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Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica.

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Academic year: 2021

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Desenvolvendo a competência comunicativa

em gêneros da escrita acadêmica

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Vinícius C. Pereira

José C. Gonçalves

Desenvolvendo a competência comunicativa

em gêneros da escrita acadêmica

UFF/PROAC/NEAMI

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Direitos desta edição reservados à EdUFF - Editora da Universidade Federal Fluminense Rua Miguel de Frias, 9 - anexo - sobreloja - Icaraí - CEP 24220-900 - Niterói, RJ - Brasil

Tel.: (21) 2629-5287 - Fax: (21) 2629- 5288 - http://www.editora.uff.br - E-mail: secretaria@editora.uff.br É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Editora.

Normalização: Danúzia da Rocha de Paula Edição de texto e revisão: Icléia Freixinho

Capa: Felipe Ribeiro (Laboratório de livre Criação/IACS) Projeto gráfico: Marcos Antonio de Jesus

Supervisão gráfica: Káthia M. P. Macedo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

V972 Votre, Sebastião J.; Pereira, Vinícius C.; Gonçalves, José C.

Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica/Sebastião Votre, Vinícius C. Pereira, José C. Gonçalves/Niterói: EdUFF, 2009.

94 p.; il. 29,7 cm – (Apoio ao aluno calouro, livro-texto 1). inclui bibliografias.

ISBN 978-85-228-0531-0

1. Manuais 2. Aprendizagem I. Título II. Série.

CDD 808.02

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Reitor: Roberto de Souza Salles Vice-Reitor: Emmanuel Paiva de Andrade

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Antonio Claudio Lucas da Nóbrega Pró-Reitor de Assuntos Acadêmicos: Sidney Luiz de Matos Mello

Diretor da EdUFF: Mauro Romero Leal Passos Diretor da Divisão de Editoração e Produção: Ricardo Borges

Diretora da Divisão de Desenvolvimento e Mercado: Luciene Pereira de Moraes Assessora de Comunicação e Eventos: Ana Paula Campos

Comissão Editorial

Presidente: Mauro Romero Leal Passos Ana Maria Martensen Roland Kaleff

Gizlene Neder

Heraldo Silva da Costa Mattos Humberto Fernandes Machado

Juarez Duayer Livia Reis Luiz Sérgio de Oliveira Marco Antonio Sloboda Cortez

Renato de Souza Bravo Silvia Maria Baeta Cavalcanti

Tania de Vasconcellos

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Introdução ... 7

Unidade 1

Gêneros e tipos textuais – macro e microestruturas ... 9

Unidade 2

Coesão textual ...21

Unidade 3

Coerência textual ...32

Unidade 4

Argumentação ...41

Unidade 5

Fichamento, resumo e resenha ...53

Unidade 6

Relatório e projeto ...63

Unidade 7

Artigo científico e monografia de conclusão de curso ...75

Unidade 8

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Este manual tem a finalidade de ajudá-lo a conhecer e utilizar de modo adequado o estilo aca-dêmico. Você pode estudar cada unidade na ordem em que aqui se encontra ou ir diretamente para a unidade que lhe interessa. Por exemplo, se estiver com alguma dificuldade de natureza gramatical, vá para a última unidade e veja o que lá oferecemos.

O manual contém oito unidades, voltadas para o domínio da escrita acadêmica, com ênfase nos gêneros textuais que a caracterizam. A primeira unidade apresenta os modos de organização textual e sua manifestação em cada gênero. Descreve e comenta, brevemente, o conteúdo, a forma e a função dos modos de organização textual. Apresenta também informações sobre os gêneros que escolhemos.

Seguem-se três unidades, sobre coesão, coerência e argumentação, com textos ilustrativos, atividades e reflexões, com vistas a ajudá-lo no desempenho intelectual. Estas unidades têm o ob-jetivo de fazê-lo escrever de forma coerente, mantendo coesão entre as partes e, sobretudo, com argumentos capazes de convencer seu leitor do que você está propondo.

Vêm então as unidades específicas que escolhemos, organizadas em termos de utilização ime-diata e em nível de complexidade. Portanto, você trabalhará, de imediato, com os gêneros fichamen-to, resenha e resumo; em seguida, lidará com as características do projeto de pesquisa e do relatório, para, por fim, familiarizar-se com as propriedades da monografia e do artigo científico.

Optamos por incluir uma unidade de suporte geral para quem escreve, em que constam ques-tões e problemas de escrita. É uma unidade inovadora, no sentido de que os problemas que aí se analisam são pontos controversos, com que nos defrontamos no dia a dia da produção de textos no meio universitário.

Em cada unidade, mostramos o que vamos fazer, o que propomos que você faça, para alcançar os objetivos da unidade e em seguida apresentamos o núcleo da unidade, com introdução, desenvol-vimento e conclusão. As unidades são permeadas de atividades de reflexão e escrita, propostas para o domínio das habilidades acadêmicas. Oferecemos uma alternativa de resposta para cada atividade e concluímos a unidade com referências bibliográficas e on-line.

Por se tratar de um manual para escrita de textos, tomamos alguns cuidados na seleção dos textos com que trabalhamos. Esses textos representam bem o gênero que está sendo estudado, são coesos e coerentes e apresentam argumentação confiável. São escritos de forma clara e são breves.

Cuidamos também do nosso próprio estilo, em que procuramos interagir com você de forma cooperativa, com linguagem acessível e clara. Procuramos incluir atividades relevantes para você executar, à medida que trabalha cada unidade. Essas atividades têm respostas previsíveis, de modo que oferecemos uma alternativa de resposta para cada atividade.

Então? Mãos à obra? Um abraço,

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Gêneros e tipos textuais – macro

e microestruturas

Apresentando a unidade

B

em-vindo! Você está iniciando o seu curso de análise e produção de texto acadêmi-co. Neste curso você vai aprender primei-ro a reconhecer e depois a pprimei-roduzir os diversos gêneros textuais da escrita acadêmica. Você vai aprender olhando, examinando, entendendo e depois redigindo os diversos textos que circu-lam no mundo

acadê-mico. Como já dizia Confúcio (151 a.C.): “O que eu ouço, eu es-queço. O que eu vejo, eu lembro. O que eu faço, eu entendo.”

Definindo os objetivos

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

1. compreender a noção de tipo textual e de gênero textual;

2. reconhecer os tipos textuais ex-positivo e argumentativo;

3. identificar tipos e funções dos parágrafos; 4. redigir com clareza os diferentes tipos de pará-grafos.

Conhecendo os

gêneros textuais

De acordo com os Parâme-tros Curriculares Nacionais – PCNs –, ensinar lín-gua significa ensinar diferentes gêneros textuais. O gênero é uma unidade de linguagem em uso, na vida real, inserida numa moldura comunicativa de interlocutores e intenções. Assim, dependen-do dependen-do tipo e dependen-do teor da informação que quere-mos comunicar, utilizaquere-mos gêneros diferentes, geralmente convencionados em sociedade.

Perceba, por exemplo, que a finalidade deste manual é diferente da de um jornal, em-bora ambos sejam agrupados em uma categoria

objetivos do locutor (quem escreve ou fala) e do interlocutor (quem ouve ou lê) implica também diferenças na estruturação do texto e na organi-zação da informação. Veja que, por ser um mate-rial didático, este texto que você está lendo tem características muito próprias, como uma lin-guagem clara e direta, ilustrações e exemplifica-ções. Já o jornal, por ser produzido diariamente e apresentar informações que são lidas e descar-tadas muito rapidamente – pois no dia seguin-te já há novas notícias –, seguin-tende a ser um seguin-texto muito mais breve. Além disso, a maior parte das reportagens de um jornal têm caráter narrativo, isto é, verbos que indicam ação, personagens, narrador etc. Já este manual tem caráter expo-sitivo, pois, em vez de encadear ações, agrupa ideias abstratas de modo lógico.

