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Ladrilhos do corpo: metáforas de empoderamento nos processos de dança do grupo poder grisalho

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE DANÇA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DANÇA

EMANOEL MAGALHÃES COSTA

LADRILHOS DO CORPO

: METÁFORAS DE EMPODERAMENTO NOS

PROCESSOS DE DANÇA DO GRUPO PODER GRISALHO

Salvador

2019

(2)

EMANOEL MAGALHÃES COSTA

LADRILHOS DO CORPO

: METÁFORAS DE EMPODERAMENTO NOS

PROCESSOS DE DANÇA DO GRUPO PODER GRISALHO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Dança, Escola de Dança, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Dança.

Orientadora: Profa. Dra. Lenira Peral Rengel

Salvador

2019

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Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Universitário de Bibliotecas (SIBI/UFBA), com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Costa, Emanoel Magalhães

Ladrilhos do corpo: metáforas de empoderamento nos processos de dança do

Grupo Poder Grisalho / Emanoel Magalhães Costa. – 2019.

134 f. : il.

Orientadora: Lenira Peral Rengel.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Escola de Dança, 2019. 1. Dança com idosas. 2. Grupo Poder Grisalho. 3. Envelhecimento. 4. Metáforas de empoderamento. I. Rengel, Lenira Peral. II. Universidade Federal da Bahia. III. Título.

(4)

EMANOEL MAGALHÃES COSTA

LADRILHOS DO CORPO

:

METÁFORAS DE EMPODERAMENTO NOS PROCESSOS DE DANÇA DO

GRUPO PODER GRISALHO

Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Dança, da Escola de Dança, da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Dança.

Aprovada em 06 de maio de 2019.

Banca examinadora

Lenira Peral Rengel – Orientadora ________________________________________ Doutora em Comunicação e Semiótica – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Rita Ferreira de Aquino ________________________________________________ Doutora em Artes Cênicas – Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Kathya Maria Ayres de Godoy ___________________________________________ Doutora em Educação – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (UNESP)

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Dedico este trabalho a minha mãe, minha segunda mãe, minha tia e a minha avó, respectivamente:

Jusêmia Magalhães Costa,

Maria de Lourdes Magalhães Costa Pinto,

Maria José Magalhães Silva,

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AGRADECIMENTOS

Quero aqui aquecer o coração dos que corponectados estiveram comigo nestas minhas andanças, ladrilhos e construção dos caminhos desta pesquisa.

Agradecer a esta grande mulher de olhos azuis que me acolheu como aluno ainda na Escola de Dança, incentivando-me à partilha de saberes com idosos e que até o presente momento, possibilitou-me conhecer, cuidar e promover as transformações na vida das pessoas que passam por mim, meu afetuoso carinho, à Dra. Maria de Lourdes Magalhães Costa Pinto. Agradecer a todas essas senhoras, idosas, empoderadas e emancipadas que fazem parte da grande família do Grupo Poder Grisalho (GPG), muito amor com vocês. Imensurável dizer o quanto mutuamente nos nutrimos. Envelheço e rejuvenesço com todo o primor e trocas de sabedorias construídas e compartilhadas, minha gratidão sempre.

Agradecer à família representada hoje pelos meus irmãos Marcelo Magalhães e Bráulio Junior, AMORES DA VIDA. Nelsiane e Nelsimara Magalhães, primas que amo. Agradeço infinitamente ao meu querido Rafael Tavares que sempre esteve ao meu lado em todos os momentos de compreensão, amor e apoio incondicional. Agradeço à minha orientadora, Profa. Dra. Lenira Peral Rengel, por acreditar em mim desde a Especialização em Estudos Contemporâneos em Dança (PPGDança/UFBA), pela parceria, pela paciência, pelas trocas de conhecimentos, pelos incentivos, pelas danças, pelas comidas feitas pelo Sebastião Maria (Tião) e mútuos cuidados em nossas conversas, aconselhamentos, alegrias e momentos delicados, pelos ensinamentos e pela sensível perspicácia como professora e amiga frente às questões da vida. Meu muito obrigado!

Agradeço ao meu irmão e querido amigo da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Professor Doutorando Jonas Karlos pelo incentivo quase que diário. Você faz parte desta conquista. Agradeço à Direção da Faculdade Social da Bahia (FSBA), hoje, Centro Universitário Social da Bahia (Professora Dra. Rita Margareth) e ao Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão (que na antiga gestão foi coordenado pelo Professor Celso Jr. e atualmente tem como coordenadora a Professora Dra. Leticia Castro). Natali Nunes e Aniele Carqueja, por terem apoiado durante tantos anos o projeto desenvolvido junto a esta instituição de ensino superior com as idosas do Grupo Poder Grisalho.

Um agradecimento especial aos meus alunos, professores, em especial à Elaine Lima, Barbara Christ, Marcela Alves, Girleide Marcia, Narla Conceição e funcionários da Escola Municipal Amauri Siqueira Montalvão, Diretora Thânia, pelo apoio em todas as etapas do meu curso, compreendendo a necessidade do meu afastamento para capacitação profissional e conclusão desta produção acadêmica.

Aos amigos Lázaro Ferreira, Jasson Leite, Noel Vasconcelos, Everton (Tom Moreno), Rivas Gomes, Leonardo Santos, Iane Garcia, Aline Lucena, por serem meus e minhas companhias no período em que escrevia este documento. À amiga Profa. Ms. Mônica Coutinho pelas dicas e por compartilhar comigo a sua sabedoria todas às vezes que eu necessitava.

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Às professoras e ao Programa de Pós-Graduação em Dança - PPGDança e a minha turma de Mestrado (2017), pelos sonhos que trilhamos juntos.

Agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) pelo fomento com bolsa de estudos, fundamental para o desenvolvimento da minha pesquisa. Por fim, agradeço a todos os familiares das idosas do GPG pela confiança e credibilidade durante todos estes anos na partilha com mães, avós e bisavós. A todo este grande coletivo que conjuntamente contribuiu para a conclusão da pesquisa como pulsão de vida viva para mulheres idosas que dançam. Mulheres estas que são empoderadas, emancipadas, que representam a vicissitude como formas de existirem e resistirem nesta sociedade e no mundo.

