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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO LUÍZA CRISTINNE GUIMARÃES DE OLIVEIRA

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CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

LUÍZA CRISTINNE GUIMARÃES DE OLIVEIRA

ASPECTOS BIOJURÍDICOS DA CESSÃO TEMPORÁRIA DE ÚTERO

VOLTA REDONDA – RJ 2020

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ASPECTOS BIOJURÍDICOS DA CESSÃO TEMPORÁRIA DE ÚTERO

Monografia Jurídica apresentada ao Curso de Direito do Instituto de Ciências Humanas e Sociais de Volta Redonda, pertencente à Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador(a):

Prof.ª Dr.ª RENATA BRAGA KLEVENHUSEN

VOLTA REDONDA – RJ 2020

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ASPECTOS BIOJURÍDICOS DA CESSÃO TEMPORÁRIA DE ÚTERO

Monografia Jurídica apresentada ao Curso de Direito do Instituto de Ciências Humanas e Sociais de Volta Redonda, pertencente à Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Aprovada em: 21/08/2020

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª RENATA BRAGA KLEVENHUSEN - UFF

___________________________________________________________

Prof. Dr. DALMIR JOSÉ LOPES JUNIOR - UFF

___________________________________________________________

Prof. Dr. MATHEUS VIDAL GOMES MONTEIRO - UFF

VOLTA REDONDA – RJ 2020

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Aos meus pais, Izis e Marco.

Aos meus tios, Maria Alice e Gabriel.

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Primeiramente, agradeço a Deus que me proporcionou viver esses momentos, abençoando-me e guiando meus passos em toda a minha caminhada até aqui.

Também quero de agradecer individualmente a minha mãe, Izis, que sempre foi minha inspiração, fonte inesgotável de amor, a quem tenho a honra de ser filha e melhor amiga.

Também individualmente ao me pai, Marco, por ser meu exemplo diariamente, pelos momentos de conselho e ternura confortante. Agora quero agradecer aos meus pais juntos, Izis e Marco, pela dedicação, carinho, amor, compreensão e felicidade de poder partilhar a vida com vocês, não só nesse período de faculdade, mas em todos os momentos vividos. Sem vocês não estaria onde estou hoje. Poderia ficar aqui agradecendo por páginas e páginas e mesmo assim não faria jus a tudo aquilo que vocês fizeram por mim. Amo vocês.

Igualmente quero agradecer aos meus tios, Maria Alice e Gabriel, por toda atenção e amor que me dão em toda a minha vida, pelos abraços e palavras de incentivo que me mantiveram focada no meu objetivo. Sinto-me extremamente feliz por ter vocês comigo. Amo vocês.

Quero agradecer aos meus amigos que fizeram parte dessa caminhada, aos que vieram antes da entrada na faculdade e aos que fiz ao longo dessa jornada. Com certeza com vocês o caminho foi mais alegre, mais leve e mais doce. Obrigada pela companhia nos momentos de felicidades e também nos momentos difíceis.

Em agradecimento especial aos amigos, presto minha homenagem a minha grande amiga Isabel, foi ela quem me ofereceu e encorajou na ideia de cursar a faculdade no campus de Volta Redonda, proporcionando-me o início da realização do meu desejo profissional.

Obrigada pela atenção e por compartilhar a vida e os sonhos comigo. Obrigada pela amizade.

Às minhas amigas e irmãs Ana Raquel e Mirassol por serem minha família em Volta Redonda, pelo companheirismo nas noites de estudos, na amizade do dia a dia. Agradeço demais por ter vocês em minha vida e tenho certeza que essa jornada foi bem mais legal porque tive vocês comigo. Obrigada por tudo que fizeram por mim.

Agradeço também a minha orientadora, Prof.ª. Dra. Renata Braga, por me direcionar na pesquisa, compartilhando sua sabedoria, com muita paciência e atenção. Obrigada!

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O objetivo do estudo é apresentar a situação legal da cessão temporária de útero atualmente no cenário brasileiro, através de exposição de leis e resoluções que tratam disso, abordando conceitos doutrinários sobre a maternidade, análise da possibilidade de existir um contrato oneroso e, por fim, examinar as decisões jurisprudencial acerca das demandas decorrentes da reprodução assistida. Esta pesquisa se justifica pois visa possibilitar esclarecimentos sobres os aspectos de legislação da cessão temporária de útero, expandir o conhecimento do assunto à esfera acadêmica e social. Neste contexto, explorar a abordagem jurídica da situação permitirá entender os pontos divergentes da matéria e estimular o debate da importância de o Poder Legislativo legislar sobre o tema central. A procriação sempre foi um dos mais importantes assuntos dentro de qualquer sociedade, pois, muito mais do que perpetuar espécie, significa a continuação de uma parte de si mesmo. Por isso, a principal obrigação de um casal era a sua reprodução, principalmente as mulheres. No entanto, antes dos avanços tecnológicos, nada se podia fazer se um casal era infértil e não tinha condições de reprodução. Atualmente, o cenário da obrigação de um filho já não é tão opressor, mas a vontade de se tornar pais ou mães perpetua ao longo dos anos. Observa-se que a biotecnologia tem se desenvolvido, a fim de proporcionar a quem quiser, a possibilidade de se reproduzir com a ajuda da medicina. Uma das técnicas utilizadas é cessão temporária de útero, na qual há a gestação de um filho em útero alheio. Tal situação traz diversas implicações no campo jurídico e ético. Para tanto, foi realizada pesquisa bibliográfica e documental, pelo método exploratório, que permitiu chegar à conclusão de que, embora a Resolução do CFM e as leis esparsas que abordem o assunto, é insuficiente para suprir as questões de ordem mais complexas, como o instrumento do contrato e a filiação.

Palavras-chaves: Cessão Temporária de Útero. Reprodução Humana. Filiação. Negócio Jurídico.

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The objective of my study is to present the legal situation of the temporary transfer of uterus currently in the Brazilian scenario, through the presentation of laws and resolutions regarding this, approaching doctrinal concepts about motherhood, analyze the possibility of to have an onerous contract and, finally, examine the jurisprudential decisions the demands created by assisted reproduction. This research is justified because it aims to provide clarification about the aspects of substitution pregnancy legislation, to expand the knowledge of the subject to the academic and social sphere. In this context, exploring the legal approach to the situation will allow to understand the divergent points of the subjects and stimulate the debate on the importance of the Legislative Power to legislate about the central theme. Procreation has always been one of the most important issues of any society, because, much more than perpetuating the species, it means the continuation of a part of itself. For this reason, the main obligation of a couple was their reproduction, especially women. However, before technological advances, nothing could be done if a couple were infertile and couldn’t afford to reproduce. Nowadays, the scenario of a child’s obligation is not oppressive, but the desire to parents perpetuates through the years. It can be noted that biotechnology had developed in order to provide anyone who wants the possibility of reproducing with the help of medicine. One of the techniques used is the temporary uterus cession, in which there is pregnancy in a foreign uterus. This situation has many implications in the legal and ethical field. For this purpose, bibliographical and documentary research was made using the exploratory method, which led to the conclusion that, although the CFM Resolutions and the sparse laws that address, it is insufficient to supply the most complex issues, as the instrument of contract and parentage.

Key-words: Temporary uterus cession. Human Reproduction. Parentage. Contract.

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Fig. 1 Fig. 2 Fig. 3 Fig. 4 Fig. 5 Fig. 6

Inseminação Intrauterina, f. 26 Fertilização in vitro, f. 28

Injeção Intracitoplasmática, f. 30 Doação de Óvulos, f. 31

Cessão de Útero, f. 33 Criopreservação, f. 35

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ADI ADPF ANVISA ART.

