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Espaço geográfico e criminologia: topologia da segurança versus topologia do crime - uma análise da gestão de segurança do território e roubo a bancos no Nordeste

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA

TESE DE DOUTORADO

LINHA DE PESQUISA I – TERRITÓRIO, ESTADO E PLANEJAMENTO

ESPAÇO GEOGRÁFICO E CRIMINOLOGIA:

topologia de segurança versus topologia do crime – uma análise da

gestão de segurança do território e roubo a bancos no Nordeste

Wellington Clay Porcino Silva

Natal 2019

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Wellington Clay Porcino Silva

ESPAÇO GEOGRÁFICO E CRIMINOLOGIA:

topologia de segurança versus topologia do crime - uma análise da

gestão de segurança do território e roubo a bancos no Nordeste

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para a obtenção do título de Doutor em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Aldo Aloísio Dantas da Silva

Natal 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA

Silva, Wellington Clay Porcino.

Espaço geográfico e criminologia: topologia da segurança versus topologia do crime - uma análise da gestão de segurança do território e roubo a bancos no Nordeste / Wellington Clay

Porcino Silva. - 2019. 296f.: il.

Tese (doutorado) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-graduação em Geografia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, 2020.

Orientador: Prof. Dr. Aldo Aloísio Dantas da Silva.

1. Teoria do Espaço - Tese. 2. Criminologia do Ambiente - Tese. 3. Segurança Pública - Tese. 4. Roubo a bancos - Tese. I. Silva, Aldo Aloísio Dantas da. II. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 911

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Wellington Clay Porcino Silva

ESPAÇO GEOGRÁFICO E CRIMINOLOGIA:

topologia de segurança versus topologia do crime - uma análise da gestão de

segurança do território e roubo a bancos no Nordeste

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para a obtenção do título de Doutor em Geografia.

Natal, 13 de dezembro de 2019.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________ Prof. Dr. Aldo Aloísio Dantas da Silva

Orientador

_______________________________________________________ Prof. Dr. Celso Donizete Locatel

Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_______________________________________________________ Prof. Dr. Raimundo Nonato Júnior

Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_______________________________________________________ Prof. Dr. José Antônio Fernandes de Macedo

Instituição: Universidade Federal do Ceará

_______________________________________________________ Prof. Dr. Luiz Roberto Ungaretti de Godoy

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por tudo.

À minha esposa Ana Cláudia, pelo apoio incondicional e pelo amor ao longo de toda nossa vida juntos.

À nossa filha Juliana, amor de nossas vidas.

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RESUMO

A segurança pública é hoje um dos grandes problemas nacionais, e dentre os principais delitos que mais impactam a população se destaca o roubo a bancos, devido não só à violência que lhe é inerente, mas também aos impactos diretos que tal crime causa no dia a dia das populações das cidades do interior do Nordeste, que são obrigadas a grandes deslocamentos para a execução das mais rotineiras atividades em razão do alto nível de financeirização que caracteriza o período técnico-científico-informacional. Assim, a partir da análise da gestão do território dos principais atores envolvidos, isto é, forças policiais, organizações criminosas e rede bancária, partindo-se do recorte geográfico composto pelos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, buscou-se identificar quais as características do espaço geográfico estudado que impactam diretamente nas altas taxas de incidência de tal crime, tendo como fundamento teórico o conceito de espaço geográfico de Milton Santos e os fundamentos da Criminologia do Ambiente, para, ao final, apontar ações de política pública que tornem mais efetiva a repressão ao delito em tela. Ressalte-se que a eficiência de tais políticas está intimamente ligada à análise geográfica, já que como, se demonstra ao longo do presente trabalho, a lógica das práticas espaciais de cada um dos atores citados acima, bem como seus conflitos, é determinante na materialidade do fenômeno estudado, isto é, dos roubos a banco, não podendo ser, pois, desconsideradas durante a formulação de políticas de segurança.

Palavras-chave: Teoria do Espaço. Criminologia do Ambiente. Segurança Pública. Roubo a bancos.

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ABSTRACT

Public security is today one of the major national problems, and among the main crimes that have the greatest impact on the population is bank robbery. This occurs due not only to the violence that is inherent to it, but also to the direct impact of such crime on the ordinary activities on small towns’ populations, especially of Brazilian Northeast Region. These people are forced to go to distant towns for the simplest activities, due to the great importance of banking services that characterizes the technical period scientific informational. We will analyze how the main actors involved, police forces, criminal organizations and banking network manages the territory. Our analysis will take place on the geographic cut composed by the states of Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte and Ceará, and it will aim to identify the characteristics of the geographic space studied that impacts directly on the high incidence of such crime. We will use as a theoretical basis the concept of Milton Santos' geographic space and the foundations of environmental criminology, in order to point out public policy actions that make repression of such crime more effective. It is noteworthy that the efficiency of such policies is closely linked to geographical analysis, since, as demonstrated throughout this paper, the logic of the spatial practices of each of the above actors, as well as their conflicts, is determinant in materiality of the studied phenomenon. So, this conclusion cannot be disregarded during the formulation of security policies.

(9)

RÉSUMÉ

La sécurité publique est aujourd'hui l'un des principaux problèmes nationaux, et parmi les principaux crimes qui ont le plus d'impact sur la population, citons le vol de banque. Cela est dû non seulement à la violence qui lui est inhérente, mais aussi à l'impact direct de ce crime sur les activités ordinaires des populations des petites villes, en particulier dans la région du nord-est du Brésil. Ces personnes sont obligées d'aller à des villes lointaines pour les activités les plus simples, en raison de la grande importance des services bancaires qui caractérise la période technique informationnelle scientifique. Nous analyserons comment les principaux acteurs impliqués, les forces de police, les organisations criminelles et le réseau bancaire gèrent le territoire. Notre analyse portera sur la coupe géographique composée par les états de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte et Ceará, et elle visera à identifier les caractéristiques de l'espace géographique étudié qui ont un impact direct sur la forte incidence de tels crimes. Nous utiliserons comme base théorique le concept de l'espace géographique de Milton Santos et les fondements de la criminologie environnementale, afin de souligner les actions de politique publique qui rendent la répression de ce crime plus efficace. Il convient de noter que l'efficacité de ces politiques est étroitement liée à l'analyse géographique, car, comme démontré dans cet article, la logique des pratiques spatiales de chacun des acteurs ci-dessus, ainsi que leurs conflits, est déterminant dans la matérialité de l'étude phénomène. Cette conclusion ne peut donc pas être ignorée lors de la formulation des politiques de sécurité.

Mots clés: Théorie de l'Espace. Criminologie Environnementale. Sécurité Publique. Vol de banque.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Instauração de inquéritos de roubos a bancos de 2003 a 2016 pela PF por regiões...24

Figura 2 – Mapa de fluxo dos indivíduos presos no RN...26

Figura 3 – Diagrama da metodologia da pesquisa...31

Figura 4 – Ensaio de Guerry sobre crimes contra a propriedade na França...51

Figura 5 – Triângulo do Crime...52

Figura 6 – Ciclo 3-i...58

Figura 7 – Ciclo IARA...59

Figura 8 – Mapa de risco do terreno: crimes contra o patrimônio dos Correios...63

Figura 9 – Fluxograma situacional...76

Figura 10 – Fluxograma situacional: Crimes Violentos Letais Intencionais...79

Figura 11 – Mapa de uso do solo: PE, PB, RN e CE...84

Figura 12 – Mapa de distribuição da população por municípios nos estados de PE, PB, RN e CE...85

Figura 13 – Mapa de Classificação Primária Koppen-Geiger nos estados de PE, PB, RN e CE...87

Figura 14 – Valores em caixa por municípios em PE, PB, RN e CE (dezembro de 2010)...89

Figura 15 – Valores em caixa por municípios em PE, PB, RN e CE (agosto de 2018)...90

Figura 16 – Cidades com maior volume de dinheiro em caixa em dezembro de 2010...91