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COSTA, Emanoel Magalhães. Ladrilhos do corpo: metáforas de empoderamento nos processos de Dança do Grupo Poder Grisalho. 2019. Orientadora: Lenira Peral Rengel. 134 f. il. Dissertação (Mestrado em Dança) – Escola de Dança, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2019.

RESUMO

A dissertação “Ladrilhos do corpo: metáforas de empoderamento nos processos de Dança do Grupo Poder Grisalho” (GPG) busca como objetivo geral identificar e refletir sobre o uso de metáforas nos processos artístico-educativos com as idosas que pertencem ao GPG, com a proposta de indicar possíveis ações de empoderamento, que contribuam com o processo de reconhecimento do envelhecer, em modo de maior aceitação e orgulho de si, reconhecimento do saber acumulado e do muito a aprender e a viver. Busca-se explanar, discutir e analisar, junto a arcabouços teóricos, ações de empoderamento de forma compartilhada com as idosas e suas experiências em sala de aula e com a compreensão da dança como ação cognitiva do corpo. Versa também acerca das possibilidades da expressão do corpo que envelhece, de suas configurações na dança, suas mudanças, transformações, vínculos e conquistas. A pesquisa de natureza qualitativa consiste em um estudo desenvolvido sob a forma de uma pesquisa-ação (THIOLLENT, 2011). Nas ações de ensino/aprendizagem, os procedimentos metodológicos se dão com práticas de grupo que incentivam o fazer em (com)partilhamento, com elaboração de produções em dança, por meio de noções de Cinesiologia, jogos de improvisação e jogos de linguagem verbal que utilizam metáforas de empoderamento. A expectativa era que esta pesquisa constituísse como procedimentos metodológicos por meio de ações pedagógicas que versem sobre a arte da dança no processo do envelhecer, possibilitado, emancipado e empoderado destas senhoras. Este estudo apresenta contribuição significativa com ações de ensino/aprendizagem na experiência artística para idosas. Para tanto, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com análise e reflexão dos dados que são parte dos resultados desta pesquisa. Os principais referenciais são Rengel (2007) com a proposição de procedimento metafórico do corpo como um processo cognitivo; Nunes (2014) que explicita as interações em grupo e a transformação pessoal e do coletivo e Rancière (2002) que propõe uma abordagem educacional para os processos dialógicos baseados na igualdade das inteligências e sua desierarquização. Foi possível, no tanger desta pesquisa, identificar, a partir da análise das entrevistas, questões e possibilidades de reflexão sobre aspectos referentes ao uso de metáforas de empoderamento e a emancipação do GPG, relacionados aos processos de dança como construção de um autorreconhecer do seu processo de envelhecimento. Coinfluências puderam ser identificadas em todas as dimensões na vida destas senhoras, bem como no sentimento de serem capazes de alcançar novos desafios para e que assim possam compartilhar as experiências e conhecimentos com elas mesmas e com outras senhoras fora do grupo. Sendo assim, este estudo aponta (i)limitações, poéticas de (re)existir e perspectivas enfrentadas por estas idosas indicando relevâncias sociais, acadêmicas, a fim de contribuir na continuidade de futuros aprofundamentos que abordem ações de arte e da dança desenvolvidas com grupo de idosas.

Palavras-chave: Dança com idosas. Grupo Poder Grisalho. Envelhecimento. Metáforas de empoderamento.

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COSTA, Emanoel Magalhães. Body tiles: empowering metaphors in the Grupo Poder Grisalho dance processes. 2019. Thesis advisor: Lenira Peral Rengel. 134 s. ill. Dissertation (Master in Dance) – Escola de Dança, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2019.

ABSTRACT

The dissertation “Body Tiles: empowering metaphors in the Grupo Poder Grisalho dance processes” (GPG) aims to identity and reflect on the use of metaphors in the educational artistic processes with eldery women who belong to this group. It approaches to indicate possible empowerment actions which contribute to the process of recognition of aging leading to greater self acceptance and self pride. It also involves recognition of eging knowlegde, learnig and living. Using theorical frameworks helped to explain, discuss and analise empowerment actions in a shared way with these eldery women and their dance classes experiences. It also helped to explore their understanding of dance as a cognitive action of the body, body languages, configurations in dance, changes, transformations, connections and achievements. The qualitative research study consists of a developed study in way of a research action (THIOLLENT, 2011). In teaching/learnig actions, the methodological procedures present as group practices that encourage doing and sharing productions in dance through the notions of Kinesiology, improvisation and verbal language games using empowering metaphors. This reseach seeks its constituition as methodological procedures by means of pedagogical actions which deal with the art of dance in the aging, empowered, emancipated processes of these ladies. This study also presents relevant meaninful contributions on teaching/learning actions for them. Semi-structered interviews were conducted, analysed and used as part of the results of this research. The main references are Rengel (2007) on the proposition of the metaphorical procedure of the body as a cognitive process, Nunes (2014) who explains the group interactions, the personal and collective transformation, and Rancière (2002) who proposes an educational approach to the dialogic processes that are based on the equality of the intelligences and their elimination of hierarchy. Through the analysis of the interwiews it was possible to identify questions and possibilities for reflection both related to the use of empowering metaphors and the emancipation of the GPG and related to the dance processes as building a self-recognition of their aging process. Co-influences can be identified in all dimensions of life and the lives of these ladies, as well as the feeling of being able to reach new challenges so that they can share their knowledge and experiences to themselves as well as to other ladies outside of their group. Thus, this study points limitations but also possibilities for further and deeper researches, poetic existences and resistances, and perspectives that can be faced by these elderly women. Social and academic relevances play an important role in contributing to the continuity of further studies that adress art and actions of dance developed with a group of eldery women.

