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O DESAFIO DA MENSURAÇÃO E EVIDENCIAÇÃO DA CONTABILIDADE AMBIENTAL

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Academic year: 2021

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Recebido em 15/02/2015. Aprovado em 16/04/2015. Avaliado pelo sistema double blind peer review.

Antônio Oliveira de Carvalho1 Helivanice Oliveira Dias Moraes2 Resumo:

Este artigo, tem como objetivo discutir a evidenciação dos aspectos definidos como “contabilidade ambiental” nas demonstrações contábeis clássicas em empresas brasileiras de capital aberto classificadas como empresas sustentáveis. A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas: a primeira se consistiu de uma revisão da literatura; e a segunda a seleção de 6 empresas integrantes do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Foram analisados os documentos e informativos que evidenciam os investimentos e gastos ambientais, e em seguida foram analisadas as demonstrações contábeis clássicas, Balanço Patrimonial (BP) e Demonstração de Resultados de Exercício (DRE) para verificar a existência de escrituração e evidenciação destes aspetos. Os resultados apontam a inexistência de registros nas demonstrações, e confirmam o que a literatura destaca, que os aspectos ambientais são disseminados apenas em relatórios anuais, em balanços sociais, relatórios específicos, sites e outros canais internos. Consideramos que este trabalho representa uma contribuição para o aperfeiçoamento das demonstrações, evidenciando ganhos e perdas das empresas relativas as questões de sustentabilidade, e tornando estes dados uteis para os diversos stakeholders envolvidos.

Palavras-chave: Contabilidade ambiental. Sustentabilidade. Evidenciação contábil ambiental.

THE CHALLENGE OF MEASUREMENT AND DISCLOSURE OF ENVIRONMENTAL ACCOUNTING

Abstract:

This article aims to discuss the disclosure of the aspects defined as "environmental accounting" in the classic financial statements in Brazilian public companies classified as sustainable enterprises. The research was conducted in two stages: the first consisted of a literature review; and the second the selection of six companies of the Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) of the Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). The documents and information that show investments and environmental expenses were analyzed, and then analyzed the classic financial statements Balance Sheet (BP) and Exercise Income Statement (DRE) to check bookkeeping and disclosure of these aspects. The results indicate the absence of records in the statements, and confirm what the literature points out, that environmental aspects are disseminated only on annual reports on social reports, specific reports, websites and other internal channels. We believe that this work represents a contribution to the improvement of the demonstrations, showing gains and losses of

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Doutorando em Administração pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE), Mestre em Administração pela Salvador (UNIFACS) e professor do Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE). E-mail: professorcarvalho@rocketmail.com

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companies on sustainability issues, and making these useful data to the various stakeholders involved.

Keywords: Environmental accounting. Sustainability. Environmental accounting disclosure.

1 INTRODUÇÃO

O tema sustentabilidade está presente em toda discussão relacionada a gestão empresarial contemporânea. O modelo industrial de desenvolvimento praticado pelas nações de todo o mundo, ainda que, em dimensões e posições distintas quanto a exploração e ao fornecimento de recursos naturais, conduziram a sociedade mundial a um grande dilema, o dilema do desenvolvimento sustentável. Este modelo estabelece a necessidade de criar-se novos negócios ou de converter os já existentes em modelos pautados nos quatro pilares da sustentabilidade: economicamente viável, ecologicamente correto, socialmente justo e culturalmente aceito. Kates et al. (2003) afirmam que a atual situação do planeta é considerada insustentável, pois, sociedade não é capaz de manter em níveis aceitáveis os elementos da sustentabilidade dos ecossistemas.

Diante disso, a escassez ou degradação dos recursos naturais, são apontados como um cenário crítico. Para Machado et al. (2012), as empresas são alvo de críticas pelo modus operandi que adotam que geram externalidades, positivas e negativas que são observadas constantemente pelos públicos de interesse. De acordo com Karkotli e Aragão (2010), a sociedade mundial está imersa em três exigências econômicas estreitamente relacionadas: suprir os bens de consumo e serviços requeridos, pois ainda que tenhamos alcançado níveis elevados de consumo, parte significativa da população mundial ainda está alijada de consumo de bens e serviços básicos; assegurar que a produção e o consumo não exerça efeito adverso sobre o atual bem-estar das pessoas; e assegurar que esta produção e consumo não afetem adversamente as gerações futuras.

Rezende; Nunes e Portela (2008) destacam que, para a gestão de negócios as empresas têm diante de si a necessidade de fortalecerem aspectos da gestão e de suas operações voltadas para a sustentabilidade, e está posição poderá se opor ao desempenho financeiro. McWilliams e Iegel (2001) sublinham que, o consumidor contemporâneo, dotado de um nível mais elevado de consciente sobre as questões ambientais, tem adotado o denominado “consumo consciente”. Para os autores, este comportamento é o que gera a associação entre o desempenho social e financeiro. Esta possibilidade de confronto entre sustentabilidade de desempenho financeiro, sobretudo nos aspectos de rentabilidade e retorno, a sustentabilidade coloca a sustentabilidade na contramão do objetivo central da empresa, o da satisfação do retorno do investimento pelos seus investidores e proprietários, conforme destaca Assaf Neto (2003).

