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Análise Quanto à Flexibilidade Espacial de Unidades Residenciais de Conjunto Habitacional em Maceió/AL

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2º. Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído X Workshop Brasileiro de Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios

03 e 04 de Novembro de 2011 – Rio de Janeiro, RJ – Brasil

Análise Quanto à Flexibilidade Espacial de Unidades

Residenciais de Conjunto Habitacional em

Maceió/AL

Analysis about Spatial Flexibility of Residential Units in Maceió/AL

Regina do Nascimento Gomes Xavier

Mestranda em Arquitetura da Universidade Federal de Alagoas- UFAL

| e-mail: regineaxavier@gmail.com | CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/5613338956092606 |

Gianna Melo Barbirato

Professora da Universidade Federal de Alagoas- UFAL

| e-mail: gmb@ctec.ufal.br | CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2098110972201233 |

RESUMO

Proposta: O artigo apresenta a análise de unidades residenciais de um conjunto habitacional do

Programa de Arrendamento Residencial (PAR) localizado na cidade de Maceió, Alagoas, quanto aos princípios e estratégias de flexibilidade, a partir da análise do projeto inicial e das reformas realizadas pelos usuários ao longo do tempo. Método de pesquisa/Abordagens: Foram aplicados instrumentos presentes na “Avaliação Pós-Ocupação” em reformas realizadas em 54 unidades residenciais do conjunto habitacional estudado, através de observações sistemáticas e entrevistas a usuários, além da obtenção de dados junto a órgãos responsáveis. Resultados: Apontaram dois tipos de estratégias de flexibilidade no projeto embrião do conjunto residencial dentre as seis estabelecidas pela literatura técnica. A cozinha e a sala de estar/jantar apresentaram estratégia de “ambientes reversíveis”. A sala ainda apresentou a categoria “cômodo multiuso”. Quanto às estratégias de flexibilidade nas unidades modificadas, foram detectadas: “ambientes reversíveis” e “comunicações e acessos adicionais”, esta última em 11% das unidades observadas. Quanto aos princípios de flexibilidade, foram encontrados no projeto embrião as categorias “flexibilidade propriamente dita”, “adaptabilidade” e “ampliabilidade”, sendo esta última presente em cerca de 87% das unidades modificadas. Conclui-se que as estratégias estiveram pouco presentes tanto na proposta inicial do conjunto como nas unidades modificadas. Os princípios de flexibilidade tiveram respostas significativas, em especial o princípio de

“ampliabilidade”. Contribuições/Originalidade: Espera-se contribuir para a busca de soluções que possam ser incorporadas às políticas de habitação, de modo a auxiliar na concepção de ambientes flexíveis e satisfatórios para os seus usuários.

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ABSTRACT

Proposal: this article presents the analysis of residential units in Residential Leasing Program (PAR)

in the city of Maceió, Alagoas, about the principles and strategies of flexibility, from the initial design and examination the reforms undertaken by the users over time. Methods: Instruments were administered according by "Post-Occupancy Evaluation" in 54 units of residential housing studied by means of systematic observations and interviews with users, in addition to obtaining data from the responsible agencies. The results showed two types of flexibility strategies in the embryo of a residential project among the six established by the technical literature. The kitchen and living room / dining strategy had "reversible environments”. The room still had the category "multipurpose room." The strategies of flexibility in the modified units were detected "Reversible environments" and "additional communications and access," the latter in 11% of the units observed. Findings: The principles of flexibility were found in the embryo project categories "flexibility per se," "adaptability" and "expansibility", the latter being present in about 87% of the units changed. The conclusion is that the strategies were not very present in both the initial proposal of the units together as modified. The principles of flexibility had significant responses, especially the principle of "expansibility".

Originality/value: Is expected to contribute to finding solutions that can be incorporated into

governmental housing programs in order to assist in the conception of space flexible and suitable for their users.

Key Words: Post-Occupancy Evaluation. Flexibility. Residential Leasing Program.

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INTRODUÇÃO

A dificuldade dos projetos residenciais em atender às necessidades espaciais de seus usuários não atinge somente às classes menos favorecidas financeiramente, pois, mesmo aqueles com poder aquisitivo suficiente para adquirir uma moradia de acordo com suas necessidades e desejos, têm de lidar com a falta de espaço para dispor o mobiliário, realizar atividades domésticas ou circular com facilidade pelos cômodos, pois a moradia tem espaços cada vez mais exíguos.