Figura 17 – Cidades com maior volume de dinheiro em caixa em agosto de 2018...91

Figura 18 – Cobertura da rede de telefonia celular...92

Figura 19 – Cartograma da rede de telefonia celular do RN...93

Figura 20 – Rede rodoviária: RN, CE, PB e PE...94

Figura 21 – Atores relevantes atuando sobre o fenômeno estudado...95

Figura 22 – Mapa dos Batalhões de Polícia Militar dos estados de PE, PB, RN e CE...102

Figura 23 – Divisão de comarcas judiciárias estaduais nos estados de PE, PB, RN e CE...104

Figura 24 – Divisão da Justiça Federal nos estados de PE, PB, RN e CE...106

Figura 25 – Divisão territorial da Polícia Federal nos estados de PE, PB, RN e CE...106

Figura 26 – Distribuição das ocorrências de roubos a bancos ao longo do mês nos estados de PE, PB, RN e CE...109

Figura 27 – Distribuição das ocorrências de roubos a bancos ao longo do ano nos estados de PE, PB, RN e CE...109

(11)

Figura 29 – Distribuição das ocorrências de roubos a bancos nos estados de PE, PB, RN e

CE...111

Figura 30 – Mapa de clusters de ocorrências de roubos a bancos nos estados de PE, PB, RN e CE...112

Figura 31 – Evolução do número de agências bancárias nos estados de PE, PB, RN e CE...118

Figura 32 – Evolução do número das investigações de roubos a bancos iniciadas de 2003 a 2016...119

Figura 33 – Evolução da distribuição de agências bancárias nos anos de 1960, 1980, 2000 e em abril de 2017...120

Figura 34 – Mapa de localização dos Batalhões de OM e população municipal...124

Figura 35 – Gráfico de barras de roubos a bancos por número de habitantes...127

Figura 36 – Mapa de localização das ocorrências de roubos a bancos e população municipal...127

Figura 37 – Mapa de distância de 15 km de BPM e de ocorrências de roubos a bancos e agências bancárias...135

Figura 38 – Mapa de localização das ocorrências de roubos a bancos e rede de estradas...135

Figura 39 – Cobertura de celular em RR...137

Figura 40 – Rede rodoviária em RR...138

Figura 41 – Mapa de agências bancárias inauguradas entre janeiro de 2000 e abril de 2017...141

Figura 42 – Mapa de hotspots de roubos a bancos das ocorrências de 2014 e 2015 e das agências bancárias inauguradas entre janeiro de 2000 e abril de 2017... 142

Figura 43 – Mapa de hotspots de ocorrências de roubos a bancos nos anos de 2014 e 2015 e dos municípios-polos da rede urbana em 2018...143

Figura 44 – Função matemática do cálculo da média ponderada...149

Figura 45 – Mapa de risco de roubos a bancos ...153

Figura 46 – Scatter plot dos escores de risco dos roubos a bancos no RN em 2017...155

Figura 47 – Indicadores utilizados em PE...168

Figura 48 – Indicadores utilizados no RN...169

Figura 49 – Indicadores utilizados no CE...171

Figura 50 – Indicadores utilizados no RJ...172

Figura 51 – Painel de incidência criminal...179

Figura 52 – Dicionário de dados...180

Figura 53 – Exemplo das categorias do État 4001 para a natureza da infração homicídios e lesões corporais seguidas de morte...183

Figura 54 – Tela do Sistema de Análise Decisional da GN...193

Figura 55 – Île de France e Departamento de Seine-et-Marne...195

(12)

Figura 57 – Organização territorial da GN em Seine-et-Marne...197

Figura 58 – Conjunto habitacional em Noisiel...200

Figura 59 – Sistema de indicadores...211

Figura 60 – Apresentação dos indicadores divididos por categoria...218

Figura 61 – Indicadores agregados por categoria...219

Figura 62 – Fluxograma situacional...229

Figura 63 – Ação dos atores em uma operação no Método PES...239

Figura 64 – Cálculo de viabilidade de uma operação...240

Figura 65 – Gráfico de avaliação de resultados do projeto-piloto...255

(13)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Comparativo entre técnicas de análise convencionais e preditivas...62

Tabela 2 – Principais modelos de gestão de policiamento...64

Tabela 3 – Correlação entre a Teoria do Espaço de Milton Santos e a Criminologia do Ambiente...68

Tabela 4 – Peso dos fatores...151

Tabela 5 – Roubos a bancos no RN em 2017...154

Tabela 6 – Classificação do Risco Calculado...155

Tabela 7 – Síntese dos indicadores franceses...186

Tabela 8 – Sistema de indicadores e categorias de análise...214

Tabela 9 – Dados utilizados para o cálculo do Índice 10...216

Tabela 10 – Atores sociais...231

Tabela 11 – Nós críticos...231

Tabela 12 – Operações propostas...233

Tabela 13 – Matriz de motivação dos atores...237

Tabela 14 – Matriz de recursos críticos...238

Tabela 15 – Matriz dos vetores de peso...238

Tabela 16 – Cálculo de viabilidade da OP1...241

Tabela 17 – Cálculo de viabilidade da OP2...242

Tabela 18 – Cálculo de viabilidade da OP3...243

Tabela 19 – Cálculo de viabilidade da OP4...244

Tabela 20 – Cálculo de viabilidade da OP5...245

Tabela 21 – Cálculo de viabilidade da OP6...246

Tabela 22 – VDP do projeto-piloto...259

Tabela 23 – Atores envolvidos na execução do plano no RN...250

Tabela 24 – Operações especiais de Polícia Judiciária executadas pela FT/PJ/RN...252

Tabela 25 – Avaliação de resultados do projeto-piloto...255

(14)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 17

1.1 Problematização ... 17

1.1.1 A elaboração da hipótese de pesquisa ... 21

1.1.2 Objetivo geral ... 22

1.1.3 Objetivos específicos ... 22

1.2 Objeto da pesquisa ... 23

1.3 Procedimentos metodológicos e técnicos ... 27

1.4 Plano de redação de tese ... 31

1.4.1 Roteiro ... 32

2 A TEORIA DO ESPAÇO E A CRIMINOLOGIA DO AMBIENTE ... 34

2.1 A Teoria do Espaço de Milton Santos ... 34

2.1.1 Bases filosóficas da Teoria do Espaço de Milton Santos ... 35

2.1.2 A questão da técnica e o conceito de espaço geográfico ... 37

2.1.3 Totalidade e totalização ... 39

2.1.4 Epistemologia da existência ... 41

2.1.5 A importância do lugar e a nova noção de território ... 44

2.1.6 Redes territoriais ... 46

2.1.7 Horizonte teórico para pensar o território: síntese transversal ... 48

2.2 Criminologia do Ambiente ... 49

2.2.1 Origens e fundamentos ... 49

2.2.2 Conceito ... 50

2.2.3 Teorias derivadas da Criminologia do Ambiente ... 53

2.2.4 Modelos de policiamento derivados da Criminologia do Ambiente ... 56

2.3 Aproximação entre a Teoria do Espaço de Milton Santos e a Teoria da Criminologia do Ambiente ... 65

2.4 Práticas espaciais ... 69

2.5 Conceitos fundamentais em gestão do território e ordenamento territorial ... 71

2.5.1 Gestão do território e Segurança Pública ... 73

2.6 Planejamento estratégico situacional ... 74

2.6.1 O Método PES ... 75

(15)