CFM CRM-DF CREMEGO CREMERJ CREMESP DNV FIV HCG ICSI OMS PL Resp.

SisEmbrio STF STJ

Ação Direta de Constitucionalidade

Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental Agência Nacional de Vigilância Sanitária

Artigo

Conselho Federal de Medicina

Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás

Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo Declaração de Nascido-Vivo

Fertilização in vitro

Gonadotrofina Coriônica Humana

Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides Organização Mundial da Saúde

Projeto de Lei Recurso Especial

Sistema Nacional de Produção de Embriões Supremo Tribunal Federal

Superior Tribunal de Justiça

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TRHA Técnica de Reprodução Humana Assistida

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1. INTRODUÇÃO ... 14

2. O DIREITO AO PLANEJAMENTO FAMILIAR E AS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA ... 18

2.1. O DIREITO AO PLANEJAMENTO FAMILIAR ... 18

2.2. AS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO MEDICAMENTEM ASSISTIDA... 23

2.2.1. Inseminação Intrauterina ... 25

2.2.2. Fertilização in vitro ... 26

2.2.3. Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide ... 28

2.2.4. Doação de Óvulos ... 30

2.2.5. Cessão Temporária de Útero ... 31

2.2.6. Criopreservação ... 33

3. A REGULAMENTAÇÃO DAS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA. ... 36

3.1. ARTIGO 226, § 7º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL DE 1988. ... 36

3.2. LEI DE PLANEJAMENTO FAMILIAR- LEI Nº 9.263 DE 1996. ... 38

3.2.1 Cobertura do tratamento de reprodução assistida pelos planos de saúde ... 40

3.3. A FILIAÇÃO DECORRENTE DE TÉCNICA DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA 44 3.3.1 Post Mortem ... 45

3.3.2. Embriões Excedentários ... 47

3.3.3. Inseminação Heteróloga ... 52

3.4. DEMAIS REQUISITOS DA RESOLUÇÃO 2.168/2017 ... 57

3.4.1. Pacientes das técnicas de RA ... 57

3.4.2. A idade máxima das candidatas à gestação por técnicas de RA ... 58

3.4.3. O consentimento livre e esclarecido ... 59

3.4.4. Vedação de seleção para o sexo (presença ou ausência de cromossomo Y) ou qualquer outra característica biológica do futuro filho ... 60

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3.4.6. Quanto ao número de embriões a serem transferidos conforme a idade. ... 63

3.4.7. Vedação à utilização de procedimentos que visem a redução embrionária. . 64

4. ASPECTOS BIOJURÍDICOS DA CESSÃO TEMPORÁRIA DE ÚTERO ... 66

4.1 A PERMISSÃO DA TÉCNICA NO DIREITO BRASILEIRO ... 66

4.1.1. Projeto de Lei sobre a Cessão Temporária de Útero ... 73

4.2. USUÁRIOS DA TÉCNICA: SOLTEIROS E CASAIS HOMOAFETIVOS ... 79

4.3. A QUESTÃO DA FILIAÇÃO ... 82

5. CONCLUSÕES ... 91

REFERÊNCIAS ... 94

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1. INTRODUÇÃO

O estudo do tema “Aspectos Biojurídicos da Cessão Temporária de Útero” visa a questionar e a compreender as implicações jurídicas e sociais dessa modalidade de reprodução assistida, visto que essa problemática deve ser orientada no campo da bioética e biodireito. A vida humana e o ordenamento jurídico se entrelaçam nessa questão, uma vez que a escolha de ter filhos pertence ao indivíduo e ao casal, mas a infertilidade ou problemas de saúde, que não suportam a gestação, impedem que seja realizado esse desejo, ferindo a liberdade de escolha de procriação. Porém, cabe ao ordenamento jurídico dar limites quanto às biotecnologias, principalmente no que diz respeito à reprodução humana.

É válido ressaltar que cabe ao Estado incentivar e promover o desenvolvimento científico, como exposto no artigo 218, caput, da Constituição Federal de 1988, ao mesmo tempo em que deve legislar sobre a matéria, isto é, dar diretrizes para seu funcionamento.

Isto posto, observa-se que o Estado deve dar condições para as escolhas individuais e do casal de ter filhos medicamente reproduzidos, mas poderá cercear esse direito através de legislação.

Nesta perspectiva, a Reprodução Humana Assistida é um direito assegurado pelo texto constitucional. Porém, não significa que seja uma discussão pouco complexa, pois, como pontuado, as procriações assistidas envolvem debates de ordem moral, legal, envolvendo perspectivas pessoais, com orientações religiosas e políticas. Significa dizer que, apesar da previsão na Carta Magna, encontram-se conflitos no campo prático, no qual há imposição de limites para a utilização das técnicas.

No que tange ao direito brasileiro, pouco se tem sobre esse assunto, tendo como base a Resolução nº 2.168 de 2017, do Conselho Federal de Medicina, que regula a cessão temporária de útero. Esse dispositivo estabelece que a mãe gestacional deve pertencer a família, com parentesco em até quarto grau, assim como não pode ter caráter lucrativo, decorrente do artigo 199, §4º da Constituição Federal de 1998, que veda a comercialização de partes do corpo humano.

Diante da ausência específica de regulamentação legislativa sobre o útero temporário no Brasil, há uma série de debates e conflitos sobre os deveres, direitos e limitações das pessoas envolvidas no procedimento. Porém, por ser a Resolução a principal regulamentação, ainda restam dúvidas acerca do assunto, principalmente no que tange aos direitos de filiação, uma vez que, apesar de prever que se estabeleça claramente

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o registro, não vincula o magistrado a seguir tal regulamento, porque essas orientações não decorrem do processo legislativo de criação de leis.

Cabe trazer à baila, que essa questão traz conflito, pois há o entendimento de parte da doutrina e da jurisprudência que compreende ser a mãe da criança aquela dá à luz, pois é presumida a maternidade, não importando a origem dos gametas; outra parte, entende que a filiação será da parte que encomendou a gestação, uma vez que houve a vontade e até as vias de fato para gerar o embrião, mesmo que no útero de outrem. São questões divergentes que cabem discussão no campo jurídico, pois incidem em pontos nos quais são delicados perante a sociedade.

Além disso, como abordado, para criar uma relação entre os pais da criança e a gestante, deve-se fazer um termo para vincular as partes. Nesse termo, como estabelecido, não poderá ser do tipo oneroso, uma vez que é vedado pela Resolução 2.168/2017 do CFM. Ademais, deve conter o consentimento livre, além de questões de exam.es psicológicos e o consentimento do cônjuge/ companheiro. No entanto, fora essas questões pontuais não há a determinação se as partes são livres para deliberar questões de ordem privada da vida da gestante ou se há limites, mas se faz necessário fazer uma ressalva de que essa Resolução nem poderia prever todas essas exigências, visto que é matéria para Lei Federal, uma vez que trata de direitos constitucionais e civis.

As normas e entendimentos jurídicos devem buscar sempre, principalmente nesses casos, resguardar o direito da criança. Isto quer dizer que, embora a resolução do Conselho Federal de Medicina venha disciplinar a matéria, é indispensável obter a resposta através da regulamentação existente, mesmo que não específica, através da analogia, a fim de encontrar uma resposta ao caso concreto.

