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O ANTAGONISMO NOS FINAIS DE STEPHEN EDWIN KING.

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CURSO DE LETRAS PORTUGUÊS – INGLÊS E RESPECTIVAS LITERATURAS

RHUAN FELIPE SCOMAÇÃO DA SILVA

O ANTAGONISMO NOS FINAIS DE STEPHEN EDWIN KING.

PARANAGUÁ 2011

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RHUAN FELIPE SCOMAÇÃO DA SILVA

O ANTAGONISMO NOS FINAIS DE STEPHEN EDWIN KING

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito para a conclusão do Curso de Licenciatura Plena em Letras Português, Inglês e Respectivas Literaturas, da Universidade Estadual do Paraná - Campus FAFIPAR. Professora orientadora: Ms. Alessandra da Silva Quadros Zamboni

PARANAGUÁ 2011

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RHUAN FELIPE SCOMAÇÃO DA SILVA

O ANTAGONISMO NOS FINAIS DE STEPHEN EDWIN KING

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito para a conclusão do Curso de Licenciatura Plena em Letras Português, Inglês e Respectivas Literaturas, da Universidade Estadual do Paraná – Campus FAFIPAR.

Paranaguá, 02 de Fevereiro de 2011.

___________________________________________________________________________ Professora Orientadora: Ms. Alessandra da Silva Quadros Zamboni

___________________________________________________________________ Professor(a):

___________________________________________________________________ Professor(a):

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho primeiramente a minha mãe, a qual me acompanhou nas madrugadas cinéfilas de terror durante minha infância, e a Deus, fonte inesgotável de força no decorrer deste trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de começar agradecendo à professora Alessandra Quadros Zamboni, a qual esteve sempre próxima, me auxiliando e dando força quando estive próximo de desistir; à minha família e amigos, em especial Mariana, que me empolgava a cada conversa e discussão acerca do tema, e mais uma vez a Deus, por ser tão presente em minha vida.

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―Lá longe, ao sol, encontram-se as minhas spirações. Poderei não alcançá-las, mas posso levantar os olhos, ver a sua beleza e acreditar nelas.‖

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SUMÁRIO RESUMO ... VII 1 INTRODUÇÃO ... 1 1.1-JUSTIFICATIVA ... 1 1.2–OBJETIVOS ... 2 1.2.1 – Objetivo Geral ... 2 1.2.2 – Objetivos Específicos ... 2 2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 4

2.1LITERATURA DE HORROR: UM BREVE ESBOÇO ... 5

2.1.1 Da Gênese a Poe ... 8

2.1.2 O gênero terror em sua fase de maior reconhecimento ... 13

2.1.3 O Horror moderno ... 19

2.2AS DUAS FACES DO HORROR EM PESSOA ... 22

2.2.1 Stephen King além dos livros ... 23

2.2.2 Stephen King como Richard Bachman, ou o contrário? ... 25

2.2.3 Terror e suspense em Stephen King ... 26

2.2.3.1 A década de 70 e o reconhecimento... 27

2.2.3.1.1 Carrie e o horror como estudo ... 27

2.2.3.1.2 De Stoker a King ... 28

2.2.3.1.3 O clichê do horror ... 28

2.2.3.1.4 O terror em sua maior escala ... 29

2.2.3.2 – 10 anos de muito trabalho ... 30

2.2.3.2.1 – O melhor amigo do homem ... 31

2.2.3.2.2 - Você acredita em lobisomem? ... 31

2.2.3.2.3 – O horror em pequenas escalas ... 32

2.2.3.2.4 – A Coisa ... 32

2.2.3.2.5 – Bipolaridade ... 33

2.2.3.3 A era do horror psicológico ... 33

2.2.3.3.1 Viagem no tempo ... 34

2.2.3.3.2 Coisas Necessárias ... 34

2.2.3.3.3 Saco de Ossos ... 35

2.2.3.3.4 – Divina providência ... 35

2.2.3.4 – Um retorno às origens e uma aventura épica ... 36

2.2.3.4.1 – Mais um conjunto de terror ... 36

2.2.3.4.2 Não atenda o Celular ... 37

2.2.4 Por fim, o que é realmente o horror em King? ... 37

2.3OS FINAIS NÃO CONVENCIONAIS DE UM CRIADOR DO MEDO. ... 38

2.3.1 O final padrão... 39

2.3.2 Por que as pessoas gostam do terror? ... 41

2.3.2.1 A Maldição do Cigano ... 43

2.3.2.1.1 – Resumo da obra ... 44

2.3.2.1.2 Personagens ... 45

2.3.2.1.3 Tema ... 47

2.3.2.1.4 Implicações para o desfecho da obra ... 47

2.3.2.1.5 – O trágico encerramento ... 51

2.3.2.2 O Cemitério ... 53

2.3.2.2.1 Resumo da obra ... 54

2.3.2.2.2 Personagens ... 56

2.3.2.2.3 Tema ... 58

2.3.2.2.4 Implicações para o desfecho da obra (XXXX)... 59

2.3.2.2.5 O Trágico encerramento... 64

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3 CONCLUSÃO ... 71 REFERÊNCIAS ... 72

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RESUMO

A ficção de horror e a literatura gótica rumaram paralelas no decorrer da história e tiveram repercussão por onde passaram. Desde os antigos mitos até a literatura de hoje muitos escritores e pensadores passaram e deixaram suas marcas, marcas essas que fizeram o autor principal a que esse trabalho tem como foco, o mais lido da literatura de horror moderna. Stephen Edwin King deixou, e ainda deixa, sua marca na história, principalmente pelo grande número de adeptos que adquire a cada dia, desde leitores comuns, até escritores conceituados, os quais o intitulam como o autor que fez o gênero horror renascer. Seus mais variados temas e modos de conduzir o leitor a seu temido final o tornaram esse ―monstro‖ que é hoje, e uma das características mais evidentes de King é sua capacidade de tornar um final algo tão catastrófico, algo que faz o leitor se sentir acabado, com raiva, que após terminar um de seus romances faça-o pensar duas vezes antes de ler outro, algo que faz o leitor acostumado com o usual ―final feliz‖ sentir a poderosa força discursiva que seus livros proporcionam, e, com isso, fazer com que outros tenham o prazer de conhecer suas histórias.

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1.1-JUSTIFICATIVA

A escolha desse tema representa um interesse que dedico há mais de uma década ao escritor Stephen King. Logo que assisti à adaptação cinematográfica de Carrie (Brian de Palma, 1976), dedico parte de meu tempo à leitura e pesquisa das obras do gênero terror, e posso afirmar que hoje considero King o principal responsável pelo meu prazer no universo literário.

O gênero em si atrai por sua facilidade em retratar o sobrenatural, o inexistente, e dessa forma causar um sentimento tão forte quanto o medo. O prazer por essa leitura deixou de ser apenas um gosto pessoal e passou a ser elemento de estudo, principalmente pelo caráter maravilhoso em que é apresentado, podendo fazer o singular leitor se tornar atraído ao perceber o prazer que essas obras podem lhe proporcionar.

Como foi dito acima, tenho acompanhado a trajetória do autor há um tempo considerável, e devido a esse aspecto, acredito que o trabalho que será apresentado reflete, de maneira muito abrangente, minha verdadeira paixão pelo sobrenatural em suas obras. Entretanto, não é apenas o sobrenatural que atrai em seus romances, pois Stephen King é um escritor de estilo monótono; ao contrário, seus livros, contos, novelas, ensaios, entre outros gêneros de sua vasta coleção de escritos – atualmente estimada em mais de 550 criações individuais – são sempre inimagináveis, o que os deixa muito mais atrativos para uma longa e agradável leitura, onde o principal objetivo nem sempre é saber o ―macabro‖ final, e sim deliciar-se com seu modo de conduzir o leitor pelos meandros do texto.

Creio que o que será apresentado nesta monografia é de considerável relevância pessoal, porém, tentarei mostrar que Stephen King pode também ser elemento de estudo. Deste modo, pretendendo corrigir uma injustiça vista pelo corpo acadêmico de estudiosos em literatura em considerar o autor apenas uma válvula de escape da realidade, visto que suas obras são muito mais do que isso: elas retratam muito mais do que o entretenimento a que são pré-conceituadas, representam dramas familiares (The Shinning, 1977), convivência em sociedade (Needfull Things, 1991), conflitos de vários gêneros (Carrie, 1974 e Pet Sematary, 1983), guerras (The Stand, 1978), escolhas (Dead Zone, 1979) e, é claro, aquilo que faz de suas obras uma atração à parte: o sobrenatural.

