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A escola como espaço formador de conhecimentos e atitudes para mudanças na relação com o ambiente da comunidade local

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Academic year: 2021

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EDELA LUTZ

A ESCOLA COMO ESPAÇO FORMADOR DE CONHECIMENTOS E ATITUDES PARA MUDANÇAS NA RELAÇÃO COM O AMBIENTE DA COMUNIDADE

LOCAL

MESTRADO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS

Ijuí, RS 2014

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS: MESTRADO

A ESCOLA COMO ESPAÇO FORMADOR DE CONHECIMENTOS E ATITUDES PARA MUDANÇAS NA RELAÇÃO COM O AMBIENTE DA COMUNIDADE

LOCAL

Pesquisador (a): Edela Lutz

Orientador (a): Prof.ª Dra. Elza Maria Fonseca Falkembach

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a meus familiares e amigos pela paciência da espera, pela compreensão da ausência, dos devaneios, do distanciamento, dos silêncios, das distrações, das falas às vezes sem nexo, dos lapsos de memória, da insistência nas discussões sobre o mestrado. Agradeço-lhes pela partilha da angústia e do anseio para o cumprimento dos prazos e pela alegria compartilhada nas conquistas.

Aos jovens ex-monitores, sujeitos dessa pesquisa, que carinhosamente atenderam ao convite da ex-professora para uma visita a um lugar marcado por lembranças.

Agradeço aos colegas de mestrado pela alegria e parceria, nos momentos de discussões, nos almoços, nos intervalos, nas atividades. Pelas novas amizades que apesar do pouco tempo de encontro, ficaram marcadas pela afabilidade e cumplicidade.

Aos professores doutores do programa que possibilitaram novas reflexões e desvelaram um novo mundo de possibilidades. A minha orientadora, Professora Doutora Elza, pelas palavras sempre carinhosas, mas firmes e motivadoras, que mostraram novos caminhos e permitiram que andasse com segurança pelo meu.

A todos aqueles que de alguma forma acreditaram em mim, nos bastidores do programa e que eu não tenha conhecido, mas cujas ações me propiciaram experiências e conquistas.

A todos os colaboradores do programa e setores de apoio da Universidade pela gentileza e esmero com a qual me trataram em todos os momentos.

Pelo tratamento gentil, receptivo e acolhimento do Programa, condição que me manteve até o final, pois foram inúmeras as dificuldades pessoais por que passei nesses dois anos.

À possibilidade da realização de um intercâmbio, na Universidade Academia de Humanismo Cristiano, em Santiago do Chile, que proporcionou dias intensos de aprendizagem, de imersão na cultura, compreensão da história, da forma de viver e de pensar do povo chileno. Experiência que provocou grandes reflexões e influências sobre minha dissertação.

À CAPES pela bolsa de estudos, sem a qual não seria possível a conclusão do curso. Em especial, agradeço a meu filho Rafael, meu ouvinte paciencioso e crítico, meu esteio, minha força, maior incentivador deste percurso.

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RESUMO

O objetivo da presente pesquisa é entender o papel da escola como espaço formador de conhecimentos e atitudes em relação à construção do saber ambiental, para a compreensão dos problemas da comunidade e a melhoria da qualidade de vida, através do estímulo à participação e restabelecimento da ligação dos jovens com o lugar onde vivem, ou seja, com sua comunidade. Também, compreender o significado da experiência para um grupo de jovens, da participação em um projeto de prática de preservação ambiental, através de uma prática multidisciplinar e coletiva, entre sua escola e sua comunidade, realizada entre 2000 e 2003, da perspectiva distanciada de 2014. No campo metodológico, trata-se de uma pesquisa qualitativa, utilizando-se de pesquisa bibliográfica e observação participante em uma atividade que chamo de “visita”. Os sujeitos e o contexto do estudo compreendem ex-monitores da Escola Municipal de Ensino Fundamental Bom Pastor, participantes do Projeto Garabi-Itá, do município de Panambi/RS, nos anos 2000 a 2003.

Concluo que há possibilidades de a escola ampliar sua abrangência e preparar os que a ela tem acesso para a solução dos problemas locais, através de uma abordagem mais ampla das questões ambientais, de forma mais vivencial, a partir de uma prática interdisciplinar e com o estabelecimento também de parcerias com outras instituições. Para isso a escola pode fortalecer o instinto biofílico, aquele gosto inato pela natureza; promover a alfabetização ecológica, o conhecimento dos princípios básicos da ecologia e num contexto mais amplo a construção de um saber ambiental que leve a produção da racionalidade ambiental que possibilite a formação de um ser humano sensibilizado, generoso, amoroso, que reconheça seu lugar, o ame e lute por ele.

Palavras-chave: Escola. Parceria. Comunidade. Alfabetização ecológica. Racionalidade ambiental.

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ABSTRACT

The objective of this research is to understand the role of the school as trainer space knowledge and attitudes regarding the construction of environmental knowledge, to understand the problems of the community and improving the quality of life by encouraging participation and reconnection of young people where they live, or to their community. Also by, understanding the meaning of the experience for a youth group, participating in a project to practice environmental preservation through a multidisciplinary collective practice, and between their school and their communities, conducted between 2001 and 2003, and the distanced perspective 2014. Methodologically field, it was a qualitative research using bibliographic research and participant observation in an activity I call "visit." The subjects and the context of the study included formation monitors the Bom Pastor Municipal Primary School, participants Garabi – Ita Project, the municipality of Panambi / RS , in the years 2000-2003.

I conclude that there is scope for the school to expand its scope and prepare that it has access to the solution of local problems through a broader approach to environmental issues in a more experiential way, from an interdisciplinary practice and the establishment also partnerships with other institutions. For this school can strengthen biophilic instinct, that innate taste for nature; promoting ecological literacy, knowledge of the basic principles of ecology and in a broad context of the construction of a knowledge environmental that leads to production of environmental rationality that allows the formation of a sensitized, generous, loving human being, recognizing their place, by loving and fighting for it.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AGAPAN - Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural

ARPA Fiúza - Associação de Recuperação e Preservação Ambiental Rio Fiúza

CD - (Compact Disc) - Disco compacto

CDDH - Centro de Defesa dos Direitos Humanos

CIE - Companhia de Interconexão Energética CMMAP - Conselho Municipal de Meio Ambiente

COTRIPAL - Cotripal Agropecuária Cooperativa

CTCAS - Central de Triagem com Aterro Sanitário

DEFAP - Departamento de Florestas e Áreas Protegidas

EA - Educação Ambiental

EEEF - Escola Estadual de Ensino Fundamental

EEEM - Escola Estadual de Ensino Médio

EMATER - Associação Rio-grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e

Extensão Rural

EMEF - Escola Municipal de Ensino Fundamental FBCN - Fundação Brasileira de Conservação da Natureza

FIDENE - Fundação de Integração e Desenvolvimento de Educação do Noroeste do Estado

IFF - Instituto Federal Farroupilha

IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) - Painel Intergovernamental sobre

Mudanças Climáticas

IRDeR - Instituto Regional de Desenvolvimento Rural NMS - Novos Movimentos Sociais

ONU - Organização das Nações Unidas

PBMC - Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas

PCN - Parâmetro Curricular Nacional

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PNLD - Programa Nacional do Livro Didático

PRONATEC - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego

RAN1 - Relatório de Avaliação Nacional

SEMA - Secretaria Estadual de Meio Ambiente

SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

UAB - Universidade Aberta do Brasil

UFSM - Universidade Federal de Santa Maria

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

WCED - (World Commission on Environment and Development) - Comissão Mundial

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

CAPÍTULO 1 - O PROJETO GARABI-ITÁ, SUA EXECUÇÃO NO MUNICÍPIO DE PANAMBI, A ATUAÇÃO DA EMEF BOM PASTOR E O ENVOLVIMENTO DOS MONITORES ... 26

