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Nesta fase da investigação procedemos à descrição e interpretação dos dados recolhidos junto dos jovens, procurando confrontá-los entre si e relacioná-los com a bibliografia.

O nosso trabalho centra-se nas representações dos atletas sobre o Bom Treinador de Jovens, pretendendo, através das falas dos entrevistados, conhecer e compreender tais representações.

Conceito de treinador

Na primeira pergunta foi pedido aos atletas para descreverem o que era para eles um treinador, qual o conceito que tinham acerca da função e papel do treinador.

Através das respostas efetuadas, como podemos verificar no Quadro 6, as categorias mais valorizadas foram a Formação Global do Atleta, Liderança, Formar Jogadores, Conhecimento Aprofundado e Saber Ensinar.

Quadro 6 - Categorias acerca do conceito de treinador

Categorias Nº de Frequência

A - Formação Global do Atleta 13

B - Liderança 6

C - Formar Jogadores 6

D - Conhecimento Aprofundado 4

E - Saber Ensinar 4

F - Outros 6

A - Formação Global do Atleta

Quanto à Formação Global do Atleta, esta diz respeito à dimensão humana do treinador. O treinador preocupa-se e tem interesse com a vida do atleta na escola, com o seu ambiente familiar e com o seu dia-a-dia. Vai muito mais para além do treino e da preparação para a competição no futebol. É importante ter uma preocupação global e transmitir outros valores que vão acompanhar os atletas ao longo do seu trajeto enquanto homens inseridos numa sociedade, tais como, o respeito, a amizade, a solidariedade, a justiça, entre outros.

“Ser treinador é ajudar o jogador, tanto a nível futebolístico como na sua vida social e sobretudo ser um amigo.” A1

“…também ensina a formar jogadores e pessoas e é amigo dos atletas.” A3 “Uma pessoa onde nós podemos ter confiança com ela e que nos pode ajudar o máximo.” A6

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“Um treinador é uma pessoa que nos acompanha durante a época desportiva, que nos vai apoiando ao longo dessa época tirando o melhor de nós, tentando colmatar as nossas falhas técnicas e até pessoais se for possível.” A6

“Um treinador é um indivíduo que vai treinar uma equipa mas para mim também tem que ter algumas caraterísticas, tanto para ajudar os seus atletas…” A7

“Um treinador para mim é uma pessoa que para além de nos ensinar coisas essenciais do futebol, também nos ensina a crescer e a sermos Homens.” A9

Um treinador não deve não só orientar os treinos e as competições, como encorajar e disciplinar os seus atletas, avaliar o rendimento destes, além de saber enviar mensagens, saber ouvir os atletas, compreender a comunicação não verbal, gerir conflitos e confrontações (Leitão, 1999).

A determinação e empenho que o treinador coloca no seu trabalho com jovens, a seriedade e disciplina que exige durante a sessão de treino, não podem ser obstáculo a um tipo de relacionamento próximo e afetivo, em que o treinador procura interessar-se pelos problemas dos seus praticantes, manifestando gosto de conversar com eles e disponibilidade para abordar qualquer assunto (Adelino et al., 2000).

O saber ser treinador, é um saber que se constrói a partir do momento em que se toma a decisão de querer conhecer o mais possível sobre a modalidade com a finalidade de transmitir aos jogadores todos os conhecimentos que contribuem para a valorização progressiva das respetivas prestações competitivas e o desenvolvimento da personalidade individual de cada um deles (Araújo, 1998).

Pelas relações que estabelece com os seus atletas, o treinador é também um educador (Santos, 2012).

B - Liderança

A Liderança tem a ver com a função de gestor, orientador e coordenador de todo o processo de treino. Os atletas veem no treinador um líder que os possa conduzir ao sucesso.

“Um treinador é um comandante da equipa” A1 “Um treinador é a pessoa que lidera uma equipa.” A4

“…é como se fosse um meio para ajudar o seu atleta ou os seus atletas a conseguirem o sucesso…” A8

“…quem gere, quem coordena toda a equipa, toda a estrutura, seja de um atleta… seja de uma equipa.” A8

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O treinador é um gestor de recursos e estratégias. Um condutor de homens e um coordenador de uma equipa de especialistas (Potrac et al., 2002).

Uma boa liderança aumenta a coesão da equipa, melhora a distribuição e compreensão de funções específicas, aumenta a capacidade de superação de obstáculos e estabelece com mais facilidade as metas comuns do grupo (Costa et al., 2009).

