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POLÍTICA DE EDUCAÇÃO INFANTIL: CENÁRIOS DO MACIÇO DE BATURITÉ/CE

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Academic year: 2021

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POLÍTICA DE EDUCAÇÃO INFANTIL: CENÁRIOS DO MACIÇO DE BATURITÉ/CE

Rosalina Rocha Araújo Moraes

Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Mestre em Educação/formação de professores (UECE). Especialista em Psicomotricidade Relacional (FACEL/CIAR). Pedagoga (UECE). Professora do Município de Fortaleza.

Larissa Martins Dantas

Universidade Federal do Ceará (UFC)

Mestranda - Programa de Pós Graduação em Educação Brasileira – PPGEB/UFC. Bolsista Capes. Pedagoga (UECE).

RESUMO

Este estudo, integrante do Observatório da Educação no Maciço de Baturité (OBEM), trata das políticas de Educação Infantil e objetiva apresentar e discutir dados de despesa com essa etapa educacional, em 2013, em 12 municípios do Maciço de Baturité. Constitui pesquisa quantitativa onde utiliza-se dados estatísticos do Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Educação (SIOPE). A Educação Infantil tornou-se tema mais contundente em estudos e pesquisas desde a década de 1980. O crescente interesse em discuti-la reflete a matéria legal da época, que trata da Educação Infantil como direito cidadão e dever do Estado. A Constituição Federal de 1988(CF) constitui o marco legal dessa discussão uma vez que refere-se à Educação Infantil como um direito. Seguindo esse princípio, ainda na década de 1980 e início dos anos 1990, outros documentos oficiais vão abordar, de forma direta ou indireta, o direito da criança à educação, a saber: Convenção dos Direitos da Criança, 1989; Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/90 (ECA); Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9394/96 (LDB). O detalhamento dos gastos em educação evidencia uma discrepância entre o custo com Ensino Fundamental e com Educação Infantil. Dos 12 municípios apenas um apresenta um gasto maior com Educação Infantil que com Ensino Fundamental. Infere-se, a partir dos dados, que a Educação Infantil, embora uma obrigação do município, não constitui prioridade dos municípios investigados. Conclui-se, portanto, que esse direito não está sendo respeitado e que a Educação Infantil, a despeito das inúmeras discussões, ainda está à margem dos sistemas educacionais.

Palavras-chave: Políticas de Educação Infantil; Despesas com Educação; Maciço de

Baturité

INTRODUÇÃO

Este estudo provém de uma iniciativa mais abrangente denominada

Observatório da Educação no Maciço de Baturité (OBEM)i cujo objetivo é realizar um

levantamento de indicadores educacionais nos 15 municípiosii que constituem a

microrregião do Maciço do Baturité. Pretende, ainda, realizar um diagnóstico da política educacional e da gestão escolar na região, promovendo, ao final do projeto, ações interventivas em cada município.

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Neste recorte debruçamo-nos sobre o tema das políticas de Educação Infantil na região. Neste sentido, temos por objetivo apresentar e discutir os dados de despesa com essa etapa educacional, durante o ano de 2013, em 12 dos 15 municípios do Maciço de Baturitéiii.

A pesquisa reúne características das abordagens, qualitativa e quantitativa (TRIVIÑOS, 1987). É caracterizada como quantitativa uma vez que os dados analisados são indicadores. Contudo, busca, no processo de análise desses dados, apreender o contexto em que se desdobram as ações relacionadas à Educação Infantil.

1. A EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL: BREVES CONSIDERAÇÕES

A discussão sobre Educação Infantil está atrelada à concepção de infância. A presença do tema na produção científica assim como o conceito contemporâneo de infância - que considera a criança como um sujeito histórico e social possuidor de direitos e com características e necessidades específicas - são bem recentes.

No Brasil, a Educação Infantil se erige a partir de iniciativas filantrópicas e insurge, segundo Kulman Jr. (2011), em meio às discussões sobre assistência à infância desvalida. A instalação das primeiras instituições brasileiras de Educação Infantil se deu no final do século XIX, seguindo dois modelos: creches, para crianças pobres; e, jardins de infância, destinados à elite brasileira. No Ceará as primeiras experiências de Educação Infantil de que se tem registro se consolidam no início do período republicano também por iniciativa privada ou beneficente (MORAES, 2007). As primeiras escolas públicas de Educação Infantil foram instaladas na década de 1930. De acordo com Sousa (1961, p. 95) “o primeiro ‘Jardim de Infância’, instalado no Ceara, em caráter oficial, data de 1934”.

A partir da segunda metade do século XX cresce a oferta de Educação Infantil no Brasil, em resposta às orientações legais da Constituição Federal de 1988(CF) e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, Lei nº 9394/96). Outros documentos do mesmo período abordam o direito da criança à educação (UNICEF - Convenção dos Direitos da Criança, 1989; Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei nº 8.069/90). Esses documentos “[...] reforçaram e deram legitimidade aos processos de expansão do atendimento educacional às crianças entre 0 e 6 anos [...]” (CAMPOS, et all, 2011, p. 17).

