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2. Revisão da Literatura

2.1 O Treinador: conceitos e intervenção

2.1.3 A Intervenção do Treinador

2.1.3.2 Estudos Realizados

Shigunov, Pereira e Manzotti (1993) efetuaram um estudo sobre a influência dos comportamentos do treinador nos sentimentos dos atletas. Os resultados indicaram que os atletas sentem insegurança, preocupação e perda de concentração em reação aos comportamentos afetivos negativos do treinador como o punir, gritar ou criticar. Por outro lado, os comportamentos afetivos positivos, como o elogiar ou demonstrar afeto, geraram nos atletas sentimentos de auto-valorização, incentivo e satisfação.

Pereira (1997) analisou os comportamentos de entusiasmo em voleibol a partir dos perfis comportamentais de 12 treinadores de jovens, onde constatou que é importante os treinadores terem comportamentos de entusiasmo no seu relacionamento com os jovens praticantes.

Costa (2005) realizou um estudo para identificar as perceções dos treinadores de futebol e dos dirigentes desportivos acerca do perfil de competências específicas dos treinadores, acerca das suas necessidades de formação bem como caraterizar as suas perspetivas relativamente à formação inicial e contínua, verificando a influência de variáveis como a idade, o nível de escolaridade, tipo de formação, experiência profissional, nível e anos de prática como atleta, comparando, ainda, as perceções de dirigentes e de treinadores. Participaram no estudo 116 treinadores e 50 dirigentes, tendo-se, para o efeito, construído e aplicado um questionário. Concluiu que os treinadores sentem maiores necessidades de formação nas áreas “Técnica e Tática”, “Equipamentos e Tecnologias” e a “Metodologia do Treino”. Os treinadores valorizam mais as competências que estão diretamente relacionados com as suas tarefas diárias e com a sua atividade pedagógica, e por seu lado, os dirigentes

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atribuem uma maior valorização às competências relacionadas com as questões sociais, regulamentares e de gestão do treinador.

Gomes e Cruz (2006) no seu artigo sobre a relação treinador-atleta e exercício da liderança no desporto, apresentaram os resultados de quatro entrevistas levadas a cabo com treinadores de alta competição portugueses, em que se procurou recolher informações sobre as competências necessárias para exercer a atividade de treinador, os princípios e filosofia adotada no trabalho, as principais áreas de exercício da liderança e os valores defendidos na modalidade e na prática profissional. Os resultados permitiram verificar um acordo quanto à importância de possuírem boas competências concetuais e pessoais, princípios claros e aceites pelos atletas, boas condições de trabalho e atletas com qualidade para a alta competição. Paralelamente, foi evidente a complexidade de tarefas assumidas na orientação dos atletas (nove dimensões do exercício da liderança). Por último, é de salientar a importância dada à obtenção dos resultados competitivos (objetivo principal) em conjunto com a análise satisfatória do trabalho realizado e a valorização do desenvolvimento pessoal, tanto no treinador como nos atletas (objetivos “periféricos”).

Mesquita, Sobrinho, Rosado, Felismina e Milisted (2008) analisaram os comportamentos de treinadores amadores de voleibol. Participaram 11 treinadoras que treinavam jovens atletas dos 14 aos 18 anos. Observaram os seus comportamentos nos locais de treino e registaram 6401 comportamentos em 11 sessões de treino. Concluíram que as treinadoras utilizaram muitos comportamentos de instrução (35,94%).

Rolla (2008) realizou um estudo sobre a relação treinador-atleta, na modalidade de basquetebol, pretendendo descrever os comportamentos e as perceções dos treinadores e dos jogadores relativamente à qualidade das interações pessoais considerando, em particular, o estatuto (titular ou suplente) do jogador. Investigou, também, os comportamentos dos treinadores durante as sessões de treino em função do escalão (júnior ou sénior) e do resultado competitivo (após a situação de vitória e após situação de derrota). No que se refere aos atletas, verificou se os seus comportamentos variam em função do respetivo estatuto, escalão e resultado da competição. Participaram jogadores de basquetebol do escalão júnior e sénior (N=199), 6 treinadores do escalão júnior e 16 do escalão sénior (N=22), tendo sido filmadas 92 sessões de treino (70 após vitória e 22 após derrota). Em termos gerais, os resultados indicam que, relativamente ao ensino/treino, ao relacionamento interpessoal objetivo (comportamentos significativos do treinador e do atleta) e subjetivo (perceções acerca da qualidade da interação pessoal), os treinadores não se relacionam com todos os atletas da mesma maneira e que os diversos tipos de jogadores não se comportam no treino de forma semelhante. Os resultados indicam que a imagem do treinador varia consoante o estatuto e não em relação ao escalão competitivo, que o comportamento funcional dos treinadores varia em função do estatuto e do escalão, que os comportamentos afetivos dos treinadores

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modificam-se em função do estatuto e do escalão, que os comportamentos dos atletas variam em função do estatuto e do escalão e que os comportamentos perturbadores dos atletas variam em função do estatuto, do escalão e do resultado competitivo.

Mesquita, Farias, Oliveira e Pereira (2009) realizaram um estudo com o objetivo de analisar a intervenção pedagógica sobre o conteúdo de treinadores de futebol, nos escalões de escolinhas e infantis, em função da formação académica em Educação Física e Desporto. A amostra foi constituída por 12 treinadores de futebol, os quais foram filmados durante sessões de treino. A realização deste estudo mostrou que: os treinadores incidiram as suas intervenções, maioritariamente, sobre os conteúdos de ordem técnica, sobretudo de caráter ofensivo; a informação foi emitida, preferencialmente, quando os jogadores estavam em ação; as instruções proferidas pelos treinadores foram, na sua maioria, de caráter geral, sendo que no feedback os treinadores utilizaram, sobretudo, o encorajamento; o meio exclusivamente auditivo foi o preferido na emissão de informação; a informação foi dirigida, preferencialmente, aos jogadores, a título individual. Na comparação entre grupos, verificou-se que os treinadores com formação académica em Educação Física e Desporto emitiram, significativamente, mais instrução específica e recorreram mais ao questionamento, tanto geral como específico, do que os treinadores não licenciados. Apesar dos treinadores em estudo, em geral, mostrarem uma abordagem centrada nos aspetos técnicos da fase ofensiva do jogo, os treinadores licenciados em Educação Física evidenciaram um conhecimento mais específico do conteúdo do Futebol e concederam aos jogadores mais espaço para compreender e problematizar os conteúdos de aprendizagem.

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