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que é devido a esse elemento pessimista que os livros de Stephen King são cada vez mais comprados e estudados ao redor do globo, tornando-o exemplo mundial de uma literatura que estava sendo considerada morta depois de Anne Rice, e que retorna com toda a força após a chegada de King.

A justificativa acadêmica para a escolha desse tema deve-se ao teor inédito de produção na área em território nacional: Digo isso, pois, após uma intensa pesquisa, foi possível perceber que o estudo do tema é escasso, para não dizer praticamente nulo em nosso país, e quero acreditar que a literatura de Edgar Alan Poe, Mary Shelley, Stephen King e muitos outros escritores do gênero, merece muito mais atenção do que a que vem recebendo hoje em dia.

Stephen King é um admirador de grandes nomes da literatura mundial, dentre eles Edgar Alan Poe, H. p. Lovecraft e Dorothy Sayer, e suas obras refletem por vezes o estilo de tais autores; logo, imagino que tendo sido influenciado por tão grandes nomes, e fazendo o sucesso que faz em todo o mundo, por que não estudar de maneira mais aprofundada uma de suas características, preenchendo assim, uma parte dessa lacuna no estudo do tema no Brasil?

Por fim, acredito que esta pesquisa vem para formalizar um estudo que venho fazendo há alguns anos do gênero em questão, tentado criar uma linha de pesquisa que não acabe nesta monografia, e possa perdurar para uma pesquisa muito mais abrangente do gênero em âmbito nacional.

1.2–OBJETIVOS

1.2.1 – Objetivo Geral

Este trabalho tem por objetivo analisar o pessimismo nos finais de duas obras de Stephen King: ―O Cemitério‖ (2006) e ―A Maldição do Cigano‖ (2001), analisando a formulação de tais desfechos.

1.2.2 – Objetivos Específicos

Propiciar uma visão abrangente das obras fantásticas de Stephen King, analisando desde seu tema usual, o sobrenatural, a obras que não utilizam esse aspecto e mesmo assim causam aquilo que ele tem de mais forte em suas características como escritor: usar o inimaginável para hipnotizar o leitor;

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Traçar um paralelo histórico quanto a essa literatura, relembrando escritores considerados ícones do gênero, e mostrando as principais obras no decorrer dos séculos;

Observar a influência que esses escritores possuem nas obras em questão, tornando Stephen King um ícone mundial do horror moderno;

Traçar um paralelo entre o final padrão e o não-padrão, analisando uma característica usual nas obras de Stephen King: o desfecho pessimista.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

O arcabouço teórico que embasa esta pesquisa baseia-se nos pressupostos apontados por Spignesi (2003); Miller (1990); Beahm (1998); Timpone (1997) e King (2007), todos eles sendo considerados referência no exterior quanto aos estudos dedicados a Stephen King. Spignesi assim descreve seu interesse no autor:

Antes de começar, devo admitir que eu provavelmente sou a pessoa errada para estar escrevendo esse livro. Por quê? Porque sou um fã ardoroso de Stephen King e, assim, você não encontrará aqui impressões negativas sobre os trabalhos de King. (SPIGNESI, 2003 p. 13)

Stephen J. Spignesi vem escrevendo sobre o autor há muito tempo e seus livros são consecutivamente utilizados como referência ao se tratar de qualquer obra de Stephen King. O autor viaja várias vezes para o Maine, estado em que King mora, e os dois são grandes amigos, assim como o outro grande estudioso do autor, George Beahn.

Stephen King, em seu frequentemente utilizado ditado diz ―é o conto, não aquele que conta a história‖, enfatizando a história e não o contador de histórias, mas para mim, é o conto e quem o conta. Os dois são inseparáveis. (BEAHM,1998 p. 8)

George Beahm é considerado o maior estudioso do mundo de King, chegando a ser considerado um amigo do autor. Sua pesquisa já rendeu vários livros e ele é visto como cânone ao se estudar algo relacionado a Stephen King.

A Coletânea (Timpone, 1997), maior nome de revistas relacionadas ao tema horror da América, será uma grande auxiliadora para este trabalho, e em edição especial ela mostrará entrevistas com Stephen King, onde o autor falará de suas obras e das adaptações para o cinema. Vale ressaltar que Fangoria é uma das pouquíssimas revistas a qual tem acompanhando o trabalho de Stephen King desde suas primeiras edições, e também uma das poucas a quem Stephen King não se importa em dar entrevistas. Esse fato revela-se importante para provar certas teorias, devido ao valor verossímil que o próprio escritor atribui à revista.

Dissecando Stephen King é uma obra de consulta obrigatória para aqueles que pretendem conhecer profundamente as bases do terror e as motivações e mecanismos de criação do maior mestre moderno do gênero. (MILLER,1990 p. 2)

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Sem dúvida, King é dissecado nesse conjunto de entrevistas em forma de livro, em que várias facetas do escritor serão exploradas, desde sua vasta obra, sua vida pessoal e a influência da mídia em sua carreira. Há entrevistas sobre suas obras, desde Carrie (2007) até as mais recentes, sobre praticamente todas as suas adaptações cinematográficas, obras futuras e assuntos variados de seu cotidiano. Tais entrevistas serão muito importantes, pois mostrarão os bastidores de algumas de suas obras, entre elas as que serão utilizadas como estudo nesta monografia, e nos darão uma visão diferente do simples leitor, uma visão de um verdadeiro dissecador.

Para chegar ao ponto de analisar as obras passaremos pela história do terror na literatura, e como base será utilizado o próprio Stephen King, em seu livro de não-ficção

Dança Macabra (2007), obra em que o escritor narra o que o motivou a escrever sobre o que

não existe, e como isso foi evoluindo com o passar dos tempos. O interessante é que King faz um resumo geral de três décadas do Terror, desde a literatura, passando pelos quadrinhos, até o cinema. Essa radiografia geral nos dá uma base extremamente poderosa das raízes da criatividade de Stephen King, sendo que serão abordados os primórdios do horror, de Mary Shelley, Bram Stocker e outros, passando pelo horror explicito de H. p. Lovercraft e alcançando os atuais nomes do horror mundial. Com isso, será possível mostrar de onde vêm as inspirações de King, e, assim, mostrar a gênese da literatura de horror.

2.1LITERATURA DE HORROR: UM BREVE ESBOÇO

A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte tipo de medo é o medo do desconhecido. Esses fatos poucos psicológicos irão discordar, e sua verdade admitida deve estabelecer, por todo o tempo, a genuidade e dignidade do estranhamente horrível conto como uma forma literária. (LOVECRAFT, 1973 p. 12)1

Lovecraft relata, no parágrafo acima, o que é literatura de horror em sua

concepção, e, considerando o autor como um dos maiores nomes do gênero, há de se considerar a verossimilhança de tal afirmação. Porém, para consagrar um valor ainda mais verossímil à afirmativa de Lovecraft, vejamos o que alguns teóricos e escritores dizem acerca desse gênero da literatura fantástica: França (2008) escreve logo no inicio de seu artigo que:

Literatura de Horror é a denominação mais usual dada a textos ficcionais que, de algum

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artigo como mostra em um evento da USP, e, sendo um dos pouquíssimos teóricos de quem foi possível encontrar material relacionado ao assunto no Brasil, acredita-se que sua opinião é muito semelhante, mesmo com o distanciamento de décadas, com a de Lovecraft. Adicionemos, também, a visão de Beghini (2010) com relação ao gênero:

O terror é um gênero literário riquíssimo, pois mostra ao leitor o que não é convencional em narrativas, mas que está presente em cada um de nós. Todo ser humano, desde a infância, tem vários medos e os alimenta a cada dia, seja por desconhecer algo e persistir na ignorância, seja por vivenciar experiências traumáticas, seja através do medo alheio, que é divulgado e se torna de senso-comum. O medo, a principal sensação que se tem ao ler um livro de Edgar Allan Poe, de Stephen King ou de H. P. Lovecraft, por exemplo, é uma descarga enorme que causa considerável impacto físico-emocional no indivíduo. Portanto, as mensagens que o texto de terror nos transmite, sejam elas explícitas ou implícitas, serão gravadas irremediavelmente na memória, fazendo-nos muitas vezes até sonhar com tais situações macabras.