Keywords: Dance with the elderlry women. Grupo Poder Grisalho. Aging. Empowerment metaphors.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Grupo Poder Grisalho em atividade externa coletiva: Ilha de Itaparica 19 Figura 2 - Maria de Lourdes Magalhães Costa Pinto, fundadora do GPG, em festa

de Carnaval na Associação dos Funcionários Públicos do Estado da Bahia, 2009 21

Figura 3 - Maria de Lourdes Magalhães Costa Pinto, fundadora do GPG, Espetáculo

O Mágico de NÓS, 2018 21

Figura 4 - Logomarca do GPG 58

Figura 5 - Experimento Grupo Poder Grisalho, Escola de Dança (UFBA), 2017 61 Figura 6 - Experimento Grupo Poder Grisalho, Escola de Dança (UFBA), 2017 62 Figura 7 - Experimento Grupo Poder Grisalho, Escola de Dança (UFBA), 2017 62 Figura 8 -Oficina de Capoeira com alunos do Curso de Educação Física (FSBA), 2018 ...65

Figura 9 - Oficina de condicionamento físico (FSBA), 2018 65

Figura 10 - Rede de colaborações e diálogos: Grupo Poder Grisalho, Faculdade

Social da Bahia, 2017 67

Figura 11 - Ensaio do concurso Vovó Simpatia no Teatro do Instituto Social da Bahia

(ISBA), 2015. 68

Figura 12 - Projeto Diálogos: ações de empoderamento, Sistema Único de Saúde

(SUS), dança com idosas e políticas em trânsito 69

Figura 13 - Projeto Diálogos: ações de empoderamento, Sistema Único de Saúde

(SUS), dança com idosas e políticas em trânsito 70

Figura 14 -Atividade externa: alunos do curso de Psicologia (FSBA) - Passeio e Visit(AÇÃO) no Palacete das Artes, 2018 ...71

Figura 15 - Atividade externa: alunos do curso de Psicologia (FSBA) - Passeio e

Visit(AÇÃO) no Palacete das Artes, 2018 72

Figura 16 - Projeto Diálogos: ações de empoderamento, Sistema Único de Saúde

(SUS), dança com idosas e políticas em trânsito 73

Figura 17 - Flyer do espetáculo O Mágico de NÓS, 2018 74

Figura 18 - Espetáculo O Mágico de NÓS, 2018 81

Figura 19 - Coreografia: Espantalhas, O Mágico de NÓS, Teatro ISBA, 2018 83 Figura 20 - Coreografia: Mulheres de lata, O Mágico de NÓS, Teatro ISBA, 2018 84 Figura 21 - Coreografia: Leoas corajosas, O Mágico de NÓS, Teatro ISBA, 2018 85 Figura 22 - Cena: A procura de nós, O Mágico de NÓS, Teatro ISBA, 2018 86 Figura 23 - Cena: O encontro com a bruxa Glenda, O Mágico de NÓS, Teatro ISBA,

2018 87

Figura 24 - Nuvem da categoria Metáfora - Relacionadas às questões 1, 2, 3 e 5 89 Figura 25 - Nuvem da categoria Memória, Conhecimento, Dança e

Ensino/Aprendizagem - Relacionadas às questões 4 e 6 94 Figura 26 - Nuvem da categoria Empoderamento - Relacionada à questão 7...102

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LISTA DE TABELAS

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CAIC Centros de Atenção Integral à Criança

CNS Conselho Nacional de Saúde

FAPESB Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia

GPG Grupo Poder Grisalho

HCT Hospital de Custódia e Tratamento

HUPES Hospital Universitário Professor Edgard Santos ISBA Instituto Social da Bahia

LBV Legião da Boa Vontade

MIF Medida de Independência Funcional

OMS Organização Mundial de Saúde

ONGs Organizações Não Governamentais

ONU União das Nações Unidas

PPGDANÇA Programa de Pós-Graduação em Dança

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UFBA Universidade Federal da Bahia

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 14

CAPÍTULO I - REDES METODOLÓGICAS 19

1.1 O GRUPO PODER GRISALHO 19

1.2 LADRILHAR METODOLÓGICO 24

1.2.1 Tipo de estudo 25

1.2.2 Caminhos possíveis, campo e cenário da pesquisa, questões éticas 26

1.2.3 Análise do discurso e análise dos dados 29

CAPÍTULO II - ENVELHECENDO E O (EN)VELHO SER: UM PROCESSO NO

TEMPO 34

2.1 CONTEXTUALIZANDO O ENVELHECIMENTO 34

2.2 CONCEITO - IDOSO-IDOSA 38

2.3 ENVELHECER: UM PROCESSO EMANCIPATÓRIO DE FUTURO 45 CAPÍTULO 3 - METÁFORAS DE EMPODERAMENTO – PROCESSOS DE

ENSINO/APRENDIZAGEM 52

3.1 DANÇA COMO AÇÃO COGNITIVA DO CORPO – CORPONECTIVIDADE 52

3.1.1 Cognição 52

3.2 PROCEDIMENTO METAFÓRICO DO CORPO 53

3.3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS, PESQUISA-AÇÃO E A DE COLETA DE DADOS

55

3.4 AS AÇÕES DE DANÇA E OS PROCESSOS DE ENSINO/APRENDIZAGEM EM

GRUPO 57

3.5 AS METÁFORAS DE EMPODERAMENTO PARA A CONSTRUÇÃO DE UM

ESPETÁCULO DE DANÇA DO GPG 87

3.6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 88

CONSIDERAÇÕES: PULSÕES DE VIDA 108

REFERÊNCIAS 114

APÊNDICE A - Projeto Teatro Médico Didático: dialogando com o corpo, a arte

e a educação na terceira idade 119

APÊNDICE B - Fluxograma da busca de bases e dados e seleção e avaliação de

estudos 126

APÊNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido - TCLE 127 APÊNDICE D - Termo de autorização para uso de vídeo e/ou fotografia e/ou

textos 130

APÊNDICE E - Entrevista semiestruturada 133

(14)

INTRODUÇÃO

Nesta dissertação é apresentada uma relação que enovela a dança e os seus processos de ensino/aprendizagem por meio do uso de metáforas em um grupo, de pessoas idosas que dançam, intitulado Grupo Poder Grisalho (GPG). Minhas experiências com a dança e com idosas iniciaram-se há muito tempo e acompanharam minha infância em São Félix, no Recôncavo baiano. Aquele tempo foi vivido em um universo cultural religioso, familiar, eminentemente patriarcal, sendo que o matriarcado, por vezes, se manifestava de modo velado. As relações com o dançar se deram ao longo do meu desenvolvimento com os ditos “mais velhos” da cidade, nas festividades de Cachoeira e São Félix, “nas casas dos outros” e em especial com as danças de minha avó, Noêmia Reina, mulher, negra, analfabeta e cega. Seus movimentos são presentes em mim, na minha vida e nas aulas de dança que ministro. Movimentos das danças que entendo como heranças das festas de caboclos do terreiro de Pai Manuel, dos sambas de roda e dos ritos de passagem das festas em família. Um legado cultural do qual felizmente sou herdeiro e ao qual agrego os caminhos e andanças que permeiam a minha infância, adolescência e boa parte do andamento de ser adulto. Aprendi e apreendi os ensinamentos de minha avó e de outras mulheres que contribuíram para as minhas vivências e desenvolvimentos com a dança.

