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De Wingardium Leviosa a Avada Kedavra: a evolução narrativa composta nos cartazes da saga Harry Potter através da teoria da imagem

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CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - PUBLICIDADE E

PROPAGANDA

Cezar Augusto Gasparetto Barin

DE WINGARDIUM LEVIOSA A AVADA KEDAVRA: A

EVOLUÇÃO NARRATIVA COMPOSTA NOS CARTAZES DA

SAGA HARRY POTTER ATRAVÉS DA TEORIA DA IMAGEM

Santa Maria, RS

2016

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Cezar Augusto Gasparetto Barin

DE WINGARDIUM LEVIOSA A AVADA KEDAVRA: A EVOLUÇÃO NARRATIVA COMPOSTA NOS CARTAZES DA SAGA HARRY POTTER

ATRAVÉS DA TEORIA DA IMAGEM

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS) como requisito parcial para a obtenção do título de Barachel em Publicidade e

Propaganda.

Orientador Prof. Dr. Fabiano Maggioni

Santa Maria, RS 2016

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Cezar Augusto Gasparetto Barin

DE WINGARDIUM LEVIOSA A AVADA KEDAVRA: A EVOLUÇÃO NARRATIVA COMPOSTA NOS CARTAZES DA SAGA HARRY POTTER

ATRAVÉS DA TEORIA DA IMAGEM

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS) como requisito parcial para a obtenção do título de Barachel em Publicidade e

Propaganda. Aprovado em 13 de dezembro de 2016. _______________________________ Fabiano Maggioni, Dr. (Orientador) _______________________________ Prof. Leandro Stevens

_______________________________ Prof. Tauana Weinberg Jeffman

Santa Maria, RS 2016

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AGRADECIMENTOS

Obrigado, mãe, por ter me criado da melhor maneira possível e me dado a liberdade de escolher o meu futuro. Por ter feito eu me apaixonar por livros, filmes e CDs e ter me presenteado com uma fita VHS de Harry Potter em 2002.

Obrigado, pai, por colocar um valor enorme em tudo o que eu faço. Obrigado, Carol, por me aguentar em todo e qualquer humor que eu esteja e ouvir os meus dramas sobre o TCC.

Obrigado, Mari, por me ajudar a crescer na faculdade, me acompanhar em toda essa jornada, seja em momentos bons e nos ruins.

Obrigado, Gabi, Jo, Leti e Wes, por terem feito a faculdade um lugar mais mágico e participado dos momentos maravilhosos que ela me trouxe.

Obrigado, amigos, por me ouvirem falar do TCC o tempo todo, me apoiarem e se empolgarem como eu me empolgo toda vez que esse assunto aparece.

Obrigado, J. K. Rowling, por ter criado essa saga fantástica que me ensinou muitos dos meus valores enquanto eu crescia.

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“Não tenha pena dos mortos, tenha pena dos vivos e, acima de tudo, daqueles que vivem sem amor”. J.K. Rowling – Harry Potter e as Relíquias da Morte.

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RESUMO

DE WINGARDIUM LEVIOSA A AVADA KEDAVRA: A EVOLUÇÃO NARRATIVA COMPOSTA NOS CARTAZES DA SAGA HARRY POTTER

ATRAVÉS DA TEORIA DA IMAGEM

AUTOR: CEZAR AUGUSTO GASPARETTO BARIN ORIENTADOR: FABIANO MAGGIONI

Este trabalho procura descobrir como é composta a evolução etária e personalística do personagem Harry Potter nos oito principais cartazes da saga, através da Teoria da Imagem. Elaborado em três capítulos, o estudo se aprofunda, primeiramente, na narrativa cinematográfica da jornada do herói pela obra de Vogler (2011), para entender como o personagem evoluiu nos filmes. Além disso, estuda o cartaz cinematográfico como ferramenta de comunicação, com Moles (1974) e Quintana (1995). Metodologicamente, são usados os autores Arnheim (2011), Kandinsky (1997, 2000) e Villafañe (2006) para aprofundar os estudos da Teoria da Imagem, conhecendo os aspectos mais importantes que serão encontrados nos cartazes como ponto, linha, cor, luz, forma e textura, espaço, equilíbrio, dinâmica e expressão. Após isso, o estudo analisa individualmente todos esses aspectos em cada cartaz da saga Harry Potter e procura encontrar que elementos se distinguem e demonstram a evolução narrativa do personagem Harry. Finalmente, é visto que vários aspectos da Teoria da Imagem conseguem carregar os mesmos sentimentos de crescimentos da narrativa audiovisual da saga, que inicia de maneira infantilizada e leve, sendo finalizada com um teor mais desgastado e agressivo.

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ABSTRACT

FROM WINGARDIUM LEVIOSA TO AVADA KEDAVRA: THE NARRATIVE EVOLUTION COMPOSED IN THE HARRY POTTER SERIES BY THE

IMAGE THEORY

AUTHOR: CEZAR AUGUSTO GASPARETTO BARIN ADVISOR: FABIANO MAGGIONI

This study aims to discover how the age and personality evolution of the character Harry Potter is composed in the eight main posters of the saga, based on studies from Image Theory. Developed in three chapters, the study goes deeper into the cinematic narrative of the hero's journey using Vogler's work (2011), to understand how the character evolve on the movies. Also, to study the cinematographic poster as a communication tool, with Moles (1974) and Quintana (1995). Methodologically, the authors Arnheim (2011), Kandinsky (1997, 2000) and Villafañe (2006) are used to deepen the studies of Image Theory, showing the most important aspects that will be found in posters such as dot, line, color, light, shape and texture, space, balance, dynamics and expression. After, the study analyzes individually all these aspects in each poster of the Harry Potter series and aims to find which elements distinguish and demonstrate the narrative evolution of the character Harry. Finally, it is seen that several aspects of the Image Theory can carry the same feelings of growth expressed on the audiovisual narrative of the series, which begins in a childish and light way, finishing with a more worn and aggressive content.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 - Cartazes do primeiro, quinto e último filme da franquia Harry

Potter ... 22

Figura 02 - O primeiro cartaz de cinema ... 30

Figura 03 - Capa do Blu-ray (2016) e cartaz de cinema (2002) de Harry Potter e a Câmara Secreta (2002) ... 37

Figura 04 - Cartaz da série Batman (1966) e do filme Batman Begins (2005) ... 40

Figura 05 - Logo do filme Harry Potter e a Pedra Filosofal (2011) e forma simplificada de um raio. ... 46

Figura 06 - Cartaz de Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001). ... 58

Figura 07 - Cartaz de Harry Potter e a Câmara Secreta (2002) ... 63

Figura 08 - Cartaz de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2004). ... 68

Figura 09 - Cartaz de Harry Potter e o Cálice de Fogo (2005) ... 72

Figura 10 - Cartaz de Harry Potter e a Ordem da Fênix (2007) ... 76

Figura 11 - Cartaz de Harry Potter e o Enigma do Príncipe (2009) ... 81

Figura 12 - Cartaz de Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1 (2010) ... 85

Figura 13 - Cartaz de Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 (2011) ... 88

