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A Intuição: como referência no desenvolvimento sensorial e performático do dançarino

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE DANÇA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES CÊNICAS

MARIA APARECIDA LINHARES DOS SANTOS SILVA

A INTUIÇÃO:

COMO REFERÊNCIA NO DESENVOLVIMENTO SENSORIAL E PERFORMÁTICA DO DANÇARINO

Salvador

2000

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A INTUIÇÃO:

COMO REFERÊNCIA NO DESENVOLVIMENTO SENSORIAL E

PERFORMÁTICO DO DANÇARINO

Dissertação apresentada ao Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas, Escola de Dança, Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do grau de Mestre em Artes Cênicas.

Orientador: Prof. Dr. Sergio Coelho Borges Farias

Salvador

2000

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S237 Santos-Silva, Cida Linhares.

A Intuição: como referência no desenvolvimento sensorial e performático do dançarino / Maria Aparecida Linhares dos Santos Silva. - 2000.

274p.: il.

Orientador: Prof. Dr. Sergio Coelho Borges Farias.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Escola de Dança, Salvador, 2006.

1. Dança. 2. Dança na educação. 3. Corpomídia. 4. Teoria da autoconsciência. 5. Dança genuína. 6. Umwelt. I. Farias, Sergio Coelho Borges. II. Universidade

Federal da Bahia. Escola de Dança. III. Título. CDD - 792.8 CDU - 793

1. Dança. 2. Dança na educação. 3. Corpomídia. 4. Teoria da autoconsciência. 5. Dança genuína. 6. Umwelt. I. Farias, Sergio Coelho Borges. II. Universidade

Federal da Bahia. Escola de Dança. III. Título.

CDD - 792.8 CDU - 793

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Agradecimentos

Sou grata a muitos que me

acompanharam nessa busca. Aos

companheiros, amigos fieis, a aqueles que se deixaram que nos tornássemos irmãos, a

aqueles que atravessaram comigo esse

caminho, aos colegas, aos que, ao meu lado, deram e receberam.

A todos aqueles que são citados nesse trabalho, a aqueles que generosamente compartilharam, e que vão compartilhar junto comigo dos seus ensinamentos.

À família que me deu o seio e a aquela que me deu a existência, e, especialmente aos meus filhos, que enchem meus dias de alegria e de prazer e a meu companheiro fiel, que segue comigo o caminho de vida escolhida.

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Creio no homem.

Creio na sua essência de luz, na sua inclinação para a saúde, na sua vocação para a vida. Creio no seu potencial evolutivo e na sua possibilidade de despertar. Creio no homem mesmo quando ele me chega disfarçado de doente, de fracassado, de impotente. Creio no homem mesmo quando está manipulando e sendo manipulado; mesmo quando destruído pela existência; mesmo quando reduzido a farrapo humano. Creio no homem mesmo quando mendigando, exibindo suas feridas; mesmo quando construindo bombas nucleares. Creio no homem mesmo apesar dele mesmo. Creio no homem porque creio no homem.

Roberto Crema

Imagem extraída da internet sem menção de autoria.

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ORAÇÃO DO ARTISTA Senhor! Tu que é o maior dos artistas,

fonte das mais belas inspirações, abençoa o meu talento e as minhas obras. Maravilhoso é o dom que me deste na louvada missão de servir-te com alegria, e de exercer o

meu trabalho com amor e dedicação. Por isso, agradeço-te

por permaneceres sempre comigo. Mesmo incompreendido ou diante de desafios,

quero sustentar em minha vocação a energia de vencer e realizar meus projetos

no imenso cenário da vida.

Dá-me equilíbrio entre a razão e a emoção, humildade e sabedoria para me aperfeiçoar. Inspira-me, Ó Mestre, à criação do novo e do belo.

Protege, também, todos os artistas em suas carreiras e gêneros. Faze com que minhas obras contribuam

para a construção de teu Reino e que eu prospere, seguindo teus desígnios,

pelos caminhos gloriosos da arte. Amém!

ORAÇÃO GESTÁLTICA

Eu sou eu. Você é você. Eu faço as minhas coisas,

Você faz as suas coisas. Eu sou responsável por mim, Você é responsável por você.

Não estou neste mundo para viver as suas expectativas, Nem você está neste mundo para viver as minhas expectativas.

Se nos encontrarmos, seguiremos juntos. Senão, tchau!

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Este mergulho na Arte-Educação, especificamente na Dança-Educação foi elaborado com a ajuda das práxis no ensino da dança pela autora desde os 15 anos de idade e dos estudos da Psicologia Humanista desenvolvida por Eric Berne na época da segunda guerra mundial que culminou na elaboração sistematizada da Teoria da Análise Transacional (AT). Esta teoria veio popularizar, nesta época, o conhecimento e reconhecimento de processos psicológicos inconscientes que norteiam a vida humana. Assim, utilizou-se nas práxis de nove dos dez instrumentos elaborados para a aplicação desta teoria como forma de descobrir-se bloqueios ou entraves psicológicos que impedem o dançarino, alunos do 3º Grau da Universidade Federal da Bahia, de seguirem um caminho otimizado na busca do conhecimento da profissão escolhida. Este estudo foi elaborado sob a coordenação da autora, de psicoterapeutas que cooperaram direta ou indiretamente no processo de conhecimento da Teoria, de uma Professora e Funcionária da Escola e de um grupo de alunos que se dispuseram a ajudar e a experimentar essa teoria que nos leva a descobrir comportamentos arraigados que bloqueiam o corpo que dança. Tendo trabalhado com esta Teoria e estudando-a através de cursos específicos na Clínica Bio’s e de seminários, particularmente por 4 anos consecutivos, a autora criou, com este grupo de pessoas, este experimento.

Palavras-chave: Arte-Educação, Dança-Educação, Psicologia, Autoconhecimento e Consciência.

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This look into Art Education, specifically into Dance Education, relates to the praxis in teaching dance by the author carried out since she was 15 years old, and to studies in humanistic psychology developed by Eric Berne during the second world war that culminated in the systematic development of the theory of Transactional Analysis (TA). This theory came to popularize at that time the knowledge and recognition of unconscious psychological processes that guide human life. With university students of the Federal University of Bahia, we used the praxis of nine of the ten tools designed for the application of this theory as a way to discover if blockages or psychological barriers were interfering the dancer's capacity to follow an optimized path in the search for knowledge in their chosen profession. This study was prepared under the coordination of the author, with other psychotherapists, a teacher and a technician of the Dance School and a group of students who were willing to help and to experiment with this theory, in the attempt to discover ingrained behaviors that block the dancing body. The author created this study and experiment in conjunction with studies in courses at Bio’s Clinic and in seminars of TA for four consecutive years.

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INTRODUÇÃO ... 11

CAPÍTULO I O BALÉ NA FORMAÇÃO DO DANÇARINO ... 14

O AUTOCONHECIMENTO COMO A CHAVE DA VIDA ... 15

O OLHAR, UMA RELAÇÃO PROFUNDA... 18

A INTUIÇÃO, FONTE PARA NOVAS DESCOBERTAS ... 22

A EDUCAÇÃO COMO PROPÓSITO ... 27

PSICOLOGIA DO ESPECTRO ... 28

A IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA PARA O ENSINO E APRENDIZADO DA DANÇA ... 31

O GRUPO DE PESQUISA ... 39 CAPÍTULO II METODOLOGIA ... 40 O GRUPO DE PESQUISA ... 42 CAPÍTULO III FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 50