Tendo em vista a semelhança entre as três definições acima, coloquemos ainda o conceito de outro importante teórico, Tzvetan Todorov (1981). O autor apresenta a visão de diversos outros escritores para uma tentativa de representação do gênero, afirmando que a relação de gênero é muito particular, e que ―há um fenômeno estranho que pode ser explicado de duas maneiras, por tipos de causas naturais e sobrenaturais. A possibilidade de vacilar entre ambas cria o efeito fantástico‖ (TODOROV, 1981 p. 16). Dessa forma, defende que o fantástico, o sobrenatural, só existem por causa da dúvida, e que em uma sociedade completamente agnóstica provavelmente não existiriam.

Logo, a literatura de horror em si se ramifica em vários outros gêneros, e nessa grande gama serão encontrados todos os diferentes graus do horror: psicológico, social, alegórico, gótico, ficção científica, fantasia, entre muitas outras divisões, as quais possuem como função primordial causar o sentimento tão comumente relatado por Lovecraft: o medo. Mas, se colocarmos a definição de horror como sendo um intenso medo e dor, no estado físico, ou medo e desânimo, no estado psicológico, o gênero não pode ficar preso apenas nos conceitos sobrenaturais, apenas aos vampiros, lobisomens e fantasmas, pois o horror lidará com a humanidade, com a vida e aquilo que ela propicia ao ser humano. Tendo isso em vista, trataremos o horror de diversas maneiras. Assim como Todorov nos mostra, deixemos de lado apenas a classificação por gênero, e nos foquemos naquilo de maior aderência desse tipo de escrita: a tendência em causar o medo.

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Uma das mais usuais duvidas entre os leitores e estudiosos do gênero horror/terror é exatamente essa diferença, o porquê de alguns títulos serem discriminados como horror e outros como terror.

Ann Radcliffe elucida sua posição em 1826 em um ensaio intitulado "O sobrenatural da poesia", no qual baseia-se Edmund Burke, a fim de distinguir entre o terror e horror na literatura. Ela argumenta que o terror é caracterizada por "obscuridade" ou indeterminação no tratamento de possíveis eventos horríveis, e é essa indeterminação que conduz o leitor em direção ao sublime. Horror, em contrapartida,"quase aniquila" a capacidade de resposta do leitor com a sua mostra inequívoca de atrocidade. (RAŠKAUSKIENÉ,

2009 p. 21)

Tendo em estudo a análise de Ann Radcliffe, podemos então fazer uma divisão primária de cada um dos gêneros dispostos, horror, então, trataria do medo em seu estado mais psicológico; o horror secreto do ser humano, o medo de olhar em baixo da cama, ou na fresta do guarda-roupa, ou, ainda, o medo de um estranho ou de um assassino serial, por exemplo. O horror trata então mais do imaginário do que do visual; O terror, pelo contrario, trata de levar o leitor ao mundo dos monstros, das anomalias naturais e sobrenaturais, explorando o medo visceral do ser humano, do inevitável, daquilo que foge do seu conhecimento de mundo.

Talvez seja por isso que, normalmente, ao que se pergunta a alguém o que ela entende por horror, as respostas mais usuais são Freddy Krueger, Jason Voorhees ou Mike

Myers2, porém, muito raramente, encontramos alguém que cite Mary Shelley, Stevenson ou

Stephen King, a figura do horror explorado pelo cinema trouxe isso, e a literatura tende a carregar seu peso por onde passa.

Por consequencia, a principal afirmativa dessa dificuldade em exemplificar o que é o horror seja a grande expansão que o gênero teve nos anos 80, com uma explosão de títulos

explorando muitos temas clichês do gênero3, fazendo a literatura do horror criar uma

defasagem cultural em sua estrutura. Principalmente devido a seu caráter inicial, o gênero horror tinha como intuito assustar, e para isso os escritores deviam sempre estar modificando seus escritos para causar no leitor o sentimento de novidade, o sentimento de algo nunca visto, e tudo o que é novo deve ser temido, proporcionando, desse modo, o sentimento que o leitor procura, o medo.

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Interessante vermos que mesmo após essa defasagem, ainda encontramos obras do gênero nas escolas e universidades, não raramente podemos ver contos de Poe, obras de Bram Stoker ou Oscar Wilde, Drácula e O Retrato de Dorian Gray respectivamente, sendo aplicadas no currículo da instituição. É inegável a importância dessas obras para a literatura e, felizmente, assim como o medo da humanidade muda com o tempo, a literatura também muda, precisamente como deve ser.

2.1.1 Da Gênese a Poe

Para ser possível estudar o que é proposto, primeiramente será feita uma breve retrospectiva do que é o gênero terror, para isso será necessário analisar mais do que apenas as obras de King, será preciso saber de onde vieram às inspirações e o conhecimento que o escritor possui desse gênero. Também será realizada uma analise da literatura do horror em geral, iniciando com a literatura de Edgar Alan Poe, não desconsiderando todos os mitos anteriores dos deuses e da idade das trevas aos quais serão vistos também, pois Poe será uma das bases fundamentais para o que conhecemos como literatura de horror atualmente, mas não apenas ele, veremos, H. P. Lovecraft em The Call of Cthulhu (1928), Horace Walpole em The

Castle of Otranto (1764), Mary Shelley em Frankenstein: or the Modern Prometheus (1818),

Bram Stoker em Drácula (1897), R. L. Stevenson em The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr.

Hyde (1886), entre muitos outros que fizeram a base dessa área na literatura.

Para isso, este capítulo será divido em três subcapítulos, os quais abrangerão a história da literatura em diferentes períodos. Em um primeiro momento, veremos os primórdios, os deuses, mitos e heróis que confrontavam esses temores, passando pela idade média, a inquisição, até a literatura de Edgar Alan Poe; em uma segunda instância, passaremos por aqueles que fazem a base do que conhecemos como ficção de horror depois do que Poe nos apresentou, Bram Stoker, Mary Shelley e outros, até o horror cósmico de Lovecraft; por fim, será abordada a ficção de horror atual, começando por Anne Rice, passando por alguns autores em especial e fazendo um breve comentário sobre um autor do gênero brasileiro, André Vianco, para termos uma noção do que se passou durante todos esses anos nessa área literária. É claro que não poderemos abranger todos os grandes escritores que permearam essa época, entretanto será apresentada uma visão sucinta da literatura de horror universal.

O horror vem muito antes desses escritos que conhecemos como gênese do gênero. Os romanos, os gregos, entre outros povos da antiguidade, que possuíam um sistema politeísta

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de crença, tinham os deuses como seres onipotentes, não diferentes hoje em dia, e acreditavam que através da oferta de sacrifícios, os deuses os auxiliariam na colheita e em suas tarefas diárias. Entretanto, ao mesmo tempo em que esses deuses eram uma bênção, eles também traziam o terror àquelas nações, em suas crenças, que acreditavam que se determinado deus não ficasse satisfeito com os sacrifícios, ou não fosse possível completar o que era pedido pelo sacerdote, o deus os puniria com destruição e terror. Desse modo, temos uma sociedade controlada pelo horror da destruição, e não pela benevolência de um ser supremo. Deve-se a isso o poder fantástico da psique do ser humano em crer no invisível, em reverenciar algo imaterial. Logo, é possível constatar que esses foram os primórdios do terror na história, o medo de algo incontrolável, que fazia todos se sentirem impotentes diante de tão grande poder. Uma visão interessante disso é apresentada por Melo (2007), na qual o autor mostra uma visão interessante quanto a esse tema:

Os deuses foram feitos para termos medo, pelo seu poder e pela sua influência. Uma vingança divina traz horror a um coração quente, pois o medo de ser o alvo disso condiciona a pessoa a nunca ir contra essas forças. Para ir contra elas, existem os heróis. Assim acontece com Beowulf, onde o grande herói luta contra um perigo que nenhum homem pode enfrentar; assim é com Hercules, com Teseu, com Siegrifield, com Vasco da Gama (em Os Lusíadas), entre outros. A figura do herói fará o papel de todas as pessoas que nele se enxergam, pois aquele herói será a sua representação para enfrentar algo que está alem dele.