Atualmente, compartilho esses e outros conhecimentos com outras senhoras. No GPG sou professor – em Dança1 (UFBA) – e desenvolvo, há 14 anos, ações de

dança que buscam contribuir para transformações de paradigmas acerca do processo do envelhecimento. Essas ações visam a apontar questões que emergem das práticas em grupo. Assim, um dos objetivos também é o de incentivar o fazer em colaboração e (com)partilhamento, com elaboração de produções em dança, permitindo deflagrar potências de e para o corpo idoso. Nesta pesquisa, busco manter a consonância com as abordagens que as idosas realizam nos seus compartilhamentos, vivências e experiências em grupo. Por todos esses anos, as ações de ensino, extensão e pesquisa com o Grupo tratam de elaborar e contribuir para o estudo de práticas, seus processos em dança e seus desdobramentos

1 Licenciado em Dança (Escola de Dança - UFBA), Especialista em Estudos Contemporâneos em

Dança (Programa de Pós-Graduação em Dança - UFBA), Bacharel em Fisioterapia (Faculdade Social da Bahia - FSBA), Especialista em Reabilitação Neurofuncional (Núcleo de Pós-Graduação e

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artísticos, que colaboram com uma perspectiva artístico-educacional de emancipação e empoderamento.

No último ano do Curso de Licenciatura em Dança, 2005, fui convidado pela professora, Médica Gerontóloga e Psiquiatra Dra. Maria de Lourdes Magalhães Costa Pinto para desenvolver dois trabalhos ministrando aulas de dança. Um no Hospital de Custódia e Tratamento - HCT, administrado pela Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos. Para o referido hospital são encaminhados presos que têm doença mental e que são considerados inimputáveis2. O outro trabalho era com um

grupo de idosas, intitulado Grupo Poder Grisalho, que vem sendo desenvolvido desde o período que finalizei o curso de Licenciatura em Dança (2006), perpassando o curso de Bacharel em Fisioterapia pela Faculdade Social da Bahia - FSBA e que se mantém atualmente.

O propósito desta pesquisa tomou forma a partir das inquietações que se tornaram presentes durante boa parte do curso de Especialização em Estudos Contemporâneos em Dança (UFBA) e nas reflexões feitas após cada abordagem promovida pelas disciplinas do curso, em leituras e experimentos feitos dentro e fora da sala de aula. Junto às aulas por mim ministradas ao GPG, bem-vindas tensões se agruparam para que eu pudesse criar, refletir e analisar processos de ensino/aprendizagem continuado para idosas, fazendo atenção a seus hábitos cognitivos e suas possíveis modificações como o processo de envelhecimento, da velhice e metáforas de emancipação e empoderamento, como já apontado. Desse modo, a questão que nucleia a pesquisa trata de se conectar com as possibilidades de empoderamento por meio do uso de metáforas. O uso de metáforas nos processos de ensino/aprendizagem enfatiza e colabora para um reconhecimento e autorreconhecimento do saber acumulado, da reflexão do que seja um processo de envelhecimento, de maior aceitação, orgulho e do muito a aprender e a viver.

Pretendi com a pesquisa, identificar e refletir sobre o uso de metáforas nos processos artístico-educativos com as idosas que pertencem ao GPG, com a proposta de indicar possíveis ações de empoderamento que contribuam com o processo de reconhecimento do envelhecer.

A pesquisa de natureza qualitativa foi desenvolvida sob a forma de uma

2 A atuação no HCT como professor de dança, teve duração de 2 anos, iniciado no ano de 2005,

enquanto estágio supervisionado pela professora Maria de Lourdes e durou até o ano de 2007 quando se findou por mudança da gestão pública e subsequente mudança de diretoria.

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pesquisa-ação (THIOLLENT, 2011) definida a partir das relações entre pesquisadores e as idosas envolvidas na situação investigada caracterizada pelo engajamento e participação. Os procedimentos metodológicos se deram com práticas de grupo que incentivaram o fazer em colaboração e (com)partilhamento. Houve elaboração de produções em dança, com noções básicas (nos sentidos de fundamentos) de Anatomia, aulas que envolveram dinâmicas com noções de espaço, tempo e direções, atividades externas na praia, nos parques e shoppings da cidade, com caráter intervencional. Fizemos passeios com atividades de dança e de lazer e outras ações lúdicas, no intento de favorecer o bem-estar e emancipação, inclusive nos seus convívios sociais. Entrevistas semiestruturadas3, foram realizadas

por mim durante a realização da pesquisa e com as quais tornaram-se importantes para posterior discussão e reflexão dos processos das aulas, ensaios e passeios externos ao ambiente. Os referenciais no aspecto da cognição são Rengel (2007) com a proposição de procedimento metafórico do corpo como um processo cognitivo e Nunes (2014) que ressalta as relações que são desenvolvidas em grupo e nas transformações pessoais de cada uma das integrantes e no coletivo. Rancière (2002) propõe em sua abordagem educacional a fundamentação para os processos pedagógicos dialógicos, baseados na igualdade das inteligências e disserta a respeito da desierarquização do conhecimento na relação entre mestre e aluno em ações que rompam com a inteligência única e em que todas as inteligências sejam iguais e importantes como transformadoras sociais.

Ao longo dos anos, a intenção foi a de contribuir também para a vida de idosas que dançam e que vivem a experiência artística da arte, no caso a Dança, na maturidade. Importante evidenciar as possibilidades da expressão do corpo emancipado, das configurações do corpo maduro na dança, suas mudanças, transformações, compartilhamentos, entrecruzamentos e conquistas, a partir da experimentação do fazer e do fruir artístico que corroboram para os entendimentos do próprio corpo, ou seja, da Dança.