2.6.3 Impactos do Método PES na segurança pública ... 80

2.7 O impacto dos conceitos teóricos sobre o empírico na presente pesquisa ... 80

3 O ROUBO A BANCOS E SEUS PRINCIPAIS ATORES ... 82

3.1 Caracterização do recorte geográfico estudado ... 83

3.1.1 Uso do solo ... 83

3.1.2 Distribuição populacional ... 84

3.1.3 Clima ... 86

3.1.4 Redes territoriais ... 88

3.2 Apresentação dos atores relevantes ... 94

3.2.1 Forças policiais ... 96

3.2.2 Instituições bancárias ... 97

3.2.3 Organizações criminosas ... 99

3.3 Práticas territoriais dos atores relevantes ... 100

3.3.1 Polícias militares ... 100 3.3.2 Polícias civis ... 102 3.3.3 Polícia Federal ... 105 3.3.4 Organizações criminosas ... 107 3.3.5 Instituições bancárias ... 117 3.4 Análise transversal ... 121

4 ESTRUTURAS DECORRENTES DAS INTERAÇÕES ENTRE OS ATORES RELEVANTES ... 124

4.1 A seletividade espacial nos roubos a bancos ... 124

4.1.1 A topologia das forças policiais e seu impacto na distribuição geográfica das ocorrências criminais ... 125

4.1.2 As divisas estaduais e seu impacto na distribuição geográfica das ocorrências criminais ... 130

4.1.3 O impacto das redes territoriais na topologia do crime ... 132

4.1.4 A topologia da rede bancária e seu impacto na distribuição geográfica das ocorrências criminais ... 140

4.2 A inferência espacial como método para construção de um mapa de risco do terreno ... 146

(16)

4.2.1 Conceito de mapa de risco do terreno ... 147

4.2.2 Metodologia ... 148

4.2.3 Determinação dos valores ponderados das variáveis ... 149

4.3 Análise transversal ... 156

5 CONSTRUÇÃO DE INDICADORES PARA AVALIAR POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA ... 159

5.1 Apresentação dos resultados obtidos nas pesquisas de campo no Brasil ... 164

5.1.1 A situação atual dos indicadores de segurança no Brasil ... 164

5.1.2 Apresentação dos resultados da pesquisa junto à Secretaria de Defesa Social de Pernambuco ... 166

5.1.3 Apresentação dos resultados da pesquisa junto à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Rio Grande do Norte ... 168

5.1.4 Apresentação dos resultados da pesquisa junto à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará ... 170

5.1.5 Apresentação dos resultados da pesquisa junto à Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro ... 171

5.1.6 Apresentação dos resultados da pesquisa junto à Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul ... 172

5.1.7 Apresentação dos resultados da pesquisa junto à Polícia Federal ... 173

5.1.8 Análise da situação atual e perspectivas no Brasil ... 176

5.2 Apresentação dos resultados obtidos nas pesquisas de campo na França ... 180

5.2.1 Apresentação dos resultados da pesquisa junto ao Observatório Nacional de Delitos e Respostas Penais (ONDRP) ... 182

5.2.2 Pesquisa junto à Division des Systèmes d’Information Opérationnelle de la Direction de Sécurité Publique de la Police Nationale ... 188

5.2.3 Pesquisa realizada junto ao Service Central de Renseignements Criminels da la Gendarmerie Nationale ... 191

5.2.4 Resultados da pesquisa realizadas no Département de Seine-et-Marne (Departamento 77) ... 193

5.2.5 Análise da situação atual e perspectivas na França ... 201

5.3 Comparação entre as políticas de indicadores de segurança pública no Brasil e na França ... 203

(17)

5.4.1 Sistema de indicadores para segurança pública ... 208

5.4.2 Indicadores e Método PES ... 220

6 APLICAÇÃO DO MÉTODO PES AO FENÔMENO ESTUDADO ... 223

6.1 Como explicar a realidade? ... 224

6.2 Como conceber o plano? ... 229

6.3 Como avaliar a viabilidade de uma operação? ... 236

6.3.1 Análise de viabilidade da assinatura de convênios de compartilhamento de informações entre as UF (OP1)... 241

6.3.2 Análise de viabilidade da criação de forças-tarefa de investigação com as PC e a PF (OP2) ... 242

6.3.3 Análise de viabilidade da implantação de sistema de videomonitoramento com alertas automáticos nas rodovias (OP3)... 243

6.3.4 Análise de viabilidade da constituição de patrulhas ostensivas orientadas por ocorrências anteriores (OP4) ... 244

6.3.5 Análise de viabilidade do aumento do efetivo policial no interior (OP5) ... 245

6.3.6 Análise de viabilidade da melhoria da segurança orgânica das agências bancárias (OP6) ... 245

6.3.7 Conclusão da análise de viabilidade das operações... 247

6.4 Como executar o plano ... 248

6.4.1 Operação 1 – Assinatura de convênios de compartilhamento de informações entre as UF ... 250

6.4.2 Operação 2 – Criação de forças-tarefa de investigação com as PC e a PF... 251

6.4.3 Operação 4 – Constituição de patrulhas ostensivas orientadas por ocorrências anteriores ... 253

6.4.4 Avaliação dos resultados obtidos ... 254

6.5 Análise transversal ... 257

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 260

REFERÊNCIAS ... 265

(18)

1 INTRODUÇÃO

A ciência geográfica contemporânea é defrontada pelos diferentes fenômenos sociais que atuam na metamorfose do espaço. A dimensão territorial das diversas práticas humanas, bem como das organizações que compõem a sistemática do espaço geográfico, se tornaram paulatinamente incorporadas às inquietações epistemológicas da Geografia contemporânea. Há, todavia, alguns sistemas de ação sobre o território onde ainda impera significativo silêncio de análise geográfica.

É no sentido de “fazer falar” um desses silêncios de análise geográfica que esta tese se debruça sobre a análise territorial da Segurança Pública, tomando por objeto de estudo a composição do espaço geográfico envolvida nas ocorrências de roubos a bancos, bem como nas tipologias de ação das estratégias de segurança.

Para a compreensão do que se buscou durante a presente pesquisa, é relevante explanar as justificativas que levaram à sua execução, bem como delinear de forma clara qual seu objeto em suas dimensões técnico-conceitual, empírica e temporal, apresentar o método científico empregado e descrever a metodologia utilizada na sua execução e as categorias de análise empregadas ao longo da investigação.

Deve-se, ainda, demonstrar com clareza os objetivos perseguidos ao longo de todo o trabalho, de modo que se possa, ao final, apontar os resultados obtidos.

É o que se realizou ao longo deste capítulo inicial.

1.1 Problematização

Como bem observado por Zomighani Júnior (2013), toda pesquisa reflete uma experiência pessoal de seu autor. No presente caso, não poderia ser diferente. Este trabalho reflete os mais de treze anos de trabalho do autor na Polícia Federal, especialmente na busca por mecanismos para tornar o serviço prestado por essa força policial mais adequado às necessidades da população brasileira, destinatária de todo e qualquer esforço deste e dos demais órgão públicos.

Todavia, tal busca esbarrou em uma grande dificuldade inicial, qual seja, a carência de literatura sobre o tema. Mesmo as poucas pesquisas realizadas no Brasil sobre o tema Segurança Pública focam, basicamente, nos diagnósticos dos problemas existentes nas polícias, dedicando-se muito pouco à gestão dos meios policiais de modo que esses órgãos públicos prestem serviços mais eficientes. Propõem, em sua maior parte, mudanças polêmicas que

(19)

dependeriam de alterações constitucionais que, por serem de consenso quase impossível, possuem poucas possibilidades de aprovação no Congresso Nacional.

Desse modo, o autor buscou a realização de Mestrado fora do país, mais especificamente na Universidade Nova de Lisboa, escolhendo o curso de Ciência e Sistemas de Informações Geográficas especialmente devido à grande importância do componente espacial no processo de construção de uma polícia mais eficiente.

Durante as pesquisas então realizadas, pôde-se verificar que a premissa inicial, isto é, a importância do espaço para o entendimento do fenômeno crime não só estava correta como também era imprescindível para o processo de decisão dos órgãos policiais.

Desse modo, dedicou-se esta tese à perquirição de como os dados espaciais, reunidos através da moderna tecnologia dos sistemas de informações geográficas, podem contribuir para os modelos de gestão das atividades policiais.