Como refere Maças (2004, citado em Brás, 2012a), é natural, e até desejável, que as funções do treinador, responsável principal pelo rendimento desportivo de uma organização, incluam a participação ativa noutros domínios de intervenção para a tornar mais sólida e eficiente na procura do resultado desportivo, bem como a elaboração de planos estratégicos para o seu desenvolvimento. Desta forma, a atividade dos treinadores não se resume à orientação do processo de treino e de competição.

No seu estudo, Santos (2004) refere que para o alcance da performance, do sucesso e da satisfação, é fundamental que a liderança seja eficaz.

C - Formar Jogadores

Os atletas referem que é importante um treinador formar jogadores, prepará-los para a competição, que os faça evoluir ao máximo para um dia, se for caso disso, poderem vir a ser jogadores profissionais.

“…também ensina a formar jogadores…” A3

“Um treinador é aquele que nos orienta dentro de campo, que nos ajuda a posicionar, que nos prepara durante a semana para estarmos na melhor forma ao fim de semana e darmos o nosso melhor.” A14

“É uma pessoa que nos apoia como atletas, tenta nos fazer evoluir ao máximo para no futuro tentarmos ser, no meu caso, ser jogador de futebol ou algo de bom.” A16

A preparação dos jogadores assume-se como um processo complexo, que exige da parte do treinador, o domínio de um leque alargado de competências (Pacheco, 2005).

A este nível, o papel do treinador de jovens assenta em múltiplas vertentes: física, cognitiva, técnico-tática, psicológica, cultural, social e emocional. O domínio destes aspetos contribui para um treinador melhor preparado, que por consequência estará mais apto a melhorar o rendimento desportivo da sua equipa (Santos, 2012).

D - Conhecimento Aprofundado

Diz respeito ao conhecimento que o treinador tem sobre a modalidade. Conhece o jogo, as regras, a equipa, o adversário, as metodologias de treino. Tem conhecimentos em

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diversas áreas do desporto e está em permanente aberto à evolução do saber. É alguém que é muito competente e consistente naquilo que faz.

“Alguém que tem um conhecimento mais aprofundado do desporto e que o quer passar da melhor forma para os seus atletas.” A5

“Um treinador é um colega que nos ajuda e percebe melhor o futebol.” A11

Efetivamente, o treinador deve atualizar-se constantemente perante os sofisticados métodos e tecnologias de treino a utilizar (Araújo, 1998). “Saber treinar, aprende-se… à custa de uma aprendizagem que se processa todos os dias e que se enriquece com todos os acontecimentos desportivos, culturais e sociais que o treinador consiga integrar na sua valorização como ser humano e cidadão. Saber treinar, aprende-se através de uma atitude que preza o saber que nos é transmitido em ações de formação, o saber adquirido na prática, o saber transmitido pelos outros treinadores, o saber discutido com os outros, o saber conseguido por muitas leituras, o saber alcançado pela reflexão, o saber divulgado pelas fontes do conhecimento científico e o saber criado pelos atletas” (Lima, 2000, p. 28).

Canal et al. (2010), através do seu estudo concluíram que os treinadores atribuem uma maior importância a um conjunto de competências e conhecimentos tais como: o planeamento da sessão de treino em função das necessidades da equipa/grupo e do atleta em particular; a organização e condução da sessão de treino, garantindo um ambiente de trabalho seguro e produtivo; a avaliação e modificação do plano da sessão de treino, adaptando-o a circunstâncias imprevistas; a preparação do atleta/equipa para participar de forma digna e segura numa competição oficial e os conhecimentos sobre a gestão do treino (estruturação da sessão, tempo de treino e organização das atividades, gestão dos materiais e equipamentos).

E - Saber Ensinar

O treinador para colocar as suas ideias em prática e para os atletas perceberem o que ele pretende, tem que utilizar estratégias adequadas para que a sua informação passe corretamente para os atletas/equipa. Por outro lado, tem que aplicar as metodologias apropriadas que permitam a evolução dos atletas.

“Nas camadas jovens é como um professor que pretende ensinar algo sobre futebol.” A4

“Para mim um treinador funciona para os atletas tal como um professor funciona para os alunos.” A5

“Um treinador é um indivíduo que primeiro gosta de ensinar e gosta de ajudar, ou seja, quando falamos de um treinador seja de formação é mais para ensinar e para evoluir…” A8

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O treinador, enquanto educador de jovens, deve ser moderado, tolerante e motivador, possuir conhecimentos na sua modalidade, mas que, para além disso, conheça as caraterísticas dos jovens do seu escalão etário, para que na sua intervenção pedagógica saiba o que deve ensinar, as exigências que pode colocar e aquilo que poderá vir a esperar dos seus atletas (Pacheco & Garganta, 2001).

