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3. A REGULAMENTAÇÃO DAS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO

3.4. DEMAIS REQUISITOS DA RESOLUÇÃO 2.168/2017

3.4.4. Vedação de seleção para o sexo (presença ou ausência de cromossomo Y) ou

Também traz a Resolução que não é possível de escolha o sexo ou as características da criança através das técnicas de reprodução humana medicamente assistida, a não ser em casos de doenças ligadas ao sexo existentes na família e que justificassem a opção de escolha dos pacientes. Essa vedação serve para que os avanços

101 DANTAS, Eduardo; CHAVES, Marianna. op. cit. p. 50.

102 Jornada de Direito Civil I: enunciados aprovados/ coordenador científico Ministro Ruy Rosado de Aguiar. Conselho da Justiça Federal. Enunciado nº 533. 12 e 13 set. 2002. Disponível em: <https://www.c jf.jus.br/enunciados/enunciado/144>.Acesso em 06 mar. 2020.

103 SÃO PAULO. Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP). Consentimento Esclarecido. [20--]. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/?siteAcao=PublicacoesConteudoSumar io&id=55#:~:text=O%20Termo%20de%20Consentimento%20Esclarecido,ap%C3%B3s%20haver%20re cebido%20informa%C3%A7%C3%B5es%20pertinentes.>. Acesso em 23 ago. 2020.

tecnológicos na área da biomedicina não privilegiem um sexo em determinação do outro e desequilibrem a quantidade de homens e mulheres no mundo.104

Há inúmeras discussão atualmente, no Brasil, entre os especialistas sobre o assunto, uns com argumentos favoráveis à liberdade de escolha dos casais, enquanto outros defendem que não se deve ter a seleção de embriões. Em um debate promovido pelo Ser Médico, no qual houve a presença de médicos e representantes da Sociedade Brasileira de Ética, foi possível entender os diferentes posicionamentos, que se justificam entre ser contra por representar um retrocesso de pensamento, pois em vez de usar a ciência para resolução de problemas de saúdes, estariam usando de maneira a ter crianças sob medida; enquanto há os que fundamentam a favor dizendo que pode ser usada a ciência possibilitar o alcance dos desejos de alguns, desde que fique claro as implicações decorrentes dessa decisão.105

Apesar dessa divergência de posicionamento, os Conselhos Regionais têm se posicionado a vetar os pedidos de sexagem feitos por casais. O CREMERJ, em parecer dado em 2008, negou pedido do casal que solicitava a opção de escolha a fim de balanceamento familiar, diz o parecer:

EMENTA: Apesar de o ordenamento jurídico brasileiro não dispor sobre as técnicas de reprodução assistida, mesmo considerando-se legítimo o desejo do casal e a possibilidade científica de realização do procedimento, a seleção de sexo é vedada pela legislação ética.

[...]

5. A demanda de casais que buscam a reprodução assistida com sexagem é crescente, e não necessariamente motivada por recomendações médicas; 6. Não existem métodos acurados e efetivos de separação de cromossomo X e Y do espermatozoide, devendo a sexagem ser realizada no embrião, em fase pré-implantacional, o que também implicaria na produção de embriões do sexo indesejado;

[...]

Após o exposto, há que se reconhecer a legitimidade do desejo do casal. Entretanto, apesar de não haver lei que disponha a respeito e de ser cientificamente possível, a escolha do sexo em técnica de reprodução assistida é prática vedada pela legislação ética vigente.106

104VERÍSSIMO, Fernanda. Das razões de vedação da sexagem e Eugenia na Reprodução Humana Assistida. In JusBrasil, 2016. Disponível em: <https://feverissimoc.jusbrasil.com.br/artigos/335305105/ das-razoes-de-vedacao-da-sexagem-e-eugenia-na-reproducao-assistida-brasileira>. Acesso em 06 mar. 2020.

105 BATISTOLLE, João. Bebês sob medida. In Revista Ser Médico, em debate a escolha do sexo dos bebês por métodos de reprodução assistida, 30ª ed., jan./fev./mar. 2015. Disponível em: <https://www.cremes p.org.br/?siteAcao=Revista&id=170>. Acesso em 06 mar. 2020.

