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A educação alimentar e nutricional na formação inicial de professores pedagogos no Estado do Ceará

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – UFC FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA

FRANCISCO NUNES DE SOUSA MOURA

A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES PEDAGOGOS NO ESTADO DO CEARÁ

FORTALEZA-CE 2020

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1 FRANCISCO NUNES DE SOUSA MOURA

A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES PEDAGOGOS NO ESTADO DO CEARÁ

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Faculdade de Educação, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação.

Área de Concentração: Educação, Currículo e

Ensino.

Orientadora: Prof.ª. Dra. Raquel Crosara Maia

Leite

FORTALEZA-CE 2020

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3 FRANCISCO NUNES DE SOUSA MOURA

A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES PEDAGOGOS NO ESTADO DO CEARÁ

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Faculdade de Educação, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação.

Área de Concentração: Educação, Currículo e

Ensino.

Orientadora: Prof.ª. Dra. Raquel Crosara Maia

Leite

Aprovada em: 24 / 07 / 2020.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________ Profª. Dra. Raquel Crosara Maia Leite (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________________________ Prof. Dr. José Arimatéa Barros Bezerra

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________________________ Profª. Dra. Clarice Maria Araújo Chagas Vergara

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A todos os/as pesquisadores/as do Brasil, em especial, aos que se identificarem com a presente dissertação.

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AGRADECIMENTOS

Na hipótese de um dia eu ter uma autobiografia, esse período de tempo, embora pequeno, teria a citação de diversas pessoas, e a elas, deixo o meu mais sincero obrigado. Primeiro, agradeço aos meus familiares – avós, Maria Santos e Francisco Sousa; pai, Antônio Lisboa; irmãos, Ana Karolina, Ana Larissa, Antônio Higor, Maria Paloma e Maria Gabrielly; tios, Antônia Moura e Antônio Arnaldo; e madrasta, Aparecida Lima – pelo incentivo na realização dessa trajetória e pela compreensão nos momentos de ausência.

Agradeço também a minha querida amiga e orientadora, profª. Dra. Raquel Crosara, pela parceria nos diversos trabalhos acadêmicos que propus para fazermos, pela acolhida, atenção e preocupação a esse jovem que saiu do interior do Ceará para realizar um sonho, e pelas valorosas contribuições e orientações para concretizar a presente pesquisa. Eu não tenho palavras/métodos para definir/mensurar a satisfação em ter trabalhado com uma pessoa que externa tranquilidade e carinho aos amigos.

Falando em amigos, eu não poderia esquecer dos meus. Houve os do ensino básico e superior que estiveram distantes, mas que contribuíram com palavras de estímulo, debates sobre nutrição, revisão ortográfica e por, simplesmente, estarem comigo, sendo alguns destes: Arlete Paula, Aline Costa, Aline Mota, Denilson Gomes, Edivânia Oliveira, Patrícia Lopes, Adriana Ferreira, Maria Cenny dentre outros. Incluo aqui também, com muito carinho, a minha amiga Aparecida Paiva pela irmandade e por ter vivenciado todo esse amadurecimento comigo. Nesse percurso, sou grato ao prof. Dr. José Arimatéa, meu conterrâneo, pelas palavras de encorajamento e à profª Dra. Clarice Vergara pelas sugestões no meu trabalho. Eles me acompanharam na qualificação e contribuíram na efetivação desta pesquisa. Acrescento também todos os meus professores do ensino básico e superior, em especial, a prof. Luciana Leite e o prof. Jones Menezes, os quais se tornaram meus parceiros de pesquisa.

Agradeço a todos os integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisa em Ensino de Ciências (GEPENCI) pelos valiosos debates e, sobretudo, aos amigos que entraram nessa jornada comigo: às irmãs acadêmicas Rayanne Silva e Thaís Borges e ao primo acadêmico Wanderson Diogo pelas companhias nesta triagem. Aos amigos Bruno Freitas, Jarbas Negreiros e Joaquim Lopes, tenho gratidão pela parceria e colaboração no meu amadurecimento.

Foi uma jornada árdua e de muitas experiências, permitida por legisladores que fomentam sonhos. Tais sujeitos possibilitaram a criação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará e de órgãos de fomento como a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, onde permitiram consolidar esse objetivo. A todos que citei, muito obrigado por acreditar e ajudar a concretizar esse sonho.

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Parafraseando Amy Farrah Fowler de The Big Bang Theory, “eu só queria aproveitar esse momento para dizer a todas as pessoas por aí que sonham em ter as Ciências como profissão, que sigam em frente! É o melhor trabalho do mundo”. Em tempos de anticiência e cortes financeiros nos setores de produção científica no Brasil, é sempre bom lembrar que a origem dos recursos utilizados para expor as ideias e as melhorias nas condições de vida das pessoas são de cunho do desenvolvimento científico, atrelado às tecnologias.

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RESUMO

A discussão sobre Educação Alimentar e Nutricional (EAN) é necessária nos diversos setores sociais, em virtude dos hábitos alimentares inadequados dos brasileiros. Na educação escolar, as análises prévias da Base Nacional Comum Curricular – BNCC - para o Ensino Fundamental mostram que a abordagem dessa temática foi destacada no 5º ano, na disciplina de Ciências, momento em que os conteúdos científicos são ministrados por professores pedagogos. Dessa forma, emerge o seguinte questionamento norteador da presente pesquisa: como os pedagogos,

futuros professores de conteúdos de ciências para os anos iniciais, estão sendo preparados para trabalhar com a Educação Alimentar e Nutricional? A indagação abrange os discursos de

documentos oficiais para os anos iniciais; a organização curricular de cursos cearenses em relação à promoção da EAN; as experiências formativas; e as dificuldades dos professores formadores de Pedagogia em trabalhar com a EAN. Assim, o objetivo geral deste trabalho consistiu-se em analisar a preparação para o ensino da alimentação saudável nos cursos de Pedagogia em instituições públicas de ensino superior do estado do Ceará, averiguando desde a organização da matriz curricular até o percurso preparatório dos professores formadores de Pedagogia, com o propósito de promover a EAN nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Os objetivos específicos incidiram em: i) averiguar os discursos dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e da BNCC para a EAN no ensino fundamental, os quais devem orientar a organização de conteúdos no currículo dos cursos de Pedagogia; ii) analisar as matrizes curriculares desses cursos nas universidades públicas do estado do Ceará para identificação de abordagens explícitas sobre a EAN, articulando com postulados das Diretrizes Curriculares Nacionais; iii) identificar a preparação dos professores formadores de Pedagogia, as suas experiências exitosas formativas e as dificuldades de atuação com essa temática; e iv) investigar a relação formativa nos cursos de Pedagogia com os documentos oficiais da educação para a promoção da alimentação saudável. No que diz respeito ao percurso metodológico, analisaram-se os documentos oficiais em busca de conteúdo do tema enfatizado para os anos iniciais – PCN (1997) e a BNCC (2017), em seguida, foram verificadas as matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia de uma Instituição de Ensino Superior (IES) específica do Ceará que possui 7

campis, distribuídos na capital e demais cidades cearenses, à procura de disciplinas de EAN ou

relacionadas. Posteriormente, à identificação das disciplinas, houve a aplicação de um questionário com os professores formadores, sendo complementado, em alguns casos, de uma entrevista, explorando as suas preparações acadêmicas, experiências exitosas e dificuldades com o tema em destaque. Como método de interpretação dos dados, utilizou-se a Análise Textual Discursiva (ATD). Referente aos documentos oficiais, enquanto os PCN abordam de forma majoritária os aspectos nutritivos dos alimentos, a BNCC os propõe em molde integral no Ensino de Ciências. Com isso, as propostas curriculares das IES apresentam fragilidades, sendo intensificadas pela falta de disciplinas específicas da EAN, contendo apenas componentes curriculares que tangenciam a sua oferta, como o Ensino de Ciências e a Saúde. Por fim, dos sete professores investigados, a maioria não teve formação inicial e/ou continuada no âmbito da EAN; as experiências exitosas são de forma majoritária com assuntos sobre os nutrientes nos alimentos, instruídos por uma única estratégia didática ou por diversas metodologias de ensino; e as dificuldades, em unânime, remetem a carência de formação acadêmica para promoção da alimentação saudável. Constata-se a predominância de vieses voltados aos nutrientes nos assuntos de EAN, desde as decisões governamentais para a educação, resultando nas limitadas práticas docentes. Ademais, a ausência de formação sobre a EAN permeia a trajetória de preparação e de atuação desses pesquisados, os quais mantêm uma sintonia dos aspectos nutritivos, preconizados nos PCN e na BNCC.