Como você pode perceber, existem inúme-ros gêneinúme-ros textuais com os quais convivemos, dentro e fora da universidade. Neste manual, você aprenderá a ler e escrever os gêneros típi-cos do meio acadêmico. Antes, porém, observe a seguir os fatores que determinam as caracte-rísticas de forma e conteúdo de cada um desses gêneros:

Tempo: Refere-se a diferenças cronológi-cas, do ponto de vista cultural, social, político e econômico, bem como aos graus de conheci-mento compartilhado entre o produtor e o re-ceptor dos textos, no momento da produção e recepção. Diferentemente dos gêneros da intera-ção oral face a face, nos textos de escrita aca-dêmica o produtor e o leitor geralmente estão situados em diferentes momentos e é, portanto, necessário explicitar as informações básicas para contextualizar a informação.

Lugar: Designa o lugar físico da produção e recepção dos textos (escola, escritório, casa, empresa, mídia), bem como a posição social do produtor e do receptor na interação (aluno, em-pregado, redator, jornalista, professor, cliente, amigo). Você, quando escrever um texto acadê-mico, vai estar num lugar físico e ocupar um pa-pel social diferentes dos lugares físicos e sociais dos seus possíveis leitores e/ou destinatários.

Objetivo da interação: Qual o efeito que o seu texto deve e espera produzir no recep-tor, isto é, para que serve o texto? Quando você escreve um texto, quais são as suas intenções? Será que a sua intenção comunicativa vai ser igual à interpretação do seu possível leitor?

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Canal: Que canal é utilizado para a intera-ção entre o produtor e o receptor do texto: pa-pel, vídeo, e-mail, livro, revista, chat, videocon-ferência, telefone, telegrama, carta? Em outras palavras, qual o meio que você vai utilizar para a transmissão da mensagem?

Grau de formalidade da situação: A conju-gação dos quatro fatores acima vai determinar o grau de formalidade da situação. Numa interação face a face entre amigos, num bate-papo, o nível de formalidade é bem baixo. Uma interação face a face num julgamento no tribunal vai ser muito mais formal. Igualmente, um gênero de escrita acadêmica, como o ensaio, é muito mais formal do que um bilhete ou um e-mail informal, trocado entre colegas de trabalho.

Exercitando

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 1

Leia atentamente o texto abaixo e respon-da às seguintes perguntas:

1. Que informações sobre a realidade brasileira esse texto recupera?

2. A quem se destina o texto? Quais são as carac-terísticas que evidenciam o destinatário?

3. Que conhecimentos são necessários para que o leitor compreenda as informações subentendi-das no texto?

4. A que gênero esse texto pertence? Quais são as características principais da composição des-se gênero?

“É a pior calamidade ambiental que

já enfrentamos”, diz Lula, em SC

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma entrevista coletiva na tarde desta quarta--feira (26) no aeropor-to de Navegantes, em

Santa Catarina, após sobrevoar a região afetada pela chuva nos últimos dias. “É a pior calamida-de ambiental que já enfrentamos”, afirmou. Ele

retornou a Brasília por volta das 17h15.

O presidente sobrevoou as cidades de Ita-jaí, Luiz Alves e Navegantes. “Sou de uma região em que as pessoas passam mais da metade do ano pedindo para que chova. Em Santa Catarina, temos que pedir a Deus para parar de chover.”

Lula assinou, nesta quarta, uma medi-da provisória liberando R$ 1,6 bilhão para aju-dar na recuperação de estradas, casas e para ações da Defesa Civil e das Forças Armadas. O dinheiro será usado para ajudar não só Santa Ca-tarina, mas também outros estados que venham a sofrer com as fortes chuvas previstas para o

ve-rão.

Luciana Rossetto

Conhecendo os

tipos textuais

Os diferentes tipos textuais não são mutuamente exclusivos. De forma geral, um gênero textual é composto de vários tipos textuais, dependendo das diferentes funções que o autor quer atingir. No exemplo usado na Atividade 1, pode-se no-tar que o gênero notícia utiliza-se de estruturas narrativas, para contar o que foi feito pelo pre-sidente Lula, e de estruturas descritivas, para descrever a situação das cidades nas enchentes e algumas medidas implementadas para tentar resolver o problema. Como vários tipos de or-ganização textual podem ocorrer em um mesmo gênero, busca-se caracterizar o seu modo de or-ganização predominante. Assim, no exemplo aci-ma, o modo de organização textual predominan-te é o narrativo, com verbos usados geralmenpredominan-te no pretérito perfeito, como se vê no seguinte tre-cho da notícia:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu

uma entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (26) no aeroporto de Navegantes, em Santa Cata-rina, após sobrevoar a região afetada pela chuva nos últimos dias. “É a pior calamidade ambiental que já enfrentamos”, afirmou. Ele retornou a

Brasília por volta das 17h15.

No restante do texto, vários verbos na terceira pessoa do pretérito perfeito também ocorrem, como: sobrevoou e assinou. Pode-se afirmar então que o gênero notícia utiliza-se pre-dominantemente do modo de organização narra-tivo para relatar os fatos ocorridos.

Os tipos textuais são caracterizados pelas sequências linguísticas predominantes

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(esco-lhas de palavras, estruturas gramaticais, tempos verbais, relações lógicas).

Portanto, os gêneros textuais podem se constituir em diversos tipos textuais, que pos-suem finalidades específicas, conforme vemos abaixo:

TIPOS TEXTUAIS FINALIDADE

Descritivo Caracterizar a paisagem, o ambiente, as pessoas e os objetos.

Narrativo Contar fatos reais ou imaginários ou relatar acontecimentos que ocorreram em determinado lugar e tempo, envolvendo os participantes em ação e movi-mento no transcorrer do tempo.

Expositivo Apresentar informações sobre assuntos, idealmente de forma isenta e impes-soal. Expor ideias, pensamentos, doutrinas, teses, argumentos e contra-argu-mentos. Envolve refletir, explicar, avaliar, conceituar, analisar, informar. Argumentativo Convencer, influenciar, persuadir as pessoas para realizar ações e alcançar

objetivos. Consiste no emprego de provas, justificativas, com o objetivo de apoiar ou refutar teses. Envolve raciocínio para provar ou negar proposições. Injuntivo Dizer como fazer ou realizar ações; descrever e prescrever regras, normas

para uso e regulação de comportamentos.

Dialogal Interagir, por meio de troca interpessoal de ideias, sentimentos e informações sobre diferentes temas.

No meio acadêmico, podem ser encontra-dos toencontra-dos os tipos textuais, concretizaencontra-dos em gêneros textuais diferentes. Um relatório, por exemplo, utiliza-se de características descriti-vas, para avaliar algo. A metodologia encontra-da em um artigo, por sua vez, é predominan-temente narrativa, pois apresenta a sucessão dos passos adotados por um pesquisador na condução de seu estudo. Um resumo é um texto expositivo, em que se apresentam, de forma im-pessoal, as informações presentes em um outro texto. Um ensaio, no entanto, por conter uma tese defendida acerca de determinado assun-to, possui características predominantemente argumentativas. Este manual, como os demais materiais didáticos, além do caráter obviamen-te expositivo, obviamen-tem também uma feição injunti-va, na medida em que ensina como proceder na escrita acadêmica. Por fim, os gêneros orais da vida universitária, como a arguição, por exem-plo, estão intimamente ligados ao tipo textual chamado dialogal, em que a interação locutor--interlocutor é primordial.

Veja a seguir outros gêneros discursivos do domínio acadêmico, tanto na modalidade escrita quanto na modalidade oral da comunicação.

Modalidade escrita: temos artigos cien-tíficos, relatórios ciencien-tíficos, notas de aula,

di-ários de campo, teses, dissertações, monogra-fias, artigos de divulgação científica, resumos de artigos, de livros, de conferências, resenhas, comentários, projetos, manuais de ensino, bi-bliografias, fichas catalográficas, currículos vi-tae, memoriais, pareceres técnicos, sumários, bibliografias comentadas, índices remissivos, glossários etc.

Modalidade oral: palestras, conferências, debates, entrevistas, seminários, apresentações em congressos, arguições etc.