Neste cenário de desafios de equilíbrio entre sustentabilidade e maximização da riqueza, as ciências contábeis, na condição de ciências gerenciais, responsável pelo registro, escrituração e evidenciação dos fatores positivos e negativos que afetam a geração de retorno e de riquezas, não poderá se limitar simples escrituração e mensuração do patrimônio da empresa conforme destaca Herckert, (2005). Para este autor a contabilidade precisa abrir-se às

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mudanças que constantemente ocorrem, e dentre estas a preservação ambiental. É no contexto desta discussão teórica que surgem os argumentos da “contabilidade ambiental”, que para Bergamini Junior (1999), objetiva o registro e a evidenciação das transações da empresa que resultam em impacto ambiental capazes de afetar a posição econômico-financeira da empresa. No entanto, frente o grau de novidade e as especificidades das questões ambientais a contabilidade possui um desafio fundamental, o de registrar de forma confiável, a complexa relação entre sustentabilidade e aspectos patrimoniais, conforme destaca Costa (2012), de forma a refletir a real posição da empresa.

Embora tenha destacada sua importância, incluindo seus aspectos discutidos e difundidos, tais como receitas ambientais, ativos ambientais e passivos ambientais, conforme destacado por Costa (2012), parte da literatura afirma que estes aspectos não são evidenciados nas demonstrações clássicas Balanço Patrimonial (BP) e Demonstração de Resultados do Exercício (DRE) principais fontes de consultas de grupos de interesse e, sobretudo de investidores sobre o desempenho da empresa. Autores como Santos et al. (2001); Da Costa e Marion (2007); Raiborn, Butler e Massoud (2011); Da Silva et al. (2011), destacam fragilidades na evidenciação dos impactos ambientais para que esta seja considerada de fato “contabilidade ambiental”. Para os autores, os aspectos ambientais estão difundidos em relatórios de administração, balanços sociais e outros veículos da empresa, porém, nas demonstrações não há o registro ou apontamento que evidenciem resultados, ganhos ou perdas relacionados as questões ambientais.

Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é analisar a existência de registros, informações e/ou indícios de resultados (positivos ou negativos) nas demonstrações contábeis clássicas em empresas brasileiras de capital aberto classificadas no Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Para desenvolver a pesquisa, cujo pergunta central de pesquisa a ser respondida é: os aspectos ambientais, são evidenciados

nas demonstrações contábeis das empresas brasileiras de forma clara, transparente e quantitativa?, foi realizada uma pesquisa em duas etapas, a primeira uma pesquisa

bibliográfica e a segunda uma pesquisa descritiva em base documental com a análise das informações de documentos como: sites e balanços sociais das empresas selecionadas e em seguida a análise das demonstrações contábeis para verificação da existência de registros e evidencias dos aspectos ambientais.

Consideramos como as principais contribuições deste trabalho: uma reflexão sobre a necessidade de ampliação da análise e evidenciação dos aspectos ambientais pela contabilidade; a qualificação e quantificação dos aspectos ambientais como potencializadores ou inibidores de resultados; e sobretudo para o aperfeiçoamento da gestão empresarial e da contabilidade em sua atividade de apuração e evidenciação.

2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Novo Consumo Nova Economia

Conduzido por um sistema capitalista e industrial, a sociedade contemporânea é induzida a consumir muito além do necessário e essa aquisição desmedida de produtos tem ocasionado, ao longo dos anos, danos ao meio ambiente na forma de externalidades negativas associadas à atividade empresarial, sob a forma de degradação da natureza, condições de trabalho impróprias e produtos inadequados às necessidades humanas. (VERGARA; BRANCO, 2001). A destruição contínua causada pelas empresas, ávidas por maiores lucros,

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acarretou uma série de problemas ambientais pelo mundo. De acordo com Bedante e Slongo (2004), vários são os fatores que resultam da atividade de consumo, como devastação de florestas, extinção de animais, contaminação de rios e mananciais, poluição do ar, desperdícios de água, energia e alimentos. Esses são problemas dignos de atenção, uma vez que comprometem a qualidade de vida e em certa medida o futuro da humanidade.

Para Kates et al. (2003) a situação atual do planeta é insustentável. Para os autores a sociedade não atual não consegue manter os elementos da sustentabilidade dos ecossistemas que suportam a vida na terra, desta forma não consegue também manter os níveis de recursos naturais que servem como matéria-prima. Com crise econômica iniciada em 1972, causado pela exiguidade do petróleo, os problemas ambientais tornaram-se objeto do debate econômico, político e social no mundo, o debate sobre a sustentabilidade, “a necessidade de assegurar que não afetem adversamente as vidas e o bem-estar das gerações futuras”. (KARKOTLI; ARAGÃO, 2010 p. 34). Inúmeras conferencias sobre o meio ambiente foram realizadas com a intenção de elaborar diretrizes para que todos os setores da sociedade colaborassem com a preservação ambiental, garantindo assim sustentabilidade das futuras gerações em promover suas próprias demandas. Bursztyn et al. (2001) destacam a existência de uma frustração da sociedade por encarar uma constrangedora pauta de pendências.