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ABSTRACT

Discussion about Food and Nutrition Education (FNE) is necessary in different social sectors, due to the inadequate eating habits of Brazilian people. In school education, previous studies of the National Common Curricular Base – BNCC - for Elementary Education have shown that this theme was highlighted in the 5th grade, in the discipline of Sciences, when pedagogues teach scientific contents. Thus, the following guiding question emerges from this research: how are pedagogues, future teachers of science content for the initial grades, being prepared to work with Food and Nutrition Education? The questioning covers the speeches of official documents for the initial years; the curricular organization of courses in Ceará State in relation to the promotion of FNE; the formative experiences and the difficulties of pedagogical teachers in working with FNE. Thus, the general objective of this work was to analyze the preparation for the teaching of healthy eating in the Pedagogy courses of public higher education institutions at Ceará State; investigating from the organization of the curricular matrix to the preparatory course of the Pedagogy teachers, with the purpose of promoting FNE in the early years of elementary school. The specific objectives were: i) to investigate the speeches of the National Curriculum Parameters (NCP) and the BNCC for FNE in elementary education, which should guide the organization of content in the curriculum of Pedagogy courses; ii) to analyze the curricular matrices of Pedagogy courses at public universities at Ceará State to identify explicit approaches to FNE, articulating them to the National Curriculum Guidelines postulates; iii) to identify the preparation of Pedagogy educating teachers, their successful training experiences and the difficulties in acting with the FNE theme; iv) to investigate the relationship between training in Pedagogy courses and official education documents for the promotion of healthy eating. Regarding to the methodology, the official documents were analyzed in search of the content of the theme emphasized for the early years - the NCP (1997) and the BNCC (2017). After, the curricular matrices of the Pedagogy courses of a Higher Education Institution (HEI), which have 7 campuses distributed in the capital and other cities in State of Ceará, looking for FNE or related disciplines were analyzed. Subsequently, a questionnaire was applied to the teacher teachers, in some cases supplemented by an interview, exploring their preparations, successful experiences and difficulties with the highlighted topic. As a method of data interpretation, Textual Discursive Analysis (DTA) was used. Regarding the official documents, while the NCPs deal mostly with the nutritional aspects of food, the BNCC proposes them in Science education in a full form. Thus, the curricular proposals of HEI presented weaknesses, intensified by the lack of specific subjects of the FNE and containing only curricular components, such as Science Education and Health. Finally, of 7 teachers consulted, most did not have initial and / or continuing training within the scope of the FNE. Successful experiences are mostly with issues about nutrients in food, instructed by a single didactic strategy or by different teaching methodologies. The difficulties, unanimously, referred to the lack of academic training to promote healthy eating. There was a predominance of nutritional bias in the FNE discipline, ranging from government decisions to education, resulting in limited teaching practices. Furthermore, the lack of training on the FNE permeated the trajectory of preparation and performance of these respondents, who tried to maintain a harmony of the nutritional aspects, recommended in the NCP and the BNCC.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA

Figura 1 - Teóricos citados nos manuscritos achados... 24

QUADROS Quadro 1 - Quantificação total de trabalhos detectados nas plataformas de consulta. 23 Quadro 2 - Caracterização metodológica dos manuscritos achados... 24

Quadro 3 - Resultados das pesquisas identificados no EQ... 25

Quadro 4 - Categorias dos documentos oficiais... 76

Quadro 5 - Conteúdos sobre a promoção da alimentação saudável, contidos nos PCN da Saúde e no bloco/eixo de Saúde em Ciências Naturais... 80

Quadro 6 - Assuntos da alimentação saudável no bloco/eixo de Recursos Tecnológicos... 88

Quadro 7 - Abordagem do tema alimentação saudável na BNCC (2017)... 99

Quadro 8 - Especificações dos cursos de Pedagogia no estado do Ceará... 103

Quadro 9 - Documentos curriculares oficiais de promoção da EAN nas escolas... 103

Quadro 10 - Categorias dos documentos curriculares das IES... 108

Quadro 11 - Disciplinas que remetem a EAN nas matrizes curriculares cearenses... 109

Quadro 12 - Categorias a partir do questionário eletrônico e da entrevista... 115

Quadro 13 - Perfil acadêmico e profissional dos professores formadores pesquisados 117 Quadro 14 - Documentos governamentais para nortear as aulas... 126

Quadro 15 - Conteúdos ensinados pelos professores formadores aos licenciandos... 138

Quadro 16 - Recursos e métodos de ensino utilizados pelos professores formadores... 148

Quadro 17 - Desafios e limitações dos docentes para efetivar a promoção da EAN... 164

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AC Análise de Conteúdo

AD Análise do Discurso

ATD Análise Textual Discursiva

BDTD Base Digital de Teses e Dissertações BNCC Base Nacional Comum Curricular

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CNE Conselho Nacional de Educação

CNS Conselho Nacional de Saúde DCN Diretrizes Curriculares Nacionais DNS Departamento Nacional de Saúde EAD Educação a Distância

EAN Educação Alimentar e Nutricional EC Ensino de Ciências

ENPEC Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências

EQ Estado da Questão

ES Educação em Saúde

FACED Faculdade de Educação

FAEC Faculdade de Educação de Crateús

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IES Instituição de Ensino Superior

LDB Lei de Diretrizes e Bases MEC Ministério da Educação

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PIBID Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

PNSAN Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar

PNE Plano Nacional de Educação PPC Projeto Pedagógico de Curso PSE Programa Saúde na Escola

RECNEI Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil SAN Segurança Alimentar e Nutricional

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SESP Serviço Especial de Saúde Pública

SISAN Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional TCC Trabalho de Conclusão de Curso

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecida TCT Temas Contemporâneos Transversais

TIC Tecnologias de Informação e Comunicação UECE Universidade Estadual do Ceará

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SUMÁRIO

1 DAS EXPERIÊNCIAS PESSOAIS AO SURGIMENTO DO PROJETO... 14

2 UMA VISITA ÀS MEMÓRIAS LITERÁRIAS: REFERENCIAL TEÓRICO... 22

2.1 Educação em Saúde: conceito, histórico e formação docente... 26

2.2 Discursos referentes a Educação Alimentar e Nutricional: sobre as definições e o contexto histórico... 36

2.3 A história dos cursos de Pedagogia no Brasil: entre o currículo e a formação docente... 48

3 PERCURSO METODOLÓGICO EM DESCRIÇÃO... 57

3.1 Caracterização da pesquisa... 57

3.2 Delimitações dos cenários e dos sujeitos da pesquisa... 60

3.3 Coleta dos dados... 62

3.3.1 Pesquisa documental... 62

3.3.2 Questionário eletrônico... 65

3.3.3 Entrevista... 67

3.4 Análise dos dados... 69

3.5 Aspectos éticos... 74

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 75

4.1 A Educação Alimentar e Nutricional em documentos governamentais da Educação... 75

4.1.1 Os Parâmetros Curriculares Nacionais e a alimentação saudável... 76

4.1.2 A Base Nacional Comum Curricular e as novas políticas de promoção da Educação Alimentar e Nutricional... 92

4.2 A promoção da alimentação saudável em matrizes curriculares de IES cearenses... 103

4.2.1 Análises das matrizes curriculares e das ementas... 108

4.3 A Educação Alimentar e Nutricional nos cursos de Pedagogia das IES cearenses... 114

4.3.1 Delineando as informações acadêmicas e profissionais dos docentes... 116

4.3.2 Aspectos da prática docente... 122

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4.3.2.2 Relato das práticas pedagógicas sobre a alimentação saudável... 133

4.3.2.3 Os desafios e as limitações na promoção da Educação Alimentar e Nutricional... 163

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 170

REFERÊNCIAS... 177

ANEXO A: APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA... 207

APÊNDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)... 211

APÊNDICE B: PERFIL DOS PESQUISADOS... APÊNDICE C: QUESTIONÁRIO ...