Exercitando

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 2

Leia atentamente o texto abaixo, “Dimen-são e horizonte de investimento em carteiras imunizadas: uma análise sob a perspectiva das entidades de previdência complementar”, retira-do da READ – Revista Eletrônica de Administra-ção. A que gênero textual ele pertence? Qual é o modo de organização textual nele

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predominan-Dimensão e horizonte de investimento

em carteiras imunizadas: uma análise

sob a perspectiva das entidades de

previdência complementar

O termo imunização denota a construção de uma carteira de títulos de forma a torná-la imune a variações nas taxas de juros. No caso das entida-des de previdência complementar, o objetivo da imunização é distribuir os recebimentos interme-diários e finais dos ativos de acordo com o fluxo de pagamentos dos benefícios. Em geral, quanto maior a classe de alterações na estrutura a termo das taxas de juros, mais restritivo se torna o mo-delo. O artigo busca comparar o desempenho de modelos de gestão de risco de taxa de juros que, baseados em alternativas distintas de programa-ção matemática, objetivam garantir o pagamento do fluxo futuro de benefícios. Embora exista uma vasta literatura sobre o aspecto estatístico e so-bre o significado econômico dos modelos de imu-nização, o artigo inova ao prover uma análise de-talhada do desempenho comparado dos modelos, sob três perspectivas complementares: o método escolhido, a dimensionalidade e, ainda, o hori-zonte de investimento. A análise permite concluir que os modelos de imunização tradicional, quan-do examinaquan-dos sob a ótica conjunta da redução do risco, das restrições impostas à formatação da carteira e dos custos de transação associados, são mais eficientes, no médio e longo prazo, que os modelos multidimensionais de gestão do risco de taxa de juros, os quais se mostram superiores apenas na gestão restrita ao curto prazo.

Sérgio Jurandyr Machado - IBMEC-SP Antonio Carlos Figueiredo Pinto - PUC-RJ

Conhecendo a

estrutu-ra do parágestrutu-rafo

Na primeira parte desta unida-de, você aprendeu a diferenciar tipos e gêneros tex--tuais, e como essas categorias se combinam na hora de produzir um texto. Assim, nossa preocupação ini-cial era a macroestrutura textual, isto é, a compreen- são da estruturação geral dos textos acadêmicos.

A partir de agora, voltamos nossas aten-ções para a microestrutura textual, ou seja, as partes menores que compõem um texto. Para efeitos didáticos, vamos trabalhar com uma uni-dade conhecida por todos os alunos: o parágrafo.

É preciso que compreendamos cada pará-grafo como um pequeno texto, o qual deve ter sua estrutura reconhecida. Inicialmente, vamos observar alguns exemplos de parágrafos bem construídos e proceder a sua análise:

Lula repassa terras da União a Roraima

e diz que está pagando dívida

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva as-sinou, nesta quarta-feira (28), um decreto e uma medida provisória repassando 6 milhões de hec-tares (60 mil quilômetros quadrados) de terras da União para Roraima. O repasse equivale a 25% da área total do estado e é 50% maior que a Suíça (41,2 mil quilômetros quadrados).

Segundo Lula, o governo está pagando uma “dívida” que tem com Roraima desde a “celeuma da reserva indígena Raposa Serra do Sol”. O governador do estado, José de Anchieta Júnior, negou que esteja recebendo uma espé-cie de recompensa por ter perdido parte do seu território por causa da demarcação da reserva indígena.

[...]

(Jeferson Ribeiro Do G1, em Brasília) O trecho acima, retirado de uma notícia, é composto por dois parágrafos. Analisando-se cada um deles, vemos que são compostos por mais de uma frase. Tal fato nos sugere não escre-ver parágrafos de uma única frase enorme, pois isso dificulta a compreensão do leitor. Para que a leitura seja fácil e agradável, os sinais de pon-tuação devem estar devidamente empregados e as frases devem ter um tamanho razoável.

Atente para a seleção das frases empre-gadas em cada parágrafo. No primeiro deles há uma frase principal, que o resume e apresenta a ideia central: “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, nesta quarta-feira (28), um decreto e uma medida provisória repassando 6 milhões de hectares (60 mil quilômetros quadrados) de terras da União para Roraima”. A essa frase ini-cial, chamamos de frase-tópico.

A frase-tópico é, geralmente, a primeira frase do parágrafo. Sua função é expor de forma resumida a ideia geral, que será desenvolvida nas outras frases. Observe agora o segundo pe-ríodo do parágrafo: “O repasse equivale a 25% da área total do estado e é 50% maior que a Suí-ça (41,2 mil quilômetros quadrados)”. Essa frase

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desenvolve a frase-tópico na medida em que dá informações complementares acerca do repasse mencionado na frase anterior.

Analisemos agora o segundo parágrafo, cuja frase-tópico é: “Segundo Lula, o governo está pagando uma ‘dívida’ que tem com Rorai-ma desde a ‘celeuRorai-ma da reserva indígena Rapo-sa Serra do Sol’”. Tal frase apresenta como ideia principal do parágrafo a opinião do presidente diante da questão da reserva indígena. Porém, é bom complementar a frase-tópico, para que o texto se torne mais coeso e informativo. O au-tor desenvolveu essa frase principal com uma relação de oposição, ao escrever: “O governador do estado, José de Anchieta Júnior, negou que esteja recebendo uma espécie de recompensa por ter perdido parte do seu território por cau-sa da demarcação da reserva indígena”. O autor do texto poderia inclusive iniciar esse segundo período por um conectivo que expressasse opo-sição, como porém, contudo, todavia etc.

Veja ainda que há muitas formas de desen-volver a ideia central fixada e exposta na frase--tópico: definições, enumerações, comparações, contrastes, razões, análise, exemplos, fatos, estatísticas, citações, ilustrações, evidências e contraevidências da ideia apresentada na frase--tópico. As frases de suporte fornecem as dife-rentes especificações que explicam, delimitam, reforçam, contradizem ou expandem a ideia cen-tral exposta na frase-tópico.

Exercitando

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 3

Algumas das frases-tópico seguintes di-zem respeito a conhecimento compartilhado na cultura local e nacional, de modo que podem ser desenvolvidas imediatamente após a leitura das mesmas. Outras supõem conhecimento especia-lizado e só podem ser aprofundadas após con-sulta a fontes de informação. Comecemos pelo primeiro grupo. Leia-as e escreva parágrafos que com elas se iniciem, acrescentando frases de su-porte/desenvolvimento.

1. Meus dois professores são totalmente diferentes em aparência, comportamento e per-sonalidade.

2. O futebol está se tornando popular nos Estados Unidos graças à simplicidade do equipa-mento, das regras e das habilidades envolvidas.

3. A paisagem, as praias, e o carnaval tor-nam o Rio de Janeiro uma cidade maravilhosa.

Já as frases-tópico seguintes fazem afirma-ções acerca de assuntos mais especializados, de modo que você deve buscar algumas informa-ções sobre eles antes de tentar desenvolvê-las.

4. Astronomia é uma ciência fascinante. 5. A adaptação animal é imprescindível para a sobrevivência das espécies.

6. A intensa miscigenação teve importan-tes consequências para a formação do povo brasileiro.

Na seção anterior, vimos como um pará-grafo se constitui em linhas gerais: uma frase--tópico e frases de suporte, podendo ainda ha-ver uma frase de conclusão. Da mesma forma, um ensaio, uma redação, um artigo científico ou um texto expositivo ou argumentativo também têm essa estrutura de três partes: um parágrafo introdutório, parágrafos de suporte e um pará-grafo de conclusão.

O parágrafo de introdução

A principal característica de um parágrafo de introdução é a presença da tese, ideia central do texto. Em um texto expositivo, a tese é uma informação principal, ampla, dentro da qual há uma série de outras informações que serão apre-sentadas nos parágrafos subsequentes. Em um texto argumentativo, a tese é o ponto de vista que o autor defende, inserido em um tema mais amplo, o qual também deve ficar claro logo no primeiro parágrafo.

É de suma importância que a tese seja apresentada com clareza, pois isso facilita a lei-tura do texto, bem como sua escrita, visto que impede que você fuja ao tema. Ao longo do texto, tente sempre que possível remeter o que escreve nos demais parágrafos à tese, afinal tal estratégia garante unidade, coesão e coerência ao texto.