Quando se trata da habitação destinada à população de baixa renda, a tendência de redução dimensional compromete ainda mais a qualidade espacial, pois os ambientes são projetados com dimensões desvinculadas das exigências ergonômicas mínimas, induzindo o usuário a realizar modificações dispendiosas.

O objetivo do trabalho foi investigar a flexibilidade espacial do Residencial Campos do Jordão I a VI, conjunto habitacional do Programa de Arrendamento Residencial (PAR) na cidade de Maceió, Alagoas (BRASIL, 2007), quanto ao seu projeto inicial, bem como às unidades modificadas, analisando as maneiras encontradas pelos moradores para adaptar as moradias entregues às suas necessidades espaciais e desejos, e seus respectivos níveis de satisfação.

A “habitação flexível” é aquela que permite a realização de adaptações imediatas pelos usuários à sua maneira de morar ou ao longo dos anos. A flexibilidade no ambiente construído é um importante contribuinte para o aumento da vida útil da edificação, por contribuir na redução de alterações fora das normas técnicas construtivas, além de atender a uma diversidade de grupos domésticos com quaisquer necessidades e nas mais diferentes etapas da vida (BRANDAO; HEINECK, 2003).

Alguns autores defendem a importância da flexibilidade na ocupação inicial dos espaços e ao longo de sua utilização (flexibilidade contínua, funcional ou permanente), justificada pela

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necessidade de novos sistemas de serviços, instalações e equipamentos (BRANDÃO; HEINECK, 2003).

A flexibilidade, portanto, permite que pequenas adaptações sejam feitas mesmo que haja ciclos econômicos instáveis dos usuários, auxilia na redução das reformas com custos vultosos e evita que as pessoas precisem se mudar constantemente, além de abrir a possibilidade de a residência adquirir novos usos, como o espaço para instalação de ponto comercial e/ou que o morador possa trabalhar em casa, por exemplo.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa apóia-se na Avaliação Pós-Ocupação (APO), que é um método de pesquisa utilizado como uma eficiente ferramenta no processo de adequação dos projetos às constantes transformações das necessidades dos usuários.

Para a avaliação do nível de flexibilidade das unidades do conjunto estudado, foram aplicados questionários juntos aos moradores, tendo como base alguns modelos utilizados em pesquisas similares de Avaliação Pós-Ocupação (MARROQUIM, 2007; RAMALHO, 2008). Em seguida, foi definida a amostra, de acordo com os métodos estatísticos de Ornstein (1992) para quantificação do universo pesquisado referente à APO.

Como o objeto de estudo é composto por 144 unidades habitacionais, a amostra enquadrou-se entre a população de 101 a 150 unidades. Foi, então, determinado o universo de 60 unidades habitacionais para a realização das entrevistas. Os participantes foram selecionados de forma aleatória e as entrevistas realizadas de acordo com a aceitação dos mesmos.

A avaliação quanto à flexibilidade do projeto original e das reformas realizadas pelos usuários foi norteada inicialmente sob os cinco princípios de concepção de flexibilidade segundo Brandão (2002): Diversidade tipológica, flexibilidade propriamente dita,

adaptabilidade, ampliabilidade e possibilidade de junção/desmembramento.

Como os usuários não podem realizar modificações durante o período do arrendamento, foram consideradas também as estratégias de flexibilidade baseado nos estudos de Brandão e Heineck (2003), para investigar quais delas estariam presentes na unidade entregue aos moradores: Cômodos ou ambientes reversíveis; Cômodo Multiuso;

Alternância entre isolar e integrar; Baixa hierarquia; Comunicações e acessos adicionais e Mobiliário planejado.

Inicialmente foi realizada a descrição geral das reformas já efetuadas pelos moradores das residências da amostra, suas razões e as maiores dificuldades em realizá-las, além das modificações ainda desejadas, destacando transformações com maior ocorrência na amostra e sob quais princípios de flexibilidade elas aconteceram. As informações coletadas nas visitas foram transferidas para planilhas e, a partir daí, foram gerados gráficos com resultados quantitativos para complementar a análise.

