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O CONCEITO DE EDUCAÇÃO EM ALTHUSSER: A POSSIBILIDADE DE UMA EDUCAÇÃO PARA ALÉM DA ESCOLA

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO-MESTRADO

ALEX LINS FERREIRA

O CONCEITO DE EDUCAÇÃO EM ALTHUSSER: A POSSIBILIDADE DE UMA EDUCAÇÃO PARA ALÉM DA ESCOLA

RECIFE 2015

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ALEX LINS FERREIRA

O CONCEITO DE EDUCAÇÃO EM ALTHUSSER: A POSSIBILIDADE DE UMA EDUCAÇÃO PARA ALÉM DA ESCOLA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco para obtenção do título de mestre em educação na área de concentração de Teoria e História da Educação.

Orientador: Prof. Dr. André Gustavo Ferreira da Silva

RECIFE 2015

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ALEX LINS FERREIRA

O CONCEITO DE EDUCAÇÃO EM ALTHUSSER: A POSSIBILIDADE DE UMA EDUCAÇÃO PARA ALÉM DA ESCOLA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial a obtenção do título de Mestre em Educação.

Aprovada em: 19/06/2015.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________ Prof. Dr. André Gustavo Ferreira da Silva (Orientador)

Universidade Federal de Pernambuco

_________________________________________________ Prof. Dr. Joanildo Albuquerque Burity (Examinador Externo)

Fundação Joaquim Nabuco

_________________________________________________ Prof. Dr. Gustavo Gilson Sousa de Oliveira (Examinador Interno)

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AGRADECIMENTOS

Ao Senhor Deus que nos momentos mais difíceis segurou nas minhas mãos, e disse-me, nada temas.

Aos meus pais que durante toda a minha vida me apoiaram e me abençoaram.

A minha esposa e aos meus filhos, que com compreensão e amor compreenderam as minhas ausências como esposo e pai.

Ao meu orientador André Ferreira, exemplo de professor, pesquisador e escritor, que com paciência, compreensão e sabedoria contribuiu para a realização deste trabalho.

Aos professores Flávio Henrique Albert Brayner e Gustavo Gilson Souza de Oliveira por terem feito parte da minha banca de qualificação e pelas suas contribuições para o enriquecimento desta pesquisa.

Ao professor Joanildo Albuquerque Burity que aceitou incondicionalmente fazer parte desta banca.

A professora Adriana Maria Paulo da Silva, que através das suas observações contribuiu de maneira efetiva para a realização desta pesquisa.

Ao professor Marcelo Fernandes que na condição de gestor da escola na qual eu trabalho, não mediu esforços para me ajudar.

A Severino Ramos de Melo, que me deu forças incondicional para terminar esta dissertação.

A Prefeitura do Recife que me liberou sem dificuldades para fazer o curso. Aos meus colegas Elizabeth Petrônio da Silva e Reginaldo José da Silva, que nas horas de dificuldades me deram força para prosseguir.

Ao Programa de Pós-Graduação em Educação e a todos os funcionários da Universidade Federal de Pernambuco, pelo trabalho realizado.

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[...] as ideologias não nascem nos Aparelhos Ideológicos de Estado, mas das classes sociais em luta: de suas condições de existência, de suas práticas, de suas experiências de luta. (ALTHUSSER, 1985, p. 107)

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RESUMO

A presente dissertação teve como principal objetivo pesquisar, estudar, analisar e interpretar algumas das obras de Althusser na tentativa de responder a seguinte questão: Existe no pensamento de Althusser uma educação para além da escola e da reprodução da ideologia dominante? Para tentar responder tal questão, tivemos que problematizar e nos apropriar de alguns conceitos utilizados pelo autor, entre eles: ideologia, reprodução, Estado, Aparelhos Ideológicos de Estado, etc. Tivemos também a preocupação de mostrar que algumas críticas feitas a Althusser por pensadores contemporâneos, entre eles, Dermeval Saviani, são controversas, ao mesmo tempo, que enfatizamos a possibilidade de uma educação promotora da emancipação da classe operária no pensamento althusseriano.

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ABSTRACT

This thesis had, as mainly goal, research, study, analyze and read some of the Althusser „s works in an attempt to respond the following question: Is there in the thought of Althusser an education beyond the school and reproduction of the dominant ideology? To try to answer this question, we had to problematize and had to appropriate some concepts used by the author, between them: ideology, reproduction, state, ideological state apparatus, etc. We also had a worry to show that some criticism made to Althusser by contemporary thinkers, between them Dermeval Saviani, are controversial, at the same time that we emphasize the possibility of a promoter education of emancipation of the working class in Althusserian thought.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE LOUIS ALTHUSSER ... 15

2.1 Sobre o Estado ... 20

2.2 Sobre a luta de classes no interior dos AIE ... 24

2.3 Sobre a Escola ... 30

2.4 Sobre a Ideologia ... 35

3 A IDEIA DE SUJEITO MODERNO EM CONFRONTO COM A CONCEPÇÃO DE SUJEITO EM ALTHUSSER ... 48

3.1 A concepção de sujeito moderno ... 48

3.2 Sujeito da história ou na história? Problematizando a concepção de sujeito em Althusser ... 61

3.3 A concepção de escola e educação em Saviani em confronto com o pensamento de Althusser ... 70

4 POSSIBILIDADES DE UMA EDUCAÇÃO PARA ALÉM DO ESPAÇO ESCOLAR E DA REPRODUÇÃO DA IDEOLOGIA CAPITALISTA ... 81

4.1 O marxismo como espaço de saber emancipatório ... 81

4.2 Ideologia, reprodução e educação ... 88

4.3 Educação e subjetividade ... 93

4.4 A educação para além da escola em Althusser ... 94

4.5 Os limites da teoria althusseriana sobre educação ... 97

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 103

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1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem como principal objetivo analisar o conceito de educação em Althusser e a possibilidade da existência ou não de uma concepção de educação para além da escola, ou seja, como um conjunto de conhecimentos, práticas, vivências e experiências adquiridas através das rupturas históricas. Uma das principais questões a ser trabalhada não é a reflexão que o autor faz da reprodução das relações de produção dentro dos aparelhos Ideológicos de Estado, mas, como se dá a constituição das subjetividades alternativas no âmbito do sistema capitalista.

Não menos importante, é investigar e analisar a concepção de sujeito presente nos escritos desse autor, contrapondo-a com a ideia de sujeito na modernidade.

Meu interesse pelas ideias de Althusser vem desde a minha graduação em filosofia na Universidade Católica de Pernambuco, onde tive a oportunidade de cursar a disciplina Filosofia da Educação e História da Educação, cujos professores foram Junot Cornélio Matos e Kátia Ramos, ambos hoje docentes do Centro de Educação da UFPE. Foi nesse ambiente que pela primeira vez pude “conhecer” algumas ideias do pensamento althusseriano no que tange a escola, a ideologia, a luta de classes, o poder e educação.

O livro básico que foi indicado para as nossas leituras foi “Aparelhos Ideológicos de Estado”. Cabe ressaltar que este era encontrado naquele momento em qualquer livraria, pois grande era o seu sucesso e sua polêmica. Sobre este, fazíamos as nossas leituras, reflexões e críticas.

Terminada a disciplina, fiquei com mais dúvidas do que respostas sobre o pensamento de Althusser, principalmente em relação a alguns conceitos básicos, como: ideologia, Estado, relação de produção, modo de produção, meios de produção, infraestrutura, superestrutura, relações de poder, luta de classes, educação. Para tentar responder a algumas dessas indagações comecei a pesquisar sobre este autor. A princípio fiz uma leitura sobre a sua biografia, e em seguida comecei a ler algumas de suas obras, entre elas: “Lênin e a Filosofia”;

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“Filosofia e Filosofia Espontânea dos Cientistas”; “A Filosofia como Arma Revolucionária” e posteriormente “Sobre a Reprodução”.