212 213

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1 DAS EXPERIÊNCIAS PESSOAIS AO SURGIMENTO DO PROJETO1

O objeto tema desta pesquisa contempla a formação inicial de professores pedagogos para a promoção da Educação Alimentar e Nutricional (EAN) nos cursos de licenciatura em Pedagogia do estado do Ceará. Enfatiza-se então a organização da matriz curricular das universidades públicas quanto a temas que abrangem a temática em destaque, as suas ementas com enfoque nos conteúdos e as falas dos professores formadores sobre as suas preparações acadêmicas, os conhecimentos das leis que regem a EAN na educação básica, o relato das experiências metodológicas e as dificuldades para o ensino dessa temática.

A delimitação deste estudo emergiu a partir das minhas vivências na educação básica, acompanhadas da formação inicial no curso de licenciatura em Ciências Biológicas, subsidiada pela participação em programas de complementação à formação docente e por atuação como professor na educação básica. Tais vivências incitaram minha curiosidade pessoal e de pesquisador, voltadas a determinação de como está constituído o currículo dos cursos de licenciatura das universidades públicas cearenses para temas de educação em saúde, com necessidade de abordagem na educação básica, como sexualidade e alimentação saudável.

Em 2011, ainda cursando o ensino médio, ingressei em um projeto municipal voluntário da Secretaria de Saúde da cidade de Ipaporanga/CE, cujo objetivo foi de formar jovens a ministrar palestras nas instituições de ensino fundamental e médio. Os membros eram organizados em grupos para trabalhar temas de primordial importância de discussão no município, a saber: bullying, drogas, sexualidade, alimentação saudável, entre outros. Nesse processo, iniciei os estudos referentes à sexualidade e ministrei palestras ainda no ensino médio, ou seja, tive o primeiro contato com a docência e participava das formações às outras temáticas propostas pelo projeto com ênfase na saúde aplicada à educação.

Logo em seguida, no ano de 2013, entrei no curso de licenciatura em Ciências Biológicas ofertado pela Faculdade de Educação de Crateús – Universidade Estadual do Ceará (FAEC/UECE)2. No primeiro semestre do curso, participei da disciplina Técnicas de Transmissão do Conhecimento Biológico (TTCB), em que, para a avaliação final, requeria dos discentes a escolha de um conteúdo de Biologia e, em conseguinte, a construção de uma metodologia para facilitar a aprendizagem. Assim, houve a construção de um jogo sobre os

1 Prezado leitor, peço licença em alguns parágrafos deste capítulo para utilizar a primeira pessoa do singular, com

o intuito de contar a minha trajetória de vida, relacionando-a com a proposta investigativa.

2 A FAEC, situada na cidade de Crateús com cerca de 360 km de Fortaleza, foi criada em 1983, possuindo apenas

o curso de Pedagogia. Atualmente, a Faculdade conta com os cursos de licenciatura em Ciências Biológicas (2002), Química (2002), Geografia (EAD) (2016) e História (2018); e um curso de especialização à distância em Tecnologias Digitais para a Educação Básica (2016).

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nutrientes, especificamente as vitaminas, adaptando o anime de cartas Yu-Gi-Oh ao jogo. Esse foi o primeiro contato na construção de material pedagógico à EAN, promovendo a minha inserção em uma escola do ensino médio para teste do jogo e, em seguida, o convite da instituição para apresentar o referido em sua feira científica. Nesse percurso, ocorreu as primeiras observações dos saberes sociais relacionados à alimentação saudável.

Ainda no mesmo ano, 2013, fui selecionado ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID)3, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em que durante, aproximadamente, três anos atuei em diversas práticas metodológicas de ensino, entre elas: o de sexualidade, com a realização de palestras e esclarecimento de dúvidas com os alunos; como também alimentação e nutrição, enfocando a realização de aulas práticas referente a detecção e função dos nutrientes nos alimentos, além de jogos para internalização dos conhecimentos.

Essas participações instigaram a busca por esclarecimentos de como esses temas têm sido abordados nas universidades, visto que foi no PIBID que me aprofundei nessas temáticas. O relato das atividades realizadas no curso de Ciências Biológicas, da mesma maneira que de outros cursos de licenciatura da cidade de Crateús, estão no manuscrito intitulado relato de experiências exitosas em subprojetos do PIBID desenvolvidos em

Crateús-CE, produzido por Moura, Paiva e Sudério (2017), divulgado na revista Educere et Educare.

Em 2016, participei de um projeto de Extensão intitulado “inserção das tecnologias na educação básica: contribuindo para o aprimoramento da formação docente”, no qual objetivava diagnosticar o uso das tecnologias digitais por docentes do ensino fundamental da cidade de Crateús/CE e construir um guia com ferramentas tecnológicas para os professores agregarem em suas práticas de ensino. Após um ano de atuação no projeto, em 2017, desenvolvi a monografia investigando o domínio, a formação, as experiências exitosas e as dificuldades com o uso das tecnologias por docentes do ensino superior de todos os cursos de licenciatura ofertados pelas universidades públicas dessa cidade. As reflexões das práticas exercidas no projeto de extensão e no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foram publicadas em periódicos científicos, com o intento de contribuição na divulgação das experiências formativas de docentes da educação básica e superior quanto ao uso das TIC’s nas práticas de ensino.

Após constatar a resistência de alguns docentes no uso das tecnologias digitais em suas práticas pedagógicas, os questionamentos quanto à abordagem efetiva de temas urgentes

3O PIBID possibilita o ingresso de alunos da licenciatura em escolas da educação básica, com o intuito do

amadurecimento da prática docente, vivenciando diversas ações voltadas à docência, como observações, regências, planejamento das aulas, elaboração e aplicação de práticas metodológicas, entre outras atividades.

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para discussão, como a sexualidade e a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) no curso de Ciências Biológicas, se intensificou, uma vez que se questionava a formação, as experiências metodológicas e as dificuldades dos docentes que ministravam disciplinas relacionadas às referidas temáticas. Estas indagações foram intensificadas pela minha experiência como acadêmico e pesquisador, visto que adquiri aprofundamento de conhecimento dos conteúdos científicos e pedagógicos atuando nos programas de complementação à formação docente, e obtendo poucas contribuições nas disciplinas da matriz curricular na graduação.

No mesmo ano de defesa da monografia, 2017, ministrei aulas de Ciências do 6º ao 9º ano em uma escola pública de Ensino Fundamental da cidade de Ipaporanga/CE. Ao analisar os conteúdos do 8º ano4, constatei que iniciaríamos os estudos sobre sexualidade. A abordagem dessa temática foi facilitada pelo meu percurso de experiências formativas, no qual firmei parcerias com membros da Secretaria de Saúde do município, obtendo assim materiais para suporte metodológico para ensino da temática e para palestras.