Em seguida, por meio dos croquis das modificações realizadas pelos entrevistados foram levantados em quais unidades os moradores realizaram intervenções que estão de acordo com as seis estratégias de flexibilidade pré-estabelecidas e destacando, assim, alguns exemplos. Também foi investigado se as reformas encontradas enquadraram-se nos cinco

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princípios de flexibilidade apresentados no parágrafo anterior, sendo feitas as descrições dos mesmos.

De acordo com o levantamento da opinião dos usuários, alternativas foram propostas para possíveis modificações, servindo de auxílio para uma melhor adequação do projeto estudado às necessidades relatadas pelos moradores.

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Características do Objeto de Estudo

O Residencial Campos do Jordão I a VI fica localizado no Bairro Antares, na cidade de Maceió/AL, com habite-se de 18 de agosto de 2000 e foi o primeiro empreendimento entregue à população através do PAR (BRASIL, 2007) no estado. São 144 residências no total, distribuídas em 6 “blocos” com 24 unidades cada.

A tipologia adotada no projeto foi de casa térrea com cozinha, banheiro, área de serviço, quarto 01, quarto 02 e sala de estar/jantar, com uma área total de 35,85 m², dentro das especificações mínimas para uma unidade do PAR no Nordeste. A unidade residencial ocupa um terreno com área total de 125m² (figura 01). A tabela 01 mostra a dimensão dos ambientes da unidade habitacional padrão. Tais valores são referentes ao projeto entregue à Caixa Econômica Federal.

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Figura 01: Unidade habitacional padrão do Campos do Jordão I a VI. Fonte: Adaptado de documento fornecido pela CEF, 2009.

ÁREA ÚTIL DO RESIDENCIAL CAMPOS DO JORDÃO I A VI

Área de Serviço Cozinha Banheiro Quarto 1 Quarto 2 Sala Estar/Jantar ÁREA (M²) 0,42m² 5,19m² 2,25m² 7,56m² 7,21m² 13,64m²

Tabela 01: Áreas úteis dos ambientes da unidade habitacional padrão. Fonte: Adaptado de arquivo fornecido pela Caixa Econômica Federal, 2009.

3.2 Perfil do Morador

A maioria dos entrevistados reside em unidades habitacionais com 3 ou 4 moradores, (40% e 33,33%, respectivamente), apenas uma residência visitada possuía único morador. O principal grupo familiar encontrado foram casais com filhos pequenos e/ou casais sem filhos. A maioria dos entrevistados reside na unidade habitacional desde a entrega do Residencial. No entanto, alguns moradores afirmaram ter adquirido o imóvel de terceiros, ou seja, 75% dos entrevistados receberam o imóvel em 1999/2000 e o restante o adquiriu posteriormente.

3.3 Análise da Flexibilidade no Projeto Inicial

Quanto às características de flexibilidade da proposta inicial do projeto do Residencial Campos do Jordão, segundo as estratégias de Brandão e Heineck (2003), foram constatadas apenas duas estratégias dentre as seis que totalizam o quadro geral, sendo elas “cômodos ou ambientes reversíveis” e “cômodo multiuso”.

Foram considerados “ambientes reversíveis” a cozinha e a sala de estar/jantar, pois há entre esses ambientes mais de um acesso, facilitando a circulação dos moradores e a integração entre os espaços. Além de “reversível”, a sala de estar/ jantar apresentou caráter de “cômodo multiuso”, pela posição centralizada que ocupa na planta e por receber diversos

usos, como sala de TV e escritório.

A maior dificuldade do “cômodo multiuso” para a sala de estar/jantar deve-se ao fato de não permitir a realização de diversas atividades com total facilidade de locomoção e adequação ao espaço disponível. Além disso, por ser o cômodo de maior dimensão da residência, tende a ser utilizado para a maioria de usos possíveis, a fim de suprir a falta de espaço nos demais cômodos.