Paulatinamente fui enriquecendo as minhas leituras sobre o pensador em questão, e a partir de um maior aprofundamento em algumas de suas obras, como: “Aparelhos Ideológicos de Estado”; “Sobre a Reprodução” e “Processo Sem Sujeito e Nem Fim (s)”; comecei a formular algumas questões, questões estas que nortearão a presente pesquisa, são elas: 1- Existe em Althusser uma concepção diferente de sujeito, de subjetividade e, consequentemente de educação, daquela que é proposta pela tradição moderna e pelas ideias pedagógicas brasileira? 2- A reprodução à qual Althusser se refere em algumas de suas obras, principalmente na reflexão sobre os Aparelhos Ideológicos de Estado, se resume apenas à reprodução da ideologia dominante? 3- Existe no pensamento de Althusser uma concepção de educação como apropriação e incorporação de conhecimentos, experiências e práticas que possibilitem a classe operária a se afirmar enquanto classe? 4- Qual a análise que o autor faz da educação e o seu papel nas relações de poder e na luta de classes? 5- Existe em Althusser a possibilidade de uma educação promotora da emancipação da classe operária?

Tais questões não são fáceis de responder, mas Althusser traz a partir do debate sobre os AIE1, uma discussão fértil para se pensar a luta de classes, o lugar da educação na constituição das subjetividades alternativas, a resistência de uma ideologia da classe dominada no interior destes, como também indícios de uma educação da classe operária exterior aos AIE. Entendemos educação nesse último caso, como a constituição de subjetividades alternativas, e que tem como referencial a interpelação ideológica e um conjunto de conhecimentos, experiências, práticas e vivências construídas a partir das rupturas históricas fundamentadas através dos princípios da filosofia marxista.

A metodologia de trabalho foi a pesquisa teórica. Esta se concretizou a partir da interpretação dos textos basilares de Althusser referentes ao problema da presente pesquisa.

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Observamos com uma certa clareza, a presença de alguns conceitos usados por Althusser na sua análise sobre a sociedade capitalista, entre eles: ideologia, luta de classes, reprodução, Estado, aparelhos ideológicos e repressor de Estado, infraestrutura, superestrutura, etc.

No tocante a estes elementos, podemos constatar a partir do que lemos, que o autor segue desde os seus escritos mais antigos aos mais recentes uma linha de pensamento sem grandes mudanças, a não ser quando o mesmo faz uma análise do pensamento de um Marx jovem em relação a um Marx maturo. Um outro elemento é em relação à luta de classes. Nos primeiros escritos de Althusser, esta aparece sem tanta ênfase, mas nos escritos posteriores a questão da luta de classes surge com mais força. Um outro elemento que merece destaque é a diferença que o autor faz nos seus primeiros escritos sobre ciência e ideologia, e que nos seus escritos posteriores não observamos esta diferença com tanta ênfase.

O que acabamos de mencionar não mudou a metodologia da presente pesquisa. Inicialmente tentamos fazer um levantamento de todas as obras de Louis Althusser que tratam da temática em questão, (A possibilidade de uma educação para além dos muros da escola e da reprodução da ideologia dominante), e sobre estas fizemos um estudo analítico-interpretativo, afim, de descobrirmos alguns elementos que pudessem contribuir para problematizarmos e buscarmos possíveis respostas para as perguntas postas.

Para trabalhar sobre o problema supracitado, tivemos que assumir uma postura de “garimpeiros”, pois Althusser não tem nenhum escrito sistematizado que trate especificamente de uma análise sobre a educação e o seu papel nas relações de poder e na luta de classes, e muito menos ainda, um sistema de ideias ordenadas que mostram uma educação que vai além da escola e da reprodução das relações de produção e da ideologia dominante. Isso não significa que não exista no pensamento althusseriano ideias significativas de uma concepção de educação para além dos AIE e especificamente da escola. Portanto, tivemos que nos debruçar sobre as obras desse pensador marxista-leninista, e fazer uma leitura detalhada destas, a fim de juntarmos instrumentos teóricos e práticos que viabilizassem a presente pesquisa.

É importante salientar que a maioria dos textos que o autor escreveu tratam de diversos problemas que atingem a existência humana, sem seguir uma ordem

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pontual de uma dada linha de pensamento específico. Grande parte dos seus escritos estão em forma de coletânea. Daí a utilização e a apropriação desses textos para diversas finalidades e ponto de vista totalmente alheio às ideias althusserianas.

A partir da nossa pesquisa, evidenciamos as obras de Althusser que pensamos ser basilares para o nosso trabalho, são elas: “Aparelhos Ideológicos de Estado”; “Sobre a Reprodução”; “Processo Sem Sujeito e Nem Fim(s)”; “A Filosofia como Arma da Revolução”; e “Freud e Lacan”.

Louis Althusser e seus escritos foram objeto de estudo de diversos pesquisadores e especialistas nas mais diversas áreas do conhecimento, principalmente no campo da educação. Nesse sentido fizemos um levantamento bibliográfico de alguns comentadores que trouxeram para o debate educacional atual, as ideias althusserianas, buscando entender melhor o seu pensamento.

Entre aqueles que encontram contradições acentuadas no pensamento althusseriano, destacam-se: E. P. Thompson, cuja obra é “A Miséria da Teoria ou um Planetário de Erros: uma crítica ao pensamento de Althusser” (1978a); Vázquez (1980), cuja obra é “Ciência e Revolução: o marxismo de Althusser” (1980); Saviani (2005, 1991), cujas obras são “Escola e Democracia”, de 2005; “Pedagogia Histórico-Crítica”, de 1991; Coutinho (2010), “O Estruturalismo e a Miséria da Razão”; quanto aos althusserianos2

, podemos citar: Cassin (2002), cuja tese de doutorado foi: “Louis Althusser e o Papel Político/Ideológico da Escola” e Bolognesi (2013), cuja tese de doutorado foi “Escola e Sociedade: análise do discurso althusseriano e de suas apropriações na área educacional brasileira”.

As leituras dessas obras foram fundamentais, porque elas permitiram situar Althusser em espaços e tempos diferentes, possibilitando uma melhor análise e compreensão dos seus escritos.

É necessário ressaltar a importância de trazer para o debate educacional brasileiro o referencial teórico (althusseriano), pois acreditamos que este pode contribuir significativamente para pensarmos a escola e a educação a partir do paradigma das contradições e rupturas históricas, políticas, econômicas e sociais.

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O termo althusseriano não se resume a pensadores que aderiram cegamente as ideias de Althusser. Mas sim, todos aqueles que encontraram no pensamento desse autor um referencial teórico pertinente. Mesmo com seus limites, ainda é bastante atual para problematizar questões relacionadas a sociedade e a educação.

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O pensamento de Althusser no que tange a educação não se resume ao interior da escola e suas práticas, mas abre a possibilidade de se pensar um processo educativo para além desta. A escola para o autor representa apenas um dos espaços da elaboração do saber, que embora sendo o mais privilegiado, não é o único. Refletir sobre o pensamento de Althusser não significa apenas retomar as ideias de um teórico polêmico, contraditório e até mesmo complicado. Significa inserir no debate educacional brasileiro um pensador que mostrou a ideologia e a reprodução como elementos imprescindíveis para uma análise mais substancial da sociedade capitalista, do indivíduo e da educação.

Levando em consideração que nenhum pensador se constrói enquanto tal do nada, e Althusser não é uma exceção, vimos alguns teóricos do marxismo, da psicanálise e do estruturalismo linguístico que influenciaram o pensamento althusseriano, e que nos possibilitou entender melhor as suas ideias, entre eles: Karl Marx (1818-1883); Engels (1820-1895); Freud (1856-1939); Saussure (1857-1913); Lênin (1870-1924); Lukács (1885-1971); Gramsci (1891-1937); Lacan (1901-1981); Laclau (1935-2014).