A IMPORTÂNCIA DA INTUIÇÃO E DO INTELECTO PARA O CONHECIMENTO ... 50

A ANÁLISE TRANSACIONAL OU AT ... 57

ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA PERSONALIDADE, ... 64

UMA PSICOLOGIA INDIVIDUAL ... 64

TRANSAÇÕES, A COMUNICAÇÃO SOCIAL ... 86

O CÍCLO DA MUDANÇA... 91

FORMA E QUALIDADE DOS MOVIMENTOS, UM CONTATO COM A DANÇA ... 100

NECESSIDADES BÁSICAS DOS SERES HUMANOS ... 104

UMA SOBREVIDA, AS FOMES DE CARÍCIAS ... 107

ELEMENTOS QUE PARMEIAM OBJETIVOS E METAS ... 123

O AMOR INCONDICIONAL ... 145

POSIÇÕES EXISTENCIAIS, EMOÇÃO E SENTIMENTO ... 146

JOGOS PSICOLÓGICOS ... 164

SCRIPT, ARGUMENTO DE VIDA, OU AINDA, DESTINO ... 172

O MINIARGUMENTO OU MINISCRIPT ... 178

OS MANDATOS MANDADOS ... 184

CAPÍTULO IV PROCESSOS PSICOLÓGICOS QUE PERMEIAM O APRENDIZADO DA DANÇA ... 185

ETAPAS DO APRENDIZADO TÉCNICO E ARTÍSTICO DA DANÇA ... 186

A DEPRESSÃO ... 217

ALGUNS MOVIMENTOS DESAFIADORES, ... 231

NA TÉCNICA DO CLASSICAL BALLET ... 231

A INTUIÇÃO, A CRIAÇÃO E A ARTE DA DANÇA ... 243

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 248

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INTRODUÇÃO

Se hoje existe um campo [em] que é indispensável ser humilde e aceitar uma pluralidade de opiniões aparentemente contraditórias, esse campo é o da Psicologia Aplicada. Isso porque ainda estamos longe de conhecer a fundo o objeto mais nobre da ciência – a própria alma humana. É pelo ser humano que devemos começar, para poder fazer-lhe justiça. Carl Gustav Jung

Tag: Criação Cida Linhares

Tube: Extraído da internet sem menção de autoria. Atenção: Tag significa uma imagem elaborada a partir

de outra ou outras imagens. Tube significa uma imagem sem fundo.

Este estudo consiste numa revisão bibliográfica referente à psicologia, especificamente a Teoria da Análise Transacional como suporte na descoberta de bloqueios psicológicos que norteiam o ensino e a aprendizagem da dança, seguida de um experimento com um grupo de alunos do curso superior de dança da Universidade Federal da Bahia. Visa identificar os processos psicológicos que permeiam o desenvolvimento do aprendizado e do ensino da dança, os bloqueios corporais inconscientes e suas consequências internas e externas. Esta pesquisa foi estruturada com dois blocos principais: A Fundamentação Teórica e seu Desenvolvimento.

Na Fundamentação Teórica, constam informações sobre a intuição e o intelecto onde são apresentados os instrumentos utilizados técnica e terapeuticamente pela Análise Transacional e por outros segmentos da psicologia, como procedimentos facilitadores de mudanças desejadas no corpo, basicamente na relação desse corpo com o aprendizado da dança. A apresentação desses instrumentos será alternada com outras técnicas psicoterapêuticas e comentários relativos à aprendizagem e ensino da dança, baseados na observação e vivência do pesquisador. No Desenvolvimento, são estruturados conceitos específicos relativos à aprendizagem e ao ensino da dança, baseados nos instrumentos anteriormente apresentados. Também dessa parte da pesquisa, constam as etapas para o aprendizado da dança e para o desenvolvimento do profissional que almeja uma carreira de sucesso nos seus empreendimentos. A palavra sucesso nesta pesquisa retrata uma solução bem sucedida, relativa a um objetivo, obtida através de um empreendimento. Uma necessidade moral, tendo como signo o valor pessoal de um indivíduo. Segundo Sillamy, “Cada sucesso é um encorajamento [...] constatando-se que o fato de conseguir fazer alguma coisa útil produz o abandono das atitudes negativas” (1998, p.225).

Tornarmo-nos conscientes desses processos psicológicos que interferem positiva ou negativamente no desenvolvimento profissional do aluno de dança, é uma forma de

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aprendizado teórico-prático que encontramos para suprir direta e objetivamente algumas necessidades do profissional que almeja uma carreira de sucesso. Muitas questões são levantadas por pesquisadores dessa área que buscam respostas na sociologia, na física, na psicologia, na antropologia e nas ciências, que direta ou indiretamente possam contribuir para a evolução educacional do ser humano.

Muitas pesquisas foram feitas sem registro para esta viagem que hoje, com consciência, desejamos compartir com o aluno, futuro intérprete da dança. Sistematizá-la, com a intenção também de ajudar a todos os alunos que quiserem ser ajudados, é um objetivo pessoal.

Trabalhando há mais de trinta anos com a arte da dança, e em consequência com seres humanos, enfrentamos problemáticas educacionais, que nem sempre soubemos como resolve-las para mantermo-nos fiéis aos nossos propósitos. O caminho escolhido sempre foi a busca incessante do heteroconhecimento e do autoconhecimento. Durante muitos anos de observação, procuramos formas de conscientização acerca do profissional de dança e também das relações entre alunos e professores, para desenvolvermos este trabalho. O intuito é contribuir para que nós artistas, educadores, performers, alunos de arte em geral e pessoas interessadas pelo assunto, encontremos e realizemos nosso grande desejo profissional. Elaborar uma prática de ensino, que conscientize nossos alunos dos passos que estão dando na construção de sua vida profissional, é uma meta.

Aprendendo muito com a psicologia durante todos esses anos, e querendo somar para o desenvolvimento da arte e do artista, decidimos transpor para o papel esta vivência. A busca ao autoconhecimento trouxe para nós muitas descobertas. Uma delas é ter percebido, que o comportamento do ser humano de forma geral, é influenciado demasiadamente pelo inconsciente; que a maioria do nosso tempo é utilizado com ações e reações fundamentadas em argumentos pré-concebidos, e que estes justificam as relações inadequadas, sejam estas intrapessoais ou interpessoais. Esta descoberta nos fez dar importância à psique do ser humano e toda a sua influência no aprendizado e na performance da dança. Com a dança, através do trabalho prático diário, desenvolvemos aptidões e habilidades sensoriais e perceptivas. Estes conhecimentos são registrados na memória muscular que, subjetivamente, aciona as técnicas adquiridas. Pressupomos que a memória muscular, unida ao condicionamento físico, faz fluir os movimentos corporais, o que deixa o artista completamente livre para sentir e expressar, durante sua performance.

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Portanto, expressar os sentimentos e emoções faz parte da dança e da vida. Não podemos ficar de fora, observando sem contribuir para o desenvolvimento evolutivo também do psicológico do ser humano, que tanto interfere no aprendizado da dança e na nossa vida profissional. Olhar o aluno, futuro dançarino como sujeito principal da instituição a qual estamos vinculada, faz parte da nossa proposta. A dança é o objeto de estudo, e o dançarino, o construtor de conhecimento. Para isso, os educadores devem interagir com outras áreas de conhecimento, visando o comportamento dos futuros profissionais, em prol da vida profissional deles e consequentemente, em prol da Dança. As técnicas de dança podem ser adquiridas através de métodos que atinjam o conhecimento e preparo do corpo integrado. Este aprendizado nos dá possibilidades infinitas de movimentação. A consciência corporal proveniente do treinamento técnico como meio e não como fim, nos conduz ao movimento expressivo, diferenciando o intérprete do técnico do movimento. Com a técnica “pura”, nada jamais será novo em termos de movimento ou de sua criação. O novo é a linguagem expressa pelo movimento do ser individual, do artista que interpreta suas ideias idiossincráticas, com seus sentimentos, emoções, sensações, reflexões, pensamentos e intuições. O artista é aquele que expõe sua intimidade para o público. A emoção, sendo autêntica, reflete este ser sensível e assertivo ao mesmo tempo intérprete da arte e de si mesmo. Ou seja, através da emoção autêntica ele é, e se é, ele não só está. O que nos impede de sermos nós mesmos, às vezes, ou na maioria das vezes, é a falta de autenticidade, de autoconhecimento, o que nos leva à representação, na vida, de papéis que não nos pertencem. Isto nos priva de viver uma vida com um script positivo, permitindo a interferência de desejos inconscientes, nem sempre benéficos à nossa vida. Esta interferência, sem dúvida, influencia negativamente a adequação e o bem estar do ser consciente, que enganado, sempre encontra justificativas plausíveis internas para suas faltas, falhas, omissões ou mesmo desvios de caráter.