Contudo, ao assumir a gestão da Polícia Federal em um dos estados da Região Nordeste, o Rio Grande do Norte, o autor deparou-se com um problema grave: o elevado índice de roubos a bancos na região como um todo e no Rio Grande do Norte em particular, que, somados aos roubos efetuados nas agências do Correios, representam, aproximadamente, 10% de todas as investigações realizadas pela Polícia Federal nesse estado da Federação.

Em todo o Brasil, somente 23% das investigações em andamento na Polícia Federal referem-se a crimes contra o patrimônio. Contudo, nos estados da Região Nordeste, tal percentual é sensivelmente superior, atingindo o patamar de 28%, tendo como base os dados do ano de 2015.

Assim, tendo em vista esses dados, bem como outros a serem apresentados quando do detalhamento do objeto de pesquisa, há uma maior concentração desse tipo de delito na Região Nordeste. Contudo, optou-se pela utilização de um recorte geográfico diverso da Região Nordeste prevista em normas federais.

Ora, a delimitação do recorte geográfico tem, obrigatoriamente, de considerar o objeto de estudo (no caso concreto, o fenômeno de roubos a bancos), e não somente uma divisão regional estabelecida pelo Estado.

Dessa feita, após análise dos dados disponibilizados pela Polícia Federal, verificou-se que a dinâmica de atuação das organizações criminosas não ocorre de forma homogênea em toda a Região Nordeste. Pode-se verificar que há uma dinâmica de fluxos que liga determinados estados e que não afeta outros. Tal dinâmica pode ser aferida pelos estados de residência dos investigados: dos 4.328 indivíduos identificados pela Polícia Federal, nos anos de 2014 e 2015, como membros de organizações criminosas que atuaram em roubos a bancos nos estados de

(20)

Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, normalmente referenciados como Nordeste Setentrional, somente 2% não residiam nos referidos estados, o que aponta para uma ausência de participação de criminosos de outros estados do Nordeste em ações nos quatro estados citados acima.

As práticas espaciais dos atores relevantes do processo, contudo, não são apenas determinantes na ocorrência dos roubos a bancos pois, como já foi dito, a própria ação integra o espaço geográfico, objeto do estudo da Geografia. Mas o espaço geográfico, ao mesmo tempo, gera mudanças em um ciclo mútuo, pois os sistemas de ações e objetos interagindo acabam por produzir modificações. O espaço geográfico é, então, dinâmico.

Como forma de ilustrar o que foi dito acima, foram utilizados dados, obtidos junto à Polícia Federal, a respeito do fechamento de agências do Banco Postal (correspondente bancário do Banco do Brasil operado nas agências dos Correios), bem como de agências próprias do Banco do Brasil no estado do Rio Grande do Norte. Tais dados foram produzidos pelas gerências de segurança dos Correios e do Banco do Brasil.

Em relação ao Banco Postal, que normalmente funciona em municípios não atendidos pela rede bancária própria, de agosto a outubro de 2017, foram fechadas 88 agências de um total de 181, que funcionavam até julho daquele ano, o que representa uma redução de 48% na cobertura desse tipo de serviço. Tal fato foi motivado, dentre outras coisas, pelo elevado risco de roubo a essas agências, localizadas, em grande parte, em cidades com menos de 50.000 habitantes.

Já em relação ao Banco do Brasil, das 78 agências em funcionamento no Rio Grande do Norte, foram encerradas as atividades, total ou parcialmente, em 8, o que representa uma redução de pouco mais de 10% na cobertura da rede bancária tão somente no ano de 2017.

Essa mudança impõe uma nova realidade àqueles que deixaram de ser servidos pela rede bancária em suas cidades pois, dado o alto nível de financeirização, torna-se necessário, para os mais simples atos da vida (como receber o dinheiro para comprar bens de subsistência) deslocar-se até cidades próximas, aumentando o fluxo de pessoas entre essas localidades e impondo um gasto a mais a famílias já carentes de recursos.

Sofrem, também, os comerciantes das cidades onde foram encerradas as atividades bancárias, pois há uma redução considerável no volume de dinheiro circulando, já que as pessoas acabam por realizar suas compras nas localidades onde recebem seu dinheiro. Conforme foi possível observar, o fenômeno dos roubos a bancos também produz novas realidades espaciais.

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Nessa perspectiva, o cenário problemático da segurança pública frente a essa realidade é fortemente marcado por desafios territoriais, pelo reconhecimento de atores envolvidos (a polícia, a vítima e os criminosos) em diferentes fixos e fluxos no território, bem como pelas diversas materialidades utilizadas por esses agentes (como as redes rodoviárias e de telecomunicações), e pela própria concepção de território como totalidade (sinônimo de espaço geográfico) e os consequentes desafios postos às ações do poder público.

Desse modo, dedicou-se esta pesquisa a investigar a hipótese de que as características do espaço geográfico são determinantes na alta taxa de assaltos a bancos na Região Nordeste. Buscou-se, ainda, propor ações e políticas não complexas e de baixo impacto orçamentário que, caso implantadas, aumentarão a eficiência e a eficácia do trabalho policial, reduzindo o risco de toda a população, praticamente eliminando a letalidade das ações policiais e melhorando de forma significativa a qualidade do serviço público prestado.

Dessa forma, buscou-se, ao longo da pesquisa, responder às seguintes questões: Como a disposição espacial contribui para a explicação da grande incidência de roubos a bancos na Região Nordeste? Quais variáveis características do espaço geográfico nordestino contribuem para essa ocorrência atípica? A dinâmica topológica das ações criminosas apresenta uma lógica? Seguem um padrão espacial? Como a dinâmica topológica policial de segurança do território e seu padrão espacial podem se adequar a um combate mais eficiente desse tipo de crime?

A principal inovação buscada neste texto é um novo pensar sobre a segurança pública, não como algo fixo, mas ativa, composta por fluxos e fixos interagindo no território. Entende-se que, somente a partir desEntende-se novo olhar, de uma análiEntende-se verdadeiramente geográfica, pode-Entende-se atingir um nível de compreensão do fenômeno que possibilite a formulação de políticas de segurança efetivas.

Ao se descrever, em tópico próprio, o objeto da presente pesquisa, demonstrou-se o porquê de uma tese sobre roubos a bancos ser realizada em um programa de Pós-Graduação em Geografia. Contudo, algumas considerações iniciais são pertinentes.

Pergunta-se em que medida a presente investigação é, de fato, geográfica. Ora, se compete à Geografia descobrir o porquê do onde, tendo como seu objeto o espaço geográfico como totalidade, então o conhecimento geográfico obtido com esta pesquisa permitirá compreender as diversas dinâmicas que envolvem a ocorrência do delito estudado, qual seja, roubo a bancos, tais como a configuração territorial das forças de segurança e das agências bancárias, o uso do território pelas organizações criminosas, como a existências das redes territoriais influem nos eventos estudados e como o espaço é modificado pelas ações

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decorrentes do crime em tela. Tal entendimento de espaço geográfico encontra amparo na pesquisa de Milton Santos, como se demonstra a seguir.

Contudo, tal conhecimento na presente pesquisa não se encerrara em si mesmo. Ao contrário: buscou-se utilizá-lo na construção de políticas públicas, de ações efetivas que minimizem os impactos negativos causados pelo delito de roubo a bancos nas populações atingidas. Tal delito, como se verá a seguir, por ter como consequência direta a negação, ainda que temporária, de um serviço essencial em nosso período técnico-científico-informacional – o financeiro – altera profundamente dinâmicas territoriais, com o fechamento de agências e o encerramento de serviços automatizados, dentre outras consequências, o que prejudica comerciantes e a população como um todo, principalmente de áreas mais carentes.

Desse modo, exige-se uma ação do poder público, porém, não uma ação qualquer. Exige-se uma ação tomada a partir do conhecimento das dinâmicas que impactam na ocorrência do fenômeno estudado, e não baseada em meras opiniões das autoridades, como ocorre ordinariamente.