Há mais de uma maneira de redigir um pa-rágrafo introdutório, embora este deva sempre situar o tema geral do texto e a tese. A seguir, va-mos analisar diferentes parágrafos de introdução redigidos acerca do mesmo tema: o crescimento

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da violência na contemporaneidade. Atente para os diferentes recursos usados em cada parágra-fo e perceba que uma mesma temática pode ser introduzida de diferentes maneiras. Com a práti-ca, você logo selecionará as estratégias com que se sente mais à vontade.

1. Abordagem-padrão – Neste tipo de in-trodução, apresenta-se primeiramente a tese e logo a seguir enumeram-se os argumentos que serão desenvolvidos ao longo do texto (cada um desses ar-gumentos corresponderá a cada um dos parágrafos de desenvolvimento subse-quentes). Veja o exemplo abaixo:

É indiscutível que a violência cresce de forma exponencial nos dias de hoje, como não cessam de informar os meios de comunicação. Tal fato acarreta mudanças drásticas na arqui-tetura urbana, como a construção de grades por toda a parte, em uma tentativa de prender a si, já que o assustador Outro não cabe por inteiro na cadeia. Mudam também as ofertas de emprego, com a popularização do ofício de “segurança” e a quase extinção de profissões que exigem con-fiança em pessoas desconhecidas, como o antigo vendedor de porta em porta, que hoje não ganha mais do que um grito repelente por trás do “olho--mágico”. Esses são apenas alguns entre muitos outros fenômenos que nos escapam na discussão da violência, geralmente suscitada por tragédias veiculadas na mídia.

Nesse caso, a primeira frase do parágrafo é também a tese do texto (ponto de vista princi-pal defendido na redação). Seguem-se a ela dois exemplos que serão explorados em detalhe nos próximos dois parágrafos de desenvolvimento. Por fim, veja que a frase de conclusão (última do parágrafo) serviu para retomar e resumir as ideias anteriormente apresentadas, às quais se somou um dado novo: a predominância de tra-gédias no discurso midiático sobre violência. Tenha sempre em mente que uma frase de con-clusão, mesmo que sirva para encapsular tudo o que foi dito antes, deve conter alguma informa-ção nova, que justifique sua existência. Do con-trário, o texto torna-se repetitivo.

2. Definição – Nesse tipo de introdução, antes de se apresentar a tese, faz-se uma ambientação, isto é, uma afirmação

inicial que situa a tese no tema geral ao qual pertence. Como no exemplo abai-xo, a ambientação pode ser a definição de um conceito-chave para a argumen-tação acerca do tema proposto.

Segundo Houaiss (2008), violência é “cons-trangimento físico ou moral exercido sobre al-guém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem; coação”. Tal definição explicita uma faceta da violência por vezes esquecida: a dimen-são moral. Do mesmo modo como a agresdimen-são fí-sica pode causar danos irreparáveis, a ofensa e a injúria deixam sequelas para sempre, devendo haver, portanto, preocupação social no combate a esse problema.

3. Questionamento(s) – A ambientação pode também ser composta por per-guntas que convidem o leitor à reflexão acerca do tema. No entanto, tome o cui-dado de, após essas perguntas, afirmar sua tese. Não deixe também de respon-der a todas as perguntas ao longo de seu texto.

Medidas punitivas são o suficiente para coibir o aumento da violência? A história já pro-vou que não. Assim como o senso comum tem cristalizada a máxima de que “prevenir é melhor do que remediar”, estudos provam que países que investiram em educação tiveram reduções mais significativas de índices de violência do que aqueles que destinaram sua verba à construção de presídios.

4. Citação – A ambientação também pode apresentar uma citação de alguém famoso. Nesse caso, lembre-se de pôr entre aspas uma fala que não é propria-mente sua. Tal recurso tem a vantagem de se valer da autoridade do discurso alheio, que pode ser posto em diálogo com o seu.

“A não-violência absoluta é a ausência absoluta de danos provocados a todo ser vivo. A não-violência, na sua forma ativa, é uma boa dis-posição para tudo o que vive. É o amor na sua perfeição”. Essa célebre citação de Gandhi, ao referir-se a uma “não-violência ativa”, mostra ser possível optar pela paz e praticá-la de forma ativa

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e consciente, o que deve se dar em todas as situa-ções da vida. Tal princípio da não-violência é hoje símbolo da possibilidade de um mundo pacífico, a despeito das evidentes dificuldades para que isso se efetive.

5. Sequência de frases nominais – Um recurso interessante para iniciar um texto é fazer uma enumeração de frases nominais (sem verbo), separando-as por ponto final. Por ser um recurso di-ferente, isso chama a atenção do leitor. Como sempre, a presença da tese logo após essa ambientação é fundamental.

Bala perdida. Sequestro-relâmpago. Falsa blitz. Basta abrir o jornal ou ligar a televisão para se ouvir mais uma notícia de crime no país. A me-nos que medidas conscienciosas sejam tomadas para o combate dessa realidade hostil, o quadro tende a se tornar cada vez pior.

6. Exposição do ponto de vista oposto – Você pode também iniciar seu texto enunciando um ponto de vista contrá-rio ao seu, na ambientação. Em segui-da, você deve usar um conectivo que expresse oposição de ideias (PORÉM, NO ENTANTO, CONTUDO, TODAVIA etc.) e apresentar sua própria tese, provando ser ela mais acertada do que o posicionamento anteriormente men-cionado.

Há quem diga que basta instituir a pena de morte para que haja reduções bruscas nos índices da violência. No entanto, esse é um po-sicionamento por demais simplista, que acredita na solução de um problema de dimensões eco-nômicas, sociais e políticas, que assola todo o país, por meio de uma simples resolução jurídi-ca. Na verdade, alteração alguma na lei é sufi-ciente sem que medidas preventivas, as quais culminem na redução das desigualdades sociais, sejam tomadas.

7. Alusão histórica – Antes de apresen-tar sua tese, você pode lançar mão de uma ambientação que a situe historica-mente, apresentando, brevehistorica-mente, os antecedentes históricos que confirmam seu ponto de vista.

Ao falarmos sobre violência, alguns discur-sos apontam-na como sendo uma problemática contemporânea. Porém, a história do descobri-mento e da colonização do Brasil é marcada por uma violência que muitas vezes esquecemos: o massacre dos indígenas. Ao estudarmos de forma profunda e atenta essa mortandade que está no início da história escrita sobre o país, podemos não só compreender o passado da nossa forma-ção, mas entender também a violência presente, em suas semelhanças e diferenças com a pretéri-ta, e pensar em intervenções que combatam esse problema nos dias de hoje.

Exercitando

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 4

Do texto a seguir, retirou-se o primeiro parágrafo. Com base nos demais parágrafos, re-dija pelo menos três versões para a introdução, utilizando diferentes técnicas estudadas nesta unidade:

Crítico de cinema:

profissão em extinção?

[...]

O “New York Times” dedica-se a tentar en-tender a perda de importância dos jornais – e o crescimento da influência dos blogs – no proces-so de divulgação dos filmes pelos grandes estú-dios. O sinal mais aparente deste fenômeno – im-portante pelo volume de recursos que Hollywood movimenta em marketing – é que os jornais con-tribuem cada vez menos com aquelas publicida-des repletas de frases retiradas de críticas.

Uma das mais antigas ferramentas de marke-ting de um filme, a citação tirada de uma crítica de cinema (coisas como “eletrizante” “imperdí-vel”, “muito engraçado”, “ri do início ao fim”) já foi motivo de muita polêmica. Há alguns anos, descobriu-se que um estúdio, a Sony, havia publi-cado um anúncio com uma frase inventada, dita por um crítico que não existia. Também é comum tirar palavras ou frases de contexto, mudando

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o sentido do que o crítico quis dizer para realçar qualidades inexistentes de um filme.

O que inquieta o “New York Times” agora é o fato de que os grandes estúdios de Hollywood preferem recorrer a críticas publicadas em blogs do que em jornais. Escreve o diário:

“Os seis grandes estúdios gostam de ir à Internet em busca de frases para usar em publi-cidade porque há uma variedade muito grande de sites de onde tirar a palavra ou a frase certa. Alguns sites, é claro, são sérios. Outros, incluindo sites como Ain’t It Cool News, não fazem segredo do seu olhar de ‘animador de torcida’ em relação a alguns gêneros de filmes”.