Logo vemos o principal intuito de qualquer sociedade para sua sobrevivência, a criação do herói para salvá-los do mal que antes os ajudava e agora só traz destruição. É importante lembrar que essa idéia de herói não é muito utilizada na literatura do gênero em questão, pois, na maioria das vezes, temos um protagonista, (Zona Morta, de Stephen King, 1979) ou vários deles (A Coisa, Stephen King, 1986) que, entretanto, se vêem em uma teia de conspiração do sobrenatural para si, e tentam sobreviver, ou completar o que seja necessário para se livrar daquele mal. Temos então uma visão histórica do que é considerado terror fantástico, ou sobrenatural, onde aquilo que se enfrenta é algo fora dos conceitos aceitáveis pela ciência.

Contudo, consideremos também como horror não apenas aquilo a que não se deve acreditar cientificamente, como os deuses, mitos e histórias inventadas para assustar, e se o horror for tão real quanto essa folha de papel, como o local onde moramos ou como os livros onde são escritos essas estórias, Stephen King em seu livro Dança Macabra (2007) falará

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do real, o horror é muito mais real do que muitos levam a crer, é tudo aquilo que nos faz refletir devido a certa situação, desde se devemos ou não abrir aquela porta, até a mais intensa discussão familiar. Em sua introdução ao livro citado, King fala do horror das guerras, das ações da humanidade, de todos os filmes e livros que o influenciaram a escrever sobre o tema, além de sua primeira experiência com o horror real. O trecho que segue mostra a reação de alguém com a iminência desse horror, ocorrerá algo que o marcará instantaneamente e para o resto de sua vida, muito mais do que ele estava assistindo (A Invasão dos Discos Voadores,

Earth Vs. The Flying Saucers (1956), muito mais do que alienígenas em filmes de ficção

científica, vampiros, lobisomens e fantasmas, o horror real da humanidade, o horror de perder alguém querido, ou, para alguns, seu herói, aquilo que você presa com tanto cuidado, e que lhe é tirado de forma abrupta e assustadora, quando o real se torna tão assustador, que o maior desejo daquele que vive o fato é fugir, é não encarar algo tão perturbador com a mente sã:

O rolo não tinha soltado, o projetor tinha sido simplesmente desligado. As luzes, então, começaram a ser acesas, uma ocorrência bastante singular. Ficamos sentados, olhando para os lados, cegos como toupeiras pela claridade. O gerente se encaminhou para o meio do palco e levantou as mãos – sem nenhuma necessidade – pedindo silêncio. Em 1963, seis anos mais tarde, lembrei-me desse momento, numa tarde de quinta-feira em novembro, quando o rapaz que nos trazia e levava para a escola de carro nos disse que nosso presidente tinha sido atingido por um tiro em Dallas. (KING, 2007 p. 17)

Stephen King usa o exemplo acima para denotar a força do terror onipotente, por mais que na antiguidade a população fosse refém de tal força, sua adoração a esses seres chamados deuses era indiscutível, sacrifícios eram oferecidos a todo o momento tanto como forma de agradecimento pelas boas colheitas como também orando para que o tempo ruim cessasse. Toda essa pequena explanação quanto às religiões politeístas da antiguidade aparece para termos uma noção do quão grande é a mudança do que é considerado horror no decorrer das eras e como ela é tratada das mais diferentes formas, uma vez que o que era o terror para os povos da antiguidade não passa de lendas para a grande maioria dos povos de hoje, mesmo que a grande maioria dos povos persista com a idéia de um deus onipotente, fazendo dessa transferência de medo pelas eras um assunto de grande abrangência discursiva.

Stephen King nesse livro dará vários exemplos daquilo que o influenciou de forma imensurável para escrever sobre o sobrenatural. Entretanto, vamos voltar um pouco para antes da literatura mais uma vez, voltemos à Idade Média, ou Idade das Trevas como é referenciado, onde a igreja criou a ―santa‖ inquisição, onde aqueles que diziam possuir

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poderes sobrenaturais4, eram assassinados, por vezes de maneira sádica. Temos nessa época a criação das primeiras lendas, entre elas os vampiros, lobisomens, fantasmas, etc., as quais darão base à literatura futura. Teremos nessa época a caça às bruxas, fato que marcou a humanidade, assim como afirma Melo (2007):

Isso muda na Idade Média. Nela, a tradição oral dos povos dominados pelos cristãos incorporou-se ao imaginário local. Passou ao estado de lenda, de sobrenatural, por fugir daquilo que as leis cristãs consideravam naturais. Então foi nesse período que vieram as figuras do vampiro, do lobisomem, dos espíritos, da bruxa, do mago, dos seres imaginários que podiam acabar conosco. Isso causava medo no homem cristão, uma vez que estava diante de algo que seu deus não conseguia conceber.

Logo vemos que, apesar de terem se passado vários séculos, as tradições não mudaram tanto quanto parece, o horror ocasionado pelos deuses, e os horrores causados por esses seres sobrenaturais funcionam praticamente da mesma maneira. O que isso causa naqueles que vivenciam é o sentimento de impotência diante do fato, parece que nada pode detê-lo, e nesse momento, assim como no passado eram criados heróis, a humanidade cria a

inquisição para se livrar desse horror que a assola.

Avançando alguns séculos na história, passando da Idade Média ao século XVII, encontramos um dos primeiros escritores a adentrar nesse universo paralelo, que é o sobrenatural: Horace Walpole que, apesar de não escrever exatamente sobre esse tema, é de primordial importância para os escritores futuros. Em seu livro O Castelo de Otranto (1764), Walpole explora muito mais a ficção científica do que o horror em si. Entretanto sua influência extrapola seus escritos, sendo que a dimensão de sua influência é gigantesca, chegando a servir como modelo para grandes mestres como Edgar Alan Poe, Bram Stoker, Daphne du Maurier em The Loving Spirit (1931) e um número substancioso de outros escritores.

O Castelo de Otranto é considerado o primeiro romance da literatura gótica e nele

temos a clássica história do castelo amaldiçoado. A história narra Manfredo, príncipe do condado de Otranto, sofrendo com a maldição de gerações de sua família. No dia do casamento de seu filho, Conrado, essa maldição tem início. Seu filho é assassinado e toda uma divagação de Manfredo para a procura do culpado tem início. Nesse ínterim, serão

4

Nem sempre significava o sobrenatural em sua forma mais auto-explicativa, a inquisição era vista como um poder supremo, coordenando para manter a sociedade em igualdade de pensamento e crença, tudo que fosse retratado sem prova, ou que fosse contra os preceitos religiosos, era condenado à morte. Sua forma mais

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representados vários temas que seriam mostrados continuamente no gênero terror por grandes mestres, como o espiritismo e a casa mal assombrada; entretanto, é revelada uma grande trama recheada de personagens, onde será questionada, inclusive, a legitimidade do trono de Manfredo. O que temos então é um tema que será muito difundido nos escritos futuros: o castelo amaldiçoado, que será usado como base para diversas histórias e então haverá diversas ramificações, como casas, prédios e todo local que a imaginação do autor puder utilizar para aterrorizar os leitores. Um bom exemplo na literatura muito posterior a Walpole é o romance

de Shirley Jackson A Assombração da Casa da Colina5 (1959).

Alguns anos adiante, temos Nathan Drake (1766 – 1836), um ensaísta inglês e físico que explorou o campo do medo nas pessoas de modo grandioso. Suas obras ficaram conhecidas por seu interesse em expandir o prazer que essas leituras causavam nos leitores. Influenciado pelo escritor anteriormente citado Horace Walpole, ambientava muitas vezes suas obras em castelos, para causar a atmosfera gótica utilizada. Drake, sendo filho de um artista, utiliza as lendas locais, tão escondidas pela Inglaterra pós revolução industrial, explorando todo o conhecimento popular de que tinha conhecimento, passando pelas lendas medievais e alçando o sobrenatural a que se dedicou com mais atenção.

Chegamos então a um escritor com extrema influência na literatura do horror, Matthew Gregory Lewis, que em sua obra Monk (1795) denuncia a inquisição espanhola, e com esse livro se torna extremamente conhecido recebendo o pseudônimo de Monk Lewis. As obras de Lewis tratavam o sobrenatural de maneira mais ofensiva, e sua visão era mais visceral que o de costume. Monk Lewis detalhava cenas sangrentas e sádicas, assim como Clive Barker tratará alguns séculos depois. Além de criticar fortemente os ideais morais, religiosos e sociais da época, sua atmosfera era muito mais densa que seus antecessores, suas sombras, como é relatado no ensaio de Melo (2007), são eternas, e suas ações, violentas.