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

1 CONHECENDO A MAGIA ... 16

1.1 HARRY POTTER, SUA EVOLUÇÃO E A JORNADA DO HERÓI ... 20

1.2 O CARTAZ DE CINEMA ... 29

2 APRENDENDO A MAGIA ... 34

2.1 APARECIUM: O PONTO E A LINHA ... 38

2.2 ACCIO COR ... 40

2.3 LUMOS: A LUZ ... 43

2.4 VERA VERTO: A FORMA E A TEXTURA ... 44

2.5 DEFODIO: O ESPAÇO ... 47

2.6 EXPECTO PATRONUM: O EQUILÍBRIO ... 49

2.7 WINGARDIUM LEVIOSA: O MOVIMENTO ... 51

2.8 LELIGIMENS: A EXPRESSÃO ... 52

3 PRATICANDO A MAGIA ... 55

3.1 HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL (2001) ... 56

3.1.1 O primeiro ano ... 58

3.2 HARRY POTTER E A CÂMARA SECRETA (2002) ... 61

3.2.1 O segundo ano ... 63

3.3 HARRY POTTER E O PRISIONEIRO DE AZKABAN (2004) ... 66

3.3.1 O terceiro ano ... 67

3.4 HARRY POTTER E O CÁLICE DE FOGO (2005) ... 70

3.4.1 O quarto ano ... 71

3.5 HARRY POTTER E A ORDEM DA FÊNIX (2007) ... 74

3.5.1 O quinto ano ... 76

3.6 HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRÍNCIPE (2009) ... 79

3.6.1 O sexto ano ... 80

3.7 HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE – PARTE 1 (2010) . 83 3.7.1 A primeira parte do fim ... 84

3.8 HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE – PARTE 2 (2011) . 86 3.8.1 Tudo acaba aqui ... 88

3.9 A PENSEIRA ... 91

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 93

REFERÊNCIAS ... 96

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INTRODUÇÃO

Ser o escolhido para destruir um anel, descobrir que é filho de Poseidon, se rebelar num mundo distópico contra o governo, viver entre facções, se apaixonar por um vampiro, descobrir que você possui a “Força”, ser um dos 9 sobreviventes de seu planeta natal e ser enviado à Terra, ser picado por uma aranha e ganhar poderes para salvar Nova Iorque, fazer parte de um experimento para encontrar a cura de uma doença mortal ou ser o único bruxo a sobreviver ao feitiço a morte parecem histórias complicadas de contar. Histórias em sua maioria oriundas da literatura, mas todas presentes no cinema, algumas precisam de duas horas de filme para serem explicadas, outras já estamparam nas salas de cinema do mundo todo oito capítulos diferentes para contar uma história só.

Toda história possui uma evolução, todos crescemos e amadurecemos em cada fase da nossa vida, contar histórias ficcionais não anula o fato de que é preciso trabalhar o amadurecimento de diversos personagens nas telas. Escrever uma história já é uma tarefa difícil, explorar motivações plausíveis e convincentes de que uma narrativa possui um “peso” e uma evolução passa por diversas mutações até chegar em seu estágio final, mas como isso é transmitido estaticamente?

As franquias cinematográficas, com suas diversas sequências demonstram o crescimento dos personagens de acordo com cada filme lançado, podemos também pensar nos seriados de televisão, em que cada temporada demonstra um estágio do crescimento (tanto físico, como mental) de seus personagens. As ações e diálogos de uma história podem explicitar todas essas mudanças, mas quando nos deparamos com o cartaz de um filme precisamos antecipadamente entender que algo está diferente.

Os cartazes foram os primeiros meios de promover um filme, é quando o filme começa a ganhar vida e é através dele que é preciso mostrar alguns aspectos de evolução de seus personagens, principalmente quando vamos assistir a uma sequência. Por isso me interessei em estudar os cartazes de cinema, além de ser uma curiosidade pessoal, consigo unir duas paixões que desenvolvo desde criança: a do cinema e da imagem gráfica, e, sendo assim,

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irei buscar e analisar que elementos gráficos estão presentes na composição dos cartazes de cinema que se relacionam com o caráter narrativo e evolutivo da história de um filme.

Uma situação que presenciei diversas vezes na minha graduação foi a dificuldade de se pensar em produtos audiovisuais que possuem o mesmo teor narrativo que suas peças gráficas, ou então campanhas com seu ponto forte ser gráfico mas pecar em um vídeo - mesmo existindo diversos casos que efetivamente conseguem, não é uma tarefa fácil. Para esta pesquisa, irei em outro tipo de plataforma, o cinema, ou mais especificadamente, as franquias cinematográficas, pois é delas que observamos que existe uma grande evolução narrativa através de suas sequências e sua linha temporal.

Delimitando o objeto do universo da pesquisa, irei, mais pontualmente, estudar o universo da franquia Harry Potter, ou seja, será desenvolvida aqui uma análise dos oito cartazes principais da saga Harry Potter, com seus filmes lançados entre 2001 e 2011 pela Warner Brothers, e como cada um deles consegue compor o que está presente em suas narrativas audiovisuais, influenciada pela jornada do herói, e como conseguem demonstrar o crescimento do personagem Harry.

Os pôsteres dos filmes são as primeiras exposições e de mais fácil acesso ao público, eles são de extrema importância para gerar um interesse inicial ao espectador de cinema, e para este trabalho, o primeiro questionamento que tive foi “como um produto audiovisual de, em média, 2 horas consegue transmitir sua narrativa em uma ‘simples’ imagem estática? Caso exista, que elementos gráficos são encontrados em sua composição para isso acontecer e de que maneira são usados?”

Essas são perguntas que não foram respondidas em uma busca por artigos e dissertações sobre o tema, apesar de encontrar diversos trabalhos de análises de cartazes de campanhas publicitárias, os estudos de cartazes cinematográficos não mostram um forte interesse acadêmico quando relacionados com a narrativa audiovisual. Porém, nessa busca encontrei trabalhos de referência para este que se propuseram analisar visualmente cartazes, mas apenas como meios de estratégia de venda no mercado cinematográfico.

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Na busca do estado da arte, alguns trabalhos ajudaram na ampliação do conhecimento e da bibliografia acerca de cartazes de cinema e sua importância. O trabalho de conclusão de curso em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, de Lucas Morais Aita (2011), “Estratégias de promoção do cinema através dos cartazes: análise dos aspectos formais de peças dos gêneros aventura, comédia e drama” analisa como aparato mercadológico os aspectos visuais dos cartazes em suas capas de DVD das videolocadoras que mais se repetem para promover seu produto, como suporte, formato, textura, cor, ponto, linha e alguns aspectos verbais.

O trabalho de Aita observou que há recursos amplamente utilizados nos diferentes gêneros dos filmes em suas capas de DVD, mas que há também alguns recursos específicos de cada que buscam persuadir os públicos mais segmentados,

Também foi encontrado o trabalho de conclusão de curso de graduação da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, escrito por Bruno Mariante Viana (2010), “Teasers – imagem que provocam: o imaginário do teaser de cartaz da saga Star Wars frente ao imaginário do público pós-moderno” que utilizou um pouco da narrativa para analisar os cartazes teasers, porém buscando considerações mais ligadas ao imaginário, na pós modernidade, no marketing cinematográfico e na publicidade.

Com o objeto aqui estudado, nenhum trabalho foi encontrado com a análise de seus cartazes, porém, existem alguns artigos que estudam a evolução narrativa do personagem Harry Potter, essa muito bem explorada pela jornada do herói, apresentada por Joseph Campbell (1949), como uma fórmula narrativa de aproximação com o público.

Um destaque fica para o artigo “Harry Potter e a jornada do herói: receita do sucesso das literaturas de massa” de Sandra Venâncio Kezen Buchaul, mestre em Cognição e Linguagem, em que o primeiro filme saga é desmembrado pela jornada do herói para mostrar o crescimento e mudanças que Harry passou. Neste trabalho, porém, buscarei explorar a jornada do herói dentro dos oito filmes da franquia, pois, apesar de encontrar dentro de

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cada filme uma “nova” jornada, já que eles possuem um teor episódico, é possível encontrar no núcleo principal da história uma jornada só.

Diante desse cenário, é explícita a importância de existir uma análise em que a narrativa e seus cartazes estejam relacionados. O mercado cinematográfico cresce cada vez mais e são poucas as informações que encontramos de maneira objetiva para entender o assunto.

Sendo assim, como problema deste trabalho quero responder a seguinte pergunta: De que forma os elementos visuais promovem a evolução etária e personalística do personagem Harry Potter nos cartazes dos filmes da franquia?

A partir dela, tenho como principal objetivo analisar como os elementos

visuais dos cartazes da franquia Harry Potter constroem a evolução etária e personalística do personagem. Para alcançar ele, elenco alguns objetivos

específicos: tomar conhecimento dos oito filmes da franquia e a desenvoltura

de seu percurso narrativo, verificar a capacidade do cartaz em sintetizar a narrativa do filme, explorar que elementos visuais são mais evidentes na construção etária/personalística do personagem, apontar a evolução etária/personalística do personagem pelos cartazes da franquia, expor a evolução do personagem pelo conjunto dos cartazes da franquia.