Este trabalho tem como importância a apresentação dos meios legais que autorizam as pessoas a recorrem aos procedimentos de reprodução humanamente assistida, particularmente, a cessão temporária de útero. É importante para expandir conhecimento sobre um tema que faz parte da vida de muitas pessoas, mas que a técnica em si ainda é pouco falada ou divulgada, em razão das diversas questões éticas e jurídicas envolvidas, com diferentes visões entre autores sobre a interpretação de dispositivos que permeiam o assunto. Além disso, é significativo por analisar a mais recente Resolução do Conselho Federal de Medicina de nº 2.168 de 2017, tecendo comparações entre antigas e as novas, permitindo uma avaliação entre direitos que foram acrescidos e itens que foram modificados. Dessa forma, permite que a pesquisa seja atual para examinar os efeitos decorrentes dessas alterações e como tem se adequado às demandas que chegam ao

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judiciário. Por fim, tem como relevância para a sociedade a divulgação de explicações sobre as atuais interpretações dadas aos diplomas que normatizam a cessão temporária de útero, bem como os direitos que envolvem o tema, tais como a permissão do uso do procedimento, a autonomia da vontade, a relação contratual envolvida, a filiação, etc., permitindo-lhes a reflexão sobre as mudanças ao longo do tempo em torno do conteúdo e como isso está unido aos valores morais e éticos presentes na comunidade.

Para o presente estudo, se tem como hipótese de que as normas e aplicações jurídicas devem buscar sempre, principalmente nesses casos, resguardar o direito da criança, atentando-se a observar os dispositivos da Constituição Federal do Brasil de 1988 que asseguram e protegem a família, assim como o Código Civil de 2002 e as leis esparsas. Apesar da Resolução do Conselho Federal de Medicina ser um importante instrumento para matéria do esclarecimento de filiação, não é suficiente para elucidar dúvidas que decorrem do procedimento em questão. Por isso, é necessária elaboração de lei especifica para tutelar esse direito, principalmente em questões específicas trazidas pelo trabalho, como a parentalidade, o negócio jurídico oneroso e sobre quem são os contemplados pelo direito de reprodução assistida.

O estudo tem como objetivo apresentar a situação legal da cessão temporária de útero atualmente no cenário brasileiro, através de exposição de leis e resoluções que tratam disso, também trazer conceitos doutrinários sobre os tipos de maternidades, que possam explicar os motivos dos conflitos nesses aspectos. Além disso, apontar as características do contrato existente na relação jurídica entre a gestante e os pais desejantes, apontando as principais divergências existente e analisando como se realizam na prática e suas limitações e, por fim, examinar as decisões jurisprudencial acerca das demandas decorrentes da reprodução nessa modalidade, verificando se há divergência entre as decisões dos Tribunais e o que a Resolução do Conselho Federal de Medicina , nº2.168/2017, prevê.

Considerando os objetivos da pesquisa, o método de pesquisa é o exploratório, uma vez que trará conceitos e abordagens para melhor conhecer o assunto, sob o viés dos novos entendimentos jurídicos acerca da família e a Resolução do Conselho Federal de Medicina 2.168/ 2017. Terá como marco temporal a atual legislação brasileira, aqui incluída a mais recente versão da Resolução do Conselho Federal de Medicina, que dispõe sobre o objeto da pesquisa.

Ademais, a fonte de pesquisa é a bibliografia de autores especializados no assunto, com livros que abordam o conteúdo e as doutrinas mais reconhecidas. Além desses,

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artigos publicados nos diversos meios de comunicação, pois assim poderá ser analisado as implicações, os debates atuais e a exposição em torno da cessão temporária de útero.

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2. O DIREITO AO PLANEJAMENTO FAMILIAR E AS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA

2.1. O DIREITO AO PLANEJAMENTO FAMILIAR

O Direito é composto por regras e princípios conceituados pelo autor Paulo Branco: “espécies de normas, uma vez que ambos descrevem algo que deve ser”.1 Compreende-se como princípios, normas que têm conteúdo mais abrangentes, que necessitam de suportes concretos dos entes responsáveis para sua aplicabilidade em caso concreto; enquanto as regras são completas, dotadas de força jurídica aplicável ao caso concreto, devendo ser aplicados de modo total se encaixada na situação do fato.2

Em se tratando do Direito da Família, a matéria é norteada por diversos princípios que garantem ao intérprete das normas jurídicas uma melhor compreensão e aplicação das regras do ordenamento jurídico. Dentre esses, tem-se o princípio da dignidade humana, o da paternidade responsável, o do melhor interesse da criança e adolescente, o da igualdade etc.

Para tanto, a disciplina traz questões que são necessárias à sua complementação para que o direito se torne capaz de ser utilizado. No presente trabalho, cujo tema geral envolve a reprodução humana, é possível perceber que, sem a normatização, os debates, as decisões, os direitos e deveres de cada parte ficam sem base legal concreta no direito pátrio. No entanto, o assunto transita em diversas esferas do Direito, não somente em diplomas nacionais, como também internacionais.

Ao levantar os pontos que estão ligados à temática, deve-se primeiramente falar sobre os direitos sexuais e reprodutivos.3 Para a especialista Adriana Lemos, doutora em Saúde Coletiva, deve-se entender que “os direitos sexuais e reprodutivos são parte integrante dos direitos humanos e, basicamente, abrangem o exercício da vivência da

1 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Noções Introdutórias. In MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 11ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 72.

2 Ibidem. p. 72

3LEMOS, Adriana. Direitos sexuais e reprodutivos: percepção dos profissionais da atenção primária em saúde. In Jornal Saúde em Debate. vol. 38. n.10. Rio de Janeiro, abr./jun. 2014. Disponível em:

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-11042014000200244#:~:text=Os%20di reitos%20sexuais%20e%20reprodutivos,volunt%C3%A1ria%20e%20da%20contracep%C3%A7%C3%A 3o%20autodecidida.> Acesso em: 07 out 2019.

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sexualidade sem constrangimento, da maternidade voluntária e da contracepção auto decidida.”4

Para a autora, de suma importância é compreender que esses direitos estão no mesmo patamar do que os direitos que se referem à economia e sociais. De fato, ao pensar assim, as medidas para implementação do acesso a métodos conceptivos, contraceptivos, à divulgação de informação e à educação básica de reprodução serão mais amplas e transparentes. Ao ter esse posicionamento, o governo traz para si grande parte da responsabilidade de garantir que sejam postas em práticas medidas que auxiliem ao cidadão a ter acesso ao seu direito.

Como exemplo, o Ministério da Educação juntamente com o Ministério da Saúde, em observância a tal direito, produziu uma cartilha, na qual há o direcionamento do que abordar, para os profissionais, sobre os assuntos ligados aos direitos sexuais e reprodutivos. Para isso, logo em seu primeiro parágrafo trouxe o posicionamento adotado.

Os direitos sexuais e os direitos reprodutivos são Direitos Humanos reconhecidos em leis nacionais e documentos internacionais. Estão ligados às dimensões do exercício da cidadania, saúde, cultura, educação, viver com autonomia e sob o respeito social às suas expressões, como a sexualidade e a orientação sexual. Possuem lastros institucionais nacionais e internacionais que reafirmam como direito e orientam a criação de políticas nacionais para garanti-los à população.5

O documento em questão é voltado para auxiliar na aplicação do assunto em escolas, para crianças a partir dos 10 anos, no qual os profissionais deverão abordar o tema de acordo com a faixa etária. No entanto, é perceptível que a posição do Governo Federal foi a de tratar o conteúdo como um direito fundamental e, por isso, ser levado a conhecimento e disponibilizar o acesso aos seus cidadãos.