Ao participar dos encontros bimestrais da área de Ciências da Natureza e Matemática para determinação do próximo conteúdo bimestral e relatar as práticas de ensino utilizadas com o conteúdo anterior, ou seja, sexualidade, observei que os recursos metodológicos usados pelos docentes se limitaram em leituras paragrafadas, banners anatômicos dos órgãos sexuais masculinos e femininos e caixa de perguntas. Por intermédio da observação dessas limitações metodológicas, o questionamento acerca da formação dos professores para trabalhar com temas ligados à educação sexual teve fortalecimento.

O conteúdo indicado para o bimestre seguinte consistia na EAN, enfatizando a importância de uma alimentação saudável, a função dos nutrientes e as ações do sistema digestório. A temática em destaque foi ministrada com a realização de explorações no livro didático, aulas práticas, jogos e vídeos. Durante o desenvolvimento das aulas, instiguei aos alunos a mudarem os hábitos alimentares, os quais para a maioria incidia em alimentos com alto teor de açúcares, sais e industrializados.

No ano seguinte, em 2018, fui selecionado novamente a ministrar a disciplina de Ciências em duas escolas públicas de Ipaporanga/CE. Ao averiguar os conteúdos para o novo bimestre, constatei que no 8º ano o conteúdo EAN estava em evidência. Com a abordagem diferenciada do ano anterior, iniciei o conteúdo nas escolas realizando diagnóstico com os alunos, em que foi identificado equívocos de conceitos relacionados aos nutrientes e à alimentação saudável. Após a realização do diagnóstico, decidi elaborar diversas metodologias

4Neste período, as escolas do município atendiam as divisões temáticas realizadas pelos Parâmetros Curriculares

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de ensino, em prol de apresentar os conteúdos propostos em múltiplos contextos na tentativa de os discentes avaliarem a sua alimentação e mudarem as concepções equivocadas voltadas aos nutrientes e aos hábitos alimentares inadequados.

Os resultados do diagnóstico e as diversas atividades realizadas estão no artigo comer para ficar forte e crescer: a Educação Alimentar e Nutricional em sequência didática (MOURA et al., 2020), publicado no periódico Ciência e Desenvolvimento. Assim como a sexualidade, a abordagem da EAN no ensino fundamental também chamou a minha atenção em virtude de ser estudada nos anos anteriores do ensino fundamental e, mesmo assim, os alunos continuarem com resistência para adequação a uma alimentação saudável e a concepções incertas sobre os nutrientes.

No mesmo período de atuação na educação básica, em 2018, a Universidade Federal do Ceará (UFC) abriu seleção para o Mestrado Acadêmico em Educação Brasileira e a dúvida ao tema para proposta do projeto perdurou em minha mente, pois se tratava de duas propostas com necessidade de discussão no meio acadêmico, e as minhas experiências demonstravam interesse nas áreas. Dessa forma, devido a inquietude da formação dos professores voltadas a temática sexualidade incitada pelos relatos de docentes da Secretaria Municipal de Educação em Ipaporanga/CE, optei pela proposta desta pesquisa no currículo das instituições de ensino básico, bem como na formação dos professores.

Após a aprovação e ao cursar a disciplina Estágio de Docência na pós-graduação, a qual os alunos são direcionados a uma disciplina da graduação para observação da prática docente, escolhi a disciplina de Ensino de Ciências ofertada pelo curso de Pedagogia na Faculdade de Educação (FACED/UFC). Ao longo da trajetória de realização do estágio, a professora supervisora solicitou a apresentação do meu objeto de estudo, sexualidade, aos alunos, realizando uma comparação da temática entre os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Os resultados desta análise estão no manuscrito O conservadorismo e a formação cidadã: a abordagem da Sexualidade no Ensino

Fundamental diante o discurso em documentos oficiais (MOURA; LEITE, 2019), compondo o

dossiê Gênero e diversidade sexual na escola da revista Educação, Ciência e Cultura.

No percurso de estudos para a aula, deparei-me com a explicitação de conteúdos referente a EAN na disciplina de Ciências apenas nos anos iniciais, especificamente no 5º ano do ensino fundamental, fato que denota urgência de discussão em pesquisas científicas, investigando diversas problemáticas, entre elas, a consolidação da formação inicial de docentes pedagogos para ministração da EAN nos anos iniciais do ensino fundamental. Portanto, busca-se o atendimento não apenas as novas diretrizes curriculares à educação, mas outras propostas

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governamentais de promoção da alimentação saudável, uma vez que diante as análises preliminares das novas propostas governamentais, a promoção desse ensino, juntamente a explicitação dos conteúdos a serem abordados, é observada na disciplina de Ciências apenas nos anos iniciais.

Como citado anteriormente e apontado nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a graduação em Pedagogia (BRASIL, 2006a), compete ao curso citado à formação a fim de atuar desde a educação infantil até o 5º ano ensino fundamental em todas as disciplinas curriculares obrigatórias. Essa realidade, que gera debates para organização curricular no intuito de atender a demandas de disciplinas no curso, intensifica a problemática de estudos sobre a situação da proposta de formação dos licenciandos à fundamentação com temáticas científicas, notadamente a de destaque no presente estudo, a EAN, que se apresenta como tema de urgência para debates nos dias atuais, com o intento de consolidar formação necessária aos alunos da educação básica acerca dos hábitos alimentares saudáveis.

Ao caracterizar as instituições de ensino básico como primordiais, na perspectiva de formação social dos alunos (BRASIL, 1996), observa-se a importância destas para discussões a respeito da temática alimentação saudável, com o propósito de alterar índices extremos do perfil nutricional e hábitos inadequados alimentares da população brasileira. Os fatores enfatizados têm acarretado doenças aos organismos, problemáticas essas identificadas em análises diagnósticas promovidas pelo Ministério da Saúde.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde durante treze anos (2006-2018) nas capitais brasileiras (BRASIL, 2019a), os hábitos alimentares dos brasileiros têm tornado a maioria da população acima do peso (55,7%), havendo aumento também na quantidade de obesos (19,8%). Em consequência, os dados demonstram também o aumento de doenças crônicas não transmissíveis, tais como o diabetes e a hipertensão, mesmo com o crescimento do consumo de frutas e hortaliças, a realização de atividades físicas e a diminuição do consumo de refrigerantes e suco artificial. Ainda referente aos dados da pesquisa, os relatos apontam que o Brasil tem passado da desnutrição para a obesidade, o que demonstra a falta de equilíbrio entre os dois status. Ao observar os indicadores populacionais, constata-se também o excesso de peso crescendo com a maior idade e com menor escolaridade.

Nesse contexto, as escolas contribuem à formação de sujeitos conhecedores das ações dos nutrientes no corpo humano e na aplicação desses conhecimentos em seus hábitos alimentares, instigando uma alimentação saudável. Assim, corrobora-se a importância das instituições de ensino, sobretudo as de educação básica, a fim de trabalharem a temática Educação Alimentar e Nutricional (EAN), contribuindo à minimização de casos extremos de

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desnutrição e obesidade (BOOG, 2008). Segundo a autora, é de caráter significativo o trabalho desses conteúdos no início da vida escolar das crianças, propiciando desde cedo saberes aos alunos sobre os nutrientes, suas funções, os seus efeitos na falta e em excesso, tal como possam associar o consumo destes com a sua alimentação, baseada em fatores culturais, sociais, econômicos, entre outros.

É interessante destacar que os termos alimentação e nutrição apresentam significados diferentes. Segundo Brasil (2007a), a alimentação é um processo voluntário e consciente, uma vez que escolhemos os alimentos a serem consumidos e como prepará-los para o consumo, enquanto a nutrição é uma reação involuntária do corpo humano, ou seja, a absorção dos nutrientes não ocorre de forma controlada pelo organismo, apenas acontece a digestão dos alimentos sem dominar a aquisição de excessos.