Quanto às estratégias ausentes na proposta original, pode-se dizer que:

A estratégia de “alternância entre isolar e integrar”, não é contemplada pelo fato de não serem utilizados elementos como divisórias fixas ou móveis;

A ausência da estratégia “Comunicações e acessos adicionais” limita a possibilidade de implantação de fluxos diversificados na unidade habitacional;

 Não existe baixa hierarquia no projeto. A acentuada diferença entre as áreas úteis é prejudicial, pois muitas atividades tornam-se limitadas a um único cômodo, não permitindo a livre escolha do morador em escolher onde realizar determinadas atividades;

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Quanto à estratégia “mobiliário planejado”, a maioria dos moradores não tem condições de arcar com os preços de móveis sob medida. Além disso, ainda existe certo preconceito em dividir espaços apenas com divisórias ou estantes giratórias adotando-se, pois, com maior freqüência, as tentativas de ampliação da casa como solução. Para muitos, “mobiliário planejado” concebe a impressão de “improviso”, apesar de seu uso bem projetado ser uma solução eficiente para espaços reduzidos. Quanto aos princípios de flexibilidade, são feitas as seguintes considerações:

Diversidade Tipológica: A diversidade tipológica não é aplicada no Residencial estudado, o que acontece comumente dentro de residenciais do tipo PAR. Sabe-se que esse princípio é interessante para evitar que grupos domésticos recebam casas que não sejam adequadas com suas necessidades básicas.

Flexibilidade Propriamente Dita: A liberdade de realizar alterações dentro de um perímetro espacial rígido é uma possibilidade presente na proposta inicial do Campos do Jordão I a VI, mesmo que limitada devido ao dimensionamento restrito;

Adaptabilidade: O cômodo mais versátil para a realização de atividades simultâneas e com a possibilidade de troca de função sem necessidade de realizar reforma é a sala de estar/jantar. A cozinha que naturalmente recebe diversas atividades funciona muitas vezes como uma espécie de “corredor” para a circulação dos moradores entre a parte interna e área externa da residência, o que reduz sua adaptabildade.

Ampliabilidade: O princípio que envolve a ampliação interna ou externa de uma habitação é o tipo de modificação mais freqüentemente realizado por moradores de conjuntos habitacionais. No caso do projeto original estudado, o posicionamento da casa centralizada no lote propicia a aplicabilidade deste princípio.

De acordo com o código de edificações da cidade de Maceió (MACEIÓ, 2007), o Campos do Jordão I a VI encontra-se na Zona de Expansão (ZE-2), a qual define os usos do terreno para o Uso Residencial (UR-01). Por tratar-se de condomínio horizontal cujas atribuições definem os recuos mínimos de 1,5m para lateral e fundos e 3,0m de recuo frontal, os limites para ampliação são restritos. (figura 02):

Figura 02: Espaço disponível para ampliações nas residências (Detalhe laranja). Fonte: Adaptado de documento fornecido pela CEF, 2009.

Possibilidades de Junção/Desmembramento: O PAR não permite que unidades vizinhas sejam agregadas nem desmembradas.

O projeto original, enfim, permite que determinadas reformas sejam realizadas ao longo dos anos. Estas são facilmente identificáveis quando se observa a planta baixa da unidade

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padrão, juntamente com a pouca possibilidade de variações que ela permite. A tendência é que cozinha e quartos sejam ampliados, além do acréscimo de mais um banheiro.

3.4 Análise da Flexibilidade nas Unidades Modificadas

Decorridos 10 anos da entrega do Residencial, muitos moradores infringiram a determinação da Caixa Econômica Federal que proíbe reformas e modificações quaisquer na estrutura física da residência antes do final do arrendamento, exceto com fins de manutenção. Apesar das inúmeras reclamações relativas às dificuldades de adaptação frente às restrições espaciais, as pessoas entrevistadas disseram que preferem permanecer na mesma residência e modificá-las – 90% delas (54 unidades) realizaram modificações em sua estrutura física original (Imagem 02) do que ir para uma casa diferente.

a) b)

Imagem 02: a) Unidade visitada que sofreu modificações. b) Unidade visitada que foi mantida sem alterações. Fonte: Arquivo pessoal, 2009.

As principais modificações encontradas foram ampliações, deslocamento de cômodos, ambientes que foram desativados e aqueles que não sofreram qualquer tipo de intervenção, sendo denominados de “original”. A ampliação tende a ocorrer de forma acentuada devido às dimensões mínimas de um projeto elaborado para comportar diversos agrupamentos de pessoas e necessidades distintas, a “ampliabilidade” foi aplicada em 78,33% das residências visitadas.