Avançamos então ao que, para a grande maioria dos estudiosos, foi o maior escritor de contos fantásticos: Edgar Alan Poe. Poe foi, e ainda é, a base concreta para grandes escritores de horror ao longo da história e suas obras servem como referência para conhecidíssimos escritores, tais como Lovecraft, Clive Barker, Anne Rice, Stephen King, e o brasileiro André Vianco, escritor de Os Sete (2000).

A influência de Poe ultrapassa todos os ramos da história como sendo o mais conhecido escritor do gênero, autor de O Poço e o Pêndulo (The Pit And The Pendulum

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(1842)‖ e O coração Delator, além do poema The Raven (O Corvo, 1845)‖ Poe mostra seu estilo próprio de escrever , estilo esse que será usado como referência.

Temos em Poe aquilo que é de maior aceitabilidade na literatura do horror, visto que sua obras tratam o sobrenatural de maneira subjetiva. Poe deixa o leitor imaginar as cenas de maneira própria, não lhe impondo nada, algo semelhante a Lovecraft, o qual deixa o ―monstro‖ sem aparecer por vezes. As obras de Poe têm um teor poderoso de impessoalidade, comprovada por sua poderosa capacidade de fazer o leitor não perceber a existência de um narrador, como se o próprio leitor estivesse vivenciando o que a história narra. Além disso, suas obras exploram algo que será muito utilizado na literatura de horror: o suspense.

2.1.2 O gênero terror em sua fase de maior reconhecimento

Podemos então fazer uma primeira divisão na literatura do horror, sendo que os autores citados acima fazem parte da história como sendo os precursores de um gênero muito difundido durante os séculos. Tais nomes são de tão grande relevância, e, caso não fossem mencionados, esta pesquisa não teria validade alguma.

Para todos os autores que vieram depois deles, a influência desses ícones da literatura foi inerente em suas vidas, e podemos arriscar dizer que se não fosse por eles, escritores pós Poe não existiriam, seriam apenas mais um em um todo.

A partir de agora iremos tratar especialmente de três obras que formaram muitos dos escritores que hoje atuam, e que, ainda hoje, possuem suas idéias imitadas e usadas das mais variantes formas. Vejamos esse trecho retirado do livro de Stephen King, Dança Macabra, para darmos uma breve introdução a respeito da influência de tais obras no gênero terror:

Os três romances que eu gostaria de discutir nesse capítulo parecem ter realmente alcançado tal imortalidade... Todos os três experimentam um certo tipo de exclusão do iluminado círculo das obras literárias inglesas reconhecidas como ―clássicos‖. Talvez por bons motivos. ―O médico e o monstro‖ foi escrito por Robert Luiz Stevenson num furor literário, em três dias. Sua esposa ficou tão aterrorizada, que ele queimou o manuscrito na lareira... e depois o reescreveu da estaca zero em outros três dias. ―Drácula‖ é um melodrama realmente palpitante, concebido no estilo do romance epistolar – uma convenção que havia dado seus últimos suspiros 20 anos antes, quando Wolkie Collins escrevera o último de seus grandes romances de mistério/suspense. Frankenstein, o mais notório dos três, foi escrito por uma garota de 19 anos e, mesmo sendo o mais bem escrito dos três, é o menos lido, e sua autora jamais escreveria novamente tão rápido, tão bem e com tanto sucesso... ou tão audaciosamente. (KING, 2007, p. 51)

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No princípio do capítulo de onde a citação acima foi retirada, King apresenta as obras que se tornaram verdadeiras lendas do gênero terror, cada qual de maneira única. Ele irá refletir acerca da grande força que essas obras tiveram no intelecto geral dos escritores que vieram após tais obras, e como elas foram usadas como referência das mais diversas maneiras. Veremos então um pouco desses três grandes escritos citados acima, Bram Stoker, R.L.Stevensen e Mary Shelley, entretanto, adicionarão mais um que será também usado como esses três em questão, Lovecraft, o qual apresentará os famosos monstros gigantes tão explorados hoje em dia.

Iniciemos então de forma cronológica. Mary Shelley (Frankenstein: or the Modern

Prometheus, 1818) utiliza a idéia da morte e ressurreição para nos trazer seu terror. Na obra, o

doutor Frankenstein está obcecado com a idéia de criar vida, e seu conhecimento abrangente em medicina faz de sua ciência realidade, sendo que ele acaba por criar um monstro a partir de partes de corpos humanos, monstro esse que ―nasce‖ a partir de uma cirurgia bem sucedida; contudo, esse monstro o assusta e acaba fugindo. O livro passará por diversas excursões e acabará na derradeira batalha entre o criador e sua criação. Mas o que nos vale nessa breve análise dessa obra prima da literatura é seu valor para os futuros escritos; a idéia de ―criar‖ vida, ou renascer dos mortos, será difundida de maneira consecutiva, e não apenas

na literatura partindo para as telas do cinema6. Mary Shelley mostrou que apesar de sua pouca

idade – possuía 19 anos quando publicou Frankenstein –, seu talento era impressionante, e nem mesmo seu anonimato da primeira edição foi capaz de apagar isso. O que não se deve, por outro lado, é criar uma visão prematura da leitura devido à pouca idade da escritora. Acerca disso, Stephen King faz uma comparação interessante ao ritmo que Mary Shelley coloca em sua obra:

O romance de Mary Shelley é um melodrama de ritmo bem lento e prolixo, seu tema desenvolvido em tacadas largas, cuidadosas e até mesmo brutas. Ele se desenvolve da maneira como um estudante brilhante, mas ingênuo, defenderia seu argumento. (KING, 2007 p. 55)

Logo, é possível dizer que a obra de Shelley é uma das precursoras do tema monstro, muito utilizada na literatura do horror. Contudo, a criatura de Shelley possui desejos ambíguos, visto que por vezes ele é extremamente humano, chegando a ajudar pessoas e

6 O diretor George Romero captou muito bem essa idéia de renascer dos mortos em seu filme The Night of the Living Dead (1968), onde, para o telespectador preocupado apenas com o entretenimento, não passa de mais um filme de terror. Porém, Romero demonstra em seus filmes, implicitamente, a situação de uma sociedade em colapso, uma sociedade à beira da destruição e que, mesmo tendo consciência disso, não tenta reverter tal situação. Ele retrata nossa própria sociedade, e como somos dependentes de tudo o que ela nos proporciona, a famosa ―política do pão e circo‖.

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salvar uma menininha; em outras vezes ele se vê como um verdadeiro monstro odiado por todos, e escorraçado aonde fosse, até o desejo de possuir uma esposa de sua raça para satisfazer seus desejos mais primários. Indiferente de preceitos, temos nessa obra uma idéia que terá importância de grande valia no futuro literário. As obras que irão usar como base as idéias de Shelley serão imensas, incontáveis poderia se dizer, entretanto o legado que essa jovem escritora deixou é inegável, e imitado de forma eficaz por poucos.

Passando então de monstros reais, físicos, para a psique monstruosa de um personagem estudado com afinco desde seu primeiro lançamento em 1886, temos O Médico e

o Monstro de Louis Stevenson (The Strange case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde). Nesse livro, o

autor nos apresenta o que a pura maldade pode fazer quando toma o controle do ser humano. Dr. Jekyll é um personagem da aristocracia local, muito respeitado por ser considerado um exemplo de bons costumes. Entretanto, devido a uma de suas experiências, descobre que pode trocar sua imagem para outra completamente diferente de si, tornando-se o execrável Mr. Hyde. Contudo, o que ele faz com esse outro eu é de grande repugnância social, pois Jekyll experimenta várias sensações e ações, que não teria coragem de fazer com o estereótipo adquirido no decorrer dos anos. Todavia, o que ele não sabe é que essa nova personalidade começa a controlá-lo aos poucos, até chegar ao ponto em que a criatura toma conta de seu criador.