106 RIO DE JANEIRO. Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (CREMERJ). Parecer nº 192/2008. Interessado: Dra. M do C. B de S. Relatores: Dra. Leda Maria da Costa Macedo; Cons. Arnaldo Pineschi de Azevedo Coutinho; Comissão de Bioética da CREMERJ. Rio de Janeiro, 01 dez. 2008.

Da mesma forma, o CREMEGO em parecer que negou o pedido de um casal que desejava escolher o sexo do próximo filho, uma vez que a esposa já tinha 2 filhos e o marido 4, todos do sexo masculino. Dessa forma, foi justificado:

Ementa: “A autorização para sexagem fetal deve obedecer à resolução CFM 1957/2010, sendo proibida para apenas satisfazer as vontades do consulente.” PARECER O presente Parecer Consulta não tem outra decisão do CREMEGO, senão a obediência à resolução 1957/2010 do Conselho Federal de Medicina, nos seus Princípios Gerais a qual veta a sexagem fetal com o objetivo postulado pelos consulentes de apenas satisfazer as suas vontades.107

No mesmo sentindo, o CFM já tinha entendido, em parecer, de nº 50/2003, que a sexagem era proibida, com exceção para casos em que a doença ligada ao sexo seria determinante, traz a emenda do parecer: “não é permitida a utilização de técnica de separação de espermatozoides com finalidade de escolha de sexo, a menos que haja indicações específicas relacionadas e transmissão de doenças genéticas relacionadas ao sexo”.108

3.4.5. Proibição da fecundação de oócitos humanos com qualquer outra finalidade que não a procriação humana.

Entende-se que não é permitido usar da fecundação de oócitos humanos com intuito de outra ação que não seja a fecundação, ou seja, é vedado os experimentos com material genético humano sem objetivo de gerar um embrião. Se fosse permitido, seria possível tentar ou criar os Organismos Geneticamente Modificados a partir da

mesmo considerando-se legítimo o desejo do casal e a possibilidade científica de realização do procedimento, a seleção de sexo é vedada pela legislação ética. Disponível em: <http://old.cremerj.org.br /legislacao/detalhes.php?id=741&item=2>. Acesso em 06 mar. 2020

107GOIÁS. Conselho Regional do Estado de Goiás (CREMEGO). Parecer nº 10/2012. Solicitante: Talita Dalberta Moreira dos Santos. Conselheiro Parecerista: Dr. Aldair Novato Silva. Goiás, 03 jul. 2012.

Ementa: “A autorização para sexagem fetal deve obedecer à resolução CFM 1957/2010, sendo proibida para apenas satisfazer as vontades do consulente.Disponível em: <https://sistemas.cfm.org.br/ normas/visualizar/pareceres/GO/2012/10>. Acesso em 06 mar. 2020.

108 BRASÍLIA. Conselho Federal de Medicina (CFM). Parecer nº 50/2003, 07 dez. 2003. Ementa: Não é permitida a utilização de técnica de separação de espermatozóides com finalidade de escolha de sexo, a menos que hajam indicações específicas relacionadas e transmissão de doenças genéticas relacionadas ao sexo. Disponível em: <https://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=985:& catid=3>. Acesso em 15 jul. 2020.

combinação de gametas humanos ou com gametas de outras espécies não-humanas, os chamados híbridos, que formariam uma nova espécie ou subespécie.109

Com bastante desenvolvimento nas tecnologias é possível imaginar que atualmente se tenha condições de alterar qualquer gene, mas se deve pensar se seria seguro gerar novas espécies, pois estas alterações podem não ter o resultado esperado e causar complicações, tais como não saber o comportamento no ambiente, o seu desenvolvimento, etc. Wilmar Luiz Barth explicita:

Se a natureza não cria essas modificações ou não as seleciona naturalmente, pode o homem manipular e alterar a natureza? Os eventuais benefícios justificariam os riscos que podem advir dessa ação humana? Não é melhor deixar a natureza seguir seu rumo? 110

Além disso, esse item da Resolução está de acordo com a Lei de Biossegurança – 11.105 de 2005 – na qual há vedação de clonagem humana, isto é, não poderá a engenharia genética usar dos oócitos humanos para criar uma pessoa idêntica a uma já existente. Isso quer dizer os gametas recolhidos têm destinação certa: a reprodução humana assistida de um novo ser humano; e não poderá ser usado senão para auxiliar na fecundidade das pessoas.