júri no Brasil de maneira que, primeiramente foi explanado sobre o histórico do instituto no mundo e em sequência descrito acerca da história do Tribunal do Júri no Brasil. Em um segundo momento foi exposto sobre as principais características atinentes ao modelo em questão, e em seguida, discorrido sobre o seu procedimento. Na sequência foi abordado sobre a atuação dos profissionais atuantes no Tribunal do Júri (advogados, promotores, assistentes de acusação e juízes) e, por derradeiro foi declarado acerca da atuação dos jurados no Tribunal do Júri brasileiro.

O segundo capítulo abrangeu o Tribunal do Júri norteamericano, sendo que primeiramente ficou exposto acerca da história do instituto nos Estados Unidos e num segundo momento explicitado sobre as principais características concernentes ao modelo em comento, bem como sobre o procedimento de referido modelo. Em seguida foi descrito sobre a atuação dos profissionais atuantes no Tribunal do Júri norteamericano (advogados, promotores e juízes) e ao final foi exposto acerca da atuação dos jurados no instituto em questão.

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O terceiro capítulo abarcou as similitudes e contradições entre o Tribunal do Júri brasileiro e norteamericano. Inicialmente foi exposto acerca do surgimento do júri no Brasil e nos Estados Unidos, em seguida foram explanadas as divergências e semelhanças das características principais dos dois modelos e, na sequência foram apontadas as divergências do Júri nos dois institutos. Por último foram descritas as comparações circunstanciais dos profissionais atuantes nos Tribunais do Júri brasileiro e norteamericano, bem como descrita a atuação dos jurados em ambos os tribunais.

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2 TRIBUNAL DO JÚRI BRASILEIRO

Neste capítulo será exposto acerca do Tribunal do Júri Brasileiro, iniciando pelas considerações sobre a origem de tal instituto no mundo, em seguida será feita uma breve retrospectiva histórica do júri no Brasil e sua previsão nas Constituições Brasileiras. Será explanado sobre as principais características atinentes ao modelo, bem como sobre o procedimento processual dos crimes de competência de tal instituto. Serão descritas também as atuações do advogado, do promotor de justiça, do assistente de acusação, bem como as atribuições do juiz presidente e dos jurados.

2.1 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ORIGEM DO TRIBUNAL DO JÚRI

Tem-se dúvida acerca do primitivo embrião do Tribunal do Júri, porém a maioria dos estudos sobre o surgimento deste instituto aponta que a propagação dele se deu em 1215 na Inglaterra. Na época, o Tribunal surgiu para julgar crimes praticados por bruxarias ou com caráter místico. Para isso, contava com a participação de doze homens da sociedade (PARENTONI, 2007).

Devido a tamanhas divergências doutrinárias acerca do tema em questão, Gomes e Sica (2005) apontam outra forma da origem de tal farol prenunciador da liberdade — dos gregos citam os diskates e dos romanos os judices juratis. Entretanto afirmam que apesar de ter a possibilidade de origem em outros países, foi na Inglaterra que obteve maior sucesso.

Ferreira (2007) afirma que o Tribunal do júri também teria se originado em Roma: “Outra esteira de pensamento aponta o surgimento deste instituto nos áureos tempos de Roma com os judices jurati, também na Grécia antiga existia a instituição dos diskates, podendo mencionar ainda os centeni comitês”. Segundo o autor, o sistema para julgamento era divido em dois conselhos, quais sejam, Heliéia e Areópago. Enquanto o Areópago julgava crimes de homicídios premeditados, a Heliéia julgava crimes de menor relevância.

Após a Revolução Francesa de 1789, o júri passou a ter repercussão em quase todos os países da Europa, excluindo apenas a Dinamarca e Holanda. Vale salientar que o surgimento do Tribunal na França deu-se com o objetivo de substituir um Judiciário formado

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predominantemente por magistrados vinculados à monarquia, por outro constituído pelo povo (NUCCI, 2008b, p. 42).

Apesar de o Tribunal do Júri ter ganhado grande força após a Revolução Francesa e suas idéias iluministas, não houve grande prestígio deste instituto nos países da Europa como foi dado pela Inglaterra. Desta forma, os tribunais de tais países transformaram-se em tribunais escabinados, em que juízes e jurados votavam para decidir (MOSSIN, 2009 apud SOUZA, 2009, p. 14).

Como se pode verificar há uma grande discussão doutrinária envolvendo a origem do Tribunal do Júri, mas se pode concluir que independentemente do lugar que ele tenha se originado, sempre manteve características religiosas, observando-se a preocupação de os julgamentos refletirem a vontade divina, bem como o número de doze jurados, o qual reflete os doze apóstolos de Jesus Cristo.

Apesar da dúvida em relação à verdadeira origem do Tribunal do Júri pelo mundo, tem-se a certeza do nascimento do Tribunal do Júri brasileiro, o qual teve como embrião o direito romano:

[...] originou-se, induvidosamente, em Roma, o embrião do tribunal popular, no segundo período evolutivo do processo penal (sistema acusatório), com a questio, órgão colegiado composto por cidadãos que representavam o populus (povo) romano. Era presidido pelo pretor, e cujas constituição e atribuições eram definidos em leges (leis), prévia e regularmente editadas (MARTINS, 2004, p. 146).

A quaestio que com o passar do tempo passou à denominação “quaestiones perpetuae” — por se tornar definitiva — foi a primeira espécie de jurisdição penal que Roma, em 149 a.C., conheceu. Esta era formada por um grupo de jurados os quais eram subordinados à presidência de um pretor (quaesitor). Os jurados eram cidadãos romanos que eram sorteados no começo de cada ano pelo pretor através de uma lista oficial. Inicialmente eram sorteados 100 (cem) jurados, os quais eram reduzidos a 50 (cinqüenta) na ocasião do julgamento (MARTINS, 2004, p. 147).

A questiones perpetuae era um tribunal elitista, no qual somente poderiam ser jurados os senadores. Ele foi criado para substituir os comícios populares e o Senado no julgamento de certos crimes. Por conseguinte, tornou-se uma divergência política entre a classe senatorial e a classe eqüestre (ARAÚJO; ALMEIDA, 1996, p. 15).

O presidente da questiones perpetuae tinha de ser magistrado e possuía como atribuições: examinar a acusação preliminarmente; decidir sobre a competência; receber o juramento das partes; escolher e convocar os jurados e por fim presidir as discussões e fazer a execução da sentença (MARTINS, 2004, p. 147).

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Os jurados sorteados e não recusados participavam de todo o procedimento e, ao final, se manifestavam acerca da condenação ou absolvição (MARTINS, 2004, p. 147).