As suas funções ultrapassam substancialmente os aspetos relativos ao ensino da técnica e da tática e ao desenvolvimento das suas qualidades físicas, abrangendo outras áreas não menos importantes, que podem condicionar o seu comportamento desportivo, mas de que é possível, igualmente, extrair reflexos para a sua vida de cidadão comum (Adelino et al., 2000).

Número de bons treinadores

Procurámos saber quantos treinadores os atletas já tiveram ao longo do seu percurso no futebol federado. Pela análise do quadro 7, verificamos que a maioria teve entre 4 e 6 treinadores.

Quadro 7 - Nº de treinadores enquanto atletas federados

Categorias Nº de Frequência 3 1 4 4 5 2 6 5 7 2 9 2

Seguidamente, procurámos saber quantos desses foram bons treinadores. De acordo com os dados do quadro 8, verificamos que a maioria indicou entre 2 e 3.

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Quadro 8 - Nº de bons treinadores enquanto atletas federados

Categorias Nº de Frequência 2 6 3 5 4 1 5 2 6 2

Características destes treinadores

Na sequência da questão anterior, foi pedido aos atletas para referirem e explicarem porque tinham considerado os treinadores como sendo bons técnicos.

As categorias mais mencionadas foram Formar Pessoas, Formar Jogadores, Competentes, Ensina Bem, Divertido e Bom Comunicador (Quadro 9).

Quadro 9 - Caraterísticas treinadores indicadas como bons

Categorias Nº de Frequência A - Formar Pessoas 13 B - Formar Jogadores 7 C - Competentes 5 D - Ensina Bem 4 E - Divertido 3 F - Bom Comunicador 3 G - Outros 13 A - Formar Pessoas

O treinador tem outros interesses para além do futebol. Interessa-se pela escola e preocupa-se com a vida dos atletas no seu dia-a-dia. Apoia e ajuda-os sempre que for necessário. Transmite valores que estão presentes no nosso quotidiano e que são necessários para o homem enquanto ser social.

“Todos me ajudaram e graças a Deus sei que tenho amigos para a vida e o que me marcou mais foi a amizade que sempre tiveram comigo.” A1

“(...) eram amigos (…) e formar pessoas.” A3

“Foram amigos que me ajudaram e tornaram possível a minha caminhada como atleta. (…) mas também a levantar a cabeça a cada adversidade e a cada derrota.” A4

“(…) por eles se preocuparem comigo, mesmo a nível de escola (…)” A7 “A amizade (…)” A11

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“ (…)todos me ajudaram a crescer (…) a crescer como Homem.” A12

O treinador é uma figura central de um vasto e complexo sistema de relações e de influências que compõe a atividade desportiva (Pacheco & Garganta, 2001).

A atividade desportiva para crianças e jovens é feita a sério quando prioritariamente nos preocupamos com os objetivos dessa atividade e com a satisfação que deve proporcionar a todas elas no domínio dos seus interesses e necessidades, isto é, quando a nossa atuação se subordina à finalidade última - contribuir e promover o desenvolvimento integral das crianças e jovens (Lima, 2000).

B - Formar Jogadores

O treinador deve ter um conhecimento alargado do futebol. Deve dominar algumas áreas como a técnica, a tática, fisiologia, pedagogia, observação, entre outras e colocá-las ao serviço dos atletas. Corrigir os seus pontos fracos e aperfeiçoar os seus pontos fortes de modo a vir a formar melhores jogadores.

“Foram pessoas que me ensinaram bastante, que permitiram que evoluísse o meu futebol, tanto tático como físico.” A4

“(…) ajudaram-me a desenvolver o meu futebol (…)” A12

“(…) enquanto eu reclamo contigo é porque quero saber de ti, porque quero que sejas melhor do que já és (…)” A13

O treino tem que ter uma exigência elevada, confrontando o jovem atleta com as suas possibilidades, dramas e angústias (Garcia, 2011b).

Por isso, é muito importante que o treinador de jovens atletas, enquanto planificador e orientador do processo de preparação desportiva, recorra a formas de treino que solicitem as capacidades percetivo-cognitivas de modo a conseguir-se um elevado transfere do treino para o jogo e visando melhorar o rendimento dos jogadores e da equipa. Deste modo, deverá atender às diferentes caraterísticas dos exercícios utilizados, nomeadamente quanto à duração, à intensidade, ao número de jogadores e ao espaço utilizado, na medida em que tais constrangimentos, entre outros, podem influenciar, positiva ou negativamente, as competências de decisão do futebolista (Casanova, 2012).

