• Nenhum resultado encontrado

O bom treinador de futebol. Uma perspetiva de alunos do Ensino Secundário praticantes de futebol federado

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O bom treinador de futebol. Uma perspetiva de alunos do Ensino Secundário praticantes de futebol federado"

Copied!
96
0
0

Texto

(1)

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

2º CICLO EM ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

NOS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO

O Bom Treinador de Futebol.

Uma perspetiva de alunos do Ensino Secundário praticantes de

futebol federado.

Tiago Xavier Leitão Murtinheira

Orientador: Professor Doutor Antonino Manuel de Almeida Pereira

(2)
(3)

UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA

NOS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO

O Bom Treinador de Futebol.

Uma perspetiva de alunos do Ensino Secundário praticantes de Futebol

Federado.

Tiago Xavier Leitão Murtinheira

Orientador: Professor Doutor Antonino Manuel de Almeida Pereira

(4)
(5)

Dissertação apresentada à UTAD, no

DEP

– ECHS, como requisito para a obtenção do

grau de Mestre em Ensino de Educação Física dos

Ensinos Básico e Secundário, cumprindo o

estipulado na alínea b) do artigo 6º do regulamento

dos Cursos de 2ºs Ciclos de Estudo em Ensino da

UTAD, sob a orientação do Professor Doutor

Antonino Manuel de Almeida Pereira.

(6)
(7)

VII

Agradecimentos

Apesar do caráter individual inerente à realização deste trabalho, a sua concretização só foi possível com o apoio de algumas pessoas, pelo que não poderia deixar de expressar os meus mais sinceros agradecimentos.

Ao Professor Doutor Antonino Pereira, pelo seu apoio, acompanhamento e sugestões conducentes na realização deste trabalho.

Aos coordenadores da formação e treinadores por me terem permitido realizar o meu estudo nos seus clubes.

A todos os atletas entrevistados pela sua disponibilidade e colaboração.

(8)

VIII

Resumo

O treinador desempenha um papel de elevado significado na vida dos jovens seres. A sua influência consegue ser mais forte do que aquela que é conseguida por muitos pais. As suas funções são tão vastas e específicas que se justifica a realização de investigações centradas nas mais diversas áreas da sua intervenção profissional.

Assim sendo, este estudo teve como principal objetivo identificar os aspetos que caraterizam o bom treinador de jovens, segundo a opinião dos alunos do Ensino Secundário, praticantes de futebol federado.

A investigação centrou-se em 16 atletas de 4 clubes do escalão Juniores A da região centro do país e que competem nos campeonatos nacionais: Académico de Viseu Futebol Clube, Clube Desportivo de Tondela, Grupo Desportivo de Oliveira de Frades e Sport Clube Beira-Mar.

A natureza descritiva e exploratória do estudo justifica a opção pelo método qualitativo, recorrendo-se às técnicas de análise de conteúdo para a análise de dados e utilizando-se a entrevista como instrumento de recolha de dados.

Os principais resultados deste estudo, revelam que relativamente ao conceito de treinador, os atletas referem que deve ter fortes preocupações e interesse com a formação global do atleta. Deve ser um líder, uma pessoa com a função de gestor, orientador e coordenador de todo o processo de treino. É importante formar jogadores, prepará-los para a competição, que os faça evoluir ao máximo e ter um conhecimento aprofundado em diversas áreas do desporto. Têm que saber ensinar, ou seja, tem que utilizar estratégias adequadas de modo a promover a evolução dos atletas.

Quanto ao conceito de treinador de jovens excelente, indicam que o treinador deve ter uma preocupação pela formação global, preocupar-se e estar presente na vida social dos atletas. Não se deve focar apenas na vitória, mas sim fazer evoluir os atletas, formar jogadores. O treinador deve ser um conhecedor do futebol, deve ter conhecimentos específicos da modalidade. Os atletas mencionam que formar pessoas é outro aspeto relevante no treinador, como a transmissão de valores e ideais corretos. É importante ser um bom comunicador, utilizar uma comunicação adequada, concreta e direta. Deve conhecer o escalão etário, os problemas, angústias, receios e dificuldades por que passam os jovens.

No que se refere às 7 caraterísticas enunciadas por Janssen e Dale (2002), verificamos que as valorizadas maioritariamente como muito importante pelos atletas foram: competente, potenciador de confiança e ser comunicador.

(9)

IX

Abstract

Coaches play a highly significant role in the lives of young beings. Their influence can be stronger than that which may be achieved by many parents. Their functions are so vast and specific that they justify research focused on the most diverse areas of their professional intervention.

Thus, this study has as its main objective to identify the aspects that characterise a good coach of young people, in the opinion of secondary school students, players of organised football.

The research focused on 16 athletes from 4 Junior Clubs, level A, in the central region of Portugal who compete in the national championships: The Académico de Viseu Football Club, Sports Club of Tondela, Sports Group of Oliveira de Frades and Beira-Mar Sports Club.

The descriptive and exploratory nature of the study justifies the choice of a qualitative method, making use of the techniques of content analysis in order to analyse the data, and using interviews as a tool for data collection.

The main results of this study show that as far as the concept of sport coaches is concerned, athletes report the latter should have strong concerns and interests with the overall training of the athletes. The coach must also be a leader, a person with a managing role, a supervisor and a coordinator of the complete training process. It is important to coach players, to prepare athletes for competition, making them evolve to their fullest and have a thorough knowledge in the various fields of sport. Coaches also have to know how to teach, i.e., they must use appropriate strategies to promote the development of athletes.

The concept of excellent coaches of young people indicates as well that coaches should have a concern for their overall training and that they should worry and be present in the social life of the athletes. They should not focus solely on the victory, but on developing athletes, educating football players. Coaches must have a good specific knowledge of football. Athletes mention that educating people is another important aspect of training, such as the transmission of values and the correct ideals. It is important for coaches to be good communicators, using adequate, practical, and direct forms of communication. Coaches must have a good knowledge of the age group, as well as of the problems, anxieties, fears and difficulties that young people experience.

Regarding the seven characteristics mentioned by Janssen and Dale (2002), we find that the ones that are mainly appreciated as being very important by athletes were: to be competent, to be reliable and to be a good communicator.

(10)

X Índice Geral Agradecimentos ... VII Resumo ... VIII Abstract ... IX Índice Geral ... X Índice de Quadros ... XI 1. Introdução ... 12 1.1 Apresentação ... 12 1.2 Enquadramento do Tema ... 15

1.3 Justificação e Pertinência do Estudo ... 17

1.4 Objetivos ... 20

2. Revisão da Literatura ... 22

2.1 O Treinador: conceitos e intervenção ... 22

2.1.1 Enquadramento Legal da Atividade de Treinador ... 23

2.1.2 Referenciais de Formação ... 29

2.1.3 A Intervenção do Treinador ... 33

2.1.3.1 Competências ... 33

2.1.3.2 Estudos Realizados ... 38

2.2 A Excelência na Educação Física e Desporto ... 40

2.2.1 O Treinador Excelente (competências e investigações efetuadas) ... 42

3. Metodologia ... 49 3.1 Campo de Estudo ... 49 3.2 Instrumento de Pesquisa ... 49 3.2.1 Entrevista ... 49 3.2.2 Entrevista Semi-Estruturada ... 50 3.3 Procedimentos ... 51

3.4 Técnica da Análise de Dados ... 51

4. Apresentação e Discussão dos Resultados ... 54

5. Conclusões ... 76

6. Sugestões para futuros estudos ... 80

7. Bibliografia ... 81

Anexo ... 92

(11)

XI

Índice de Quadros

Quadro 1 - Funções do Treinador(a) (IPDJ, 2013) 29

Quadro 2 - Carga Horária dos Diferentes Graus (IPDJ, 2013) 31

Quadro 3 - Categorias indicadas por Gluch (1997) para caraterizar o treinador de excelência 43

Quadro 4 - Categorias indicadas por Orlick (2000) para caraterizar o treinador de excelência 44

Quadro 5 - Categorias indicadas por Janssen e Dale (2002) para caraterizar o treinador de excelência 45

Quadro 6 - Categorias acerca do conceito de treinador 54

Quadro 7 - Nº de treinadores enquanto atletas federados 58

Quadro 8 - Nº de bons treinadores enquanto atletas federados 59

Quadro 9 - Caraterísticas treinadores indicadas como bons 59

Quadro 10 – Numero de atletas que já tiveram excelentes treinadores 63

Quadro 11 - Caraterísticas dos treinadores excelentes 64

Quadro 12 - Caraterização do treinador de jovens excelente 67

Quadro 13 - Valorização e justificação da caraterística Ter Caráter 72

Quadro 14 - Valorização e justificação da caraterística Ser Competente 72

Quadro 15 - Valorização e justificação da caraterística Comprometido 73

Quadro 16 - Valorização e justificação da caraterística Cuidadoso 73

Quadro 17 - Valorização e justificação da caraterística Potenciador de Confiança 74

Quadro 18 - Valorização e justificação da caraterística Comunicador 74

Quadro 19 - Valorização e justificação da caraterística Consistente 75

(12)

12

1. Introdução

1.1 Apresentação

“No desporto, na coragem e à vista do céu, todos os homens se encontram em termos de igualdade” (Winston Churchill, citado em Bento, 2013, p.4)

Nos últimos tempos tem-se vindo a assistir a uma pluralização do desporto, tanto no que respeita à natureza das suas práticas como nas pessoas nele envolvido (Garcia, 2012).