Os efeitos da degradação ambiental não podem ser tratados sem que se combatam as suas causas. O capitalismo moderno deu à luz o consumismo, o qual criou raízes profundas entre as pessoas. O consumismo tornou-se a principal válvula de escape, o último reduto de autoestima de uma sociedade. (PENNA, 1999 p.216)

Informado de sua importância para com o meio ambiente, o consumidor vem adotando uma nova postura no comportamento de consumo intitulado de consumo consciente. McWilliams e Iegel (2001) destacam este comportamento obriga a uma associação entre o desempenho social e financeiro, para os autores as empresas precisam buscar a manutenção de equilíbrio entre a maximização do lucro e da riqueza. O objetivo dessa nova conduta é por meio de suas escolhas, maximizar os impactos positivos e minimizar os negativos dos seus atos de consumo, contribuindo para a preservação do planeta. Para Simpson e Kohers (2002), há uma relação positiva entre o desempenho social e financeiro, pois, ao tentar reduzir custos de forma irresponsável à empresa pode resultar na sua descontinuidade, pois perderá a preferência do consumidor. Consciente do poder que existe no seu ato de compra, este cidadão vem forçando uma mudança comportamental no processo produtivo das corporações. Essas exigências pressionam as empresas dedicar atenção aos aspectos da sustentabilidade sob o risco de perda de lucratividade, ou seja, se sua imagem for comprometida seus clientes não mais comprarão seus produtos (GARRIGA; MELÉ, 2004).

Os empresários observando essa mudança incorporaram as políticas ambientais em sua gestão com a intenção de oferecer produtos e serviços em conformidade com as expectativas dos clientes e atender as regras determinadas pelas entidades normativas. Segundo Franco (1999; p. 38) as empresas que protegem o meio ambiente são bem vistas pelo consumidor e por investidores, já havendo, em alguns países, fundos especializados em investir em empresas que protegem o ambiente. Esses fundos têm crescido e apresentado rentabilidade, porque as empresas são também mais lucrativas.

As empresas que ignoram tais mudanças e continuam causando danos ao meio ambiente estão sujeitas as sanções previstas em leis, mas nada se compara as punições que acontecem por parte dos consumidores que deixa de adquirir seus produtos levando as algumas entidades a finalizarem suas atividades.Auller, (2002), sublinha que, a defesa do meio ambiente já não é apenas um assunto para ecologistas, para o autor, se analisada a ótica

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empresarial podemos compreender que, se a empresa contribui para inviabilizar o seu meio, poderá contribuir para inviabilizar a sua própria atividade.

De acordo com Moraes e Carvalho (2014), o aumento das obrigações relacionadas à proteção ambiental, contabilidade elaborar um modelo adequado para as entidades executarem a gestão de aspectos ambientais que possam a gerar dados apresentáveis contabilmente. Para se tornarem ambientalmente responsável e ao mesmo tempo lucrativa, as instituições devem contar com o auxílio da contabilidade ambiental para adquirir um padrão favorável que inclua a variável ecológica em suas atividades corporativas que gerem dados apresentáveis contabilmente, além de criar sistemas e métodos de mensuração dos elementos mostrando ao empresário as vantagens dessas ações. (PIMENTA, 2009).

2.2

A Importância da Contabilidade Ambiental nas Empresas

A contabilidade ambiental tem como objetivo o registro das transações empresariais que geram impacto no meio ambiente e os efeitos desta que afetam a posição econômica e financeira dos negócios (BERGAMINI; JUNIOR, 1999). Para Kraemer, (2001) a contabilidade, entendida como meio de fornecimento de informações tem diante de si, um novo desafio ao qual precisa responder, a atuação da empresa sobre o meio ambiente. Em resposta às pressões do corpo social, leis foram criadas por todo o mundo, visando proteger o meio ambiente e punir severamente aqueles, e sobretudo as empresas que as infringirem. Segundo Rossi e Rios (2014), a omissão de qualquer irregularidade ambiental, poderá caracterizar-se como um ato criminoso. É proibido omitir informações ambientais, como por exemplo um passivo ambiental, visto que poderá impactar seriamente na situação patrimonial da empresa.

Para Deegan e Rankin (1997) a adoção de aspectos relacionados à sustentabilidade não representa exatamente uma opção para as empresas. Com receio de ter seu patrimônio ceifados por multas astronômicas proveniente de danos causados a natureza, a comunidade empresarial, tornou as informações adquiridas pela contabilidade ambiental imprescindíveis para implantação de uma política ambiental em seus negócios.

De maneira geral, a contabilidade ambiental destaca os custos nas despesas gerais (proporcionando uma análise financeira em relação à preservação do meio ambiente), evidencia no Ativo os investimentos nessa área e cria provisão para riscos ambientais no passivo. (PIMENTA, 2009. p. 02)

Wood (1991) destaca que o desempenho social das empresas obtido pela integração entre responsabilidade social, a resposta a sociedade em suas políticas e procedimentos resultam simultaneamente em ganhos de imagem, de competitividade e de riquezas. De acordo com Mattila (2009), a centralidade da adoção da sustentabilidade e da responsabilidade socioambiental nos negócios deve estar no entendimento dos reais benefícios que a empresa pode obter em termo de competitividade. Este entendimento é corroborado por Deegan, Rankin e Tobin (2002), que afirma que é a legitimidade nos negócios e o ganho real gerado a partir do aumento da riqueza que pode ser a motivação central para que as empresas adotem práticas sustentáveis.