Para a acusação, oferecia-se o libelo (postulatio petitio) o qual continha o crime imputado, bem como a legislação violada. Uma vez recebida a acusação, a postulatio petitio era guardada no erário público, aguardando julgamento. O nome do acusado era mantido em uma tábua, para ser retirado somente após sua absolvição. Este sofria várias limitações, as quais não se veem mais atualmente, tais como manter seu cabelo e barba incultos, não poder fazer doações e alienações e, não bastasse, ser discriminado por sua classe (MARTINS, 2004, p. 148).

Após a citação do acusado, se este não comparecesse, seus bens eram confiscados. Comparecendo, a interrogação se iniciava. Caso houvesse confissão do crime, o julgamento acabava como réu convicto. Não havendo confissão, o pretor determinava o comparecimento em juízo do acusado e do acusador após o prazo de 30 (trinta) dias, tempo suficiente para a colheita de provas. O acusado, durante este período, era mantido em liberdade, sendo preso provisoriamente somente no caso de crime grave, e poderia ainda livrar-se solto, se fiéis abonadores o contemplassem com garantias (MARTINS, 2004, p. 148).

Após o prazo de 30 (trinta) dias, com o comparecimento do acusado e acusador, a este era dada a palavra e somente após o acusado poderia se manifestar. As manifestações eram a princípio feitas pelos interessados, mas, com o tempo, eram aos patronos constituídos que era dada esta tarefa. Existiam três tipos de provas: as documentais (per tabulas), as testemunhais (per testes) e as demais provas eram chamadas de per questiones (MARTINS, 2004, p. 148).

Por fim, passava-se à votação do presidente, que absolvia, condenava ou declarava sem evidências (non liquet). Ao declarar sem evidências, significava a necessidade de uma instrução mais ampla (MARTINS, 2004, p. 148).

Com a verificação dos votos pelos iudices iurati (jurados), o presidente apurava a votação, proclamando o resultado do julgamento, absolvendo, condenando ou alargando a instrução (MARTINS, 2004, p. 148).

Finalmente, em caso de absolvição, instaurava-se um processo contra o acusador. Havendo condenação, o julgamento era executado, conforme o que estava determinado na lei, e no caso de non liquet, a causa era remetida a uma instrução mais ampla. Por fim, a sentença era emitida, e somente seria revista por um magistrado superior em casos graves e excepcionais (MARTINS, 2004, p. 148).

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Como se pode verificar, as quaestiones dos tempos remotos romanos são muito parecidas com o instituto do Tribunal do Júri brasileiro atual, visto que dos jurados escolhidos era exigida notória idoneidade, bem como havia a recusa imotivada de jurados, a igualdade no método de votação, no ritual dos jurados e, ainda, no método da maioria dos votos, na exigência da soberania dos veredictos, na mesma peculiaridade de atuação do juiz presidente, entre outras (MARTINS, 2004, p. 149).

2.2 BREVE RETROSPECTIVA HISTÓRICA DO JÚRI NO BRASIL E SUA PREVISÃO NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

Em 18 de junho de 1822 criou-se no Brasil o Tribunal do Júri, por decreto do Príncipe Regente, atendendo ao fenômeno de propagação da instituição corrente em toda a Europa (NUCCI, 2008a, p. 184).

Primeiramente, o júri em nosso país tratava somente de crimes de abuso da liberdade da imprensa, e este era composto por 24 (vinte e quatro) jurados, todos cidadãos bons, honrados, inteligentes e patriotas (BORDIGNON, 1986, p. 18). Se houvessem decisões passíveis de revisão, estas seriam apreciadas somente pelo Príncipe Regente (NUCCI, 2008a, p. 184). Os jurados eram nomeados pelo Corregedor e Ouvidores do crime, e a requerimento do Procurador da Coroa e Fazenda, que atuava como promotor e fiscal dos delitos. Vale ressaltar que os réus podiam recusar dezesseis dos vinte e quatro nomeados (NOGUEIRA, 1995 apud BORBA, 2002).

A primeira Constituição brasileira, de 1824, única Constituição do Império, situou o Tribunal do Júri no capítulo o qual tratava do Poder Judiciário e não no concernente aos direitos e garantias individuais. Nesta Constituição, conforme o artigo 151, o Poder Judiciário seria independente e formado de juízes e jurados, que julgariam tanto casos criminais quanto civis. O artigo 152 dispunha que os jurados pronunciam sobre os fatos e os juízes sobre o direito (PARENTONI, 2007).

Cumpre ressaltar que, na Constituição de 1824, não havia qualquer conotação do Júri ser um direito ou uma garantia fundamental (NUCCI, 2008a, p. 184).

Com a Proclamação da República, o júri foi mantido no Brasil, com o advento da Constituição de 1891, passando a integrar a Seção II, Título IV, a qual cuidava da declaração

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de direitos. Ainda, em 1890, foi criado o júri federal, através do Decreto 848 (NUCCI, 2008b, p. 43).

O novo status do júri deu-se graças a Rui Barbosa, defensor inconteste da instituição. No artigo 72, parágrafo § 31 ficou declarado “É mantida a instituição do júri”. Devido a restarem ausentes outras características concernentes ao júri, em 1899, ao STF coube a tarefa de ordená-las: composição do júri por jurados qualificados periodicamente por autoridades; conselho de sentença escolhido aleatoriamente; incomunicabilidade dos jurados em relação a terceiros estranhos ao conselho; julgamento conforme a consciência e irresponsabilidade pelo voto fornecido (NUCCI, 2008a, p. 184).

Em 16 de julho de 1934, foi promulgada a Constituição de 1934, que voltou a inserir o júri no capítulo referente ao Poder Judiciário em seu artigo 72 (setenta e dois) (NUCCI, 2008b, p. 43). Este capítulo confiou ao legislador não só a organização do Júri, mas também suas atribuições (MARTINS, 2004, p. 158).

O advento da Constituição do Estado Novo de 1937 trouxe uma omissão acerca da instituição do júri. Tal Carta levou os inimigos do júri a suporem que fora banido do ordenamento jurídico como garantia constitucional, mercê da indisfarçada ditadura em que mergulhara o país na época (BORDIGNON, 1986, p. 19). Entretanto, com o decreto 167/38, foi admitida a reforma das decisões populares, caso estas fossem divergentes às provas dos autos, e isto trouxe significativa mudança para o instituto (TUBENCHLAK, 1990 apud MARTINS 2004, p. 158). Neste decreto ficaram estabelecidos quais crimes seriam julgados pelo júri, quais sejam: homicídio; infanticídio; induzimento ou auxílio ao suicídio; duelo com resultado morte ou lesão seguida de morte; roubo seguido de morte e sua forma tentada. Vale salientar que não havia ainda a soberania dos veredictos (NUCCI, 2008a, p. 184).