O Desporto tem então, uma importância que ultrapassa aquilo para que aparentemente foi fundado, sendo legítimo abordar a temática da transcendência humana, tentando inscrevê-la no universo do movimento olímpico (Garcia, 2012).

Não custa aceitar que a busca da transcendência tem sido um dos desejos mais profundos do homem desde o início dos tempos. Através de inúmeras formas, o ser humano sempre tentou romper com os seus limites (até teve de “inventar” a palavra infinito para poder tentar ir mais além), de superar e violar interditos, de projetar-se no além uma vez que a simples existência quotidiana não lhe conferia a consecução do seu projeto de humanidade (Garcia, 2012).

São muitos e variados os mecanismos que ao longo dos séculos o homem encontrou para se transcender. O desporto é uma dessas atividades que, à sua maneira, busca a transcendência, constituindo-se como mais um modo de dar continuidade a esta impressionante história humana. O desporto permite que o homem transcenda de alguma maneira a sua natureza, procurando os já referidos limites – nunca alcançados, pois atrás de um limite sobrevém logo outro que se quer almejar – que só serão alcançados pelo esforço continuado (Garcia, 2012).

O desporto permite viver uma parte da concretização deste sonho da transcendência que é talvez o mais secreto e, qual paradoxo, evidente desejo das nossas vidas. Viver mais tempo, ter mais saúde, ser mais feliz, são algumas das amplas possibilidades de busca infinita de um projeto de vida (Garcia, 2012).

A trilogia olímpica é um apelo à transcendência humana. As palavras citius, altius e fortius, corretamente traduzidas por mais rápido, mais alto e mais forte, nada mais são do que um apelo à busca de algo que está para além de nós próprios. É um chamamento eterno do homem ao infinito, um convite para que cada um tente ser melhor em cada dia que passa. O desporto, visto através deste lema olímpico, é uma constante procura da excelência humana. Não basta nascer para se ser homem: é também necessário aprender e crescer. A aprendizagem por meio da comunicação com os semelhantes e da transmissão deliberada

(13)

13

de critérios, técnicas, valores e recordações é um processo necessário à aquisição da plena estatura humana (Savater, 2006).

O homem é um ser que não nasce completo. Vai sendo feito à medida que o é. Mas esta constante construção humana reveste-se de uma particularidade única. Qual metáfora, o homem é uma escultura. Mas também é a pedra dessa escultura. E é a ferramenta que esculpe a pedra, sendo igualmente, e acima de tudo, o escultor (Garcia, 2012).

O lema olímpico convoca para a sua compreensão todos estes níveis de existência. O atleta não nasce campeão, antes torna-se campeão. Ao buscar o citius, altius e o fortius, o atleta age como um escultor em busca da obra perfeita. E só chega a essa obra se treinar, treinar e treinar. Só com o esforço repetido se alcança a excelência ou a perfeição. Que lição dá a trilogia olímpica ao mundo. Que enorme grito de esperança por um homem melhor nos consagra o movimento olímpico, sendo que a ideia do record é a expressão mais evidente desse salto na transcendência (Garcia, 2012).

Neste sentido, Pires (2007) afirma que o desporto é um instrumento de desenvolvimento humano.

Garcia (2012) pede que imaginemos um mundo regido por estes valores humanos. Que bela seria essa existência. Seria o mundo da Utopia criado por Thomas Morus. Porém, está longe, muito longe deste sonho quimérico mas o desporto, sem sombra de dúvida, é a atividade humana que mais se aproxima desta fantasia utópica. Sim, porque o desporto é uma fantasia levada muito a sério por todos em volta do mundo. Sim, porque o desporto é um sonho que se realiza a cada momento. Sim, porque o desporto é o absurdo mais verdadeiro que se pode conceber.

Muitas vezes o desporto é intensamente atacado, tomando a globalidade os defeitos de uma pequena fração de indivíduos que, sem escrúpulos, agem com pouca retidão. Nada mais incorreto do que esta visão global a partir de atos isolados. O desporto não foi pensado para se fazer batota mas para se agir em conformidade com os seus valores, tal como a religião não foi pensada para se cometerem crimes e em nome de um qualquer Deus milhares de crimes já aconteceram. Vale a pena relembrar os princípios da Revolução Francesa, liberdade, fraternidade e igualdade e pensar nos milhares de mortos que ocorreram em nome desta utopia (Garcia, 2012).

O desporto é o paradigma da verdade, da ética. O desporto é uma forma do homem procurar os seus limites com a consciência que a cada passo que vier a dar, outro se seguirá até que um dia se extinga, pelo que os grandes valores do desporto persistirão até ao fim dos tempos. É por isso que o movimento olímpico – verdadeiro repositório dos valores desportivos – perdurará pelos menos tantos séculos como aqueles que já tem, cerca de 29, uma vez que o primeiro registo conhecido sobre o olimpismo data de 776 a.C. Só uma atividade edificada com uma estrutura ética indestrutível é que poderia resistir a tanto tempo, a tantas convulsões

(14)

14

e a tantos ataques rasteiros. Há 29 séculos que o desporto do mais elevado nível convida o homem a buscar o infinito. Importa ainda frisar que a vivência da ética desportiva pode ser conseguida a muitos níveis. Um campeão olímpico pode não se esforçar mais do que um jogador amador que participa num qualquer campeonato regional. Aquilo que se busca é semelhante, embora repousado em condições diferenciadas, da mesma forma que um cardeal pode não ter mais fé do que uma simples pessoa de aldeia (Garcia, 2012).

De acordo com o autor, é baseado em muitos destes argumentos que consideramos que o desporto se assume hoje como uma impressionante escola de virtudes. Desporto e ética estabelecem uma ligação íntima, indestrutível e imprescindível.

O Desporto e a Educação Física têm um papel vital em todos os níveis da sociedade. Para o indivíduo, o Desporto melhora as suas habilidades pessoais, a saúde em geral e o auto-conhecimento. A nível nacional, contribui para o crescimento económico e social, melhoria da saúde pública e manutenção de diferentes comunidades sociais. A nível global, se usados de forma consistente, o Desporto e a Educação Física podem ter um impacto positivo e duradouro no desenvolvimento, na saúde pública, na paz e no meio ambiente (ONU, 2005).

O mundo do desporto é fascinante. É talvez a atividade cultural com maior força simbólica no mundo contemporâneo. Ninguém lhe fica indiferente. De uma forma ou de outra, consciente ou inconsciente, direta ou subtilmente o desporto embrenha-se nas nossas vidas, condicionando-a em diversas ocasiões tendo mesmo capacidade de parar o mundo para que as pessoas possam assistir a algumas das suas mais impressionantes manifestações, sobretudo os campeonatos do mundo de futebol e as competições mais emblemáticas dos Jogos Olímpicos (Garcia, 2013).

Sempre que corretamente orientado no plano social e pedagógico, o desporto representa um dos principais meios educativos e formativos dos cidadãos, com imprescindíveis contributos no âmbito da promoção da saúde e do rendimento profissional das populações, da formação multilateral da juventude, da melhoria da qualidade de vida, no preenchimento do tempo livre ou como fator de desenvolvimento sociocultural e turístico (Araújo, 1998).

