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Agora que você já conhece a estrutura geral do texto argumentativo, precisa aprimorar sua capa- cidade de argumentar, isto é, construir justificati- vas consistentes e lógicas que sustentem sua tese. Para isso, vamos estudar os principais métodos de raciocínio empregados na formulação de argu- mentos, a saber: o raciocínio indutivo e o raciocí- nio dedutivo.

A palavra “método” significa um conjunto de procedimentos que conduzem a um determi- nado objetivo. No texto argumentativo, esses métodos conduzem à formulação de justifica- tivas sólidas que embasam a tese, por meio de operações lógicas. Veja a seguir os principais métodos de raciocínio que você pode empregar na construção de seu texto.

1. Método indutivo – Esse método parte de afirmações particulares para chegar a uma conclusão maior, de cunho geral. No entanto, como você viu na lição sobre coerência, deve ter cuidado para não criar uma generalização falsa. Assim, ao selecionar os fatos em relação aos quais você vai traçar uma lei universal, tome cuidado para não afirmar algo que não se aplica a todos os casos.

Veja agora como o método indutivo pode ser usado na formulação de argumentos, observando o trecho abaixo, retirado de um texto de Salvatore Santagada:

O filme Central do Brasil, de Walter Salles, tem como protagonista a professora aposentada Dora, que ganha um dinheiro extra escrevendo cartas para analfabetos na Central do Brasil, esta- ção ferroviária do Rio de Janeiro. Outra persona- gem é o menino Josué, filho de Ana, que contrata os serviços de Dora para escrever cartas passio- nais para seu ex-marido, pai de Josué. Logo após ter contratado a tarefa, Ana morre atropelada. Jo- sué, sem ninguém a recorrer na megalópole sem rosto, sob o jugo do estado mínimo (sem proteção social), vê em Dora a única pessoa que poderá le- vá-lo até seu pai, no interior do sertão nordestino.

[...]

No filme, a grande questão do analfabetis- mo está acoplada a outro desafio, que é a questão

nordestina, ou seja, o atraso econômico e social da região. Não basta combater o analfabetismo, que, por si só, necessitaria dos esforços de, no mínimo, uma geração de brasileiros para ser de- belado, pois, em 1996, o analfabetismo da popu- lação de 15 anos e mais, no Brasil, era de 13,03%, representando um total de 13,9 milhões de pes- soas. Segundo a UNESCO, o Brasil chegaria ao ano 2000 em sétimo lugar entre os países com maior número de analfabetos.

No Brasil, carecemos de políticas públicas que atendam, de forma igualitária, a população, em especial aquelas voltadas para as crianças, os idosos e as mulheres. A permanência da ques- tão nordestina é um exemplo constante das nos- sas desigualdades, do desprezo à vida e da falta de políticas públicas que atendam aos anseios mínimos do povo trabalhador. Não saber ler nem escrever, no Brasil, é um elemento a mais na de- sagregação dos indivíduos que serão párias per- manentes em uma sociedade que se diz moderna e globalizada, mas que é debilitada naquilo que é mais premente ao povo: alimentação, trabalho, saúde e educação. Sem essas condições básicas, praticamente se nega o direito à cidadania da ampla maioria da população brasileira.

Os ensinamentos que podemos tirar de Central do Brasil são que devemos atacar a ques- tão social de várias frentes, em especial na edu- cação de todos os brasileiros, jovens e velhos; lutar por políticas públicas de qualidade que di- recionem os investimentos para promover uma desconcentração regional e pessoal da renda no país, propugnando por um novo modelo econô- mico e social.

Esse é um texto predominantemente ar- gumentativo sobre a questão do analfabetismo, embora sua introdução tenha sido dedicada à descrição do filme Central do Brasil. Longe de constituir um desvio em relação ao tema, essa breve sinopse do roteiro, acompanhada por rápi- da apresentação das personagens, desempenha papel importante na construção da argumenta- ção do texto.

Ao chamar a atenção para um caso espe- cífico, mesmo que fictício, de problemas sociais atrelados ao analfabetismo, o autor apresenta um exemplo claro e particular de uma ideia mais geral, que apresenta no último parágrafo, como conclusão do texto: “Os ensinamentos que po- demos tirar de Central do Brasil são que deve- mos atacar a questão social de várias frentes,

em especial na educação de todos os brasilei- ros, jovens e velhos; lutar por políticas públicas de qualidade que direcionem os investimentos para promover uma desconcentração regional e pessoal da renda no país, propugnando por um novo modelo econômico e social”.