O retorno à democracia teve seu marco com a Constituição de 1946, a qual inseriu novamente o júri entre os direitos e garantias fundamentais. Em seu artigo 141, § 28, a Constituição explanava:

É mantida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, contanto que seja ímpar o número dos seus membros e garantido o sigilo das votações, a plenitude da defesa do réu e a soberania dos veredictos. Será obrigatoriamente de sua competência o julgamento dos crimes dolosos contra a vida (NUCCI, 2008a, p. 184).

Observa-se a semelhança com a Carta Magna vigente atual.

Na Constituição de 1967, produzida sob o regime militar, manteve-se o júri no capítulo dos direitos e garantias individuais em seu artigo 150, § 18, bem como a Emenda Constitucional de 1969 fez o mesmo. Porém, nesta última Carta, não ficou mantida a

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soberania dos veredictos, o sigilo das votações ou até mesmo a plenitude da defesa, mas tão somente a declaração da competência para os crimes dolosos contra a vida (NUCCI, 2008a, p. 185).

A Emenda Constitucional nº 1 de 17 de outubro de 1969, já referida, manteve o júri no Título II (Da Declaração de Direitos), Capítulo IV (Dos Direitos e Garantias Individuais) em seu artigo 153, § 18. No que tange às mudanças da Constituição de 1967, a Emenda de 69 trouxe pequenas modificações no que concerne aos direitos e garantias individuais, entretanto, previu a possibilidade de condicionar o exercício da não exclusão da apreciação de lesão do direito individual pelo Poder Judiciário, ao prévio esgotamento das vias administrativas (NUCCI, 1999, p. 43).

Findo o período militar no Brasil, que perdurou até 1985, promulgou-se a Constituição de 1988, preocupada em restaurar tudo o que foi suprimido pela Constituição de 1967. No que diz respeito ao júri, utilizou-se das características apresentadas na Constituição de 1946, e em seu Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais), Capítulo I (Dos Direitos e deveres individuais e coletivos), artigo 5º, inciso XXXVIII, preconizou: “É reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida” (NUCCI, 1999, p. 43).

2.3 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

O regimento do Tribunal do Júri brasileiro vem sendo feito através da Lei Processual Penal nº. 3.689/41. Recentemente foi feita a reforma do Código de Processo Penal e através da Lei n. 11.689/08 foi modificada a estrutura do júri, tornando-o mais célere.

O júri no Brasil é constituído como um direito e garantia fundamental por ser previsto no inciso XXXVIII do art. 5º da CF/88 (BRASIL, 2006, p. 9). Existem direitos e garantias formais e materiais. Estes são aqueles universalmente aceitos, como se fossem direitos supraestatais, direitos estes intrínsecos do ser humano, como o direito à vida, a liberdade, a dignidade. Já os formais, são aquelas posições subjetivas dos indivíduos, previstas na Constituição, ainda que não sejam denominadas como fundamentais (NUCCI, 2008b, p. 38). O Tribunal do Júri segundo a doutrina majoritária é considerado um direito ou

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garantia fundamental de caráter formal, mas não é por o ser que deve se dar menor credibilidade ao instituto (NUCCI, 2008a, p. 185).

Inerente explanar que o júri em nosso país é considerado cláusula pétrea, não podendo ser modificado sequer por Emenda Constitucional. Ele constitui um direito cívico dos cidadãos fazerem parte do Poder Judiciário, ainda que, momentaneamente, julgando seus pares. Ao júri é declarado o princípio do devido processo legal, para avaliar se no decorrer do julgamento o acusado vai ou não ser punido.

Os delitos de competência do júri no Brasil são somente os crimes dolosos contra a vida — consumados ou tentados — quais sejam: homicídio, infanticídio, aborto, induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio. Tal competência se encontra no § 1º do art. 74 do Código de Processo Penal (BRASIL, 2009, p. 36).

Convém retratar que o modelo brasileiro possui quatro princípios constitucionais, que necessitam ser obrigatoriamente respeitados: plenitude da defesa, sigilo das votações, soberania dos veredictos e competência para os julgamentos dos crimes dolosos contra a vida (NUCCI, 2008b, p. 24).

O primeiro princípio consta na alínea “a” do inciso XXXVIII, do art. 5º da Carta Magna, e segundo Mendonça (2009, p. 2), diz respeito à ampla defesa potencializada, podendo o advogado, para a defesa do réu, utilizar-se inclusive de argumentos extrajurídicos (éticos, religiosos, morais, etc.). O autor ainda declara:

O referido princípio vai além da garantia da ampla defesa. Uma demonstração disto é que o juiz presidente deve dissolver o Conselho de Sentença em razão do desempenho insuficiente do advogado. Outro exemplo, agora expresso na reforma, é que o juiz presidente deve considerar tanto a autodefesa quanto a defesa técnica no momento de formular os quesitos.

Aduz Campos (2008, p. 35), que o mais justo seria exigir-se a plenitude de desempenho não só do advogado, mas também do promotor, protagonistas do procedimento do júri. O autor ressalta que “tão trágico quanto um réu inocente ou não tão culpado ser condenado por insuficiência do defensor, é um acusado facínora ser absolvido ou ter sua pena minorada injustamente por incúria do promotor”.

Ademais, convém observar que em decorrência da plenitude da defesa podem ocorrer abusos de direito que trazem desvantagem para o trabalho da promotoria na acusação do réu:

Como é cediço, a preparação da sessão plenária é o momento adequado de as partes apresentarem o rol das testemunhas que pretendem ouvir durante o julgamento. Entretanto, avente-se a hipótese de o acusado trazer, no dia da sessão, uma testemunha fundamental em sua defesa. O juiz presidente poderá, em nome da

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plenitude de defesa, admitir a oitiva daquele indivíduo, ainda que seu ingresso no feito processual tenha-se dado, como dito, de forma extemporânea (OLIVEIRA, D. 2009).

Tal encargo não poderia ser concedido ao Promotor, pois somente é assegurada a plenitude da defesa e não da acusação.

Inerente explanar que o princípio da plenitude da defesa encontrou maior respaldo com a extinção do libelo acusatório pela Lei 11.689/08, uma vez que não é mais passada aos jurados tal peça feita pela acusação, que poderia retratar uma parcialidade favorável à acusação no que tange a decisão dos jurados. Atualmente, somente é permitido ao juiz fazer a fundamentação da decisão de pronúncia, a qual é repassada aos jurados em plenário para que estes leiam e formem seu convencimento. Prudente salientar que tal pronúncia deve ser a mais específica possível, devendo o juiz se abster de eventuais manifestações pessoais acerca do caso (NUCCI, 2008b, p. 102).