1.1 COMUNIDADE LOCAL ... 32

1.2 ESCOLA E SUJEITOS DA PESQUISA ... 36

CAPÍTULO 2 – GLOBALIZAÇÃO E A CRISE SOCIOAMBIENTAL ... 38

2.1 EFEITOS DA GLOBALIZAÇÃO ... 39

2.2 INFLUÊNCIAS DA GLOBALIZAÇÃO SOBRE AS COMUNIDADES LOCAIS ... 43

2.3 IMPLICAÇÕES DA CRISE SOCIOAMBIENTAL GLOBAL E RESPOSTAS DE UMA COMUNIDADE LOCAL ... 48

2.3.1 Mudanças climáticas e a perda da biodiversidade: dois grandes desafios globais com possibilidades de enfrentamento local ... 51

2.4 MOVIMENTOS E AÇÕES DE RESISTÊNCIA AO CAPITALISMO EM PROL DA SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL ... 57

2.4.1 Novos movimentos sociais: novas resistências às demandas globais. ... 58

2.4.2 Mobilizações globais e locais frente às novas demandas ambientais ... 60

2.4.3 Movimentos de resistência da comunidade local, do município de Panambi. ... 62

CAPÍTULO 3 – EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO POSSIBILIDADE DE ENFRENTAMENTO À CRISE SOCIOAMBIENTAL ... 64

CAPÍTULO 4– UMA EXPERIÊNCIA LOCAL: A ESCOLA COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO DE CONHECIMENTOS E ATITUDES. ... 78

CONCLUSÃO ... 95

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INTRODUÇÃO

As condições e capacidades para resolver problemas socioambientais locais também dependem da educação dos sujeitos em interação, uma educação crítica, que facilite o reconhecimento da realidade local e uma educação libertadora que possibilite a tomada de decisões e ações de enfrentamento. Uma escola fundamentada nesses princípios se torna um espaço de resistência e promove uma mudança de paradigmas na forma de pensar e agir localmente, em busca de alternativas ao processo de dominação e exploração do ser humano sobre o ser humano e do ser humano sobre o ambiente.

De igual modo, a tentativa de restabelecimento da ligação dos jovens com o lugar onde vivem representa uma luta contra o individualismo e pela sobrevivência das comunidades locais, que apesar da pressão da cultura global representam espaços de resistência. Nesse sentido, o estabelecimento escolar pode atuar junto a outras organizações e instituições da comunidade na construção de conhecimentos, redes de intenções e ações, além de promover a discussão quanto ao não sucesso na solução de um problema ambiental local, de forma efetiva, sem a convicção da possibilidade e a dedicação da coletividade. Assim, através das experiências individuais e coletivas seguirá em busca do sonho, da utopia da construção de uma sociedade mais humana, igualitária, justa, segura, amorosa e solidária.

Refletindo sobre a utopia da construção de uma sociedade não excludente, não violenta, nem injusta, nem feia, recuo meus pensamentos e minhas lembranças a um tempo e a um lugar seguro e belo; a um passado distante, quando fui criada à sombra de um arbusto, como diz minha mãe. Enquanto meus pais trabalhavam na lavoura eu ficava à sombra, dentro de uma caixa de madeira, protegida por grandes cães, que afastavam outros animais, eventualmente alguma cobra que estivesse a se aproximar.

Até quase quatro anos de idade vivia bem cuidada, nesse mundo de calmaria, de muito verde, muito bicho, onde os sons da natureza somente eram entrecortados pelas vozes de meus pais e de meu único irmão (in memoriam). Em uma propriedade circundada por um rio e muitos cerros, meu pai dizia que plantava milho a “bodoque” e colhia a “tiro de laço”. Era um lugar ermo, diziam que era “onde o diabo perdeu as botas” e para surpresa de todos, depois de alguns anos foi transformado por uma empresa, nova dona da propriedade, em área de proteção permanente. Naquele lugar o homem cedeu à força da natureza.

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Anos mais tarde, em visita ao antigo lar, de difícil acesso, pude observar o mato já crescido, sucesso da sucessão ecológica1, e poucos vestígios da passagem humana por ali, apenas algumas árvores frutíferas e um pinheiro plantado por meus pais, enorme e imponente, últimos testemunhos da aventura humana naquele lugar.

Lembro-me de poucas coisas da época em que lá vivi, tive pouco contato com outras pessoas, talvez para uma criança tão pequena tudo ali estivesse em perfeita ordem, outro mundo não fizesse sentido, porém, guardo impresso na memória um sentimento forte, de um lugar isolado, grandioso e belo, um misto de medo, admiração e respeito. Com certeza foi o primeiro período de exercício da observação, de muita observação, em minha vida. Também, ali fui testemunha de um duelo entre homem e natureza, o primeiro de muitos que ainda presenciaria.

Exaurida daquela difícil batalha de sobrevivência, minha família atendeu ao chamado da indústria que se desenvolvia rapidamente na região, na década de 1970 e prometia melhores condições de vida, em comparação ao árduo trabalho braçal na roça. As pessoas diziam: “na cidade é mais fácil, os filhos podem estudar e ter um futuro melhor”. Filha do êxodo rural, já instalada na área urbana, a partir dos quatro anos de idade, em um período em que não compreendia o significado dessas palavras e pouco sabia sobre o mundo, vivendo mais como uma tímida estrangeira em terra desconhecida, aos poucos fui estendendo meu campo de visão e alargando meu conhecimento.

Durante minha infância e adolescência, vivendo no limiar da área urbana, de uma pequena cidade interiorana, em uma casa em meio a bosques, fui testemunha de várias “frentes de combate”, observei a queda de muitas árvores e, também, de pequenos bosques, para dar lugar à formação de lavouras, de milho, soja e à expansão urbana. Vi árvores frondosas que abrigavam uma infinidade de espécies, como insetos, aves, répteis, mamíferos e plantas epífitas tombarem indefesas, frágeis, frente à voracidade humana, sob o olhar impiedoso ou talvez ingênuo dos assistentes, ao som de alaridos de orgulho, como de combatentes que subjugam o inimigo.

No contraponto dessa experiência, convivi com familiares que me ensinaram o valor da vida, em toda sua forma, que me mostraram a beleza da natureza, a nossa interdependência

1 A sucessão ecológica como conceitua o autor Roger Dajoz: A dinâmica é uma característica fundamental dos

ecossistemas. Uma observação, mesmo superficial, mostra que o solo nu cobre-se gradativamente de vegetação e que um campo abandonado é invadido por ervas vivazes, depois por arbustos e, finalmente por árvores. Uma lagoa é colonizada aos poucos graças à atividade da vegetação. Esse fenômeno de colonização de um meio pelos seres vivos e de mudanças na flora e da fauna com o tempo é conhecido pelo nome de sucessão ecológica. Texto direto do autor. (DAJOZ, Roger. Princípios de Ecologia. Tradução por Fátima Murad. 7 ed. Porto Alegre: Artmed, 2005, p. 325).

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com outras formas de vida, pessoas que no seu cotidiano respeitavam e me ensinaram a respeitar o outro e todos os outros seres vivos. Por sua vez, o convívio com o bosque durante toda minha existência e o fato da cidade em que moro ter sido um lugar com muito verde, me favoreceu o estabelecimento de um vínculo com a natureza, ainda mais forte com o bosque, com sua totalidade e o que ele representa enquanto ecossistema. Desde criança pude observar as relações ecológicas que aconteciam dentro dele, via o gavião atacando ninhos, o barulho especial do pica-pau na construção do seu, os ovos que caiam do ninho após um vendaval, as sementes que se dispersavam com o vento.

Lembro-me dos sustos no encontro com cobras e das brincadeiras nos cipós. Curiosa, queria conhecer os mistérios que rondavam o bosque, meus pais explicavam o que sabiam do espaço que era fonte de diversão e descobertas. Também as festas anuais da pequena igreja da comunidade eram feitas dentro do mato, fresquinho, sombreado, onde não se podia quebrar nem um galho, as mesas eram colocadas ao redor das árvores, ocupava-se o espaço de alguma clareira. Por tudo isso, quando via uma árvore tombando, não via uma simples árvore, ou, como alguns diziam “é só mato”, mas algo mais, com o qual convivi diariamente, que vi crescer, cujas cicatrizes acompanhei.