Toda nossa pesquisa teve como referencial cinco objetivos básicos, são eles:  Identificar se existe em Althusser uma concepção de sujeito e educação que

se contraponha com a concepção de sujeito e educação da tradição moderna que permeia o pensamento pedagógico brasileiro;

 Examinar a concepção de educação em Althusser e identificar se existe a possibilidade de uma educação para além da escola e da reprodução da ideologia dominante;

 Identificar nos escritos de Althusser os sentidos da educação para a constituição de subjetividades alternativas;

 Analisar como segundo o autor, a educação pode contribuir para a classe operária se afirmar enquanto classe;

 Identificar se existe no pensamento althusseriano uma educação promotora da emancipação da classe operária.

A presente pesquisa está dividida em cinco capítulos, são eles: Capítulo 1- Introdução, Capítulo 2- Introdução ao pensamento de Louis Althusser, Capítulo

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3- A ideia de sujeito moderno em confronto com a concepção de sujeito em Althusser, Capítulo 4- Possibilidades de uma educação para além do espaço escolar e da reprodução da ideologia capitalista e o Capítulo 5 Considerações finais.

O objetivo do segundo capítulo é apresentar uma introdução do pensamento de Althusser, trazendo para este debate conceitos que sem eles torna-se qualquer análise deste inócua. Tais elementos são: O Estado, a ideologia, a reprodução, a luta de classes no interior dos AIE. Esta leitura serviu para já situarmos o nosso principal objetivo, que é: A possibilidade de uma educação em Althusser para além dos muros da escola. Buscamos também salientar a função ideológica destes elementos dentro do sistema capitalista. Cabe também salientar a importância que Althusser dispensa a luta de classes dentro dos AIE, como também da ideologia na constituição das subjetividades alternativas. Além disso, pode-se constatar alguns elementos que permitem pensar Althusser para além de um “teórico reprodutivista” ou “crítico-reprodutivista”.

No terceiro capítulo, o objetivo é propor uma reflexão sobre a concepção de sujeito moderno, confrontando-a com a ideia de sujeito em Louis Althusser, problematizando os limites da crítica feita por Dermeval Saviani, a concepção de escola e educação do filósofo francês.

O quarto capítulo, tratará da possibilidade de uma educação promotora da emancipação da classe trabalhadora, tendo como eixo central, a existência ou não de uma educação para além dos muros da escola no pensamento althusseriano. A reflexão terá como referencial o marxismo como espaço de saber emancipatório, as experiências, práticas e vivências para a constituição das subjetividades. Também tentaremos apresentar alguns limites da teoria althusseriana no que tange ao nosso objeto de pesquisa.

Esperamos com essa pesquisa contribuir de alguma maneira para uma visão mais ampla da concepção de reprodução, Aparelhos Ideológicos de Estado, ideologia, constituição de subjetividades e educação em Louis Althusser.

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2 INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE LOUIS ALTHUSSER

Fazendo uma breve análise da educação da história brasileira, iremos observar que na medida em que avançaram os processos de institucionalização da educação e da escolarização nas sociedades ocidentais modernas, a educação se tornou cada vez mais restrita ao ambiente escolar.

A educação no sentido republicano era sinônimo de escola. A escola era vista como uma instituição transformadora da sociedade, equalizadora dos problemas sociais e da marginalidade. Nela se aprendia um conjunto de conhecimentos que possibilitava o ser humano a ser um cidadão e a exercer a sua cidadania no seio da sociedade.

Nesse sentido a educação se limitava às diversas maneiras de transmitir e assimilar conhecimentos no interior da escola. Este tipo de educação não possibilitava o indivíduo sair da sua mera condição de indivíduo, limitava-se a condição de assujeitamento, tornando-se na maioria das vezes um reprodutor da ideologia burguesa, que é a ideologia da classe dominante. Tal aceitação tinha a sua base na promessa da classe burguesa, ou seja, classe detentora do capital econômico e consequentemente dos meios de produção, de que esta educação escolarizada, disciplinada, burocrática, institucionalizada, etc. Tornaria os indivíduos anônimos e sem status social, político e econômico, em sujeitos autônomos, racionais, livres, autossuficientes, iluminados, civilizados, etc. Mesmo sendo educado dentro de uma determinada realidade objetiva, os indivíduos continuavam na maioria das vezes submissos à classe dominante.

Jean Jacques Rousseau (1712-1778), mesmo sendo contemporâneo desse modelo de educação (iluminista), vai escrever um livro intitulado “Emílio ou Da Educação”, onde critica profundamente a educação tradicional, que em nome da civilização e do progresso, obriga os homens a desenvolverem na criança a formação apenas do intelecto em detrimento da educação da sua essência natural, do caráter moral e da natureza própria de cada indivíduo. Esta educação de caráter reprodutor dos valores do adulto não valorizava a formação natural do indivíduo enquanto ser livre; para ele a criança não pode ser educada como se fosse uma miniatura do adulto.

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Entretanto, o modelo de educação proposta por Rousseau (1995), mesmo causando grande impacto e críticas pelos defensores da educação tradicional, não representou os avanços reais desejados, pois suas ideias dificilmente poderiam ser efetivadas dentro de um sistema de uma sociedade tão complexa, como a da Europa, e especificamente a francesa da sua época.

A partir das discussões de outros pensadores, entre eles, Paulo Freire (1921-1997), Ivan Illich (1926-2002) e outros pensadores, começou a se criticar esse afunilamento institucional e escolarista da educação. Dentro desse debate, paulatinamente, fomos aprendendo que a educação como um processo social e político, permeado de rupturas e conflitos, não poderia se resumir a um conjunto de instituições sociais, e nem tampouco à instituição escolar. A educação enquanto constituição de subjetividades, enquanto elemento constitutivo da formação humana, não se enquadra e nem se limita a recintos fechados e nem à mera transmissão e assimilação mecânica de conhecimentos.

Pensar a educação nesse sentido, é desafiar o que prega a escola tradicional moderna, é em última análise romper as leis das relações de opressão, é buscar formas alternativas de pensar a constituição das subjetividades, é educar novos sujeitos para uma nova sociedade.

Pensamos que as ideias althusserianas no que tange à concepção de sujeito e de educação podem contribuir de maneira efetiva para refletirmos sobre a constituição das subjetividades, e mais ainda, para uma educação que não se limita aos muros da escola. É dentro desse contexto que vamos analisar as ideias de Althusser.

O que propomos nesse capítulo é fazer uma contextualização do pensamento de Althusser, sem esquecermos os limites que tal reflexão nos impõe. Mas, de imediato afirmamos que as críticas feitas por alguns contemporâneos a este autor, entre eles Dermeval Saviani, afirmando que o mesmo apenas limitou-se a analisar os AIE como transmissor e reprodutor da ideologia dominante, sem mostrar qualquer alternativa de superação, não são apropriadas, e são até injustas. Injustas, no sentido de que Althusser não só criticou o sistema de opressão imposto pela classe dominante a classe dominada, mas, foi além, mostrando que é possível derrubar os AIE, e qualquer outra forma de opressão e exploração, e paulatinamente, através da organização política da classe operária, construir novos aparelhos ideológicos de

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Estado que defenda os interesses da classe operária. Parece-nos que as críticas feitas a Althusser se basearam apenas em uma concepção de sujeito e de escola moderna, não levando em consideração outras vertentes de pensamento.

É importante frisar que esta discussão perpassa um debate mais amplo, o qual serve de base para refletirmos melhor a problemática supracitada. Portanto, iremos iniciar a nossa reflexão discutindo brevemente o que o autor pensa sobre o Estado, a escola, a ideologia e as lutas de classes no interior dos aparelhos ideológicos de Estado, reprodução, educação e subjetividade, situando aí nosso problema.

Inicialmente iremos apresentar alguns dados biográficos do autor em estudo, em seguida evidenciar o porquê do nosso interesse pelo autor e o porquê do problema, fazendo uma discussão sobre o mesmo.