Mais uma vez temos a visão de um monstro, porém, desta vez, muito diferente do ser abominável de Mary Shelley. O monstro de Stevenson tem aparência humana, mesmo que por vezes o narrador tente descrevê-lo e não consiga, podendo ser facilmente considerado um transtorno bipolar do Dr. Jekkil, conforme afirma Magalhães (2010).

Vemos aqui uma excursão de Stevenson ao retratar um monstro fora dos padrões visuais. A criação de Stevenson primeiramente é apenas ficcional, obra de um cientista envolvido em seus experimentos, entretanto esse monstro toma a forma de algo muito maior, algo poderoso que transforma totalmente o plano personagem Dr. Jekkil em duas personalidades totalmente diferentes.

Interessante ressaltar o que King (2007) comenta sobre a obra de Stevenson em comparação a Drácula de Bram Stoker:

Se Bram Stoker nos brinda com cenas ímpares de horror em seu Drácula, nos fazendo sentir como se tivéssemos levado um soco no queixo por um brutamontes, a narrativa breve e cautelosa de Stevenson é como um golpe rápido e mortal de um picador de gelo.

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Dá-se o fato da obra de Stevenson ser consideravelmente pequena, cerca de 1207

páginas, em comparação a Drácula, normalmente acerca de 4158 páginas. Entretanto o modo

com que cada um deles é escrito dá margem a ações proporcionais de modo diferente.

Voltando a obra de Stevenson, veremos que o texto do autor é muito amplo em pesquisas, apenas por motivo de exemplificaçao, temos a discussão do assassinato, ou não, de Mr. Jekkil, tema esse muito difundido, sendo tese de monografias em vários lugares.

Todavia, o que essa obra realmente vale para esse trabalho é seu caráter amplamente

imitado, tanto na literatura como no cinema – Psicose9 é um excelente exemplo –, logo

podemos dizer que O Médico e o Monstro será uma das bases para futuros escritores, e uma observação muito interessante relacionada às atitudes de Mr Hyde quanto à sociedade é feita por Anajara (2007):

Quando tomava a poção desenvolvida por ele, se transformava, numa verdadeira metamorfose em Hyde, que era totalmente oposto a Jekyll e nesta figura poderia fazer tudo que era condenável em Jekyll, desde os princípios éticos e morais até os desejos e ambições reprovados pela sociedade, família e religião.

Como obra final desses três pilares do gênero horror, veremos aquela que vem sendo a mais utilizada e readaptada lenda no decorrer do tempo, o vampirismo. Drácula (1897), de Bram Stoker, aborda uma das criaturas mais difundidas como sendo o clássico do horror, e, mesmo sabendo que Stoker não foi o primeiro a escrever sobre a lenda, poucos discordam que ela não seja a mais bem escrita e, sem dúvida, a mais estudada no universo acadêmico.

A lenda do Vampiro é tão difundida que poucos sabem de onde ela realmente surgiu; Obras atuais como Twilight, Stephenie Meyer (2005) Dead Until Dark, de Charlaine Harris (2001) e Vampire Diaries, de Lisa Jane Smith (1991) são apenas uma pequena parcela do que realmente trata a obra de Stoker, e que posteriormente seria tratada da maneira que merece por Anne Rice.

Interessante começar essa passagem por Drácula de maneira comparativa com obras atuais, pois para quem conhece a obra de Stoker, vai entender que o horror de Drácula é muito diferente do que é proposto nos temas das três obras citadas acima. Em Drácula, o que temos

7 Edição da editora EDIOURO de 1971. 8 Edição da editora Martin Claret de 2002. 9

Psicose, do diretor Alfred Hitchcock , é um marco no cinema mundial, o filme trata da história de Marion que, após dar um desfalque na empresa onde trabalhava, foge sem destino encontrando o motel onde seria assassinada pelo simpatico, Normam Bates. A relaçao que esse filme possui com a obra de Stevenson é a relaçao que Normam Bates tem com sua mãe, já morta, mudando de personalidade com opiniões que ele mesmo cria imaginando ser ordens de sua moribunda mãe.

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é a humanização do conceito de mal exterior (King, 2007, p. 61), sendo que todos os atos do conde Drácula são predestinados unicamente com vistas à maldade. Interessante também, observar como ele não coloca o Conde em todo o livro, sendo que em dado momento o Conde praticamente desaparece da obra, reaparecendo apenas algumas vezes e no clímax final, fazendo assim o leitor ter a sensação do horror que não apenas é evidenciado pelas repentinas aparições do vampiro principal, como também, pelos outros personagens que antagonizam a obra – como a preferência alimentícia de Reinfield por insetos.

Temos nessa obra o estereótipo que será utilizado por muitos no futuro, infelizmente muitas vezes de maneira errônea, para criar personagens ―vampirescos‖. Em Drácula é possível sentir toda a sensualidade que Stoker coloca na obra, criando aquele verdadeiro personagem que nos vem à mente quando pensamos num ser da noite, que sobrevive de sangue. Temos nessa obra o que se consagra como sendo a maior realizaçao sobre esse tipo de ―monstro‖ e que será referenciada diversas vezes no futuro literário do horror.

Toda essa sensualidade, a que Drácula é citado, vem da época em que foi escrita, os costumes a que eram feitos e tudo o que se acreditava ser de consenso com a sociedade da época. Vejamos o que diz Stephen King a respeito:

De certo modo, foi mais a época em que Stoker escreveu que ditou que a maldade do conde deveria vir de fora, porque muito dessa maldade personificada pelo Conde tem sua origem numa perversão sexual. Stoker revitalizou a lenda do vampiro principalmente porque escreveu um romance que palpita sensualidade. (King, 2007 p. 62)

Entre os escritores que falarão sobre vampiros após Stoker, teremos alguns que fizerem um relativo sucesso abordando esse tema. Entre eles, Anne Rice, famosa por seu vampiro Lestat e o escritor que será material de estudo nessa monografia, Stephen King, em seu romance A Hora do Vampiro (2010). O cinema também nos presenteará com diversas adaptações ―vampirescas‖ de qualidade, entre elas algumas muito famosas como M, o

vampiro de Dusseldorf, de Fritz Lang, (1931) e Nosferatu, uma sinfonia de horrores, de

Murnau (1922).

Avançando alguns anos na história, vejamos um pouco acerca de um escritor que não foi contemporâneo dos três que foram mais evidenciados até aqui, mas também serviu como base para muitos escritores desse gênero dos dias de hoje. Falemos, então, um pouco sobre Howard Phillip Lovecraft.

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poder que algumas chegavam a ser consideradas deuses. Muito disso se dá pela influência de Lord Dunsany, famoso escritor de contos fantásticos. Esses seres místicos criados por Lovecraft fizeram-no obter um termo próprio, os Cthullu Mythes, criado após a morte de Lovecraft pelo escritor August Derleth, variante de seu livro The Call of Cthulhu (1928). Essse foi o nome dado às lendas criadas por Lovecraft, e posteriormente imitadas por muitos.

O interessante de Lovecraft, e um dos principais atrativos de suas obras, é a visão conclusiva que ele tem com seu público. Lovecraft escreve sempre para assustar, tudo o que permeia a obra, a atmosfera, ambiente, clima, tem como finalidade primária levar o leitor aonde o escritor deseja. Interessante também acrescentar que, na maioria de suas narrativas, o autor trabalha com a primeira pessoa, assim como em Saco de Ossos (2006), de Stephen King, onde Lovecraft pode explorar toda a psique do personagem.

Todorov, consagrado estudioso do gênero fantástico na literatura, usa Lovecraft como exemplo de escrita que leva muito em consideraçao o ponto de vista do leitor. Ele afirma que, de acordo com diversos teóricos do gênero, Lovecraft invoca, frequentemente, o sentimento de medo e perplexidade, condições necessárias para que o gênero seja muito efetivo.