Vi surgirem descendentes, flores, frutos e folhas, dispersarem-se as sementes, testemunhei inverno e verão durante anos. Vi como elas se contorciam frente aos temporais, como sofriam durante as secas, a disputa pelo sol, como trocavam suas folhas, as plantas decíduas e as que não trocavam suas folhas. Observei as floradas na primavera, suas defesas frente aos inimigos naturais, o ataque das formigas, a disputa com outras plantas, acompanhei ano a ano a chegada dos pássaros (papagaios, caturritas e tucanos que vinham em bandos ou em grupos) e a construção dos ninhos. Infelizmente hoje restam poucas árvores da minha infância e adolescência, que observava próximas a minha casa e em meu bairro, aos poucos foram cedendo espaço às moradias humanas, devido à expansão territorial urbana.

Lembro-me do barulho causado pelo entrelaçamento dos seus troncos e o leve som de suas folhas ao vento, como se elas estivessem se comunicando comigo. Meu passatempo preferido era olhar o bosque. Algumas delas estão eternizadas em meus desenhos, eram mais que simples árvores, na minha infância eram amigas, confidentes leais, conversava com elas. Como poderia querer mal a um ser tão presente? Sentia que era parte daquele mundo.

Hoje tenho consciência de que essas experiências possibilitaram-me a aceitação do biocentrismo, segundo o qual todos os seres vivos possuem direitos intrínsecos, como o direito à vida e por isso defendo essa ideia. O convívio com o meio natural, a observação e a

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convivência desenvolveram meu instinto biofílico2 e meu encanto pela natureza, desde criança e ao longo de minha vida. Hoje consigo compreender que minha alfabetização biológica, ou seja, minha bioalfabetização teve início muito cedo, ainda com minha família e junto ao meio em que vivia na infância. Por isso, compreendo a necessidade do contato de crianças e jovens com o meio natural e a importância da escola nesse processo.

Quando, aos dezenove anos, após outros empregos e algumas experiências impactantes, convicta de que frente aos desafios da atualidade a educação poderia auxiliar a modificar o rumo do mundo, a relação entre os indivíduos e destes com o meio, iniciei minha carreira profissional como professora de Ciências e Biologia. Logo me propus a desenvolver a bioalfabetização com meus alunos, tentando levá-los literalmente para “dentro do bosque”, sensibilizando-os frente à grandeza e à beleza do meio natural, estimulando-os a manter uma relação harmoniosa com o meio e mostrando-lhes a dependência dos seres humanos em relação à natureza para construir conhecimentos e desenvolver atitudes de admiração e respeito a todas as formas de vida.

Ao longo da minha trajetória, percorri com os alunos muitos riachos, adentrei muitos bosques, instiguei a observação, estimulei a curiosidade, a descoberta. Busquei, através da imersão no mundo natural, restituir e/ou despertar o instinto biofílico dos alunos, fazer o reconhecimento dos efeitos das ações antrópicas e, dessa forma, também sensibilizá-los para a proteção e preservação ambiental. Sensibilização que não acontece apenas através da transmissão de informações científicas, mas também através das vivências, da interação com a natureza, da observação e do contato direto, do toque, do olhar, do cheiro.

Essa prática, no entanto, em algumas escolas foi mais fácil, mais intensa, em outras menos, dentro dos limites e possibilidades de cada local, segundo meus próprios limites de ação, os limites da instituição, dos alunos e da educação formal. Numa dessas incursões deparei-me com um projeto que possibilitaria um convite à escola urbana e às crianças e jovens um retorno e uma imersão no meio natural, desta vez com assessoria de uma equipe multidisciplinar, com uma proposta de interferência prática positiva na comunidade local. Era uma oportunidade única, então, em uma reunião com representantes de várias instituições do município, o convite se estendeu à secretaria de educação e aos gestores e professores das instituições interessadas. Eu era um desses professores e me dispus a ser coordenadora do referido projeto dentro da escola de atuação.

2 Segundo Edward Osborne Wilson (1993) é atividade emocional inata dos seres humanos com os demais seres vivos da Terra. Essas emoções são ativadas quando entramos em contato com o ambiente natural e podem despertar diversas sensações, de admiração à aversão. KELLERT, Stephen R.; WILSON, Edward. O. (Orgs.)

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De abrangência regional, chamado de Empreendimento Linha de Transmissão Garabi-Itá - Projeto de Compensação Florestal no Estado do Rio Grande do Sul, tinha por objetivo realizar a reposição florestal na mata ciliar na bacia do rio Ijuí. O município de Panambi foi escolhido como município parceiro devido ao fato do rio Fiúza, que abastece a cidade, ser um afluente do rio Ijuí. E, entre os afluentes do rio Fiúza foi escolhido o Arroio do Moinho, em reunião com a comunidade. Por isso o meu interesse, a proximidade do local em que trabalhava com o Arroio facilitaria a participação e o envolvimento da Escola Municipal de Ensino Fundamental Bom Pastor.

Minha experiência como docente e coordenadora da atividade no âmbito escolar, a participação nas várias fases do Projeto e o acompanhamento aos alunos durante o desenvolvimento das atividades possibilitaram-me a constatação da importância da participação da instituição em uma atividade local, da expectativa externa, da comunidade, em relação ao envolvimento do educandário nas questões comunitárias, além de poder acompanhar o despertar do desejo dos alunos em fazer parte, de imergir no meio natural. Outra constatação significativa foi quanto à relevância da formação de lideranças jovens e a importância do estímulo destas à participação dos colegas.

Todo o processo demandou um grande dispêndio de energia, mas permitiu a percepção de possibilidades de ação da escola para além de seus muros, bem como suas possibilidades para fomentar ações de proteção e preservação ambiental em seu entorno e para estimular e formar lideranças jovens para atuação na comunidade. Importância essa confirmada após uma pesquisa realizada no curso de especialização em educação ambiental (EA), dez anos após o início das atividades do Projeto, em entrevista aos atores envolvidos, produtores rurais, donos das áreas de plantio de árvores, professores e jovens monitores. Constatações que me trouxeram outras indagações e me fizeram refletir sobre o trabalho pedagógico, suas consequências em curto e médio prazo. Sobre o quanto é relevante o envolvimento da instituição com sua comunidade e sobre o significado desse envolvimento para os jovens.

Ao longo de minha trajetória, como professora, observei que a escola não realizou uma aproximação com a comunidade de forma produtiva, os conteúdos foram trabalhados geralmente de forma fragmentada e disciplinar, muitas vezes dissociados da realidade, poucos efeitos práticos perceptíveis surtiram no cotidiano e poucas mudanças estruturais aconteceram em seu interior para possibilitar práticas transdisciplinares efetivas. Os problemas da comunidade em que a escola está incluída não foram resolvidos, outros surgiram e não houve iniciativas coletivas no sentido de compreendê-los. Outras atividades e projetos já concluídos e em andamento no município não buscaram incluí-la em seu processo.

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Durante esse período, por mais que se tenha feito tentativas de práticas diferenciadas na escola e buscado o envolvimento de professores em projetos ambientais coletivos, resultou em avanços muito lentos e fragmentados e perpassaram lutas solitárias, sempre partindo da proposição dos educadores. Quase nenhum estímulo para a realização de mudanças concretas advinha das instâncias gestoras e, em geral, a abordagem das questões ambientais era realizada por professores das disciplinas de Ciências e Biologia. Em relação à discussão sobre responsabilidades socioambientais apenas recentemente foram realizadas algumas parcerias e iniciadas algumas atividades.