Como metodologia, irei analisar separadamente o principal cartaz dos oito filmes da franquia Harry Potter através da Teoria da Imagem, pois é a partir dela que consigo extrair elementos concisos e plásticos para encontrar mudanças na composição de um cartaz para o outro. Então, será desenvolvido aqui, em três principais capítulos, como acontece a narrativa dos filmes de Harry Potter, o papel de um cartaz cinematográfico, os componentes da Teoria da Imagem e a análise dos cartazes dos oito respectivos filmes.

Para falar sobre as narrativas de um filme irei utilizar Martin (2003) para explanar sobre a criação da arte de fazer cinema e como um filme é montado como uma obra. Martin (2003) explica que o cinema se tornou uma forma de apresentar diversos símbolos e significados para se comunicar com um público.

Block (2010) ajudará para entender como uma narrativa é montada tecnicamente, introduzindo os conceitos de “início, meio e fim” para um filme

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e como eles devem ser abordados. Uma base que demonstra os primeiros passos de uma narrativa mais complexa que será abordada por Vogler (2011), autor que usa a jornada do herói adaptada para um roteiro cinematográfico e que irá ajudar a desmembrar a narrativa dos oito filmes da franquia Harry Potter e comprovar que nela existe uma evolução, um crescimento tanto etário, como personalístico.

Para ajudar nesse estudo, buscarei alguns documentários feitos pela

Warner Brothers que tratam da franquia e apresentam diversos depoimentos

e entrevistas de seus diretores, produtores, roteiristas, diretores de arte, atores dos filmes e a autora da saga de livros que desenvolveu a história original, J.K. Rowling, em que comprovam propositais mudanças visuais e narrativas para explicar um crescimento evolutivo do personagem Harry Potter.

Para tratar de cartazes, o apoio teórico que irei obter será de Moles (1974), que estuda o papel do cartaz na sociedade, como ele é percebido e como a sociedade utilizou e utiliza ele através do tempo. Para trazer, de uma forma mais técnica, a montagem de um cartaz cinematográfico, Quintana (1995) irá explicar diferentes elementos que aparecem em comum e que mostram o teor comunicativo nos cartazes de filme, como o título e o modo em que o design dele é feito, os créditos e como eles devem estar coadjuvantes na composição e a imagem, que ocupa, geralmente, a maior parte do cartaz, e é onde iremos encontrar diversos elementos que mostrarão a narrativa do filme.

É através dessa imagem explicada por Quintana (1995) que irei extrair alguns recursos visuais utilizados nos cartazes de Harry Potter e analisaremos através da Teoria da Imagem, com um suporte teórico de Kandinsky (1997 e 2000), Arnheim (1980) e Villafañe (2006).

Kandinsky, sendo um artista, busca estudar elementos como cores, ponto e linha, trazendo um contexto de vetores, forças com conceitos lúdicos que será importante para o trabalho. O autor trabalha o que uma cor sozinha, acompanhada ou misturada transmite e como afeta a tensividade da imagem. Arnheim trabalha de forma mais objetiva com aspectos mais dinâmicos, como tensão e equilíbrio, elementos importantes que, como estamos tratando de narrativas cinematográficas, estarão presentes nos

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respectivos cartazes. Além disso, ele traz de forma mais psicológica como as linhas, pontos, o espaço, luz, forma e cor estão retratados nas imagens, como identificamos isso e como tudo consegue trabalhar junto.

Villafañe estuda questões de percepção da imagem que irá ser de grande valia para o trabalho, além de explorar os elementos morfológicos como cor, forma e textura.

Após um estudo teórico para contextualizar e entender o universo da pesquisa, irei entrar no mundo de Harry Potter e descobrir sua narrativa com seus pontos mais importantes e analisar visual e detalhadamente cada cartaz da franquia.

Para o resultado, irei olhar de forma conjunta todos os cartazes e perceber o que mudou e como mudou, apontando os aspectos da Teoria da Imagem que foram afetados de acordo com o decorrer da saga. Veremos, por exemplo, que a textura da logo do filme sofrerá com a ação do tempo, perderá brilho, cor, ganhará peso e agressividade.

A evolução é uma parte importante de um projeto cinematográfico, apesar de muitas vezes feita sem propósito, ela está lá, e quando bem desenvolvida, cria universos e histórias complexas de crescimento que nos fazem refletir e se aproximar do mundo ficcional dos filmes.

Deve ser de extrema importância encontrar tais valores em uma imagem estática, num cartaz promocional, pois como um futuro comunicador, observar, detalhar e entender todo o tipo de peça gráfica é muito gratificante para descobrir que toda composição existe um propósito e nada aparece graficamente por acaso.

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1 CONHECENDO A MAGIA

Desde Star Wars, em 1977, os blockbusters de sagas cinematográficas são grandes responsáveis pela popularidade das salas de cinema do mundo todo. Atualmente, essas sagas ganham cada vez mais público e espaço, melhorando o próprio mercado cinematográfico. No Brasil, o público de cinema de 2015 foi 11,1% maior que o de 2014, totalizando 172,9 milhões de espectadores e 20,1% a mais de renda gerada em bilheteria no mesmo período, sendo o cenário de maior crescimento dos últimos cinco anos (ANCINE, 2016).

O número de salas também aumentou e atingiu o seu maior número desde 1977, com mais de três mil salas no país, sendo 92% totalmente digitais, (ANCINE, 2016) o que representa um grande investimento para a qualidade dos cinemas brasileiros.

As franquias cinematográficas são tão relevantes para o mundo atual do cinema que se formos analisar a tabela das mais rentáveis, ela apresenta diversas sagas que ainda estão presentes nas telas: a Marvel Cinematic

Universe (Disney) teve seu primeiro filme lançado em 2008 e já faturou mais

de 9 bilhões de dólares, sendo o mais rentável de todas; Harry Potter (Warner Brothers) entra em segundo lugar com mais de 8 bilhões arrecadados em bilheteria no mundo todo; e Star Wars (20th Century Fox e Disney) subiu para a terceira posição após seu último filme “O Despertar da Força” (2015) (BOXOFFICEMOJO, 2016).

Todos esses fatores fazem que a indústria cinematográfica invista cada vez mais em filmes de universos complexos com oportunidades de contar diversas histórias, com efeitos especiais de ponta, roteiristas e diretores renomados e muitas vezes com atores de destaque no mundo do cinema. Filmes como “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” (2016,

Warner Brothers) e “The Avengers: os Vingadores” (2012, Disney) tiveram

seu custo maior que 200 milhões de dólares (BOXOFFICEMOJO, 2016), um número de alto risco para as produtoras que visam lucrar, no mínimo, 100% do valor gasto num filme, mas que confiam que vão atingir essa meta.

Além disso, a crítica dos filmes das sagas é quase sempre favorável, fazendo aumentar cada vez mais o público: “O Hobbit: Uma Jornada

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Inesperada” (2012, Warner Brothers) possuiu 64% de aprovação em suas 272 críticas, fator que aumentou o faturamento e abriu possibilidades de maior investimento em pós-produção e promoção para as suas sequências; “X-Men: Primeira Classe” (2011, 20th Century Fox) alcançou 87% de aceitação e, apesar de sua arrecadação ter sido apenas de 300 milhões de dólares, o estúdio acreditou em sua sequência apresentando um filme de 91% de aceitação e arrecadando 700 milhões de dólares (ROTTENTOMATOES, 2016).

Por outro lado, algumas franquias possuem críticas altamente negativas e, mesmo assim, conseguem se manter através dos fãs e recebendo investimento por serem um produto rentável, como, por exemplo, a adaptação literária “Divergente” (2014, Summit Entertainment) que teve apenas 40% de notas altas em suas avaliações, mas já possui 2 sequências – com aceitações menores que 40% - e irá finalizar a saga com uma série de televisão em 2017. (ROTTENTOMATOES, 2016)

Porém, as franquias sempre possuem um ponto de partida em que na maioria das vezes poucas pessoas detêm um conhecimento sobre elas. As produtoras precisam, além de produzir os filmes, apresentar “seu” mundo ao mundo, testar a aceitação das pessoas e se perguntar se elas se sentirão interessadas em voltar e assistir a continuação daquela narrativa ou outra história sobre o mesmo universo. A promoção dos filmes, ou podemos chamar de divulgação, é o principal e mais usado meio para isso.