Louis Althusser filósofo francês nasceu em Argel em 1918, viveu a maior parte do seu tempo em Paris, aí morrendo em 1990. Militante, engajado nos movimentos políticos, participou ativamente como militante da Ação Católica francesa até aproximadamente 1937. Foi obrigado a ir para a Segunda Guerra Mundial, lá foi feito prisioneiro e levado para a Alemanha, onde permaneceu até o final da guerra em um campo de concentração. Na prisão, tomou contato com o marxismo através do francês Pierre Corrèges. Em 1948, ingressa no partido comunista francês.

Ao ser libertado, voltou a Paris e ingressou na Escola Normal Superior, seis anos depois da aprovação no concurso. Nessa instituição, trabalhou mais de trinta anos como professor.

Posteriormente casa-se com Héllene, uma socióloga militante francesa oito anos mais velha. Aos 29 anos ele tem a sua primeira relação sexual com Héllene, experiência que o leva a uma profunda depressão. Passou vários meses internado em tratamento à base de eletrochoque: sofria de psicose maníaco-depressiva.

Em 1980 em consequência de uma crise mental Althusser assassina a sua mulher. A partir desse momento foi proibido de ensinar e publicar3. Após este

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Althusser é proibido de ensinar na Universidade, e como consequência, também perde espaço para publicar.

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período desaparece. O seu pensamento retorna aos debates acadêmicos após a sua morte em 1990.

Conheceu e conviveu com grandes pensadores de sua época, na França. Foi aluno de Desanti e Merleau-Ponty, polemizou com Sartre, foi amigo de Lacan, Foucault e Poulantzas. Em seus primeiros anos de escola, era grande conhecedor do pensamento de Descartes, Malebranche, Pascal, Platão, Hegel, Kant, Bachelard, Rousseau, Spinoza e Bergson.

É importante salientarmos que entre aqueles que influenciaram o pensamento de Althusser, alguns, na nossa análise se destacam, como: Spinoza, Saussure, Freud, Marx, Lênin, Gramsci e Lacan.

Tinha uma maneira singular e polêmica de escrever. Segundo Ramos (2007, p. 141) a sua pronúncia suscita polêmicas nos mais diferentes templos epistemológicos. “Não faltam althusserianos. Não faltam anti-althusserianos”.

Escreveu vários livros, entre eles: “A Favor de Marx” e “Ler o Capital” publicados em 1965; “Sobre o Trabalho Teórico” (1967); “Lênin e a Filosofia” e a “Filosofia como uma Arma Revolucionária”, de 1968; “Aparelhos Ideológicos de Estado”, de 1970; “Resposta a John Lewis” e “Sustentação de Tese em Amiens” de 1972; “Elementos de Autocrítica” de 1973; “Filosofia e Filosofia Espontânea dos Cientistas”; de 1974; “Marx e Freud” de 1976; “O Que Não Pode Mais Durar no Partido Comunista Francês”, de 1976. Cabe ressaltar ainda o trabalho de publicação póstumas de 1966, intitulado “Sobre a Reprodução”. Escreveu também duas autobiografias, uma chamada de “Os Fatos”, de 1976, e a outra “O Futuro Dura Muito Tempo”, de 1985.

Althusser como filósofo marxista foi influenciado principalmente pelas ideias de Estado, ideologia, luta de classes, hegemonia, sociedade civil, infraestrutura e superestrutura de Marx (1818-1883), Engels (1820-1895), Lênin (1870-1924), e Gramsci (1891- 1937). Também sofreu influência do estruturalismo linguístico de Saussure e da psicanálise freudiana e lacaniana, principalmente desta última.

Sua obra teve grande repercussão na França e em vários países, principalmente em países da América Latina. A influência de Althusser na América Latina se deu, em grande parte, através de uma das suas alunas, na primeira metade da década de sessenta, a chilena Maria Harnecker, que ao voltar para o

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Continente Americano, especificamente para Cuba, elaborou um manual de materialismo histórico que, apesar de não ser muito bom, na afirmação do próprio Althusser, era a única obra do gênero no continente e sua tiragem, de aproximadamente dez milhões de exemplares serviu como importante instrumento de formação teórica e política para milhares de militantes.

O pensamento de Althusser nas diversas partes do mundo, representou uma maneira de se repensar a ação política, a filosofia, a ciência, a ideologia e também a educação. Maneira esta digna de críticas e elogios.

Althusser junto com Establet e Baudelot (1978), Bowles, Gintes, Bourdieu e Passeron (2011), foram alguns dos mais importantes pensadores da sociologia da educação do final da década de 60 e início da década de 70 do século XX. Estes romperam com a tradição sociológica da educação, criando uma nova tradição dominada por alguns pensadores “Sociologia da Educação Crítica” ou “Teorias Crítico-Reprodutivistas”.

Tal postura trouxe para o debate educacional, principalmente na Europa e na América Latina, a possibilidade de discutir a educação de maneira mais ampla.

No Brasil, quando o seu livro “Aparelhos Ideológicos de Estado” foi lançado em 1971, o contexto social, político e econômico era bastante fértil, pois estávamos vivendo internamente uma ditadura militar (1964-1985), o que permitia à sociedade e principalmente, aos intelectuais se apropriarem da discussão que Althusser traz no seu livro sobre os AIE, e refletirem sobre a realidade brasileira.

Existia naquele momento histórico um grande debate, algo que constatamos até hoje, sobre o papel do Estado, da escola, da ideologia e da educação na constituição das subjetividades e na transformação da sociedade, principalmente no interior da sociedade capitalista.

Althusser aparece nessa dinâmica social apresentando de maneira polêmica, mas objetiva, elementos que podem contribuir para uma análise mais profunda e crítica do Estado, da escola e da educação de maneira geral. Nesse sentido “[...] o referencial althusseriano pode dar uma contribuição singular para as análises que buscam compreender o papel da educação e da escola em particular, na sua relação com a sociedade” (CASSIN, 2002, p.5).

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2.1 Sobre o Estado

De acordo com a leitura de Althusser, da tradição marxista, desde o Manifesto e o 18 Brumário e em todos os textos clássicos posteriores, a exemplo do que Lênin escreve sobre o Estado e a Revolução, o Estado tem prioritariamente um caráter repressor, que permite as classes dominantes assegurarem a sua dominação sobre a classe operária, para submetê-la ao processo de extorsão da mais valia, ou seja, da exploração capitalista. O Estado é, antes de qualquer coisa, o que os clássicos do marxismo chamavam de “aparelho de Estado”. Termo que compreende a prática jurídica, a prática política, os tribunais, as prisões e também o exército.

Sobre a teoria do Estado na tradição marxista, Althusser a resume da seguinte maneira:

Podemos dizer que os clássicos do marxismo sempre afirmaram que: 1) O Estado é o aparelho repressor de Estado; 2) deve-se distinguir o poder de Estado do aparelho de Estado; 3) O objetivo da luta de classes diz respeito ao poder de Estado e consequentemente à utilização do aparelho de estado pelas classes e; 4) O proletariado deve tomar o poder de Estado para destruir o aparelho burguês existente, substituí-lo em uma primeira etapa por um aparelho de Estado completamente diferente, proletário, e elaborar nas etapas posteriores um processo radical, o da destruição do Estado (fim do poder do Estado e de todo aparelho de Estado). (ALTHUSSER, 1985, p. 66).

A tese de Althusser no tocante à teoria do Estado marxista é acrescentar a este os aparelhos ideológicos de Estado (AIE). Realidade esta, segundo ele, Gramsci já tinha mencionado ao afirmar que o poder do Estado não se resume ao aparelho repressor (ARE), mas compreende também um certo número de instituições da sociedade civil, como a igreja, as escolas, os sindicatos e outros. Entretanto, para Althusser esse apontamento de Gramsci ficou apenas nas suas anotações e nunca foi sistematizado.