No primeiro capítulo, apresento o grupo de idosas intitulado Grupo Poder Grisalho, as ações em dança e os processos de ensino/aprendizagem com uso de metáforas. Trato do que denomino de ladrilhar metodológico, o tipo de estudo, os caminhos possíveis, o cenário da pesquisa e análise dos relatos das participantes,

(17)

apresentados na dissertação.

No segundo capítulo, apresento uma discussão sobre envelhecimento e as questões de ser velho como um processo no tempo. A intenção foi traçar uma contextualização e entendimentos de teorias do desenvolvimento do corpo e suas transformações sob aspectos biológicos, psicológicos e sociais. O conceito de ser idoso é problematizado e referenciado pelas leis e condições históricas, sociais e políticas por meio de estudos dos seus documentos legais. Ainda neste capítulo, discuto as concepções de envelhecer como processo de futuro e a formação dos grupos de terceira idade.

No terceiro capítulo, abordo os conceitos sobre cognição, procedimento metafórico do corpo, corponectividade e embodiment. Referem-se à dança como ação cognitiva do corpo. Foram analisados os pressupostos das teorias relacionadas a metodologia da pesquisa-ação, as ações de dança, os processos de ensino/aprendizagem em grupo e o uso das metáforas de empoderamento para a construção de um espetáculo de dança do GPG intitulado “O Mágico de NÓS”, inspirado no livro “O Mágico de Oz”. A partir da (re)leitura da obra literária, retratou-se, na construção do espetáculo de dança, diferentes aspectos relacionados ao envelhecimento e trouxe questões da pessoa que envelhece e as questões/relações de gênero ao trazer/mostrar as personagens no feminino, como leoas, espantalhas e mulheres de lata. A proposta foi a de lidar com questões pertinentes às mulheres idosas em seus desafios sociais: de serem corajosas, de serem capazes de difundir seus conhecimentos, de se transformarem e se autorreconhecerem em seu processo de envelhecer, sendo difusoras de afetos, com corações cheios de sentimentos.

As discussões foram feitas por meio da análise de discursos, e as apresento dividindo-as em três categorias distintas, com base nas perguntas das entrevistas semiestruturadas e adequação com os achados transcritos: metáforas; memória, conhecimento, aprendizagem; empoderamento.

Utilizei dois softwares: Word Counter e Wordle. O primeiro é um programa utilizado na versão web para contagem de palavras, caracteres, frases, parágrafos e densidade de palavras-chave, na presença de editor on-line que ajuda a filtrar a escolha de palavras e estilos de escrita. O segundo programa auxilia a reconhecer o texto, as palavras contadas, para gerar “nuvens de palavras”, a partir do texto que é fornecido. As nuvens dão maior destaque às palavras que aparecem com mais

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frequência no texto de origem. A contagem de palavras encontradas e a criação de nuvens a partir das mesmas contribuíram para a pesquisa, permitindo ter uma visão das relações dos termos e seus índices de ocorrências em redes relacionais usando os softwares. A construção de categorias temáticas e nuvens de palavra se deu em caráter pedagógico para melhor compreensão das análises dos discursos apresentados.

Ao final, as considerações se traduzem como pulsões de vida que trazem perspectivas e relevâncias à continuidade da pesquisa.

Até esta etapa do Mestrado Acadêmico (2019), a pesquisa buscou promover diálogos entre a Universidade e a sociedade, no que concerne à criação artística com desenvolvimento humano, à sua qualidade de vida e seus valores. Exercitamos reflexões acerca da configuração das sujeitas idosas na dança, suas transformações, seus processos cognitivos (emocionais, intelectuais e físicos), compartilhamentos, entrecruzamentos e conquistas a partir da experimentação do fazer/conhecer/fruir artístico que corroboram para os entendimentos do corpo e da Dança.

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CAPÍTULO I

REDES METODOLÓGICAS

1.1 O GRUPO PODER GRISALHO

Figura 1 – Grupo Poder Grisalho em atividade externa coletiva: Ilha de Itaparica

Foto: Ângelo Marcio.

O Grupo Poder Grisalho surgiu em 1982 na extinta Legião da Boa Vontade (LBV), com denominação diferente. Teve como fundadora a ex-professora da Escola de Odontologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que é médica geriatra e psiquiatra, Dra. Maria de Lourdes Magalhães Costa Pinto.

Uma das influências marcantes para constituição deste grupo foram os relatos de Irmã Vitória, sua tia, uma freira que morava na França, onde trabalhava como enfermeira e que escrevia cartas para a mãe de Maria de Lourdes contando sobre seu trabalho como cuidadora de idosos. Suas ideias constituíam-se em pensar formas de atendimentos em geriatria diferenciadas, nas quais o idoso não fizesse apenas consulta médica para falar dos seus problemas, mas que pudesse trabalhar a saúde de forma integrativa, representativa e expressiva. Para tanto, foram

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utilizadas técnicas de jogos criativos, exercícios lúdicos e expressivos, oficinas de arte que visavam permitir aos agentes promover o próprio bem-estar e, consequentemente, melhoria da qualidade de vida.

Antes de terminar a residência médica, Maria de Lourdes resolveu formar o grupo de idosos do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES - Hospital das Clínicas), na sala de Fisioterapia e, posteriormente, no espaço de serviços médicos da UFBA, passando depois para o antigo Clube Cruz Vermelha. Ao sair desse espaço, que se tornou uma fundação, o grupo firmou parceria com o Instituto “Quatro Estações” no bairro da Barra, em Salvador, por aproximadamente quatro anos. No espaço surgiu o nome Grupo Poder Grisalho. Logo depois, migrou para o Abrigo do Salvador, localizado no bairro de Brotas, ao lado do cemitério Jardim da Saudade.

Fui apresentado à Professora Maria de Lourdes para estágio com “aulas de corpo para idosas”. As ideias de construção das aulas partiam das ações e declarações de cada aluna. Associei a esses diagnósticos: 1. as experiências que eu como bailarino vinha investigando, desenvolvendo e realizando desde a adolescência quando ministrava aulas em uma associação para mulheres mães de alunos do antigo Centro de Atenção Integral à Criança (CAIC)4; 2. ao estágio de

práticas e técnicas realizadas nas aulas de contato-improvisação ministradas pelo professor Prof. David Iannitelli nas aulas do módulo de Processos Criativos em Dança II, na Escola de Dança da UFBA e 3. com as danças populares, samba de roda e as danças de caboclo, que foram apreendidas com meus avós na região do Recôncavo baiano (cidades de Cachoeira e São Félix).