É seguindo esse ponto que reside a originalidade da presente pesquisa. Utilizou-se o método e as ferramentas da Geografia para não só entender um determinado fenômeno, mas para, a partir do conhecimento obtido, propor medidas a serem adotadas pelo poder público, em especial na área de segurança, para minimizar os impactos negativos de tais atos delituosos sobre a população mais carente.

Como contribuição teórica necessária em uma tese de doutorado, é feita uma aproximação entre a Teoria do Espaço de Milton Santos e a Teoria da Criminologia do Ambiente. Essa última tem como principal fundamento considerar as práticas espaciais como fatores determinantes para a ocorrência de um crime. Ademais, como ação humana, o crime se constitui como parte do sistema de ações que, conjugadas com o sistema de objetos, forma o espaço geográfico.

Desse modo, demonstra-se a relação existente entre ambas as teorias expostas, entendendo-se a Teoria do Espaço como fundamental para a compreensão da Teoria da Criminologia do Ambiente.

1.1.1 A elaboração da hipótese de pesquisa

Tendo como base os princípios e requisitos propostos por Karl Popper, e tendo em vista as questões já apresentadas tanto na problematização da presente pesquisa como na apresentação de seu objeto, propôs-se, então, a hipótese seguinte:

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A lógica das práticas espaciais dos órgãos policiais, da rede bancária e das organizações criminosas e seus conflitos é determinante na materialidade da rede de criminalidade de roubos a bancos nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

Desse modo, buscou-se, inicialmente, identificar a lógica das práticas espaciais dos atores relevantes em relação ao objeto estudado. Tendo, então, identificado e compreendido tais práticas, bem como as relações de conflito e cooperação entre cada um dos atores, partiu-se para a prova do enunciado acima exposto, ou seja, através da observação da base empírica obtida ao longo de toda a pesquisa, testou-se essa hipótese, buscando falseá-la, para, ao fim, concluir se essa lógica é determinante na construção da materialidade e da rede estudada. Caso a hipótese resista aos testes, ela será corroborada.

1.1.2 Objetivo geral

Durante a presente pesquisa, ao se propor o objetivo geral da presente tese, procurou-se apontar o resultado esperado ao final do percurso, o que procurou-se buscou através de todo o trabalho de descrição e análise, em uma tentativa de entender como o espaço geográfico impacta e é impactado pelo evento de roubos a bancos nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco e Paraíba. Assim, descreve-se, a seguir o objetivo geral desta tese.

Entender a lógica espacial da gestão de segurança pública do território, correlacionando-a com um padrão espacial da atividade criminosa e com a Teoria da Criminologia do Ambiente nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

1.1.3 Objetivos específicos

No estabelecimento dos objetivos específicos, o que se buscou foi apontar as etapas que seriam percorridas para que se possa compreender por que os roubos a bancos nos estados estudados ocorrem onde ocorrem, bem como apontar de que modo esse evento impacta na produção do espaço. Dessa feita, seguem tais objetivos:

a) Caracterizar a topologia e a configuração espacial das forças de segurança e da rede bancária, além de sua relação com a gestão e uso do território nordestino voltadas para o combate ao roubo a bancos;

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b) Analisar as características do fenômeno de roubos a bancos na Região Nordeste, a partir do uso do território pelas organizações criminosas a fim de propor políticas públicas mais eficientes;

c) Discutir as variáveis componentes do espaço geográfico da Região Nordeste que impactam significativamente no alto número de roubos a bancos e, por consequência, definir um padrão espacial nas ações criminosas estudadas;

d) Propor protocolos para o planejamento de políticas e ações de segurança pública no enfrentamento ao crime de roubo a bancos na região de estudo.

1.2 Objeto da pesquisa

A dimensão empírica do objeto da pesquisa em tela é a alta incidência do crime de roubo a bancos nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. No país como um todo, conforme apontado anteriormente, o percentual desse tipo de inquérito é superior ao encontrado no restante do Brasil.

Ao analisarmos a participação da Região Nordeste tanto nas ocorrências de roubo a bancos investigadas pela Polícia Federal (isto é, somente as que se referem aos crimes contra a Caixa Econômica Federal) quanto nas investigadas pelas polícias civis estaduais (PC), quais sejam, todos as demais, verifica-se que o problema é ainda mais relevante.

Segundo dados obtidos junto ao sítio da FEBRABAN, somente 15% das agências bancárias do Brasil estão localizadas na mencionada região. Contudo, segundo dados obtidos junto à Polícia Federal, 22,32% de todos os roubos a bancos no Brasil ocorrem na Região Nordeste, em clara desproporção em relação ao número de agências. Em relação às investigações desse tipo de crime pela PF, instauradas de 2003 até 2016, 25,80% delas foram nos estados do Nordeste.

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Figura 1 – Instauração de inquéritos de roubos a bancos de 2003 a 2016 pela PF por regiões

Fonte: Polícia Federal

Ademais, há de se levar em conta, também, o forte impacto que o modus operandi (expressão latina que significa “modo de operação” e que, no meio policial e jurídico, indica a forma de agir de determinado criminoso ou quadrilha) das organizações criminosas que atuam nessa região causa sobre a população. Isso ocorre pela violência e por uma verdadeira “tomada” da cidade, com grande impacto na percepção de segurança dos moradores dos lugares atingidos. Contudo, por razões a serem expostas abaixo, optou-se pela utilização de um recorte geográfico diverso da Região Nordeste previsto em normas federais.

Ora, a delimitação do recorte geográfico tem, obrigatoriamente, de considerar o objeto de estudo – no caso concreto, o fenômeno de roubos a bancos – e não somente uma divisão regional estabelecida pelo Estado.

Dessa feita, após análise dos dados disponibilizados pela Polícia Federal, verificou-se que a dinâmica de atuação das organizações criminosas não ocorre de forma homogênea em toda a Região Nordeste. Como já dito anteriormente, pode-se verificar que há uma dinâmica de fluxos que liga determinados estados e que não afeta outros.

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Confirmando o exposto acima, ao se analisarem os dados de residência dos investigados por este delito pela Polícia Federal no recorte estudado, verifica-se que somente o estado de São Paulo tem mais investigados que todos os outros estados do Nordeste somados, a exceção dos estados estudados. Assim, há, dentre os indiciados, 17 nascidos em São Paulo, enquanto nascidos nos outros estados do Nordeste há somente 13.

Diante da dinâmica acima exposta, verifica-se que, para a análise ora pretendida, o recorte geográfico mais adequado é limitar-se somente aos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

Como forma de espacializar tal dinâmica, utilizando-se o estado do Rio Grande do Norte, observe-se a Figura 2. Ressalte-se esse mapa de fluxos utiliza o Rio Grande do Norte como forma de exemplificar a relação existente entre os quatro estados do recorte geográfico, como os dados numéricos acima demonstram.

Figura 2 – Mapa de fluxo dos indivíduos presos no RN

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Esse mapa mostra a origem dos criminosos nascidos fora do Rio Grande do Norte e que cometeram assaltos a bancos neste estado específico, usando dados de 2017, tendo como fonte a Polícia Federal. Como podemos ver através da análise da seta de fluxo, as relações entre Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte são muito maiores do que as que formam outros estados, incluindo outros estados da Região Nordeste. Então, podemos concluir que não podemos combater os assaltos bancários no Rio Grande do Norte sem estudar esse crime nos outros três estados que apontamos.

Isso ocorre porque é muito mais comum um ladrão de bancos vir da Paraíba, do Ceará e de Pernambuco para cometer um crime no Rio Grande do Norte do que vir de qualquer outro estado. Dessa forma, percebe-se uma dinâmica própria que os liga, um processo diverso dos outros entes federados que compõem a Região Nordeste, sendo, pois, essa a razão pela qual decidiu-se limitar este estudo a esses quatro estados.