Para Althusser os AIE são vários, entre eles podemos citar: AIE religioso (o sistema das diferentes igrejas);

AIE escolar (o sistema das diferentes escolas públicas e privadas); AIE familiar;

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AIE jurídico;

AIE da informação (a imprensa, o rádio, a televisão, etc.); AIE sindical;

AIE cultura (letras, belas artes, esportes...)

O autor afirma que tanto os ARE como os AIE se situam dentro de uma mesma realidade, mas o que os diferencia é a sua funcionalidade:

O aparelho (repressivo) do Estado funciona predominantemente através da repressão (inclusive física) e secundariamente através de ideologia (não existe aparelho unicamente repressivo). Exemplos: o exército e a polícia funcionam também através de ideologia, tanto para garantir sua própria coesão e reprodução como para divulgar os “valores” por eles propostos. Da mesma forma, mas inversamente, devemos dizer que os aparelhos ideológicos do Estado funcionam principalmente através da ideologia, e secundariamente através da repressão seja ela bastante atenuada, dissimulando, ou mesmo simbólica. (Não existe aparelho puramente ideológico). Dessa forma, a escola, as igrejas “moldam” por métodos próprios das sanções, exclusões, seleções etc., não apenas seus funcionários mas também suas ovelhas. E assim a família... Assim o aparelho IE cultural (a censura, para mencionar apenas ela, etc. (ALTHUSSER, 1985, p. 70).

Como podemos observar, Althusser é enfático ao mostrar que o Estado é um órgão opressor/repressor e que usa tanto os ARE como os AIE para garantir a reprodução das relações de produção, como também a reprodução e concretização da ideologia dominante.

Os AIE (aparelhos ideológicos de Estado), como os ARE (aparelhos repressores de Estado), são instrumentos que o Estado dentro de uma sociedade capitalista usa para reproduzir a ideologia dominante. A educação que permeia esses e nesses aparelhos é em última instância legitimadora da dominação de uma classe sobre a outra. Nesse sentido, aparentemente não podemos falar em uma educação para além dos muros dos AIE, e nem tampouco de uma educação para além da escola, pois esta última representa um mecanismo nas mãos da classe burguesa para se perpetuar no poder.

É interessante notarmos que até aqui Althusser faz uma análise da educação e o seu papel nas relações de poder, evidenciando esta como um

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mecanismo estratégico nas mãos da classe burguesa para se perpetuar no poder. A educação que é transmitida nos AIE e especificamente na escola na maioria das vezes refletem os interesses da classe detentora do poder.

São pelos AIE e especificamente pela educação que a ideologia dominante se reproduz. Cabe ressaltar que essa prática de inculcação ideológica é efetivada de maneira sutil, não permitindo ser percebida diretamente. Poucos percebem esta prática. Vejamos o que o autor diz dos professores que estão dentro desse processo,

Peço desculpas aos professores que, em condições assustadoras, tentam voltar contra a ideologia, contra o sistema e contra as práticas que os aprisionam, as poucas armas que podem encontrar na história e no saber que “ensinam”. São uma espécie de heróis. Mas eles são raros, e muitos (a maioria não têm nenhum princípio de suspeita do “trabalho” que o sistema (que os ultrapassa e esmaga) os obriga a fazer, ou, o que é pior, põem todo o seu empenho e engenhosidade em fazê-lo de acordo com a última orientação (os famosos métodos novos!). (ALTHUSSER, 1985, p.80-81, grifo nosso).

No que se refere a esta citação, principalmente a grifada, queremos fazer algumas indagações que pensamos ser relevantes. Que sistema Althusser está se referindo ao afirmar que este ultrapassa e esmaga todos aqueles que tentam enfrentá-lo ou superá-lo? A palavra sistema aí colocada não é porventura formada por homens?

Pensamos que o autor atribui a esta palavra uma conotação quase que metafísica e absoluta, algo que vai além da força humana. Ainda é pertinente dizer que esta ideia é extremamente estruturalista. Nesse sentido o sujeito não fala, é falado pelas estruturas que lhes são sobredeterminadas.

Pensamos ser importante também evidenciar, uma pertinente advertência que Althusser faz ao partido comunista francês, quando diz:

No âmago de um Aparelho ideológico de Estado como o aparelho do sistema político, pode existir (e, atualmente, é o caso em inúmeros países) um Partido proletário cuja ideologia é radicalmente antagônica à ideologia de Estado que, no entanto, é realizada nas formas e práticas do Aparelho ideológico de Estado no qual figura esse partido proletário. Acontece que esse antagonismo não deixa de se exercer nas formas impostas pela ideologia de Estado (por exemplo, a democracia burguesa que é a ditadura da burguesia sob as formas de um aparelho democrático parlamentar ou

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presidencialista), o que complica singularmente a tarefa do Partido proletário. Mas como mostrou Lenin, essa tarefa complicada nem por isso é insolúvel, sob a condição absoluta de que um certo número de circunstâncias imperativas sejam respeitadas, antes de mais nada que o Partido proletário não venha a cair no “cretinismo parlamentar” ou “democrático burguês”, nem, por maior força de razão, deixe que sua ideologia de luta de classe operária seja corroída pela ideologia de Estado que é a ideologia da classe dominante, mas saiba utilizar o Aparelho ideológico de estado político, incluindo algumas de suas formas e certos elementos de sua ideologia (por exemplo, certas palavras de ordem democráticas), para ajudar, por meio das eleições e do alto da tribuna do Parlamento burguês, o desenvolvimento da luta de classes que, no essencial, se desenrola fora dessas formas legais democrático-burguesas (ALTHUSSER, 2008, p. 130).

Fazendo uma breve análise dessa citação, percebemos com clareza o chamamento e a preocupação de Althusser para que o Partido proletário, principalmente o Partido comunista francês, mesmo convivendo com a ideologia burguesa não se desvie do seu maior objetivo, que é luta incessante pela efetivação da ideologia proletária.

Esta preocupação de Althusser é salutar, pois historicamente tem-se evidenciado a existência de partidos e sindicatos que foram esmagados, corrompidos e corroídos pela ideologia da classe dominante.

Pelo fato da ideologia proletária ser antagônica a ideologia burguesa, não significa que ela seja imune as interpelações desta última. Muito pelo contrário, é imprescindível a organização política constante da classe operária no sentido de não ser absorvida pelo poder ideológico da burguesia, e nem tampouco, se deixar abater-se pelas rupturas que são inerentes a própria história.

Em relação a exploração e a repressão do sistema capitalista nas relações de produção, Althusser nos adverte:

O que é determinante, em última instância, portanto, o que está em primeiro lugar, é, com efeito, a exploração e não a repressão. O que é determinante, em última instância, são as relações de produção (que são, ao mesmo tempo, as relações de exploração) capitalistas. O que é determinado, portanto, o que é secundário, é a repressão, a saber: o Estado que é seu centro último de onde irradiam todas as formas de repressão, seja sob a forma de repressão do Aparelho repressor de Estado, repressão física direta (polícia, forças armadas, tribunais, etc.) ou indireta (administração) e todas as formas do submetimento ideológico dos Aparelhos ideológicos de Estado (ALTHUSSER, 2008, p. 151).

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Daí a preocupação de Althusser pela organização política da classe operária, de um partido e sindicatos coesos e fortes, de uma ideologia proletária fundamentada em uma teoria marxista-leninista, etc. Só através da efetivação desses, e outros elementos compatíveis com os interesses da classe operária, é que será possível a tomada do poder da classe burguesa e a concretização de um Estado proletário.

Se todos os AIE estão aparentemente condenados a reproduzirem o poder do capital, onde estaria então, a possibilidade de uma educação para além do espaço escolar? Tal pergunta tentaremos respondê-la no decorrer deste trabalho.