O segundo princípio — sigilo das votações — consta da alínea “b” dos referidos inciso e artigo. Tal princípio visa a proteger os jurados de eventuais perseguições diante de sua votação, assegurando o sigilo dela. Explana Mendonça (2009, p. 3), sobre o princípio: “Para tanto, existe a sala secreta, com os corolários que dela decorrem, e a incomunicabilidade entre os jurados”.

No que tange à sala secreta, segundo Nucci (2008b, p. 29), há uma discussão doutrinária e jurisprudencial acerca da constitucionalidade desta, em razão do princípio da publicidade estar sendo ferido. Porém, o próprio texto constitucional declara que é possível limitar a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social ou público assim exigirem.

O princípio da soberania dos veredictos, constante na alínea “c”, diz respeito a juízes togados não poderem substituir os jurados na decisão da causa. O mérito do julgamento é por completo dos jurados, não podendo ter revisão quanto à decisão destes. Em contrapartida, existem algumas exceções, como a possibilidade de revisão criminal e a da absolvição sumária, as quais são analisadas por juízes (MENDONÇA, 2009, p. 3).

Por último, a alínea “d” do inciso e artigo supracitado conferiu ao júri a competência mínima para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. Declara Mendonça (2009, p. 3) que “é possível que a lei amplie a competência do júri, mas nunca a restrinja”. Não obstante, já existe uma hipótese de ampliação constante no artigo 78, inciso I, do Código de Processo Penal, a qual prevê a competência do Júri para o julgamento dos crimes conexos aos dolosos contra a vida.

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Os crimes dolosos contra a vida estão dispostos no Capitulo I, (Crimes contra a vida), do Título I (Dos crimes contra a pessoa), da Parte Especial do Código Penal. Nele estão expostas as várias formas de homicídio no caput e parágrafos do artigo 121, bem como o induzimento, instigação ou auxilio ao suicídio no artigo 122, o infanticídio no artigo 123 e as diversas modalidades de aborto constam nos artigos 124, 125, 126 e 127 (BRASIL, 2007, p. 74).

Cumpre ressaltar sobre os crimes dolosos contra a vida que serão julgados por Júri Federal: a) crimes praticados por servidores públicos ou agentes da administração pública quando, no exercício de suas funções, tais ações refletirem no interesse da administração federal; b) casos em que se enquadrarem no disposto no inciso XXXVIII do art. 5º, e 109 da Constituição Federal, bem como o que dispõe o art. 4º do Dec.-Lei nº. 253/67, ou seja, crimes da competência do Júri, que sejam cometidos em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas; c) crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar; d) crimes dolosos contra

a vida envolvendo indígenas — art. 22, XIV da Constituição Federal (NASSIF, 2009, p. 26). Outra característica circunstancial do Tribunal do Júri brasileiro é a questão do

desaforamento:

O desaforamento é o ato por meio do qual se dá a alteração da competência territorial para o julgamento pelo Tribunal do Júri, submetendo-o a um foro estranho ao do delito, em razão da ocorrência de um dos fatores previstos em lei. Trata-se de situação excepcional, por afastar o acusado do julgamento perante o distrito da culpa e pelas pessoas da localidade, razão pela qual deve ser devidamente justificada pelas circunstâncias, sob pena de nulidade (MENDONÇA, 2009, p. 43).

As hipóteses do desaforamento constam nos artigos 427 e 428 do Código de Processo Penal Brasileiro, sendo estas: a) interesse da ordem pública; b) dúvida sobre a imparcialidade dos jurados; c) segurança pessoal do acusado; d) demora no julgamento em razão de excesso de serviço comprovado (MENDONÇA, 2009, p. 43).

Outro quesito importante que vale informar é a questão da possibilidade de Revisão Criminal no ordenamento jurídico brasileiro. O inciso XXXVI do art. 5º da Magna Carta expõe acerca da coisa julgada. Uma vez transitada em julgado a sentença, opera-se a coisa julgada. Trata-se de exigência fundamental à segurança jurídica (CUNHA; GOMES; PINTO, 2008, p. 254).

Porém no processo penal, por se tratar da liberdade do indivíduo, há uma incessante busca pela verdade real. Descobrindo-se tal verdade, é possível a abertura do processo novamente para discussão, e é nesta ocasião que surge a revisão criminal, para sobrepor a verdade real sobre a verdade formal. Não seria prudente, por exemplo, que o réu

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fosse definitivamente condenado pela pratica de um homicídio, se a vitima aparecesse viva. Neste cerne é que se substancia a referida revisão criminal, para correção de erro do Poder Judiciário (CUNHA; GOMES; PINTO, 2008, p. 255).

Existe entendimento quase pacífico na jurisprudência acerca da possibilidade da revisão criminal no Tribunal do Júri brasileiro (STF: Boletim IBCCrim 6/11; RT 804/551, 753/641, 677/341, 594/372). Entretanto, há doutrina que afirma que a soberania dos veredictos é dogma constitucional, não tendo lugar a revisão criminal (CUNHA; GOMES; PINTO, 2008, p. 255).

Em contrapartida, o direito à liberdade também se encontra na Constituição, razão pela qual se admite a revisão criminal no Tribunal do Júri (CUNHA; GOMES; PINTO, 2008, p. 255).

Por derradeiro, convém explanar acerca da adoção pelo Tribunal do Júri brasileiro, a partir do advento da Lei nº 11.689/09, do sistema cross examination. Tal sistema consiste na argüição direta das testemunhas pela parte contrária. Viana (2009) opina acerca da relevância do cross examination:

[...] de importância fundamental à apuração da verdade real, ao possibilitar que o tribuno, inquirindo com técnica a testemunha, consiga que ela, não tendo tempo para inventar uma resposta entre a pergunta da parte e sua reformulação pelo juiz, deixe, se for o caso, cair a máscara, revelando, de um jeito ou de outro, o que sabe de verdade sobre os fatos e, ao mesmo tempo, seu caráter, sendo ambos, com certeza, bem auscultados pelo estetoscópio da vida dos jurados.

Desta maneira, vislumbra-se a importância do sistema chamado cross examination.