No que tange aos direitos da saúde, em 1978, na Conferência Internacional Sobre Cuidados Primários de Saúde, ocorrida em Alma-Ata, antiga União Soviética, foram elencandas as principais informações e metas que deveriam ser alcançadas até os anos 20006. No seu primeiro ponto, a declaração já estabeleceu um dos principais objetivo e

4 LEMOS, Adriana. op. cit.

5 BRASIL, Ministério da Saúde. [201?]. Orientações Gerais sobre as ações de Direitos Sexual e Direito Reprodutivo e Prevenção das IST/AIDS e Hepatites Virais no Programa Saúde na Escola. Disponível em:<http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/pse/orientacao_geral_dsdr_ists_e_aids.pdf>A cesso em 07 out 2019.

6 UNIÃO DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS SOVIÉTICAS. Alma-Ata. 12 set 1978. Declaração de Alma Ata sobre Cuidados Primários. Disponível em: < https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/decla racao_alma_ata.pdf>. Acesso em 07 de out 2019.

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aponta que questões sobre a saúde fazem parte de setores variados da comunidade e não somente aos operadores e pastas do governo relativos à saúde.

I)A Conferência enfatiza que a saúde - estado de completo bem- estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade - é um direito humano fundamental, e que a consecução do mais alto nível possível de saúde é a mais importante meta social mundial, cuja realização requer a ação de muitos outros setores sociais e econômicos, além do setor saúde.

A Ata em análise traz em seu corpo ser fundamental a implementação de um programa de atendimento primário à saúde. Um dos objetivos é que todos tenham acesso sem que para isso tenham despesas extraordinárias, mas que seja acessível e essas acessibilidade não se limita apenas ao poder econômico das famílias e indivíduos, mas também de espaço físico, ou seja, é primordial que as pessoas tenham unidades de atendimento perto de suas residências e locais de trabalho.

A Conferência trouxe quais eram os cuidados da saúde que deveriam ser assegurados e aplicados para os povos. Abordou-se a questão das políticas públicas e sociais, que seriam voltadas para a assistência médica das populações de cada país, incluído a participação de avanços na medicina, nas pesquisas e que os recursos sejam também destinados à saúde pública para que a população em geral tenha possibilidade de prevenção e tratamento.

Outro cuidado trazido pela Ata, e de suma relevância para o estudo, é o que consta no número três do tópico sobre quais os cuidados objetivados pelo documento. Foi apresentado que os cuidados primários serão abordados nas diversas esferas, da educação aos problemas de infraestruturas que atingem as famílias.

3 - Incluem pelo menos: educação, no tocante a problemas prevalecentes de saúde e aos métodos para sua prevenção e controle, promoção da distribuição de alimentos e da nutrição apropriada, previsão adequada de água de boa qualidade e saneamento básico, cuidados de saúde materno-infantil, inclusive planejamento familiar, imunização contra as principais doenças infecciosas, prevenção e controle de doenças localmente endêmicas, tratamento apropriado de doenças e lesões comuns e fornecimento de medicamentos essenciais.7

7 UNIÃO DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS SOVIÉTICAS. Declaração de Alma Ata sobre Cuidados Primários. op.cit.

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No Brasil, as medidas de atenção à saúde primária foram implementadas desde o início do século XX, mas com características diferentes das atuais. Antes eram divididas em ações curativas e preventivas. Desde então foram sendo alteradas as percepções de atendimento primário e, a partir da Constituição Federal de 1988, com a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), o programa faz parte desse sistema, englobando-se os seus princípios de acessibilidade universal, a participação popular, entre outros.8

Dada a importância de colocar os direitos reprodutivos como direito fundamental, a Constituição Federal do Brasil, em observância aos princípios citados e à atenção à saúde primária, prevê, em seu artigo 226, § 7º, o direito das pessoas ao planejamento familiar, devendo o Estado proporcionar os recursos necessários para que se atinja tal finalidade e a paternidade responsável.

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.9

Porém, além da legislação pátria, outros documentos internacionais abordam a questão da paternidade responsável. Dentre esses, a Proclamação de Teerã, ocorrida em 1968, na Conferência Internacional de Direitos Humanos. No texto em questão, foi trazido a temática ao orientar que “a comunidade internacional deve continuar velando pela família e pelas crianças. Os pais têm o direito humano fundamental de determinar livremente o número de filhos e seus intervalos de nascimento”10. Na parte final é possível perceber que o direito defendido pela Conferência é o mesmo que passou a ser um direito constitucional em 1988, no Brasil.

Sobre a paternidade responsável, José Afonso da Silva esclarece o entendimento:

A paternidade responsável - ou seja, a paternidade consciente, não-animalesca - é sugerida. Nela e na dignidade da pessoa humana é que se fundamenta o planejamento familiar que a Constituição admite como um direito de livre

8 MATTA, Gustavo Corrêa; Morosini, Márcia Valéria Guimarães. Atenção Primária à Saúde. In Dicionário da Educação Profissional em Saúde. 2009. p.26. Disponível em: <http://www.midias.epsjv.fiocruz.br /upload/d/Atencao_Primaria_a_Saude_-_recortado.pdf>. Acesso em 18 out 2019.

9 BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

10 PROCLAMAÇÃO DE TEERÃ. Proclamada pela Conferência de Direitos Humanos em Teerã a 13 de maio de 1968. Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Confer%C3%AAncias -de-C%C3%BApula-das-Na%C3%A7%C3%B5es-Unidas-sobre-Direitos-Humanos/proclamacao-de-teer a.html>. Acesso em 18 out 2019.

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decisão do casal - de modo que ao Estado só compete, como dever, propiciar recursos educacionais e científicos para seu exercício.11

Para que possa ter significativo efeito prático desse artigo da Constituição Federal de 1988, em 12 de janeiro de 1996, foi sancionada a Lei do Planejamento Familiar, de nº 9.263/1996. Tem como objetivo regulamentar a matéria que envolve o direito reprodutivo dos cidadãos brasileiros. Em seu artigo 2º determina seu objeto e o parágrafo único delimita a funcionalidade da Lei em questão. Segundo o referido artigo:

Art. 2º Para fins desta Lei, entende-se planejamento familiar como o conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal.

Parágrafo único - É proibida a utilização das ações a que se refere o caput para qualquer tipo de controle demográfico.12

Além disso, a própria lei determina que sua aplicação faz parte da integração do tema à saúde, uma vez que é de responsabilidade, como visto, dos entes públicos garantirem a assistência integral em todo ciclo de vida das pessoas, inclusive no que diz respeito à concepção e, para isso, o Sistema Único de Saúde deve ser prestador de serviço das pessoas que necessitarem de atendimento.

Art. 3º O planejamento familiar é parte integrante do conjunto de ações de atenção à mulher, ao homem ou ao casal, dentro de uma visão de atendimento global e integral à saúde.

Parágrafo único - As instâncias gestoras do Sistema Único de Saúde, em todos os seus níveis, na prestação das ações previstas no caput, obrigam-se a garantir, em toda a sua rede de serviços, no que respeita a atenção à mulher, ao homem ou ao casal, programa de atenção integral à saúde, em todos os seus ciclos vitais, que inclua, como atividades básicas, entre outras:

I - A assistência à concepção e contracepção; 13

Como parte do Planejamento familiar, a concepção se faz importante, isso porque é o método pelo qual há a perpetuação da espécie e da família de cada um. Devido a isso, é um bem protegido pelos princípios constitucionais e assegurado a todos o direito de reprodução, motivo pelo o qual a referida Lei estabelece em seu artigo 9º.