Garcia (2013) refere ainda que o poder político não consegue resistir aos encantos – quais chamamentos de sereias – do desporto, assumindo este funções de exaltação de uma região, de um país ou de um regime político. Ao longo da história são inúmeros os exemplos destas manipulações do desporto, com realce para o regime nazi que transformou os Jogos Olímpicos de 1936 numa glorificação da “raça” ariana. Mais perto de nós, espacial e temporalmente, temos o exemplo do Barcelona que se assume como muito mais do que uma equipa de futebol, fazendo parte de um combate com contornos políticos, culturais, económicos e sociais da Catalunha em relação ao reino de Espanha. O Barcelona, talvez sem

(15)

15

ser responsável por este simbolismo, é visto como uma bandeira da pretensão autonómica de um povo ibérico, mesmo que uma boa parte dos seus jogadores pouco ou nada tenham a ver com essa região de Espanha.

O Futebol foi assumindo gradualmente um papel de relevo no panorama desportivo mundial, ao ponto de se ter transformado na modalidade desportiva mais popular do Mundo. E um fenómeno de atração de massas inigualável e, também por isso, um fator de humanização das sociedades (Oliveira, 2004).

De uma forma verdadeiramente notável, em nenhum outro domínio ou contexto, como no desporto, encontramos tantos indivíduos (crianças, jovens e adultos) que voluntariamente se sujeitam e “subjugam” à autoridade de uma pessoa ou duas pessoas: os(as) seus(suas) treinadores(as) (Chelladurai, 1984; Cruz & Gomes, 1996, citado em Cruz et al., 2001).

É particularmente saliente a confiança depositada pelos seus atletas na capacidade do treinador e nas suas técnicas motivacionais, para atingirem objetivos pessoais (Cruz et al., 2001).

Como salientam Smoll e Smith (1984, citado em Cruz et al., 2001), a relação treinador-atleta determina a forma como os treinador-atletas são afetados pela sua participação no desporto. Se é verdade que a influência do treinador vai muito além do contexto desportivo (interferindo na vida, desenvolvimento e crescimento pessoal dos atletas), também é verdade que muitos treinadores, sobretudo por falta de formação e informação, não têm uma consciência clara de como e até que ponto afetam os seus atletas (Cruz & Gomes, 1996, citado em Cruz et al., 2001).

1.2 Enquadramento do Tema

A escolha deste tema prende-se com o facto de ser do nosso especial agrado, pois somos uns apaixonados pelo futebol. Como refere Roberto Da Matta, inscrita no Museu do Futebol, Estádio Pacaembu, São Paulo, (citado em Bento, 2013, p. 4) “ O amor ao futebol (…) não discrimina tipos físicos e classes sociais (…) O Futebol civiliza o pé. Ele mostra como a parte aparentemente mais atrasada e bárbara do corpo pode ser submetida não só às subtilezas do jogo, mas à civilidade do saber ganhar e perder sem ódio, de modo transparente e pelo esforço próprio (…) O ganhador não pode existir sem o perdedor, que terá o triunfo amanhã, mas que hoje na derrota valoriza e legitima a nossa vitória.”

Pereira (2003) realizou um estudo que tinha como objetivo caraterizar o treinador excelente em Portugal. Para isso estudou um grupo de três profissionais na área da Educação Física, utilizando a técnica de pesquisa qualitativa “Histórias de Vida”, onde concluiu que ser treinador requer atitudes e comportamentos perseverantes e ambiciosos e, acima de tudo, gostar muito do que se faz no dia-a-dia. Implica demonstrar grande disponibilidade para os

(16)

16

atletas e para o treino. O que impede, muitas vezes, de não ter fins-de-semana e férias, nem estar com a família.

Honestidade, motivação, empenho, autodisciplina, rigor, responsabilidade e superação, foram, e são, princípios que se revelam essenciais para que os treinadores aqui estudados pudessem atingir o sucesso.

Segundo Orlick (1999) criar um ambiente positivo é o começo daquilo que de bom a atividade desportiva pode proporcionar às crianças e aos jovens.

O trabalho que os treinadores desenvolvem com as crianças e jovens é extremamente importante, podendo influenciar as suas vidas de diferentes maneiras, de tal modo que, por vezes, essa influência consegue ser mais forte do que aquela que é conseguida pelos próprios pais. Desta forma, é notório o elevado significado do papel que desempenham na vida dos jovens seres humanos às suas “ordens” (Orlick, 1999).

Foram publicados estudos recentes sobre esta temática (Góis, 2013 e Góis & Esteves, 2013).

Góis (2013) refere que os comportamentos exemplares são os mais valorizados no treinador de jovens. Isto demonstra uma preocupação dos dirigentes no facto dos jovens admitirem os seus treinadores como modelos a seguir, tanto a nível futuro como, não menos importante, nos comportamentos a ter no treino e competição.

O estudo remete-nos ainda para que as questões mais ligadas para os valores éticos, sociais e culturais, indispensáveis sobretudo no treino de jovens, não tenham apresentado significado suficiente.

No estudo de Góis e Esteves (2013), estes indicam que para as escolas de formação, o atleta é o centro da questão, sendo as categorias participação, grau de satisfação, transmissão de valores educativos e sociais, esforço desenvolvido, as mais relevantes, em detrimento da vitória como forma de alcançar o sucesso nestas idades.

Ainda neste estudo, os clubes desportivos, em relação às escolas de formação, no âmbito do desporto infanto-juvenil, e no âmbito estudado, ou seja, a modalidade de futebol, demonstram pelos resultados do estudo, uma maior preocupação com o resultado desportivo numa primeira instância e nos benefícios para o clube por último.

Como estamos na área do treino e pretendemos continuar a trabalhar no futuro, pensamos ser de alguma importância a realização deste trabalho, pois nem sempre temos a ideia correta do que os jovens esperam dos treinadores, e nem sempre o trabalho que se faz com estes vai de encontro às suas expetativas, realizando antes as próprias expetativas dos adultos, treinadores, dirigentes, entre outros.

(17)

17

1.3 Justificação e Pertinência do Estudo

O futuro do futebol em Portugal passa por uma aposta cada vez maior na área da formação (Ferreira, 2011).

A crise económica que tem assolado o mundo nos últimos anos tem-se refletido em todas as áreas da nossa sociedade, não sendo o futebol exceção (Ferreira, 2011).

Esse facto tem motivado variadíssimos debates, congressos, colóquios e mesas redondas, sendo consensual a solução apresentada para a crise no fenómeno específico do futebol português: o futuro dos nossos clubes e do nosso futebol, diz-se, tem que passar por um maior e melhor investimento na formação (Ferreira, 2011).

Portugal é, e sempre foi incapaz de competir financeiramente com os mercados mais endinheirados do nosso continente (Espanha, Itália, Inglaterra e Alemanha). Os clubes portugueses apenas têm condições de disputar o 2º e 3º mercados (Ferreira, 2011).

A única hipótese que temos de poder discutir desportivamente com esses países é investir na formação de jogadores e assim conseguir, a baixos custos, jogadores de qualidade. Os clubes portugueses não possuem poder económico para poder competir de igual para igual, com os restantes parceiros europeus, por isso, terão que se adaptar a esta nova realidade e reestruturar o seu plano interno de desenvolvimento para o futebol (Ferreira, 2011).

Daí que se assista sem surpresa a um aumento do investimento na área do futebol de formação nos principais clubes portugueses, dotando-se de infraestruturas materiais e de recursos humanos cada vez mais bem apetrechados, procurando técnicos com competências específicas na área do treino com jovens, não o deixando à mercê do acaso ou de “mãos habilidosas” (Ferreira, 2011).

Os elevados orçamentos das equipas profissionais e as dificuldades dos clubes em gerar receitas que possibilitem uma gestão equilibrada, justifica a aposta nos escalões de formação, de modo a que os atletas possam, no final do processo de formação, integrar com sucesso a equipa sénior / profissional do clube (Ferreira, 2011).

“São Francisco de Assis dizia que aquilo que tem que ser feito, mais vale que seja bem feito. É como o desporto. Mas repare-se, que não defendo a vitória a qualquer preço. Seria uma atitude totalmente irresponsável de minha parte permitir ser assim interpretado. Não! O desporto tem limites, e essa colocação de limites podemos dar o nome de ética” (Garcia, 2011b, p. 14).