A dança é uma resposta do corpo ao espírito artístico do ser humano. Ela tem o papel de expressar o ser individual artístico. A criatividade é uma qualidade necessária ao artista, e é através desta, que o mesmo desenvolve a sua arte. Quando a dança está na memória muscular do dançarino, sua linguagem é fluida e expressa uma verdade do ser. A emoção faz parte desta linguagem, cujo cerne expressivo é o corpo. Este corpo, integrado à música do consciente, pode nos levar à transcendência.

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CAPÍTULO I

O BALÉ NA FORMAÇÃO DO DANÇARINO

Tag: Cida Linhares

Tube: extraído da internet sem menção de autoria.

Observação: “Tag” é uma imagem transformada e elaborada num software chamado "Paint Shop Pro" desenvolvido pela "Corel Draw", usando sempre outra imagem existente com um

“Back” (fundo) ou ser um “tube”, que é uma imagem sem

fundo.

Uma problemática central da dança refere-se ao fator tempo. A cada ano que passa, exige-se mais e mais conhecimento, persistência, dedicação, disciplina e técnica, o que faz com que o aprendizado da dança necessite ser desenvolvido em curto prazo. Para o professor de dança que almeje para os seus alunos, não somente o aprendizado técnico da dança, torna-se relevante complementar torna-sempre torna-seus conhecimentos com estudos e pesquisas na área da arte-educação. Desenvolver a criatividade, no intuito de descobrir métodos e práticas de ensino que agilizem o aprendizado do aluno, é responsabilidade do docente.

Para o aluno, começar cedo é fundamental. Cada mãe (geralmente é a mãe que estimula as crianças a fazerem dança) deve consultar um professor que, isento de qualquer interesse particular, seja capaz de examinar e estimular a criança a aprender um tipo de dança que seja mais apropriada para seu físico, tornando o processo de aprendizagem mais prazeroso, e progressivo.

Aquele que se dedica profissionalmente à dança clássica, ainda hoje, deve possuir um corpo que anatomicamente e fisiologicamente se adapte aos moldes europeus, ou seja, longilíneo, leve, com a estrutura anatômica da articulação coxofemoral capaz de um “en dehors” adequado, que é a capacidade de virar essa articulação para fora (ver figura 1). Quando o en dehors acontece naturalmente dos quadris até os pés, os quais devem ser apropriados para subir nas sapatilhas de ponta, significa que este físico já possui esta qualidade básica para o balé. Devem possuir também proporções equilibradas das partes do corpo, pescoço, braços e pernas alongados. Os rapazes, além de todos os predicados físicos, deverão ter braços fortes, para poder sustentar as bailarinas. O vestuário e sapatilhas devem estar apropriados para os movimentos realizados em aulas. Estar preparado psicologicamente e fisicamente para obter excelência em cada aula, é um dever

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para aquele que quer seguir a carreira de dançarino. Além disso, estar ciente do desejo de se preparar para a batalha da concorrência nas companhias clássicas de balé, que ainda sobrevivem fora do nosso país, é algo a ser pensado, refletido e discutido.

Figura 1

Contudo, o físico não funcionará eficazmente sem uma mente saudável, madura, consciente das necessidades e dos limites do indivíduo. O dançarino, quando pratica a sua arte, deve estar livre e aberto às suas percepções sensoriais, ou seja, seus sentimentos, suas emoções, cognições e intuições. Livre para amar o que escolheu fazer como profissão, e realizar o seu trabalho. Isto não significa que o caminho é fácil, pois o processo de aprendizado, além de envolver muitas etapas, às vezes nos faz deparar com obstáculos que podem nos deixar bloqueados e ou necessitados de ajuda. Uma das opções que possuímos para ultrapassá-los, além da vontade, pode ser o caminho do autoconhecimento, através de terapias corporais diversas.

O AUTOCONHECIMENTO COMO A CHAVE DA VIDA

A maior sabedoria que existe é conhecer-se a si mesmo. Galileu Galilei

Tag: Cida Linhares

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O autoconhecimento ou o

conhecimento de si mesmo significa para

o sujeito, explorar, numa tarefa

incomensurável, sua própria incógnita, e desvendá-la. É conhecer mais a fundo a sua individualidade e como esta se expressa. É partir para uma investigação do seu mundo

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interior. Conhecer-se é um meio adequado para se atingir o sucesso na arte da dança. Quanto ao ensino da dança, nada poderemos dar ao aluno se primeiro não nos dermos, porque, simplesmente, não teremos. Como poderemos educar se nem mesmo soubermos nos educar? Não poderemos dar nada que não possuímos, e em nenhum caso, a intenção ou a tentativa são suficientes.

Nossa história pessoal, capacidade de assimilação, nossos objetivos, talentos, a forma como usamos nossos sentimentos e intelecto, bem como nossas limitações, são relevantes no processo do aprendizado da dança, como também da vida que vivemos. Não é fácil encarar conscientemente os processos psicológicos pelos quais passamos, principalmente quando não atentamos para seus significados. Possuirmos o conhecimento, a coragem e a motivação para encará-los é fundamental. Sem isso, os nossos campos de condutas e papéis, sejam estes: profissional, social, familiar e/ou de casal, podem ficar prejudicados. (Ver figura 2, Áreas de Condutas e Papéis, Kertész, 1987, p.103). Ver Figura 2 a seguir.

O meu interesse, também pela Psicologia,

começou em 1982, quando fiz um curso chamado “101 da AT” (Análise Transacional)que me fez ver a

importância da psicoterapia para nós, seres humanos, e

seus benefícios para um viver mais pleno.

A Análise Transacional é uma ferramenta,

utilizada tecnicamente por psicoterapeutas, facilitadora de grandes mudanças positivas nas comunicações intrapessoais, interpessoais e grupais. Esta abordagem da Psicologia individual e social foi criada e desenvolvida pelo psiquiatra canadense radicado nos EUA, Eric Berne, que iniciou em 1949, como disse Shinyashiki:

[...] seus estudos e posteriores publicações sobre intuição e estratégias de psicoterapia. Prosseguiu amadurecendo suas ideias, elaborando as críticas e colhendo dados da aplicação de seus métodos até que em 1958 publica seu importante artigo “Análise Transacional: um novo e efetivo método de terapia de grupos”, até chegar a escrever esta que eu considero sua obra maior. (Na introdução do livro de Berne, Análise Transacional em Psicoterapia, 1961)

Ao tempo em que procuramos aprofundar os estudos em psicologia, pretendemos integrar elementos da dança e da psicologia numa contínua “viagem” interdisciplinar. Tendo participado de congressos, laboratórios, cursos e grupos de psicoterapia, vários

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deles com médicos especialistas como a Dra. Maria José Duplat, psiquiatra e psicoterapeuta, Dr. Roberto Crema, psicoterapeuta, que hoje também trabalha com holismo e transcendência, Roberto Shinyashiki, psicoterapeuta, Maria do Carmo Motta, psicoterapeuta e psicóloga, Eliana Dummet, terapeuta ocupacional e outros mais, criamos um vínculo entre a dança, a psicologia e a educação.

Toda essa experiência sentida com a psicologia, mais consciente do passado, presente e planejando um futuro, acreditando na intuição como referência para as interpretações da vida, nos possibilitou uma transformação num ser muito mais humano e num estar muito mais aberta ao aprendizado e a novas experiências.