C - Competentes

O treinador é alguém que planifica, organiza, orienta e está atento a tudo o que rodeia o treino e a competição. O treinador para fazer evoluir os seus atletas tem que ter um conhecimento do futebol e de outras áreas. Assim, quanto mais experiencia e conhecimento tiver, melhor treinador será.

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“Um deles, devido à experiência que teve no futebol, sabia exatamente o que é que tinha que trabalhar na equipa para nos fazer ganhar.” A5

“(…) o conhecimento profundo que tem do desporto, do futebol neste caso.” A5

“Eram competentes (…)” A10

“Tentavam sempre mostrar sabedoria, eram experientes (…)” A15

“O treinador assume o papel de decisor, de gestão, de orientação e de direção de todo o processo do treino desportivo. A sua competência advém do domínio profundo da sua modalidade, de uma boa cultura desportiva, de sólidos conhecimentos sobre metodologia do treino, de fisiologia do esforço, de psicologia, entre outras disciplinas. Como agente de ensino assume enormes responsabilidades em termos educativos devendo estar apetrechado com as inerentes competências pedagógicas” (Curado, 1982; Sarmento, 1992; Saury & Durand, 1995 e Platonov, 2001, citado em Pereira, 2003, p. 55).

D - Ensina Bem

Um treinador em certa medida assemelha-se a um professor. Deve ter um conhecimento profundo dos seus atletas e uma boa capacidade de observação para saber o que deve transmitir e como deve fazê-lo. Quais as estratégias mais adequadas e os meios que deve colocar ao serviço dos jogadores para estes assimilarem o que o treinador pretende.

“(…) ensinar futebol (…)” A3

“Pessoas que me ensinaram sempre a ganhar (…)” A4 “Melhorar os aspetos em que não éramos tão bons.” A14 “(…) ensinavam muito (…)” A16

Martens et al. (1981) referem que ser um treinador de sucesso é algo mais do que ser um treinador vitorioso. Os treinadores de sucesso ensinam novas habilidades e exercícios, ajudam os jovens na aquisição e consolidação das aprendizagens, ensinam-lhes a terem satisfação na atividade desportiva, a terem prazer na competição, a desenvolverem a sua auto-estima e preocupam-se com o seu futuro na sociedade.

Lima (2000) afirma que o treinador tem de saber o que ensina, isto é, conhecer e dominar suficientemente os aspetos fundamentais da sua modalidade; saber ensinar, ou seja, saber transmitir os conhecimentos da modalidade e ser capaz de motivar e estimular os atletas para que estes os adquiram e os apliquem com entusiasmo, interesse e eficácia; saber aplicar as técnicas e os processos adequados no ensino/aprendizagem e no treino, iniciando os jovens na prática da modalidade e preparando as equipas para os compromissos competitivos

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e saber intervir na educação desportiva dos atletas, isto é, desenvolver as suas qualidades de modo a contribuir para a formação do caráter e da personalidade de cada um.

Casaubón e Godoy (1999) efetuaram um estudo sobre a relação entre a formação do treinador desportivo e a formação do professor de Educação Física. Concluíram que as competências do professor e do treinador durante o processo ensino-aprendizagem são praticamente idênticos: planificar e programar; informar sobre as atividades e exercícios a realizar; organizar e controlar; corrigir e emitir o feedback; facilitar as relações sócio-afetivas e portanto um bom clima de grupo; avaliar. Os autores consideram necessário estabelecer vínculos entre estas duas áreas e até que ponto se podem transferir os aspetos positivos da formação dos professores para a formação dos treinadores.

E - Divertido

No decorrer do processo de treino e da época desportiva existem momentos em que o treinador deve proporcionar ao seu grupo momentos de descontração e de relaxamento. Estes momentos de algum divertimento também servem para reforçar os laços de amizade e de união.

“Cada um teve um papel importante na minha aprendizagem no futebol, com as suas ideias e métodos diferentes e com as suas brincadeiras.” A1 “Era um rapaz novo, era divertido, conseguia-se divertir connosco porque era novo. Brincava bastante connosco mas também era uma pessoa séria quando era para treinar mesmo a sério.” A6

Smith (2003) refere que comportamentos violentos e agressivos por parte dos treinadores podem ter tido algum sucesso no passado, mas, atualmente, os atletas não estão motivados para este tipo de comportamentos, que podem desencadear o abandono dos mesmos ou, de forma diversa, o fim da carreira do treinador.