Assim, a referência ao filme é apresentada como um argumento de natureza mais específica, com vistas a traçar, na conclusão, uma generali- zação em relação ao que foi dito sobre a questão do analfabetismo na obra de Walter Salles. Assim, o autor do texto estendeu aos demais casos de analfabetismo o que Central do Brasil apresenta em um contexto mais específico. Salvatore Santa- gada empregou, pois, o método indutivo em sua argumentação, pois partiu do particular (caso de analfabetismo em Central do Brasil) para o geral (analfabetismo em geral).

2. Método dedutivo – Esse método parte de uma afirmação mais geral para chegar a con- clusões mais específicas, aplicando essa regra mais genérica a casos particulares. Esse método tem a vantagem de que, caso a afirmação geral esteja correta, as conclusões estarão corretas.

Veja agora como o método dedutivo pode ser empregado na condução da argumentação, observando o trecho abaixo, retirado do artigo “Direito de morrer ou direito à dignidade?”, de Daniele Carvalho:

No início da semana, uma menina inglesa, de apenas 13 anos, foi notícia no mundo. Han- nah Jones teve leucemia e os fortes remédios ingeridos desde os 5 anos de idade enfraquece- ram seu coração. Hannah precisaria passar por uma cirurgia para tentar evitar a morte, mas teria poucas chances de sucesso. Além disso, se sobrevivesse, a adolescente teria que se sub- meter a cuidados médicos intensivos pelo resto da vida. Hannah optou por não fazer a cirurgia e disse que prefere morrer com dignidade. O hospital onde ela estava internada entrou com um processo na Justiça para obrigá-la a fazer a operação. Após ser examinada por uma assisten- te social, o hospital desistiu da causa, dando à menina o direito de morte e de voltar para casa.

No caso de uma criança ou adolescente, as doenças terminais ficam ainda mais comple- xas. De acordo com a legislação, os pais são res- ponsáveis legais dos seus filhos até completa- rem a maioridade, aos 18 anos, interferindo em qualquer tipo de atitude que possa influenciar

suas vidas. Embora os pais de Hannah tenham apoiado sua decisão, foi a própria menina que fez a escolha. Segundo o bioeticista e chefe da Divisão Técnico-Científica do INCA, Dr. Carlos Henrique Debenedito, as crianças têm após os 8 anos um desenvolvimento cognitivo, ou seja, uma capacidade de ouvir e compreender. “A partir desta idade, são capazes de ter uma po- sição definida sobre qualquer assunto, mesmo que o raciocínio dependa de tirar dúvidas para esclarecer questões na mente. O grau de matu- ridade intelectual nessa idade permite uma de- cisão consciente e, no caso da menina britânica, acredito que tudo deve ter sido bem esclarecido para que ela pudesse resolver sua própria vida”.

Nesse trecho, a autora do artigo cita a fala do Dr. Carlos Henrique Debenedito, o qual apre- senta seu ponto de vista sobre o caso da menina Hannah Jones. Veja que, antes de o biocientista posicionar-se diante desse caso específico, seu raciocínio parte de uma afirmação mais ampla, que se refere a todas as crianças após os oito anos de idade: “A partir desta idade, são capazes de ter uma posição definida sobre qualquer as- sunto, mesmo que o raciocínio dependa de tirar dúvidas para esclarecer questões na mente. O grau de maturidade intelectual nessa idade per- mite uma decisão consciente”.

Só depois de fazer uma afirmação de na- tureza mais geral, o chefe da Divisão Técnico- -Científica do INCA define seu posicionamento quanto à possibilidade de decisão de Hannah Jones: “no caso da menina britânica, acredito que tudo deve ter sido bem esclarecido para que ela pudesse resolver sua própria vida”. Isso mostra a aplicação de sua ideia mais geral – a capacidade de decisão das crianças com mais de oito anos – a uma situação particular: o caso de Hannah, a qual, segundo ele, tem capacidade cognitiva para tomar sua decisão.

Exercitando

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 2

Leia atentamente o texto abaixo, retirado

do editorial da Gazeta do Povo, e identifique o método de raciocínio (indutivo ou dedutivo) empregado pelo autor para chegar à conclusão de que os provões são necessários para garan- tir equilíbrio entre quantidade e qualidade no acesso à Educação Superior.