2.4 PROCEDIMENTO PROCESSUAL DOS CRIMES DE COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI

O Procedimento do Júri é disciplinado pelos arts. 406 a 493 do Código de Processo Penal Brasileiro. Há quem diga que o procedimento do Tribunal do Júri brasileiro seja trifásico, como o autor Nucci, porém a corrente majoritária é de que ele seja bifásico, corrente esta a qual será mais bem explicada no presente trabalho.

A Lei nº 11.689/08 trouxe mudanças também para o procedimento do júri, o qual antes era chamado de processo, denominação esta incorreta. Sobre o assunto, da mesma forma expõe Mendonça (2009, p. 4):

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Como é sabido, processo e procedimento são conceitos que não se confundem. O processo é formado pela relação jurídica e pelo procedimento, sendo este último o conjunto ordenado e concatenado de atos procedimentais visando à prolação de uma sentença. Assim quando a redação original falava em processo, estava, em verdade, tratando de procedimento.

Ademais, a primeira fase do procedimento do júri antes do advento da Lei nº 11.689/08 era regida pelo procedimento ordinário, por outro lado, após o surgimento da referida lei, a primeira fase ficou muito semelhante ao procedimento comum (MENDONÇA, 2009, p. 4).

No tocante ao procedimento bifásico/escalonado, este se divide em Juízo de Acusação ou Sumário de Culpa (iudicium accusationis) e Juízo da causa (iudicium causae). A primeira fase inicia-se com a denúncia ou queixa e finda com a preclusão da decisão de pronúncia. Na segunda fase julgar-se-á a causa no mérito, pelos jurados (TASSE, 2008, p. 39).

A fase do Juízo de acusação está disciplinada pelos artigos 406 a 421 do Código de Processo Penal. Tal fase se inicia com o acolhimento da denúncia ou queixa, da qual o juiz mandará citar o acusado para responder em até 10 (dez) dias. Não apresentada a resposta, o juiz nomeará um defensor, o qual terá 10 (dez) dias para responder à acusação. (BRASIL, 2009, p. 79). A acusação e a defesa poderão arrolar até oito testemunhas, não contadas neste número as referidas e as que não prestem compromisso (SILVA, 2008, p. 88). Convém ressaltar que se o magistrado rejeitar o recebimento da denúncia ou queixa, caberá recurso em sentido estrito, conforme inciso I do artigo 581 do Código de Processo Penal (BRASIL, 2009, p. 105).

Com a denúncia aceita e feita a citação do acusado, o réu poderá apresentar resposta à acusação, tendo a possibilidade de requerer e apresentar em tal resposta: preliminares; documentos e justificações; especificar as provas pretendidas; arrolar testemunhas; requerer esclarecimentos dos peritos e indicar assistentes técnicos; requerer a disponibilização de material probatório que serviu de base para a perícia (CAMPOS, 2008, p. 327). As exceções, conforme o artigo 407 do Código de Processo Penal, serão processadas em apartado (BRASIL, 2009, p. 79).

Após os requerimentos e alegações, o juiz irá despachar determinando a inquirição das testemunhas e diligências, no prazo de 10 (dez) dias (CAMPOS, 2008, p. 327). Na audiência de instrução, a ordem desta é a seguinte: a) serão tomadas as declarações do ofendido (se possível); b) será feita a oitiva das testemunhas arroladas pela acusação; c) proceder-se-á a oitiva das testemunhas arroladas pela defesa; d) proceder-se-ão

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aos esclarecimentos do perito; e) serão feitas acareações e reconhecimento de pessoas e coisas e acontecerá o interrogatório; f) por fim, proceder-se-á aos debates (CAMPOS, 2009, p. 327).

Nas alegações finais, a acusação terá 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez) minutos, bem como a defesa. Entretanto o assistente de acusação terá 10 (dez) minutos. A decisão poderá se dar em audiência ou no prazo de 10 (dez) dias. Convém salientar que se houver mais de um acusado, o tempo para a acusação e a defesa será individual (TASSE, 2008, p. 47).

O prazo para conclusão do procedimento é de 90 (noventa) dias, sendo que no final o magistrado dará a sentença de pronúncia, impronúncia, absolvição sumária ou desclassificação. Antes da nova lei do júri, tinha-se dúvida acerca de quando se encerraria o prazo para conclusão do procedimento. Porém, com o novo procedimento, vislumbra-se a clareza acerca de antiga imprecisão:

Com a nova redação, porém, quebra-se o paradigma desse marco com clareza elogiável: tem-se agora 90 dias para o término do procedimento. Ou seja, tem-se agora 90 dias para que o magistrado profira a decisão que encerra a primeira fase. Não se trata de prazo para que os autos sejam levados à conclusão do magistrado, mas de prazo para que efetivamente seja proferida decisão, visto que somente com a decisão é que será concluída a primeira fase do procedimento (DEZEM; JUNQUEIRA, 2008, p. 30).

A decisão de pronúncia ocorre quando o juiz se convence da existência de prova da materialidade do fato e de indícios suficientes de autoria ou participação. A de impronúncia quando o magistrado não se convence da materialidade do fato ou da existência de indícios de autoria. Já a desclassificação ocorre quando o juiz se convence da existência de crime diverso que não seja da competência do júri. No entanto, a absolvição sumária acontece nas hipóteses do artigo 415 do Código de Processo Penal: a) quando está provada a inexistência do fato; b) quando está provado não ser o réu autor ou partícipe do fato; c) quando o fato não constituir infração penal; d) quando demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão de crime (CAMPOS, 2009, p. 328).

No que concerne ao item “d” supracitado, não poderá o juiz absolver o acusado por inimputabilidade se houver outra tese defensiva, conforme parágrafo único do artigo 415 do Código de Processo Penal (CAMPOS, 2009, p. 328).

Contra a decisão de absolvição sumária ou de impronúncia caberá o recurso de apelação, conforme artigo 416 do Código de Processo Penal. Outrossim, contra a sentença de pronúncia ou desclassificação caberá recurso em sentido estrito, conforme caput e inciso IV do artigo 581 do Código de Processo Penal (CUNHA; GOMES; PINTO, 2008, p. 65).

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A segunda fase do rito do júri, consubstanciada pelos artigos 422 a 424 e 453 a 493 do Código de Processo Penal, se inicia com o trânsito em julgado da decisão de pronúncia. Por conseguinte, é feita intimação do Ministério Público ou do querelante e do defensor para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentar rol de testemunhas que irão depor em plenário (agora são no máximo cinco), juntar documentos, requerer diligências e esclarecimentos dos peritos (CAMPOS, 2008, p. 329).