Da mesma forma, a observação em âmbito global e específico da comunidade local, sobre descontextualização, fragmentação dos conteúdos, desconexão entre as informações, desconhecimento sobre a problemática local e global, toda a complexidade da temática ambiental atual, ainda não assimilada pela educação e pelos educadores, não óbvios, nem inclusos em sua totalidade no currículo escolar, refletem a dificuldade em formar conhecimentos e desenvolver atitudes que motivem o maior envolvimento individual dos educandos para a ação cidadã na comunidade, na busca da solução dos problemas do entorno.

Além disso, o isolamento da escola em relação às causas da comunidade também contribui para essa dificuldade, o que demandaria maior integração e estabelecimento de parcerias com outras instituições e organizações sociais. Portanto, na situação de inconformação com a crise socioambiental que o ser humano tem protagonizado e com a forma como a educação tem tratado das questões relativas à educação ambiental, em especial na formação das juventudes, procurei, em busca de alternativas, respostas a meus questionamentos.

A preocupação com uma aprendizagem mais vivencial e significativa no âmbito escolar motivou a realização desta pesquisa e a reflexão sobre a possibilidade da superação das barreiras da instituição como único espaço possível de aprendizagem e a transposição dos limites dos seus muros. Além de permitir conjecturas sobre a possibilidade de a comunidade local ser um ambiente complementar de aprendizagem, onde o conhecimento popular e o escolar dialoguem e busquem soluções para os problemas locais.

As possibilidades foram alimentadas a partir de uma experiência pessoal em que os muros foram transpostos, em um momento de intervenção de uma escola urbana no ambiente natural do seu entorno, através do seu engajamento em um projeto ambiental de abrangência regional, numa parceria com a comunidade, ocorrida há mais de uma década, provocada por um convite e caracterizada como uma proposta de recomposição florestal de mata ciliar. Os alunos participantes são os sujeitos desta pesquisa, cujas memórias e aprendizagens podem

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trazer surpresas, respostas e novas indagações sobre o significado da participação em um projeto dessa magnitude, para fora dos muros da escola.

É uma pesquisa que se propõe a perceber como as narrativas pessoais podem expor aspectos não investigados e compreender como a subjetividade perpassa o trabalho pedagógico da educação formal, no aprender/apreender o conhecimento ambiental. Por isso, trago para a discussão minhas interlocuções com os sujeitos participantes engajados em uma proposta de âmbito regional, na área ambiental, de Compensação Florestal, o Projeto Garabi-Itá, desenvolvido há mais de uma década, entre o ano de 2000 e 2003 no Sul do Brasil.

Decorrida mais de uma década da participação da Escola Municipal de Ensino Fundamental Bom Pastor, do município de Panambi no Projeto Garabi-Itá e após uma pesquisa realizada em 2011 para meu trabalho de conclusão do curso de Especialização em educação ambiental, fui instigada pelas falas dos sujeitos participantes. Por isso, propus-me, na pesquisa de mestrado, a verificar e compreender as facetas ocultas das falas dos sujeitos e o que elas representam dentro do conjunto de inter-relações locais, entre a instituição e sua comunidade. Sujeitos esses que serão denominados como ex-monitores, os alunos monitores; como produtores parceiros, quando me referir aos produtores rurais que cederam áreas de plantio à escola; e professores coordenadores, quando me reportar aos professores que atuaram junto às atividades de campo. A ênfase será nas falas de uma parcela de ex-monitores, três rapazes e uma moça, atualmente com idades entre 23 e 26 anos, que atuaram como monitores no Projeto, entre 2001 e 2003.

De fato, dentre as conclusões da minha pesquisa de especialização, realizada em 2011, algumas se mostraram desafiadoras enquanto desestabilizadoras de certezas e promotoras de novas reflexões. Naquela busca de significados para a relação escola versus comunidade versus projetos, constatei que todos os sujeitos envolvidos consideraram positivo o Projeto nas áreas de plantio em que houve a participação escolar e demonstraram aprovação pelo envolvimento do educandário. Ainda, foram perceptíveis as mudanças na mata ciliar das áreas de reposição, o auxílio material e técnico oferecido pelo mesmo foi expressivo, os produtores tiveram cuidado com as áreas plantadas e o trabalho dos monitores foi considerado satisfatório, pois as mudas de árvores foram bem plantadas, de acordo com as orientações técnicas recebidas. O correto plantio das árvores pelos ex-monitores foi considerado decorrente do preparo técnico recebido. Além do correto plantio de árvores, também foi considerado relevante o aprendizado em relação à importância da reposição da mata ciliar e à preservação da qualidade da água, bem como os demais conhecimentos ecológicos. (LUTZ, 2011).

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Uma das conclusões da pesquisa de especialização foi a de que houve pouco envolvimento de outras entidades, do poder público e de outros produtores rurais que poderiam ter cedido espaço para a recomposição florestal. Da mesma forma, a equipe do Projeto avaliou o pouco envolvimento das entidades, em seu Relatório Trimestral nº 08, de outubro de 2003, no qual consta a seguinte afirmação, “[...] Panambi falta a participação de todas as entidades e uma postura mais incisiva dessas para que o trabalho tenha uma qualidade superior.” (LUCCHESE; SCHIRMER, 2003b, p. 58).

Outro fato relevante constatado na minha pesquisa foi o apontamento dos entrevistados de que todas as entidades deveriam se envolver mais com os problemas da comunidade, além dos próprios proprietários. Assim como ficou clara a compreensão de que deve haver um envolvimento coletivo para a resolução dos problemas do Arroio do Moinho. Foi notória, ainda, a importância que os sujeitos da pesquisa atribuíram ao papel da Escola como motivadora da implantação de projetos na comunidade. (LUTZ, 2011).

Além disso, na pesquisa de especialização foi observado que apesar de todo o envolvimento dos ex-monitores no Garabi-Itá, entre 2001 e 2003, poucos se envolveram em alguma ação ambiental na ultima década e, também, para minha surpresa, a maioria não retornou às áreas de plantio de árvores até o ano de 2011 e não soube dizer como as áreas se encontravam. Aquela alegria verificada na época da realização do Projeto, com o retorno ao bosque, o instinto biofílico despontando (o que é muito mais visível no espanto das crianças, talvez por mexer com o imaginário delas), agora parecia adormecido nesses jovens.

Mesmo os ex-monitores cujos familiares ainda possuem áreas rurais pouco se envolveram em ações ambientais, “não entraram mais no bosque”. O que leva a uma reflexão sobre o desenvolvimento de uma cultura eminentemente urbana que pouco se preocupa com esse retorno e o contato com o meio natural, em uma pequena cidade interiorana, que concentra aproximadamente 90% da população do município. Assim como descreve Carlos (1995) a anestesia que o cotidiano engendra na vida, o trabalho e os deslumbres do estilo de vida urbana podem amortecer os sentidos e causar esse afastamento do meio natural.

Outro fato investigado, na especialização, em relação à participação dos entrevistados em projetos ambientais, mostrou resultados que merecem uma análise mais profunda, pois, dos ex-monitores apenas 60% participariam de forma espontânea em futuras atividades ambientais, em contraste com 75% dos professores coordenadores e 50% dos donos das áreas de plantio entrevistados. Dados que chamaram a atenção pelo fato de uma grande parte dos entrevistados somente demonstrarem intenção de se envolverem em ações coletivas e ações voltadas para a coletividade mediante um convite. Nas falas de alguns ex-monitores ficou

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clara a espera de um convite. Questionados sobre a participação em outros projetos, responderam não terem sido convidados novamente. Outra situação que chamou a atenção foi o relato do desconhecimento de outras iniciativas nesse intervalo de tempo, o que poderia evidenciar poucas ações ambientais de vulto no município e/ou, também poderia demonstrar a falta de comunicação interna. (LUTZ, 2011).