A afirmação da educação como um direito da criança e um dever do estado, impõe grandes desafios ao Poder Público e reflete sobre “[...] a formação de professores e as

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políticas municipais e estaduais que, com maior ou menor ênfase, têm investido na Educação Infantil como nunca antes no Brasil” (KRAMMER, 2006, p. 798). Sinais desse investimento foram percebidos nos dados das matrículas na Educação Infantil em 2013. A Educação Infantil foi a única etapa educacional que teve aumento de matrículas em relação ao ano anterior, subindo de 5,1 para 5,3 bilhões (BRASIL, MEC, Censo 2013). No que tange ao financiamento, é válido salientar o crescimento em volume de recursos destinados a esta etapa da Educação Básica, em especial, nos últimos sete anos, com a implementação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que ampliou os investimentos em educação, alcançando a Educação Infantil e impactando diretamente nos municípios, responsáveis legais pela oferta desta etapa. Contudo, 25 anos após a promulgação da CF de 1988, permanece o desafio de promover o acesso à Educação Infantil a quase dez bilhões de crianças de 0 a 5 anos de idade que permanecem excluídas desse processo (MEC/INEP; IBGE/PNAD, 2012).

2. A DESPESA COM EDUCAÇÃO INFANTIL NO MACIÇO DE BATURITÉ

As reflexões feitas até aqui nos colocam diante de diversos questionamentos não apenas acerca do acesso da criança de 0 a 5 anos à educação escolar, mas também em relação à qualidade desse serviço. Diante disso questionamos: Como os municípios têm operado sua política de Educação Infantil? Na perspectiva de compreender melhor essa questão empreendemos esta iniciativa em uma região caracterizada pela pobreza e “[..] forte dependência de recursos estatais (arrecadados e transferidos pelo estado e a União)” (VIDAL et all, 2012, p. 06).

Em função dos limites deste texto, tratamos aqui, apenas dos dados referentes ao ano de 2013 (ver quadro 1), que apontam uma média anual de R$ 2.979.600,33 em despesa com EI, por município. Contudo, quando analisamos os dados por município, verificamos uma grande variação dessa despesa entre os municípios. O menor investimento é de Mulungu, que despendeu R$ 1.096.977,07 e o maior é de Itapiúna, cuja despesa com Educação Infantil é de R$ 5.789.746,69 e ultrapassa os gastos com Ensino Fundamental.

A comparação entre os gastos com Educação Infantil e Ensino Fundamental evidencia uma diferença gritante. A média de gastos com Educação Infantil no Maciço de Baturité é de 21% contra 68% no Ensino Fundamental. Se esse quadro já é desanimador para a Educação Infantil, quando se verifica caso a caso a situação é bem

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mais séria. Sete dos doze municípios investigados gastaram menos que essa média. São eles: Aratuba, Capistrano, Caridade, Guaiúba, Mulungu, Palmácia e Redenção. O menor investimento percentual em Educação Infantil é de Capistrano, 13% e o maior é de Itapiúna, 47%. A despesa com Educação Infantil, como se percebe, é muito menor que a do Ensino Fundamental. Embora se saiba que esse investimento precisa ser melhorado, o dado positivo é que em 2013, o custo-aluno nesses municípios ficou dentro esperado. Conforme quadro 1, os 12 municípios superaram o custo mínimo equivalente a R$ 2.022,51 estabelecido pelo MEC (MEC, PORTARIA INTERMINISTERIAL No 16/2013). O mesmo não se observou em anos anteriores. De acordo com o relatório parcial do OBEM, entre 2008 e 2011, apesar dos investimentos “[...] os municípios ainda não atingem o valor mínimo do custo-aluno estabelecido por Lei.” (VIEIRA, 2013, et all, p. 18).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O esforço feito até aqui nos permitiu perceber, a partir da análise de um indicador - a despesa com educação - algumas nuances da política de Educação Infantil em 12 municípios do Maciço de Baturité.

Constatou-se que esses municípios têm feito um movimento positivo no sentido de promover a Educação Infantil, o que se expressa no aumento da despesa por aluno de Educação Infantil. Contudo, apesar dos esforços empreendidos constamos que os municípios gastam muito mais com Ensino Fundamental do que com Educação Infantil. Inferimos portanto, que a Educação Infantil não constitui foco da política educacional nesses municípios. Isso reforça a tese de muitos estudos recentes de que a Educação Infantil, embora tenha se desenvolvido sobremaneira nos últimos anos, ainda está à margem dos sistemas educacionais.

Para concluir ressaltamos que este escrito constitui uma primeira aproximação com o contexto da política de Educação Infantil no Maciço de Baturité. A partir dessa discussão e dos muitos dados que não puderam ser abordados aqui, outros interesses emergiram devendo vir a se tornar objetos de estudos futuros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Ministério da Educação – MEC; Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

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BRASIL, Ministério da Educação – MEC; Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, 2012.