2.2 Sobre a luta de classes no interior dos AIE

A princípio, para apresentar as lutas de classes no interior dos AIE, é necessário retomar a questão sobre a existência ou não de uma concepção de educação para além dos muros da escola em Althusser. No processo desse esboço, tentaremos ainda mais, enfatizar o papel ideológico que a escola no sistema capitalista assume no tocante a disseminação da ideologia burguesa, sem nos esquecer, que esta mesma escola, é também um espaço concreto da luta de classes.

O autor entende por um AIE,

Um sistema de instituições, organizações e práticas correspondentes, definidas. Nas instituições, organizações e práticas desse sistema é realizada a ideologia de Estado ou uma parte dessa ideologia (em geral, uma combinação típica de certos elementos). A ideologia realizada em um AIE garante a unidade de sistemas “ancorada” em funções materiais, próprias de cada AIE, que não são redutíveis a essa ideologia, mas lhe serve de suporte (ALTHUSSER, 2008, p. 104).

Alguns elementos significativos podem ser destacados deste enunciado. Um primeiro elemento que podemos constatar é que a escola não é um aparelho ideológico de estado, mas um dos elementos do aparelho ideológico escolar. Outro elemento importante é que mesmo sendo os AIE um sistema onde é realizada toda a ideologia do Estado, existe a flexibilidade de outras formas ideológicas se

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contraporem a esta ideologia dominante. As relações sociais e políticas dentro dos AIE são de conflitos, e não simplesmente de aceitação e submissão.

É importante também salientar, que como um marxista, Althusser entende a luta de classes como o motor da história. Nos parece interessante já evidenciarmos que na concepção althusseriana não existe o sujeito da história, muito pelo contrário, a história é feita de relações, que em última instância, o seu fazer é anônimo.

No terceiro capítulo intitulado “A ideia de sujeito4 na modernidade em confronto com a concepção de sujeito em Althusser”, iremos tratar da concepção de sujeito em Althusser com mais profundidade, embora já reconheçamos a complexidade do tema e também dos nossos limites em abordá-lo.

Podemos concluir a partir desses elementos, que estando os AIE situados no interior das sociedades capitalistas, eles necessariamente estão dentro das rupturas históricas. Portando, mesmo não se originando nos AIE a luta de classes lá existem e se estabelecem.

Nesse sentindo, Althusser diz:

[...] Mas a luta de classes nos AIE é apenas um aspecto de uma luta de classes que ultrapassa os AIE. Certamente a ideologia que uma classe no poder torna dominante em seus AIE se “realiza” nestes AIE, mas ela os ultrapassa, pois ela não se origina neles. Da mesma maneira a ideologia que uma classe dominada consegue defender dentro e contra os AIE os ultrapassa pois vem de outro lugar (ALTHUSSER, 1985, p. 106-107).

Supomos que o lugar a que o autor está se referindo seja a infraestrutura, as relações de produção dentro do modo de produção capitalista, ou seja, na base econômica da sociedade. Mais ainda, as organizações de luta que a classe proletária “iluminada” pela teoria marxista se fundamenta e mobiliza-se para ir contra a ideologia da classe dominante e se afirmar enquanto classe.

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A palavra sujeito em francês tem dois significados distintos. Ora é aquele que se reconhece e é reconhecido, é o construtor de suas próprias ações, é livre. Ora é aquele que se apresenta como submisso, súdito, o assujeitado. Althusser apresenta uma visão do sujeito como resultado da interpelação ideológica; suas ações não são livres, mas estão inscritas em um código de ação definido por um dado referencial ideológico. O ato de tornar-se sujeito é um ato de libertação e concomitantemente um ato de sujeição.

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É interessante percebermos que a ideologia, enquanto interpeladora dos indivíduos enquanto sujeitos, seja ela dominante ou dominada se forma fora dos AIE. A escola enquanto um dos elementos do AIEE5 serve de suporte na maioria das vezes para a realização da ideologia dominante. Não é no interior dos AIE e muito menos no interior da escola que acontece a formação das ideologias.

Portanto é necessário segundo Althusser irmos além do espaço escolar para analisarmos como se dá a constituição das subjetividades, e a superação da reprodução da ideologia hegemônica.

O autor entende que a teoria marxista proporciona uma visão mais ampla de revolução e consequentemente de emancipação da classe operária. Um dos maiores desafios a ser superado pela classe trabalhadora é vencer o sujeito na sua individualidade, no seu egoísmo e fomentar atitudes que possibilitem a classe operária a se afirmar enquanto classe. Nesse sentido a organização política da classe trabalhadora em torno da sua ideologia é imprescindível para a sua emancipação.

Althusser, se referindo a escola capitalista burguesa enquanto espaço concreto de dominação da ideologia dominante e como instrumento da luta de classes, adverte,

[...] a “cultura” literária ministrada no ensino das escolas não é um fenômeno puramente escolar, é um momento entre outros da “educação” ideológica das massas populares. Pelos seus meios e efeitos, ela traz outros à superfície, postos em prática ao mesmo tempo: religiosos, jurídicos, morais, políticos, etc. Outros tantos meios ideológicos da hegemonia da classe dominante, que são todos reagrupados em volta do Estado de que a classe dominante detém o poder. Bem entendido, esta conexão, podíamos dizer sincronização, entre a cultura literária (que é o objecto-objectivo das humanidades clássicas) e a ação ideológica de massa exercida pela igreja, pelo Estado, pelo direito, pelas formas do regime político, etc., são a maior parte das vezes mascaradas. Mas aparecem à luz do dia nas grandes crises políticas e ideológicas, onde por exemplo as reformas do ensino são abertamente reconhecidas como revoluções nos métodos de acção ideológica sobre as massas. Vê-se então muito claramente que o ensino está em relação directa com a ideologia dominante e que a sua concepção, a sua orientação e o seu controlo são um terreno importante da luta de classes (ALTHUSSER, 1979, p. 45).

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Está explicito nesta citação que a escola é um mecanismo extremamente importante para a perpetuação da ideologia dominante, mas não deixa também de ser um instrumento onde as contradições se externam e se conflituam. A escola e outros elementos do aparelho ideológico de Estado representam a todo instante o reflexo da luta de classes travada nas mais variadas relações sociais, políticas e econômicas.

Mesmo reconhecendo os limites dos AIE no tocante à transformação da sociedade, o autor faz uma distinção muito significativa entre ARE e AIE. Ao se referir ao ARE, (exército, forças armadas, prisão, polícia etc.), denomina-os de núcleo duro, lugar onde repressão se efetiva de maneira mais forte, objetiva e coesa. Quando ele se refere aos AIE, diz que:

Como eles realizam a existência da ideologia de Estado, mas de forma desordenada (sendo cada um, relativamente, autônomo), como funcionam por meio da ideologia, é no âmago deles e de suas formas que se desenrola uma boa parte da guerra de longa duração como é a luta de classe que pode chegar a derrubar as classes dominantes, isto é, desapossar as classes dominantes do poder de Estado que elas detêm.

E mais:

Todos nós sabemos que a luta de classes no Aparelho repressor de Estado, na polícia, nas forças armadas e, até mesmo, na administração constitui, em tempo “normal”, senão uma causa praticamente perdida, pelo menos uma operação muito limitada. Em compensação, a luta de classes nos Aparelhos ideológicos de Estado é uma coisa possível, seria e pode ir muito longe porque é nos aparelhos ideológicos de Estado que os militantes e, em seguida, as massas adquirem experiência política antes de “levá-la até o fim.” (ALTHUSSER, 2008, p. 176, grifo nosso).

A partir desta breve explanação podemos destacar três elementos que nos permitem problematizar nas discussões que seguem sobre a possibilidade de uma concepção de educação para além dos muros da escola, são eles:

A) A luta de classes nos AIE é apenas uma parte da luta;

B) A ideologia que uma classe tenta impor dentro dos AIE não se forma neles;

C) As ideologias se formam fora dos AIE. Formam-se a partir das condições de existência de uma classe, de suas experiências e práticas de luta.

