Hoje em dia, é também comum encontrar na Internet informações errôneas
sobre a definição de alfabeto fonético, uma vez que eles são confundidos com os
alfabetos radiotelefônicos ou de soletração. Isso acontece em parte porque o alfabeto
de soletração mais usado é o chamado alfabeto fonético da OTAN (Organização do
Tratado do Atlântico Norte), sendo que existem outros que são utilizados para facilitar
as comunicações realizadas por meio de rádio ou telefone. Neste caso, são utilizadas
palavras ao invés de letras para soletrar uma informação.
Os alfabetos radiotelefônicos foram desenvolvidos ainda antes da Segunda
Guerra Mundial, quando foram aperfeiçoados para facilitar a comunicação entre
exército, marinha e aeronáutica, bem como a transmissão de informações entre os
aliados. Depois de algumas padronizações, ele foi uniformizado, sendo utilizado até
hoje pelas forças armadas.
Assim como o alfabeto fonético internacional, qualquer pessoa pode fazer uso
dos alfabetos de soletração, desde que conheça a palavra que se refere a cada letra
do alfabeto. Essa lista é facilmente encontrada na Internet e apesar de existir mais de
uma, assemelham-se bastante. Com os números do alfabeto militar acontece a
mesma coisa, no entanto, eles são pronunciados na língua inglesa e alguns deles
recebem uma variação para que não sejam confundidos com outros números.
8 OS ELEMENTOS SUPRASSEGMENTAIS
Há dois níveis de abordagem dos sons: aspectos segmentais e
suprassegmentais. No nível suprassegmental (só a partir de Bloomfield que se admitiu
a existência do fonema suprassegmental), trabalha-se sobretudo com os fenômenos
de ritmo e de entoação. O conceito de ritmo (CAGLIARI, 1981, p. 122) está ligado à
ideia de tempo e duração, sendo uma sequência de sílabas, ora longa, ora breve.
Foneticamente falando, a sílaba é um pulso torácico. A unidade usada para marcar a
percepção da duração das sílabas recebe o nome de mora. Ela mede as pausas entre
as proeminências vocálicas.
Processos fonológicos segmentais são alterações de fones ou de fonemas. Por
tratar de unidades tanto da Fonética quanto da Fonologia, esse fenômeno deveria
receber dois termos: processos fonéticos e processos fonológicos. No entanto,
convencionou-se usar apenas a expressão “processos fonológicos”. Também é usado
o termo metaplasmos (processo que acrescenta, suprime ou transpõe fonemas numa
palavra). Esses processos podem ser percebidos tanto do ponto de vista sincrônico
(num estágio da língua) quanto do ponto de vista diacrônico (estágios sucessivos da
língua).
Falamos emitindo uma série de sons de forma contínua, ininterrupta. Só as
pausas que fazemos regularmente durante a fala interrompem esse fluxo. Esse
caráter contínuo do fluxo da fala decorre da movimentação contínua e coordenada
dos articuladores responsáveis pela execução dos gestos articulatórios que produzem
os sons, como estudamos nas atividades 3 e 4. Vimos que cada som, consonantal ou
vocálico, é produzido por um gesto articulatório específico.
O som [p], por exemplo, é produzido por um fechamento do trato vocal feito
pelos lábios, obstruindo momentaneamente a saída da corrente de ar; o véu palatino
encontra-se levantado fechando a passagem para a cavidade nasal, o que faz com
que a corrente de ar flua apenas pela cavidade bucal e as cordas vocais estão
afastadas permitindo que o ar passe sem causar vibração. Contudo, ao produzirmos
uma sílaba como [pa] não produzimos cada gesto isoladamente para emitir esses dois
sons, ao contrário, coordenamos nossos gestos articulatórios de modos que a
explosão da consoante se dá simultaneamente à emissão da vogal.
Esse caráter contínuo da emissão dos sons da fala faz com que antes de
terminarmos completamente a emissão de um som os articuladores já comecem a se
movimentar para produzir o gesto articulatório característico do som seguinte. Um
exemplo disso é a nasalização das vogais. Tomemos a palavra `cama`. Em português,
a primeira vogal da palavra é normalmente nasalizada por anteceder uma consoante
nasal, o que não acontece com a segunda vogal. A explicação é que ainda durante a
articulação dessa primeira vogal o véu palatino começa a se abaixar, preparando-se
para a articulação da consoante seguinte, que é nasal, e dessa forma a ressonância
nasal atinge a vogal. Essas características articulatórias que os sons adquirem em
decorrência da articulação dos sons vizinhos são exemplos de articulações
secundárias
Na entoação (CAGLIARI, 1981, p. 160), analisa-se a tonalidade, ou seja, as
variações melódicas da fala dentro da tessitura tonal, medindo o som desde o tom
mais baixo até ao mais alto. Desse método advêm os tipos primários de frases:
declarativo, interrogativo, imperativo e exclamativo.
Embora os aspectos suprassegmentais ajudem a preencher as lacunas no
processo de construção do sentido, a linguística tem se interessado mais pelas
características segmentais da fala. Sendo as unidades elementares, esses segmentos
podem ser divididos em dois grandes grupos: consoantes e vogais.
A divisão tradicional entre vogais e consoantes em nível de articulação deve
ser entendida a partir da liberação do fluxo de ar dos pulmões. Nas vogais, não há
nenhum impedimento a essa passagem de ar, ou seja, os segmentos vocálicos são
produzidos com o fluxo de ar passando livremente ou praticamente sem obstáculos
(obstruções ou constrições) no trato vocal. Já as consoantes são articuladas a partir
de alguma obstrução no trato oral, seja ela parcial ou total. Uma outra diferença entre
esses dois tipos de sons é que as vogais são vozeadas, isto é, são produzidas com a
vibração das pregas vocais, enquanto as consoantes podem ou não ser produzidas
com vibração das pregas vocais. Assim podem ser vozeados ou não-vozeados.
Em termos de classificação fonética, as vogais são analisadas por meio dos
seguintes parâmetros: altura, avanço/recuo da língua e arredondamento dos lábios.
Já, para as consoantes, utilizam-se as características de ponto articulatório (lugar de
articulação), modo articulatório e sonoridade.
No documento
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS GUARULHOS SP
(páginas 51-54)