O desporto é, efetivamente, para ganhar, mas com a tomada de consciência que para tal aconteça alguém teve de perder. Assim, é tão importante treinar o atleta para lutar pela vitória como para aceitar a derrota (Garcia, 2011b).

(18)

18

Todos os agentes desportivos que trabalham com crianças e jovens devem ter consciência que nem todos atingirão o patamar do sucesso desportivo.

Por isso, como refere Gralha (2011), a prática desportiva quando equilibrada promove cidadãos sãos, responsáveis e respeitosos, o inverso é tremendamente perigoso e prejudicial, não só para os jovens praticantes de hoje mas sobretudo para os adultos de amanhã.

Muitos são já os estudos (Canal et al., 2010; Costa, 2005; Duarte, 2009; Esteves, 2009; Pereira et al., 2010; Santos, 2004; Santos, 2010) que abordam este tema do bom treinador de jovens ou que perfil / competências deve ter um treinador ideal da formação.

No entanto, nos nossos dias o treinador assume funções tão vastas e específicas que continua a justificar-se a investigação do seu comportamento nas mais diversas áreas da sua intervenção profissional. No caso do treinador de Jogos Desportivos, as suas tarefas atingem, ainda, maior expressão, por desenvolver o seu trabalho com uma equipa, geradora de complexidades adicionais (Rolla, 2008).

Canal et al. (2010) realizaram um estudo com o objetivo de verificar o nível de importância que os treinadores atribuem a um conjunto de competências e conhecimentos que fazem parte da modalidade de futebol; verificar o grau de satisfação relativamente à sua formação e verificar a auto-perceção do treinador relativamente às suas próprias competências e conhecimentos. Para tal foi utilizada uma amostra constituída por 35 treinadores que frequentaram o curso de Nível III de Treinadores de Futebol UEFA, 2009.

Concluíram que os treinadores atribuem uma maior importância a um conjunto de competências e conhecimentos tais como: o planeamento da sessão de treino em função das necessidades da equipa/grupo e do atleta em particular; a organização e condução da sessão de treino, garantindo um ambiente de trabalho seguro e produtivo; a avaliação e modificação do plano da sessão de treino, adaptando-o a circunstâncias imprevistas; a preparação do atleta/equipa para participar de forma digna e segura numa competição oficial e os conhecimentos sobre a gestão do treino (estruturação da sessão, tempo de treino e organização das atividades, gestão dos materiais e equipamentos).

Costa (2005) pretendeu identificar as perceções dos treinadores de futebol e dos dirigentes desportivos acerca do perfil de competências específicas dos treinadores, acerca das suas necessidades de formação bem como caraterizar as suas perspetivas relativamente à formação inicial e contínua, verificando a influência de variáveis como a idade, o nível de escolaridade, tipo de formação, experiência profissional, nível e anos de prática como atleta, comparando, ainda, as perceções de dirigentes e de treinadores.

Afirma que quanto mais elevado é o nível de escolaridade do treinador, maior é a importância atribuída às seguintes competências/conhecimentos: conhecimentos de avaliação da maturação biológica do indivíduo; conhecimentos sobre técnicas e estratégias pedagógicas; conhecimentos sobre as qualidades físicas; conhecimentos sobre os efeitos das

(19)

19

atividades e/ou exercícios físicos; capacidade para organizar e planear a prática da atividade desportiva; competências para reajustar a atuação profissional e possuir capacidade de se auto-analisar/avaliar.

Quanto mais elevado o nível de escolaridade, maior é a importância atribuída à obrigatoriedade da frequência de ações de formação de reciclagem.

Duarte (2009) realizou um estudo com objetivo de conhecer e analisar as conceções dos treinadores e jogadores de elite do futebol português relativamente ao sucesso desportivo do treinador.

Concluiu que o sucesso é entendido como dependendo de vários fatores/competências, nomeadamente os de motivação, estratégia, técnica e construção de caráter. Parece existir um “perfil” do treinador de sucesso em que os fatores psicológicos são os mais valorizados, seguindo-se os estratégicos e técnicos, com o caráter a apresentar menor relevância.

Esteves (2009) realizou um estudo que tinha como objetivos aceder ao modo como jornalistas desportivos e treinadores de futebol de alto rendimento em Portugal configuram a excelência no exercício da função de treinador de futebol e registar um conjunto de qualidades que, na opinião de jornalistas desportivos e de treinadores de futebol de alto rendimento em Portugal, são determinantes para que um treinador de futebol consiga chegar à excelência.

Concluiu que a totalidade dos jornalistas desportivos entrevistados considerou que os treinadores de excelência são aqueles que conseguem ter resultados desportivos de excelência. Apesar de não ter havido unanimidade, a grande maioria dos técnicos da amostra defendeu, também, que os treinadores de excelência são aqueles que conseguem resultados desportivos relevantes. Uma pequena percentagem dos técnicos entrevistados considerou não haver treinadores de excelência mas sim treinadores que fazem trabalhos de excelência em determinados momentos e em determinados contextos (clubes). Para os jornalistas e os treinadores entrevistados as qualidades que mais podem ajudar um treinador a chegar à excelência são: o conhecimento (quer empírico quer académico), a capacidade para motivar e a gestão de recursos humanos.

No artigo efetuado por Pereira et al. (2010), os autores tinham como objetivo analisar e caraterizar a atividade pedagógica do treinador de futebol ao nível da instrução nos treinadores de futebol, do escalão de juniores, na preleção de preparação para a competição. No global os treinadores da amostra transmitem mais informação com objetivo prescritivo (instruções que prescrevem atitudes e comportamentos para a competição), dirigido para a equipa e com conteúdo essencialmente tático e psicológico. No conteúdo psicológico, os treinadores de juniores transmitem maior número de informação ao nível da confiança e da responsabilidade. Isto leva-nos a perceber que uma das principais

(20)

20

preocupações do treinador na preleção de preparação para a competição, é transmitir confiança aos jogadores e responsabilizá-los com vista à eficácia do jogo.

Santos (2004) procurou observar a relação entre a perceção que os atletas têm do seu treinador, enquanto líder, e a coesão de grupo ao longo da época, procurando, da mesma forma, encontrar uma relação entre estas variáveis, a satisfação dos atletas e o rendimento das equipas.

Este menciona que para o alcance da performance, do sucesso e da satisfação, é fundamental que a liderança seja eficaz.

Santos (2010) com o seu estudo pretendeu caraterizar e comparar os comportamentos de instrução dos treinadores de seniores e jovens, bem como verificar a atenção dos jogadores ao jogo, informação emitida e correspondente comportamento motor reativo.

Do seu estudo, resultou que os treinadores de jovens e treinadores de seniores, os atletas, grupo de atletas e equipa demonstraram estar atentos à informação emitida, modificando o comportamento de acordo com a instrução fornecida. A caraterização efetuada nos dois grupos observados, permitiu verificar que os treinadores em competição procuram emitir instrução com o objetivo não só de motivar e incentivar, como também de ajudar os jogadores e equipa a cumprirem o plano tático-estratégico. Existe uma grande preocupação em avaliar/elogiar positivamente a execução dos jogadores, o que demonstra a atitude pedagógica dos treinadores na direção da equipa.

Analisando as sugestões e recomendações destes estudos, alguns apontam que se deve alargar o leque de inquiridos a outros agentes desportivos, tais como, jogadores (Costa, 2005) e comparar a importância de cada um dos fatores de sucesso em treinadores e jogadores de alto rendimento e amadores (Duarte, 2009).

Assim, atendendo aos estudos já efetuados e às suas sugestões, pensamos ser pertinente saber o que pensam os jovens atletas acerca do bom treinador de futebol, entrevistando alunos, praticantes de futebol federado.

1.4 Objetivos

Bento (2013) refere que é para ensinar e aprender o trato humano que o desporto existe e deve ser perspetivado. Necessitamos de avivar essa função, porque, adverte Fernando Savater (2000, citado em Bento, 2013, p. 4), “a humanidade depende em boa medida do que fazemos uns aos outros (…) Não há humanidade sem aprendizagem cultural, sem aprendizagem do trato humano, dos seus significantes e significados. Ser-se humano (…) consiste principalmente em ter relações com os outros seres humanos. (…) A vida humana boa é a vida boa entre seres humanos ou, caso contrário, pode ser que seja ainda vida mas não será nem boa nem humana.”