Apesar da distinção entre os dois termos, a expressão Educação Alimentar e Nutricional surgiu dos pressupostos de que em estudos educativos é inviável a separação entre cultura alimentar e a ciência da nutrição, sendo esse termo um compartilhamento de mudanças para as novas definições de comer. Assim, nesse trajeto possam obter novas condições de alimentação saudável, por intermédio da elaboração de novos conhecimentos e reflexões com relação as práticas alimentares, sem se limitar aos sabores da vida (BOOG, 2013).

Seguindo os pressupostos anteriores, em um contexto histórico, a temática EAN tem sido abordada apenas no viés científico das funções morfofisiológicas dos órgãos que integram o sistema digestório e o valor nutritivo dos alimentos, como mencionado por Motta e Teixeira (2012). Entretanto, segundo os autores, torna-se preciso a caracterização dessa temática em aspecto multidisciplinar, denotando assim que a abordagem no Ensino de Ciências (EC) seja ampliada aos aspectos cultural, ambiental, econômico, político e outros. Isso potencializa a formação crítica dos alunos e promove uma educação científica subsidiada sob amplas áreas do conhecimento, efetivando assim uma preparação sociocientífica.

A amplitude de discussão dessas temáticas efetiva o EC, uma vez que os saberes científicos subsidiados pelas tecnologias vêm sofrendo alterações ao longo do tempo, no qual apontam a necessidade de circundar esses saberes nas diversas áreas do conhecimento para concretizar mudanças sociais (POZO; CRESPO, 2009). Assim, o EC realizado para consolidar uma cultura científica contribui na valorização e concretização da formação cidadã discente, contornando e explorando as mais variadas áreas de conhecimento (CACHAPUZ, 2012).

Diante dos relatos expostos, emergiu-se o seguinte questionamento problematizador: como os pedagogos, futuros professores de conteúdos de ciências para os

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Nutricional? Este questionamento geral é circundado por outras indagações específicas, tais

como: o que os documentos oficiais da educação dizem sobre a promoção da EAN nos anos

iniciais do ensino fundamental e na formação de professores de Pedagogia? Como está organizada a matriz curricular dos cursos de Pedagogia do estado Ceará acerca da EAN? Qual a trajetória formativa (preparação acadêmica, experiências exitosas e dificuldades) dos professores formadores de Pedagogia no intuito ao ensino da alimentação saudável? E em quais pontos a preparação promovida da EAN relacionam-se ao discurso dos documentos oficiais? Tais dúvidas são incitadas também pelas experiências relatadas anteriormente quanto

a abordagem da EAN durante a atuação docente, visto que os alunos tiveram contato com o presente tema nos anos iniciais e apresentaram resistências nos saberes relacionados a temática. Dessa forma, torna-se importante a realização de pesquisas que circundam e impliquem em concretizar a preparação cidadã dos alunos da educação básica, em especial, no que rege a formação de professores pedagogos para atuação na etapa inicial do ensino fundamental. A preparação docente se torna um dos pontos fundamentais de relato, posto o desenvolvimento de conceitos e concepções da alimentação em múltiplos aspectos da formação e vivência cidadã. Nesse ensejo, essa preparação é consolidada com os saberes científicos e pedagógicos dos professores formadores, da mesma maneira com as suas experiências formativas agregadas com as vivências dos licenciandos.

Nesse contexto, o objetivo geral deste trabalho é analisar a preparação para o ensino da alimentação saudável nos cursos de Pedagogia em instituições públicas de ensino superior do estado do Ceará, averiguando desde a organização da matriz curricular até o percurso formativo dos professores formadores de Pedagogia, com o propósito de promover a EAN nos anos iniciais do ensino fundamental.

Os objetivos específicos incidiram em:

✓ Averiguar os discursos dos PCN e da BNCC para a EAN no ensino fundamental, os quais devem orientar a organização de conteúdos no currículo dos cursos de Pedagogia; ✓ Analisar as matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia de universidades públicas do estado do Ceará para identificação de abordagens explícitas sobre EAN, articulando com postulados das DCN;

✓ Identificar a preparação dos professores formadores de Pedagogia, as suas experiências exitosas formativas e as dificuldades de atuação com a temática EAN;

✓ Investigar a relação da formação nos cursos de Pedagogia com os documentos oficiais da educação para a promoção da alimentação saudável.

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Nessa perspectiva, com esta pesquisa, intentemos contribuir para a discussão acerca da importância na abordagem da EAN por profissionais que atuam no ensino à preparação acadêmica inicial dos docentes de Pedagogia e colaborar no desenvolvimento de uma prática pedagógica reflexiva. Buscamos o fornecimento de um suporte na perspectiva que sejam feitos contínuos questionamentos referentes às práticas efetivas e funcionais de ensino e aprendizagem, utilizadas por esses profissionais acerca das Ciências da Natureza e da educação em saúde, tentando analisar a realidade em que atuam e as suas ações docente, haja vista refletirem as suas práticas pedagógicas.

Na tentativa de melhor estruturar a presente pesquisa, dividimos este trabalho em seções, que correspondem a corroboração e a compreensão de relevância da investigação, perpassando por aprofundamento teórico de embasamento do leitor, bem como a explicação da metodologia, resultados, discussão e conclusão. Tais pontuações refletem nos enunciados da introdução, em que discorremos as problemáticas e justificativas iniciais, relacionando com a trajetória de vida do pesquisador e aos objetivos desta averiguação científica.

A seção posterior à introdução (capítulo dois) consiste no referencial teórico. Este é iniciado com algumas pontuações identificadas no Estado da Questão, elaborado para norteamento da presente pesquisa. Continuando com o tópico, o referencial teórico foi estruturado em subtópicos, com o intento de embasar a pesquisa com múltiplos conceitos, relatos históricos e formação profissional docente nos assuntos de Educação em Saúde, Educação Alimentar e Nutricional e Formação de Professores Pedagogos.

O terceiro capítulo aborda a metodologia utilizada para responder aos objetivos. Relata-se a caracterização da pesquisa, os instrumentos utilizados à averiguação, assim como os métodos de interpretação dos dados e os aspectos éticos da pesquisa. Tais explicitações contribuem para o entendimento do percurso de procedimentos realizados na presente investigação, além de incitar a melhor compreensão dos resultados obtidos.

Na quarta seção apresentaram-se os resultados, juntamente a discussão dos achados, como uma forma de detectar as respostas das indagações. Esses tópicos serão divididos em subtópicos, os quais dividiremos nas seguintes propostas: 1 – a abordagem da alimentação saudável em documentos governamentais da educação – básica e formação de professores pedagogos; 2 – busca da EAN em documentos das IES (Projeto Pedagógico de Curso, Matrizes Curriculares das disciplinas e Ementas); e 3 – relato dos questionários feitos aos professores. Por fim (capítulo cinco), encontra-se a conclusão da pesquisa, respondendo aos objetivos propostos na presente investigação. Continuando com a estrutura pautada, inicia-se a seguir, na seção 2, os apontamentos do Referencial Teórico.

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2 UMA VISITA ÀS MEMÓRIAS LITERÁRIAS: REFERENCIAL TEÓRICO

Esta seção contém alguns conceitos e marcos históricos na perspectiva de embasar o leitor nos múltiplos aspectos de abordagem da proposta investigativa. Relata-se sobre a Educação em Saúde, uma vez que a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) se encontra dentro das políticas públicas voltadas para a saúde, sendo propagadas pela educação. Em seguida, aborda-se os escritos sobre a EAN e formação de professores pedagogos.