A maneira mais comum para isso na atualidade é os meios sociais digitais, filmes como o do super-herói “Deadpool” (2016, 20th Century Fox) ou “Animais Fantásticos e Onde Habitam” (2016, Warner Brothers) que precisou introduzir personagens novos do Mundo Mágico de Harry Potter utilizaram o Twitter, Facebook e Instagram de maneira pesada para mostrar todo detalhe importante da trama antes de sua estreia, além de ações promocionais em premiações e shoppings centers para atrair o público.

Uma das grandes e mais famosas peças usada nos filmes para sua divulgação são os trailers, que mostram a sinopse e o tom que o filme terá, através de vídeos de 1 a 3 minutos, na maioria dos casos. Além disso, método que sempre esteve presente no cinema foram os cartazes, uma imagem estática promovendo o filme para o grande público, uma peça

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promocional considerada como “capa” do filme, que mostra ao espectador muitas características da narrativa.1

Porém, aos olhos do público, produzir um filme parece ser simples, questões técnicas - muitas vezes trabalhosas - não chegam a ser nem conhecidas por ele. Se analisarmos as mais populares categorias do

Academy Awards (Oscar), as de luz, som, edição e até mesmo roteiro estão

distantes da expectativa de descobrir a melhor atriz, melhor ator e melhor filme.

Acontece que, mesmo sendo proposital, ao assistimos um filme não percebemos que aqueles dez minutos de créditos possuem centenas de pessoas que foram necessárias para ele existir, e muitas delas pensam em cada momento do filme para que ele atinja nosso subconsciente de alguma forma e se comunique de alguma maneira.

Se visualizarmos o cinema como uma “forma mais recente da linguagem definida como ‘sistema de signos destinados à comunicação” (MARTIN, 2003, p. 17) e que, além de ser uma arte, ele “tornou-se (…) um meio de comunicação, informação e propaganda” (MARTIN, 2003, p. 16), concluímos que existe uma troca, não somos apenas passíveis aos filmes, somos atingidos em nosso emocional e despertamos os mais possíveis sentimentos. Lucas Moraes Aita (2011), afirma que:

Há um emissor transmitindo uma mensagem para um receptor, seja ela a simples representação do real, como em sua origem, ou os atuais roteiros ficcionais cheios de recursos estéticos e acústicos encantadores que ajudam a contar a história e vender o filme para o maior público possível (AITA, 2011, p. 19).

Quando falamos em recursos estéticos, listamos todos os detalhes não perceptíveis ao público, como luz, cor, ângulos, fotografia ou trilha sonora. Todos sabemos que estão lá, mas muitos não percebem como eles intensificam a comunicação entre filme e espectador. Block (2010, p. 3) afirma que os elementos visuais carregam características emocionais que

1 Um meio que não pode ser esquecido é o merchandising das franquias que ajudam muito

para o crescimento delas com seus bonecos, bonecas e todo tipo de produtos licenciados, mas para ele surgiria um estudo totalmente novo, então deixo a indicação da dissertação “Star Wars: estudo sobre uma franquia cinematográfica” de Claudio Ferraz Junior (2012) para se aprofundar neste mercado que consegue atrair tantas pessoas – e mover muito dinheiro - para as sagas cinematográficas.

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favorecem o filme e que eles estarão lá mesmo sem intenção, então quanto mais trabalhados, maior o envolvimento do público.

“Toda imagem é composta de narrativa, elementos visuais e, algumas vezes, sons. Em conjunto, esses três elementos transmitem o significado da imagem para o espectador” (BLOCK, 2010, p. 1). Dentre esses três elementos, o principal para estabelecer esta “conversa” é feito através da narrativa, a história contada pelo filme.

Com o passar dos anos, foram sendo percebidos estruturas que eram semelhantes nos filmes e que eram agradáveis ao público. Se pensarmos de forma mais técnica e básica, um filme apresenta três momentos distintos: o início, o meio e o fim, mas para entendermos melhor, podemos utilizar os termos nomeados por BLOCK (2010, p. 233): a exposição, conflito e resolução.

A exposição apresenta “os fatos necessários para começar a história. Esses fatos incluem a identidade dos personagens principais (mas não se limita a isso), sua situação na trama, a locação e a época" (BLOCK, 2010, p. 233). É a parte introdutória que não apresenta quase nenhum tipo de conflito pois, “à medida que a história se desenvolve, [ele] aumenta a intensidade" (BLOCK, 2010, p. 235).

Sendo o próprio conflito a segunda parte da história e a mais longa, é nele que é trabalhado a trama central da narrativa, podendo “ser interno ou externo. Um conflito interno envolve uma batalha emocional (...). Um conflito externo envolve uma situação física" (BLOCK, 2010, p. 235-236).

Todo o desenvolvimento do conflito da história chega ao ponto alto de um filme, o clímax, em que Block (2010, p. 236) afirma que é nele que os personagens principais “devem escolher um caminho e ganhar ou perder” e, com o término do conflito, é apresentada a resolução, que “proporciona um momento para a narrativa terminar. O público precisa de tempo para se recuperar da intensidade do clímax e refletir sobre o conflito da narrativa". (BLOCK, 2010, p. 236)

Essa estrutura básica aparece em todos os filmes das franquias cinematográficas, porém é uma estrutura narrativa simples, o envolvimento com o público acontece com o conteúdo presente nessas três etapas da narrativa. Um filme pode apresentar infinidades de possibilidades, criar

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narrativas de diversas formas e, apesar de ainda estar lá, “brinca” de diversas maneiras o modo de contar sua “exposição, conflito e resolução”. Martin (2003) escreve em seu livro “A linguagem cinematográfica” o que pode descrever os limites que um filme pode apresentar:

Não faz muito tempo, Paul Valéry descreveu muito bem o encantamento e a surpresa que lhe causava essa onipotência do cinema: ‘Sobre a tela estendida, sobre o plano sempre puro onde nem a vida nem o próprio sangue jamais deixam traços, os acontecimentos mais complexos se reproduzem quantas vezes se quiser. As ações são aceleradas ou retardadas. A ordem dos fatos é reversível. Os mortos revivem e riem (…). Vemos precisão do real revestir todos os atributos do sonho. É um sonho artificial. É também uma memória exterior, e dotada de uma perfeição mecânica’ (MARTIN, 2003, p. 20).

São as maneiras de como a narrativa é construída que podemos diferenciar os filmes, porém, até elas possuem estruturas padrões e semelhantes que fazem diversos filmes “funcionarem”. A jornada do herói, de Joseph Campbell, é uma estrutura narrativa base que pode ser encontrada nos filmes mais mitológicos e fantasiosos e seguir até em comédias românticas.

Neste trabalho, iremos nos aprofundar nessa espécie narrativa presente em diversos filmes apresentada por Campbell e, através dos oito filmes da franquia Harry Potter, elencaremos os momentos narrativos que o personagem Harry evolui e como isso é transmitido para seus cartazes promocionais.

1.1 HARRY POTTER, SUA EVOLUÇÃO E A JORNADA DO HERÓI

Harry Potter é fruto da mente da escritora Joanne Ketlin Rowling, ou apenas J.K. Rowling, que, em 1990, criou um vasto universo mágico numa estação de trem e começou a se dedicar a ele (JKROWLING, 2016). Conseguiu publicar seu primeiro livro da série apenas em 1997, após diversas editoras recusarem seu trabalho, e concluiu sua saga de sete livros em 2007.

Em uma sinopse resumida da série, Harry é um garoto que perdeu os pais e viveu com os tios até completar 11 anos de idade e descobrir que era

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um bruxo. Vai para a o mundo bruxo e descobre que ele é o único e famoso bruxo a sobreviver ao feitiço da morte quando era um bebê, esse que foi lançado por um bruxo das trevas que almejava poder e, por conta desse inesperado acontecimento, enfraquece. Harry vai para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, torna-se melhor amigo de Rony e Hermione e através de seus anos escolares, o bruxo das trevas, Voldemort, consegue se reerguer e Harry é quem precisa derrota-lo para acabar com a magia das trevas.

No cinema, Harry apareceu antes mesmo de sua história na literatura acabar, em 2001 o primeiro livro da série era introduzido no mundo cinematográfico pelos estúdios Warner Brothers. No documentário “Criando o mundo de Harry Potter: a evolução” (2011), J.K. Rowling afirma que sempre cuidou muito para que seu universo estivesse bem retratado nessa diferente mídia, uma saga que não havia acabado não poderia ser modificada e deveria ser muito fiel para não encontrar obstáculos com o que o futuro da história dos livros iria apresentar.

