• Nenhum resultado encontrado

Regina Dalcastagnè A literatura contemporânea reflete, nas suas ausências, talvez ainda mais do que naquilo que expressa, algumas das características cen- trais da sociedade brasileira. É o caso da popu- lação negra, que séculos de racismo estrutural afastam dos espaços de poder e de produção de discurso. Na literatura, não é diferente. São poucos os autores negros e poucas, também, as personagens – uma ampla pesquisa com roman- ces das principais editoras do País publicados nos últimos 15 anos identificou quase 80% de personagens brancas, proporção que aumenta quando se isolam protagonistas ou narradores. Isto sugere uma outra ausência, desta vez temá- tica, em nossa literatura: o racismo. Se é possí- vel encontrar, aqui e ali, a reprodução paródica do discurso racista, com intenção crítica, ficam de fora a opressão cotidiana das populações ne- gras e as barreiras que a discriminação impõe às suas trajetórias de vida. O mito, persistente, da “democracia racial” elimina tais questões dos discursos públicos, incluindo aí o do romance.

Se os dados agregados da pesquisa de “mapeamento” do romance brasileiro recente revelam a baixa presença da população negra en- tre as personagens – além de sua representação estereotipada –, o exame das exceções pode per- mitir a compreensão das potencialidades e dos limites das (poucas) abordagens do tema. Aqui, serão discutidos alguns números desta pesqui- sa, referentes à cor das personagens e dos seus autores, para, em seguida, fechar o foco sobre obras em que as relações raciais estão presen- tes: seja reforçando os estereótipos racistas, seja

parodiando-os, ou ainda refutando-os a partir da construção de outros modos de interpretá-los. Nestas narrativas, encontramos estratégias di- ferentes, com diferentes resultados, de inclusão de identidades negras em nossa literatura – um gesto político que se faz estético (ou vice-versa) e que se dá, sempre, no embate com formas abertas ou sutis de discriminação e preconceito.

Ao falar de racismo neste texto, estarei pensando-o nos termos de Ella Shohat e Robert Stam (2006, p. 51): O racismo é a tentativa de es- tigmatizar a diferença com o propósito de jus- tificar vantagens injustas ou abusos de poder, sejam eles de natureza econômica, política, cul- tural ou psicológica.

[...]

Observe como procedemos, para desta- car as partes selecionadas: a autora justifica o título de seu trabalho:

A literatura contemporânea reflete, nas suas ausências, talvez ainda mais do que naquilo que expressa, algumas das características centrais da sociedade brasileira.

Sua definição de racismo gira em torno da ideia de vantagens injustas e abusos de poder:

O racismo é a tentativa de estigmatizar a diferença com o propósito de justificar vantagens injustas ou abusos de poder, sejam eles de natu- reza econômica, política, cultural ou psicológica.

Exercitando

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 1

A partir do que você acabou de estudar, elabore um fichamento do artigo “Os desafios do desenvolvimento da ciência e da tecnologia no país”, de Marco Antonio Raupp. Lembre-se de destacar apenas as ideias principais do texto, o que exige análise atenta de seu conteúdo.

Características do resumo

Vamos agora conhecer as principais ca- racterísticas do resumo, que normalmente aparece no início de trabalho de conclusão de

curso, monografia, projeto de pesquisa, ensaio, artigo científico, dissertação de mestrado e tese de doutorado, com informações básicas sobre o conteúdo desses textos. A expectativa do leitor é que o resumo forneça uma visão geral do texto a que se refere, de modo a favorecer a avaliação do mesmo, tanto pelos consultores que o examinam para recomendar suporte das agências de financiamento, como pelos parece- ristas de periódicos, além dos pesquisadores e leitores em geral.

Sua importância acadêmica é tal que as agências, os periódicos e os promotores de con- gressos e seminários privilegiam o resumo como primeiro documento que permite avaliar o con- teúdo de determinado texto. Os livros de resumo são parte da produção acadêmica relevante de cada área de investigação, de instituições públi- cas e privadas de pesquisa. Algumas agências de financiamento à pesquisa, a exemplo da Funda- ção de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Ja- neiro, FAPERJ, publicam os livros de resumos dos projetos aprovados de alguns de seus programas.

Como vários outros gêneros acadêmicos, o resumo contém uma parte pré-textual, o texto propriamente dito e uma lista de palavras-cha- ve. Na parte pré-textual, aparecem o título da obra, nome dos autores e sua filiação. Na parte textual, fornecem-se informações precisas e con- cisas sobre o contexto de produção do trabalho, seus objetivos, o corpus, a metodologia de coleta e análise, a orientação teórica e os principais re- sultados. As palavras-chave, juntamente com o título, sintetizam o tema do trabalho.

O resumo normalmente não contém pará- grafos, mas as informações são estritamente or- ganizadas, na sequência referida acima. Assim, o contexto de produção do trabalho apresenta o estado da arte da temática investigada, em que se aponta uma lacuna, que justifica o estudo. O objetivo geral ocupa a primeira informação espe- rada no resumo. Dependendo do caso, pode ser detalhado nos objetivos específicos. A metodo- logia dá conta do modo de coletá-los, organizá- -los e analisá-los. O contexto teórico do trabalho se especifica, em termos de corrente de pensa- mento. A referência a autores depende do grau de familiaridade dos leitores com seus nomes. Os resultados detalham os principais achados, bem como implicações para novos estudos.

Até agora, falamos do resumo que precede ou segue um trabalho maior, do tipo artigo, dis-

sertação, tese e ensaio. Mas há outros tipos de resumo, como o que sintetiza as ideias básicas de uma aula. Temos também os resumos estendidos, de duas ou três páginas, que são solicitados por algumas instituições de pesquisa e que são ver- dadeiros artigos densos, com dados analisados e interpretados.

Perceba que, apesar de semelhantes, ficha- mento e resumo são gêneros textuais indepen- dentes, com características próprias: enquanto aquele é formado por trechos do texto fichado, que são transcritos literalmente, este é compos- to por paráfrases. Isso quer dizer que, em um resumo, repetem-se as ideias do texto a ser re- sumido, mas não suas frases. Assim, enquanto um fichamento é formado por frases soltas, um resumo tem de ter coesão entre suas estruturas internas, como vimos na Unidade 2.

Agora, vamos ler e observar as partes do resumo seguinte, sobre teoria crítica de discur- so e texto:

Revista Linguagem em (Dis)curso, volume 4, número especial, 2004

TEORIA CRÍTICA DO