A importância da interação da escola com projetos na comunidade local foi evidenciada, de certa forma, na pesquisa realizada em 2011, na fala de alguns produtores parceiros, que liberaram áreas para o plantio de árvores devido a um convite feito pela Escola, o que a legitima como uma instituição com credibilidade, nesta comunidade em estudo. Ficou claro na fala de um dos produtores parceiros que descreveu como motivação para sua participação o fato de uma criança da família ser aluna da instituição, demonstrando respeito à criança e crédito ao estabelecimento de ensino. Porém, as poucas mudanças observadas na preservação ambiental do entorno da Escola e mesmo dentro desta refletem a dificuldade de produzir atitudes autônomas e, para além de seu interior reflete pouca militância, pouco chamamento, pouco envolvimento, em questões ambientais, falando, neste caso em particular, da comunidade pesquisada, mas cuja realidade não é muito diferente de outras no país e mundo afora.

A partir disto, a perpetração da investigação sobre a necessidade de um convite, formal ou informal, tornou-se um desafio para uma exploração na pesquisa de mestrado, que poderia trazer à tona várias facetas. Inicialmente e a primeira vista, poderia dizer que o não envolvimento é simples falta de iniciativa, o que limitaria a ação, ou é mesmo falta de interesse, mas também, poderia pensar na predominância de um comportamento passivo, de amortecimento dos sentidos, decorrente da atuação centralizada de um sistema econômico mundial, que nem mesmo a escola e as famílias conseguem questionar. Essa absurda passividade pode também tolher o despertar e o afirmar do instinto biofílico, a admiração pelo mundo natural e o fortalecimento da resignação em relação às ações antrópicas prejudiciais ao meio.

Seguindo o raciocínio, outros fatores poderiam ter causado a falta de um convite, talvez o descrédito nos jovens pelo mundo adulto, que poderia ter se despercebido dessa possibilidade. O que também é uma incongruência, pois a mídia bombardeia com convites ao consumo exagerado, de brinquedos, roupas, comida, todo tipo de bens materiais e comportamentos, direcionando sua atenção principalmente às crianças e ao público jovem, que ainda está em formação, sabedora do desenvolvimento de comportamentos consumistas e o faz com o aval da sociedade, que esboça pouca reação. As escolas não conseguem competir

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com a mídia e o espetáculo produzido para esse convencimento. Especula-se aqui se a instituição escolar ainda teria ferramentas para essa competição desigual e o quanto é vontade ou investimento dela, dos professores, das agências formadoras, dos gestores públicos, uma mudança nesse cenário.

A mídia mostra o tratamento dado a crianças e adolescentes, violência, exploração, trabalho infantil, abusos físicos e psicológicos em âmbito mundial e é possível visualizar através da mídia a indução ao consumo e diversas formas de persuasão a esses seres indefesos. É inquietante imaginar o comportamento das gerações futuras arregimentadas pelo apelo da mídia atual e abandonadas de cuidados, caso não haja alguma mudança nesse sistema.

Contudo, a escola pode refletir sobre a possibilidade de seu papel ter outros contornos, de fazer um convite mais apropriado, um convite a mudanças de comportamento, que reflitam mudanças no ambiente em que vivem, desenvolvendo um comportamento mais respeitoso, entre si e com outras espécies, erigido na dinâmica do cuidado consigo, com os outros e com o ambiente.

Certamente muitas questões eclodiram da pesquisa realizada durante minha especialização, mas algumas despertaram maior interesse, se sobressaíram e se tornaram foco de minha pesquisa de mestrado: Por que aqueles jovens, ex-monitores do Projeto esperaram um convite? As pessoas realmente esperam um convite? Por que há poucos convites para a participação da escola em projetos ambientais locais? Ela pode fazer o convite?

Essas questões também açulam a dúvida sobre o quanto a escola consegue de fato ser um espaço formador de conhecimento e principalmente de atitudes para uma mudança na relação com o ambiente da comunidade local e fazem refletir sobre a possibilidade da instituição realizar esse convite. Por outro lado, também se observa pouco diálogo com antigos alunos, já adultos e, pouca investigação sobre o impacto das ações escolares na formação de hábitos e atitudes que se perpetuam, ou não, ao longo da vida.

Por isso, o objetivo dessa pesquisa é entender o papel da escola como espaço formador de conhecimentos e atitudes em relação à construção do saber ambiental, para a compreensão dos problemas da comunidade e a melhoria da qualidade de vida, através do estímulo à participação e restabelecimento da ligação dos jovens com o lugar onde vivem, ou seja, com sua comunidade. Também, compreender o significado da experiência para um grupo de jovens, da participação em um projeto de prática de preservação ambiental, através de uma perspectiva multidisciplinar e coletiva, na sua comunidade, realizada entre 2001 e 2003, da visão distanciada de 2014.

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Para isso é necessário compreender as possibilidades de envolvimento da escola com as questões da comunidade local, compreender as formas de a mesma fazer o reconhecimento dos problemas socioambientais locais e sua relação com os globais, identificar estratégias para promover o estabelecimento da ligação dos jovens com o lugar onde vivem e com sua comunidade, para o desenvolvimento de ações voltadas para a sustentabilidade da comunidade local e, discutir o papel da escola enquanto espaço formador de conhecimentos e atitudes através da educação ambiental para a melhora da qualidade de vida e o estabelecimento de uma relação harmoniosa com outros seres vivos e com seu habitat.

Minha hipótese é de que há uma possibilidade de o ensino escolar ampliar sua abrangência, através de uma abordagem mais ampla das questões ambientais e uma prática interdisciplinar, promovendo parcerias com outras instituições para uma prática mais vivencial no ambiente natural (que é também social), relacionando a teoria com a prática, incentivando e/ou formando, preparando os que a ela têm acesso para a solução de problemas locais.

Frente a isso, pergunto se a escola ainda tem ferramentas para a competição desigual com o projeto neoliberal, o quanto é vontade ou investimento da sociedade, dos estabelecimentos de ensino, dos professores, das instituições formadoras, dos gestores públicos, a formação de conhecimentos e atitudes para uma mudança na relação com o ambiente da comunidade local.

Na busca de respostas, realizei o presente trabalho, que ocorreu através de uma abordagem qualitativa, o que Minayo (2007, p. 21) descreve como uma pesquisa que “trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes”. Foi realizado através de uma pesquisa bibliográfica e da observação participante em uma atividade que chamo de “visita”.

A busca teórica se deu a partir das dúvidas e afirmações sobre a realidade global atual, sobre a explicação das causas dos entraves e dificuldades de ações efetivas, especialmente da escola, na busca por mudanças no ambiente local. Dessa forma, inicialmente fiz as leituras de autores que explicaram o contexto atual, descreveram movimentos sociais e políticas públicas constituídas e construídas para transformação da realidade, sendo Baumann (2003), Beck (2010), Giddens (1991), Leis (1999), Hall (2006), Santos (2008) e Torres (2011) (2013). Busquei na legislação e nas políticas de educação, referências e suporte às práticas educativas para o desenvolvimento de um saber ambiental. No contexto local, busquei práticas e experiências alternativas com vistas às mudanças na forma de pensar e agir sobre o meio.

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Para a discussão aqui proposta trouxe a contribuição de Capra (2006) que vê no ensino dos princípios básicos da ecologia (a linguagem da natureza), uma forma para compreender a linguagem em que falam as coisas da natureza, também vista como uma alfabetização ecológica. Também trouxe os ensinamentos de Paulo Freire (2002) sobre a educação popular, que vê a escola como possibilidade de um espaço de formação crítica e cidadã, princípios emprestados pela educação ambiental popular, como aborda Leff (2012, p. 257) para uma educação contextualizada, social, ecológica e culturalmente pautada nos princípios da sustentabilidade, complexidade e interdisciplinaridade. Dessa forma, também a educação ambiental popular passa a ser crítica do sistema hegemônico atual e fomentadora de uma nova sociedade, pautada pelo conhecimento, respeito, solidariedade, responsabilidade e amorosidade.