Foram lançados oito filmes entre os anos de 2001 e 2011, que são eles: Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001), Harry Potter e a Câmara Secreta (2002), Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2004), Harry Potter e o Cálice de Fogo (2005), Harry Potter e a Ordem da Fênix (2007), Harry Potter e o Enigma do Príncipe (2009), Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1 (2010) e Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2 (2011).

Como se trata de uma história de sete anos escolares, muitas mudanças aconteceram nos personagens e no Mundo Mágico. Se nos atentarmos em três cartazes da saga (Figura 01), do primeiro, quinto e último filme, existe notória mudança e evolução de como são representados os personagens e o mundo.

No primeiro aparece um Harry de 11 anos de idade com tudo o que há de novo em sua vida e ao seu redor, é mostrado uma situação de “sonho” em que a inocência está muito presente. Já no meio da saga, presenciamos um Harry com seus amigos num cartaz escuro e sério, um mundo completamente diferente demonstrado no início da franquia, em que eles precisam se preparar para enfrentar algo que está por vir. Em seu último

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filme, a guerra é demonstrada como principal foco narrativo, o bem versus mal, um Harry sujo e desgastado após esses sete anos no Mundo Mágico.

Figura 01 – Cartazes do primeiro, quinto e último filme da franquia Harry Potter.

Notoriamente, existe uma evolução etária na saga, os principais personagens começam com 11 anos de idade e acabam com 17 e, com isso, presenciamos uma mudança de percepção do mundo dos próprios personagens. A infantilidade do início da história se perde quando as trevas chegam para se vingar e almejar o poder ou até mesmo quando os hormônios da pré-adolescência começam a ganhar destaque.

Chris Columbus (2011), diretor do primeiro e segundo filme, afirma que o plano dos dois primeiros filmes era introduzir Harry ao Mundo Mágico e precisava ser romântico e colorido. No terceiro, é a apresentação de um Harry notoriamente mais velho, o diretor Alfonso Cuarón trouxe a obscuridade, uma seriedade para a saga, com uma história contada totalmente do ponto de vista do Harry.

Mike Newell (2011), diretor do quarto filme, já mostra que o os personagens são mortais e que consequências existem2, é o filme que trata muito da adolescência, Harry “lida com a ansiedade adolescente e o começo

2 O quarto filme da saga também é o primeiro a apresentar uma classificação indicativa

maior, de 12 anos, que antes era Livre.

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da paquera” afirma Stuart Craig (2011), desenhista de produção dos oito filmes.

A partir do quinto filme a Warner contratou um único diretor, David Yates, para o resto da franquia. Yates (2011) afirma que achou importante “começar a puxar [o psicológico dos personagens] um pouco mais em direção aos aspectos sombrios que Jo [Rowling] abordava nos livros”.

No quinto filme, segundo o roteirista Michael Goldenberg (2011), se trata de “um filme de guerra, nuvens de guerra se juntando”, é o filme que apresenta o clima de que algo grande irá acontecer no futuro, em que as trevas chegaram. Robbie Coltrane (2011), ator que interpreta Rúbeo Hagrid na saga, comenta que “os últimos quatro filmes têm mais continuidade na história, não é apenas uma série de batalhas, é uma guerra”.

O sexto filme, porém, quebra a onda séria dos filmes, apesar de um enredo adulto de aproximação da guerra, ele se mostra um tom mais cômico na maneira dos personagens de lidar com as trevas se aproximando. Chris Columbus (2011) comenta que “David Yates pega as ansiedades, a raiva, a frustação de ser adolescente” e Daniel Radcliffe (2011), ator que interpreta Harry, afirma que no sexto filme acontecem “duas mudanças para o personagem: uma de garoto para homem (...) e outra de aluno para guerreiro”.

Os últimos dois filmes são os mais atípicos dos oito, em que a história se passa fora de Hogwarts, como era de costume, com Harry, Rony e Hermione lutando para conseguir vencer a guerra. São dois filmes com poucas semelhanças dos primeiros, em que a magia é retratada de forma muito diferente.

Essa magia que, antes era tratada como algo sonhador, possuía vários minutos dos primeiros filmes para mostrar sua áurea e beleza, se tornou algo do cotidiano dos personagens, e adquirindo um aspecto mais sujo, “real”, “adulto”. A própria estrutura da escola de Hogwarts adquiriu mudanças ao passar dos anos para apresentar a evolução e o crescimento adulto da história.

Stuart Craig diz que, ao trabalhar em cada filme, precisou “literalmente escurecer a cor da escola. Nos filmes 1 e 2 ela tem uma cor de mel agradável e se tornou nos últimos três filmes muito mais escura, cinzenta e sinistra”.

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David Heyman (2011), produtor de todos os filmes da saga, diz que “a silhueta de Hogwarts se tornou mais agressiva, com muitos mais cones e pontas”.

Daniel Radcliffe (2011) no documentário “Criando o mundo de Harry Potter: a evolução”, diz que “os sete livros (...) é sobre a perda da inocência. É disso que os filmes tratam e é triste perder isso”, ou seja, demonstrando que o teor leve e divertido da saga se perde aos poucos e mostra uma história adulta de decisões e consequências.

Com isso, iniciando como um livro infantil e atingindo um ponto muito mais complexo e muito mais maduro (COLUMBUS, 2011) pode parecer ser uma história difícil de se contar e, possivelmente, difícil de entender se pensarmos que foram necessários todos esses anos para mostrar a jornada de um garoto. Porém, ela pode muito bem ser simplificada e analisada através de uma famosa estrutura que está presente em muitas histórias narrativas: a jornada do herói.

Joseph Campbell nos apresentou, em 1949, o livro “O herói de mil faces”, em que nos mostra como é composta a narrativa de muitas histórias que mudam apenas a face do seu “herói”, "todas as histórias consistem em alguns elementos estruturais comuns, encontrados universalmente em mitos, contos de fadas sonhos e filmes" (VOGLER, 2011, p. 41).

No cinema, Christopher Vogler conseguiu adaptar de maneira mais contemporânea como é aplicada essa estrutura nos roteiros no seu livro “A jornada do escritor” (2011). Iremos nos basear em Vogler para compararmos a jornada com Harry Potter, que não foge dessa composição e apresenta poucas divergências na sua narrativa, essas que são inclusive previstas pelo próprio autor.

O que pode parecer uma “fórmula” narrativa e clichê, a jornada do herói é usada para enriquecer as narrativas, é uma “tecnologia narrativa útil e empolgante, que podia ajudar diretores e produtores a eliminar grande parte dos riscos e dos gastos de desenvolver as histórias para um filme" (VOGLER, 2011, p. 44) e, com essas ferramentas, a história consegue se manifestar como dramática, divertida e psicologicamente verdadeira (VOGLER, 2011, p. 56).

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personagens possuem personalidades semelhantes, os denominados arquétipos, introduzido pelo “psicólogo suíço Carl. G. Jung (...) para designar antigos padrões de personalidade que são uma herança compartilhada por toda raça humana" (VOGLER, 2011, p. 81).

São todos os tipos de arquétipos que aparecem na história de Harry Potter: o herói, mentor, guardião do limiar, arauto, camaleão, sombra e pícaro. Não é apenas um personagem que representa cada arquétipo ao longo dos oito filmes, muitas vezes um personagem demonstra mais de um.

Vogler (2011) afirma que os arquétipos são “funções flexíveis de um personagem, e não como tipos rígidos, é possível liberar a narrativa. Isso explica como um personagem numa história pode manifestar qualidades de mais de um arquétipo". (VOGLER, 2011, p. 83). Para este trabalho, vamos nos deter em quatro arquétipos que serão necessários para a análise futura dos cartazes da saga: o do herói, do mentor, do arauto e da sombra.

O herói, personagem central da jornada, é “como uma pessoa real, não apenas um traço, mas uma combinação única de muitas qualidades e impulsos, alguns deles conflitantes” (VOGLER, 2011, p. 90). Esse arquétipo é a caracterização da identificação, podemos encontrar nele diversos traços que o torna próximo de nós, segundo Vogler (2011, p. 89), suas qualidades fazem que nos reconhecemos nele.