(21)

21

Ao treinador para as suas funções desportivas, exige-se o conhecimento das especificidades biológicas, psíquicas e sociais que marcam o desenvolvimento de crianças e adolescentes e que saiba utilizá-las na prática; uma prática enquadrada por princípios pedagógicos e referenciada a valores morais. Espera-se que prepare convenientemente os jovens desportistas para um futuro que não é apenas exigente em termos táticos, técnicos, psíquicos e físicos, mas obriga a uma cada vez maior formação moral para resistir a outros desafios que o desporto de alto nível lhes coloca (Teixeira, 2012).

O treino de crianças e jovens deve sempre contribuir para o seu desenvolvimento global e harmonioso nas vertentes física, intelectual, emocional e social, devendo proporcionar a todos a oportunidade de participar de forma regular em níveis de prática compatíveis com as suas capacidades e grau de maturação (Silva, 2011).

Assim, o objetivo deste trabalho é identificar os aspetos que caraterizam o bom treinador de jovens, segundo a opinião dos alunos do Ensino Secundário, praticantes de futebol federado.

(22)

22

2. Revisão da Literatura

2.1 O Treinador: conceitos e intervenção

A permanente e constante evolução em torno do processo de treino fez com que hoje se considere o treino como uma arte, uma ciência, uma vocação e uma profissão emergente (Ramírez, 2002).

Ser treinador é exercer uma atividade extremamente original. É uma personagem que apenas existe no desporto (Pereira, 2003).

Parece pertinente a caraterização dos treinadores em Portugal feita por Almeida (2001, citado em Brás, 2012a) ao referir que muitos conciliam a atividade de treinador com o ensino, outros encontram um trabalho remunerado relacionado com a sua modalidade desportiva mas muitos não podem contar com estas situações e têm de exercer várias funções em circunstâncias muito diferentes, muitas vezes sem qualquer relação com a sua atividade de treinador.

É uma figura central de um vasto e complexo sistema de relações e de influências que compõe a atividade desportiva (Pacheco & Garganta, 2001).

O treinador assume-se como a figura de destaque na liderança e operacionalização do processo de orientação e condução da equipa no treino e na competição. Contudo, o treinador super-homem é uma figura de ficção cuja intencionalidade de aparecimento público nada tem a ver com a necessidade real de, como ser humano igual a todos os restantes, aprender a conviver com os defeitos e virtudes que o caraterizam (Araújo, 2009).

“O treinador assume o papel de decisor, de gestão, de orientação e de direção de todo o processo do treino desportivo. O treinador tem que ser alguém possuidor de vasto reportório de experiências e saberes, já que nas últimas décadas formou-se um sistema muito complexo de conhecimentos sobre a atividade competitiva dos atletas, relacionados com a técnica, a tática e os fatores que influenciam o rendimento e eficácia dos atletas. A sua competência advém do domínio profundo da sua modalidade, de uma boa cultura desportiva, de sólidos conhecimentos sobre metodologia do treino, de fisiologia do esforço, de psicologia, entre outras disciplinas. Como agente de ensino assume enormes responsabilidades em termos educativos devendo estar apetrechado com as inerentes competências pedagógicas” (Curado, 1982; Sarmento, 1992; Saury & Durand, 1995 e Platonov, 2001, citado em Pereira, 2003, p. 55).

Deve não só orientar os treinos e as competições, como encorajar e disciplinar os seus atletas, avaliar o rendimento destes, além de saber enviar mensagens, saber ouvir os atletas, compreender a comunicação não verbal, gerir conflitos e confrontações (Leitão, 1999).

(23)

23

“Saber treinar, aprende-se… à custa de uma aprendizagem que se processa todos os dias e que se enriquece com todos os acontecimentos desportivos, culturais e sociais que o treinador consiga integrar na sua valorização como ser humano e cidadão. Saber treinar, aprende-se através de uma atitude que preza o saber que nos é transmitido em ações de formação, o saber adquirido na prática, o saber transmitido pelos outros treinadores, o saber discutido com os outros, o saber conseguido por muitas leituras, o saber alcançado pela reflexão, o saber divulgado pelas fontes do conhecimento científico e o saber criado pelos atletas” (Lima, 2000, p. 28).

O treinador é sempre a figura central deste processo de condução de uma equipa para uma mesma direção. Precisa de saber como motivar os seus jogadores, como lhes definir objetivos reais e desafiadores, como liderá-los de forma eficaz. A motivação é o ingrediente essencial para que qualquer atleta se predisponha a seguir o seu líder e a fazer cumprir os seus objetivos. Motivação é a direção e a intensidade do esforço, portanto não será possível ter um atleta devidamente motivado se ele não souber qual a direção que deve seguir e quais os obstáculos que deve destruir para lá chegar (Carvalho, 2011).

Segundo Araújo (1998) ser treinador implica um saber estar e um saber ser muito além dos necessários conhecimentos tático-técnicos da modalidade respetiva. A coerência e solidez da carreira do treinador dependem, fundamentalmente, da sua bagagem como motivador dos jogadores que integram as equipas que orienta e dirige.

O saber ser treinador, é um saber que se constrói a partir do momento em que se toma a decisão de querer conhecer o mais possível sobre a modalidade com a finalidade de transmitir aos jogadores todos os conhecimentos que contribuem para a valorização progressiva das respetivas prestações competitivas e o desenvolvimento da personalidade individual de cada um deles (Araújo, 1998).

2.1.1 Enquadramento Legal da Atividade de Treinador

A atividade de treinador/a de desporto tem vindo a tornar-se cada vez mais exigente e complexa, de que resulta a consequente necessidade de melhoria na qualidade e na robustez da sua formação, enquanto fator preponderante para uma melhor intervenção (IPDJ, 2013).

Os diferentes organismos que tutelaram o desporto em Portugal procuraram acompanhar esta tendência com a produção de vários documentos legais para a formação dos treinadores, cujo conceito se sustentava, ou numa maior intervenção da estrutura estatal (aquando do aparecimento do Instituto Nacional do Desporto – IND), ou numa completa transferência para as federações da responsabilidade de conceção e organização da formação dos seus treinadores, assumindo o Estado a responsabilidade de apoiar financeiramente estas iniciativas (IPDJ, 2013).

(24)

24

Para o nosso estudo vamos abordar de uma forma sucinta o Decreto-Lei n.º 407/99 de 15 de Outubro, a Lei nº 5/2007, de 16 de Janeiro - Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto e a Lei nº 40/2012 de 28 de Agosto.

É unanimemente reconhecido que um dos principais fatores de desenvolvimento do desporto é a qualidade dos recursos humanos que evoluem no seu seio, nomeadamente os treinadores desportivos (Decreto-Lei n.º 407/99).

O presente diploma articula-se com a Diretiva n.º 92/51/CEE, de 18 de Junho de 1992, relativa a um segundo sistema geral de reconhecimento das formações profissionais, que completa a Diretiva n.º 89/48/CEE, na medida em que se tem presente que a qualificação profissional certificada facilita o seu reconhecimento pelos Estados membros da União Europeia (Decreto-Lei n.º 407/99).

O presente diploma (Decreto-Lei n.º 407/99 de 15 de Outubro) estabelece o regime jurídico da formação desportiva, no quadro da formação profissional inserida no mercado de emprego, bem como o regime de certificação profissional no âmbito do Sistema Nacional de Certificação Profissional (Artigo 1º - Objeto).

Vamos mencionar os artigos 2.º, 4.º e 7.º pois pensamos serem os mais relevantes para o nosso estudo.

Artigo 2.º - Âmbito de aplicação:

“O regime instituído neste diploma aplica-se aos agentes desportivos que, remuneradamente ou não, desenvolvem a sua atividade na área do desporto e se enquadram nos recursos humanos do desporto ou nos recursos humanos relacionados com o desporto.”