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No decorrer da nossa reflexão já dissemos que Althusser não nega os conflitos de classes no interior dos AIE, muito pelo contrário, ele não só afirma a existência da luta de classes no seio destes, como também os aponta como meios e lugar de contradições e resistência da classe operária. Mas esta luta não se limita aos AIE. Pois, esta é apenas parte de uma luta mais ampla e mais complexa.

É na realidade social capitalista, permeada e perpassada por várias ideologias de natureza econômica, social e política, e, pelos conflitos políticos que se encontram as raízes da luta de classes. É a partir do modo de produção, das relações de produção capitalista e das forças produtivas, que podemos pensar na possibilidade de uma educação enquanto alternativa de constituição das subjetividades em Althusser, capaz de se contrapor à ideologia dominante. Acreditamos que este processo, embora lento, conflituoso e muitas vezes contraditório, seja possível.

Althusser, mesmo reconhecendo a existência da luta de classes e das ideologias antagônicas dentro dos AIE, não compartilha da ideia de que estes podem ser instrumentos de transformação social. Para o autor a transformação social, política e econômica, só será possível mediante a organização política da classe trabalhadora, tendo como referencial a sua ideologia, que é a ideologia da classe operária, esta organização não se dá no interior dos AIE, pois em última instância eles representam, reproduzem, praticam e concretizam os interesses da classe dominante dentro de um Estado capitalista burguês onde a ideologia dominante impera.

É interessante percebermos que ao negar os AIE como instrumentos de transformação social, o autor não nega a possibilidade de uma educação enquanto promotora da organização política da classe proletária e enquanto mecanismo de emancipação social, político e econômica. Entenda-se emancipação nesse contexto não como o encontro da consciência consigo mesma ou como libertação última da consciência, mas, no sentido do sujeito sair de uma condição de oprimido, para uma condição de menos oprimido. Mas esta educação se funde com a ideologia que se processa, se fundamenta e se concretiza fora dos AIE.

São nas relações de luta, travadas com interesses antagônicos na infraestrutura da sociedade capitalista que as ideologias “nascem”. E são estas que

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servirão de instrumentos teóricos e práticos para a classe operária se afirmarem enquanto classe, inclusive no interior dos próprios AIE.

Na maioria dos escritos sobre o pensamento de Althusser, este é tratado como um teórico pessimista, mas este autor entre outras coisas, acreditava na tomada do Estado burguês pela classe operária quando afirma:

Não nos enganemos: basta tomar consciência da crise sem precedentes na qual se encontra o Imperialismo, sob o peso de suas contradições e de suas vítimas, e assediado pelo povo, para concluir que ele não conseguirá sobreviver. Estamos entrando em um século que verá o triunfo do socialismo na terra inteira. Basta observar a corrente irresistível das lutas populares para concluir que, em um prazo mais ou menos curto, e através de todas as peripécias possíveis, inclusive a gravíssima crise do Movimento Comunista Internacional, a Revolução está, desde agora, na ordem do dia. Dentro de cem anos ou até mesmo, talvez, cinquenta, a face do mundo estará modificada: a Revolução levará a melhor na terra inteira (ALTHUSSER, 2008, p. 26).

Este pensamento de Althusser é mais um exemplo de que a luta de classes está presente em todas as relações humanas, inclusive nos ARE e nos AIE, e que toda mudança só pode acontecer mediante esta luta.

Na concepção de (BOLOGNESI, 2013), a reflexão de Althusser não se reduz a explicar ou destacar o funcionamento do AIE no sentido de reproduzir a ideologia de Estado (capitalista) e garantir o domínio da classe burguesa. O autor procura avançar numa discussão que, segundo ele, o próprio Lênin havia apontado, a respeito de como se apropriar do poder do Estado e substituir os AIE capitalistas por novos AIE, comprometidos com o futuro de uma revolução, com a formação das novas gerações: como construir um aparelho não coercitivo, uma escola do comunismo, garantindo uma justa ligação com as massas, enfim, um novo e diferente aparelho escolar (ALTHUSSER, 2008, p. 115).

A partir das nossas leituras, não podemos afirmar que Althusser foi um pensador que se limitou apenas em teorizar o mundo nas suas múltiplas relações e facetas, mas pensou este mundo a partir da realidade na qual estava inserido, e mostrou caminhos possíveis para que a classe proletária se afirmar-se enquanto classe.

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2.3 Sobre a Escola

Dentro do que o autor chama de aparelhos ideológicos do Estado escolar, encontra-se a escola. E esta desempenha um papel prioritário dentro das sociedades capitalistas.

Althusser se referindo a escola, pergunta:

O que se aprende na Escola? É possível chegar-se a um ponto mais ou menos avançado nos estudos, porém de qualquer maneira aprende-se a ler, escrever e contar, ou seja, algumas técnicas, e outras coisas também, inclusive elementos (que podem ser rudimentares ou ao contrário aprofundados) de “cultura científica” ou “literária” diretamente utilizáveis nos diferentes postos da produção (uma instrução para os operários, uma outra, para os técnicos, uma terceira para os engenheiros, uma última para os quadros superiores, etc.) aprende-se o know-how (ALTHUSSER, 1985, p. 57-58).

Não há dúvidas de que a escola dentro do capitalismo, mesmo tendo espaço de debate em prol dos interesses, projetos e ideologias da classe trabalhadora, ainda é um espaço que tem prioritariamente a função de difundir e inculcar a ideologia dominante. É possível constatar a partir desta citação que a escola é uma instituição extremamente seletiva, ela forma seus quadros de acordo com a divisão técnica do trabalho, mas, mais ainda, de acordo com a divisão social do trabalho. Esta última é que mais interessa para o sistema capitalista.

A ideologia dominante que permeia as práticas escolares, não apenas reproduzem uma reprodução de sua qualificação, qualificação do trabalho,

Mas ao mesmo tempo uma reprodução de sua submissão às normas de ordem vigente, isto é, uma reprodução da submissão dos operários à ideologia dominante por parte dos operários e uma reprodução da capacidade de perfeito domínio da ideologia dominante por parte dos agentes da exploração e repressão, de modo a que eles assegurem também “pela palavra o predomínio da classe dominante (ALTHUSSER, 1985, p. 58).

É nesse contexto de dominação que a escola enquanto um dos elementos do AIEE assume a função silenciosa de propagar os valores, práticas e conhecimentos da classe privilegiada. Ela não apenas qualifica cada um de acordo com a sua

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posição social, mas sutilmente faz com que o operário inculque como algo seu a ideologia dominante, e consequentemente se submeta a esta de maneira a incorporá-la e defendê-la.

Os críticos de Althusser têm razão ao dizer que ele trouxe a partir da sua reflexão sobre os AIE, uma visão negativa, pessimista e desencantada da educação escolar. Com certeza encontramos em algumas obras desse autor esse desencanto, mas, é importante ressaltar que este mesmo teórico traz em algumas, de suas obras, como “Aparelhos Ideológicos de Estado", de 1970; “Sobre a Reprodução”, de 1966; etc., elementos que possibilitam pensar a escola como um espaço, um lugar, um meio da luta de classes, onde a classe dominada pode encontrar espaços, mesmo que escassos para se contrapor à ideologia dominante.

Althusser ainda entende que os AIE podem ser não apenas os meios, mas também o lugar da luta de classes e, frequentemente, de formas encarniçadas dessa luta.

[...] A classe (ou aliança de classes) no poder não dita tão facilmente a lei nos AIE como no aparelho (repressivo) de Estado, não somente porque as antigas classes dominantes podem conservar durante muito tempo fortes posições naquelas, mas porque a resistência das classes exploradas pode encontrar o meio e a ocasião de expressar-se neles, utilizando as contradições ou conquistando pela luta posições de combate (ALTHUSSER, 1985, p. 72).