A possibilidade de o educacional ser um espaço de reflexão e ação cidadã para a resolução dos problemas socioambientais locais é confirmada no pensamento de Gadotti (2008) de que a educação possa mudar radicalmente nossa maneira de produzir e de reproduzir nossa existência no planeta e através dela legitimar uma visão biófila que promova o diálogo e a solidariedade, como única forma de superação de uma visão necrófila do mundo que leva à depredação ambiental, à violência, ao radicalismo, das mais variadas formas. Gadotti (2008) argumenta ainda, que a escola como instituição social depende da sociedade, e mudanças em sua estrutura dependem, também, das relações, de aprendizagens e alianças que mantém com outras, com as famílias e com a comunidade.

Na condição de espaço formador de conhecimentos, a escola mostra uma série de lacunas quanto à compreensão e desenvolvimento da temática ambiental, ou seja, o que Leff (2012, p. 17) descreve como “saber ambiental”, e o que Capra (2006, p. 47) chama de “linguagem da natureza”, os princípios básicos da ecologia.

Também serviram de referencial, os dados e resultados de uma pesquisa anterior, realizada em 2011, para uma especialização em educação ambiental, na qual os mesmos ex-monitores haviam sidos os sujeitos da pesquisa.

Por fim, realizei uma visita às áreas de desenvolvimento do Projeto com os sujeitos da pesquisa, ex-monitores da Escola Municipal de Ensino Fundamental Bom Pastor, jovens que participaram do Garabi-Itá no município de Panambi, nos anos de 2001 a 2003, e vivenciaram a experiência de uma prática ambiental de interação entre sua escola e sua comunidade.

Propus-me a ir com uma parcela do grupo de ex-monitores às propriedades rurais, palco de trabalho desses jovens durante o Garabi-Itá, para reavivar suas lembranças, observar

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suas reações e analisar as impressões sobre o resultado de sua prática, a um distanciamento considerável do tempo decorrido, de mais de uma década.

A intenção era de, a partir das falas dos ex-monitores poder verificar suas aprendizagens, a compreensão do significado dessa atividade em âmbito pessoal, a compreensão de suas ações para o coletivo social e sua subjetivação.

Ainda, durante a observação participante aconteceu minha integração enquanto observadora do grupo de ex-monitores, porquanto professora colaboradora do Projeto no período de sua realização e também interessada em rever as áreas de plantio.

A observação participante permite ao pesquisador, como diz Minayo (2007, p.70) “ficar mais livre de prejulgamentos, uma vez que não o torna, necessariamente, prisioneiro de um instrumento rígido de coleta de dados ou de hipóteses testadas antes, e não durante o processo de pesquisa”.

Nessa visita a três áreas de plantio do Projeto, participaram somente os ex-monitores, não houve nenhuma interferência de estranhos, nem mesmo os produtores parceiros estiveram presentes. As falas decorrentes desta visita foram registradas em vídeo e após a última visita realizei os questionamentos planejados, cuja análise se encontra no capítulo 4. Na tentativa de aprofundar a abordagem das temáticas apresentadas, organizo a sequência em quatro capítulos.

No capítulo 1, para contextualizar melhor o local e os sujeitos da pesquisa, resgato a experiência da participação da EMEF Bom Pastor do município de Panambi, em um projeto de recomposição ambiental, o “Empreendimento Linha de Transmissão Garabi-Itá - Projeto de Compensação Florestal no Estado do Rio Grande do Sul”, entre os anos de 2000 e 2003.

Para isso caracterizo a comunidade local, a escola e os alunos monitores. A seguir descrevo as metas, o desenvolvimento do mesmo em âmbito regional e municipal, expectativas e resultados. Assinalo algumas características do município, para melhor compreensão do contexto local, aponto alguns aspectos históricos e marcas culturais que auxiliaram a construção da identidade local. Relato, ainda o envolvimento da escola, as atividades desenvolvidas, a mobilização dentro dela e em seu entorno e as parcerias construídas para sua efetivação. Apresento os monitores, seu perfil, sua participação e, alguns aspectos de suas vidas, observados em 2011.

Em seguida, no capítulo 2, procuro contextualizar o mundo atual, discutir o processo de globalização, seus efeitos, a crise socioambiental decorrente do atual estilo de vida forjado, as alternativas e a possibilidade do estabelecimento de um novo contrato com a natureza. Portanto, trago discussões referenciais que auxiliarão a compreensão do contexto global atual.

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Em Leis (1999) encontramos o seguinte esclarecimento, sobre a crise socioambiental atual ser determinada pela valorização da técnica e a desconsideração das consequências das ações antrópicas. Geradas pelas mudanças no estilo de vida nas últimas décadas, segundo Giddens (1991), e produzidas por um sistema de desenvolvimento capitalista, o sistema hegemônico atual, que impõe sua cultura, promove deslocamentos e hibridização cultural, como afirma Hall (2006). Um sistema que opera um controle e vigilância sobre as comunidades como explica Baumann (2003), promove o abandono das políticas públicas, sem preocupação com o bem estar do outro e do coletivo social e dessa forma, estimula a violência e o individualismo, como destaca Santos (2008).

O atual sistema de técnicas também permite maior cognoscibilidade do planeta e assim maior exploração de cada parte, produz novas dinâmicas socioespaciais que segregam e valorizam diferentemente os lugares. Produz maior pobreza, novos excluídos e maior aglomeração da população em áreas urbanas, o que desafia a capacidade de suporte dos centros urbanos. Solidifica a cultura do consumo e a cultura do descarte, a produção do lixo e o esgotamento dos recursos naturais.

Segundo Beck (2010), nesta época marcada pela globalização vive-se uma sociedade de riscos civilizacionais, não mais numa comunidade aconchegante, mas numa fortaleza sitiada como descreve Baumann (2003). Vigiada constantemente pelo novo sistema de técnicas, considerado por Santos (2008) como um sistema invasor, que permite a divulgação e propagação da informação instantânea em qualquer lugar do planeta e veicula uma propaganda quase sempre desinformante.

Assim como os acontecimentos em âmbito global afetam o local, os locais também afetam o global, mas o local pode ser um espaço de resistência como destaca Santos (2008). Entretanto, no dizer de Leis (1999) se os problemas são globais as soluções também devem ser.

Contudo, os efeitos da globalização e a atual crise socioambiental afetam a vida de todas as espécies e o funcionamento de todos os ecossistemas, causando uma grande perda de recursos naturais e a diminuição da qualidade de vida humana, principalmente para a parcela mais desprotegida da população mundial. Muitas são as reações ao modelo neoliberal de movimentos sociais diversos e reações nas comunidades locais, que apostam na mudança através da educação de seus sujeitos. A contextualização e as reflexões pertinentes estão colocadas, então, no capítulo 2.

Posteriormente, no capítulo 3, abordo a possibilidade da educação ser uma forma de resistência ao sistema econômico neoliberal, em especial a educação ambiental, como

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possibilidade de enfrentamento à crise socioambiental engendrada pela mudança na vida do ser humano nas últimas décadas.

Apresento alguns eventos impulsionadores do desenvolvimento da educação ambiental em âmbito mundial e nacional. Faço uma discussão sobre a Política Nacional de Educação Ambiental e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), norteadores das ideias e ações disseminadas pela educação nacional. Baseada nas orientações nacionais procuro abordar a possibilidade de envolvimento da escola com as questões da comunidade local, a criação de estratégias para estabelecer a ligação e engajamento dos jovens com a comunidade e suas causas e ainda discuto o papel do estabelecimento de ensino como espaço formador de conhecimentos e atitudes, através da educação ambiental, para o desenvolvimento de ações voltadas para a sustentabilidade local.

Ressignifico o entendimento de que a EA pressupõe a construção de valores, conhecimentos e atitudes para a conservação do meio ambiente, para promoção da uma vida sadia e sustentável, que supra as necessidades das gerações atuais, mas possibilite ainda melhor qualidade de vida para as gerações futuras. Reflito sobre a orientação de que a EA, segundo o PCN Meio Ambiente deva perpassar todas as disciplinas do nível básico, de forma transversal, através de uma abordagem integral, que considere os aspectos sociais, econômicos, políticos e ecológicos.