Artigo 4.º - Conceitos:

“Para efeitos do presente diploma, entende-se por:

1) Formação profissional desportiva: o processo global e permanente através do qual se adquirem e desenvolvem as qualificações necessárias ao exercício de uma atividade na área do desporto;

2) Entidade certificadora: a entidade competente para emitir certificados de aptidão profissional e homologar cursos de formação profissional inserida no mercado de emprego, relativamente à área do desporto;

3) Entidade formadora: o organismo público ou a entidade dos setores privado ou cooperativo, com ou sem fins lucrativos, que assegura o desenvolvimento da formação a partir da utilização de instalações, recursos humanos, recursos técnico-pedagógicos e outras estruturas adequadas na área do desporto;

4) Perfil profissional: a descrição das atividades, competências, atitudes e comportamentos necessários para o exercício das profissões ou ocupações na área do desporto;

(25)

25

5) Perfil de formação: o conjunto de elementos definidores da formação adequada a determinado perfil profissional, compreendendo os objetivos, a organização, a duração, os conteúdos e as competências a obter no final da formação na área do desporto;

6) Recursos humanos do desporto: os indivíduos que intervêm diretamente na realização de atividades desportivas, a quem se exige domínio teórico-prático da respetiva área de intervenção, nomeadamente:

a) Treinadores, os quais conduzem o treino dos praticantes desportivos com vista a desenvolver condições para a prática e reconhecimento da modalidade ou otimizar o seu rendimento desportivo, independentemente da denominação que lhe seja habitualmente atribuída;

b) Desempenham, na competição, funções de decisão, consulta ou fiscalização, visando o cumprimento das regras técnicas da respetiva modalidade;

7) Recursos humanos relacionados com o desporto: os indivíduos que, detentores de formação académica, formação profissional ou experiência profissional relevante em áreas exteriores ao desporto, desenvolvem ocupações necessárias ou geradas pelo fenómeno desportivo, designadamente médicos, psicólogos e dirigentes desportivos.”

Artigo 7.º - Objetivos da formação:

“São finalidades específicas da formação, em relação aos seus destinatários e relativamente à modalidade ou ocupação desportiva em que estes intervêm:

a) Fomentar a aquisição inicial dos conhecimentos desportivos, gerais e específicos, que garantam competência técnica e profissional na sua intervenção desportiva;

b) Oferecer, de forma contínua e sistemática, a quem trabalha na área do desporto instrumentos técnicos e científicos necessários à melhoria qualitativa da sua intervenção no sistema desportivo;

c) Promover o aperfeiçoamento qualitativo ou quantitativo da prática desportiva, quer em termos recreativos, competitivos ou de alta competição;

d) Contribuir para dignificar as profissões e ocupações do desporto e fazer observar a respetiva deontologia, reforçando os valores éticos, educativos, culturais e ambientais, inerentes a uma correta prática desportiva;

e) Contribuir para a igualdade de oportunidades no acesso à prática desportiva e facilitar o recrutamento e seleção de talentos;

f) Ministrar os conhecimentos técnicos e práticos necessários para desenvolver o trabalho de forma organizada e em condições de segurança;

g) Criar condições que permitam o acesso ao exercício qualificado de uma profissão na área do desporto.”

(26)

26

A Lei nº 5/2007, de 16 de Janeiro - Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto - define as bases das políticas de desenvolvimento da atividade física e do desporto (Artigo 1º - Objeto).

Iremos referir os artigos 35.º e 43.º pois pensamos ser os mais importantes e adequados para o nosso tema.

Artigo 35.º - Formação de técnicos:

“1 - A lei define as qualificações necessárias ao exercício das diferentes funções técnicas na área da atividade física e do desporto, bem como o processo de aquisição e de atualização de conhecimentos para o efeito, no quadro da formação profissional inserida no mercado de emprego.”

“2 - Não é permitido, nos casos especialmente previstos na lei, o exercício de profissões nas áreas da atividade física e do desporto, designadamente no âmbito da gestão desportiva, do exercício e saúde, da educação física e do treino desportivo, a título de ocupação principal ou secundária, de forma regular, sazonal ou ocasional, sem a adequada formação académica ou profissional.”

Artigo 43.º - Obrigações das entidades prestadoras de serviços desportivos:

“As entidades que proporcionam atividades físicas ou desportivas, que organizam eventos ou manifestações desportivas ou que exploram instalações desportivas abertas ao público, ficam sujeitas ao definido na lei, tendo em vista a proteção da saúde e da segurança dos participantes nas mesmas, designadamente no que se refere:

b) Aos níveis mínimos de formação do pessoal que enquadre estas atividades ou administre as instalações desportivas.

Em 1999 a Formação dos Recursos Humanos do Desporto passa a estar inserida no âmbito da Formação Profissional. Este novo enquadramento levou, em 2008, à publicação do Decreto-Lei n.º 248-A/2008, de 31 de Dezembro, que veio definir o regime de acesso e do exercício da atividade de treinador/a de desporto, que, em 28 de Agosto de 2012 é revogado pela Lei n.º 40/2012 (em vigor) onde são introduzidas algumas alterações adequando a legislação nacional à legislação europeia (IPDJ, 2013).

Assim a Lei nº 40/2012 de 28 de Agosto “estabelece o regime de acesso e exercício da atividade de treinador de desporto” (Artigo 1º - Objeto).

Para o nosso trabalho e para a nossa atividade pensamos ser útil e necessário referir os artigos 2.º, 3.º, 4.º, 5.º, 6.º e 10.º.

Artigo 2.º - Objetivos:

“1 - São objetivos gerais do regime de acesso e exercício da atividade de treinador de desporto:

(27)

27

b) A defesa da saúde e da segurança dos praticantes, bem como a sua valorização a

nível desportivo e pessoal, quer quando orientados para a competição desportiva quer quando orientados para a participação nas demais atividades desportivas.”

“2 - São objetivos específicos do regime de acesso e exercício da atividade de treinador de desporto:

a) Fomentar e favorecer a aquisição de conhecimentos gerais e específicos que

garantam competência técnica e profissional na área da intervenção desportiva;

b) Impulsionar a utilização de instrumentos técnicos e científicos, ao longo da vida,

necessários à melhoria qualitativa da intervenção no sistema desportivo;

c) Promover o aperfeiçoamento qualitativo e o desenvolvimento quantitativo da prática

desportiva, quer seja de iniciação desportiva, de competição ou de alto rendimento;

d) Dignificar as profissões e ocupações do desporto e fazer observar a respetiva

deontologia, reforçando os valores éticos, educativos, culturais e ambientais, inerentes a uma adequada prática desportiva;

e) Contribuir para facilitar o reconhecimento, o recrutamento e a promoção de talentos

com vista ao desenvolvimento do desporto;

f) Contribuir para o reconhecimento público da importância social do exercício da

atividade e da profissão de treinador de desporto.” Artigo 3.º - Atividade de treinador de desporto:

“A atividade de treinador de desporto, para efeitos da presente lei, compreende o treino e a orientação competitiva de praticantes desportivos, bem como o enquadramento técnico de uma atividade desportiva, exercida:

a) Como profissão exclusiva ou principal, auferindo por via dela uma remuneração; b) De forma habitual, sazonal ou ocasional, independentemente de auferir uma

remuneração.”

Artigo 4.º - Habilitação profissional:

“A atividade referida no artigo anterior apenas pode ser exercida por treinadores de desporto, qualificados nos termos da presente lei, designadamente no âmbito:

a) De federações desportivas titulares do estatuto de utilidade pública desportiva; b) De associações promotoras de desporto;

c) De entidades prestadoras de serviços desportivos, como tal referidas no artigo 43.º

da Lei n.º 5/2007, de 16 de janeiro.” Artigo 5.º - Título profissional:

“1 - É obrigatória a obtenção de título profissional válido para o exercício da atividade de treinador de desporto em território nacional.”

“2 - É nulo o contrato pelo qual alguém se obrigue a exercer a atividade de treinador de desporto sem título profissional válido.”

(28)

28

“3 - Excetuam -se do disposto nos números anteriores os profissionais cidadãos de Estado membro da União Europeia ou do Espaço Económico Europeu qualificados para as atividades descritas nos artigos 11.º a 14.º fora de Portugal e que aqui prestem serviços em regime de livre prestação, nos termos da Lei n.º 9/2009, de 4 de março.”