A dimensão técnico-conceitual pretendida tem como base a Teoria do Espaço de Milton Santos, em uma aproximação com a Teoria da Criminologia Ambiental, buscando-se demonstrar como o entendimento do espaço geográfico, em sua totalidade, como híbrido indissociável composto pelo sistema de objetos pelo sistema de ações, é capaz de explicar a ocorrência de um fenômeno criminoso a partir dos conceitos oriundos da Criminologia Ambiental.

Ainda tendo como base Milton Santos (2007), verifica-se que o componente territorial do civismo supõe que o território seja instrumentalizado de forma a atribuir a todos os cidadãos os bens e serviços indispensáveis, bem como caracterizado por uma adequada gestão do território, assegurando uma distribuição geral acertada de bens e serviços.

Desse modo, entende-se necessário considerar o território como fator relevante na busca por garantir o direito à segurança. Não se pode planejar uma política pública de segurança sem levar em consideração as características do espaço geográfico, não como mero coadjuvante, mas como, de fato, condicionante do fenômeno estudado.

Ademais, a ocorrência de um crime como ação humana é parte integrante do espaço geográfico, pois compõe o sistema de ações que, junto aos sistemas de objetos, unem-se, formando esse híbrido. Contudo, não é só por isso que se torna fundamental o estudo do espaço geográfico para a compreensão de um fenômeno criminoso. Os fixos que, representados pelas unidades das forças policiais, pelas agências bancárias e as redes territoriais de transportes e telecomunicações, que permitem os fluxos de informações, materiais e pessoas, mais que impactam na forma pela qual um crime ocorre. As características citadas são, de fato,

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determinantes para que o evento ocorra, para que um crime seja praticado sob determinadas condições.

É interessante, neste ponto, apontar o que Milton Santos entende por fluxos e fixos. Para este autor (SANTOS, 1994), fixos seriam os objetos materiais, ou seja, o que é concreto, enquanto fluxos estão ligados aos conceitos de ações e movimentos, dando, assim, dinâmica aos fixos (SANTOS, 2008).

Então, o estudo do território usado, conceito miltoniano, é condição sine qua non para a construção de uma política de segurança que seja, ao mesmo tempo, não só eficiente, atendendo aos anseios legítimos por mais segurança, mas também que garanta o respeito aos princípios de direitos humanos insculpidos em nossa Carta Magna.

Em relação à dimensão temporal, utilizou-se o período técnico-científico-informacional (o atual), embora em determinados momentos apresente-se a evolução, ao longo do tempo, da configuração espacial de certos atores analisados (como a rede bancária), como forma de ajudar a entender o momento presente.

Recordando-se as lições de Milton Santos (1988) a respeito da dimensão temporal no estudo geográfico, deve-se, pois, ter em mente que a noção de espaço é indissociável da ideia de sistema de tempo. No entanto, ainda segundo as lições do já mencionado autor, não se deve representar o presente como um mero resultado de suas condições no passado, já que o significado de uma mesma variável muda com o decurso do tempo.

Ademais, para a análise espacial, a sucessão de sistemas é mais importante que um único elemento isolado, já que o espaço como resultado da geografização de um conjunto de variáveis só pode ser interpretado em sua totalidade, e não a partir dos efeitos de uma única variável (ibidem).

É a partir desse entendimento da dimensão temporal que buscou-se desenvolver a presente pesquisa.

1.3 Procedimentos metodológicos e técnicos

Para a dimensão teórica, utilizou-se a pesquisa bibliográfica como principal procedimento de pesquisa, com o objetivo de apresentar os conceitos-chave principais necessários ao desenvolvimento da presente pesquisa, em especial espaço geográfico, rede e território, conforme desenvolvidos na Teoria do Espaço de Milton Santos (2006).

A análise da dimensão empírica foi feita a partir da identificação do problema proposto (os roubos a bancos na região estudada), dentro da metodologia de planejamento estratégico

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denominada PES (Planejamento Estratégico Situacional) (MATUS, 2007), através da qual se estudou as ações, interações e resultados dos atores selecionados, a saber: a Polícia Militar, responsável pelo patrulhamento ostensivo e pela prevenção do crime, a rede bancária e as quadrilhas de criminosos envolvidas no delito sob exame. Tais atores foram também estudados sob o ponto de vista das práticas espaciais, conforme detalhado por Lobato (2000).

Assim, durante a análise da dimensão empírica do trabalho, cada um dos atores estudados per si o foram conforme descritos a seguir:

a) Polícia Militar dos estados: Recorreu-se à estatística descritiva, bem como à estatística espacial como forma de detalhar o modo de atuação dos batalhões de Polícia Militar dos estados objeto de estudo. Também se utilizou a pesquisa documental em fontes primárias, tornando a análise mais acurada. Buscou-se, através do ora proposto, detalhar a forma de atuação e a configuração espacial das unidades nível Batalhão, por serem aquelas com possibilidade de deslocar meios e reforçar ações em situações de crise;

b) Agências bancárias: Utilizou-se, com esse ator, também, a estatística descritiva como forma de sua caracterização. Também se empregou a estatística espacial como forma de demonstrar a racionalidade da configuração espacial. Os dados empregados foram obtidos através de pesquisa documental em informações disponibilizadas pela própria Federação Brasileira dos Bancos (FEBRABAN);

c) Quadrilhas de roubo a bancos: Essa análise foi realizada a partir dos dados disponibilizados pela Polícia Federal referentes às ocorrências dos estados objeto da pesquisa. Empregou-se largamente a estatística descritiva como forma de caracterizar a atuação dessas quadrilhas, identificando suas formas de atuação. Ademais, nesse item, também, a estatística espacial foi amplamente empregada com a realização de diversas análises, como a construção de um mapa de risco univariado feito com base na interpolação, com a utilização do algoritmo Kernel, da localização dos roubos a bancos. Foram utilizadas, também, técnicas de clusterização hierárquica como forma de agrupar ocorrências semelhantes e de verificar a existência ou não de concentração espacial. Os dados empregados foram obtidos a partir de uma pesquisa documental a ser realizada junto à Polícia Federal.

Abordou-se, como categorias de análise, forma, função, estrutura e processo, conforme descritas em Espaço e Método, de Milton Santos (1988).

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Assim, partindo dos elementos do espaço identificados por Milton Santos na obra acima mencionada, a saber, os homens, as firmas, as instituições, o meio ecológico e as infraestruturas, e tendo como necessidade fundamental de análise o estudo das interações entre esses elementos, diante do conceito de espaço geográfico como totalidade, objeto de estudo da Geografia, não há outra forma de apreendê-lo a não ser através das categorias de análise acima mencionadas.

Tendo em vista que o crime é fenômeno humano e objeto da presente pesquisa, seu estudo a partir da teoria do espaço miltoniana implica que sua análise seja procedida a partir do esquema metodológico proposto pelo mencionado autor. Importante realizar, neste ponto, uma ressalva: não se afirma que Milton Santos pesquisou diretamente sobre segurança pública, apenas que seu método pode ser utilizado para se entender questões a ela relacionadas.

O espaço vem a ser composto não somente pelas coisas, pelas formas, pela configuração espacial, mas também pelo uso dessas formas, pela função delas em cada momento da história humana, em um processo que é resolvido justamente pela função, as quais se realizam pela forma, adquirindo, por fim, uma expressão territorial. Sem as formas, através das funções e dos processos, a sociedade não se realizaria (SANTOS, 1988).

Contudo, as funções, os usos e os processos de cada forma variam conforme o momento da técnica e do lugar. Assim, os elementos do espaço estão ligados entre si através de uma organização, com papel de estruturação compulsória (ibidem).