Em outras palavras, raciocina o “New York Times”, os estúdios preferem recorrer a sites e blogs porque eles tratam os filmes de forma mais generosa e complacente que os jornais. O gran-de diário americano está, eviO gran-dentemente, fazen-do uma generalização injusta, já que há também muitos críticos em jornais que funcionam mais como “animadores de torcida” do que, propria-mente, como analistas sérios e isentos.

Em todo caso, dois entrevistados do jor-nal reforçam a tendência de recorrer a sites e blogs no lugar dos jornais na leitura das críticas de cinema. Um vice-presidente da Universal, Mi-chael Moss, diz ao jornal: “Alguns dos melhores críticos de cinema e a maioria das boas críticas são encontradas online”.

Já Mike Vollman, presidente de marketing da MGM e United Artists, afirma que vai prefe-rir se basear mais em blogs do que na revista “Time” para promover o remake do filme “Fama”. “A realidade, e lamento dizer isso para você, é que os jovens que vão ao cinema são mais in-fluenciáveis por um blog do que por um crítico de jornal”.

A reportagem, em resumo, confirma as previsões mais pessimistas dos que enxergam na revolução promovida pela nova mídia um si-nal de empobrecimento e decadência cultural. Ainda assim, o próprio “New York Times” reco-nhece que há sites “sérios”, publicando textos sobre cinema com o mesmo grau de rigor que os jornais ditos de prestígio.

E o Brasil? – algum leitor perguntará. O problema, ainda que em grau menor, até porque a indústria de cinema nacional é minúscula, se comparada a Hollywood, já aparece por aqui. Ain-da estamos, pelo que observo, numa etapa ante-rior. Há um crescimento impressionante de sites e

blogs dedicados ao cinema, mas o mercado ainda observa com desconfiança, procurando enten-der – e separar o joio do trigo de toda essa movi-mentação. Em todo caso, é possível observar que alguns produtores já utilizam frases retiradas de sites e blogs para divulgação de seus filmes.

Maurício Stycer

Parágrafos de desenvolvimento

Como quaisquer outros parágrafos, os de desenvolvimento apresentam frases-tópico, fra-ses de suporte e, às vezes, frafra-ses de conclusão. O que os difere dos parágrafos de introdução e conclusão é seu caráter menos abrangente e mais específico: enquanto no início e no final do texto dá-se preferência por apresentar ideias gerais, o desenvolvimento de um texto deve ser marcado por parágrafos de caráter mais deta-lhado, os quais apresentem, de forma pormeno-rizada, as informações que sustentam a tese do texto. Desse modo, é importante que você evite parágrafos de desenvolvimento extremamente curtos, os quais contenham apenas a apresen-tação de uma ideia. Como o próprio nome já indica, é preciso desenvolver essas ideias, apre-sentando causas, consequências, contrastes etc. Para isso, você aprenderá neste curso, na uni-dade sobre Coesão, como estabelecer relações desse tipo entre as frases e as orações.

O parágrafo de conclusão

O parágrafo final é a conclusão, uma parte muito importante do seu texto. Concluir um tex-to envolve sintetizar, reformular e/ou comentar o assunto abordado ao longo dele. Na síntese, você escreve um resumo dos principais assun-tos ou argumenassun-tos discutidos no corpo do texto. Outra forma de concluir é reformulando a ideia principal do seu texto em outras palavras. No co-mentário, você externa seu(s) ponto(s) de vista sobre o problema enfocado no texto. Como esse comentário é a última coisa que o leitor vai ver, é essencial que você redija uma mensagem impor-tante e impacimpor-tante, que o leitor vá lembrar.

Para que seu texto seja bem-sucedido, não basta que você comece bem e explique com clareza suas ideias. Caso a conclusão não seja satisfatória, a impressão final do leitor não será boa, o que revela a importância de caprichar na elaboração do último parágrafo.

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Lembre-se de que, caso você tenha inicia-do seu texto com uma analogia, é interessante que essa mesma analogia seja revisitada na con-clusão. Do mesmo modo, se seu texto se inicia com uma pergunta, é interessante que a respos-ta a ela esteja clara na conclusão. Veja a seguir um exemplo de texto dissertativo em que a con-clusão e a introdução completam-se mutuamen-te, reiterando a tese do autor:

Homem Virtual

A história do homem é marcada por gran-des invenções e acontecimentos que modificam as relações familiares, sociais e internacionais. Transformações essas que não se prendem ex-clusivamente ao passado dos homens descobri-dores do fogo, criadescobri-dores da roda, aventureiros dos mares, pilares do Renascimento... Os revo-lucionários do século XX inserem-se na História com ferramentas virtuais e o poder da tecla enter. A atual Revolução Tecnológica é uma transformação sem qualquer precedente na his-tória da humanidade. Enquanto, no passado, as revoluções limitavam-se no espaço e no tempo, ou mesmo nas diferenças culturais, o mundo globalizado de hoje lhes permite percorrer rapi-damente quilômetros de distância sem que mes-mo haja tempo para resistências ideológicas. É dessa facilidade que se extrai a explicação para as repentinas e profundas mudanças nas rela-ções humanas no século XX e especialmente na década de 90.

O computador é a perfeita materializa-ção da Revolumaterializa-ção do século XX. Através dele, o homem conecta-se ao mundo, percorre paí-ses, acessa diferentes informações ou diferen-tes ângulos de uma mesma informação, agiliza trabalhos, melhora imagens, cria recursos... transformações desse nível foram muitas vezes vivenciadas pelo homem. Nunca, porém, elas conseguiram atingi-lo paralelamente em sua es-sência, visões, ideologia, prioridades. O mundo tecnológico trouxe também novas fontes de la-zer, menos convivência pessoal, busca incessan-te de novos conhecimentos, necessidade de al-cançá-los rapidamente. Criou um homem quase digital com emoções contidas, experiências vir-tuais, convivência cibernética, família matricial. A velha conversa no botequim deu lugar às salas de batpapo, a visita vespertina agora é um e--mail, o amigo é o computador.

É inegável que a tecnologia trouxe vanta-gens ao dia-a-dia. É lamentável, porém, que o ho-mem a tenha manipulado de tal forma a perder o controle sobre sua criação. Os heróis digitais confundem-se com os vilões, que deletam aos poucos o sentido de humanidade de nossa so-ciedade.

(retirado de http://www.puc-rio.br/vesti-bular/repositorio/redacoes/redacao18.html)

Exercitando

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 5

Do texto a seguir, retirou-se a conclusão. Com base nos demais parágrafos, redija, pelo menos, duas versões para a conclusão, utilizan-do diferentes técnicas estudadas nesta unidade.

Novos desafios para o planeta

(adaptado)

Por Marcelo Barros – Agência de Informa-ção Frei Tito para a América Latina – de São Paulo Em torno ao dia 05 de junho que a ONU consagra como “dia internacional do meio am-biente”, o mundo inteiro promove uma série de discussões e eventos que durarão toda a semana. De fato, os problemas ambientais se agravam. Hoje, não há quem não se assuste com a frequência e a intensidade de inunda-ções e secas, assim como, em algumas regiões do mundo, terremotos e furacões ganham fúria nunca vista.

Como disse Leonardo Boff na assembleia geral da ONU: “se a crise econômica é preocu-pante, a crise da não-sustentabilidade da Terra se manifesta cada dia mais ameaçadora. Os cien-tistas que seguem o estado do Planeta, especial-mente a Global Foot Print Network, haviam falado do Earth Overshoot Day, isto é, do dia em que se ultrapassarão os limites da Terra. Infelizmente, os dados revelam que, exatamente no dia 23 de setembro de 2008, a Terra ultrapassou em 30% sua capacidade de reposição dos recursos ne-cessários para as demandas humanas.

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No momento atual, precisamos de mais de uma Terra para atender à nossa subsistência. Como garantir ainda a sustentabilidade da Ter-ra, já que esta é a premissa para resolver as de-mais crises: a social, a alimentar, a energética e a climática? Agora, não temos uma “arca de Noé” que salve alguns e deixe perecer a todos os de-mais. Como asseverou recentemente, com muita propriedade, o Secretário Geral desta casa, Ban Ki-Moon: “não podemos deixar que o urgente comprometa o essencial”. O urgente é resolver o caos econômico, mas o essencial é garantir a vitalidade e a integridade da Terra.