11 SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. 9ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2014.

p. 874.

12 BRASIL. Lei nº 9.263/1996, de 12 de janeiro de 1996. Ementa: Regula o Planejamento Familiar. Diário Oficial da União: 15 de janeiro de 1996, Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_

03/leis/l9263.htm> Acesso em 19 out 2019

13 BRASIL. Lei nº 9.263/1996, de 12 de janeiro de 1996. op. cit.

(23)

Art. 9º Para o exercício do direito ao planejamento familiar, serão oferecidos todos os métodos e técnicas de concepção e contracepção cientificamente aceitos e que não coloquem em risco a vida e a saúde das pessoas, garantida a liberdade de opção. [...]14

Imprescindível é, portanto, que se compreenda que os documentos jurídicos e orientações citados fazem parte de uma evolução sobre a questão do direito ao planejamento familiar e, consequentemente, à reprodução. Uma vez que houve uma mudança de ótica sobre tal questão, não mais é uma função imperativa aos casais, principalmente às mulheres, mas sim um direito, no qual devam decidir de acordo com as suas particularidades e terem a sua disposição recursos para a sua consumação.

2.2. AS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO MEDICAMENTEM ASSISTIDA

Diante disso, as técnicas de reprodução humana assistida (TRHA) se caracterizam como importantes avanços para que seja alcançado esse direito de reproduzir um ou mais filhos. Esse recurso reprodutivo é uma exteriorização da autonomia, manifestada através da decisão da pessoa quanto ao tempo em que deseja se reproduzir ou pela quantidade de filhos ou pelo modo como esse desejo se realizará, desde que aprovado pelo médico.

No tocante ao quesito de como se dará a reprodução, salienta-se que as técnicas assistidas, que hoje estão disponíveis, perpassam por uma série de ponderações, tanto no que tange ao direito, ainda que insuficiente diante dos avanços e novas prerrogativas que surgem ao longo do tempo, quanto às questões morais e éticas, que norteiam a matéria.

Porém, antes de aprofundar nas discussões acerca do assunto, é essencial fazer uma breve explicação sobre os conceitos de infertilidade, as técnicas mais empregadas e fazer apontamentos mais específicos da utilização da cessão de útero temporário.

A utilização das técnicas reprodutivas se dá, principalmente, por casais que se encontram diante da infertilidade, definida, pelo Ministério da Saúde, como “ausência de gravidez em um casal após um ano ou mais de atividade sexual regular e sem uso de

14 BRASIL. Lei nº 9.263/1996, de 12 de janeiro de 1996. op. cit.

(24)

medidas anticonceptivas”.15 Para o Conselho Federal de Medicina, a infertilidade é um problema de saúde com reflexos médicos e psicológicas.16 Além disso, o caderno de atenção básica à saúde, produzido pelo Ministério da Saúde, traz que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os números mundiais mostram que entre 8% a 15% dos casais têm algum problema de fertilidade.17 Segundo o artigo “Estratégia educativa voltada para enfermeiros sobre atenção básica à infertilidade: estudo de intervenção”, só no Brasil por volta de 278 mil casais têm dificuldades em se reproduzirem, mesmo em idades férteis.18

A infecundidade não é uma problemática recente, muito pelo contrário, é uma questão que sempre existiu na humanidade. Ocorre que a percepção de reprodução teve seu sentido ampliado, pois não mais representa apenas uma função social do casal, principalmente da mulher, mas sim um direito fundamental, previsto na Constituição. Em uma época que não haviam tantos recursos e pesquisas científicas, anterior à década de 1970, os casais que sofriam com a infertilidade, encontravam-se diante de uma situação em que dificilmente teriam filhos geneticamente ligados ou sequer teriam filhos.19

No entanto, hoje em dia a situação é diferente, pois as pesquisas de reprodução foram se desenvolvendo e se aprimoraram. Diversos são os procedimentos que podem ser utilizados para gerar a gravidez. Na atualidade, é recorrente a busca e realização dessas técnicas por casais e solteiros.

Diante do exposto, verifica-se a necessidade de explorar os métodos laboratoriais utilizados para a reprodução humana.

Compreende-se como TRHAs conhecidas e usadas para o processo de gestação:

Inseminação Intrauterina (ou artificial), a FIV (Fertilização in vitro), a Injeção

15BRASÍLIA. Ministério da Saúde. Cadernos de atenção básica à saúde: saúde sexual e saúde reprodutiva. nº 26, 1. ed. 2013. p. 248. (Apud Organização Mundial da Saúde). Disponível em:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_sexual_saude_reprodutiva.pdf>. Acesso em 09 jul. 2020.

16 BRASÍLIA. Resolução CFM nº 2.168 de 2017. Ementa: Adota as normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução assistida. Diário Oficial da União: 10 nov. 2017, Seção I, p. 73. Disponível em: <

https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2017/2168> Acesso em 23 out. 2019.

17BRASÍLIA. Ministério da Saúde. Cadernos de atenção básica à saúde: saúde sexual e saúde reprodutiva. op. cit.

18DIAS, Andrezza Alves, et. al. Estratégia educativa voltada para enfermeiros sobre atenção básica à infertilidade: estudo de intervenção. (Apud Ministério da Saúde). In Revista Gaúcha Enfermagem. vol.

33. nº 2. Porto Alegre, jun. 2012. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid

=S1983-14472012000200011>. Acesso em 09 jul. 2020.

19 DANTAS, Eduardo; CHAVES, Marianna. Aspectos Jurídicos da Reprodução Humana Assistida. Rio de Janeiro, GZ Editora. 1ª ed. 2018. p. 1

(25)

Intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI)20, a Doação de Óvulos e a Cessão Temporária de Útero.21 Além disso, juntamente com esses métodos, há que se considerar conjuntamente que poderá ser uma fecundação homóloga ou heteróloga. A primeira consiste em usar o próprio material genético do casal interessado, que mesmo com a dificuldade de gerar um filho por método comum, é possível que usem seu material nas TRHA; já a heteróloga é a impossibilidade de um dos dois do casal doarem o próprio gameta, buscando, portanto, um outro doador, um terceiro à relação.

2.2.1. Inseminação Intrauterina

A técnica, mais conhecida como inseminação artificial, está no rol das que possuem baixo custo se comparada com outras. Um das justificativas é porque consiste em uma das modalidades de menor complexidade, pois o seu procedimento é implantar o espermatozoide no aparelho reprodutor feminino com a ajuda de profissionais. No entanto, apesar do processo final ser o descrito anteriormente, o procedimento completo é composto por diversas etapas, como a seguir explicadas:

A primeira é a estimulação da ovulação para alcançar o desenvolvimento de vários folículos conjuntamente com o monitoramento ecográfico. Este controle permite conhecer o número e tamanho dos folículos à medida que estes vão se desenvolvendo. Após os folículos alcançarem certo tamanho, aplica-se uma injeção de HCG que permite chegar à completa maturidade e à ovulação.

Aproximadamente 36 horas depois desta aplicação pode ser efetuada a inseminação. Para isso, é preciso que o par entregue uma amostra do sêmen ou este material seja conseguido através de uma doação.

Posteriormente, o sêmen é processado com o objetivo de separar os espermatozoides de boa qualidade e estes serão depositados na cavidade uterina mediante um cateter fino.22

A seguir uma imagem simulada do procedimento:

20 IBAP CURSOS. Instituto Biomédico de Aprimoramento Profissional. Como funcionam as diferentes técnicas de reprodução humana assistida. 09 jun. [20-?]. Disponível em: <https://ibapcursos.com.br/co mo-funcionam-diferentes-tecnicas-de-reproducao-humana-assistida/>. Acesso em 11 nov. 2019.