Alguns livros de psicologia como: “O Caminho do Autoconhecimento”, “Não Temas o Mal” e “Criando União” de Eva Pierrakus, “Nascidos para Vencer” de Muriel James e Dorothy Jongeward, “Os Papéis que Vivemos na Vida” e “O Outro Lado do Poder” de Claude Steiner, “Os Jogos da Vida” de Eric Berne, “Medo da Vida” de Alexander Lowen, “Amar Pode Dar Certo” de Roberto Shinyashiki, “A Mágica de Pensar Grande” do Dr. David J. Schwartz, dentre outros, foram aumentando nossa auto–estima e reconhecendo no outro e no universo o Eu que estou, ora amoroso, ora criador, ora triste, ora alegre, ora ilimitado ou limitado, ora cheio de coragem, e às vezes com medo, confiando ou desconfiando, mas com uma diferença: mais consciente do que mudou, do que está mudando e do que ainda não mudou, o que nos torna inteiros.

A autoconsciência é o componente do processo de autoconhecimento, da transformação, do estímulo e da motivação, tão necessários para o trabalho com a arte da dança. Trazer à consciência os processos inconscientes que permeiam as nossas vidas, em qualquer campo de conduta, nos prepara para enfrentarmos com maturidade nossas relações com o mundo em que vivemos.

O ser humano, ainda hoje, sofre alienação de si mesmo e do mundo contemporâneo em que vive, o que faz com que este trabalho tenha como eixo central ou ocupação básica, o autoconhecimento. Vejamos o que Fayga Ostrower nos diz a respeito disso, o que constituiu-se, de fato, para ela, numa preocupação básica:

Em si, a questão não é nova nem tão recente. Há muito o ser humano vive alienado de si mesmo. As riquezas materiais, o conhecimento sobre o mundo e os meios técnicos de que hoje se dispõe, em pouco alteraram essa condição humana. Ao contrário, o homem contemporâneo, colocado diante das múltiplas funções que deve exercer, pressionado por múltiplas exigências, bombardeado por um fluxo ininterrupto de informações contraditórias, em aceleração crescente

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que quase ultrapassa o ritmo orgânico de sua vida, em vez de se integrar como ser individual e ser social, sofre um processo de desintegração. Aliena-se de si, de seu trabalho, de suas possibilidades de criar e de realizar em sua vida conteúdos mais humanos. (1977, p.6)

A busca do autoconhecimento chega mesmo a ser um propósito, ou melhor; um objetivo de vida. À medida que usamos tudo que somos ou que fazemos como princípios que nos levam a essa “viagem” sem fim, enchemos nossas vidas de significados.

O OLHAR, UMA RELAÇÃO PROFUNDA

Cada qual carrega a tocha do conhecimento por um certo trecho do

percurso só até entregá-la a outro. Se pudéssemos, por exemplo, supor que não somos nós os criadores pessoais da nossa verdade, mas os seus representantes, simples porta-vozes das necessidades psíquicas contemporâneas, muito veneno, muita amargura poderia ser evitada, e nosso olhar estaria desimpedido para enxergar as relações profundas e impessoais da alma da humanidade. Carl Gustav Jung

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A crise da modernidade e as descobertas da Física Quântica vieram abrir o caminho à busca do sensorial, do individual invisível, da consciência que nos envolve nessa espiral de pensamentos, atitudes, sensações, percepções, emoções, etc. Este universo ainda é pouco explorado pela maioria dos seres humanos. Isto nos faz perceber o elo entre o homem e o cosmos, como parte integrante de nossas vidas. (Ver João Francisco Duarte em Itinerário de uma crise: a modernidade, 1997)

Na nossa visão holística da arte, e na nova visão pós–moderna de recorrer a técnicas que integradas facilitem o aprendizado do aluno de dança, é que pretendemos basear nossos estudos, utilizando elementos da Psicologia Humanista. Esta será a base para o desenvolvimento sensorial (desenvolvimento dos sentidos, sejam eles de ordem física, orgânica, ou psíquica) o que possibilita ao dançarino olhar para dentro de si mesmo. É possível que, este olhar, seja o início de sua busca do Eu superior, o íntimo do ser. (Ver Eva Pierrakos, O Caminho da Autotransformação, 1997) Pressupomos que, interagindo o aprendizado da dança com a psicologia, podemos fazer surgir um profissional mais

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consciente de seus próprios processos de vida, se aceitando como é e mesmo como está, vivendo no presente, e aprimorando progressivamente seu desempenho técnico-artístico. Para o desenvolvimento do presente estudo, partimos do pressuposto de que, trabalhando com a intuição junto aos alunos, podemos observar, perceber e interpretar o que se configura, potencialmente, como bloqueios psicológicos (traumas, neuroses, etc.) que interferem na expressão do movimento. Durante muitos anos de observação e estudos, tanto em sala de aula como também fora dela, observando comportamentos, buscamos uma forma segura de ajudar os alunos, principalmente aqueles que mais sofrem interferência desses bloqueios.

O bailarino tende a se ocultar, seu movimento fica introspectivo. São situações em que vemos a necessidade de abrir um espaço para que a pessoa tome conhecimento dos conteúdos que a estão impedindo de mover-se. As emoções que vão sendo abertas devem ser elaboradas para que o bailarino-pesquisador-intérprete possa distinguir uma emoção trabalhada de um “emocionalismo”. Graziela Rodrigues

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A relação entre a comunicação verbal e a corporal sempre nos chamou a atenção. Além disso, há de se pressupor que a incoerência entre a comunicação verbal e a comunicação corporal está, na maioria das vezes, sob o comando do inconsciente, e o resultado pode ser imprevisível. A observação da expressão corporal é capaz de nos informar se ambas as comunicações estão ou não consonantes, e de acordo com o que se deseja comunicar. Aprendemos que esta coerência entre linguagens pode ser: total, parcial ou inexistente. Em qualquer outra forma de relação onde as expressões corporais revelem uma atitude corporal não condizente com a linguagem verbal, ação ou reação na maioria das vezes inconsciente, a comunicação perde a potência, a finalidade. Um exemplo disto é o aluno que, ao possuir um preconceito com relação à técnica clássica ou qualquer outra técnica de dança,bloqueia, inconscientemente ou não, o seu aprendizado. Alguns podem vir a fantasiar e até mesmo somatizar impossibilidades físicas para não praticá-la. Mesmo que sua linguagem verbal justifique socialmente suas impossibilidades, este aluno só tem o direito a 25% de faltas em cada disciplina, o que já acarreta em perdas, caso este se utilize desse direito. Isto faz com que o aluno perca a disciplina específica por um motivo justo, eliminando ou abrandando assim a própria culpa, ou transferir a culpa para o acaso, por desconhecer a base do problema (inconsciente).

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A expressão do dançarino é elemento primordial para sua comunicação consigo e com o público. Sem a eficácia desta comunicação, não existe o diálogo ou a troca de energias. A auto–percepção ou a percepção das pessoas ao redor, principalmente no caso dos alunos, nos mostra que nem sempre a comunicação corporal é condizente com a comunicação verbal, e vice-versa. Ocorrendo este descompasso de linguagens no aprendizado da dança, o movimento corporal confina-se a um estado de “pré– expressividade”. Este termo foi utilizado por Stanislavski para o movimento imaturo na sua forma de expressão. (Ver Eugênio Barba e Nicola Savarese em, A Arte Secreta do Ator - Dicionário de Antropologia Teatral, 1995, pp.186-204)

Segundo a teoria de Rudolf von Laban, a pré-expressividade acontece quando a criança está desenvolvendo suas qualidades expressivas. Dessa forma, ocorre o que ele designa de pre-effort. Segundo a Dra. Ciane Fernandes no seu mais recente livro O Corpo em Cena Ensina temos:

