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Definindo as regras de coerência textual 1 Regra da repetição (ou regra da coe-

rência sintática) – Ao longo da exposição das ideias, é preciso que as partes do texto se conec- tem entre si, de modo que cada nova informação remeta à antiga. Dessa forma, ao mesmo tempo em que avança em termos de conteúdo, o texto

deve sempre explicitar a relação de cada nova informação com as anteriores, para que o leitor não se perca na leitura.

Observe como isso é feito no trecho abai- xo, retirado do artigo “A convergência dos aspec- tos de inclusão digital: experiência nos domínios de uma universidade”, de Barbara Coelho Neves. Atente, principalmente, para as palavras em des- taque:

“A Sociedade da Informação, formaliza- da nos inventos de uma série de máquinas in- teligentes criadas ao logo da Segunda Guerra Mundial, origina novas responsabilidades para todos os atores sociais nela inseridos. Tais res- ponsabilidades representam a necessidade da provisão do fluxo de informações que permita desde a geração de novos conhecimentos até o efetivo exercício da cidadania pela sociedade civil.

Várias iniciativas de instituições – mantidas com recursos de origem privada, pública ou mista de mecanis- mos nacionais e internacio-

nais – têm contribuído com a criação de espaços que proporcionam tipos de acessos variados à informação eletrônica”.

No trecho acima, as frases estão bem re- lacionadas entre si, o que garante coerência ao texto. A expressão “tais responsabilidades” re- mete diretamente a “novas responsabilidades”, presente na frase anterior.

Além disso, a transição entre parágrafos também se dá de forma clara. Apesar de se dizer geralmente que mudamos de parágrafo quando encerramos um assunto, é preciso perceber que os parágrafos devem estar relacionados entre si, interligando esses tópicos distintos. No texto aqui analisado, a expressão “criação de espaços que proporcionam tipos de acessos variados à informação eletrônica” está intimamente ligada ao parágrafo anterior, pois funciona como uma solução para a “necessidade da provisão do flu- xo de informações que permita desde a geração de novos conhecimentos até o efetivo exercício da cidadania pela sociedade civil”.

2. Regra da progressão – Ao mesmo tem- po em que um texto precisa retomar, por meio de mecanismos coesivos, termos que já haviam sido mencionados, é preciso que haja renovação dos conteúdos, com progressão semântica. As-

sim, o texto avança na condução das ideias, não se tornando repetitivo.

Observe o mesmo trecho de “A convergên- cia dos aspectos de inclusão digital: experiência nos domínios de uma universidade”, agora aten- tando para a aplicação da regra da progressão:

“A Sociedade da Informação, formalizada nos inventos de uma série de máquinas inteli- gentes criadas ao logo da Segunda Guerra Mun- dial, origina novas responsabilidades para todos os atores sociais nela inseridos. Tais responsabi- lidades representam a necessidade da provisão do fluxo de informações que permita desde a geração de novos conhecimentos até o efetivo exercício da cidadania pela sociedade civil.

Várias iniciativas de instituições – man- tidas com recursos de origem privada, pública ou mista de mecanismos nacionais e interna- cionais – têm contribuído com a criação de es- paços que proporcionam tipos de acessos varia- dos a informação eletrônica”.

O primeiro parágrafo do trecho falava so- bre necessidades decorrentes do advento da so- ciedade da informação. O segundo reafirma tais necessidades, mas adiciona uma nova informa- ção: a contribuição de instituições para suprir tal demanda. Assim, o desenvolvimento do texto avança, ao mesmo tempo em que mantém liga- ções com ideias anteriores.

Você deve ter percebido que, na constru- ção de um texto coerente, combinam-se as re- gras da repetição e da progressão. Assim, deve haver um equilíbrio entre informações “velhas” (já conhecidas pelo leitor) e novas, sendo os dois grupos expostos de forma intercalada. Caso contrário, há problemas de comunicação: um texto com excesso de informações velhas tem baixa informatividade, não agregando conheci- mento ao leitor. Por outro lado, o excesso de in- formações desconhecidas pelo leitor pode obs- truir completamente a compreensão do texto. Note, no entanto, que as informações serão “ve- lhas” ou novas de acordo com o leitor, de modo que, ao escrever, você precisa ter bem definido a quem se destina seu texto, para poder selecio- nar e organizar bem as ideias.

Para que isso fique mais claro, atente para os exemplos abaixo, retirados de Koch e Trava- glia (2008, p. 86).

Exemplos:

(b) O oceano é água. Mas ele se compõe, na verdade, de uma solução de gases e sais.

(c) O oceano não é água. Na verdade, ele é composto de uma solução de gases e sais.

A primeira frase deve ser evitada em um texto acadêmico, pois seu conteúdo é óbvio e nada acrescenta ao leitor, que se perguntará qual a intenção do autor ao escrever algo forma- do apenas por informações por ele já conheci- das. Por outro lado, mesmo que esteja correta, a terceira construção causará dúvidas no leitor, visto que provavelmente não há nela nenhu- ma informação por ele conhecida para situá-lo quanto ao enunciado. Ambas as frases em (c) veiculam ideias absolutamente novas, o que pre- judica a compreensão; se não conhecemos boas referências do autor, podemos até achar que se enganou enquanto escrevia.

Para um texto acadêmico, a melhor opção seria (b), pois há um equilíbrio entre informação “velha” (oceano formado por água) e nova (ocea- no formado por gases e sais). Sempre que tiver de escrever, tenha em mente a importância de balancear trechos com alta e baixa informativida- de, para que a leitura possa fluir com facilidade.

Exercitando

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 1

Leia atentamente o artigo abaixo, escrito por Beto Albuquerque. Apesar de atender às nor- mas da gramática tradicional, o texto incorre em uma falha, pois desobedece às regras da progres- são e da repetição, segundo as quais uma parte do texto deve avançar em termos temáticos, mas sempre relacionando as informações novas ao que já havia sido dito. Identifique no artigo em questão o trecho em que o autor lança uma ideia inesperada ao leitor, mas sem explicá-la em mais detalhes ou contextualizá-la em relação ao senti- do global do texto.

Incrível: tem gente torcendo por