Sendo “a pessoa mais ativa do roteiro” (VOGLER, 2011, p. 91), o herói passa por diversos testes e mudanças durante a narrativa, ele pode começar como “uma história [de] separação da família” (VOGLER, 2011, p. 88), passar por sacrifícios (VOGLER, 2011, p. 91) e enfrentar problemas de personalidade (VOGLER, 2011, p. 95) mas sempre com uma “combinação de qualidades que é uma mistura de características universais e únicas" (VOGLER, 2011, p. 89).

O mentor são “todos aqueles personagens que ensinam e protegem os heróis e lhes dão certos dons” (VOGLER, 2011, p. 103). Geralmente representado por uma figura principal que treina o herói para aperfeiçoar seus dons e “motivar o herói a vencer o medo” (VOGLER, 2011, p. 108).

O arauto é o arquétipo da mudança, é ele que mostra ao herói ao que ele está destinado a ser e enfrentar. Vogler (2011) afirma que:

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Uma nova pessoa, condição, ou informação desequilibra de vez o herói; daí por diante, nada, nunca mais, será igual. É preciso tomar uma decisão, agir, enfrentar o conflito. Foi entregue um chamado à aventura, geralmente por um personagem que é a manifestação do arquétipo do arauto (VOGLER, 2011, p. 124).

A sombra, o antagonista da jornada, “projeta-se em personagens chamados de vilões (…) ou inimigos." (VOGLER, 2011, p. 137). Segundo Vogler (2011), ela pode ser um corpo físico e externo ao herói ou ser um sentimento reprimido do próprio personagem. A sombra geralmente é o arquétipo da jornada que precisa ser enfrentado e vencido para o herói alcançar seus objetivos.

Esses arquétipos, porém, dão base para a cronologia da narrativa da jornada. Os oito filmes da franquia Harry Potter não são exatamente continuações diretas, cada filme consegue se manter e todos eles possuem uma narrativa episódica através de cada ano escolar do Harry, com conflitos que são solucionados em cada filme, porém, existe a trama central ligada ao Harry como único sobrevivente ao feitiço da morte e Voldemort como o vilão que se reergue e está buscando ascensão do poder novamente.

Todos os filmes se relacionam com essa história de modo que faça Harry evoluir e é nesta trama central que encontramos as etapas da jornada do herói e o crescimento de Harry, pois é através dela que o herói “cresce e se transforma, fazendo [a] jornada de um modo de ser para outro" (VOGLER, 2011, p. 60)

A partir disso, são doze estágios que compõem a jornada do herói: o mundo comum; a chamada à aventura; a recusa do chamado; o encontro com o mentor; a travessia do primeiro limiar; os testes, aliados e inimigos; a aproximação da caverna oculta; a provação; a recompensa; o caminho de volta; a ressurreição e o retorno com o elixir.

O “mundo comum”, segundo Vogler (2011, p. 160) é a base do herói, sua vida corriqueira antes de descobrir seu futuro destino, é um momento importante para a jornada pois "o mundo especial de uma história só é especial se puder ser contrastado a um mundo cotidiano." (VOGLER, 2011, p. 160).

Esse mundo especial começa a aparecer no segundo estágio, “a chamada à aventura”, em que o herói descobre uma “terra desconhecida

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[que] é estranha e nos enche de medo, mas a pressão sobe, e é preciso fazer alguma coisa, enfrentar riscos, para que a vida possa continuar" (CAMPBELL apud VOGLER, 2011, p. 179).

Esse chamado, que pode vir através de uma mensagem e/ou mensageiro (VOGLER, 2011, p. 180) serve para começar a história propriamente dita, porém, "obriga o herói a examinar a busca com cuidado e, talvez, redefinir seus objetivos" (VOGLER, 2011, p. 192), sendo esse o terceiro estágio da jornada, “a recusa do chamado”. É uma etapa que o herói se questiona se vale a pena encarar o perigo mas reconhece que, apesar do medo, terá “ajuda de forças protetoras e sábias” (VOGLER, 2011, p. 201) para enfrentar seus objetivos.

Vogler (2011), afirma que, o quarto estágio, denominado de “o encontro com o mentor” serve:

(...) para [o herói] sentir-se bem preparado para tomar o rumo da 'região desconhecida' que está à espera, (...) essa preparação pode ser feita com a ajuda da figura sábia e protetora do mentor, cujos inúmeros serviços incluem proteção, orientação, experimentação, treinamento e fornecimento de dons ou presentes mágicos (VOGLER, 2011, p. 204).

É nesse estágio que o herói deve adquirir conhecimento, reconhecer seu papel no mundo especial e receber provisões, para passar ao quinto estágio, “a travessia do primeiro limiar”. Segundo Vogler (2011, p. 217), esse é a etapa que o herói se compromete de verdade, “é o equivalente do famoso 'ponto de virada' da estrutura convencional" (VOGLER, 2011, p. 218) da narrativa.

O sexto estágio, “testes, aliados e inimigos”, é o mais longo da jornada, o herói está completamente imerso no mundo especial e passa por testes, encontra aliados e rivais, questionando em quem se pode confiar, criando vínculos e “fazendo-o passar por uma série de provas e desafios, com o objetivo de prepará-lo para provações maiores que ainda virão pela frente” (VOGLER, 2011, p. 229).

Todos esses momentos servem para o sétimo estágio, “a aproximação da caverna oculta”, que, segundo Vogler, “é a hora dos preparativos finais para a provação central da aventura" (VOGLER, 2011, p. 239), quando o herói descobre mais sobre a sombra e como enfrenta-la para conseguir

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alcançar seu objetivo.

Na etapa seguinte da jornada, o herói passa pelo oitavo estágio, o da “provação”, em que ele está no estágio mais próximo de seu vilão. Campbell (apud VOGLER, 2011, p. 257) afirma que o herói irá “deparar-se com o aposento mais profundo, e se encontrar, frente a frente, com uma figura imensa, uma sombra ameaçadora, composta de todas as suas dúvidas e medos." Essa etapa da jornada é muito importante, pois, para Vogler, é o momento que “os heróis têm de morrer para poderem renascer" (VOGLER, 2011, p. 258).

E nessa morte que o herói presencia, ele entra no novo estágio, o da “recompensa”, em que reflete no seu inconsciente e recarrega suas energias para entender a situação, ganhando novos poderes ou simplesmente percebendo a maneira certa de combater a sombra, decidindo se voltará ou não para o mundo especial.

Essa decisão inicia o décimo estágio, do “caminho de volta”, em que "marca o momento em que os heróis se dedicam novamente à aventura" (VOGLER, 2011, p. 303) e que a energia da história, que poderia ter caído durante a provação, deve-se levantar novamente (VOGLER, 2011, p. 301).

Os últimos dois estágios representam o final da jornada, a “ressureição” é equivalente ao clímax de Block (2010), “a parte mais intensa de um conflito” (BLOCK, 2010, p. 236), quando o herói enfrenta sua última batalha com a morte e precisa conquistar seu objetivo (VOGLER, 2011, p. 316), sendo um dos momentos mais desafiantes para o personagem.

Nessa penúltima etapa podemos presenciar aliados ajudando a acabar com o conflito central da história e encerrando esse estágio, entrando no último, o do “retorno com o elixir”, em que é necessário restaurar “o equilíbrio da história, dando a sensação de que está completa" (VOGLER, 2011, p. 435). É o momento que a narrativa se encerra, mostra que a história acabou “com o equivalente emocional de um sinal de pontuação" (VOGLER, 2011, p. 453).

Todas essas etapas são encontradas na trama central da saga Harry Potter, de maneira que, independente de serem oito filmes episódicos, o caminho percorrido por Harry passa por cada etapa citada, em alguns momentos mais devagar e em outros mais rapidamente, mas todos esses

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estágios fazem que o personagem cresça e evolua de maneira que alguns de seus cartazes mostrem que Harry passou de uma etapa para a outra, divulgando previamente que o filme mostrará um Harry mais adulto.

1.2 O CARTAZ DE CINEMA

Produzir um filme possui um custo muito alto, até mesmo os filmes mais baratos chegam a custar seus 10 milhões de dólares, porém, fora desse custo de produção, é preciso investir para que o filme fique conhecido e seja apreciado pelo público, algumas vezes, custando ainda mais que o próprio produto audiovisual.