O termo Pré-Expressividade, em Labanálise, difere porém relaciona-se com o usado por Eugênio Barba e Nicola Savarese, que o consideram como uma “lógica do processo” de preparação expressiva, anterior à apresentação cênica. Em Labanálise, a Pré-Expressividade consiste no desenvolvimento das qualidades expressivas na criança e presente subliminarmente na Expressividade adulta. Através de explorações sensoriais, a criança gradualmente forma sua extensão expressiva. As qualidades expressivas desenvolvem-se a partir da pré-expressividade [...] (1999, p.123)

Uma outra característica do movimento pré–expressivo ou do pre-effort, diz respeito à intensidade do movimento (ver Kestenberg, Judith. The Role of Movement Patterns in Development I, Princeton: Dance Horizons, 1997). Segundo a teoria de Laban, o movimento oscila sempre entre a expressividade e a pré-expressividade, o que não faz com que perca, necessariamente, suas qualidades. A pré-expressividade como veremos a seguir, com um outro ponto de vista, também relacionado com o de Stanislavski e o de Laban, ocorre quando o movimento do dançarino não alcança totalmente seu significado expressivo, podendo revelar duas condições: ou o aluno está numa fase de aprendizado, fluindo em progressão, ou não está aprendendo, por se colocar numa atitude defensiva, bloqueado psicologicamente, o que impede a fluência do movimento. Por exemplo, ao executar o movimento com bloqueios de fluxo de energia (que geralmente são de ordem psicológica), a comunicação e a expressão do mesmo ficam parcialmente bloqueadas ou impedidas, interferindo na qualidade da performance. Com outras palavras, a pré-expressividade a que nos referimos, é a impedida de fluência por bloqueios psicológicos,

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que não permitem a expressão do movimento, geralmente causados pelas introjeções de preconceitos e crenças sobre nós mesmos, sobre algo ou sobre os outros, elaborados inconscientemente pela Criança no passado, nos incapacitando, ou melhor, oferecendo resistência, aqui e agora, à expressão dos movimentos, e, em consequência, ao aprendizado da dança. (Ver A Estrutura da Personalidade segundo a AT no capítulo III)

A falta de fluência entre as energias da mente-físico, tanto para o aprendizado racional quanto para o aprendizado sensorial, pode gerar um movimento sem qualidades artísticas, e sem comunicação. Isto porque, quando o aluno está numa fase de percepção, assimilação e de incorporação do mesmo, ainda não diferencia seus limites psicológicos dos limites físicos e expressivos reais, o qual só se efetivará com a prática. Esta condição é análoga ao bebê que está aprendendo a andar. Seu primeiro passo é pôr-se de pé, o que só conseguirá com apoio e proteção. O segundo, assimilar através da percepção, e da experiência físico-sensorial, a transferência de seu peso, de dois pés para um pé, deixando o outro livre para dar seu primeiro passo. Caso o bebê, durante este desafio de movimentação, caia sempre ou sinta-se gravemente ameaçado, ele poderá ser desestimulado a continuar sua descoberta, interrompendo seu desenvolvimento natural. O medo de cair poderá aumentar, e a experiência ao ser retomada, poderá ser incômoda, até o momento em que ele se encontre apto a seguir seu caminho. Nesse caso, intensifica-se a necessidade de autoproteção. O risco de novas quedas surge com a emoção de medo que poderá ser intensificada, causando mais insegurança e possivelmente mais quedas, tensão muscular, e até mesmo chegar ao medo pânico, pois os músculos já não respondem com a mesma energia inicial, ou seja, todo seu corpo poderá estar afetado (somatização) pela experiência anteriormente vivida e registrada através dos seus sentimentos e sensações na linguagem do corpo. Assim ele passa a desempenhar um movimento inseguro, enfermo (tecnicamente incorreto), defendido, preso, insuficiente, privado de um fluxo natural. Se a experiência acontece com sucesso, o bebê estará motivado a experienciar outras vezes mais, sentindo-se potente e seguro para fazê-lo, e perdendo o medo do novo, dos desafios naturais que surgem na vida, num processo orgânico e fluido de aprendizagem.

Nós educadores temos acesso à observação, análise e convivência com alunos, de biotipos, classes sociais, experiências de vida, objetivos e desenvolvimento cultural, pessoal e emocional, diferenciados. Cada um deles constitui um universo singular a ser explorado, no qual eles agem e reagem a estímulos e desafios que surgem ao longo de seu

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aprendizado na dança, de formas distintas. Sua vivência anterior, seus preconceitos, sua autoestima, sua autoconfiança e seu comportamento, influenciam, interagem e norteiam este processo pedagógico.

A aula de técnica da dança assume características de laboratório, onde o papel do aluno é pesquisar diariamente, com criatividade, a melhor forma de sentir a técnica aplicada ao movimento, no próprio corpo em harmonia, atuando com as capacidades dos dois hemisférios do cérebro: o direito, com o potencial subjetivo, intuitivo, emocional, imaginativo, criativo e outros, e o esquerdo, ligado a experiências intelectuais, ao processamento lógico–racional. Apesar dos seus hemisférios diferenciados, o cérebro configura-se como um único órgão de processamentos múltiplos. (Ver Edgardo Musso, Intuição: As mulheres e o funcionamento do cérebro, 1997, no site da Internet: http://www.cdic.com.br/abril97.htm)

A INTUIÇÃO, FONTE PARA NOVAS DESCOBERTAS

Não existe nenhum caminho lógico para a descoberta das leis elementares do Universo – o único caminho é o da intuição. Albert Einstein

Tag: Cida Linhares

Imagem dançarinos: na internet, sem menção de autoria.

A utilização de ambos os hemisférios do cérebro pelo aluno de dança, ou das Artes em geral, é fundamental na experiência do viver, do intuir, do criar e do interpretar. No caso do dançarino, especificamente, é fundamental na experiência do movimento corporal e da expressão desse movimento. Fazendo uso da intuição, o aluno de dança terá acesso a um processo que pode atingir tanto o inconsciente como o consciente. Através da intuição e do intelecto, assim como dos sentidos e das emoções, é que podemos desenvolver, no próprio corpo, a arte de dançar. Acreditamos que o aprendizado do aluno de dança se deve necessariamente ao desenvolvimento destes pontos cruciais, que vêm assegurar uma eficaz formação do dançarino, alcançando alto nível profissional.

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Na presente pesquisa, pretendemos abordar a intuição, título desta dissertação, como um conhecimento claro e direto de algo, um imeciocínio ou pressentimento que venha a ser explorado criativamente, um insight, caracterizado pela espontaneidade e asserção. Carol Adrienne, no prefácio do livro de Penney Peirce, palestrante e pesquisadora da intuição, cujo título é: O Caminho da Intuição, Um guia para a sabedoria interior, nos revela que:

O instrumento que dá mais poder e, ao mesmo tempo, é o mais prático de todos – já dentro de nós – é a capacidade de receber orientação intuitiva, ligando-a com nossos processos racionais e emocionais e passando a agir com base em nossas respostas autênticas no momento. Com a intuição e a lógica trabalhando em harmonia, podemos ver claramente o que é necessário e fazer exatamente o que é exigido de nós – enfrentando as situações com inspiração e confiança. (1999, p.12)

Adrienne acredita que, ao usarmos nossa intuição, “[...] ficamos como um animal farejando o vento – alerta! Com essa nova forma de buscar orientação em nosso íntimo, em buscas de pistas quase imperceptíveis, vemos como nossas relações são importantes – com nossa alma e uns com os outros.” (Ibidem, p.12) Ela acredita que, utilizando dessa forma a intuição: “Percebemos que nossa vida não só faz diferença neste mundo, como também que essa é a verdadeira razão pela qual nascemos.” (Ibidem, p.12) Que, quando entendemos “[...] o paradoxo de que nada é fixo e programado, nem aleatório ou acidental, realizamos a transição que nos leva a viver verdadeiramente nossa missão. Começamos a ver que o nosso papel é envolver-nos com a vida, participar, desfrutar e divertir-nos.” (Ibidem, p.12) Peirce considera a intuição a essência da vida que se perdeu há muito, e viver de acordo com ela é uma arte. Para isso, basta pedir, que ela nos dá fluidez e alegria, respostas instantâneas e abundância de conhecimentos. Quando dominamos essa arte, esta vibra como nenhuma outra. Acredita que, através do desenvolvimento da nossa intuição podemos dissolver inseguranças e bloqueios, além de alguma rigidez temporária do intelecto ou da emoção. Para ela, podemos também desobstruir nossa criatividade, aumentar a nitidez de nossos sonhos e cultivar mais sincronicidade mágica. (Ibidem, pp.13-14) Continua dizendo que: “A intuição pode aumentar o sucesso e a satisfação em todos os domínios – seja material, emocional ou espiritual – e também pode dar muitas alegrias [...]”. (Ibidem, p.14)