Para Costa (2012) uma companhia que reconhece suas responsabilidades ambientais deverá diminuir seus riscos financeiros futuros resultantes de incidentes ambientais. Em consequência dessa baixa nos riscos ambientais a entidades pagará menores prêmios de

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seguros e assegurará uma redução nas taxas de juros na captação de recursos. Mcguire; Sundgren e Schneeweis (1988), concordam com esta afirmação quando destacam que estudos apontam a existência de atenção às medidas de desempenho baseadas em estudos de responsabilidade social corporativa e que esta é capaz de influenciar o desempenho da empresa.

2.3 A Evidenciação da Sustentabilidade na Contabilidade

Conforme definição de Aquino e Santana, (1992), evidenciar significa tornar evidente, mostrar de forma clara, de forma a não permanecer dúvida, que se possa compreender prontamente, em outras palavras, o autor afirma que, se unirmos essas conceituações, poderemos afirmar que evidenciação é a divulgação clara, aquela na qual se compreende imediatamente aquilo ou o que se deseja comunicar. Petcharat e Mula (2010), sublinham que a contabilidade financeira ajuda a empresas divulgações ao relatar o desempenho financeiro para orientar a tomada de decisão sobre investimentos e gestão de desempenho, bem como o apoio de interessados necessidades de informação.

As informações evidenciadas nas demonstrações contábeis devem conter dados relevantes que possam colaborar na tomada de decisões pelos gestores, sempre de acordo com os princípios da contabilidade. De acordo com a resolução nº 1282 /2010 do Conselho Federal de Contabilidade, o Artº 1 informa que observância dos Princípios de Contabilidade é obrigatória no exercício da profissão e constitui condição de legitimidade das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC).

Para Herckert, (2005), a contabilidade não deve se limitar à escrituração e à mensuração quantitativa do patrimônio da empresa. O autor destaca que a ciência contábil deve estar aberta às mudanças rápidas do mundo atual e considerar as discussões sobre preservação ambiental e ser capaz de criar modelos eficazes para orientar as empresas na adoção de práticas capazes de satisfazer as necessidades de geração de riqueza da empresa e as necessidades do meio natural. Ribeiro e Lisboa, (1999), destacam que é fundamental evidenciação dos aspectos relativos à relação da empresa com o meio ambiente, qualquer que seja o usuário desta informação e, como todos os stakeholders possuem interesse sobre este aspecto em função da sua importância para viabilidade dos negócios, sua evidenciação é de grande importância.

Costa (2012), afirma que umas das principais preocupações da contabilidade ambiental é evidenciar claramente, os gastos decorrentes da questão ambiental, demostrando ao público a atuação de determinada empresa com o ambiente natural onde está inserida. Apesar da pressão exercida pela sociedade, a divulgação das informações ambientais ainda são evidenciadas em caráter voluntario, ou seja não existe obrigatoriedade. Mas tal atitude traz benefícios as entidades se tornando fator determinante para o sucesso dos negócios.

Um conjunto de variáveis tem influenciado o comportamento de diversas companhias, que divulgam voluntariamente informações sociais e ambientais e vão além do que é exigido pela legislação. As empresas brasileiras com melhor desempenho ambiental são aquelas com maior inserção no mercado internacional (CALIXTO, 2009 p. 11).

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Ou e Penman (1989), destacam que apesar das reclamações sobre a eficiência do mercado quanto as informações contábeis é a análise das demonstrações financeiras que revelam as medidas valor e indicação de lucros futuros, estas ainda são as mais usuais e confiáveis. Para Venkatraman e Ramanujan (1986), a medição do desempenho financeiro está relacionada à medição da efetividade da empresa, ou seja, da capacidade real de geração de lucro, de retorno e de valor. Desta forma, a viabilidade econômica de uma empresa demanda dedicação, conhecimento e empenho dos gestores no planejamento, gerenciamento e controles dos diversos aspectos relacionados aos indicadores de resultados financeiros.

A disseminação das políticas ambientais adotas pelas entidades são feitas através de: demonstrações financeiras já existentes, tornando os informes ambientais apenas um complemento das informações contábeis; e de relatórios contábeis isolados, onde deverá ser preparado um Balanço Patrimonial (BP) e uma Demonstração de Resultados do Exercício (DRE) unicamente com questões ambientais.

A carência de informações padronizadas nos relatórios de sustentabilidade tem comprometido a análise dos dados divulgados e dificultado a comparabilidade entre empresas de diferentes setores. Segundo Epstein e Freedman (1994), uma das maiores dificuldades encontradas por investidores individuais ao analisar as informações ambientais é saber onde localizá-las com precisão. Com dificuldade de mesurar seus investimentos no meio ambiente as empresas acabam divulgando informações qualitativas tornando os relatórios superficiais, não permitindo sua utilização pelos stakeholders.