Antes da construção do referencial teórico, houve a elaboração de uma pesquisa bibliográfica do tipo Estado da Questão (EQ) para embasamento inicial na presente pesquisa. Com o título “A educação alimentar e nutricional em questão: desdobramentos na formação inicial de professores pedagogos”, tal produção foi publicada em periódico científico pelos pesquisadores Moura e Leite (2020). Considerando a relevância do EQ para construir essa dissertação, abordaram-se alguns resultados teóricos-metodológico identificados.

O EQ objetiva “levar o pesquisador a registrar, a partir de um rigoroso levantamento bibliográfico, como se encontra o tema ou o objeto de sua investigação no estado atual da ciência ao seu alcance” (NÓBREGA-THERRIEN; THERRIEN, 2004, p. 7), ao mesmo passo que tem a intenção na pesquisa científica em “delimitar e caracterizar o objeto ‘específico’ de investigação de interesse do pesquisador e a consequente identificação e definição das categorias centrais da abordagem teórico-metodológica” (NÓBREGA-THERRIEN; THERRIEN, 2004, p. 38). Isso auxilia na delimitação das pesquisas.

As buscas se deram para responder o seguinte questionamento: quais as concepções

e os conhecimentos científicos e pedagógicos dos licenciandos/licenciados/professores formadores, bem como a organização da matriz curricular dos cursos de licenciatura em Pedagogia quanto a temática Educação Alimentar e Nutricional para os anos iniciais do ensino fundamental? A indagação circunda a formação acadêmica, experiências exitosas e

dificuldades nos cursos presenciais de Pedagogia para a EAN.

A delimitação dos trabalhos ocorreu com recorte temporal entre 1996 a 2019, considerando o primeiro ano citado como de divulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, as quais deram subsídios para políticas públicas educacionais posteriores até as mais atuais, o período final mencionado. As plataformas virtuais que tiveram identificação de publicações, incidiram na Biblioteca Brasileira Digital de Teses e Dissertações – BDTD, em busca de produções stricto sensu no Brasil; no Portal de Periódicos da CAPES (por conter diversos artigos de periódicos nacionais e internacionais) e no Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – ENPEC, à procura de pesquisas voltadas às Ciências nos cursos de Pedagogia e nos anos iniciais do ensino fundamental.

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Realizado o levantamento bibliográfico nas plataformas selecionadas, obtiveram-se os trabalhos que responderam ao questionamento do EQ, bem como contribuem para a produção da presente pesquisa. O quadro 1 mostra a quantidade de trabalhos identificados após a efetivação das buscas, podendo analisar as propostas teóricas-metodológica, assim como sugerido por Nóbrega-Therrien e Therrien (2004). Ressalta-se que nesse tópico apresentam-se os principais resultados, sendo que maiores esclarecimentos e discussão mais aprofundada no trabalho constam na publicação de Moura e Leite (2020).

Quadro 1 – Quantificação total de trabalhos detectados nas plataformas de consulta.

Plataforma Virtual Manuscritos Encontrados Manuscritos Selecionados

BDTD 1.108 5 dissertações

1 tese

Periódicos CAPES 2.081 1 artigo

ENPEC 5.625 1 artigo

Total 8.814 8 produções

Fonte: Moura e Leite (2020).

Verificam-se poucas produções com similaridades a presente pesquisa, o que instiga a realização desta investigação e efetiva o seu ineditismo. Tal ineditismo é verificado também pela regionalidade das produções, sendo realizadas no Sudeste (4), Sul (3) e Centro-Oeste (1) do Brasil, faltando discussões das regiões Norte e Nordeste. Simultaneamente, observam-se que as investigações ocorrem a partir do ano de 2008, mostrando o início destas pesquisas a partir dos últimos dez anos.

Sobre as áreas do conhecimento, identificou-se a proeminência em trabalhos ligado as Ciências, tendo maior realização em educação; Ensino de Ciências e saúde; psicologia da educação; educação científica e tecnológica; ciências da saúde; educação em ciências (química da vida e saúde); e nutrição, o que denota a realização dos trabalhos em diversos programas, possuindo esses relação, como educação, saúde, ciências, tecnologia, nutrição e psicologia.

Posterior análise regional, temporal e por área dos manuscritos, identificaram-se as proposições metodológicas adotados para realização dos trabalhos. O quadro 2 apresenta a caracterização metodológica dos escritos selecionados. O percurso metodológico contribui para responder aos objetivos dos achados, que em suma, correspondem: identificar as concepções, além dos saberes científicos e pedagógicos, de docentes dos anos iniciais para explanar a alimentação saudável (3); analisar a opinião de sujeitos do ensino superior (licenciandos, professores formadores e coordenadores de curso) referente a temáticas da EAN ou temas que a abrange, como a saúde (3); e averiguar o currículo das IES em Pedagogia com menção a temas das áreas de ciências da natureza e/ou saúde (2).

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Quadro 2 – Caracterização metodológica dos manuscritos achados.

Abordagem

Qualitativa (6) Quantitativa (2)

Coleta de dados

Entrevista (4) Questionário (3) Análise Documental

(3) Grupo focal (1)

Análise dos dados

Conteúdo (4) Discurso (2) Estatística (2)

Cenário das Pesquisas

Instituições de Ensino Superior (5) Escolas da Educação Básica (3)

Sujeitos das pesquisas

Licenciandos Licenciados Professores

formadores

Coordenadores de curso

Fonte: Moura e Leite (2020).

As premissas demonstram a trajetória metodológica utilizada ao longo dos achados, destacando as mais aplicadas nas pesquisas científicas, ao mesmo passo que expõe práticas metodológicas não utilizadas, representando ineditismo em metodologias posteriores, inclusive para no presente trabalho. Outro auxílio é feito no contexto teórico, sendo analisado os principais autores utilizados nas distintas obras escolhidas, como é possível verificar na figura 1. Estes contribuíram de forma significativa na dissertação, pois foram base durante a escrita.

Figura 1 – Teóricos citados nos manuscritos achados.

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Diante das colocações, verificam-se que os manuscritos selecionados contribuem na delimitação científica e adequação da proposta aos processos necessários à sua efetivação. Nesse sentido, corrobora-se a relevância do EQ para investigar a concepção de uma alimentação saudável em diversas vertentes que a circunda e a partir de diversos autores que regem o currículo, a formação de professores em geral e de Pedagogia, a educação em saúde e a educação alimentar e nutricional.

Em complemento, as proposituras das IES devem se adequar às orientações governamentais, as quais regulamentam o ensino sobre a temática em questão. Isso possibilita a ampliação de debates quanto a EAN nos cursos superiores de Pedagogia, proposta nesta produção. No quadro 3 há um resumo dos principais resultados identificados nos trabalhos, em que discorrem os achados das produções encontradas.

Quadro 3 – Resultados das pesquisas identificados no EQ.

Autores Principais resultados

Esteves e Gonçalves

(2013)

Analisaram as matrizes curriculares de IES públicas e privadas do estado de São Paulo sobre a promoção dos conteúdos de Ciências da Natureza, área vinculada a EAN. Estes identificaram que de 678 disciplinas, apenas sete abordavam os saberes específicos de Ciências da Natureza.

Hansen (2016)

Averiguou os temas de Educação em Saúde no currículo de uma IES em Pedagogia, detectando abordagem superficial da EAN no Ensino de Ciências, e sem disciplinas específicas. Em entrevista com o coordenador do curso, ele relata que houve diminuição na matriz curricular em saberes específicos e aumento em formação pedagógica.

Haboba (2017)

Verificou a presença da temática saúde nos currículos de Pedagogias em IES de São Paulo, detectando a abordagem da EAN em algumas disciplinas, com títulos similares, a saber, Nutrição. Para licenciandos e professores formadores, há a necessidade de se intensificar os relatos no curso de Pedagogia.