“Deadpool” (2016, 20th Century Fox) foi um filme de super-herói com classificação indicativa para maiores de idade que custou 58 milhões de dólares, um valor que não corre muitos riscos para um filme que corta uma boa parcela do público de cinema, mas acredita-se que sua campanha publicitária tenha custado um valor aproximado do custo do próprio filme e os resultados foram os 781 milhões de dólares mundialmente arrecadados para a franquia que já possui sequências confirmadas (BOXOFFICEMOJO, 2016).

Todo esse trabalho de marketing existe para que a hype3 de um filme

seja forte começou há dezenas de anos com a mais simples e possivelmente peça mais forte de um filme: o cartaz cinematográfico.

Apesar de existirem diversas maneiras de promover um filme, seja nas mídias digitais, nos trailers, outdoors e patrocínios de eventos televisivos, o cartaz é a imagem que resume e transforma o filme em uma “marca”. Quintana afirma que “o cartaz de cinema (…) está para seu espectador no lugar da situação cinematográfica como antecedente; que representa o filme, para falar dele, da sua essência” (1995, p. 34) e que, consequentemente, se transformou em testemunhas das histórias dos filmes (1995, p. 31).

Nas primeiras sessões de cinema da história, com os irmãos Lumière em Paris, no ano de 1895, os primeiros cartazes já estavam presentes para

3 O significado formal e traduzido para hype é uma campanha publicitária de maneira intensa

e excessiva, de forma extravagante (OXFORD DICTIONARIES, 2016), porém o termo acabou ganhando um significado informal, como uma expressão para explicar algo que está “dando o que falar”, algo que está na moda e que todo mundo está discutindo (URBAN DICTIONARY, 2016)

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promover os filmes (Figura 02). Porém, naquela época eles eram usados para promover a invenção do próprio cinema, com imagens da sala de cinema e seus espectadores assistindo uma projeção em uma grande tela, (QUINTANA, 1995, p. 20) isso acabou transformando o cartaz no “primeiro dispositivo voltado a deixar no espectador o desejo 'espontâneo' de frequentar as salas de exibição” (QUINTANA, 1995, p. 31).

Figura 02 – O primeiro cartaz de cinema.

Após isso, os cartazes nunca pararam de se transformar através da história, Abraham Moles (1974) disse que “a história de um país se traduz em seus cartazes” (p. 36), em que cada momento político, cotidiano, econômico e social passou pelo design de cartazes e que acabou, inclusive, se tornando um mecanismo social, “um modo de comunicação de massa, criado para servir de auxiliar a um sistema institucional qualquer" (MOLES, 1974, p. 46).

Se pensarmos de forma mais técnica, um cartaz promocional “se revela pela sua força de atração" (MOLES, 1974, p. 29), com uma mensagem nitidamente recortada e sempre unindo apelo a um produto. Explicando simplificadamente, o cartaz tem uma finalidade clara: “levar a mensagem ao cérebro do indivíduo” (MOLES, 1974, p. 46), é uma “unidade discursiva” (QUINTANA, 1995, p. 38) que transmite uma informação, "um instrumento

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para convencer ou para seduzir" (MOLES, 1974, p. 53), “para exprimir algo do real para o mais real" (MOLES, 1974, p. 54).

Cabe aqui destacar que, apesar de um cartaz de cinema possuir uma ligação forte e direta com o filme ao qual ele está promovendo, nenhum cartaz transmite o contexto do filme, ele comunica por si só. Moles afirma que "o cartaz constrói reflexos condicionados, slogans e estereótipos que se imprimem na cultura individual e, por isso, adquirem valor autônomo, independente de seu assunto" (MOLES, 1974, p. 27).

Existem dieversas maneiras para que a transmissão de uma mensagem de um cartaz seja efetiva, Moles afirma que um cartaz é “uma imagem em geral colorida contendo normalmente um único tema e acompanhado de um texto condutor (…) portador de um único argumento" (1974, p. 44), para o autor, existem diferentes estímulos em um cartaz na transmissão de sua ideia: o forte, estético que deve “fisgar o leitor” e um fraco com um texto argumentativo como um comentário ou observação (1974, p. 44).

E também, o cartaz carrega uma forte gama de significações (QUINTANA, 1995, p. 38), "o jogo das cores e das formas, o jogo das palavras e das imagens, o contraste e a suavidade” (MOLES, 1974, p. 55) transmitem significados de maneiras diferentes para cada indivíduo e suas distintas culturas.

Além disso, se um filme possui etapas padrões para se caracterizar como tal, o cartaz não seria diferente. Cinematograficamente, os cartazes, ou informalmente conhecido como pôsteres, possuem elementos padrões que o caracterizam como um cartaz de cinema. Quintana (1995, p. 39) nomeia esses elementos de “lexias”, conceituado como “unidades de leitura de extensão variável que constituem intuitivamente um todo” (BARTHES apud QUINTANA, 1995, p. 39), uma maneira de recortar certos elementos que podem ser analisados separadamente.

Para o autor, existem três lexias a aparecer quase sempre num cartaz cinematográfico: título, ilustração e créditos. Ele acrescenta também uma quarta lexia que é usava de forma esporádica nos cartazes, a do chamariz (QUINTANA, 1995, p. 40).

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O título do cartaz é o seu nome próprio, é o anúncio do conteúdo (QUINTANA, 1995, p. 41), é a lexia que anuncia o conteúdo do cartaz de forma de forma mais objetiva, e, quando distribuído internacionalmente, passa por adaptações e traduções por motivos comerciais, muitas vezes fugindo do seu sentido original.

Não deve ser visto como um problema, pois é uma “criação de mensagens equivalentes em códigos diferentes, (…) uma variação da mensagem” (QUINTANA, 1995, p. 43). Quintana (1995) também afirma que é no título que já presenciamos a primeira manifestação do designer gráfico4,

em que é atribuído “valores expressivos (cromáticos, formais, espaciais, metaplásticos etc.)” (QUINTANA, 1995, p. 44).

A imagem, vista como a segunda lexia chamada de “ilustração”, é o momento que representa e é “estruturada como uma narratividade” (QUINTANA, 1995, p. 59). É essa lexia que “expressa uma imagem referencial que representa, na maioria dos casos, o instante pregnante, ou seja, o instante que revela, segundo o ilustrador, a essência do acontecimento" (QUINTANA, 1995, p. 59-60), porém, não necessariamente é um instante exato do filme, mas uma ideia construída para representar um.

A ilustração também tendo um caráter narrativo, se interessa “não só no 'que', mas da mesma forma no 'como' dos acontecimentos" (QUINTANA, 1995, p. 58). A imagem é uma lexia que mais rapidamente é percebida pelo espectador. Moles afirma que “a imagem é percebida quase que imediatamente no cartaz. (…) A visão da imagem se faz totalmente clara em cerca de 1/5 de segundo” (MOLES, 1974, p 23).

Os créditos são a terceira lexia e muito valorizada quando codjuvante nos cartazes de cinema, pois é considerada apenas de forma comercial para promover nomes importantes presentes no filme. É a lexia que antecipa e faz “referência ao universo ficcional e à 'realidade' nomeando produtores,

4 "Abraham Moles concebe o designer como um 'engenheiro em comunicações', cujo projeto

de vida (...) seria o aumento da legibilidade do mundo" (QUINTANA, 1995, p. 52) e sua função "se funda numa intervenção renovadora dos parâmetros psicológicos e culturais da percepção, (…) reconhecendo a sua capacidade de gerar significados autônomos a respeito dos objetos representados e, consequentemente, fissuras na sua relação de conformidade" (QUINTANA, 1995, p. 53). Quintana conclui que "o design é o processo que leva à solução de problemas e que, a função do designer (...) é a de solucionar problemas com

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distribuidores, atores, diretores, montadores, músicos, figurinistas, roteiristas, argumentistas, cenógrafos, fotógrafos, cartazistas, etc.." (QUINTANA, 1995, p. 72). É um trabalho que deve se adequar na composição do cartaz (QUINTAVA, 1995, p. 73), e não prevalecer aos outros elementos léxicos.