Desse modo, para se apreender o espaço geográfico em sua totalidade, ainda que se limite o objeto da pesquisa, deve-se considerar que, seja qual for a ação, a interação entre as variáveis que compõem o espaço, estas devem ser analisadas, em seu contexto, como um sistema complexo, um sistema de estruturas submetido à evolução de suas próprias estruturas, entendido como como uma "rede de relações, uma série de proporções entre fluxos e estoques de unidades elementares e de combinações objetivamente significativas dessas unidade” (PERROUX, 1960, p. 371 apud SANTOS, 1988, p.13).

Como o espaço é resultado da interação entre as diversas estruturas que o compõem, é a partir do estudo dessas estruturas, homólogas ou não, que se pode compreender o objeto da Geografia com totalidade, mesmo partindo de uma abstração, que é a utilização de um recorte para a realização da pesquisa.

O crime em tela, o roubo a bancos na região estudada, nada mais é que um fenômeno espacial que, para permitir sua compreensão, exige sua análise a partir das categorias acima expostas, já que se parte do pressuposto do espaço como híbrido indissociável composto pelo sistema de ações e de objetos. As ações dos atores identificados dar-se-ão nas formas

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encontradas, que exercerão suas funções correspondentes nos processos estudados a partir das estruturas que as enquadram.

A fim de apresentar a metodologia utilizada ao longo desta pesquisa, de forma diversa da anteriormente exposta, procurando esclarecê-la da melhor maneira possível, elaborou-se o seguinte diagrama, no qual apontou-se o problema proposto, as formas de abordagem que se pretende utilizar, os temas a serem tocados, as técnicas com as quais se estudou cada tema e o que se pretende com as análises que foram realizadas, para, ao fim, chegar aos resultados da pesquisa, em especial a proposta de ação para enfrentamento dos roubos a bancos nos estados estudados.

Figura 3 – Diagrama da metodologia da pesquisa

Desse modo, a Figura 3 buscou apontar todo o caminho a ser percorrido durante a pesquisa de forma gráfica e facilmente compreensível. Partindo-se do problema proposto e de suas dimensões empírica e teórica, apontaram-se os temas a serem abordados, a saber: na dimensão empírica, as topologias dos Batalhões das polícia militares, da rede bancária e dos roubos a bancos, e na dimensão teórica do presente trabalho, que será baseada, principalmente, na Teoria do Espaço de Milton Santos e na Criminologia do Ambiente, abordou-se, ainda, de forma menos detalhada, outras posições como forma de complementação, desde que não

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contraditórias às principais, tais como as práticas espaciais descritas por Roberto Lobato Corrêa (1997), ou, ainda, o Método PES, desenvolvido por Carlos Matus (1996), que orientou a identificação de ações do poder público que venham a tornar mais eficiente o enfrentamento aos roubos a bancos.

O gráfico descreve, ainda, a técnica que será utilizada na investigação de cada uma das dimensões. Na dimensão empírica, prevê-se empregar largamente a estatística espacial e a descritiva, bem como a pesquisa documental, por intermédio da qual se obterá os dados a serem descritos e espacializados. Já na dimensão teórica, a revisão bibliográfica será a técnica empregada, como apontado na Figura 3.

Já na fase de análise sob o ponto de vista empírico, buscou-se investigar, a partir das informações obtidas pelo emprego das técnicas mencionadas sobre cada uma das variáveis, a distribuição espacial e suas estratégias de evolução, bem como determinar os fatores de influência para a ocorrência do evento estudado, isto é, dos roubos a bancos nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.

Ainda na análise, porém sob o ponto de vista teórico, buscou-se realizar uma aproximação entre a Teoria do Espaço de Milton Santos e a teoria denominada Criminologia do Ambiente.

E, ao final da presente pesquisa, ao fazer-se a interpretação de tudo o que foi produzido, elaborou-se, utilizando o Método PES, propostas de ação do poder público para que o enfrentamento ao delito sob análise possa ser mais eficaz e se possa, ao menos, reduzir seu impacto sobre a população da região estudada, especialmente a mais pobre, que sofre as consequências da indisponibilidade de bancos em suas cidades, causada pela ação de criminosos, direta ou indiretamente.

1.4 Plano de redação de tese

Como resultado do emprego da metodologia acima descrita, a tese foi dividida da seguinte forma:

Parte 1 – METODOLOGIA E ESPAÇO GEOGRÁFICO E CRIMINOLOGIA DO AMBIENTE

Inicialmente, apresentou-se a metodologia empregada na pesquisa, como forma de permitir uma melhor compreensão e avaliação dos seus resultados.

Nessa parte, buscou-se, ainda, através de pesquisa bibliográfica, apresentar o conceito e as características do Espaço Geográfico. Em um segundo capítulo, foram apresentadas as

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teorias derivadas da Criminologia do Ambiente, bem como os modelos de gestão policial dela derivados. Por fim, buscou-se estabelecer uma relação entre o conceito de Espaço Geográfico e suas características e a Criminologia do Ambiente.

Parte 2 – CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DO FENÔMENO DE ROUBO A BANCOS NA REGIÃO NORDESTE

Nessa parte, identificou-se, com o emprego do método PES (MALTUS, 2007), quais os atores relevantes seriam analisados com o uso de estatística descritiva e espacial. Nesse ponto da pesquisa, destacam-se como atores relevantes a Polícia Militar de cada estado, a rede bancária e as organizações criminosas, tendo como fio condutor o evento roubo a banco.

Posteriormente, caracterizou-se o fenômeno de roubo a bancos na Região Nordeste, buscando, através das estatísticas oficiais da Polícia Federal, acessadas com autorização da Direção Geral da Polícia Federal, descrevê-lo, comparando, inclusive com os mesmos eventos em outras partes do Brasil, a partir dos atores acima descritos.

Esta caracterização foi feita a partir dos atores selecionados na etapa anterior. Desse modo, cada um desses foi analisado detalhada e individualmente, utilizando-se como categoria de análise a forma, função, processo e estrutura.

Parte 3 – PROTOCOLOS PARA O PLANEJAMENTO DE POLÍTICAS E AÇÕES DE SEGURANÇA PÚBLICA

Na última parte da pesquisa, a partir dos dados levantados durante a pesquisa, buscou-se identificar e propor ações policiais e políticas públicas de buscou-segurança que contribuam para uma diminuição do fenômeno estudado, aumentando a eficiência do aparato policial e reduzindo consideravelmente eventos que coloquem em risco a integridade física das vítimas, dos policiais e mesmo dos autores, através de uma forte diminuição da letalidade policial.

Para tanto, realizou-se uma análise interpretativa, tendo como parâmetros os modelos de gestão policial baseados na Teoria da Criminalidade Ambiental, a teoria do espaço de Milton Santos, bem como a aplicando-se a metodologia prevista por MALTUS (2007), ou seja, através da aplicação dos jogos sociais entre os atores apontados anteriormente.

1.4.1 Roteiro

Em resumo, a pesquisa seguiu o seguinte roteiro:

a) Introdução, onde se apresentaram as justificativas da presente pesquisa;

b) Apresentação da metodologia a ser empregada, com o detalhamento do problema, hipótese e objetivos;

c) Capítulos de fundamentação teórica, realizada através de pesquisa bibliográfica a fim de obter substratos doutrinários, apresentando-se a teoria do espaço de Milton Santos, a

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teoria da Criminalidade Ambiental, bem como o estabelecimento de uma correlação entre ambas;

d) Seleção dos atores a serem analisados na dimensão empírica, através da metodologia do Planejamento Estratégico Situacional;

e) Análise da topologia da Polícia Militar;

f) Análise da topologia da rede bancária, com foco na segurança; g) Análise da distribuição espacial das ocorrências de roubo a banco;

h) Análise interpretativa, com o emprego da teoria dos jogos sociais (MATUS, 2007); f) Proposição de protocolos para o planejamento de políticas e ações de Segurança Pública para o enfrentamento dos roubos a banco no Nordeste.