Scarparo (2017)

Questionou a opinião de licenciandos em Pedagogia sobre a EAN. Os questionados consideram: a escola com potencial para a formação discente; as ações dos professores influem na decisão alimentar dos alunos; e discordam da temática ser abordada de forma exclusiva por nutricionistas em aula.

Fernandez e Silva (2008)

Realizaram indagações de saberes específicos dos nutrientes e as suas fontes de atualização dos seus saberes. As autoras detectaram dificuldades na definição de alguns nutrientes pelos docentes e a falta de atualização em fontes científicas. Castro

(2009)

Investigou os saberes científicos e as práticas pedagógicos de professores sobre EAN, identificando saberes equivocados, bem como os estudos realizados (formas de atualização) em fontes não confiáveis e sem cunho científico. Machado

(2009)

Pesquisou com uma professora dos anos iniciais sobre suas crenças alimentares. A entrevistada teve dificuldades em proferir um discurso crítico sobre EAN, desconhecendo práticas educativas quando aluna do ensino básico e superior. Winsch

(2009)

Analisou com licenciandos, e ao mesmo tempo professoras atuantes nos anos iniciais, as suas observações quanto crianças que são/estão gordas. Ela identificou exclusão destes sujeitos por serem associados com características negativas, como preguiçosos.

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Com os relatos, foi possível identificar uma carência de abordagem da EAN no currículo, na formação e nas práticas pedagógicas dos professores formadores em IES, o que intensifica a necessidade de ampliação dos diálogos dessa temática em todos os seus aspectos. Assim, demarcadas as aplicações teóricas-metodológica e os principais resultados de outras pesquisas, seguiu-se com o referencial teórico da presente dissertação.

Ao longo deste escrito, o EQ, bem como as pesquisas identificadas serão utilizados para subsidiar informações referentes a temática e a tomada de decisões metodológicas. Contudo, a análise mais detalhada e aprofundada do EQ poderá ser vista na publicação em periódico5. Seguindo a proposta de investigação, inicia-se o debate que compõe o referencial teórico relatando no próximo subtópico sobre a temática Educação em Saúde.

2.1 Educação em Saúde: conceito, histórico e formação docente

Apesar da Educação em Saúde (ES) integrar um único termo, essa integração incide em áreas diferentes do conhecimento: educação e saúde, que realizam parcerias no intento de modificar realidades insatisfatórias voltadas à saúde do corpo humano, frutos de comportamentos circundados por ações histórica, social, cultural, política, econômica e ambiental, interferindo em hábitos saudáveis dos alunos da educação básica e impossibilitando a consolidação de uma qualidade de vida na sociedade. Corroborando com as afirmações anteriores, Schall e Struchiner (1999, p. 4) destacam que a ES agrega múltiplas concepções, “[...] as quais espelham diferentes compreensões do mundo, demarcadas por distintas posições político-filosóficas sobre o homem e a sociedade”.

Tal definição é explicada por Venturi e Mohr (2011) quanto à ES resultante da junção de duas grandes áreas do conhecimento, como já mencionado anteriormente, e que em muitos casos é instruída nas escolas com conteúdo, objetivos e metodologias distintos do esperado em virtude da incompreensão desse termo nos espaços de formação profissional e âmbitos escolares, na qual, as atividades realizadas não correspondem a essa junção. Nesse sentido, essas atividades são executadas com conceitos, objetivos e práticas cercadas por várias problemáticas e dificuldades na abordagem efetiva da ES por seus propagadores.

Indo ao encontro dos trabalhos da ES nas escolas, segundo o legado construído e disseminado por Virgínia Schall6, esse tema deve superar a aplicação de mera conceituação da

5 Disponível em <https://rsd.unifei.edu.br/index.php/rsd/article/view/2141>. Acesso em: 10 de fevereiro de 2020. 6Nas descrições de Pimenta, Struchiner e Monteiro (2017),Virgínia Torres Schall de Matos Pinto (1954-2015) foipesquisadora pioneira na articulação dos campos da Saúde, Educação e Divulgação Científica. Fomentadora de ideias e parcerias inter e intra institucionais, cooperou de forma efetiva para divulgação científica do país. Auxiliou na consolidação de políticas públicas nas áreas da saúde, educação e divulgação científica. Forneceu consultoria em diversos órgãos nacionais e internacionais, entre outras atividades vinculadas à saúde.

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saúde associada à ausência de doenças no organismo, além de modificar o comportamento humano em centrá-lo no binômio saúde-doença, desconsiderando uma multidisciplinaridade aplicada em pesquisas e práticas de ensino, o que poderia transcender o tema saúde do viés biológico. O comportamento limitado descrito tem resultado no aprendizado e na utilização dos diversos métodos preventivos de forma mecanizada e descontextualizada, prejudicando na compreensão efetiva do uso de determinadas medidas preventivas. Tais atitudes têm sido disseminadas em diversas produções acadêmicas e em formação de profissionais nessa temática (PIMENTA; STRUCHINER; MONTEIRO, 2017).

De acordo com a concepção de Venturi (2013), as instituições de ensino básico devem fomentar a ES de forma reflexiva e com aportes metodológicos que façam os discentes ponderarem acerca de seus comportamentos cotidianos. Complementarmente, Schall e Massara (2007) acreditam que a ES necessita ser ensinada transcendendo aspectos biológicos, enfatizando contextos reais voltados à cultura e à história da sociedade em prol de mudanças nas ações dos sujeitos sociais.

Na perspectiva de Mohr (2002), a ES é conceituada como uma composição do currículo escolar, com o intento de abordagem pedagógica, relacionando o processo de ensino e aprendizagem de alguma temática da saúde em aspecto individual ou coletivo. Não obstante, a autora utiliza esse conceito para distinguir os termos Educação em Saúde de Saúde Escolar e Saúde do Escolar, considerando o primeiro com caráter educacional e os dois últimos incidem em práticas médicas direcionada a uma população com determinada idade escolar.

Ainda sobre a determinação do termo ES como adequado para o campo do exercício pedagógico, Mohr (2002) define outros termos utilizados no meio científico e acadêmico, como Educação para a Saúde e a Educação Sanitária, conceituando o primeiro como um campo que lança metas, devendo ser alcançadas pelos alvos da ação, enquanto o segundo (Educação Sanitária) incide na propagação em hábitos de higiene, além de já ter sido utilizado com predominância em algum período histórico, como será visto com maiores detalhes mais adiante. Assim, destacam-se que os conceitos e abordagens relatados da ES são resultantes de um percurso histórico da sua inclusão na sociedade.

Historicamente, a inserção de temáticas da saúde na educação surgiu no Brasil desde a sua colonização pelos portugueses, com a adição dos assuntos da saúde nos planos educacionais dos Jesuítas para reverter os altos índices de moléstias que se espalhavam no território brasileiro (JUCÁ, 2008). Estas práticas dos Jesuítas perduraram por aproximadamente duzentos anos e agregaram ações relacionadas ao ambiente local com os hábitos adequados de higiene, no intuito de agregar o binômio ambiente-saúde e para minimização das moléstias na

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população, juntamente as ações e as crenças promovidas pela religião jesuíta (CALAINHO, 2005; JUCÁ; 2008).

Cabe ressaltar também que as atividades realizadas de saúde nessa época possuíam proeminência biológica, com a produção de chás e outras atividades, bem como pautadas em ações de higiene como lavagem de roupas e do ambiente (ANTUNES; SHIGUENO; MENEGHIN, 1999), apontando os primeiros exercícios da saúde já contornados por ações biológicas e de higiene, acumulando conhecimento histórico, no qual foi passado e repetido neste viés por gerações. Segundo os autores, os profissionais da saúde até o século XIX objetivaram apenas curar os feridos e amenizar o número de mortes da população carente, visto que a população abastada era tratada em casa com médicos particulares. Outra observação incidiu no desenvolvimento dos hospitais que passaram por mudanças devido o aperfeiçoamento da ciência médica.