4 Os CAIC surgiram nos anos 1990 e sua implantação deu-se em projetos de escola pública de

período integral. Implantação esta, associada à concepção de formação integral do educando por meio do desenvolvimento de suas potencialidades nas diversas áreas de atuação (artística, cultural, lúdica, dentre outras) e não apenas ao simples acúmulo de informações.

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Figura 2 – Maria de Lourdes Magalhães Costa Pinto, fundadora do GPG, em festa de

Carnaval na Associação dos Funcionários Públicos do Estado da Bahia, 2009

Foto: Jonas de Lima.

Figura 3 – Maria de Lourdes Magalhães Costa Pinto, fundadora do GPG, Espetáculo O

Mágico de NÓS, 2018

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As atividades desenvolvidas pelo grupo cumpriam calendário pautado nas crenças e celebrações coletivas e de representatividade social associando elementos da Dança, da Música e do Teatro. Dentre as datas comemorativas tínhamos o Carnaval, a Quaresma, a Páscoa, festa do Dia das Mães, festas de Santo Antônio e de São João. Havia também eventos sociais como feiras e quermesses, apresentações em shoppings da cidade com danças temáticas, leituras e dramatização em feiras da Semana de Saúde do Idoso, o Concurso Vovó Simpatia relembrando os antigos desfiles de moda e Auto de Natal.

Em 2009, o Grupo Poder Grisalho passou a executar suas atividades na Associação dos Funcionários Públicos do Estado da Bahia e, posteriormente, migrou para a Casa do Aposentado com a vontade de produzir algo que mobilizasse o desejo e as manifestações inquietas deste público. Surgiu, então, a ideia de produção de espetáculos que dialogassem com o panorama social em que essas senhoras se encontravam inseridas5.

A partir das inquietações feitas no decorrer dos dez anos do Grupo Poder Grisalho, foi possível constatar o quanto a dança contribuiu e contribui na modificação e reorganização desses corpos. Alcançamos processos de trocas mútuas entre os facilitadores e os colaboradores, permutas de conhecimento e de ensino/aprendizagem entre todas e todos os envolvidos. Sabemos também da necessidade de discutir a contribuição da dança na construção de emancipação e posicionamento dessas idosas.

Sendo assim, foi idealizada uma proposta de projeto intitulado “Teatro Médico Didático: Dialogando com o corpo, a arte e a educação na terceira idade”6, no ano de

2013, junto ao Núcleo de Extensão da Faculdade Social da Bahia (FSBA), localizado na Av. Oceânica, 2717, em Ondina, na cidade de Salvador. O projeto surge com a necessidade apresentada pelas senhoras do Grupo Poder Grisalho e conta com a iniciativa da Médica Maria de Lourdes Magalhães Costa Pinto, junto com Emanoel Magalhães Costa, para ter um lugar que apoiasse o fomento de ações em dança,

5 Os espetáculos são produzidos a partir de temáticas que são desenvolvidas mediante discussões

feitas durante as aulas com as próprias idosas do GPG. Essas temáticas frequentemente envolvem questões presentes nos contextos em que essas pessoas se encontram inseridas, nos

enfrentamentos, amores e vivências experienciadas cotidianamente por elas na sociedade. Alguns espetáculos produzidos pelo GPG foram: “Encontro com os velhos tempos” (2009); “A Bahia te Espera” (2010); “Colcha de Retalhos” (2011); “Encontro de Gerações - No Ritmo da Disco” (2014); “Rainha do Samba” (2016); “Maria Bonita no Sertão das Maravilhas” (2017).

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arte e educação para a terceira idade. Essas ações anteriormente eram desenvolvidas em espaços alternativos, como prédios públicos cedidos, ou em locais alugados que ao longo destes 12 anos tiveram seus endereços alterados. Desde então (2010), o projeto é desenvolvido na Faculdade Social da Bahia (FSBA) e conta com a colaboração e apoio do Núcleo de Extensão e Pesquisa, atualmente coordenado pela professora Letícia Castro. O projeto tem como objetivo desenvolver ações socioeducativas e artístico-integrativas, por meio de processos de construção de atividades com mulheres idosas. As ações são pautadas nas proposições de aulas de dança, noções de cinesiologia, atividades lúdicas, improvisações e composições coreográficas, visando reflexão sobre a dança e a arte na maturidade, noções de música e de teatro e na busca de possibilitar o acesso a experimentações vividas individual e coletivamente pelos seus componentes no espaço social. Intenta, ainda, promover o compartilhamento e implementar a efetiva participação dessas pessoas na sociedade nos mais diversos aspectos, sob uma abordagem inclusiva e participativa. Busca promover, com os processos de ensino/aprendizagem, possibilidades da expressão de cada aluna, bem como estabelecer um lugar para trocas de conhecimento, debates sobre o corpo que envelhece, suas mudanças e conquistas a partir da experimentação do fazer e do fruir artístico na sociedade e para o mundo.

No momento desta pesquisa (2017-2019) – importante ressaltar que o trabalho está e terá continuidade – todas as pesquisadas envolvidas neste estudo, tinham idade igual ou superior a 60 anos, conforme preconizado pelo Estatuto do Idoso, Art. 1°, e participavam semanalmente, por um período mínimo de dois anos, em diferentes atividades de dança no grupo.

O projeto vinculado ao programa de Extensão da Faculdade Social da Bahia retrata as experiências vivenciadas no Grupo Poder Grisalho e tem como proposta o uso de metodologia compartilhada em processos de composição do ensino/aprendizagem em dança na maturidade. Com sua existência há mais de 35 anos, sob a coordenação da Professora e Médica Maria de Lourdes, o grupo conta, para a realização das aulas, com a colaboração dos Professores de processos corporais, a saber: eu, Emanoel Magalhães Costa e Ângelo Marcio Correia, licenciado em Educação Física pela Faculdade Social da Bahia.