Assim, buscou ao longo do presente capítulo apresentar o caminho que se propôs percorrer ao longo desta pesquisa para que fossem atingidos os objetivos propostos, demonstrando-se a importante contribuição que a Ciência Geográfica tem a oferecer na construção de políticas de Segurança Pública mais racionais, efetivas e que valorizem a cidadania.

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2 A TEORIA DO ESPAÇO E A CRIMINOLOGIA DO AMBIENTE

Neste ponto, buscou-se expor a base teórica sobre a qual repousa a presente pesquisa. Toda hipótese deve, como se sabe, fundamentar-se em um lastro teórico considerado como premissa, sem o qual aquela não poderia nem ser submetida a teste de falseabilidade.

Assim, o que se pretende ao longo deste capítulo é justamente apresentar o fundamento teórico do presente trabalho. Porém, como tese, não é possível limitar-se a tanto. Toda pesquisa destinada a obtenção do título de doutor deve apresentar uma contribuição teórica ao seu campo de estudos.

Tal objetivo também será perseguido no presente capítulo, ao se buscar a aproximação entre as duas teorias fundamentais a este trabalho científico: a Teoria do Espaço de Milton Santos e a Criminologia do Ambiente.

2.1 A Teoria do Espaço de Milton Santos

Neste tópico buscou-se traçar as linhas gerais da Teoria do Espaço (SANTOS, 2006). Tal teoria foi fundamental na superação da dicotomia que caracterizava a Geografia desde seu nascimento como ciência moderna no século XVIII.

Em sua gênese como ciência, ao escolher sua temática, qual seja, as relações entre homem e natureza, acabou por exprimir a dualidade entre os polos epistemológicos que caracterizavam aquela modernidade paradoxal e contraditória, o que acabou por marcar um desenvolvimento dualista para a nova ciência que surgia (GOMES, 1996).

Durante praticamente toda sua evolução como ciência, ou até mesmo antes, a Geografia sempre foi marcada por essa dicotomia, produzida, dentre outras coisas, pelos já mencionados polos epistemológicos, que marcaram toda a história da ciência. Tais polos concorrentes e simétricos explicam os modelos da ciência, mesmo na modernidade (ibidem).

O primeiro polo, racionalista, oriundo do projeto Iluminista, tem como fundamento a universalidade da razão, enquanto o outro opõe-se absolutamente a essa concepção. Para esses, a razão humana não poderia ser considerada matriz da uniformidade, fonte única do conhecimento científico. Ao contrário: para esses últimos, o singular deve ser valorizado, sendo os fatos interpretados a partir de suas expressões, tendo o sentimento, a empatia e a identidade como elementos epistemológicos tão importantes quanto o raciocínio lógico. Caracteriza-se, pois, pela subjetividade (ibidem).

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Tais polos epistemológicos, por óbvio, impactam sobremaneira a ciência geográfica, levando ao desenvolvimento das mais variadas teorias até a contemporaneidade, como a Geografia da Percepção e a Geografia Radical, mantendo o caráter dicotômico dessa ciência.

Como também expressão dessa dicotomia, podemos, ainda, mencionar a separação entre a Geografia Física e a Geografia Humana, uma preocupada em estudar os fenômenos físicos de nosso planeta, enquanto a outra é focada na relação homem-meio, como se fosse possível abstrair a interação entre a sociedade e o meio onde essa se encontra.

Em uma busca para superar essa dicotomia, Milton Santos propôs sua Teoria do Espaço, uma “Geografia nova”. Nenhuma ciência pode desenvolver-se com seu objeto de estudo dividido, ora tendendo a buscar uma descrição dos fenômenos naturais sem preocupar-se, de fato, com o homem, ora tentando a explicar as relações entre o homem e seu meio, sem atentar, de forma significativa, para o profundo impacto do ambiente físico e social sobre as ações humanas.

Ora, a presente pesquisa não seria possível caso abordasse, de forma segmentada, a configuração territorial e seus aspectos físicos em relação às ações humanas de roubos a bancos. Para compreender-se o fenômeno estudado, não há como separar as ações humanas do ambiente em que elas ocorrem, sob pena de encontrar-se uma explicação meramente parcial.

Os fenômenos espaciais e sociais são complexos e não podem ser compreendidos senão sob o enfoque proposto por Milton Santos, que conjuga o sistema de ações e de objetos em um único híbrido indissociável: o espaço geográfico (SANTOS, 2006).

2.1.1 Bases filosóficas da Teoria do Espaço de Milton Santos

Como passo inicial na busca pela compreensão da mencionada teoria, buscar-se-ão os fundamentos filosóficos empregados na conceituação do espaço e na sua construção, tendo como base seu objetivo em superar a tradicional dicotomia da Geografia, superando a separação homem - meio, identificando o espaço como um híbrido indivisível dos sistemas de ações, essas humanas, e do sistema de objetos.

As raízes filosóficas do conceito de espaço miltoniano podem ser buscadas em Heidegger, Sartre e Ortega y Gasset, dentre outros (DANTAS, 2014).

Para Heidegger, não decidimos nascer: somos, simplesmente, “lançados”, e, sendo lançados, decidimos por ser, de modo geral. E, uma vez optando por ser, projetamo-nos para fora, somos geografizados, o que nos leva a decidir não somente ser, mas também como

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seremos (ibidem). Assim, para Milton Santos: “o onde determina o como do ser, porque ser significa presença” (SANTOS, 2006, p. 93).

A essa presença, Heidegger denomina Dasein, o “ser-ai”, a forma de ser, os modos possíveis de existir. No entanto, só se pode ser em um determinado tempo e espaço, o que leva à Geografia, ou seja, a relação entre ação e objeto, que somente se dá em um determinado espaço geográfico, em um onde certo (DANTAS, 2014).

Somente a partir desse entendimento podemos compreender o espaço geográfico, esse híbrido indissociável dos sistemas de ações e de objetos (SANTOS, 2006). Isso ocorre porque só podemos existir em sendo, e só somos quando pomo-nos no mundo, geografizamo-nos por meio de ações, utilizando-nos, para tanto, dos objetos materializados, os quais nos permitem fazer as opções dentre as diversas possibilidades do nosso existir (DANTAS, 2014).

Assim, o problema de análises geográficas que separam de um lado o espaço e de outro a sociedade é a incapacidade de explicar o mundo, pois “[...] o sendo: ação do verbo ser nos coloca a todos, homens e lugares, numa relação constitutiva e essencial do nosso modo de ser. A ao ser nos geografizamos.” (ibidem, p. 53).

Outro filósofo importante para o entendimento de Milton Santos é Ortega y Gasset. Seu conceito de realidade radical, isto é, a inseparabilidade do eu e das coisas, na medida em que só o são por intermédio da relação de constituição da vida humana. Desse modo, tal conceito parece inspirar Milton Santos ao conceituar o espaço como sistema de objetos e sistema de ações (SANTOS, 2006) (DANTAS, 2014).

Em relação a Sartre, os conceitos de prático-inerte, fundamentais para o entendimento das materialidades e de totalidades-totalizações, podem ser identificados na obra de Milton Santos. Para Santos, o cotidiano, o dia a dia, é consequência, dentre outras coisas, de imposições espaciais. Percebe-se aí a noção de prático-inerte, chamada por Milton Santos de inércia dinâmica, cuja característica é o fundamento da existência do espaço como estrutura social.

Deve-se, ainda, acrescentar ao já dito “a ideia de totalidade e de totalização, entendendo-se a primeira como resultado e a segunda como processo, o que nos permitiria analisar a totalidade como movimento real e como um conjunto inerte e um movimento da totalização que está sempre em curso (ibidem, p. 56).

Assim, como se depreende da leitura acima, buscar entender o mundo sem considerar a indissociabilidade dos sistemas de ações e objetos compondo o espaço geográfico é ignorar a complexidade da relação entre o homem, os outros homens, suas ações e os objetos que os cercam do mundo em si, já que essa relação é a base da própria existência humana.

Referências

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