“4 - Os profissionais referidos no número anterior devem apresentar ao Instituto Português do Desporto e da Juventude, I. P. (IPDJ, I. P.), a declaração prévia prevista no artigo 5.º da Lei n.º 9/2009, de 4 de março.”

“5 - As referências legislativas a treinadores de desporto devem entender -se como abrangendo os profissionais referidos nos nº 3 e 4, exceto quando o contrário resulte da própria norma em causa.”

Artigo 6.º - Requisitos de obtenção do título profissional:

“1 - Podem ter acesso ao título profissional de treinador de desporto de uma dada modalidade desportiva os candidatos que satisfaçam um dos seguintes requisitos:

a) Licenciatura na área do Desporto ou da Educação Física, tal como identificada pela

Direção-Geral do Ensino Superior;

b) Qualificação na área do treino desportivo, no âmbito do Sistema Nacional de

Qualificações, por via da formação ou através de competências profissionais adquiridas e desenvolvidas ao longo da vida reconhecidas, validadas e certificadas, nos termos do artigo 12.º do Decreto – Lei n.º 396/2007, de 31 de dezembro, e da respetiva regulamentação;

c) Qualificações profissionais reconhecidas nos termos da Lei n.º 9/2009, de 4 de

março.”

“2 - O reconhecimento dos cursos previstos na alínea a) do número anterior, para efeitos de atribuição do título profissional, é da competência do IPDJ, I. P.”

“3 - A emissão do título profissional compete ao IPDJ, I. P., sendo o respetivo modelo definido por despacho do presidente do IPDJ, I. P., publicado no Diário da República.”

Artigo 10.º - Graus do título profissional:

“1 - O título profissional confere competências ao seu titular, nos termos dos artigos seguintes, do seguinte modo:

a) Grau I; b) Grau II; c) Grau III; d) Grau IV.”

“2 - A correspondência entre os níveis de qualificação previstos no âmbito do Quadro Nacional de Qualificações e os graus previstos no número anterior é integrada no Catálogo Nacional de Qualificações, sendo definida em articulação entre o IPDJ, I. P., e a Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, I. P.”

(29)

29

“3 - A obtenção de título profissional de determinado grau confere ao seu titular as competências previstas nos artigos seguintes para o seu grau e para os graus inferiores.”

2.1.2 Referenciais de Formação

Este conjunto de documentos legais permitiu conferir o suporte necessário para o aparecimento do Programa Nacional de Formação de Treinadores (PNFT), cujo modelo de formação contém uma partilha de responsabilidades entre as federações com estatuto de Utilidade Pública Desportiva e as entidades que venham a ser reconhecidas pelo IPDJ, IP como representantes e reguladoras de modalidades desportivas não abrangidas pelas primeiras e a Administração Pública Desportiva. Esta partilha de responsabilidades ganhou uma maior dimensão na consecução das tarefas que integram a metodologia escolhida para a operacionalização do PNFT (IPDJ, 2013).

Seguindo outras propostas realizadas no âmbito europeu, o Programa Nacional de Formação de Treinadores considera também a existência de 4 graus de qualificação com responsabilidades e competências próprias, inerentes à tipologia da população em que os treinadores intervêm (IPDJ, 2013).

Quadro 1 - Funções do Treinador(a) (IPDJ, 2013)

Grau Funções do Treinador(a)

I

Condução direta das atividades técnicas elementares associadas às etapas iniciais da atividade, ou carreira dos/as praticantes, ou níveis elementares de participação competitiva, sob coordenação de um treinador/a de desporto de qualificação superior.

Coadjuvação na condução do treino e orientação competitiva de praticantes nas etapas subsequentes de formação desportiva.

II

Condução do treino e orientação competitiva de praticantes nas etapas subsequentes de formação desportiva.

Coordenação e supervisão de uma equipa de treinadores de grau I ou II, sendo responsável pela implementação de planos e ordenamentos estratégicos definidos por profissionais de grau de qualificação superior. Conceção, planeamento, condução e avaliação do processo de treino e de participação competitiva.

(30)

30

Coadjuvação de titulares de grau superior de qualificação, no planeamento, condução e avaliação do treino e participação competitiva.

III

Planeamento do exercício e avaliação do desempenho de um coletivo de treinadores detentores de grau de qualificação igual, ou inferior, coordenando, supervisionando, integrando e harmonizando as diferentes tarefas associadas ao treino e à participação competitiva.

IV

Coordenação, direção, planeamento e avaliação, com funções mais destacadas no domínio da inovação e empreendedorismo, direção de equipas técnicas multidisciplinares, direções técnicas regionais e nacionais, coordenação técnica de seleções regionais e nacionais e coordenação de ações tutoriais.

Os graus de qualificação de treinador(a) de desporto considerados promovem um desenvolvimento progressivo e cumulativo de competências, o qual é caraterizado pela estrutura dos respetivos Perfis Profissionais estabelecidos. Estes perfis, enquanto conteúdo base de referência do PNFT, condicionam as diferentes tarefas inerentes à construção do Programa, já que é em função das respetivas competências e das suas áreas de desempenho (nos diferentes graus de qualificação) e tendo ainda por referência a especificidade de cada modalidade / disciplina / via / estilo desportivo, que as diferentes opções vão ser tomadas (IPDJ, 2013).

No âmbito do PNFT, o exercício da atividade de Treinador(a) de Desporto é certificado mediante a obtenção de uma Título Profissional, o qual pode ser obtida pelas seguintes vias (IPDJ, 2013):

 Cursos de Treinadores de Desporto - realização de cursos de Treinadores(as) organizados segundo as premissas legais e regulamentares do PNFT;

 Formação Académica - Equivalência a Licenciatura na área da Educação Física, ou do Desporto;

 Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC);  Reconhecimento de Qualificações obtidas no Estrangeiro.

Os cursos de treinadores definidos no âmbito do PNFT contemplam três componentes distintas (IPDJ, 2013):

Componente geral comum aos diferentes cursos;

Componente específica relativa a cada uma das modalidades/vias/disciplinas/estilos consideradas pelas Federações respetivas;

(31)

31

Assim, considerando estas componentes, foi definida para cada curso de formação de Treinadores(as) uma carga horária própria de acordo com o Grau respetivo.

Quadro 2 - Carga Horária dos Diferentes Graus (IPDJ, 2013)

Componentes de

Formação Grau I Grau II Grau III Grau IV

Geral 41h 63h 91h 135h

Específica (modalidade) 40h 60h 90h 135h

Estágio Uma época

desportiva Uma época desportiva Uma época desportiva Uma época desportiva

Pode existir um acréscimo da carga horária na componente de formação específica, caso as respetivas federações assim o entendam.

A determinação da Componente Geral, bem como do Regulamento do Estágio, são da responsabilidade do IPDJ, I.P., enquanto a definição da Componente Específica é definida pelas federações desportivas responsáveis pelas modalidades desportivas e pelas entidades que venham a ser reconhecidas pelo IPDJ, IP como representantes e reguladoras de modalidades desportivas não abrangidas pelas primeiras (IPDJ, 2013).

De acordo com a organização proposta, e assumindo como referência os Perfis Profissionais determinados, são então elaborados os Referenciais estruturantes da Formação Geral e Específica, completados pelos respetivos Conteúdos de Formação a desenvolver em cada grau de qualificação e componentes de formação constituintes (IPDJ, 2013).

Deste modo, os Referenciais de Formação, os Conteúdos de Formação relacionados e as Normas de Realização do Estágio são a base organizativa de todos os cursos a levar a cabo no âmbito do PNFT (IPDJ, 2013).

De acordo com as competências do(a) Treinador(a) definidas e perspetivadas no âmbito do modelo do PNFT, são construídos os Referencias e os Conteúdos de Formação relativos à Componente Geral. Estes Referenciais e Conteúdos de Formação estão organizados por Unidades de Formação previamente determinadas no estabelecimento dos diferentes Perfis e que fazem referência ao conhecimento fundamentado e multifacetado desenvolvido no âmbito das Ciências do Desporto (IPDJ, 2013).

No cumprimento da metodologia assumida, o IPDJ, I.P. promoveu as diretrizes normativas para a elaboração dos documentos respetivos, tendo a construção destes sido atribuída a um grupo de especialistas com larga experiência nos âmbitos considerados (IPDJ, 2013).