21 MAIA, Thais; MUNHOZ, Luciana; SILVA, Beatriz de Mattos. Reprodução Assistida: um guia fácil e descomplicado de Saúde e Direito. In _____. 1ª ed. 2018. Disponível em: < https://sbra.com.br/wp- content/uploads/2018/09/Ebook-Reprodu%C3%A7%C3%A3o-Assistida.pdf> Acesso em 09 jul. 2020.

22 IBAP CURSOS. Instituto Biomédico de Aprimoramento Profissional. Como funcionam as diferentes técnicas de reprodução humana assistida. op. cit.

(26)

Figura 1 -Inseminação Intrauterina

Fonte: SPDM Reprodução Humana23

2.2.2. Fertilização in vitro

A técnica in vitro, de acordo com a ANVISA, “ocorre quando a mulher é submetida à produção (estímulo ovariano) e retirada de oócitos (células reprodutivas femininas) para a realização de reprodução humana assistida”24. Ou seja, a fecundação é realizada fora do útero, em um laboratório, onde há a junção do gameta masculino com o gameta feminino. Após, é implementado o embrião já formado no útero materno para que continue o desenvolvimento natural.

Na mais recente pesquisa coletada pela referida agência, no 12º Relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), em 2018 foram realizados exatamente de 43.098 ciclos de fertilização in vitro, o que significou, um crescimento de 18,7% em relação ao ano de 2017. Ou seja, aqui são considerados o procedimento no qual

23FILHO, Jorge Haddad. Quando tratar com inseminação intrauterina. In _____. 07 jun. 2013.

Disponível em: <https://www.spdm.org.br/blogs/reproducao-humana/item/1276-67quando-tratar-cominse minacao-intrauterina>. Acesso em 09 jul. 2020.

24 BRASIL. Ascom/Anvisa. Reprodução humana assistida cresce 18, 7% em 2018. In_____(GOV). 17 jul. 2019. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/noticias/-/asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/content/

inseminacao-artificial-cresce-18-7-em-2018/219201/pop_up?inheritRedirect=false>. Acesso em 11 nov.

2019.

(27)

houve a estimulação ovariana e coleta do material genético para a reprodução em laboratório.25

Foi através do FIV que nasceu o primeiro “bebê de proveta” do mundo, a criança chamada de Louise Brown, nasceu no dia 25 de julho de 1978, na Inglaterra. O nascimento foi possível porque os pesquisadores Robert Edwards e o Patrick Steptoe atuavam na área de pesquisa sobre fertilização e, após inúmeros testes e resultados negativos, conseguiram que um embrião se formasse pela junção dos gametas e esse fosse um embrião possível de desenvolvimento.26 Apenas seis anos depois, em 1984, nascia no Brasil o primeiro bebê de proveta da América Latina, também fora utilizado o método da fertilização in vitro.27 Ambos os casos significaram um importante avanço da bioengenharia e nos rumos que as pesquisas sobre a fertilidade poderiam alcançar, ou seja, foi a partir dessa técnica que houve a instrução para que outras formas pudessem ser estudas, testadas, modificadas, etc.

A seguir imagem que dá uma perspectiva sobre o método:

25 BRASIL. SisEmbrio. 12º Relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões. In_____(GOV).

2018. p. 5. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/4048533/4994015/12%C2%BA+Relat

%C3%B3rio+do+Sistema+Nacional+de+Produ%C3%A7%C3%A3o+de+Embri%C3%B5es+-+SisEmb rio.pdf/29f37c42-803d-4fe9-8f16-cf6cfc70f40e>. Acesso em 11 nov. 2019.

26 CONFINA MEDIA. Primeiro bebé-proveta do mundo faz 40 anos. In Confina Media. Lisboa, 24 jul.

2018. Disponível em: <https://www.cmjornal.pt/mundo/detalhe/primeiro-bebe-proveta-do-mundo-faz-40- anos>. Acesso em 18 jun. 2020

27 AMARAL, Adelino. 2017 marcou a história da reprodução assistida no Brasil. In Conselho Federal de Medicina. Brasília, 05 fev. 2018. Disponível em: <http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_conte nt&view=article&id=27422:2018-02-05-12-19-59&catid=46>. Acesso em 18 jun. 2020.

(28)

Figura 2 - Fertilização in vitro

Fonte: Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (2015) 28

2.2.3. Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide

No que compreende à Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI), é a técnica conhecida como:

A ICSI é uma técnica de fecundação avançada que integra a FIV. Para sua realização, é necessário um equipamento denominado micro manipulador de gametas porque as dimensões dos espermatozoides e dos óvulos são microscópicas.

Depois da coleta e preparo em laboratório dos óvulos e dos espermatozoides, ambos são colocados em meio de cultura e mantidos em uma placa de cultivo.

O embriologista, com o auxílio de uma agulha extremamente fina, seleciona cada um dos melhores espermatozoides, captura-o com uma agulha e o injeta diretamente dentro da membrana do óvulo, aumentando significativamente as chances de fecundação e a qualidade dos embriões formados. 29

28 CARVALHO, Eduardo. Número de fertilizações mais que dobra no Brasil em quatro anos. In G1. 23 maio 2015. disponível em: <http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2015/05/numero-de-fertilizacoes-vitro- mais-que-dobra-no-brasil-em-quatro-anos.html>. Acesso em 11 nov. 2019

29 SOLIGO, Adriana de Góes. Injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI). In______. [20-?].

Disponível em: <https://adrianadegoes.med.br/injecao-intracitoplasmatica-de-espermatozoide-icsi/>. Aces so em 07 jul. 2020.

(29)

A diferença dessa modalidade para o FIV, anteriormente falada, é justamente na etapa da análise para a fecundação, pois na ICSI o espermatozoide é analisado e separado o melhor, enquanto no FIV não são selecionados os melhores espermatozoides, é apenas coletado o material genético. Tal procedimento é mais utilizado quando há uma anormalidade no gameta masculino, com a taxa de sucesso variável entre 30% a 90%. No Brasil, foi registrado o primeiro caso de sucesso em 1994, apenas dois anos após a introdução da técnica como método de fertilização30. Sobre tal incidência de êxito, a Doutora Maria de Fátima Oliveira dos Santos, em seu artigo, fala que:

[...] mesmo se injetando um espermatozoide no interior de um oócito maduro (quando o núcleo se encontra em metáfase II), pode haver uma taxa de insucesso significativa. A não ocorrência de fertilização com a utilização da ICSI pode estar relacionada a fatores como: presença de radicais livres no sêmen, anormalidades cromossômicas e defeitos proteicos na superfície dos gametas ou na organização de sua cromatina. Embora a fisiologia desse baixo resultado pós-ICSI ainda não seja compreendida, há evidências de que alterações bioquímicas ou até mesmo moleculares inerentes ao espermatozoide sejam mais importantes que a morfologia espermática.31

Figura 3 -Injeção Intracitoplasmática

Fonte: Clínica FertVie32

30 AMARAL, Adelino. 2017 marcou a história da reprodução assistida no Brasil. op. cit.

31 SANTOS, Maria de Fátima Oliveira dos. Injeção intracitoplasmática de espermatozóides: questões éticas e legais. In Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil. v. 10. supl. 2 Recife, 02 dez. 2010. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-38292010000600005&lng=pt&nrm

=iso>. Acesso em 15 nov. 2019.