2.4 O Desafio da Mensuração e da Evidenciação

Sob a ótica de Hendriksen e Van Breda (1999), mensurar significa atribuir uma quantidade numérica a uma característica ou a um atributo de algum objeto, tal como um ativo ou uma atividade, como a produção. Na contabilidade esse vocábulo significa precificar, atribuir certo valor monetário a algo, em uma azienda ou associado a ela. De acordo com Calixto (2009), é necessário que as informações contábeis divulgadas estejam em conformidade com os princípios de contabilidade aceitos, neste sentido, a autora destaca que a evidenciação assume papel importante, pois esta representa a forma de comunicação entre a contabilidade e os demais usuários das informações publicadas.

Na escrituração tradicional os métodos usados na mensuração, das contas patrimoniais, já estão bem solidificados, porém na contabilidade ambiental isso ainda é um desafio devido ao pouco avanço na área.

O valor ambiental e sua inserção em métodos de contabilização passam pelo desafio de precificar o que não faz parte do processo de compra e venda dos indivíduos. Não se compra ar puro, biodiversidade, qualidade da água; mas a sociedade extrai, processa e consome os recursos naturais, interligando a economia e o meio ambiente. (AULLER, 2002 p.08)

O objetivo da evidenciação contábil seria: o de divulgar informações do desempenho econômico, financeiro, social e ambiental das entidades aos parceiros sociais, os stakeholders, considerando que os demonstrativos financeiros e outras formas de evidenciação não devem ser enganosos (TINOCO; KRAEMER, 2004, p.256)

Para Ferreira (1999), alguns pontos são necessários para auxiliar no modo que as instituições utilizam para mensurar os eventos econômicos e financeiros ligados a natureza.

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Para a mesma, a atribuição de valores para esses eventos devem ter a tendência de: a) estabelecer como unidade de mensuração a unidade monetária; b) permitir a avaliação dos ativos pelos benefícios futuros que ele poderá propiciar à entidade; c) permitir a avaliação de passivos efetivos pelo valor presente da dívida; d) permitir a previsão de passivos contingentes, pelo valor presente da expectativa de restrições futuras sobre os ativos; e) representar capitais equivalentes em diferentes datas, permitindo sua comparabilidade; f) que a moeda esteja isenta das variações em seu poder aquisitivo, ou seja, use taxas de inflação que possam corrigir isso; g) evidenciar os efeitos do tempo sobre o capital, aplicando as taxas de juros pertinentes a cada evento; h) estabelecer um preço de transferência para os serviços prestados ou produtos gerados que venham a ser entregues a terceiros; nesse caso, deve-se utilizar o preço de mercado à vista por um serviço de igual qualidade e especificação; e i) que, para os consumos efetivos, seja utilizado o menor preço de mercado por seu valor à vista, para especificação e qualidade iguais.

Segundo Costa (2012), apesar da sua complexidade, a mensuração das contas ambientais é fundamental para que a contabilidade as registre com valores confiáveis, procurando refletira a verdadeira posição em que a empresa se encontra com relação aos eventos ligados ao meio ambiente. Para Tsoutsoura (2004) este debate contínuo sobre a legitimidade e valor das respostas sociais das empresas, relacionada ao seu papel na sociedade, sobre se a maximização da riqueza deve ser objeto de grande atenção pela gestão empresarial.

Para Pereira (2007), a Contabilidade Ambiental deverá ter como objetivo o direcionamento do sistema de informações adotado pela Contabilidade Tradicional objetivando mensuração e evidenciar o impacto ambiental no património das organizações e da conduta da empresa em relação ao meio ambiente. Gadenne e Zaman (2001) em seu estudo, realizado com 125 dentre 500 maiores empresas australianas, constataram que a grande maioria destas companhias não divulga esse tipo de informação, principalmente pelo fato de a divulgação ser predominantemente voluntária. Em um estudo realizado com maiores companhias do Reino Unido no período de 1979 a 1991, (GRAY; KOUHY; LAVERS, 1995) constataram que a qualidade das informações divulgadas varia quando esta é obrigatória e voluntária, variando ainda pelo porte e origem.

Calixto (2009) examinou informações de 80 brasileiras companhias de capital aberto de 17 setores, no período de 1997 a 2005. Os resultados apontam que maioria das empresas divulgam informações qualitativas no relatório da administração e em menor escala em notas explicativas de forma não constantes. De acordo com a autora, a maior parte das empresas pesquisadas divulgou informações apenas declarativas sobre o seu desempenho ambiental, tais como valores investidos em preservação e proteção do meio ambiente, envolvimento com a comunidade e educação ambiental, implantação e manutenção de sistema de gestão ambiental e licenciamento de atividades (CALIXTO, 2009 p. 20)

Santos et al. (2001), destacam que, embora a contabilidade seja considerada uma poderosa ferramenta para de evidenciação dos aspectos ambientais, é verificado nas empresas brasileiras um baixo grau de conhecimento e aplicação da contabilidade ambiental. Esta constatação e reafirmada por Da Costa e Marion (2007) que em seu estudo apontam para uma falta de comprometimento por parte das empresas em demonstrar as suas informações para aplicação da Contabilidade Ambiental, sobretudo as empresas consideradas potencialmente poluidoras. A adoção de uniformidade contábil resolvida o problema, pois, desta forma as informações ambientais seriam identificadas, mensuradas e evidenciadas da mesma maneira. (DA COSTA; MARION, 2007).