BRASIL, Ministério da Educação – MEC. Portaria interministerial nº 16, de 17 de

dezembro de 2013.

CAMPOS, M. M; BHERING, E. B.; ESPOSITO, Y.; GIMENES, N.; ABUCHAIM, B.; VALLE, R.; UNBEHAUM, S. A contribuição da Educação Infantil de qualidade e seus impactos no início do Ensino Fundamental. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.37, n.1, 220p. 15-33, jan./abr. 2011

KRAMER, S. As crianças de 0 a 6 anos nas políticas educacionais no Brasil: Educação Infantil e/é fundamental. Educação e Sociedade, v. 27, nº. 96, p. 797-818, out. 2006. KUHLMANN JR. Infância e Educação Infantil: uma abordagem histórica. 6ª. edição. Porto Alegre: Mediação, 2011.

MORAES, R. R. A. Formação de Professores no Ceará:do Império à Primeira

República (1822-1922). Monografia de graduação, Universidade Estadual do Ceará –

UECE. 2006.

SOUSA, J. M. de. Sistema educacional cearense. RECIFE: MEC-INEP, 1961.

TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa

qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

VIDAL, E. M.; MOREIRA, A. N. G.; MENEGHEL, S. M.; SPELLER, P. Cenários da

educação no maciço de Baturité/Ce: reflexões sobre as políticas públicas de educação na região. Disponível em:<http://www.anpae.org.br/iberoamericano 2012/Trabalhos/EloisaMaiaVidal_ res_int__B_GT5.pdf>.

VIEIRA, S. L.; et all. Relatório Parcial do Observatório da educação no maciço do

Baturité. 2013.

TABELAS, QUADROS, GRÁFICOS, FIGURAS

Quadro 1 – Educação: resumo dos dados de matrícula e despesa em 2013 no Maciço de Baturité/CE.

MUNICÍPIO

MATRÍCULA EM 2013 DESPESA COM EDUCAÇÃO EM 2013 GASTO ANUAL POR ALUNO EM 2013 EDUC. INFANTIL ENS. FUN DAMENTAL TOTAL EDUC. INFANTIL ENS. FUN DAMENTAL OUTRAS EDUC. INFANTIL ENS. FUN DAMENTAL Guaiuba 1.082,00 3.817,00 17.626.004,87 2.460.910,02 13.687.094,85 1.478.00,00 2.274,41 3.585,83 Caridade 703,00 2.944,00 12.273.951,36 1.957.692,25 9.344.677,11 971.582,00 2.784,77 3.174,14 Aracoiaba 1.121,00 3.886,00 18.238.698,64 5.608.505,62 10.736.016,45 1.894.176,57 5.003,13 2.762,74 Aratuba 666,00 2.273,00 10.118.296,39 1.758.707,93 7.762.942,12 596.646,34 2.640,70 3.415,28 Barreira 996,00 3.281,00 14.694.864,63 3.025.417,26 11.071.206,07 598.241,30 3.037,57 3.374,34 Capistrano 766,00 2.641,00 14.687.651,17 1.967.781,78 10.743.653,95 1.976.215,44 2.568,91 4.068,02 Itapiúna 758,00 2.766,00 12.347.118,16 5.789.746,69 5.000.000,00 1.557.371,47 7.638,19 1.807,66 Mulungu 433,00 1.429,00 6.425.883,21 1.096.977,07 4.981.647,74 347.258,40 2.533,43 3.486,11 Ocara 828,00 3.812,00 18.337.941,96 5.277.108,45 10.827.384,84 2.233.448,67 6.373,32 2.840,34 Pacoti 571,00 1.652,00 7.264.959,13 1.996.223,40 4.968.812,26 299.923,47 3.496,01 3.007,76 Palmacia 446,00 1.470,00 7.366.296,48 1.242.742,83 5.054.601,43 1.068.952,22 2.786,42 3.438,50 Redencao 1.232,00 4.233,00 18.893.091,77 3.573.390,65 11.167.617,12 4.152.084,00 2.900,48 2.638,23

Elaboração das autoras com base em dados do INEP/SIOPE

i Iniciativa do Grupo de Pesquisa “Política Educacional, Gestão e Aprendizagem”, a pesquisa é realizada pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) em parceria com a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro Brasileira (UNILAB), sob a coordenação da Profa. Dra. Sofia Lerche Vieira.

iiAcarape, Aracoiaba, Aratuba, Barreira, Baturité, Capistrano, Caridade, Guaiúba, Guaramiranga, Itapiúna, Mulungu, Ocara, Pacoti, Palmácia, Redenção.

iii Acarape, Baturité e Guaramiranga, não serão considerados para efeito desta análise porque não informaram ao SIOPE, base de dados consultada, as despesas referentes ao ano de 2013.

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