Apesar de não serem definidas como princípios ou estratégias para prover flexibilidade, os resultados referentes aos deslocamentos- ambientes realocados (48,33% das unidades visitadas) e ambientes desativados- sem uso (31,67% das unidades visitadas) também foram observados por também significarem parte das adaptações da moradia às necessidades dos ocupantes.

Os ambientes mais ampliados foram a cozinha e a sala de estar/jantar. A cozinha aparece ampliada em 28,33% das residências, muito provavelmente porque as atividades ali realizadas, a quantidade de eletrodomésticos utilizados para o preparo de alimentos e os movimentos realizados como cozinhar, abrir o forno, abaixar-se em frente à geladeira ou aos armários inferiores etc. exigem uma área maior do que está no projeto inicial (5,19 m²). Os quartos 01 e 02 foram ampliados em apenas 13,4% e 8,4% das unidades visitadas. A maioria dos entrevistados relacionou modificações no quarto com o acréscimo de um banheiro, alegando motivos como aumento da privacidade no quarto do casal, por exemplo. A sala de estar/jantar foi o segundo ambiente mais ampliado (23,33% das casas visitadas). Os ambientes que foram deslocados corresponderam a 46,66% das unidades visitadas, sendo que a maioria dos casos está relacionada à área de serviço.

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Ambientes desativados ou sem uso não foram constantes nas residências visitadas, a não ser em 31,67% destas, onde não há a utilização do espaço de serviço, composto apenas por um tanque, sendo o único ambiente onde isso ocorreu.

Quanto às estratégias de flexibilidade, foram encontrados apenas dois tipos de estratégias em sete unidades modificadas, sendo um caso de “ambientes reversíveis”. Apesar de não estar presente na proposta inicial do projeto, a estratégia “Comunicações e acessos adicionais” foi encontrada nas alterações de seis unidades visitadas.

Quanto aos princípios de flexibilidade, os resultados demonstraram que a “ampliabilidade” foi o princípio mais presente na amostra analisada, correspondendo a 87,03% das unidades modificadas. Os princípios de “diversidade tipológica” e “possibilidade de junção/desmembramento” foram descartados, por não se encaixarem no perfil das unidades habitacionais do PAR. Dessa forma, apenas três princípios gerais tiveram respostas nas alterações observadas.

As seguintes constatações foram feitas:

Flexibilidade Propriamente Dita: A liberdade de realizar alterações dentro de um perímetro espacial rígido é um fator existente no projeto do Residencial Campos do Jordão I a VI, sendo mais aplicado na sala de estar/jantar;

Adaptabilidade: A sala de estar/jantar foi o cômodo que se mostrou mais versátil para a realização de atividades simultâneas e com a possibilidade de troca de função sem necessidade de realizar reformas. No entanto, a cozinha foi o ambiente que mais passou por modificações segundo tal princípio;

Ampliabilidade: O processo que envolve a ampliação interna ou externa da habitação configurou-se como a modificação mais aplicada e com uma gama de possibilidades permitidas pelo posicionamento centralizado da casa no lote.

3.5 Propostas

A partir dos resultados obtidos, algumas propostas de modificações, elaboradas com base nos princípios e estratégias utilizados na análise do residencial estudado, podem ser apresentadas, de modo a torná-lo mais flexível. As alternativas foram concebidas dentro da realidade do projeto de Habitação de Interesse Social, aliando o baixo custo e a possibilidade de oferecer a melhor forma de adaptação do morador ao espaço, com o mínimo de demolição de paredes possível e algumas opções de usos foram atribuídas aos ambientes modificados.

A primeira proposta pode ser vista na figura 03. O banheiro foi adaptado para funcionar como banheiro reversível (n°01), através de uma pequena ampliação no ambiente através do acréscimo de uma porta de correr com acesso ao Quarto 01. Neste caso estariam aplicados a estratégia de “ambientes reversíveis” e o princípio de “ampliabilidade”, os quais são importantes por evitar a necessidade de construir mais um banheiro na unidade.

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Figura 03: Construção de um banheiro reversível.