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Para Raiborn, Butler e Massoud (2011), embora haja por parte de gestores e stakeholders o reconhecimento da importância dos impactos ambientais das operações para determinação de riscos e projeção de lucros, o sistema de informações contábeis tem falhado em evidenciar estes aspectos. Em estudo realizado entre 2009 e 2010 com empresas do ISE, Da Silva et al. (2011), concluíram que as informações mais evidenciadas se referem aos “custos para controlar impactos ambientais”, que há baixo nível de evidenciação e sugerem que as evidenciações de informações ambientais devam ser mais explicitadas.

A partir da premissa de que “não há evidenciação qualificada dos aspectos relativos a contabilidade ambiental nas empresas brasileiras”, que este trabalho foi desenvolvido com objetivo de responder a seguinte pergunta de pesquisa: “os aspectos ambientais, são evidenciados nas demonstrações contábeis das empresas brasileiras de forma clara, transparente e quantitativa? ”.

3. METODOLOGIA

Para atender o objetivo do artigo, que é identificar como as empresas divulgam contabilmente informações sobre a relação de suas operações e de seu negócio com o meio ambiente, a metodologia aplicada seguiu o método dedutivo, que segundo Gil (2008, p. 9) é o método que parte do geral e, a seguir, desce ao particular. Parte de princípios reconhecidos como verdadeiros e indiscutíveis e possibilita chegar a conclusões de maneira puramente formal.

A pesquisa, realizada em duas etapas, baseou-se, primeiramente, em uma pesquisa bibliográfica e, definida por Leite (2008) como pesquisa cujo dados são coletados em obras já existentes, em seguida, em uma pesquisa descritiva em base documental, que segundo Lakatos e Marcone (2008) é que a fonte de coleta de dados restrita a documentos, escritos ou não, o que se constitui o que se denomina de fontes primárias. A segunda etapa consistiu na coleta de dados das empresas integrantes do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE)i, por meio do acesso ao site da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

A amostra foi composta de seis empresas escolhidas aleatoriamente de diferentes setores econômicos. Destas empresas foram analisadas as políticas de sustentabilidade divulgadas em seus portais e publicadas em seus relatórios de administração e balanços sociais e em seguida foram analisadas as duas demonstrações contábeis clássicas: o Balanço Patrimonial (BP) a Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) juntamente com as notas explicativas de cada empresa, para buscar identificar informações escrituradas que identifiquem ou deem indícios sobre os resultados ou perdas ocasionadas por ativos ou passivos ambientais.

3.1 Coleta de dados

As empresas escolhidas para este artigo possuem grande visibilidade no mercado brasileiro sendo acompanhadas de perto pela comunidade financeira. Regidas pela Lei nº 10.303/01, que dispõe sobre a sociedade por ações, essas companhias são obrigadas a divulgarem suas demonstrações contábeis e financeiras anualmente. De acordo com que afirma Rossi e Rios (2014), se tratando de companhias de capital aberto os investidores cada vez mais se atentam a dados ambientais com o intuito de saber se a empresa é correta

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ecologicamente já que este aspecto pode impactar na geração de riquezas e no valor das ações.

Apresentamos abaixo as empresas selecionadas para composição da amostra

1 - Vale: Criada em 1942 para explorar as minas de ferro na região de Minas Gerais,

atualmente a vale está presente em cerca de 30 países no mundo. A companhia é a terceira maior mineradora do mundo sendo a maior produtora de minério de ferro e a segunda maior de níquel. As políticas ambientais da Vale foram iniciadas em 2011 e desde 2013, a companhia incorpora projetos ambientais e sociais diretamente no seu planejamento estratégico, integrando a sustentabilidade ao seu negócio.

2 - Santander Brasil: Subsidiaria do banco espanhol Santander, entrou em atividade no

Brasil em 1982. É o terceiro maior banco privado do Sistema Financeiro Nacional, estando presente em todos os estados do pais através de agências e equipamentos de autoatendimento. As ações de sustentabilidades foram iniciadas pela instituição em 2007, com o projeto Obra Sustentável que reduz o impacto ambiental na construção e uso das edificações. Hoje o Santander, além de investir em processos operacionais mais ecoeficientes, incentiva a adoção de boas práticas ambientais junto a clientes, fornecedores e toda nossa rede de relacionamentos.

3 - Natura: Empresa brasileira de cosméticos, fundada em 1969, presente em 10 países do

mundo. Foi eleita em 2014, uma das 50 marcas mais poderosas do mundo pelo site Brand Finance. Quando lançou em 2000 a linha EKOS, a empresa passou a ser referência em sustentabilidade por utilizar a biodiversidade de forma sustentável, contribuindo para sua preservação. Segundo a Natura, os princípios que norteiam o desenvolvimento de produtos da linha são: responsabilidade ambiental, embalagens com menor quantidade de materiais, embalagens recicladas e recicláveis, refis para todos os itens e fórmulas biodegradáveis.

4 - Gerdau: Fundada em 1901, é uma siderúrgica brasileira que está em atividade em catorze

países dos continentes americano, europeu e asiático. O sistema de desenvolvimento sustentável que alia competitividade, eficiência econômica e preservação do meio ambiente começou a ser utilizado em 2002. Desde então a empresa se tornou maior recicladora da América Latina e do mundo, transformando sucata em aço, reforçando seu compromisso com a natureza.