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Segundo Peirce, nossa intuição é a catalizadora do autodesenvolvimento e da auto realização, porque, quando tratamos de fazer mudanças profundas e duradouras em nossas vidas particulares, só a experiência subjetiva, e não os fatos, conta como algo real. Para desenvolvermos a nossa capacidade intuitiva necessitamos decifrar as mensagens de nosso corpo (nossos impulsos). Ela afirma que a linguagem do corpo é binária, ou seja: há apenas duas formas de ação que podemos exemplificar como: expandir ou contrair. Expandimos quando aceitamos algo, quando dizemos sim, e contraímos quando reprovamos, dizendo não. O corpo nos dá sinais de excitação ou entra em uma frequência ligeiramente mais alta quando quer chamar nossa atenção. Alguns sintomas de reprovação podem ser: irritação (estresse) ou distração (depressão). Ainda que estejamos sintonizados com nossa intuição ou aprendendo novas formas de ouvi-la, viver de acordo com ela pode nos trazer muitos benefícios. (Ver ibidem, pp.14-169) Continua:

Quando para você uma escolha ou ação é apropriada, segura ou direto-na- mosca, você sente uma expansão de energia: consegue até sentir a energia subindo e tornando-se ativa ou cheia de vitalidade. Você talvez se interesse por uma ideia, fique delirante ou se sinta tomado pelo entusiasmo.

Quando pergunto às pessoas como sabem que algo é verdadeiro e onde experimentam essa sensação no corpo, muitas descrevem uma sensação de calor que se espalha pelo peito. Outras sentem a energia borbulhar de seu diafragma para o peito, ou do peito para a garganta. [...] No entanto, o mais comum é você reconhecer sua verdade pessoal por ter um sentimento de profundo conforto. (Ibidem, p.152)

Quando o corpo responde não, para Peirce, a mensagem costuma ser inequívoca. Para ela, a maioria das pessoas, na realidade, tem mais consciência de seus sinais de ansiedade do que dos sinais da verdade. Podemos sentir a energia cair, o corpo contrair ou recuar quando uma escolha ou ação não oferece segurança. Podemos mesmo chegar a reagir friamente a algum estímulo ou a alguém, buscando distância. O corpo procura logo se afastar ou recuar. O sentimento pode ser de: rejeição com a emoção de tristeza, ficando pálidos se o sangue nos foge do rosto, trancando a garganta como se esta tivesse dado um nó ou sentindo uma contração na boca do estômago. Pode surgir o sentimento de depressão (ver emoção rebusque ou disfarce no capítulo III) que estudaremos mais adiante no capítulo IV, podendo vir a sentir dor em regiões específicas do corpo, náuseas, dor de estômago, dor de cabeça, dor no peito, como se você tivesse sido atingido com um soco na área do plexo solar. Todos esses são sinais de ansiedade. Continua:

Por que é importante saber quais são os sinais da verdade e da ansiedade? Primeiro porque você precisa de um modo infalível de discernir quais as opções

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da vida são as melhores para você, precisa ser capaz de fazer escolhas autênticas orientadas diretamente pela sabedoria [...] da sua alma. Os sinais da verdade e da ansiedade são seu principal canal para a sabedoria mais elevada. Em segundo lugar, ao aprender a identificar respostas claras mais rápida e diretamente, você não perde tanto tempo e energia e, desse modo, não perde tantas oportunidades de ser feliz. Em terceiro lugar, ao aprender a confiar irrestritamente na primeira reação de seu corpo, você vai descobrir que a orientação que obtém é da maior qualidade. Goethe disse essas palavras enganosamente simples: “Basta confiar em si mesmo. E então vai saber viver”. (Ibidem, p.153)

Peirce acredita que, seguindo nossa intuição, acabaremos por experienciar a alma em nosso próprio corpo, como nossa personalidade. Fala da importância de confiarmos no impulso de nossos interesses, e na corrente que nos leva ao nosso destino ou à nossa meta, cuja responsabilidade, em grande parte, é da nossa intuição que se transforma em cognição. Diz também que, com isso, aprendeu que o próprio processo é o mestre. (Ibidem, pp.16-17) Para ela a intuição ocorre quando estamos vivendo de forma fluida, longe de preocupações, dos deveres e das opiniões arraigadas. Se nós conseguirmos mudar facilmente de direção, diz ela, ajustarmos nossa velocidade para as necessidades do momento, iniciarmos um movimento e abandonamos comportamentos que já não têm mais serventia. (Ibidem, p.77) Assim, nossa intuição pode tornar-se um fator importante e de uso permanente em nossa vida.

Edgardo Musso nos apresenta diversas formas de intuição. São elas: (Em: Intuição: As mulheres e o funcionamento do cérebro, 1997, no site da Internet: http://www.cdic.com.br/abril97.htm).

 A intuição sensível – aquela pela qual apreendemos as sensações.  A intuição racional – através da qual a razão apreende certas verdades.  A intuição psicológica – a que nos dá consciência imediata das nossas

Ideias, sentimentos e recordações.

Analisando essas informações, e relacionando-as com a dança, elaboramos o seguinte quadro de referência:

1. Com a intuição sensível, podemos perceber:

 Quando a sensação é agradável ou desagradável; principalmente no que diz respeito à movimentação do corpo no espaço.

 Deficiências técnicas, causadas pelo não desenvolvimento de algumas habilidades.

 Impossibilidades psicofísicas, ou seja: limites físicos reais e pseudolimites psicológicos.

2. A intuição racional pode conscientizar o dançarino acerca do “ser” e do “estar”, buscando a situação real do momento. É a intuição cognitiva, do conhecimento claro e direto.

3. A intuição psicológica traz o aluno sempre para o tempo presente, para o aqui e agora, conscientemente.

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Esse trabalho tem como título a intuição, e como meta, utilizá-la como referência para detectar bloqueios psicológicos que dificultam a expressão performática do dançarino, assim como elemento primordial para o desenvolvimento da criatividade. Observamos estes bloqueios num grupo formado por alunos de dança da UFBA, através de um estudo teórico–prático, com o objetivo de facilitar o desenvolvimento sensorial, criativo e performático do dançarino. Hoje queremos apostar na intuição como suporte para a criação artística e ao mesmo tempo como facilitadora na identificação e resolução de problemas

comportamentais, principalmente desses bloqueios psicológicos mencionados

anteriormente. Além disso, a intuição permeará todo este processo. O que estamos fazendo é apostar na intuição como referência no desenvolvimento sensorial e performático do dançarino.