Após manifestação das partes referidas, o juiz despachará: a) decidindo a respeito das provas requeridas; b) ordenando diligências para sanar nulidades ou para esclarecer fatos; c) redigindo relatório do processo; d) designando data para o julgamento em plenário (CAMPOS, 2008, p. 329).

A abertura da sessão em plenário começa com o juiz presidente do Tribunal do Júri decidindo a respeito dos casos de isenção, escusas e dispensa dos jurados, sendo que os jurados somente serão dispensados por decisão motivada do juiz, conforme o disposto no artigo 444 do Código de Processo Penal. Após, o juiz resolverá quanto ao pedido de adiamento da sessão. Na sequência, o magistrado verificará a presença das partes, do acusado e das testemunhas e, por final, observará se a urna contém as cédulas com os 25 jurados sorteados (CAMPOS, 2008, p. 329).

Para dar início à instalação de trabalhos, o juiz deve verificar se há o quorum mínimo de jurados, qual seja, o número de 15 jurados. Verificando que não ocorreu o quorum mínimo, conforme artigo 464 do Código de Processo Penal, o magistrado encerrará a sessão e sorteio dos suplentes, designando-se nova data para o julgamento (CAMPOS, 2008, p. 329).

Em contrapartida, observando o estabelecimento do quorum mínimo, o juiz iniciará os trabalhos em sessão, conforme artigo 463 do já referido Código, anunciando o processo. Após, o Oficial de Justiça fará o pregão das partes e testemunhas. Por derradeiro, o juiz advertirá aos jurados quanto aos impedimentos, suspeição e incompatibilidade, além do dever da incomunicabilidade (CAMPOS, 2008, p. 329).

Por fim se procederá ao sorteio dos 7 (sete) jurados para o Conselho de Sentença. Cabe salientar que, além das recusas justificadas por suspeição, impedimento, ou incompatibilidade, as partes poderão recusar imotivadamente até 3 (três) jurados, conforme artigo 468 do Código de Processo Penal (CAMPOS, 2008, p. 330).

Após o sorteio, poderá ocorrer o “estouro de urna”, que consiste na falta do número de jurados para que se forme o Conselho de Sentença. Este fenômeno ocorre em decorrência de impedimento, suspeição, incompatibilidade ou recusa de todos os jurados sorteados (CAMPOS, 2008, p. 330).

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Não ocorrendo o “estouro de urna” formar-se-á o conselho de sentença e o juiz advertirá os jurados de seu compromisso, conforme o disposto no artigo 472 do Código de Processo Penal. Em concordância com o artigo 472 do mesmo Código, o magistrado entregará aos jurados cópia da decisão de pronúncia e de relatório do processo (CAMPOS, 2008, p. 330).

Prosseguindo com a sessão, ocorrerá a instrução em plenário, disciplinada pelos artigos 473 a 475 do Código de Processo Penal. A ordem da instrução se procederá da seguinte forma: a) Declarações do ofendido, se possível; b) oitiva das testemunhas arroladas pela acusação; c) oitiva das testemunhas arroladas pela defesa; d) acareações; e) reconhecimento de pessoas ou coisas; f) esclarecimento dos peritos; g) leitura das peças; h) interrogatório do acusado. Mister notar que o interrogatório do acusado após o advento da Lei 11.689/08 passou a ser ao final das outras produções de provas. Por derradeiro, ocorrerão os debates, que serão feitos primeiramente pela acusação (1h30min), após defesa (1h30min), e réplica e tréplica por 1h para cada parte (CAMPOS, 2008, p. 330).

Cabe ressaltar que havendo mais de um réu, o tempo para a acusação e defesa será acrescido de uma hora, bem como para a réplica e tréplica. Em havendo mais de um acusador ou defensor, estes deverão organizar o tempo em consenso e, na falta deste, o juiz decidirá por eles (CAMPOS, 2008, p. 331).

Na preparação para o julgamento, o juiz indagará aos jurados se estão habilitados a julgar e prestará esclarecimentos, se forem solicitados. Se solicitarem, os jurados terão acesso aos autos bem como ao instrumento do crime. O juiz, em seguida, lerá os quesitos e indagará às partes se têm requerimentos ou reclamações para fazer, bem como explicará aos jurados o significado de cada quesito. Em havendo diligência necessária e que não possa ser feita em plenário, o juiz dissolverá o Conselho de Sentença, ordenando a realização das medidas necessárias (CAMPOS, 2008, p. 331).

Por fim, o julgamento se dará conforme os ditames dos artigos 485 a 491 do Código de Processo Penal. Os Jurados poderão proceder com decisão condenatória, absolutória ou desclassificatória, sendo que todas terão publicação em plenário, conforme artigo 493 do CPP. Proferida sentença condenatória, o juiz fixará a pena conforme inciso I do artigo 492 do CPP. Em havendo absolvição, as atribuições do juiz constam do mesmo artigo, inciso II. Se for decidido pela desclassificação do crime pelo Tribunal do Júri, poderá ocorrer a absolvição, a condenação, ou aplicação dos Institutos da Lei nº. 9.099/95 e parágrafo 1º do artigo 492, do Código de Processo Penal (CAMPOS, 2008, p. 331).

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No tocante ao procedimento trifásico, no entendimento de Nucci, a fase de preparação para o plenário deveria ser autônoma, tendo desta forma o Tribunal do Júri 3 (três) fases (NUCCI, 2008b, p. 46). Entretanto, o presente trabalho adotou o procedimento bifásico, sendo este a corrente majoritária na doutrina.

2.5 ATUAÇÃO DO ADVOGADO

Primeiramente prudente expor que para ser advogado no Brasil, precisam-se preencher os requisitos do art. 8º do Estatuto da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), quais sejam:

I – capacidade civil; II – diploma ou certidão de graduação em direito, obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada e credenciada; III – título de eleitor e quitação do serviço militar, se brasileiro; IV – aprovação em Exame da Ordem; V – não exercer atividade incompatível com a advocacia; VI – idoneidade moral; VII – prestar compromisso perante o Conselho (BRASIL, 2008, p. 22).

O advogado de um Júri pode ser nomeado pelo juiz ou constituído pelo próprio réu. No caso da nomeação, atuará na defesa o advogado dativo, na falta de defensoria pública atuante no Estado. A defensoria pública consiste em advogado concursado integrante dos quadros estatais (NUCCI, 2008b, p. 149).

A tarefa da defesa no Tribunal do Júri é trabalho árduo, devido à plenitude da defesa consagrada na alínea “a” do inciso XXXVIII do art. 5º da Carta Magna. Tal plenitude confere ao defensor o dever de uma defesa que paira à perfeição, respeitadas obviamente as limitações do ser humano. Expõe Nucci (2008b, p. 149) sobre a força normativa concedida ao advogado: “Fazer valer essa força normativa é um desafio, pois implica, muitas vezes, em confrontar com o órgão acusatório, de modo veemente, porém respeitoso, além de buscar, com insistência, formar o convencimento do juiz presidente”.