F - Bom Comunicador

O treinador para colocar as suas ideias em prática tem que transmitir a informação de modo a que todos percebam. A mensagem deve ser clara, direta e sucinta. Através de uma boa comunicação, ele cativa e motiva os atletas.

“(…) tinha uma grande capacidade de comunicação, sabia-nos motivar.” A5 “(…) principalmente comunicadores, que dava para comunicarem mais connosco e para nós percebemos mais.” A10

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Segundo Hotz (1999), os bons treinadores, se são treinadores de sucesso, distinguem- se dos restantes essencialmente pela sua capacidade de comunicação, para além de possuírem todas as outras qualificações de especialização próprias de cada modalidade. “A função do treinador, enquanto pessoa que comunica, é a de transmitir as informações individualmente mais adequadas, de maneira convincente, no momento oportuno, com o doseamento certo e de tal modo que forneça um suporte adequado ao tipo de aprendizagem em causa” (Martins, 2012, p. 11).

Como educador, o treinador de jovens deve ter forte preocupação com o tipo de linguagem utilizada, uma vez que o treino engloba também, nos seus múltiplos domínios, o mecanismo de comunicação. A linguagem do treinador não pode, por isso, ser subvalorizada, uma vez que ela constitui um instrumento pedagógico de condução do processo de treino. O treinador de jovens deve mostrar afeto nas suas palavras, orientando-as e estruturando-as de acordo com o processo cognitivo dos seus atletas, ou seja, adequando-as à faixa etária com que se depara (Santos, 2012).

Número de treinadores de excelência

Procurámos saber se ao longo do seu trajeto enquanto atleta federado, este já teve algum treinador que ele considere de excelência. O Quadro 10 mostra-nos que a maioria considera já ter tido um treinador excelente.

Quadro 10 – Numero de atletas que já tiveram excelentes treinadores

Categoria Nº de Frequência

Sim 10

Não 6

Caraterísticas evidenciadas

Aos atletas que responderam que já tiveram treinadores excelentes, foi solicitado que indicassem as características que eles revelavam. O Interesse nos Atletas, Formar Jogadores, Formar Pessoas, Exigente e Bom Comunicador foram as categorias mais citadas como nos mostra o Quadro 11.

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Quadro 11 - Caraterísticas dos treinadores excelentes

Categorias Nº de Frequência

A - Interesse nos Atletas 7

B - Formar Jogadores 6

C - Formar Pessoas 3

D - Exigente 2

E - Bom Comunicador 2

F - Outros 9

A - Interesse nos Atletas

Esta categoria refere-se ao treinador como um amigo, alguém que está próximo dos atletas e está sempre disponível para os ajudar. Mostra interesse na vida dos atletas.

“(…) defendem os atletas até ao limite.” A2

“(…) Sempre foi uma pessoa bastante próxima, conseguia dar-se com todos.” A6

“Preocupava-se muito comigo (…)” A7 “Eram amigos (…)” A12

Janssen e Dale (2002) referem que é necessário apoiar os atletas não só no campo, mas também na sua vida, motivando-os. Aliás, para estes autores, o sucesso do treinador é avaliado não só pelas vitórias mas também pela qualidade das relações com os atletas, sendo importante fazer-lhes sentir que são a prioridade, evitando ser o alvo das atenções. A este respeito, Araújo (2000) refere que o treinador deve procurar servir os jogadores, sendo essa uma regra fundamental para o sucesso.

Shigunov et al. (1993) realizaram um estudo sobre a influência dos comportamentos do treinador nos sentimentos dos atletas. Os resultados indicaram que os atletas sentem insegurança, preocupação e perda de concentração em reação aos comportamentos afetivos negativos do treinador como o punir, gritar ou criticar. Por outro lado, os comportamentos afetivos positivos, como o elogiar ou demonstrar afeto, geraram nos atletas sentimentos de auto-valorização, incentivo e satisfação.

B - Formar Jogadores

O treinador deve ter um conhecimento alargado do futebol para os poder por em prática e colocá-los ao serviço dos seus atletas. Através dos seus conhecimentos, competência e da experiência, consegue preparar os seus jogadores para patamares de maior exigência competitiva. Faz com que a equipa evolua.

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“Ele conseguiu juntar-nos todos e fazer-nos ganhar.” A5 “(…) ajudou-me a evoluir (…)” A7

“(…) às vezes estou dentro de campo e penso, espera eu aprendi isso com ele (…)” A8

Exige-se na operacionalização do processo de treino, criatividade na elaboração dos exercícios, ricos em especificidade/variabilidade e confrontação de reais problemas da competição (Braz, 2012b).

O processo de tomada de decisão pode ser visto, melhorado e integrado no processo

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