A segunda proposta diz respeito à mudança no uso do ambiente que deixaria de ser o Quarto 01 para ser utilizado como um escritório (n°03 e n°02). Isso só seria possível para uma unidade cujos moradores só necessitassem de um único quarto. Seria, pois, o princípio de “adaptabilidade” e “flexibilidade propriamente dita” (figura 04).

Figura 04: Mudança de uso do quarto 01 para um escritório.

Uma última modificação consistiria no fechamento dos acessos ao quarto 01, que seria transformado em closet com banheiro reversível (n°04). Uma abertura com uma porta de correr interligaria o quarto 02 ao closet. A estratégia “comunicações e acessos adicionais” seria aplicada nesta intervenção, com a formação do fluxo entre os quartos. O princípio de “adaptabilidade” estaria presente com a transformação do quarto 01 em closet (figura 05). Outra opção seria utilizar a ligação entre os quartos para que um dos quartos fosse o quarto de um bebê, por exemplo, cujo contato com a mãe seria resguardado do movimento do restante da casa, com a aplicação do mesmo princípio e estratégia citados.

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Figura 05: Mudança de uso do quarto 01 com acesso para o quarto 02.

Tais possibilidades poderiam ser inseridas no manual do arrendatário, para que fosse entregue ao morador no momento da quitação do imóvel. Seria uma espécie de guia técnico que serviria de auxílio nas primeiras modificações a serem realizadas na residência e, conseqüentemente, poder-se-ia reduzir os índices de unidades modificadas antes do final do arrendamento.

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CONCLUSÕES

O presente trabalho mostrou que a relação entre o morador de um conjunto habitacional com a casa recebida precisa ser planejada para facilitar o processo de adaptação.

Concluí-se que as estratégias de flexibilidade pouco estiveram presentes tanto na proposta inicial do conjunto, como nas reformas realizadas pelos moradores, enquanto que os princípios de flexibilidade tiveram respostas significativas para essas mesmas situações. Projetos que não são elaborados para preencher as necessidades básicas dos usuários e/ou suas transformações ao longo dos anos tornam explícita a idéia de como é imprescindível o acompanhamento do projeto desde a concepção até o pleno uso do produto final. Habitações mais flexíveis, portanto, poderiam ser oferecidas aos usuários de maneira mais acessível, tendo na aplicação constante da APO o melhor modo de se conhecer as necessidades dos usuários das unidades habitacionais.

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REFERÊNCIAS

BRANDÃO, Douglas Queiroz; HEINECK, Luiz Fernando Mählmann. Significado multidimensional e dinâmico do morar: compreendendo as modificações na fase de uso e propondo flexibilidade nas habitações sociais. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 3, n.4, 2003.

BRANDÃO, Douglas Queiroz. Diversidade e Potencial de Flexibilidade Arranjos Espaciais de Apartamentos: uma análise do produto imobiliário no Brasil. Tese

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(Doutorado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002.

BRASIL. Medida Provisória n°350/07, 22 de janeiro de 2007, reeditada sob a Lei 11.474/07, 15 de maio de 2007. Cria o Programa de Arrendamento Residencial e institui o arrendamento residencial com opção de compra. Disponível em www.planalto.gov.br. Acesso em agosto/2009.

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Disponível em http:/www.caixa.gov.br. Acesso em abril/2009.

MACEIÓ. Código de Urbanismo e Edificações. Prefeitura Municipal de Maceió/AL. 2007. Disponível em: http://www.maceio.al.gov.br. Acesso em setembro/2007.

MARROQUIM, Flávia M. G. Avaliação Pós-Ocupação em unidades residenciais modificadas de um conjunto habitacional em Maceió-AL: Flexibilidade, Dimensionamento e Funcionalidade dos Ambientes. Maceió, 2007, 94p. Dissertação ( Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Alagoas.

ORNSTEIN, S. W. Avaliação pós-ocupação do ambiente construído. São Paulo: Studio Nobel, Edusp, 1992, p.13.

RAMALHO, Letícia B. Análise do Grau de Satisfação de Moradores de PAR em Maceió Quanto ao tamanho dos ambientes internos. Maceió-AL, 2008. Trabalho Final de Graduação. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Alagoas.

Referências

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