Contudo, no início do século XIX, Período Imperial no Brasil, os profissionais de saúde buscaram também integrar saúde e educação, e assim, os grupos considerados como “higienistas” implementaram ações para incitar a inteligência dos estudantes do ensino superior, com atitudes relacionadas a higiene (JUCÁ, 2008). Simultaneamente no século em destaque, visando diminuir a mortalidade infantil em massa e a desvalorização da infância emergem atividades com a tentativa de controlar a formação das crianças, sendo essas distanciadas pelos ensinos da família e direcionadas a colégios internos para moldagem de conhecimentos físicos e morais, tornando-se adultos moldados à ordem médica. Isso apontava a educação como disciplinadora e de domesticação, iniciando assim, uma nova pedagogia conhecida como higiênica e com propagação sanitária (SCHALL, 2005).

Pode-se observar, até os presentes relatos históricos, a carência de consolidação da ES mediante os conceitos apresentados anteriormente, sendo que as formações profissionais da época e as suas práticas podem ser resumidas em ações com vieses biológicos (higiene, interligação saúde-doença) e sem menções efetivas de exercícios educativos para alterações comportamentais da sociedade, incidindo na perspectiva da saúde apenas como “curadora”. Essa realidade faz parte da construção e impulsionamento inicial histórico da ES na sociedade, em todos os seus aportes.

A vertente da saúde como “curadora” foi se remodelando, e em 1924 transcorreram as primeiras iniciativas estaduais para a construção e a inserção de diversos programas voltados à ES no País, com um trabalho sanitarista em prol da promoção de hábitos de higiene e finalização de doenças (LEVY et al., 2002). Entretanto, com a fundação do Ministério da Educação e Saúde na década de 30, os autores destacam que houve a contenção das práticas

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estaduais e centralidade de atividades sanitárias somente nas cidades, mais visíveis nas capitais. Em conseguinte, ocorreu a transformação do “Serviço de Propaganda e Educação Sanitária” para o “Serviço Nacional de Educação Sanitária”, multiplicando-o pelas esferas federais, com o intuito de conscientizar os brasileiros de forma coletiva sobre as problemáticas da saúde.

Aperfeiçoando os serviços de propagação da saúde, manifesta-se em 1942 o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), resultante de parcerias entre o governo brasileiro e o norte-americano devido a busca desse último por recursos primários a fim da construção de matérias primas, com o propósito de utilização na Segunda Guerra Mundial. Além disso, o SESP sofre críticas de alguns autores ao ser considerada como elitista, imperialista e bélica, mas por outros é reconhecida a sua relevância em relação à expansão de atividades sanitaristas por todo o país, caracterizando-se como uma importante ação de saúde na Era Vargas (CAMPOS, 2007).

O SESP se tornou um importante serviço em virtude da proposta sanitarista para rompimento dos círculos de doenças e por transcender os espaços das unidades de saúde, adentrando às instituições de ensino primário e atendendo professores, alunos, família e comunidade. Nesta vertente, ele contribuiu para a capacitação dos docentes em educação sanitária e para a promoção de atividades por diversos profissionais da saúde, a saber, enfermeiros, médicos e agentes sanitários (RENOVATO; BAGNATO, 2010).

Na década de 50, o Ministério de Educação e Saúde foi desmembrado, resultando em um único ministério cada – o da Saúde e o da Educação. Juntamente a esse novo Ministério da Saúde diversas propostas governamentais, programas e campanhas de saúde foram criadas para combater enfermidades endêmicas e remanescentes dos estados, sob a responsabilidade do Departamento Nacional de Saúde - DNS (LIMA; PINTO, 2003), impulsionando as atividades para erradicação de doenças.

Na mesma década, a ES obteve ganhos com a aplicação de um viés ambiental e a inovação de práticas contendo participações da comunidade, realizadas por Hortênsia Hurpia de Hollanda7, caracterizadas como fundamentais no desenvolvimento da ES, alfabetizando a população em diversos aspectos saudáveis, igualmente aos postulados de Paulo Freire, destaque esse dificilmente obtido em políticas públicas e atividades deste cunho (SCHALL, 1999).

7Como descrito por Schall (1999), Hortênsia Hurpia de Hollanda (1917-2011) destaca-se por diversas ações de

Saúde Pública no Brasil, participando como assistente técnica da Divisão de Educação Sanitária do Serviço Especial de Saúde Pública da Fundação SESP (Serviço Especial de Saúde Púbica), Ministério da Saúde (1949-1955). Em 1954 formulou e orientou programas de educação em saúde para o Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERU), sendo pioneira, onde formou e coordenou equipes multiprofissionais, integrando as áreas de epidemiologia, psicologia, educação, ciências sociais e clínica médica, dedicadas a assessorar as pesquisas e planejamentos de programas. Participou de múltiplas investigações científicas internacionais, foi homenageada em diversos congressos internacionais e realizou trabalhos com vários outros pesquisadores renomados na área de educação em saúde, entre demais ações para melhoria do ensino de saúde e a sua promoção nos serviços públicos.

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Esses relatos denotam diversas ações da ES no meio social, promovidas por atividades no âmbito da saúde e por profissionais da área. Entretanto, no campo das políticas educacionais, a ES apenas foi inserida nas escolas a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) no artigo 7 da lei 5.692 em 1971, que institui a obrigatoriedade da inserção dos Programas de Saúde nos currículos de ensino do 1º e 2º grau (BRASIL, 1971). Todavia, em virtude da precária formação dos professores, da carência de livros didáticos e de materiais científicos de qualidade para propagação da ES, além de outras problemáticas nas instituições de ensino como a continuidade de uma abordagem biológica com o tratamento de enfermidades e ações higiênicas, a proposta de lei 5.692/71 não se efetivou (MOHR; SCHALL, 1992). Isso demonstra os diversos aspectos necessários de reflexão para consolidar o ensino de temas da saúde na educação básica.

Continuando sobre as perspectivas que nortearam a integralização da ES nos âmbitos escolares, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (BRASIL, 1988) decreta que é um dever do Estado e direito da população o fornecimento de políticas públicas voltadas à educação e à saúde. Esse decreto é de primordial importância para intensificar a produção e extensão de leis na tentativa de propagar a ES, incitando uma reflexão aos governantes acerca da valorização de práticas em múltiplos aspectos.

Após os postulados, surgem propostas governamentais para a determinação de saberes a serem inseridos nos currículos das escolas. Assim, emerge uma nova versão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB (BRASIL, 1996), promulgando novas diretrizes a serem inseridas em todos os níveis da educação. No que diz respeito à saúde, as diretrizes citam um único artigo enfatizando o tema, ao relatar a suplementação de materiais didáticos nas escolas, assistência à saúde, transporte e alimentação. Partindo das diretrizes à educação, instigou-se a construção dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), ressaltando diversos conteúdos, entre eles os voltados ao tema em ênfase para inserção nas instituições de ensino.

Embora sejam essenciais na orientação curricular das escolas brasileiras, os PCN tiveram uma produção privatista e antidemocrática, visto que foram produzidos por um grupo central, os educadores das escolas particulares de São Paulo com apoio do espanhol César Coll (PORTELA, 2013). As produções dos PCN ocorrem em anos distintos na Educação Básica, a saber: os anos iniciais foram publicados em 1997, os anos finais em 1998 e os do ensino médio ocorreram em 1999. Na carta aos professores, estes documentos relataram ser um suporte de organização e articulação para as aulas docentes, sem imposição de conteúdo, contribuindo na orientação da formação cidadã dos alunos de forma crítica e reflexiva para atuar em sociedade e respeitando as diversidades e particularidades das regiões brasileiras (BRASIL, 1997a).

Referências

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