É importante superar a crise financeira, mas o imprescindível e essencial é como vamos salvar a Casa Comum e a humanidade que é par-te dela. Esta foi a razão pela qual a ONU adotou a resolução sobre o Dia internacional da Mãe Terra (International Mother Earth Day), a ser ce-lebrado no dia 22 de abril de cada ano. Dado o agravamento da situação ambiental da Terra, especialmente o aquecimento global, temos de atuar juntos e rápido. Caso contrário, há o risco de que a Terra possa continuar, mas sem nós” (discurso na ONU – abril de 2009).

Infelizmente, governos e instituições in-ternacionais continuam insistindo no modelo capitalista depredador. Somente o governo ame-ricano destinou este ano mais de US$ 4 trilhões a salvar bancos e multinacionais irresponsáveis que perderam dinheiro no cassino financeiro da imprevisibilidade. Este dinheiro do povo, dado aos ricos, “é um valor 40 vezes maior do que os recursos destinados a combater as mudanças climáticas no mundo e a pobreza” (Le Monde Di-plomatique Brasil, maio de 2009, p. 3). O próprio governo brasileiro advoga que, contra a crise econômica que assola o planeta e também atin-ge o Brasil, a solução será consumir e comprar, porque isso gera empregos e receitas. As conse-quências ecológicas desta escolha não se colo-cam. Menos ainda a questão ética fundamental. Quantos brasileiros podem viver esta febre do consumo? O PNUD do ano passado confirma: 20% das pessoas mais ricas absorvem 82% das riquezas mundiais, enquanto 20% dos mais po-bres têm de se contentar apenas com 1,6% des-ta riqueza que deveria ser comum. Uma ínfima minoria monopoliza o consumo e controla os processos econômicos que implicam a devasta-ção da natureza e uma imensa injustiça social.

[...]

Respostas às atividades

Atividade 1

1. O texto fala das enchentes que destruí-ram cidades no estado de Santa Catarina, no ano de 2009.

2. O texto se destina aos brasileiros em ge-ral, dada a abrangência do assunto e a linguagem simples, clara e direta.

3. O leitor tem de saber que as chuvas causaram enchentes, o que o texto não explicita. Além disso, a construção “para ajudar na recu-peração de estradas, casas” apresenta um pres-suposto, isto é, se é preciso recuperar, é porque houve destruição.

4. Trata-se do gênero notícia, que, no pla-no do conteúdo, caracteriza-se por trazer infor-mações recentes e que se tornam datadas em poucos dias. No plano da forma, a linguagem é direta e clara, misturando traços narrativos e ex-positivos.

Atividade 2 – Trata-se de um resumo, como se pode ver pela densidade de informa-ções, causada pela quase inexistência de frases com baixa informatividade. Nesse gênero, pre-domina a exposição, pois os fatos são apresen-tados de forma imparcial.

Atividade 3 – Esta atividade tem muitas possíveis respostas. Apresentamos, a seguir, al-gumas:

1. Meus dois professores são totalmente diferentes em aparência, comportamento e per-sonalidade. Um é alto e magro, com nariz aquili-no e modos distintos. O outro é baixo, gordinho e tem um jeito alegre de falar. Ambos, porém, são muito dedicados e dão, cada um a seu modo, óti-mas aulas.

2. O futebol está se tornando popular nos Estados Unidos graças à simplicidade do equipa-mento, das regras e das habilidades envolvidas. Enquanto beisebol e basquete, tradicionais no país, exigem alguns equipamentos caros, como luvas, tacos ou cestas, o futebol não pede mais do que uma bola de meia e um pouco de ginga nos pés. Esse acaba sendo o fator que atrai po-pulações de baixa renda.

3. A paisagem, as praias, e o carnaval tor-nam o Rio de Janeiro uma cidade maravilhosa. Turistas do mundo inteiro deixam cidades com fama internacional por sua beleza e ordenação

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social para reverenciar a terra dos cariocas, pois, apesar de notórios problemas de seguran-ça pública, “o Rio de Janeiro continua lindo”.

4. A astronomia é uma ciência fascinante. Desenvolvida a partir da astrologia, segundo a qual os astros influenciariam o destino humano, a astronomia hoje pouco se parece com essa mo-dalidade adivinhatória. Em lugar de mapas as-trais, telescópios de alta potência e cálculos ma-temáticos muito precisos analisam o movimento dos corpos celestes, deixando aos corpos huma-nos que cuidem eles mesmos de seus destihuma-nos.

5. A adaptação animal é imprescindível para a sobrevivência das espécies. Darwin per-cebera isso quando postulou sua teoria da Se-leção Natural, segundo a qual apenas o mais adaptado sobreviveria. O homem, por exemplo, fisicamente frágil, teve de se adaptar para sobre-viver às intempéries e ao hostil ambiente, desen-volvendo a tecnologia.

6. A intensa miscigenação teve importan-tes consequências para a formação do povo bra-sileiro. Porém, quando falamos em miscigenação, muitos reduzem a exemplos simplistas o fenôme-no de hibridação cultural, como a diferentes re-ceitas culinárias ou às origens distintas de vocá-bulos de nossa língua. Tal visão apaga o quanto da visão de mundo que os brasileiros têm, em to-das as esferas da vida pública e privada, é fruto da mistura de uma série de culturas.

Atividade 4 – Segue abaixo a introdução do texto original.

“Levantamento do jornal The Salt Lake Tribune indica que ao menos 55 críticos de cine-ma foram demitidos ou mudaram de área na im-prensa americana desde 2006. O dado, citado em reportagem na edição dominical do ‘New York Times’, ilumina um aspecto da crise que afeta os jornais americanos e, em particular, ajuda a compreender uma mudança significativa que vem ocorrendo na relação de Hollywood com a imprensa”.

Atividade 5 – Segue abaixo a conclusão do texto original.

“Para quem vive uma busca espiritual, o cuidado amoroso com a Mãe Terra, com a água e com todo ser vivo fazem parte do testemunho de que Deus é amor, está presente e atuante no uni-verso. Apesar de todas as agressões e crimes co-metidos contra o Planeta, ainda podemos salvá-lo.

Em 2003, a UNESCO assumiu a ‘Carta da Terra’ como instrumento educativo e referência ética para o desenvolvimento sustentável. Participa-ram ativamente de sua concepção humanista pensadores do mundo inteiro. É preciso que a ONU assuma este documento que qualquer pessoa pode ler e comentar na Internet (basta consultar: ‘carta da terra’). É o esboço de uma ‘declaração dos direitos da Terra’ e toda a hu-manidade é chamada a conhecê-la e praticá-la”.

Referências

ABREU, A. S. Curso de Redação. São Paulo: Ática, 3ª ed., 1991.

BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Lingua-gem. São Paulo: Hucitec, 1987.

________. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

BARROS, M. Novos desafios para o planeta. Dis-ponível em: <http://www.procamig.org.br/home. php?sessao=0003>. Acesso em 15 jun. 2009. GARCIA, O. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1981.

FEITOSA, V.C. Redação de Textos Científicos. São Paulo: Papirus, s.d.

HALLIDAY, M.A. K; HASAN. Language, context and text: aspect of language in a social-semiotic perspective. Deakin University Press. Oxford: OUP 1989.

Homem virtual. Disponível em: <http://www.puc- -rio.br/vestibular/repositorio/redacoes/reda-cao18.html>. Acesso em 15 jun. 2009.

MACHADO, S. J.; PINTO, A. C. F. Dimensão e horizonte de investimento e carteiras imuni-zadas: uma análise sob a perspectiva das enti-dades de previdência complementar. Revista Eletrônica de Administração. Disponível em: <http://read.adm.ufrgs.br/edicoes/resumo. php?cod_artigo=618&cod_edicao=63&titulo_ p=a&acao=busca&pagina=l>. Acesso em 15 jun. 2009.

(19)

MOURA, M. L. S.; FERREIRA, M. C. Projetos de pesquisa. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2005.