5 - Ceming: A maior empresa integrada do setor de energia elétrica da América Sul, a

Ceming, foi criada em 1952 pelo governador de Minas Gerais Juscelino Kubitschek. A companhia atua em 22 estados do Brasil e no Chile. Uma das pioneiras em relação a sustentabilidades, a empresa possui uma política ambiental, editada em 1990. Na política ambiental a empresa busca evidenciar através de publicações internas e abertas ao público em geral, as metas que orientam os trabalhos de redução, compensação ou eliminação dos impactos ambientais gerados pelas atividades da instituição, para garantir o desenvolvimento sustentável.

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6 - Sul América Seguros: A maior operadora de seguros independente do Brasil, na

atualidade, iniciou suas atividades em 1895. Hoje a instituição é responsável direta pelo desenvolvimento da operação de seguros no país. A sustentabilidade está inserida no planejamento estratégico da empresa que criou em 2009, uma governança de sustentabilidade ao instaurar um Comitê de Sustentabilidade e uma área de Sustentabilidade Empresarial. Sua gestão ambiental tem como princípio a preservação do meio ambiente por meio da combinação integrada dos impactos ambientais decorrentes das operações de seu negócio. Para cumprir com esses compromissos, a companhia desenvolveu algumas iniciativas e iniciou, em 2014, projetos para criar uma Estratégia e uma Política sobre Mudança do Clima.

3.2 Análise e Comentário dos Resultados

Nos sites das instituições, foram explorados os relatórios divulgados (relatórios da administração e Balanço Social), além das principais demonstrações contábeis divulgadas entre os anos de 2013 e 2014 em busca de informações ambientais para serem analisada neste artigo. A evidenciação das informações relativas as questões ambientais estão apresentadas no Quadro 1 abaixo.

Quadro 1: Informes onde foram evidenciadas as políticas ambientais

Empresa/ Informe

Vale Santander Natura Gerdau Ceming Sul

América Relatório anual X X X X X X Balanço social X X Relatório de sustentabilidade X X Balanço Patrimonial Demonstração de Resultados Fonte: dados da pesquisa.

Conforme demonstrado no quadro acima, as empresas pesquisadas preferem evidenciar suas informações ambientais através dos seus relatórios anuais, que possui cunho superficial se comparando a outros relatórios. Apenas as companhias Vale e Ceming exteriorizaram a preocupação quanto a divulgação de tais informes e apresentaram relatórios específicos. Porém em nenhuma das empresas pesquisadas pudemos reconhecer informes ambientais nas demonstrações contábeis clássicas de forma a indicar quantitativamente ganhos ou perdas em função das políticas adotadas.

Quanto ao tipo de ações desenvolvidas pelas companhias contidas em seus relatórios, estão as apresentadas no Quadro 2.

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Quadro 2: Informações ambientais contidas nos relatórios EMPRESA GESTÃO VAL E SANT A NDE R NATUR A G E RDAU CE M ING SUL A M E RICA ENERGIA Consumo de energia na organização X X X X X

Energia economizada em razão das melhorias em conservação e

eficiência X X X X X

ÁGUA

Total de retirada de água, por

fonte X X X X X

Fontes hídricas

significativamente afetadas pela

retirada de água X X

Percentual e volume total de

água reciclada e reutilizada. X X X X X X

BIODIVERSIDADE

Estratégias, medidas em vigor e planos futuros para a gestão de

impactos na biodiversidade. X X Descrição de impactos

significativos na biodiversidade de atividades, produtos e serviços em áreas protegidas e em áreas com alto índice de biodiversidade fora das áreas protegidas. X X X X Habitats protegidos ou restaurados. X X X X EMISSÃO, EFLUENTE E RESÍDUOS

Total de emissões diretas e indiretas de Gases de Efeito

Estufa, por peso X X X X X

Emissões de substâncias destruidoras da camada de

ozônio, por peso. X X

Iniciativas para reduzir as emissões de Gases de Efeito

Estufa e as reduções obtidas X X X X X

(13)

O quadro 2, tem como referência as diretrizes da GRI – Global Reporting Initiative. Segundo Costa (2012) a GRI é uma organização sem fins lucrativos que cria diretrizes e indicadores para elaboração de relatórios de sustentabilidade. Os campos sinalizados indicam as informações ambientais que podem ser constatadas nos relatórios emitidos pelas instituições. Os dados explicitados pelas empresas, possuem uma característica mais qualitativa validando a estratégia e a conduta da entidade em relação ao ecossistema e corroborando o que a literatura expunha. Segundo Mussoi e Bellen (2010), os indicadores de performance ambiental (consumo de água, emissão de resíduos etc.) são boas referências de comparabilidade entre as empresas, pois apresentam de forma objetiva o impacto que cada uma delas gera ao meio ambiente.

Quanto ao registro e quantificação das Informações de Natureza Ambiental de determinação legal, estas estão demonstrados no Quadro 3 abaixo.