32 CLÍNICA FERTIVIE. Injeção Intracitoplasmática dos Espermatozoides. In Clínica FertiVie. São Paulo, [201-]. Disponível em: <http://fertivie.com.br/injecao-intracitoplasmatica-dos-espermatozoides-icsi/>.

Acesso em 15 nov. 2019.

(30)

2.2.4. Doação de Óvulos

Em relação à Doação de Óvulos, a técnica consiste em uma mulher receber óvulos de outra mulher para que possa se reproduzir. Nessa técnica, também conhecida como ovodoação, o gameta feminino é recepcionado por uma mulher e doado por uma outra.33Para que o procedimento seja menos custoso, há clínicas que fornecem o tratamento com uma técnica chamada de egg-sharing, na qual mulheres em tratamento de infertilidade permitem a doações de seus óvulos, compartilhando-os com outras mulheres que também estejam em tratamento de fertilização.34

A referida técnica de doação de óvulos, assim como acontece com o gameta masculino, também deverá ser de forma anônima e gratuita, visto que a Resolução 2.168 de 2017 estabelece que não poderá ser onerosa as doações.35

Por fim, as principais causas que levam as mulheres a recorrerem a esse método são a menopausa precoce e as disgênicas gonodais, que consiste na alteração da forma e estrutura dos ovários.36 Dessa forma, a doação de gametas se torna uma saída para quem quer uma família com filhos.

33 SANTOS, Juliana Roberto. Ovodoação: vivências das doadoras e receptoras de óvulos em um hospital universitário. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. São Paulo, p.5, 2009. Disponível em: < https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5160/tde- 02092009-165018/publico/JulianaRobertoSantos.pdf>. Acesso em 15 nov. 2019.

34Ibidem. p7.

35BRASÍLIA. Resolução CFM nº 2.168. op. cit.

36 CORRÊA, Marilena V. Novas tecnologias reprodutivas: doação de óvulos. O que pode ser novo nesse campo? In Caderno Saúde Pública. vol. 6, nº.3, Rio de Janeiro, jun./set. 2000. Disponível em: < https://w ww.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2000000300036&script=sci_arttext>. Acesso em 15 nov. 2019.

(31)

Figura 4 - Doação de Óvulos

Fonte: ABC da Saúde37

2.2.5. Cessão Temporária de Útero

Incialmente, há necessidade de explicar que existe uma diversidade terminológica quanto aos nomes dados à técnica. Uma das razões que permite inúmeras nomenclaturas é o fato de não ser previsto legalmente e, nos dispositivos em que há previsão das técnicas, o termo não é unificado, como ocorre no Código Civil. Dentre as terminologias, tem-se a cessão de útero temporária, “maternidade de substituição”38, “útero de empréstimo”39,

“gravidez de substituição”40, “gravidez por sub-rogação”41 e, a nomenclatura popular, barriga de aluguel. Para o presente estudo foi adotado o nome de cessão temporária de

37 CORLETA, Helena von Eye; FRANJDLICH, Renato. Gestação após os 35. In______. Disponível em:

< https://www.abcdasaude.com.br/ginecologia-e-obstetricia/gestacao-apos-os-35-anos>. Acesso em 15 no v. 2019.

38 KRELL, Olga Jubert Gouveia. Reprodução Humana Assistida e Filiação Civil. Curitiba: Juruá, 2006, p. 191.

39 SILVA, Flávia Alessandra Naves. Gestação de Substituição: direito a ter um filho. In Revista das Ciências Jurídicas e Sociais. vol. 1, n. 1, [S.I.], 2011. Disponível em: <https://www.google.com/search?rlz

=1C1CHZL_pt-BRBR720BR720&sxsrf=ALeKk01WlCdlnEkW1xoPwaTFj1g2njf4iA%3A15943221513 64&ei=52wHX-PzFfWy5OUP3suF4Ag&q=cita%C3%A7%C3%A3o+de+noticia+sem+local&oq=cita%

C3%A7%C3%A3o+de+noticia+sem+local&gs_lcp=CgZwc3ktYWIQAzoECAAQR1CyqwFY-7UBYLq 3AWgAcAF4AIABowKIAfQMkgEDMi03mAEAoAEBqgEHZ3dzLXdpeg&sclient=psy-ab&ved=0ahU KEwijg_Xr8MDqAhV1GbkGHd5lAYwQ4dUDCAw&uact=5>. Acesso em: 10 out. 2019.

40SANTOS, Otávio Marambaia dos. Gravidez de Substituição. In Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 10, supl. 2, Recife, dez. 2010. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1519-3829201000060 0014 >. Acesso em: 04 ago. 2020.

41 DANTAS, Ana Carolina Lessa. Sub-rogação de útero: entre a esperança e a exploração. In Publica Direito, artigos. Disponível em: <http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=9c2eb29b86c2f787>.

Acesso em 04 ago. 2020.

(32)

útero em razão das explicações lidas sobre a técnica, que consiste em ceder, pelo período da gestação, o espaço do corpo humano, de forma gratuita, para o desenvolvimento do embrião até seu nascimento.

Isto posto, a mais importante técnica para o presente estudo, a Cessão Temporária de Útero consiste na técnica descrita como:

Gestação substituição ou “mãe” substituta é entendida por muitos doutrinadores como sendo ato pelo qual uma mulher cede seu útero para a gestação do filho de outra, a quem a criança deverá ser entregue após o nascimento, assumindo a mulher desejosa ou fornecedora do material genético a condição de mãe.42

Ou seja, no procedimento, um casal coleta o seu próprio material genético ou de terceiros doadores e implanta em um útero de outra mulher, a qual levará a gestação até o nascimento. Para essa técnica se usa, normalmente, a FIV, já que primeiramente ocorre a fecundação dos gametas masculinos e femininos para depois ser implantado o embrião no útero da mulher que gestará. Tal modelo é de regra, pois há o receio de que a mulher hospedeira se sinta intimamente ligada à criança e resista a entrega do bebê ao final da gravidez – apesar do modo tradicional ser menos custoso e ter menos risco médicos.43

Para a autorização do procedimento, há uma série de requisitos a serem cumpridos. O Conselho Federal de Medicina estabelece que é necessário que a futura gestante seja da família, com parentesco de até quarto grau; além disso, essa “doação temporária de útero” deverá ser gratuita, em obediência às Leis de Biossegurança e de Transplantes; há documentos que devem ser assinados dentro das clínicas: o termo de consentimento livre e esclarecido assinados pelas partes, um relatório com perfil psicológica das partes, o termo de compromisso assinado pela doadora, contendo a filiação da criança, a garantia para os pacientes de acompanhamento médico, a garantia do registro civil da criança pelos idealizadores da gravidez e, por fim, o consentimento, por escrito, do cônjuge da gestante doadora.44

42SILVA, Flávia Alessandra Naves. op. cit.