ROSSETTO, L. ‘É a pior calamidade ambiental que já enfrentamos’, diz Lula, em SC. O GLOBO, 26. nov. 2008. Disponível em: <http://g1.globo. com/Noticias/Brasil/0,,MUL880093-5598,00-E+A +PIOR+CALAMIDADE+AMBIENTAL+QUE+JA+EN FRENTAMOS+DIZ+LULA+EM+SC.html>. Acesso em 15 jun. 2009.

RIBEIRO, Jefferson. Lula repassa terras da União a Roraima e diz que está pagando dívida. O GLO-BO, 28 jan. 2009. Disponível em: <http://g1.globo. com/Noticias/Politica/0,,MUL975896-5601,00. html>. Acesso em 15 jun. 2009.

STYCER, M. Crítico de cinema: profissão em extin-ção? Disponível em: <http://colunistas.ig.com.br/ mauriciostycer/tag/critico-de-cinema/>. Acesso em 15 jun. 2009.

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Coesão textual

Apresentando a unidade

N

esta unidade, identificamos, ilustramos e comentamos os recursos mais eficazes para aumentar a coesão entre as partes dos parágrafos e dos textos.

Antes de iniciarmos propriamen-te o tema desta unidade, observe a letra de música abai-xo, que muito se relaciona com o assunto desta unidade.

A linha e o linho

(Gilberto Gil)

É a sua vida que eu quero bordar na minha Como se eu fosse o pano e você fosse a linha E a agulha do real nas mãos da fantasia Fosse bordando ponto a ponto nosso dia-a-dia E fosse aparecendo aos poucos nosso amor Os nossos sentimentos loucos, nosso amor O ziguezague do tormento, as cores da alegria A curva generosa da compreensão

Formando a pétala da rosa, da paixão A sua vida, o meu caminho, nosso amor Você a linha e eu o linho, nosso amor

Nossa colcha de cama, nossa toalha de mesa Reproduzidos no bordado

A casa, a estrada, a correnteza

O sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza

O texto acima revela a intimidade entre a li-nha e o linho, não só no plano da forma (por cau-sa da estrutura parecida das duas palavras do título), mas também no plano do significado (de-vido a ambas as palavras pertencerem ao campo da costura). Observe que o conteúdo dialoga di-retamente com a noção de coesão textual, que es-tudaremos nesta unidade, afinal é o fenômeno da coesão que “costura” as partes de um texto, ga-rantindo-lhe coerência e clareza. Nas próximas seções, você estudará os mecanismos que deve empregar em seus textos, para que sejam sem-pre coesos e bem articulados.

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

1. compreender a noção de coesão textual e sua importância para uma boa legibilidade dos textos; 2. identificar as estratégias textuais que assegu-ram coesão ao discurso;

3. reconhecer e corrigir falhas textuais que com-prometam a coesão do discurso;

4. produzir textos mais coesos.

Conhecendo a

coesão textual

Muitas vezes, ao escrever-mos, temos boas ideias, mas sentimos dificul-dades para relacioná-las. Se não tomarmos cui-dado, podemos acabar por lançar no papel uma série de frases gramaticalmente corretas, mas que não se relacionam de forma clara entre si. Para que um conjunto de frases se torne um tex-to, é preciso que haja coesão: que as ideias se entrelacem, completando-se e retomando-se, de modo que as frases sigam um fluxo lógico e con-tínuo, não parecendo blocos isolados. Quando um texto está coeso, temos a sensação de que sua leitura “flui” com facilidade.

A origem do termo texto remete a tecido: um texto, como um tecido, deve entretecer seus fios de ideias, de modo que, nos pontos em que essas ideias se tocam, se estabeleça a coesão tex-tual. Para entender isso melhor, observe o con-to abaixo, escricon-to por Clarice Lispeccon-tor. Em sua composição, a autora, para encadear as partes do texto de forma clara e criativa, utiliza-se de uma série de estratégias linguísticas, de modo a evitar a repetição sistemática de palavras e a ligar de forma lógica as ideias. Para fins didáticos, desta-camos apenas alguns dos mecanismos de coesão que aparecem nesse texto, os quais serão explo-rados mais aprofundadamente ao longo da unida-de. Por enquanto, reflita sobre a importância das palavras em destaque na composição do conto.

Uma esperança

Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica, que tantas vezes verifica-se ser ilusó-ria, embora mesmo assim nos sustente sempre.

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Mas a outra, bem concreta e verde: o inseto. Houve um grito abafado de um de meus filhos:

– Uma esperança! e na parede, bem em cima de sua cadeira! Emoção dele também que unia em uma só as duas esperanças, já tem ida-de para isso. Antes surpresa minha: esperança é coisa secreta e costuma pousar diretamente em mim, sem ninguém saber, e não acima de minha cabeça numa parede. Pequeno rebuliço: mas era indubitável, lá estava ela, e mais magra e verde não poderia ser.

– Ela quase não tem corpo, queixei-me. – Ela só tem alma, explicou meu filho e, como filhos são uma surpresa para nós, desco-bri com surpresa que ele falava das duas espe-ranças.

[...]

Foi então que farejando o mundo que é comível, saiu de trás de um quadro uma aranha. Não uma aranha, mas me parecia “a” aranha. An-dando pela sua teia invisível, parecia transladar--se maciamente no ar. Ela queria a esperança. Mas nós também queríamos e, oh! Deus, quería-mos menos que comê-la. Meu filho foi buscar a vassoura. Eu disse fracamente, confusa, sem saber se chegara infelizmente a hora certa de perder a esperança:

– É que não se mata aranha, me disseram que traz sorte...

– Mas ela vai esmigalhar a esperança! res-pondeu o menino com ferocidade.

[...]

Para encadear os aconteci-mentos da narrativa, mos-trando que todos estão re-lacionados ao animal chamado esperança, a autora utilizou uma série de palavras e expres-sões que remetem à criatura que dá título ao conto: uma esperança, a clássica, que, a outra, o inseto, ela, entre outras. Assim, o texto não peca pela repetição desnecessária de palavras.

O encadeamento dos fatos referentes a essa criatura também é garantido por outras palavras, que estabelecem relações de senti-do entre os acontecimentos da narrativa; entre elas, destacam-se e, mas, e então. No trecho “Pequeno rebuliço: mas era indubitável”, a pa-lavra mas estabelece uma oposição entre as ca-racterísticas atribuídas ao rebuliço: pequeno, porém indubitável.

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 1

Observe o resumo abaixo, referente ao artigo “Pedagogia de projetos”, de Lúcia He-lena Alvarez Leite. Após uma primeira leitura para tomar ciência do sentido global do texto, destaque, em uma segunda leitura, algumas das expressões que estabelecem coesão entre as ideias apresentadas no resumo. Proceda de maneira semelhante à apresentada na análise do conto de Clarice Lispector.

RESUMO: A discussão sobre Pedagogia de Projetos não é nova. Ela surge no início do século, com John Dewey e outros pensadores da chamada “Pedagogia Ativa”. Já nessa época, a discussão es-tava embasada numa concepção de que “educação é um processo de vida e não uma preparação para a vida futura e a escola deve representar a vida pre-sente – tão real e vital para o aluno como o que ele vive em casa, no bairro ou no pátio” (DEWEY, 1897).

Os tempos mudaram, quase um século se passou e essa afirmação continua ainda atual. A discussão da função social da escola, do signi-ficado das experiências escolares para os que dela participam foi e continua a ser um dos as-suntos mais polêmicos entre nós, educadores. As recentes mudanças na conjuntura mundial, com a globalização da economia e a informatiza-ção dos meios de comunicainformatiza-ção, têm trazido uma série de reflexões sobre o papel da escola dentro do novo modelo de sociedade, desenhado nesse final de século.

É nesse contexto e dentro dessa polêmi-ca que a discussão sobre Pedagogia de Projetos, hoje, se coloca. Isso significa que é uma discussão sobre uma postura pedagógica e não sobre uma técnica de ensino mais atrativa para os alunos.