Todas essas lexias possuem uma ordem de importância em sua leitura. Segundo Quintana (1995, p. 76), o título deve estar nas extremidades do cartaz, com melhores resultados em sua área superior e os créditos, sem interferir as outras lexias, na extremidade inferior. Desta maneira, Quintana mostra uma ordem de leitura que é lógica com o produto audiovisual, pois

Institui-se, (…) não só uma leitura ordenada sequencialmente que corresponderia ao começo e fim do filme, mas também dois espaços diferenciados que remetem: à representação da ficção [no título] e a realidade enunciada [nos créditos] (QUINTANA, 1995, p. 76).

Enfim, uma última lexia não muito importante, de acordo com Quintana, é a do chamariz, onde aparece na estrutura do cartaz observações apenas para aumentar o nível de estímulo aos espectadores. Diretores de grande popularidade, indicações e prêmios que o filme recebeu, frases de efeito da crítica aceitando e elogiando o filme, instigam o público para “comprar” o filme através de outros aspectos que não sejam sua narrativa. (QUINTANA, 1995, p. 65).

Todas essas lexias aparecendo em todos os cartazes de uma franquia cinematográfica, podem mostrar, através de suas diferenças, mudanças da própria narrativa da história, pois em uma franquia, que possui padrões estéticos estabelecidos para possuir uma unidade singular em todos os seus filmes, qualquer mudança evidente em seus cartazes pode demonstrar algo que também mudou dentro da narrativa do filme. Dentro dos cartazes da franquia de Harry Potter poderemos observar se essas lexias sofrem mutações em seus cartazes de acordo com o passar dos filmes.

Portanto, as lexias propostas por Quintana (1995), auxiliam muito para demonstrar o papel comunicacional e persuasivo do cartaz, além de separar em três módulos que se relacionam muito com a composição que será estudada aqui, como a lexia do título e da ilustração.

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2 APRENDENDO A MAGIA

Nossa vida é rodeada de imagens. Quase toda forma de comunicação apresenta um meio visual e na maioria das vezes um uma forma estática, com logos, símbolos e anúncios impressos.

A imagem evoluiu no mundo com a tecnologia. Se compararmos com o Mundo Mágico de Harry Potter, com suas imagens animadas em jornais e cartazes, já nos aproximamos disso com as fotos “que se mexem” (ou podemos chama-las de GIFS) que aparecem na tela de um smartphone, ou até mesmo a câmera fotográfica do iPhone que registra alguns segundos antes e depois de apertar o “click” da foto, transformando ela em algo muito maior que um só frame.

Mas nesse único frame a riqueza de detalhes já é enorme. Como vimos no capítulo anterior, um cartaz de cinema possui a tarefa de transformar uma narrativa audiovisual extensa, com tantas reviravoltas e sentimentos, numa única imagem. É um trabalho delicado para que se consiga transmitir as exatas sensações que um filme transmite.

O cartaz não apresentou grandes mudanças de acordo com o tempo. Ignorando o fato das tendências estéticas e culturais de composição de um cartaz, ele ainda possui um formato vertical que fica colocado ao lado de vários outros no hall do cinema com seus horários e classificação indicativa. Alguns cinemas investem mais colocando televisores com uma apresentação de cartazes (e muitas vezes de trailers), sendo alguns deles inclusive animados (chamados de Motion Poster ou pôster animado)5 e até perdendo seu aspecto original e se adaptando às TVs widescreen.

Apesar da tecnologia evoluir, o cartaz ainda serve e sempre servirá para comunicar. Peruzzolo (2006, p. 29) diz que o ato de comunicar necessita ser “remetida ao sistema de ações e desejos”, o que impulsiona a comunicação. Ele afirma que “a comunicação, é, minimamente, uma relação de ser a ser; de um ser que quer passar uma mensagem a outro” (PERUZZOLO, 2006, p. 30), e é nos cartazes cinematográficos que encontramos frases promocionais e imagens que tentam transmitir, de alguma forma, o desejo do espectador de conhecer o universo daquele filme.

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Sendo o filme já um produto comunicacional que transmite uma mensagem o cartaz busca dar um “gostinho” do que ele irá comunicar.

Então, como acontece o ato de receber a mensagem e despertar o interesse, ou não, quando olhamos para um cartaz? O termo “perceber” pode ser usado de forma muito adequada e profunda nesse caso. A percepção não está só ligada ao ato de ver e saber que existe uma imagem na sua frente, “é um processo biofisiológico de captação, elaboração e registro dos estímulos que sensibilizam os órgãos sensoriais” (PERUZZOLO, 2006, p. 32), ou seja, é nosso organismo respondendo de forma imediata “às energias que excitam os órgãos sensoriais” (PERUZZOLO, 2006, p. 33).

Villafañe se aprofunda ainda mais dentro do ato de perceber, além de afirmar que a percepção é uma natureza cognitiva (VILLAFAÑE, 2006, p. 79), ele mostra um processo de três fases básicas dentro do ato de perceber: a recepção, o armazenamento e o processamento. A recepção sendo o momento que sentimos em nossa retina a diferença de cores e diferentes mecanismos de uma imagem; o armazenamento como o processo de memorizar as informações da imagem; e o pensamento visual em que as etapas anteriores de percepções passadas interferem no resultado da atual percepção.

Para complementar esse processo cognitivo de perceber, Arnheim diz que a percepção é atrelada a forças existentes na imagem e que não percebemos “qualquer objeto como único ou isolado. Ver algo implica em determinar-lhe um lugar no todo: uma localização no espaço, uma posição na escala de tamanho, claridade ou distância” (ARNHEIM, 2011, p. 4).

Mas esse ato de ver uma imagem não termina na percepção, a representação é um momento importante em que colocamos mais peso dentro do que significa a percepção. A representação não nos faz apenas entender como a imagem vista é propriamente dita, mas somos estimulados e sentimos, processamos e transformamos o que percebemos em valores que significam algo em nosso organismo (PERUZZOLO, 2006, p. 34).

São fatores que nossa cultura, experiência, memória e razão interferem quando damos significado ao que percebemos (PRERUZZOLO apud CASSIRER, 2006, p. 34). O ato de representar é tão forte que já percebemos com diversas significações e pressupostos, atrelamos uma

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subjetividade interpretativa que acaba tirando a pureza da percepção (PERUZZOLO, 2006, p. 37).

Nosso trabalho aqui é ir muito além de tudo isso, é se aprofundar nos elementos que compõem uma imagem e entender o que, consciente ou inconscientemente, foi montado nos cartazes cinematográficos da saga Harry Potter para demonstrar uma evolução narrativa. Para isso, precisamos conhecer alguns pontos importantes que tornam a imagem um campo de riquezas e detalhes, mesmo em suas formas mais minimalistas e simples, através da Teoria da Imagem, e como alguns autores se relacionam com uma composição pictórica.

Villafañe (2006, p. 95) nos apresenta 13 elementos da imagem que formam um “alfabeto visual”, sendo eles de três categorias: os elementos morfológicos, compostos pelo ponto, linha, plano, textura, cor e forma; os elementos dinâmicos que são o movimento, a tensão e o ritmo; e os elementos escalares que apresentam a dimensão, formato, escala e proporção.

Dentro dos 13 elementos, os seis morfológicos são os únicos que apresentem materialidade na imagem, os outros elementos são relações que aparecem com esses seis e se mostram como nuances dentro da composição (MAGGIONI, 2015, p. 72).

Todo cartaz cinematográfico apresenta esses elementos, alguns de forma mais intensa e chamativa que outros, como, por exemplo, se compararmos a capa do blu-ray de Harry Potter e a Câmara Secreta lançado em 2016 com seu pôster original de cinema de 2002 (Figura 03), vemos que no blu-ray, existe um grande destaque na formas e linhas da imagem, diferentemente do cartaz de cinema, em que a cor, luz e espaço são intensamente presentes.

Ter um elemento da Teoria da Imagem não exclui o outro, mas a maneira que percebemos a intensidade de um em relação a outro cria uma hierarquia, uma composição visual que transforma a imagem no todo que ela é. A natureza não exclui os elementos, não olhamos para uma árvore apenas em sua forma sem associar ela a um fundo, uma tridimensionalidade e suas cores. Villafañe diz exatamente isso quando escreve que:

Referências

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