Quadro 3 - Informações de Natureza Ambiental (Resolução CFC nº 1.003/04 - NBC T15)

Informações ambientais evidenciadas nos exercícios de 2013 e 2014 VALE SA N T A N D ER NATURA GE R D A U C E MI N G SU L A MER ICA

Total de investimentos e gastos para melhoria do meio

ambiente X X X

Quantidades de processos ambientais, administrativos e

judiciais movidos contra a entidade. X X X X

Investimentos e gastos com educação ambiental para empregados, terceirizados, autônomos e administradores da entidade.

Investimentos e gastos com prevenção e/ou recuperação de ambientes degradados.

Investimentos e gastos com educação ambiental para a comunidade

Investimentos e gastos com outros projetos ambientais.

X X X

Passivos e contingências ambientais

X

Valor das multas e das indenizações relativas a matéria

ambiental via administrativa ou judicial. X X X X

Fonte: Dados obtidos nos sites oficiais das empresas

No quadro 3, seguiu as diretrizes da NBC T15 que estabelece procedimentos para evidenciação de informações de natureza social e ambiental. Os campos sinalizado com X,

(14)

indicam as informações ambientais que podem ser constatadas nos relatórios emitidos pelas instituições. Os informes exibidos são mais uteis na mensuração do desempenho ambiental das entidades por que possuem natureza quantitativa. Agregando as duas informações é possível ter uma percepção ampla dos dados que as corporações deveriam divulgar em seus disclosures ambientais. Todavia comparando os informes que deveria ser divulgado e o que realmente divulgado conclui-se que a classe empresarial ainda não visualizou as vantagens que podem ser adquiridas com tais dados.

CONCLUSÕES

Ao concluir este trabalho que objetivou verificar se os aspectos ambientais são evidenciados nas demonstrações contábeis clássicas das empresas brasileiras integrantes do ISE. Constatamos que, corroborando o que a literatura destaca, não há qualquer evidenciação destes aspectos nas demonstrações. As companhias pesquisadas, todas selecionadas pelo critério de serem empresas reconhecidamente sustentáveisii, evidenciam suas práticas, ações e investimentos ambientais através de seus relatórios anuais, de balanços sociais, sites na internet e outros mecanismos de publicização. No entanto, não foi verificado nas demonstrações nem mesmo nas notas explicativas, quaisquer referências aos ganhos ou perdas relativas a sustentabilidade.

As companhias pesquisadas disseminam informações sobre investimentos e gastos para melhoria do meio ambiente; processos ambientais sofridos; investimentos e gastos com: educação ambiental de empregados e parceiros, prevenção e/ou recuperação de ambientes degradados, educação ambiental para a comunidade e projetos ambientais; passivos e contingências ambientais; e multas e indenizações ambientais. No entanto a ausência de dados econômico-financeiros nas demonstrações conferem certa subjetividade aos dados, e não informam de forma clara aos investidores e demais stakeholders quais os impactos gerados pela relação negócio meio ambiente, tanto relativos aos ganhos por valorização de imagem, de economia de recursos pelo aperfeiçoamento de processo e outros ganhos gerados pelos investimentos e gastos ambientais (ativos ambientais), quanto às perdas pelos gastos com multas, reparações e ações judiciais (passivos ambientais). Desta forma, a relação investimento, gastos e retornos fica comprometida ou obscurecida pela ausência de transparência e de evidenciação.

Ainda que reconheçamos as limitações deste trabalho, por se basear em uma revisão de literatura e pelo uso de uma amostra reduzida, compreendemos que esta discussão possa servir como uma contribuição tanto no campo acadêmico quanto prático às ciências contábeis e da gestão empresarial. A nossa sugestão é que as demonstrações contábeis, devam, conforme destacou Herckert (2005) acompanhar as mudanças do ambiente empresarial, abrir-se e inovar na forma de escriturar e evidenciar receitas, investimentos, custos, despesas e perdas ambientais. Preliminarmente nossas sugestões são:

a) No Balanço Patrimonial: evidenciada uma conta investimentos ambientais no ativo não circulante, para os equipamentos (imobilizados) adquiridos que confiram ecoeficiência; no passivo circulante, evidenciar uma conta específica gastos com

passivos ambientais ou destacar em notas explicativas estes gastos na conta provisões

para riscos cíveis e trabalhistas, ou ainda esta poderá ser ampliada para provisões

(15)

b) Na Demonstração de Resultados: evidenciar na conta receita através de nota explicativa os ganhos percentuais obtidos com melhoria da imagem; evidenciar na conta Custo do Produto Vendido (CPV) os ganhos gerados pela economia resultante de aperfeiçoamento de processo e ecoeficiência; evidenciar como contas de despesas

não operacionais, as seguintes: despesas com passivos ambientais e destacar estes

passivos em notas explicativas, e amortizações e despesas com juros relativos a aquisição de ativos ambientais (destacados no BP).

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i

O ISE foi escolhido como fator de determinação da condição de “empresa sustentável” como sendo uma condição para que a composição da amostra seja de empresas que adotam práticas de sustentabilidade e, desta forma, tenham a obrigatoriedade de divulgá-las.

ii

Por serem empresas integrantes do ISE-Bovespa cujos critérios de inclusão são seguros quanto a clara e evidente prática da sustentabilidade.

Referências

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