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Ao longo destes 14 anos (2019), algumas questões surgiram relativas à minha atuação com as práticas em dança desenvolvidas no Grupo Poder Grisalho, as quais culminaram com o ponto de partida para esta investigação:

A. Como as idosas do Grupo Poder Grisalho entendem e valorizam a dança em sua vida?

B. Como se configura a dança produzida pelo grupo ao longo desses anos? Partindo dessas perguntas iniciais, outras questões e indagações surgiram e levaram-me a delinear outras problemáticas e interrogações em torno das construções que se relacionam com o Grupo Poder Grisalho:

A. Qual a compreensão, concepção ou entendimentos de dança que sustenta esse grupo?

B. Quais são as construções e conhecimentos dessas idosas que predominam durante as atividades de dança no grupo?

C. Quais são os objetivos dessas idosas em relação as suas danças em grupo?

D. O que se manifesta na ideia do nome Grupo Poder Grisalho enquanto potência?

No entanto, uma questão nuclear foi elaborada e gerou a seguinte pergunta de investigação para este estudo: o uso das metáforas de empoderamento nos processos de ensino/aprendizagem em dança enfatizam e colaboram para um reconhecimento e autorreconhecimento do saber acumulado, da reflexão do que seja um processo de envelhecimento, de maior aceitação, orgulho e do muito a aprender e a viver?

1.2 LADRILHAR METODOLÓGICO

Ladrilhos são pequenas placas, peças, em geral de vários formatos, quadradas ou retangulares feitas de cerâmica, mármore, azulejo, de barro cozido ou de cimento, empregados para constituir revestimento de paredes ou de pavimentos. Um conjunto de ladrilhos forma um mosaico. O mosaico é uma arte milenar que nos remete à época greco-romana, na qual teve seu apogeu. Era utilizado na criação de pavimentos e em paredes. Quanto à técnica, a arte consiste na colocação de tecelãs, que são pequenos fragmentos de pedras (como mármore e granito, moldados com Tagliolo e Martellina), pedras semipreciosas, pastilhas de vidro, seixos e outros materiais, sobre qualquer superfície (FARRÚS, 2010, p. 27).

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A metáfora do “ladrilhar” remete-se à canção inspirada na cantiga popular “Se essa rua fosse minha...”, dos autores Mário Lago e Roberto Martins.

Argumento então que a metáfora da canção traz uma noção de pertencimento e emancipação de uma rua própria. A ideia de ladrilhos do corpo agrega noções, conceitos, desejos pertencentes ao plano pessoal e/ou singular, que quando vinculadas a um coletivo transformam-se em relação aos dialogismos em grupo. Penso também nas contínuas transformações dos coletivos humanos, pois cada pessoa faz parte de um grande corpo coletivo, ou seja, “[...] todo texto/corpo se constrói como mosaico atribuindo-lhes novos sentidos de citações, todo texto/corpo é absorção e transformação de outro texto/corpo” (KRISTEVA, 1974, p. 64).

Essa canção, que alicerça e agrega conhecimentos – do corpo e para o corpo e, como construção de mundo – nos permite inúmeras possibilidades de fomento de ações com modos de dança. Com exercícios, sequências, improvisações, noções posturais anatômicas e cinesiológicas é possível favorecer as potencialidades constituídas ao longo da vida de cada uma das idosas ao fortalecer relações e processos de colaboração e conectar-se em espaços na sociedade. Agir “como se essa rua fosse minha” contribui para que as senhoras se assegurem de seus conhecimentos e, por conseguinte, difundi-los associando-os com seus processos e experiências dentro dessa mesma rede de colaborações em ações emancipatórias e de empoderamento – para outras pessoas, estando essas em grupo ou não.

O “ladrilhar” consiste em construção contínua de caminhos do viver e do conviver e em um grupo cujo poder esteja fortemente ligado pelo movimento da dança. Uma ação de expressão e valoração cidadã, sem, contudo, ser configurado com seu ponto final, pois os fios mesmo grisalhos ficam sobre a terra.

1.2.1 TIPO DE ESTUDO

Aqui, ladrilho e apresento os procedimentos metodológicos deste estudo. Trata-se de uma pesquisa empírica de natureza qualitativa, desenvolvida sob a forma de uma pesquisa-ação. Segundo o economista e sociólogo francês Michel Jean Marie Thiollent (2011), a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica e com uma de suas características trazer à tona questões sociais e técnicas de um determinado grupo que, interessado na resolução das mesmas, culmina em promover uma transformação no contexto em que se encontra. Em se tratando das participantes do GPG, juntamente comigo, o pesquisador, percebe-se

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que reconhecemos o problema da pesquisa e esse implica para se obter possíveis respostas e novos questionamentos que surjam durante esses processos de investigação.

Um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modos cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 2011, p. 20)

Com referenciais em Stake (1999) e Rodríguez et al. (1999), discorro acerca da descrição dos aspectos relativos aos processos de construção de conhecimentos do corpo que dança no Grupo Poder Grisalho bem como, seus processos emancipatórios e de empoderamento. Atendo-se principalmente no aspecto que tange à Dança, o estudo partiu das análises dos processos de ensino/aprendizagem e discussão frente às bibliografias inseridas neste estudo.

1.2.2 CAMINHOS POSSÍVEIS, CAMPO E CENÁRIO DA PESQUISA, QUESTÕES ÉTICAS

Em um primeiro momento, foi realizada busca ativa em plataformas eletrônicas como: Repositórios, Google Acadêmico e Periódicos CAPES, sem delimitação de tempo. Foram usados como critérios de inclusão pesquisas de dança na terceira idade, envelhecimento, metáforas, emancipação e empoderamento a partir das palavras-chave: idosas; dança; envelhecimento; metáforas de empoderamento e processos de ensino/aprendizagem. Foram excluídas pesquisas que apresentassem duplicidade e não adequação à pergunta de investigação. Os estudos foram avaliados de acordo com o título e apreciação de resumo.

Foram encontradas pesquisas relacionadas às áreas de Educação Física, Fisioterapia, Gerontologia e da Dança que, assim, possibilitaram o delineamento da pesquisa. Após essa fase, houve seleção de referências que contemplassem as discussões, que motivassem deslocamentos nesta pesquisa. Iniciei o processo de resenhas escritas cumprindo prazos, ampliando, aprimorando e estimulando assim a escrita crítica, buscando em cada autor(a) marcos articuladores para o desenvolvimento da dissertação. Com base em aprofundamentos e reflexões teóricas e discussões pertinentes às temáticas de fontes e autores de outras áreas

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do conhecimento, a proposta foi a de desenvolver a pesquisa com a finalidade de possibilitar novos desdobramentos a atravessamentos a respeito da problemática sugerida. Busquei referências que mobilizassem e subsidiassem contextos que minimizaram as carências de aprofundamentos indicados na justificativa desse projeto.