Por fim, trago à discussão alguns exemplos de experiências e movimentos relacionados à EA mais expressivos da comunidade local, do município de Panambi, nas últimas décadas, relacionando-os com o desenvolvimento e os aspectos econômicos, sociais e culturais do município. Dentre os exemplos locais está o que motivou a realização desta pesquisa, a participação da EMEF Bom Pastor no Projeto Garabi-Itá, desenvolvido em parceria com a comunidade do entorno, há mais de uma década.

Logo após, no capítulo 4, procuro compreender o significado para o grupo de jovens, os ex-monitores, do “retorno ao bosque”, uma visita em janeiro de 2014 às áreas de intervenção prática no ambiente da comunidade local, realizada entre os anos de 2001 e 2003, enquanto alunos da EMEF Bom Pastor e participantes do Garabi-Itá, no município de Panambi. Busco através das falas dos ex-monitores durante a visita compreender a apreensão de aprendizagens e a subjetivação da experiência para cada um deles.

Procuro, neste capítulo, analisar as falas, interpretar seus significados e através dessa análise compreender melhor erros e acertos da escola no desenvolvimento pedagógico, compreender lacunas, falhas não visíveis durante o desenvolvimento do Projeto, mas que puderam ser vislumbrados no decorrer dessa pesquisa. Intento aqui também identificar os

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parâmetros fornecidos pela pesquisa para visualizar o papel da instituição educacional no desenvolvimento do saber, neste caso, o saber ambiental, como proposto por Leff (2012), e a efetivação da alfabetização ecológica, o que Capra (2006) chama de linguagem da natureza.

Enfim, discutir as possibilidades da escola, através de uma prática mais vivencial, de maior interação com o meio e o estabelecimento de parcerias na comunidade para desenvolvimento de conhecimentos e atitudes que promovam o estabelecimento de um novo contrato entre o ser humano e a natureza através do estímulo ao cuidado, a partir de uma nova relação afetiva, que se dá através das experiências também vividas no seu interior, pelos processos subjetivos e intersubjetivos e é relacionada à apreensão do saber.

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CAPÍTULO 1 - O PROJETO GARABI-ITÁ, SUA EXECUÇÃO NO MUNICÍPIO DE PANAMBI, A ATUAÇÃO DA EMEF BOM PASTOR E O ENVOLVIMENTO DOS MONITORES

Neste capítulo descrevo uma prática vivencial, a partir da interação da EMEF Bom Pastor com a comunidade local e sua participação em um projeto de recomposição florestal, de âmbito regional, ocorrido entre os anos 2000 e 2003. Primeiramente apresento o Projeto, as metas, o desenvolvimento em âmbito regional e municipal, expectativas e resultados. Procuro contextualizar melhor o local e os sujeitos da pesquisa, assim caracterizo a comunidade local, o educandário, os alunos monitores e aponto alguns aspectos históricos e marcas culturais que auxiliaram a construção da identidade local. Relato o envolvimento da escola, as atividades desenvolvidas, a mobilização dentro e em seu entorno e as parcerias construídas para sua efetivação. Apresento os monitores, seu perfil, sua participação e alguns aspectos de suas vidas, observadas em 2011 e em 2014. Ainda, trago alguns resultados e observações realizadas em uma pesquisa para um curso de especialização, em 2011, com os sujeitos participantes do Projeto, da qual os ex-monitores foram também sujeitos da pesquisa, para auxiliar o entendimento de sua dimensão e a abrangência da participação da escola.

Chamado de “Empreendimento Linha de Transmissão Garabi-Itá - Projeto de Compensação Florestal no Estado do Rio Grande do Sul” foi desenvolvido pela CIE – Companhia de Interconexão Energética, do grupo espanhol Endesa, em uma parceria entre a Fundação de Integração e Desenvolvimento de Educação do Noroeste do Estado - FIDENE, com sede em Ijuí, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente – SEMA, do Rio Grande do Sul, o Departamento de Florestas e Áreas Protegidas – DEFAP, órgão ligado a SEMA e, teve como órgão executor o Instituto Regional de Desenvolvimento Rural - IRDeR, localizado no município de Augusto Pestana. (LUCCHESE; SCHIRMER, 2001a, p. 21).

O objetivo do Projeto foi realizar uma reposição florestal na mata ciliar em partes da bacia do rio Ijuí, como uma forma de compensação pela retirada de vegetação nativa para a instalação da linha de Transmissão Garabi-Itá, entre os municípios de Garruchos, no Rio Grande do Sul e a Hidrelétrica de Itá, em Santa Catarina, o que atende ao Decreto nº 38.355, que regulamenta a Lei nº 4.771 de 16 de setembro de 1965.

Para efetuar a Compensação Florestal, teve como meta realizar o plantio de 280.000 mudas de árvores nativas em mata ciliar, nos municípios parceiros, na região da bacia do rio Ijuí e, contava com o apoio de várias entidades e o Poder Público. Consistia em um projeto multidisciplinar, com uma equipe multiprofissional formada por agrônomo, biólogos e

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engenheiro florestal, que desenvolviam as atividades e possibilitavam uma visão mais integral sobre a importância da recomposição florestal e o envolvimento da comunidade.

O Projeto Garabi-Itá, em nível regional, teve início em 1999 e conclusão em 2003. Foi aplicado em municípios da Região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul: Ajuricaba, Bozano, Doutor Maurício Cardoso, Eugênio de Castro, Ijuí, Panambi, Santo Ângelo e São Martinho. Estiveram envolvidos 544 produtores rurais e suas famílias, escolas pertencentes às áreas de alcance do mesmo e entidades municipais. (LUCCHESE; SCHIRMER, 2003a, p. 20).

No município de Panambi, o Projeto Garabi-Itá, foi desenvolvido há mais de uma década, entre o ano de 2000 e 2003, alicerçado no envolvimento de uma escola, a Escola Municipal de Educação Fundamental Bom Pastor, com a comunidade de seu entorno e orientado por uma equipe multiprofissional, a Equipe Técnica do Projeto, constituída por engenheiro florestal, agrônomo e biólogos, do IRDeR e a FIDENE e outros profissionais da Comissão Municipal de Apoio, formada por representantes da Associação Rio-grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER, Cotripal Agropecuária Cooperativa - COTRIPAL, secretaria de educação, prefeitura e ambientalistas da Associação de Recuperação e Preservação Ambiental Rio Fiúza – ARPA Fiúza.

Houve um trabalho preliminar de conversação com municípios, entidades, escolas e produtores rurais para o envolvimento no Projeto, que somente ocorreu através de adesão espontânea e, ainda, contou em cada município com uma Comissão Municipal de Apoio, também de forma voluntária, cuja tarefa era definir, avaliar e redefinir conjuntamente as ações em nível municipal. (LUCCHESE; SCHIRMER, 2003a, p. 46).

Foram parceiros, em Panambi, dezoito produtores rurais, com a meta de realizar o plantio de 50.000 mudas de árvores nativas, porém, somente foram plantadas 8.050 mudas, devido a pouca disposição de áreas para o plantio destes proprietários e a não disponibilidade de adesão de outros produtores com áreas próximas ao arroio, sendo que a EMEF Bom Pastor auxiliou no plantio de aproximadamente 1.580 mudas em cinco propriedades com áreas de mata ciliar adjacentes ou próximas ao Arroio do Moinho. (LUTZ, 2011, p. 30).

A EMEF Bom Pastor participou do Projeto desde a primeira reunião da equipe de trabalho com a comunidade panambiense para a exposição dos objetivos e a formação da comissão municipal de apoio.

Essa escola situa-se no Bairro Kuhn a aproximadamente trezentos metros do Arroio do Moinho e todas as áreas de plantio realizadas pela escola situam-se no curso superior do arroio onde se localizam as propriedades rurais. As áreas de plantio, em sua maioria

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apresentavam grandes declives e muito pedregosos, o que representou um desafio ao trabalho dos monitores.