Alguns conceitos de intuição estão explicitados por Sillamy sendo o mais simples, aquele que a define como uma “[...] compreensão imediata e sem reflexão da realidade. ” (1996, p.133) Prossegue definindo a intuição segundo a psicologia da Gestalt, que veremos com mais detalhes adiante, portanto, a intuição seria “[...] a apreensão direta de elementos organizados espontaneamente em um conjunto determinado. ” Para P. Sorokin (ibidem, p.133), “[...] é ‘uma espécie de iluminação instantânea e imprevisível’, que permite aceder diretamente à essência de um ente ou à solução de um problema. ” (Ibidem, p.133)Sillamy dá continuidade à conceituação de intuição citando Jung:

C.G. Jung fez dela uma função fundamental da psique, graças à qual subitamente nos é apresentado o conteúdo, em forma definitiva, sem que saibamos como ele foi construído. Essa capacidade não está distribuída igualmente pelos indivíduos, mas é um traço característico da criança e do primitivo. Nos adultos, alguns são particularmente intuitivos. São encontrados principalmente entre os escritores e os sábios. Vários pesquisadores ou matemáticos, como H. Poincaré sublinharam o papel preponderante desempenhado pela intuição como ponto de partida de suas descobertas ou de suas invenções. Em psicologia, é essencial a intuição. Graças a ela, o clínico é levado ao coração do sujeito, apreendendo “o que tem de único e, por consequência, de inexprimível” (H. Bérgson). Mas, por este mesmo motivo, porque frequentemente os dados intuitivos não são verificáveis, muitos dos participantes desconfiam da intuição, que tentam substituir por métodos racionais. (Ibidem, p.133)

O insight, um termo de língua inglesa que não possui equivalente em português, a não ser, de maneira aproximada, a palavra compreensão, pode-se definir como uma compreensão súbita de uma determinada situação, que pode vir a clarificar, através de uma organização de elementos, aquilo que desejamos, conscientemente ou não. Esta definição coloca o insight muito próximo da intuição, o que faz com que muitos autores se utilizem

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dos dois termos para indicar a mesma coisa. (Ibidem, p.130) Arnheim coloca a intuição como função da cognição, junto com o intelecto (1989, p.97). Ver tópico do Capítulo III, A Importância da Intuição e do Intelecto para o conhecimento.

A EDUCAÇÃO COMO PROPÓSITO

O que é a verdade? Uma pergunta difícil: mas eu a respondi para mim mesmo dizendo que é o que aquela “voz interior” fala com você. Mahatma Gandhi

Tag: Cida Linhares Tube: Patries Clean

A educação situando-se como processo entre o dançarino e a dança, deve ser sempre o propósito, tanto do professor, quanto do aluno. O papel do professor é educar. Mas, o que é educar? Além de tudo que implica a ação do educador, é fundamental que o professor estimule, motive e facilite o aluno a explorar todo seu potencial. Ter sempre como objetivo a superação de limites, com amor, proteção e principalmente compreensão, num ambiente favorável, não só do ponto de vista ambiental–espacial, como do psicológico–emocional.

Infelizmente, nós educadores, ocupamo-nos da didática, da metodologia e da técnica, deixando de lado, quase no esquecimento, a psicologia, tão pouco estudada e explorada nos processos educacionais de forma geral. De pouco adianta estudarmos a matéria Psicologia Aplicada à Educação no curso de Licenciatura em Dança se não a aplicamos a nós mesmos, a nossos próprios processos de aprendizagem. Ao aplicarmos a psicologia, encontramos respostas para muitos questionamentos que surgem ao longo da profissão de educador como: O que fazer para que o aluno de dança descubra o seu caminho na profissão? Como levá-los a obter sucesso com a dança? Como fazê-los atingir seu público com uma comunicação eficaz? Qual a sua meta em relação à dança? Como cumprir os objetivos para alcançá-la? São suas atitudes coerentes para a consecução desses objetivos? Quais os impedimentos para tal? Como usar a dança como forma de expressão? Sem o autoconhecimento, ou, sem a tomada de consciência do nosso próprio processo psicológico

de vida, dificultamos a expansão do self. Estudamos praticamente tudo numa escola hoje, menos como nos perceber e

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que mexem com nossa emoção, como nos aceitarmos como somos ou como estamos, e principalmente, como assumirmos nossas responsabilidades. Enfim, como termos a percepção do universo como um todo e de nós mesmos como parte integrante dele. Esta percepção, além de nos dar um autoconhecimento, pode nos fazer enxergar a realidade, nos habilitar a aceitá-la quando nos fizer bem, e nos dar forças para mudá-la, quando assim o quisermos. Portanto, tudo que interage com o aprendizado da dança e a performance do aluno, diz respeito à educação. O comportamento do aluno, ou seja: seus sentimentos, pensamentos e ações, são relevantes e fazem parte do todo. A Psicologia do Espectro pode nos dar uma ajuda relevante, nos situando na relação Eu-Cosmos. Vejamos a seguir.

PSICOLOGIA DO ESPECTRO

O homem é livre de tudo o que sabe e escravo de tudo que ignora. Rohden

Tag: Cida Linhares Imagem: Luz Cristina

Um dos sistemas didáticos segundo Carlos Antônio Fragoso Guimarães, que procura integrar os diferentes insights das várias escolas psicoterapêuticas do ocidente, assim como as várias abordagens orientais é a recente Psicologia do Espectro, proposta por Ken Wilber, como um modelo da compreensão transpessoal das diferenças entre psicoterapias. Neste modelo, cada uma das diferentes escolas ...

[...] é vista como uma faixa que se dedica a um aspecto específico do total a que se pode apresentar a consciência humana. Cada uma dessas escolas aponta para um estado de consciência que se caracteriza por possuir um diferente senso de identidade, indo da pequena identidade restrita ao ego até à suprema identidade com todo o universo, que é o nível extremo da consciência transpessoal. (Ver: A Psicologia Transpessoal, no site: http://.com/Vienna/2809/psicho.htm, 1996)

A Psicologia do Espectro classifica os estados de consciência entendidos em quatro níveis: o do ego, o biossocial, o existencial e o transpessoal.

1. No nível do ego: “a pessoa não se identifica, a rigor, com o seu organismo, mas com uma representação mental, ou com um conceito do mesmo, como uma autoimagem construída, ou egóica. ” Segundo Guimarães, este é “um problema de identificação com um modelo que a pessoa aceita, num investimento, como sendo seu ‘eu’”. Para esta pessoa, existe um “eu” que é independente e diferente de tudo e de todos. Para ela,

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não existe um interesse em “[...] cultivar relações interpessoais sem que haja uma ‘vantagem’ específica para o ego [...]” nem se preocupa com aspectos ecológicos ou sociais.

2. No nível biossocial: Já envolve a consciência e a pessoa já se preocupa com o nível e os aspectos do seu ambiente social. Já se sente parte desse ambiente e também sente ter alguma responsabilidade por ele e pelo ambiente natural.

3. No nível existencial: É o nível dos ideais humanistas, do organismo total, caracterizado por um senso de identidade auto–organizador do corpo–mente. Emoção e razão andando juntos, mais ou menos associadas para um desenvolvimento e crescimento das potencialidades do homem, desde que os meios sejam (razoavelmente) propícios. O pensamento se torna mais sofisticado, em termos de filosofia de vida. Um alto grau de desenvolvimento moral é frequentemente associado a este estágio.

4. No nível transpessoal: O senso de identidade se torna mais amplo, ultrapassando as barreiras do Ego, “É o nível do inconsciente coletivo e dos fenômenos que lhe estão associados, tal como descrito por Jung e seguidores.” Ainda segundo Guimarães, é neste nível de percepção que:

[...] podem – mas não necessariamente ocorrem ou são regra geral próprias de uma percepção transpessoal – surgir, como eventos secundários, certos fenômenos parapsicológicos, como telepatia, precognição ou – o que não tipifica um fenômeno parapsicológico, mas sim psicológico – lembranças de vidas passadas. [...] Essa forma de consciência transcende, e muito, o raciocínio lógico convencional, e aproxima-se das assim chamadas experiências místicas. E é este estado que é objeto mais íntimo de estudo da Psicologia Transpessoal. (Ibidem, internet)

Este pequeno esquema, que aponta vários níveis da consciência humana, além de nos possibilitar situar as diversas psicologias existentes, poderá contribuir para uma auto- avaliação de identidade. Ele servirá de base para o desenvolvimento da pesquisa, já que esta se propõe, a conscientizar o ser e o estar de cada aluno como indivíduo, como parte integrante de um todo, pertencente ao cosmos. Acreditamos que o nível transpessoal seja o nível que almejam os artistas, para que a construção da sua arte esteja sempre livre de amarras.