Os cursos de treinadores de desporto estão estruturados por graus, com responsabilidades e competências próprias inerentes à tipologia de praticantes junto dos

(32)

32

quais os treinadores intervêm, conforme o estabelecido nos perfis profissionais definidos (IPDJ, 2013).

Os cursos de treinadores de desporto estão organizados em 2 componentes de formação letiva (a Componente de Formação Geral e a Componente de Formação Específica - Modalidade) cada uma delas com os respetivos de referenciais de formação e uma componente de formação prática (estágio) cujos objetivos e organização são definidos pelas entidades que regem as diferentes modalidades desportivas, no cumprimento da matriz e regras estabelecidas no âmbito do Programa Nacional de Formação de Treinadores (IPDJ, 2013).

Os referenciais e conteúdos da formação específica são elaborados de forma articulada e consentânea com os documentos respeitantes à componente geral da formação pretendendo, desta maneira, conseguir uma integração plena entre a generalidade das Ciências do Desporto e a especificidade de cada modalidade / disciplina / via / estilo. Esta tarefa foi concedida às diferentes Federações com o estatuto de Utilidade Pública Desportiva, e a entidades que venham a ser reconhecidas como representantes e reguladoras de modalidades desportivas não abrangidas pelas primeiras, as quais terão de respeitar um conjunto de normas definidas pelo IPDJ, I.P na sua realização (IPDJ, 2013).

A realização do Estágio ocorrerá apenas após a obtenção prévia de aproveitamento nas componentes geral e específica dos cursos de treinadores respetivos, seguindo as premissas e condições definidas nos Regulamentos de Estágios de cada uma das Modalidades/Disciplinas/Estilos tendo por base a Matriz de Regulamento de Estágios produzida pelo IPDJ, IP (IPDJ, 2013).

(33)

33

2.1.3 A Intervenção do Treinador

2.1.3.1 Competências

A preparação dos jogadores assume-se como um processo complexo, que exige da parte do treinador, o domínio de um leque alargado de competências (Pacheco, 2005).

O treinador é um gestor de recursos e estratégias. Um condutor de homens e um coordenador de uma equipa de especialistas. O treinador, mesmo no desporto profissional, exerce uma função pedagógica importantíssima. Através da sua ação, ele educa e forma homens: os desportistas, os dirigentes, os espetadores (Potrac, Jones & Armour, 2002).

A atividade desportiva para crianças e jovens é feita a sério quando prioritariamente nos preocupamos com os objetivos dessa atividade e com a satisfação que deve proporcionar a todas elas no domínio dos seus interesses e necessidades, isto é, quando a nossa atuação se subordina à finalidade última - contribuir e promover o desenvolvimento integral das crianças e jovens (Lima, 2000).

Pelas relações que estabelece com os seus atletas, o treinador é também um educador (Santos, 2012).

Neste sentido, este agente educativo deve ter atitudes orientadas segundo uma matriz de natureza ético-pedagógica. A este nível, o papel do treinador de jovens assenta em múltiplas vertentes: física, cognitiva, técnico-tática, psicológica, cultural, social e emocional. O domínio destes aspetos contribui para um treinador melhor preparado, que por consequência estará mais apto a melhorar o rendimento desportivo da sua equipa (Santos, 2012).

O treinador, enquanto educador de jovens deve ser moderado, tolerante e motivador, possuir conhecimentos na sua modalidade, mas que, para além disso, conheça as caraterísticas dos jovens do seu escalão etário, para que na sua intervenção pedagógica saiba o que deve ensinar, as exigências que pode colocar e aquilo que poderá vir a esperar dos seus atletas (Pacheco & Garganta, 2001).

As suas funções ultrapassam substancialmente os aspetos relativos ao ensino da técnica e da tática e ao desenvolvimento das suas qualidades físicas, abrangendo outras áreas não menos importantes, que podem condicionar o seu comportamento desportivo, mas de que é possível, igualmente, extrair reflexos para a sua vida de cidadão comum (Adelino, Vieira & Coelho, 2000).

A prática desportiva deve assim constituir, para os jovens, um complemento importante da sua atividade escolar e não a sua ocupação ou centro de interesse exclusivo ou predominante (Adelino et al., 2000).

A determinação e empenho que o treinador coloca no seu trabalho com jovens, a seriedade e disciplina que exige durante a sessão de treino, não podem ser obstáculo a um

(34)

34

tipo de relacionamento próximo e afetivo, em que o treinador procura interessar-se pelos problemas dos seus praticantes, manifestando gosto de conversar com eles e disponibilidade para abordar qualquer assunto (Adelino et al., 2000).

O respeito por valores éticos e profissionais são considerados relevantes no treinador, acentuando uma ótima relação com os atletas, exercendo a atividade consciente de que os seus conhecimentos estão ao serviço de um processo educativo e de que os jovens não são meios de promoção profissional (Cruz et al., 2001).

Janssen e Dale (2002) referem que é necessário apoiar os atletas não só no campo, mas também na sua vida, motivando-os. Aliás, para estes autores, o sucesso do treinador é avaliado não só pelas vitórias mas também pela qualidade das relações com os atletas, sendo importante fazer-lhes sentir que são a prioridade, evitando ser o alvo das atenções. A este respeito, Araújo (2000) refere que o treinador deve procurar servir os jogadores, sendo essa uma regra fundamental para o sucesso.

Martens, Christina, Harvey e Sharkey (1981) referem que ser um treinador de sucesso é algo mais do que ser um treinador vitorioso. Os treinadores de sucesso ensinam novas habilidades e exercícios, ajudam os jovens na aquisição e consolidação das aprendizagens, ensinam-lhes a terem satisfação na atividade desportiva, a terem prazer na competição, a desenvolverem a sua auto-estima e preocupam-se com o seu futuro na sociedade.

Lima (2000) afirma que o treinador tem de saber o que ensina, isto é, conhecer e dominar suficientemente os aspetos fundamentais da sua modalidade; saber ensinar, ou seja, saber transmitir os conhecimentos da modalidade e ser capaz de motivar e estimular os atletas para que estes os adquiram e os apliquem com entusiasmo, interesse e eficácia; saber aplicar as técnicas e os processos adequados no ensino/aprendizagem e no treino, iniciando os jovens na prática da modalidade e preparando as equipas para os compromissos competitivos e saber intervir na educação desportiva dos atletas, isto é, desenvolver as suas qualidades de modo a contribuir para a formação do caráter e da personalidade de cada um.

No fundo, tal como referem Smith, Smoll e Cumming (2007), no ambiente da prática desportiva de crianças e jovens, os treinadores têm grande influência na natureza e qualidades das experiências desportivas. Os objetivos, as atitudes e valores promovidos por estes e a natureza das suas interações com os atletas podem de uma forma bastante vincada influenciar os efeitos da participação desportiva dos atletas.

Smith (2003) refere que comportamentos violentos e agressivos por parte dos treinadores podem ter tido algum sucesso no passado, mas, atualmente, os atletas não estão motivados para este tipo de comportamentos, que podem desencadear o abandono dos mesmos ou, de forma diversa, o fim da carreira do treinador.

Referências

Documentos relacionados

Esta autonomia/diferenciação é necessária na medida em que contribui para o desenvolvimento da pessoa enquanto adulto individualizado, permitindo consequentemente

No final, os EUA viram a maioria das questões que tinham de ser resolvidas no sentido da criação de um tribunal que lhe fosse aceitável serem estabelecidas em sentido oposto, pelo

A versão reduzida do Questionário de Conhecimentos da Diabetes (Sousa, McIntyre, Martins & Silva. 2015), foi desenvolvido com o objectivo de avaliar o

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o

O setor de energia é muito explorado por Rifkin, que desenvolveu o tema numa obra específica de 2004, denominada The Hydrogen Economy (RIFKIN, 2004). Em nenhuma outra área

De acordo com o Consed (2011), o cursista deve ter em mente os pressupostos básicos que sustentam a formulação do Progestão, tanto do ponto de vista do gerenciamento

Assim, almeja-se que as ações propostas para a reformulação do sistema sejam implementadas na SEDUC/AM e que esse processo seja algo construtivo não apenas para os

diversas matérias, significados e abordagens em torno da Retórica, Argumentação e o Ensino da Filosofia, o núcleo duro sujeito a este exame. Apesar das dificuldades inerentes,