43 DANTAS, Eduardo; CHAVES, Marianna. op. cit. 146 – 147.

44 BRASÍLIA. Resolução CFM nº 2.168. op. cit.

(33)

Figura 5 - Cessão Temporária de Útero

Fonte: Globo – G145

2.2.6. Criopreservação

Ademais, é importante trazer a técnica da Criopreservação, que não é um meio de TRHA propriamente dito, mas um instrumento que oportuniza manter a fertilidade em alguns casos. O método consiste no congelamento em temperaturas ideais dos tecidos e células que compõe o óvulo ou embrião já formado. As duas técnicas mais conhecidas são de criopreservação dos oócitos e do embrião. A primeira é compreendida como congelamento dos óvulos, sem a necessidade de ter sido fecundado anteriormente, pode ser usada de duas formas: congelamento de óvulo excedentes “em ciclos de fertilização in vitro, quando o casal quer fertilizar poucos óvulos para evitar a criopreservação de embriões e para a preservação do gameta feminino”, pois evita o envelhecimento.46

Desde o significativo aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho, houve uma mudança no seu papel na sociedade e, por isso, deixou de ter a função principal de ser mãe e servir apenas ao lar. Assim, os casais ou mulheres solteiras que desejam ter filhos mais tardiamente ou deixar a opção em aberto, podem utilizar desse

45 MANTOVANI, Flávia. Brasileiro e alemão terão gêmeas de barriga de aluguel na Tailândia. G1, São Paulo, 10 mar. 2014. Disponível em: < http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2014/03/brasileiro-e-alemao- terao-gemeas-de-barriga-de-aluguel-na-tailandia.html>. Acesso em 11 nov. 2019.

46 CANAL PRÓ-CRIAR. Criopreservação de óvulos. In Pró-Criar medicina reprodutiva, [20-].

Disponível em: <https://www.procriar.com.br/criopreservacao>. Acesso em 11 jul. 2020.

(34)

congelamento a fim de evitar o envelhecimento ou a perda dos gametas para caso de virem optar por se reproduzirem, podem usufruir do seu material genético “guardado”.

Além disso, esse método é bastante indicado a mulheres que enfrentaram alguma doença que precisaram passar por tratamentos fortes, como a quimioterapia. Em decorrência do tratamento médico, muito problemas de reprodução foram acontecendo, inclusive, o de não poder mais se reproduzir de modo tradicional, mas apenas se recorrendo às técnicas de reprodução assistida.47

Entende-se que o método da preservação de ovócito está em crescente por representar uma maior liberdade às mulheres que desejam ter filhos, pois não há necessidade de um gameta masculino para a possibilidade de congelar para que possa ser usado futuramente.48

Difere-se da primeira, a criopreservação de embriões consiste no congelamento do óvulo já fecundado pelo espermatozoide e formado o embrião. Esse procedimento, apesar de usado com frequência, significa que as mulheres precisam buscar gametas masculino para ter possibilidade de congelamento, seja em bancos de doações ou do próprio parceiro, causando dificuldades àquelas que não haveriam tempo disponível para buscar esse tratamento em razão de problemas médicos ou por não terem interesse de já deixar fecundado.49

47 SILVA, Ana Carolina Japur de Sá Rosa. Preservação de Fertilidade. In Revista Brasileira de Genecologia e Obstetrícia, v. 28, n. 6, Rio de Janeiro, jun. 2006. Disponível em: <https://www.scielo.br/sc ielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032006000600008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em 11 nov. 2019.

48 Idem.

49 Idem.

(35)

Figura 6 - Criopreservação

Fonte: Correio Brasiliense50

50MILITÃO, Carolina. Congelamento de óvulos e alternativas a se pensar. In Correio Brasiliense, secção saúde. Brasília, 12 nov. 2017. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/revista/2 017/11/12/interna_revista_correio,640115/congelamento-de-ovulos-e-alternativa-a-se-pensar.sht

ml>. Acesso em 11 nov. 2019.

(36)

3. A REGULAMENTAÇÃO DAS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA.

Frente a tantas possibilidades de técnicas de reprodução medicamente assistida, como as que foram citadas no capítulo anterior, faz-se interessante analisar de forma mais profunda e com maior atenção as regras existentes no ordenamento pátrio no que diz respeito a esse tema. No que concerne aos meios de reprodução no ordenamento brasileiro, como já exposto, não há uma lei em vigência que seja específica para o tema de reprodução em geral e nem vem regulamentando as técnicas em individual. Porém, a ausência de leis não significa que não haja o uso das TRHAs e muito menos impede suas consequências no âmbito jurídico.

São as Resoluções do CFM, normas éticas, princípios constitucionais e leis esparsas, usadas subsidiariamente, que conferem legalidade da utilização de uma das técnicas e as deliberações acerca de seus efeitos e desdobramentos. Porém, a aplicação dessas normas, fora de sua origem, é uma questão complexa, visto que a reprodução humana assistida vem se desenvolvendo cada vez mais com os avanços da tecnologia e que o mundo jurídico por vezes não acompanha tal progresso.

A seguir, serão abordados os principais dispositivos que tratam de forma geral sobre os métodos de concepção medicamente assistida. Serão analisados os artigos 226 da Constituição Federal, a Lei de Planejamento Familiar, a Resolução nº 2.168/2017 do Conselho Federal de Medicina, o artigo 1.597 do Código Civil de 2002 e o Projeto de Lei nº 90 de 1999 e seus apenses.

3.1. ARTIGO 226, § 7º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL DE 1988.

Como já mencionado no capítulo anterior, a Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu artigo 226, apresenta que o Estado fará proteção especial a fim de resguardar o direito da família, desde o casamento e união estável entre duas pessoas, o conceito de entidade familiar, o resguardo do planejamento familiar até a coação da violência doméstica.51

51 BRASIL. [Constituição (1988)]. op. cit.

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Para o assunto aqui estudado, será dado foco no § 7º do referido artigo, uma vez que diz respeito à garantia das pessoas em constituir família, tendo o Estado como agente para a efetivação do seu planejamento familiar, assim como, após os procedimentos e a procriação surgem outras questões de direito, bem como registro, filiação, sucessões, entre outros.52

O apoio do Estado às famílias que não têm como possibilidade a reprodução natural está no incentivo às ciências e às tecnologias capazes de fornecer os recursos necessários para uma reprodução assistida. Tendo isso em vista, pode-se analisar que, juntamente com esse artigo, há também outro artigo constitucional que garante o incentivo às pesquisas e acessos à tecnologia. O artigo 218 que dispõe de tal redação: “o Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecnológica e a inovação”53, com o intuito de ser aplicado e aproveitado para o desenvolvimento da população brasileira, facilitar o uso de recursos disponíveis, bem como a criação de novos métodos e ferramentas, como aponta Flávia Silva.

A Constituição Federal brasileira de 1988, nos artigos 5.°, caput e incisos VI e XI, 218 e 226, parágrafo 7.°, indiretamente dispõe sobre o direito à procriação, quando disciplina a inviolabilidade do direito à vida, a liberdade de expressão, o incentivo à pesquisa e desenvolvimento científico e a liberdade de consciência e crença, dedicando ainda um capítulo inteiramente à família, no qual prevê o planejamento familiar como de livre decisão do casal.54

Analisando de forma conjunta os dois artigos citados, é constitucionalmente assegurado o direito às pessoas de gerarem filhos através das técnicas de reprodução assistida, uma vez que é prevista a utilização das tecnologias às necessidades da sociedade. Dessa forma, respeita-se o princípio da dignidade humana que, nas palavras de Uadi Lammêgo Bulos, é entendido como “um conjunto de valores civilizatórios incorporados ao patrimônio do homem” e, com a previsão constitucional de acesso às TDHAs, reconhece-se a procriação como um grande valor imaterial dentro de uma comunidade, tanto de modo coletivo quanto individualmente.55

52 BRASIL. [Constituição (1988)]. op. cit.

53Idem.

54 SILVA, Flávia Alessandra Naves. Gestação de substituição: direito a ter um filho. In Revista de Ciências Jurídicas e Sociais, v1, n. 1, p. 51, 2011.

55 BULOS, Uadi Lammêgo. Princípios Fundamentais. In Curso de Direito Constitucional. 10ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. cap. 12, p. 505-525.

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