Para Lovecraft o critério do fantástico não se situa na obra a não ser na experiência particular do leitor, e essa experiência deve ser o medo. A atmosfera é o mais importante, pois o critério definitivo de autenticidade [do fantástico] não é a estrutura da intriga a não ser a criação de uma impressão específica. (...) Por tal razão, devemos julgar o conto fantástico nem tanto pelas intenções do autor e os mecanismos da intriga, a não ser em função da intensidade emocional que provoca. (...) Um conto é fantástico simplesmente se o leitor experimenta em forma profunda um sentimento de temor e terror, a presença de mundos e de potências insólitas.(TODOROV, 1981, p. 20)

Contudo, Todorov apresenta a visão de outros teóricos acerca do tema, todos eles concordando com o fato dessa literatura ter Lovecraft como ponto de referência, mas, também, apresentando seus pontos de vista. Peter Penzoldt diz que, com exceção do conto de fadas, todas as histórias sobrenaturais são histórias de terror que nos obrigam a nos perguntar se o que se toma por pura imaginação não é, depois de tudo, realidade (Todorov, 1981, p. 20). Ao mesmo tempo, pode-se considerar os argumentos de Caillois (Todorov. 1981, p. 21) onde ele teoriza que a pedra fundamental do fantástico é a impressão de estranheza irredutível, ambos os autores mostrando como a maneira de escrever de Lovecraft é referência quando se fala no gênero fantástico do terror e do horror.

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Vale lembrar que Lovecraft será um dos principais escritores que Stephen King tomou como base para seus conhecimentos acerca do tema terror. Em seu livro A Dança

Macabra King afirma que Lovecraft é o príncipe barroco das trevas das histórias de horror do

século XX (King, 2007, p. 36), momento em que King ressalta os valores artísticos de Lovecraft em suas obras, e o quanto ele foi de importância para esse ramo.

Dentre todas as lendas citadas anteriormente, nenhuma falava exatamente do que Lovecraft escrevia. Dentre todos os seres que permearam a literatura ao longo do tempo, vampiros, bruxas, lobisomens, múmias, etc., nunca foi mostrado um ser que mesmo sem sua descrição, e por vezes sem saber exatamente o que era um autor foi capaz de causar tanto medo com algo nunca visto. Alguns escritores irão explorar também isso. A assombração da casa da colina de Shirley Jackson é um bom exemplo.

Tendo em vista o que foi dito acerca de Lovecraft, é possível ter uma breve noção de como suas obras são apresentadas a nós leitores. O escritor que ficou conhecido por descrever aquilo que não pode ser retratado, algo como o monstro de R. L. Stevenson visto pelo homem que tentou descrevê-lo, e como era sua visão quanto à literatura do horror, tratando-a de forma a mostrar que o sentimento do horror é maior e mais antigo que todos os outros, fez com que seu legado permanecesse para as gerações que viriam, tornando-o mais uma referência do gênero horror.

2.1.3 O Horror moderno

Chegamos à fase em que mais foram – e ainda são – lançadas obras do gênero. Comecemos, então, por uma famosíssima escritora que explorou muito bem um campo que há tempos não recebia uma boa obra, antes extraordinariamente bem explorado por Bram Stoker: a criadora de Interview with the Vampire (1976) (Entrevista com o Vampiro), The Vampire

Lestat (1985) (O Vampiro Lestat) e The Queen of the Damned (1988) (A Rainha dos

Condenados), Anne Rice.

Nesse meio tempo em que a história da literatura de horror passou com poucos livros que alcançassem o antigo âmbito a que essa literatura um dia pertenceu, Anne Rice aparece reinventando o romance gótico de forma a incorporar a estética moderna (Melo, 2007). Seu tema primordial são os vampiros e todos os sentimentos que eles possuem, suas paixões, motivações e lutas, entretanto num molde atual atraente tanto aos leitores assíduos dessa literatura, como aos novos leitores que ainda estão em processo de formação.

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Interessante é observar como Anne Rice apresenta seu principal personagem, Lestat de Lioncourt, como um vampiro não tão maligno como Drácula. Seu personagem tem vítimas específicas; ele as estuda e as escolhe principalmente por seus modos de vida. Com relação a esse fato, Danielle de Oliveira Costa (2010), em sua tese de Mestrado em teoria da literatura, faz interessante comparação entre Lestat e o personagem fictício de Oscar Wilde, Dorian Gray, ambos relatando a situação caçador e presa em que se apresentam perante a sociedade. Vejamos o trecho a seguir, tendo em vista esta ser uma comparação livre entre os romances:

Nenhum livro ou filme de arte escapa ao gosto de Lestat, tornando-o um Dorian Gray moderno, ainda preso ao artificial, mas com um código de conduta totalmente diferente de Drácula. Lestat só mata os malfeitores, os perversos. Estes refletem sua parcela monstruosa, fazendo com que ele invariavelmente se apaixone pelas vítimas que costuma vigiar por meses, numa espécie de jogo de gato e rato, culminando com a morte destes. Dorian, de maneira similar, faz o mesmo tipo de jogo perverso com a atriz Sybil Vane antes de se apresentar a ela e manter um relacionamento de sonho, rompendo-o após mostrá-la a Lord Henry, que a ridiculariza, desencadeando o fim do relacionamento e levá-la à morte, construindo assim uma espécie de metáfora que simbolizaria o relacionamento do vampiro moderno com sua vítima, antecipando-o.

Veremos então que após as obras de Anne Rice a fazerem o grande sucesso que se tornou, seus temas serão cada vez mais utilizados pelos escritores futuros. Na realidade, são muito atuais os romances que tratam o mito vampiresco de uma maneira menos nociva do que foi tratado em seu início. Os vampiros das obras de hoje agem muito mais como humanos, exatamente como Rice tentava colocá-los em suas obras, e suas atitudes reflete ações pensadas paulatinamente. A exemplo, temos as obras de Stephenie Meyer, Crepúsculo (2005), em que os vampiros se divertem como adolescentes, ou as obras de Charlaine Harris Morto

até o anoitecer (2001), onde há a luta de um vampiro contra sua própria raça para proteger

uma personagem humana. Da mesma forma, é possível citar diversas obras da atualidade que tratam o tema vampiresco igualmente. Logo, com isso, podemos ver a dimensão da influência que principalmente Anne Rice proporcionou para o futuro desse tema.

Após essa curta excursão na história da literatura de horror, podemos dizer que muito se tem escrito sobre o sobrenatural, e sobre como ele é associado para nós, mas não seria possível terminar essa excursão sem passarmos por aquele que, para Stephen King, é o futuro da ficção de terror (Timpone, 1997, p. 123): Clive Barker.

Clive Barker explora o visceral, o grotesco, o mortal do homem, coisa que ainda é pouco explorada (Melo, 2007). Com isso, ele conseguiu angariar uma legião de fãs, que

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estavam cansados das mesmas tramas tratadas desde sempre, copiadas desde sempre. Para exemplificar isso, vejamos o que a revista Fangoria fala sobre a escrita de Barker:

O trabalho de Barker combina a prosa rica de Straub com uma imaginação que não conhece limites. Adicionemos ainda algumas alfinetadas com humor negro e uma sabedoria afiada, e teremos uma idéia dos horrores de Clive Barker. (TIMPONE, 1997, p. 124)

Com essa análise em mente, podemos ter uma breve idéia da mente desse escritor sangrento. Os textos de Barker normalmente são carregados com o erotismo capaz de causar ânsia aos olhos não acostumados com seus escritos. Tudo isso, aliado a um senso de inteligência muito apurado, tornam as obras de Clive Barker muito bem posicionadas no âmbito mundial do horror.

Talvez sua obra mais conhecida seja o livro O Coração Ligado ao Inferno, o qual foi adaptado, até o presente momento, oito vezes para os cinemas com o nome de Hellraiser, sendo que apenas em uma delas o próprio Clive Barker dirigiu o filme. Entretanto, o que atrai nessa obra é o conteúdo desenfreado com que a trama se desenvolve. Barker consegue nos transportar para seu mundo de um modo que a cada página virada, ou para quem assistiu apenas aos filmes a cada cena, o leitor/telespectador passa de um simples voyeur para um elemento/sujeito no texto.

A história de Hellraiser trata de um triângulo amoroso no qual uma mulher se vê no impasse entre seu atual marido e seu amante do passado, que agora pertence às criaturas de Barker, os Cenobitas, ―demônios‖ que quando libertados podem dar àqueles aos quais os liberaram o maior dos prazeres. Com isso, a trama de Barker se desenrola e possui um final típico de um grotesco mestre do horror moderno.