Conhecendo os recursos

de coesão textual

Para conectar e relacionar as partes de um texto, vários mecanismos podem ser adotados. A seguir, encontram-se os dois principais tipos de recursos de que você pode se valer para garantir coesão e legibilidade àqui-lo que escreve:

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1. Coesão referencial

A coesão referencial é estabelecida por meio de expressões que retomam ou antecipam ideias. Esse tipo de coesão serve para evitar a re-petição desnecessária de termos, além de garan-tir que uma informação nova esteja conectada a outra que já havia sido mencionada. Tal articu-lação pode se dar basicamente de duas formas, como estudaremos a seguir:

1.1. Emprego dos pronomes na coesão referencial

Observe o trecho abaixo, retirado do arti-go “Esporte e saúde”, de Selva Maria Guimarães Barreto. Preste atenção ao papel dos pronomes (em negrito) na articulação do texto.

Esporte e Saúde

Nos cursos de Educação Física está ocor-rendo uma revolução, que vem provocando questionamentos sobre alguns conceitos: o que se tenta expor criticamente hoje é a relação entre “Esporte e Saúde”. Esta vinculação, infe-lizmente, não é a mais usual, pois geralmente é substituída por “Esporte é Saúde” pelo conhe-cimento popular, uma relação que aparenta ser uma verdade absoluta, quando não, obrigato-riamente, é. Os novos conceitos trabalhados relacionam Esporte, Saúde e Qualidade de Vida, de maneira a levantar o debate para refletirmos sobre os mesmos.

O Esporte, como conceito, é conside-rado uma atividade metódica e regular, que associa resultados concretos referentes à anatomia dos gestos e à mobilidade dos indi-víduos. Esta é a conotação que podemos cha-mar de “Esporte de alto nível”, veiculada nas mídias em geral, representada por pessoas executando gestos extremamente mecaniza-dos, uniformes, com um certo gasto de energia para produzir um determinado tipo de movi-mento repetidas vezes. São gestos plásticos, muito organizados, moldados e com muitas re-gras, para que se possa obter algum resultado prático. O Esporte pode ser encarado, dentro de outras ópticas, tanto como o Esporte vei-culado nas mídias, como uma atividade dentro de um grupo de amigos (na escola, na rua ou qualquer local).

[...]

Você já deve ter passado por problemas enquanto escrevia, porque não queria repetir desnecessariamente uma palavra. Evitar a reu-tilização excessiva de determinada expressão garante elegância ao seu texto, revelando uma elaboração cuidadosa. Os pronomes, como você viu, são bastante úteis para esse fim, pois per-mitem o encadeamento de ideias e podem subs-tituir os termos a que se remetem. Observe a seguir como tal recurso foi empregado no artigo “Esporte e saúde”.

“Nos cursos de Educação Física está ocor-rendo uma revolução, que vem provocando questionamentos sobre alguns conceitos [...]”

No trecho acima, o pronome que evitou a repetição de revolução. Assim, a autora ganhou em coesão, pois o trecho, sem o pronome, ficaria da seguinte forma:

Nos cursos de Educação Física está ocorren-do uma revolução. A revolução vem

provocan-do questionamentos sobre alguns conceitos. De maneira semelhante, o texto apresenta o período abaixo:

“O Esporte, como conceito, é considera-do uma atividade metódica e regular, que asso-cia resultados concretos referentes à anatomia dos gestos e à mobilidade dos indivíduos”.

Tal frase poderia ser desdobrada em duas outras, mas isso atrapalharia uma leitura fluente do texto, tornando-o repetitivo. Observe:

O Esporte, como conceito, é considerado

uma atividade metódica e regular. A ativida-de metódica e regular associa resultados

con-cretos referentes à anatomia dos gestos e à mobi-lidade dos indivíduos.

Há outros pronomes como esses (prono-mes relativos), que ligam duas orações e evitam a repetição de termos, como você verá a seguir:

l ONDE – Esse pronome relativo, embora empregado com frequência nos textos veicu-lados pela mídia, tem um uso bastante restri-to: segundo a gramática tradicional, tal pro-nome pode apenas indicar a noção de “lugar”.

(23)

Exemplos:

O Brasil é um país onde o incentivo à edu-cação é primordial.

A frase está correta de acordo com a nor-ma dita culta, pois o pronome onde retonor-ma a pa-lavra país, que indica a noção de “lugar em que”.

l CUJO – Tal pronome estabelece,

geral-mente, relação de posse entre dois substantivos. Observe que ele deve concordar com o termo que o sucede, o qual não pode vir acompanhado por um artigo.

Exemplos:

(a) Machado de Assis é um autor cujas obras são estudadas até hoje.

A frase (a) está de acordo com a norma culta, pois cujo está conectando dois substan-tivos (autor e obras), estabelecendo entre eles uma relação de posse, pois as obras pertencem ao autor. Veja agora:

(b) Animais cujos os filhos são amamenta-dos são chamaamamenta-dos de mamíferos.

A frase (b) estabelece uma relação de posse entre dois substantivos (animais e filhos), mas erra ao pôr o artigo os entre cujos e filhos.

l O QUE – Essa expressão não substitui,

como os pronomes relativos anteriormente men-cionados, uma palavra, mas sim uma oração in-teira. Observe:

Exemplo: A democracia eletrônica permi-te uma eficaz articulação entre cidadão e gover-no, o que facilita processos de consulta pública, como referendos via Internet.

Na frase acima, o que evita a repetição não de uma palavra, mas de toda a oração que o antece-de, funcionando como o sujeito do verbo facilitar.

Além dessas, há outras estratégias no uso do pronome que estabelecem coesão entre as partes de um texto. Observe o exemplo retirado do texto de “Esporte e saúde”:

“Nos cursos de Educação Física está ocor-rendo uma revolução, que vem provocando questionamentos sobre alguns conceitos: o que se tenta expor criticamente hoje é a relação entre ‘Esporte e Saúde’. Esta vinculação, infelizmente, não é a mais usual, pois geralmente é substituída por ‘Esporte é Saúde’ pelo conhecimento popu-lar, uma relação que aparenta ser uma verdade absoluta, quando não, obrigatoriamente, é”.

Veja que, dessa vez, o pronome não co-nectou duas orações em uma mesma frase, mas duas frases diferentes. Geralmente, isso é fei-to por um pronome como “esse(a)”, “este(a)”, “isso” ou “isto”. Tais palavras, chamadas pro-nomes demonstrativos, costumam apontar para outra ideia no texto, que já tenha sido menciona-da ou que ainmenciona-da será expressa. No exemplo ana-lisado, o pronome “esta”, ligado a “vinculação”, refere-se à ideia vinculada em “Esporte e Saúde”, expressão que já havia sido mencionada na frase anterior. No entanto, é preciso observar que a maioria dos gramáticos tradicionais preferem o uso de “esse”, “essa” e “isso”, quando o pronome se refere a algo que já foi dito. Assim, uma me-lhor redação do trecho seria:

Nos cursos de Educação Física está ocorren-do uma revolução, que vem provocanocorren-do questio-namentos sobre alguns conceitos: o que se tenta expor criticamente hoje é a relação entre “Espor-te e Saúde”. Essa vinculação, infelizmen“Espor-te, não é a mais usual, pois geralmente é substituída por “Esporte é Saúde” pelo conhecimento popular, uma relação que aparenta ser uma verdade abso-luta, quando não, obrigatoriamente, é.

Situação semelhante ocorre no trecho abaixo, extraído do mesmo artigo:

“O Esporte, como conceito, é considera-do uma atividade metódica e regular, que asso-cia resultados concretos referentes à anatomia dos gestos e à mobilidade dos indivíduos. Esta é a conotação que podemos chamar de “Espor-te de alto nível”, veiculada nas mídias em geral, representada por pessoas executando gestos extremamente mecanizados, uniformes, com um certo gasto de energia para produzir um deter-minado tipo de movimento repetidas vezes”.

O pronome “esta” retoma o conteúdo de toda a frase anterior, atribuindo-lhe os novos sentidos da segunda frase. No entanto, como se trata de remissão a algo que já havia sido dito, seria mais adequado o uso de “essa”.

Geralmente, os pronomes “este”, “esta” e “isto” referem-se a algo que ainda será mencio-nado. Observe a frase abaixo como modelo, pois o pronome “isto” aponta não para uma informa-ção anterior, mas para algo que se apresenta de-pois dele: a palavra violência.

Exemplo: O que me assusta no Brasil é isto: a violência.

É importante atentar, além disso, para uma construção muito comum em textos

Referências

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