Os alunos monitores da escola participaram de um Curso para Monitores junto com alunos de outras duas escolas próximas à microbacia do Arroio do Moinho, Escola Municipal de Ensino Fundamental Maurício Cardoso e a Escola Municipal de Ensino Fundamental Conrado Döeth.

O convite aos ex-monitores para a participação no Projeto, naquele período, foi realizado pela escola, por alguns professores e por colegas motivados pela experiência para além do espaço da sala de aula e, foram escolhidos por serem moradores próximos à escola e ao local do plantio, justamente por pertencerem à comunidade local. A necessidade de alguma mobilidade, deslocamento e força física para a realização das atividades do Projeto foi motivo para a opção pelo convite a alunos das séries finais do ensino fundamental e, com prioridade para alunos não concluintes que permaneceriam maior tempo na escola, dando continuidade aos trabalhos enquanto multiplicadores do conhecimento adquirido durante o preparo técnico-científico da equipe de trabalho do Projeto.

Esses alunos monitores, nos anos de 2001 e 2002, além do plantio de árvores, auxiliaram na escavação dos buracos, colocação de adubo, aguamento das plantas, colocação de estacas, limpeza da área, adubação e em alguns locais auxiliaram a instalação de postes para cerca. Enquanto multiplicadores também orientavam outros alunos no plantio, além da participação em atividades de educação ambiental promovidas pela equipe técnica do Projeto, como palestras, atividades práticas e caminhadas ecológicas.

Na escola, foram trabalhados conteúdos relacionados à preservação ambiental e realizadas diversas atividades de educação ambiental envolvendo várias disciplinas e outras turmas de alunos, como confecção de panfletos para distribuição na comunidade, cevadores de mate com divulgação do Projeto para distribuição em uma gincana no dia dos pais, produção de textos, caminhadas para observação das áreas plantadas, distribuição de mudas de árvores nativas aos pais e à comunidade.

Os monitores participaram das diversas etapas na escola, desde a formação técnica e teórica até a prática. Transformaram-se em multiplicadores e orientaram outros alunos. Participaram do planejamento e execução de atividades e, entre suas tarefas, estava cavar os buracos, buscar terra do mato para adubar as mudas, realizar o plantio das mudas e aguá-las. Em algumas localidades mais próximas retornaram às áreas de plantio para fazer o acompanhamento do desenvolvimento, aguar as mudas e realizar o replantio onde necessário. Esses alunos receberam bonés e camisetas que os caracterizavam e a divulgação dentro da

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escola conferiu-lhes destaque pelo status, pois a escola buscava dar visibilidade ao grupo de monitores, destacando a importância de sua atuação no Projeto.

Ainda, no âmbito da EMEF Bom Pastor desenvolveram-se diversas atividades pedagógicas, envolvendo várias turmas e disciplinas, também era utilizado o material oferecido pela equipe técnica do Projeto, como as publicações do Garabi-Itá, o jornal “Ambiente Vivo”, distribuídos à escola, que eram lidos, discutidos e levados para a família, o Compact Disc (CD) com histórias infantis de temática ambiental, desenvolvido pelo curso de Comunicação Social da Unijuí, chamado “Garabito e Você – amigos do ambiente”, onde o Garabito aparece como mascote, também foi um recurso utilizado para as discussões em aula. Foram produzidos panfletos e distribuídos aos moradores do entorno da escola, realizadas coletas de lixo ao longo do Arroio do Moinho e nas proximidades da escola e várias caminhadas de observação das áreas plantadas por diversas turmas de alunos. Na EMEF Bom Pastor o trabalho pedagógico procurava enfatizar a conscientização para a proteção ambiental.

Além disso, foi realizada uma caminhada ecológica desde uma das nascentes do arroio até o limite com a área urbana, com o acompanhamento de uma bióloga da universidade parceira, onde puderam ser observadas as áreas de equilíbrio do arroio e os pontos com problemas. O Projeto além do preparo técnico e ensino prático teve relevância por estimular a reflexão crítica sobre a ação humana no contexto físico ambiental. Mais do que levar de volta ao bosque, foi levar com cuidado e, para o cuidado do bosque. Nas várias cenas que me vêm à mente, destes monitores carregando suas enxadas com alegria em direção às áreas de plantio, plantando as mudas, perguntando sobre os novos plantios, não poderia imaginar o efeito dessas ações sobre a subjetividade a médio e longo prazo sobre suas vidas.

Junto à proposta de compensação florestal veio o trabalho de educação ambiental com o intuito de mobilizar a comunidade e sensibilizar para a problemática do desflorestamento e a importância da preservação da água. Esse Projeto regional mobilizou diversas comunidades, adultos e através das escolas também atingiu as crianças e jovens. Como foi uma atividade com ações e tempo definido, não teve continuidade, mas provavelmente povoa as lembranças dos participantes.

As reuniões de planejamento da equipe de apoio do Projeto com a comissão municipal de apoio, para definição de cronograma de atividades, estimularam a percepção do papel da escola como motivadora de reflexão e ações ambientais locais, tendo estabelecido como meta também a inclusão de atividades que envolveram os alunos das escolas e seus familiares. Em 2001 foi realizado um evento, um jantar (galinhada) com palestra, gratuito, no salão comunitário da Linha Iriapira I, para reunir produtores rurais e seus familiares com o objetivo

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de prestar esclarecimentos, relatar atividades realizadas e sensibilizar para a importância da manutenção e recuperação da mata ciliar, apresentando o relato de outros produtores rurais dos outros municípios parceiros do Projeto através do vídeo “Porque Plantei” e, mostrar a situação da microbacia do Arroio do Moinho, que tem suas nascentes naquela localidade. (A Notícia Ilustrada, 2001, p. 3).

A resistência e a dificuldade para convencer os produtores rurais a se engajarem no Projeto estimularam a realização de várias ações, como o jantar palestra, citado anteriormente, visto com alguma desconfiança pelos produtores e com resultados pouco expressivos. Muitos esforços foram empreendidos para a adesão voluntária dos produtores rurais, desde o primeiro ano, em 2000, quando a comissão municipal de apoio e integrantes da equipe do Projeto visitou e fez o convite a cada produtor com áreas ao longo do Arroio do Moinho e, mesmo assim, houve pouca adesão pelos proprietários rurais.

A proposta era de propiciar a conscientização para a participação e adequação voluntária ao Código Florestal vigente naquele período, não se pautando em ações obrigatórias, através do Ministério Público. A proposta pretendeu, além de plantar mudas de árvores nativas em mata ciliar, plantar ideias e, na avaliação do programa em âmbito regional o Projeto extrapolou os objetivos iniciais, abrangendo um processo educativo mais amplo, com a formação de uma nova forma de pensar e ver a natureza, com o protagonismo das escolas, seus professores e alunos (Ambiente Vivo, 2002, p. 2).

Essa proposta de conscientização dos produtores rurais e das comunidades, com envolvimento das escolas e a aposta na educação ambiental desvelou um diferencial em relação a outros dois grandes projetos de recuperação das matas ciliares em execução no mesmo período no Estado, como o de Recuperação do rio Uruguai e o de recuperação do rio Santa Maria, de ações obrigatórias, com termos de ajustamento de conduta, executado em parceria com o Ministério Público, o Departamento de Florestas e Áreas Protegidas (DEFAP) e o Batalhão de Polícia Ambiental da Brigada Militar (Jornal Ambiente Vivo, 2002, p. 12).

Além da proposta de restauração da mata ciliar, houve a preocupação com as nascentes do Arroio do Moinho, cujos donos das áreas foram visitados, oferecido mudas de árvores, mão de obra e material, para fazer o cercamento, objetivando sua proteção e manutenção das fontes de água para o arroio.

Após infrutíferas tentativas de levantamento de novas áreas de plantio em 2002, a equipe do Projeto e a comissão municipal de apoio decidiram buscar outras áreas em microbacias adjacentes ao rio Fiúza, como consta no Relatório Semestral nº 06, de janeiro de

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