Outra obra que não poderia ficar de fora dessa passagem por Barker é sua coletânea de contos Os livros de Sangue (1990). Neles, Barker consegue ser explícito em seu ápice, e uma breve análise sobre ele diz:

O cara é mestre num gênero de horror pouquíssimo (bem) explorado pela literatura: o horror que choca, enoja, repugna. O horror que sangra. Um gênero completamente oposto ao de Stephen King, ser supremo da ficção de horror da segunda metade do século passado. Enquanto King apela à psicologia, à moral, à crítica social; Barker age como um açougueiro metódico: desmembra pedaço por pedaço da nossa sanidade e nos joga num turbilhão de sangue, tripas, e o que mais vier. (Haunted, 2007)

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Barker são carregados de falas bem estruturadas, temas maravilhosos, e histórias tão atraentes quanto à imaginação do leitor aceitar.

Antes de Barker deveríamos ter visto Stephen King, mas como será ele o ―protagonista‖ desta monografia, o capítulo seguinte será exclusivamente dele. Então, terminemos este capítulo com um exemplo de escritor de ficção de horror brasileiro, muito pouco conhecido no âmbito nacional, mesmo já tendo escrito quinze romances: André Vianco.

Vianco traz como seu principal tema o vampirismo, mas trata de muitas lendas já vistas na ficção de horror. O autor normalmente mescla o sobrenatural e o suspense. Interessante em Vianco é de onde ele tira grande parte de suas ideias. O escritor traz suas histórias de lendas de várias partes do globo, fazendo assim uma expedição a campos pouco conhecidos do intelecto comum, como seus vampiros que se locomoviam pelas árvores, lenda essa baseada nos aborígenes australianos.

E não é de se surpreender que Vianco tenha sofrido a influência de diversos escritores, como Poe, King e Lovecraft, visto que sua escrita deriva muito desses monstros da literatura do horror, e não é surpresa o fato de seu principal livro já ter vendido mais de 50.000 exemplares, e seu nome estar rodando o mundo.

É claro que essa pequena viagem pelo mundo da ficção do horror não pode abordar todos os escritores do gênero e, deste modo, muitos conhecidos dos fãs ficarão de fora desta análise, a exemplo de Peter Straub (Ghost Story), Shirley Jackson (A Assombração da casa da colina), Ira Levin (O bebê de Rosemary), Ray Douglas Bradbury (Fahrenheit 451). Afinal de contas, é realmente impossível citarmos todos nesse espaço, contudo, o que é passível de afirmação da literatura de horror é que ela sempre existiu, em melhores ou piores graus, e vem cada vez mais atraindo fãs de todas as idades, tornando assim essa área da literatura cada vez mais atrativa para pesquisas e análises. Tratemos, então, do horror em Stephen King.

2.2AS DUAS FACES DO HORROR EM PESSOA

Após essa visão geral apresentada do gênero horror ao longo da história, tratemos, então, do horror naquele que será o material principal dessa monografia, Stephen King. Nesse capítulo será aprofundado o que foi estudado no capitulo anterior, porém especificamente com relação a King, para tanto, faremos uma trajetória sobre a vida do autor, e veremos como ele coloca o horror em suas obras, quais as características que afirmam seus textos como ficção de horror e todo seu caminho em direção ao sucesso que é hoje.

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Logo, o que será mostrado neste capítulo, é um apanhado geral em certos pontos, e uma pesquisa um pouco mais intensa em outros das características do autor. Devido ao caráter teórico desta monografia, serão mostrados pequenos exemplos que evidenciam a presença do horror nos textos de King. Logo, julgo ser necessário analisar não só sua vida como escritor, mas também como filho, marido e pai, para traçarmos uma linha imaginária em uma comparação de suas obras com os grandes escritores que foram a base para as obras de King.

Para ser possível traçar essas características, primeiramente será traçada uma breve biografia do autor, pois, mesmo que se condene relacionarmos a vida pessoal do autor com suas obras, a vida de King passou por diversas turbulências e isso pode ter influenciado certas obras, em especial em seu pseudônimo Richard Bachman. Analisaremos então, em separado, autor de pseudônimo, para termos uma breve idéia da importância de cada um deles para Stephen King.

2.2.1 Stephen King além dos livros

É interessante vermos as atribuições que grande parte da população faz na comparação do autor com sua obra, e é tão interessante quanto, vermos que, na grande maioria das vezes, elas estão enganadas. Isso não é diferente com King, que não teve nenhuma experiência sobrenatural, apesar de dizer ter visto certas coisas por vezes e ter tido problemas com alcoolismo, e de rir em entrevistas que tocam nesse assunto. Contudo, o que será apresentado nessa breve biografia não é nada relacionado a isso, e sim uma passada rápida pela vida do mestre do horror moderno.

Nasce, em 21 de setembro de 1947, em Portland, estado do Maine, nos Estados Unidos, o autor que se tornaria, com seus livros, um dos mais vendidos e adaptados para o cinema de toda história, Stephen Edwin King.

Como poucos sabem, a vida de King não foi nem um pouco fácil. Logo na infância, passou por necessidades, quando seu pai abandonou a família, fazendo sua mãe passar por um período difícil entre cuidar dos filhos e de seus pais doentes em Durham, Maine. Nellie Ruth Pillsbury, mãe de King, recebia uma ajuda de seus parentes enquanto cuidava de seus pais para que sobrevivesse com King e seu irmão. Entretanto, após a morte de seus pais, Nellie teve de arranjar um emprego para sustentar seus filhos e a casa.

Em sua infância, King presenciou um terrível acidente com um de seus amigos: o garoto ficou preso na rodovia ferroviária e acabou sendo fatalmente atropelado por um trem.

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rir em entrevistas onde os entrevistadores dão ênfase a esse incidente do passado como referência a seus escritos. Ainda quando criança, King foi um leitor assíduo dos quadrinhos da

EC horror comics10, incluindo o cultuado Tales from the Crypt (publicado no inicio da década

de 50 e tem como nome principal de criação Willian M. Gaines) ao qual estimulou o prazer da leitura do horror em King. Ainda na escola, King criava histórias baseadas nos filmes que assistia e as vendia para seus colegas, venda essa desaprovada pelos professores que o forçaram a parar após um período.

King cursou o primário na escola de Durham, e o segundo grau na escola Lisbon Falls, terminando seu ensino médio no ano de 1966. Logo que começou a cursar a faculdade do Maine, Stephen começou a escrever, primeiramente para sua coluna semanal da universidade, que se intitulava ―King‘s Garbage Truck‖. Em paralelo, King participava das políticas estudantis, protestando contra a guerra do Vietnã, e se graduou em 1970, licenciado a dar aulas de inglês.

Em 1971 King casa-se com Tabitha Spruce, a qual conheceu na Fogley Library da universidade do Maine onde ambos trabalhavam. O começo de sua vida de pós-graduado não foi nada fácil, visto que King trabalhou como frentista e lavador de roupas antes de começar a dar aulas de inglês na universidade em que se graduou. Nesse período já tinha dois filhos e morava num trailer, enquanto sua esposa fazia seu doutorado. Foi um período complicado para King, entretanto, nesse meio tempo, ele escrevia contos curtos periodicamente para revistas masculinas, e isso o auxiliava no sustento da família.

Em 1973 King finalmente consegue emplacar um romance, Carrie11, e com ele pode

garantir uma vida de escritor em tempo integral. O interessante é que com o romance King conseguiu apenas U$ 2.500, o que era pouco mesmo para a época. Entretanto, posteriormente seus direitos autores renderam mais de U$ 400.000.00 com o filme, proporcionando assim que ele se torna o escritor que é hoje.

Logo após o lançamento de Carrie, a carreira do escritor decolou de vez, e nesse tempo Stephen King morou em Boulder, Colorado, onde escreveu O Iluminado. Em seguida,

voltou ao Maine em 1975 onde terminou de escrever A Dança da Morte12. Logo as obras de

10 Entertaining Comics, editora americana. 11

Carrie trata da história de uma tímida adolescente sem amigos, reprimida por uma mãe fanática religiosa instável, e constantemente sendo alvo de bullying no colégio. Entretanto Carrie possui um poder telecinético devastador que causara o terror daqueles que a maltrataram. (Carrie, 1974, Contracapa).

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A Dança da morte tem posição única no corpo de trabalho do autor, ele é seu primeiro épico... King publicou A Dança da Morte, que continha vários gêneros, e perturbou as expectativas dos fãs. A obra apresenta uma mistura de ficção cientifica, horror e fantasia, uma história contada em 823 páginas encadernadas que é tão

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