Cabe destacar que as prerrogativas do advogado para defender o seu cliente somente ganham brilho se forem bem utilizadas, em prol de uma boa atuação, respeitando-se tanto o juiz presidente quanto as demais partes do processo (NUCCI, 2008b, p. 151).

Sobre a atuação do advogado na Tribuna, explana Nucci (2008b, p. 152):

Atuar na tribuna da defesa, no Tribunal do Júri, é missão peculiar e realmente destacada, pois demanda conhecimento jurídico seguro, flexibilidade para o trato com outras pessoas, didática particular para expor idéias, frieza para enfrentar, diante do público, revezes inesperados, estrutura emocional para defender o cliente, sem ultrapassar as fronteiras da ética profissional, agilidade no raciocínio para que as impugnações orais, inscritas em ata, sejam imediatamente promovidas, quando

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falhas se apresentarem, firmeza para sustentar as prerrogativas do advogado, sem avançar para o campo do desrespeito e da ofensa.

Desta forma, acima de somente querer atuar como advogado no Tribunal do Júri, este deve estar vocacionado.

2.6 ATUAÇÃO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA

Em nosso país, o Ministério Público, também chamado de Parquet, veio a ser institucionalizado com a Constituição de 1934. Tal instituto teve seu cerne em Portugal, porquanto o direito pátrio buscou seu alicerce nas Ordenações do direito lusitano, que por sua vez obteve influência da Itália e da França (D’ANGELO; D’ANGELO, 2005, p. 73).

A sociedade em sua maioria possui entendimento de que o Ministério Público é um órgão eminentemente acusativo e pode-se dizer que isto decorre da Constituição Imperial de 1824, a qual atribuiu ao Procurador da Coroa a acusação no caso de crimes comuns. Em contrapartida, a função do Parquet está muito acima da simples acusação (D’ANGELO; D’ANGELO, 2005, p. 74).

Na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 ficou estabelecido, em seu artigo 127, que “O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.”

Insta salientar que o Ministério Público Brasileiro tem como mister a luta pelos direitos e garantias da coletividade e atualmente possui como princípios a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional (D’ANGELO; D’ANGELO, 2005, p. 75).

Urge declarar também que, com o advento da Carta Magna de 1988, o Ministério Público passou a ter independência perante os demais poderes — Executivo e Judiciário, embora tenha adquirido posição igualitária a tais poderes (D’ANGELO; D’ANGELO, 2005, p. 75).

Os crimes julgados pelo Tribunal do Júri Brasileiro podem envolver tanto a ação pública incondicionada, a ação penal privada ou a ação penal privada subsidiária da pública. Segundo Nucci (2008b, p. 142), há duas possibilidades para que aconteça a Ação Penal Privada e a Ação penal privada subsidiária da Pública:

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a)um crime conexo, cometido no mesmo cenário do delito doloso contra a vida, cuja ação seja de iniciativa privada. Haveria, então, o órgão acusatório ingressando com ação penal em relação ao crime doloso contra a vida, enquanto, no mesmo processo, existiria queixa-crime, promovida pelo ofendido, quanto ao delito da ação privada; b) caso o Ministério Público não apresente denúncia no prazo legal, torna-se viável o ingresso da parte ofendida, em juízo, com queixa, valendo-se da ação penal privada subsidiária da pública (art. 29, CPP).

Mas de regra, tais crimes do júri envolvem ações públicas incondicionadas, tendo como titular da ação o Ministério Público (NUCCI, 2008b, p. 142).

Cumpre salientar que, no caso da ação penal privada subsidiária da pública, o promotor pode voltar a atuar no processo ocorrendo inércia do ofendido (NUCCI, 2008b, p. 142).

O trabalho do promotor de justiça na atuação do Tribunal do Júri brasileiro é considerado imparcial, pois pode ele pleitear tanto a condenação quanto absolvição do réu (NUCCI, 2008b, p. 142).

Gize-se que se, na denúncia, o Ministério Público pedir pela condenação e, no dia da sessão do Júri verificar que seja caso de absolvição, o Parquet tem que fundamentar muito bem tal pedido de absolvição, não podendo substanciá-lo com critérios subjetivos e discricionários (NUCCI, 2008b, p. 142).

Outro dever que Nucci (2008b, p. 142) ressalta é a atuação imparcial do órgão do Ministério Público ao confrontar seus atos em relação aos da defesa. Declara Nucci (2008b, p. 143): “O julgamento pelo Tribunal do Júri não é uma arena de debates sem limites ou fronteiras.”

Importante expor que a função do Ministério Público em plenário é de respeito para com a defesa, não podendo injuriá-la tampouco atacá-la. Não pode ofender testemunhas, o magistrado ou jurados. A liberdade prestada ao Parquet no júri não lhe confere imunidade agressiva. Ainda expõe Nucci (2008b, p. 144) sobre a meta do representante do Ministério Público: “[...] sustentar a sua convicção, que se deve dar pela exposição do conteúdo da acusação, das provas e dos argumentos jurídicos para, ao final, pleitear a justa condenação do réu, conforme seu entendimento.”

Noutro prisma, não deve o Parquet ausentar-se do plenário, pois pode ocorrer manifestação indevida por parte da defesa, o que não cabe sempre ao magistrado obstá-la e sim à parte contrária. Se ocorrer de o representante do Ministério Público se ausentar por tempo intolerável e o advertindo, não voltar a comparecer em plenário, o juiz presidente pode dissolver o Conselho de Sentença, devido ao constrangimento ilegal e comunicar à chefia do Ministério Público solicitando providências (NUCCI, 2008b, p. 144).

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2.7 ATUAÇÃO DO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO

O assistente de acusação é a posição ocupada pelo ofendido, quando ingressa na ação penal, ao lado do Parquet, no pólo ativo da demanda. Não é necessária a atuação do assistente de acusação, mas se assim o fizer, deve manifestar uma intenção contraposta ao acusado (DIAS, 2008).

Nesta senda, manifestam-se Mirabete (2007 apud DIAS, 2008):

[...] o ofendido, sujeito passivo da infração penal por ser titular do bem jurídico lesado ou posto em perigo pela conduta ilícita, pode propor a ação penal privada exclusiva ou subsidiária da ação pública, e ainda oferecer representação nos delitos apurados por ação penal pública a ela condicionada. Além disso, o art. 268 lhe concede o direito de, facultativamente, auxiliar o Ministério Público na acusação referente aos crimes que se apuram mediante ação pública, incondicionada ou condicionada, dando-lhe, então, a denominação de assistente.