Partimos do pressuposto de que, através do estudo da psicologia e do trabalho de técnicas psicoterapêuticas de auto–ajuda, o aluno poderia detectar, para futuramente resolver, alguns bloqueios psicológicos que interferem no desenvolvimento expressivo da sua dança. Depois do racionalismo positivista, que postergou, por vários anos, o

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desenvolvimento do conhecimento científico a respeito da nossa parte sensorial e extra– sensorial, surge um novo humanismo. Este qualifica a intuição ou insight como um discernimento, um pensamento superior, quando surge a solução de um problema que, de modo geral, se dá de forma repentina. A intuição funciona quando, sem estarmos nem mesmo atentos, temos um pressentimento, ou um momento de luz, um conhecimento claro e direto da solução de um problema, sem que necessitemos do auxílio direto do raciocínio. A referência da intuição para o desenvolvimento da sensibilidade, deverá ajudar a conscientizar os alunos dos bloqueios que impedem a expressão do movimento na interpretação coreográfica do dançarino. Sua busca ao autoconhecimento e o aumento da autoestima e da autoconfiança, podem contribuir para o desenvolvimento da sua personalidade que ainda está em formação (ver Jung, 1986, p.177). Pretendemos, além de detectar pontos de bloqueios psicológicos através de problemáticas não resolvidas no passado, dar embasamento teórico, para que conscientemente, os mesmos problemas possam ser estudados. Este estudo teórico-prático será dirigido com a intenção de conscientizar, os próprios alunos, de seus bloqueios psicológicos, pelo menos os mais percebidos por eles. Utilizando o estudo da Análise Transacional, da Gestalt Terapia e da Psicologia Transpessoal, que dão enfoque às relações interpessoais, buscamos expandir a consciência para além das fronteiras do “eu”. Dando ênfase ao indivíduo, esperamos contribuir para o crescimento da sua autonomia nos processos de criação e encenação dos quais venha a participar.

Desenvolver uma prática de ensino com os alunos da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia, que possibilitasse, através do autoconhecimento, o seu desenvolvimento sensorial, ou seja, o desenvolvimento da intuição, percepção, dos sentidos, da expressão das emoções e sensações, criatividade e outros, foi nosso objetivo. Utilizando, como base de conhecimento, e de autoconhecimento, os dez instrumentos da Análise Transacional, pretendemos dar subsídios aos alunos para detectarem bloqueios psicológicos que possam estar interferindo no seu aprendizado e na sua performance.

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A IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA PARA O ENSINO

E APRENDIZADO DA DANÇA

Apostando na razão como única forma de estruturar os padrões de comportamento e tomada de decisões (racionalismo), a humanidade postergou por anos a capacidade de intuir dos seres humanos, ocultado pelo lucro e governado pelo medo ao erro. Edgardo Musso

Tag: Cida Linhares

Imagem: Mara Pontes

O aluno atingir a universidade, em nosso país, já é uma grande vitória. Conseguir concluir o curso, outra. Estar apto para enfrentar problemas, sejam de ordem político– social, dentre outros, é mais uma. Mas, estar apto para enfrentar a vida com a profissão escolhida, deverá ser a maior de todas elas, e isto é, em parte, responsabilidade dos educadores. Para Jung, personalidade é....

[...] a realização máxima da índole inata e específica de um ser vivo em particular. [...] Personalidade, é a obra a que se chega pela máxima coragem de viver, pela afirmação absoluta do ser individual, e pela adaptação, a mais perfeita possível, a tudo que existe de universal, e tudo isto aliado à máxima liberdade de decisão própria, o que requer-se para tanto uma vida inteira de uma pessoa. (O desenvolvimento da Personalidade, 1986, p.177)

Ao tempo em que o aluno de graduação encontra-se normalmente num processo de desenvolvimento da personalidade, ele necessita tomar decisões quanto o seu futuro profissional. Com esta responsabilidade, às vezes prematura, da escolha da profissão, ele sai em busca de um embasamento para sua vida profissional, criando expectativas e incertezas, das quais podem surgir conflitos.

Muitos são os psiquiatras, psicólogos e psicoterapeutas que veem fazendo pesquisas nos campos da ciência, da arte e da personalidade humana. Algumas pesquisas científicas relativas à criatividade e intuição na arte foram realizadas, principalmente, pelos adeptos e seguidores da psicologia humanista, tendo como base o trabalho de Jung, que influenciou Carl Rogers, Maslow, Rollo May, dentre outros (ver Carlos Antônio Fragoso Guimarães, 1998). Na dança, especificamente, encontramos artistas que explicam sobre as relações entre a Dança e a Psicologia e a necessidade dessa interação. A dança terapia, abordada por Maria Fux, enfoca:

A mobilização, tanto com crianças como com adultos, é sempre de caráter psicológico, mas isto não implica uma posição terapêutica preestabelecida. Melhor a chamaria de profilática. Se se utiliza o conceito psicológico, não é habitualmente para curar ninguém, mas para que esse alguém se ponha a salvo

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do risco da enfermidade; e enfermidade nesses casos seria não reconhecer o corpo, sua possibilidade expressiva e sua evolução em relação à idade que se tem. Mas, em alguns casos, meu trabalho de comunicação e de expressão com o corpo se complementa com um tratamento psicoterapêutico, que faço com médicos especializados. (Capítulo IV 1983, p.97)

A sensibilização do corpo para o desenvolvimento da expressão e em consequência da comunicação é fundamental para o dançarino que utiliza como instrumento principal de trabalho o próprio corpo. Mas, Maria Fux só se utiliza da psicoterapia em alguns casos. Ela descobre com suas experiências na dança terapia que: “O movimento, [...] revela no espaço a psicologia profunda do indivíduo.” E que: “[...] é possível desenvolver não só a parte física mas também a psíquica, estimulando-os a um reencontro que produz descarga e alegria.” (Fux, capítulo IV 1983, p.97) A mesma autora, no capítulo Novas Buscas em Educação, já dizia:

Algo deve ser feito para que o aluno possa ampliar seus referenciais do mundo e trabalhar, simultaneamente, com todas as linguagens (...) A derrubada dos muros da escola poderá integrar a educação ao espaço vivificante do mundo e ajudará o aluno a construir sua própria visão do universo. (Ibidem, p.97)

Klauss Vianna (no seu livro A Dança, capítulo VI), relaciona assuntos da psicologia com a dança. Vejamos:

É certo que são maiores as possibilidades de resolvermos nossos problemas à medida que conseguimos formulá-los. Contudo esse processo quando aplicado somente ao corpo, é insuficiente. O trabalho corporal tem uma dimensão terapêutica na medida em que toma o corpo como referência direta da nossa existência mais profunda. [...] É difícil vivenciar nossas emoções e sentimentos mais profundos. Por vezes, esse enfrentamento assume a conotação de um risco, que nem todos estamos dispostos a enfrentar. (1990, p.55)

A integração da dança com a psicologia, portanto, já foi tratada por vários autores. O que gostaríamos de acrescentar a este trabalho é uma metodologia capaz de conscientizar alunos e professores da necessidade desta integração. Esta metodologia deverá possibilitar o desenvolvimento de meios que ajudem os alunos a superarem bloqueios de aprendizagem, durante o ensino das técnicas corporais, com o objetivo performático. Carl Rogers, terapeuta transpessoal e um dos estudiosos e pesquisadores da criatividade, acredita que: “[...] sua fonte parece ser a mesma tendência que se observa como força curativa na psicoterapia – a tendência do homem para atualizar–se, para concretizar suas potencialidades.” (Apud Alice de Alencar, 1995) Ele acredita também que a criatividade é gerada apenas por uma pessoa saudável psicologicamente. Acreditamos que a busca pela criatividade deva ser iniciada pelo caminho inverso ao que sempre fizemos, ou seja: o

Referências

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