Nesta colocação de Althusser está evidente que no interior dos AIE existem conflitos entre classes antagônicas. A classe dominante não impõe tão facilmente a sua ideologia, a sua cultura, os seus valores, os seus conhecimentos, pois a classe explorada está sempre buscando espaços nas contradições das relações de produção, para criar estratégias de resistência.

Sabemos que a luta de classes travada nos AIE, não é algo fácil, principalmente para a classe operária, visto que a classe dominante se fortalece pelo fato de ter o Estado como órgão que a protege e legitima a sua dominação,

Com efeito, o Estado e seus aparelhos, só tem sentido do ponto de vista da luta de classes, enquanto aparelho da luta de classes mantedora da opressão de classes e das contradições da exploração e sua reprodução. Não há luta de classes sem classes antagônicas.

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Quem diz luta de classe da classe dominante diz resistência, revolta e luta de classe de classe dominada (ALTHUSSER, 1985, p. 106). Althusser foi criticado tanto por seus contemporâneos como seus críticos mais atuais de ter impregnado no ambiente escolar uma cultura da inércia, do pessimismo e do desencanto, não evidenciando nenhuma forma de superação da dominação da qual a classe operária é vítima. Isso lhe rendeu o título de “teórico reprodutivista” ou “crítico reprodutivista”.

É interessante percebermos e reconhecermos que o autor em questão vê os AIE como transmissores da ideologia dominante, mas também é verdade que o mesmo traz para o debate o reconhecimento de que esses mesmos AIE podem ser o lugar onde a classe dominada pode encontrar espaços para lutar contra a ideologia dominante. Cabe ressaltar aqui, que a escola pode ser um espaço de reprodução também da ideologia da classe dominada, haja vista, que as ideologias não se formam nos AIE, mas os permeiam e perpassam.

Mesmo não sendo um teórico da educação, pois não escreveu nenhuma obra sistematizada sobre este assunto, Althusser foi capaz, a partir de alguns dos seus escritos, entre eles “Aparelhos Ideológicos de Estado” pulicado com 1970, e “Sobre a Reprodução” publicado em 1966, mostrar que a escola até então tida como equalizadora da marginalidade social, formadora de uma consciência livre, autônoma, racional, etc., se apresenta inserida no sistema capitalista como um dos elementos do Aparelho Ideológico do Estado Escolar que tem como uma das suas finalidades, reproduzir as relações de produção, ou seja, a ideologia dominante.

Nesse sentindo, frisa Althusser:

É pela aprendizagem de alguns saberes contidos na “inculcação” maciça da ideologia da classe dominante “que em grande parte”, são reproduzidas as relações de produção de uma formação social capitalista, ou seja, as relações entre exploradores e explorados e entre explorados a exploradores. Os mecanismos que produzem esse resultado vital para o regime capitalista são naturalmente encobertos e dissimulados por uma ideologia da Escola universalmente aceita, que é uma das formas essenciais da ideologia burguesa dominante: uma ideologia que representa a Escola como neutra desprovida de ideologia [...] (ALTHUSSER, 1985, p. 80, grifo nosso).

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Sem dúvida nenhuma, Althusser traz uma reflexão muito forte sobre o papel reprodutor da escola no que tange à ideologia dominante. Tal análise não poderia ser diferente, visto que, estando a escola inserida no sistema capitalista, ela não poderia ter outra função. Entretanto, nas entrelinhas da citação acima podemos perceber que o autor usa a palavra “inculcação” e posteriormente a frase “em grande parte”. Não existe inculcação ideológica dominante onde não há suspeitas de resistência da classe dominada.

Em relação à frase “em grande parte”, supomos que a mesma represente que nem todos os saberes são portadores da ideologia dominante, e que a reprodução se faz por meio dessa aprendizagem, mas não só por ela. E por isso a luta de classes travada no interior dos AIE podem contribuir para práticas que possibilitem a classe proletária encontrar mecanismos de força e resistência, mesmo que a longo prazo, para se contrapor a ideologia dominante. Nesse sentido, Althusser também afirma:

A “cultura” que se ensina nas escolas não passa efetivamente de uma cultura, em segundo grau, uma cultura que “cultiva” visando um número, quer restrito quer mais largo, de indivíduos desta sociedade, e incidindo sobre objetos privilegiados (letras, artes, lógica, filosofia, etc.) a arte de se ligar a estes objetos: como meio prático de inculcar a estes indivíduos normas definidas de conduta prática perante as instituições, “valores” e acontecimentos desta sociedade. A cultura é ideologia de elite e/ou de massa de uma sociedade dada. Não a ideologia real das normas (pois em função das oposições de classe, há várias tendências na cultura): mas a ideologia que a classe dominante tenta inculcar, directa ou indirectamente, pelo ensino ou outras vias, e num fundo de discriminação (cultura para elites, cultura para as massas populares) às massas que domina. Trata-se dum empreendimento de caráter hegemônico (Gramsci): obter o consentimento das massas pela ideologia difundida (sob as formas da apresentação e da inculcação de cultura). A ideologia, dominante é sempre imposta às massas contra certas tendências da sua própria cultura, que não é reconhecida nem sancionada mas resiste (ALTHUSSER, 1976, p. 44).

É interessante percebermos a perspicácia de Althusser no que se refere às críticas e às estratégias da ideologia da classe burguesa em se afirmar enquanto a única e possível realidade capaz de se manter no poder. Ele é enfático ao mostrar que mesmo existindo no interior da escola uma pluralidade de ideias, a classe dominante usa de diversos mecanismos para se manter no poder. Entre eles a inculcação silenciosa dos valores da sua cultura em detrimento das demais.

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Para Althusser, a escola assumiu na sociedade moderna o papel que era da igreja no sistema feudal. Ela representa uma das instituições que mais tempo passa com as crianças, e por isso mesmo se tornou na maioria das vezes, um instrumento de transmissão dos interesses da classe dominante.

Vejamos o que Althusser nos diz mais sobre a escola:

Esta recebe as crianças de todas as classes sociais desde o Maternal e, a partir daí, com os novos e igualmente com os antigos métodos, ela lhes inculca, durante anos e anos, no período em que a criança é mais “vulnerável”, imprensada entre o aparelho de Estado Família e o aparelho de Estado Escola, determinados “savoir-faire” revestidos pela ideologia dominante (língua materna, cálculo, história natural, ciências, literatura), ou muito simplesmente a ideologia dominante em estado puro (moral e cívica, filosofia). Em determinado momento, aí pelos catorze anos, uma grande quantidade de crianças vai parar “na produção”: virão a constituir os operários ou os pequenos camponeses. Uma outra parte da juventude continua na escola: e haja o que houver, avança ainda um pouco para ficar pelo caminho e prover os postos ocupados pelos pequenos e médios quadros, empregados, pequenos e médios funcionários, pequenos burgueses de toda a espécie. Uma última parcela chega ao topo, seja para cair na subocupação ou semidesemprego intelectuais, seja para fornecer os agentes da exploração e os agentes da repressão, os profissionais da ideologia (padres de toda a espécie, a maioria dos quais são “laicos” convictos) e também agentes da prática científica. (ALTHUSSER, 2008, p. 168).

Se formos fazer uma análise sociológica desse pensamento de Althusser, iremos ter instrumento teórico suficiente para mostrar que esta ideia é bastante atual. A escola capitalista de caráter dominante, ainda desempenha esse papel celetista, classificador e discriminador. Vale ressaltar ainda, que a escola cumpre o papel de formar o homem, mas de forma hierárquica. Uns chegam a galgar os últimos postos mais relevantes na escala social, política e econômica. Outros por sua vez, ou ficam no caminho ou ocupam posições na sociedade de menor relevância.

Vimos no decorrer desse tópico sobre a escola, pensamentos de Althusser que enfatizam a escola enquanto e simplesmente instrumento de reprodução da ideologia dominante, mas, também vimos as possibilidades que autor apresenta, quando afirma que no interior da escola existe resistência, luta e contradições entre

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