Desta forma, vislumbra-se que a figura do assistente de acusação possui atribuição ampla, deixando de ser aquela a qual tem lugar somente obter título executivo judicial em posterior ação cível, objetivando a reparação do dano ocorrido na esfera penal – figura esta defendida por parte da doutrina (DIAS, 2008).

No que tange à reparação patrimonial em posterior ação civil ex delito, se posiciona Dias (2008): “determinadas infrações penais poderão gerar, além da resposta e sanção penal, outras formas de reação do direito, por exemplo, e particularmente no que nos interessa, de natureza patrimonial.”

O legitimado a agir nos casos de assistência é o próprio ofendido, o seu representante legal, se for menor de 18 anos e no caso de morte ou ausência, os indivíduos elencados no artigo 31 do Código de Processo Penal: “No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.” Entretanto, o exercício da assistência é feito por advogado constituído, o qual detém capacidade postulatória para atuar na defesa do ofendido (DIAS, 2008).

Existe um dualismo na doutrina quanto à finalidade do assistente de acusação no processo penal. Há a corrente majoritária que defende que o assistente de acusação somente atua para reparar o dano civil. Nesta senda, declara Dias (2008): “[...] hoje estamos

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convencidos que a natureza da intervenção do assistente se assemelha à intervenção de terceiros do Processo Civil, sendo esta a sua natureza.”

Porém existe a corrente minoritária que entende que o assistente de acusação atua lado a lado com o Ministério Público para condenar o indivíduo que cometeu o ilícito penal, e somente de maneira secundária entra o reparo do dano civil (DIAS, 2008).

As atribuições do assistente de acusação são amplas e vão desde produzir meios de provas, requerer perguntas às testemunhas, aditar o libelo (o qual não existe mais conforme preceitua a Lei nº. 11.689/08) e os articulados, participar dos debates orais, arrazoar os recursos interpostos pelo Parquet e até mesmo recorrer (DIAS, 2008).

No que tange às atribuições do assistente, explana Nucci (2008, p. 145): “A atuação ainda não está completa. Pensamos deva-se ampliá-la, como, por exemplo, ter o assistente de acusação o direito autônomo de arrolar testemunhas que desejasse ouvir — e não somente fazer reperguntas às existentes”.

Vale ressaltar que o assistente recebe a causa no estado em que ela se encontrar, não podendo regressar no desenvolvimento regular desta. O assistente pode intervir desde o recebimento da denúncia até o trânsito em julgado da decisão (DIAS, 2008).

Há outra discussão no que tange à intervenção do assistente de acusação na ação penal privada exclusiva, na qual a doutrina se manifesta de forma a considerar incabível a atuação (DIAS, 2008).

Sobre a admissão do assistente pelo órgão do Ministério Público, este deve ser ouvido previamente podendo se opor no caso em que o assistente seja parte ilegítima, ou se constatar irregularidades na documentação que instrui o pedido de assistência (DIAS, 2008). Cumpre advertir que a admissão do assistente para atuar em plenário, deve realizar-se ao menos cinco dias antes da data da sessão, salvo se já tiver atuando no processo anteriormente (NUCCI, 2008b, p.146).

No que concerne ao prazo de recurso para o assistente, este será o mesmo da parte, equivalendo a cinco dias tanto para o recurso em sentido estrito, quanto para a apelação (DIAS, 2008).

Em plenário, o assistente tem direito a se manifestar, como já referido, porém o tempo que lhe é fornecido tem de ser compartilhado com o Parquet, por isso o ideal é que entre em acordo com o promotor de justiça, para que possam dividir o tempo do debate. No caso de divergência insanável, pode o juiz intervir promovendo a justa divisão do tempo (NUCCI, 2008b, p. 145).

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2.8 ATUAÇÃO DO JUIZ PRESIDENTE

As atribuições do juiz presidente constam no artigo 497 do Código de Processo Penal brasileiro, denominação esta incorreta devido possuir não somente questões administrativas, mas também questões que cuidam de matéria jurisdicional. O artigo possui 12 (doze) atribuições, das quais 4 (quatro) são de matéria jurisdicional (incisos V, IX, X e XI) (DEZEM; JUNQUEIRA, 2008, p. 151).

Cabe destacar a inovação trazida pelo inciso XII do referido artigo, o qual trouxe o aparte — quando durante a fala de uma das partes, a outra se manifesta, podendo o juiz conceder até 3 (três) minutos para cada aparte (DEZEM; JUNQUEIRA, 2008, p. 151).

O aparte pode ou não ocorrer, dependendo do consenso das partes e da regulamentação do juiz (DEZEM, JUNQUEIRA, 2008, p. 151).

As atribuições do juiz, segundo Cunha, Gomes e Pinto (2008, p. 242), podem ser dividas em três funções: funções de polícia, funções processuais e funções decisórias.

Entendem-se como funções de polícia aquelas constantes nos incisos I, II e VI do artigo supracitado, as quais têm como redação: “I - regular a polícia das sessões e prender os desobedientes”; “II - requisitar o auxílio da força pública, que ficará sob sua exclusiva autoridade” e “VI - mandar retirar da sala o acusado que dificultar a realização do julgamento, o qual prosseguirá sem a sua presença”. Tais funções visam à harmonia do julgamento sem a interferência de inconvenientes, devendo o juiz zelar pelo bom comportamento das pessoas presentes na sessão (CUNHA; GOMES; PINTO, 2008, p. 242).

No tocante ao inciso VI do mesmo artigo, acha-se dispensável algemar o acusado perante o plenário, a não ser que este dificulte a realização do julgamento. Outros exemplos do exercício do poder de polícia pelo juiz presidente constam no § 2º do artigo 485 e artigo 795 do referido diploma legal. O primeiro permite a retirada da acusação e da defesa da sala secreta, e o segundo exemplo confere ao juiz coibir a manifestação dos espectadores das sessões, sob pena de ser-lhes ordenada a retirada do recinto (CUNHA; GOMES; PINTO, 2008, p. 243).

As funções processuais são as previstas nos incisos III, V, VII, VIII, XI e XII: [...] III – dirigir os debates, intervindo em caso de abuso, excesso de linguagem ou mediante requerimento de uma das partes;

[...] V – nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso, podendo, neste caso, dissolver o Conselho e designar novo dia para julgamento, com a nomeação ou constituição de novo defensor;

Referências

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