Foi elaborado um fluxograma com a descrição do processo de seleção das referências e bibliografias (Apêndice B) que consta do apêndice7, contendo as

informações de busca nas plataformas eletrônicas.

O estudo foi realizado na Faculdade Social da Bahia (FSBA), prédio de Saúde, em uma sala de dança com tablado, som grande, área arejada, ótima luminosidade, barra e espelho. É uma das unidades da FSBA que agrega os cursos de Educação Física e Fisioterapia, no 2º andar, sala 205, localizada no bairro de Ondina, na cidade de Salvador - BA. Com relação às idosas, foram usados como critérios de inclusão neste estudo idosas que frequentavam e participavam das aulas de dança ministradas, por mim, professor Emanoel Magalhães Costa e pelo professor Ângelo Marcio Correia e pelo tempo de permanência no grupo, mínimo de 2 anos. Em um segundo momento foi aplicada a Medida de Independência Funcional (MIF)8.

As idosas integrantes do Grupo Poder Grisalho participaram de aulas de dança com uso de metáforas, a fim de proporcionar ações, reflexões de emancipação e de empoderamento. As metáforas foram empregadas oralmente no decorrer das aulas e nos processos criativos que envolveram composições

7 Ver Apêndice B.

8 A medida de independência funcional (MIF) é um instrumento de avaliação de incapacidade de

pacientes com restrições funcionais de origens variadas, desenvolvida na América do Norte na década de 1980. O seu objetivo primordial foi o de avaliar de forma qualitativa a carga de cuidados demandada por uma pessoa para a realização de uma série de tarefas de vida diária. A MIF

compreende uma escala desde 7 pontos para avaliar 18 itens. Assim, a pontuação total varia de 18 a 126 onde estão descritos dois domínios principais na MIF: o motor e o cognitivo. Os pontos são distribuídos em áreas de cuidados pessoais, controle dos esfíncteres, mobilidade articular, locomoção, comunicação e cognição, projetada para medir o nível de dependência pessoal de idosos. A MIF foi aplicada para avaliar a função cognitiva, de mobilidade e locomoção e foi o instrumento de avaliação funcional que mensurou as condições das idosas para a execução das aulas de dança e funções cognitivas. A idade das idosas variou entre 60 e 89 anos. Os critérios de inclusão foram estabelecidos com as próprias idosas participantes do grupo que frequentaram as aulas de dança, que fossem independentes funcionais, que apresentassem condições físicas e intelectuais para execução de movimentos cinéticos envolvendo a dança e apresentassem condições de responder aos instrumentos de avaliação (execução de movimentos de dança e entrevista

semiestruturada. LINACRE, J. M.; HEINERMANN, A. W.; WRIGHT, B. F., GRANGER, C. V.;

HAMILTON, B. B. The structure and stability of the Functional Independece Measure. Arch Phys Med Rehabil, 1994; 75:127-32).

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coreográficas e na produção de um espetáculo. Nesse ínterim, foi aplicado questionário por meio de entrevistas semiestruturadas9 para as idosas do grupo,

seguidas de acompanhamento de diário de bordo e observação participante.

Uma pesquisa pode ser qualificada de pesquisa-ação quando houver realmente uma ação por parte das pessoas ou grupos implicados no problema sob observação. Além disso, é preciso que a ação seja uma ação não trivial, o que quer dizer uma ação problemática merecendo investigação para ser elaborada e conduzida. (THIOLLENT, 2011, p. 21)

Algumas entrevistas foram realizadas entre os meses de fevereiro a março de 2019, com as idosas que desejaram participar da pesquisa, por meio de prévio agendamento. O processo de análise e execução das entrevistas e transcrição das subsequentes informações das entrevistadas foram realizados e após esta etapa, os resultados culminaram em revelar os panoramas deste trabalho.

As entrevistas visavam obter informações das entrevistadas, apontaram pistas a partir da pergunta de investigação e abrangeram possibilidades de discussão presentes dentro do próprio estudo. Na entrevista, houve um roteiro preestabelecido pelo entrevistador e um formulário elaborado com antecedência. Deste modo, a entrevista via formulário resultou em um método de coleta adequado para este estudo, tomando como base a padronização das perguntas, para que pudessem ser posteriormente comparadas por grupamento de respostas e apresentadas em tabelas, gráficos e levados a resultados e discussão dos achados (PRODANOV; FREITAS, 2013).

Todas as idosas participantes foram informadas com detalhes quanto à finalidade do estudo. Estando as mesmas de acordo, foi solicitada a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE)10, junto a termo de autorização de

imagem (audiovisual e fotográfica)11.

É válido ressaltar que todas as idosas foram tratadas como seres humanos biopsicossociais (MORIN, 2000), respeitando seus direitos e deveres mediante os aspectos éticos como se trata de pesquisa com seres humanos. Foi respeitada a

9 Ver Apêndice E.

10 O TCLE foi assinado em duas vias, sendo que uma das vias ficou com o pesquisado e outra com o

pesquisador acadêmico. No caso de idosas analfabetas foi usada impressão digital. Os participantes deste estudo foram informados que poderiam desistir a qualquer momento da participação na pesquisa, sem nenhum malefício ou prejuízo. Ver Apêndice C.

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resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que descreve diretrizes e normas que regulamentam pesquisas que envolvem seres humanos (BRASIL, 2012) e a Resolução nº 510 de 07/04/2016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que trata das especificidades éticas das pesquisas nas Ciências Humanas e Sociais e de outras que se utilizam de metodologias próprias dessas áreas (BRASIL, 2016).

Os dados coletados foram de utilização única e exclusiva para esta pesquisa, com a possibilidade de divulgação dos resultados para a comunidade acadêmica.

1.2.3 ANÁLISE DO DISCURSO E ANÁLISE DOS DADOS

Neste tópico, desenvolvi a análise dos discursos das idosas e descrição dos resultados, com base em todas as coletas de dados e observações realizadas durante as entrevistas semiestruturadas12 com as senhoras selecionadas, segundo

os critérios de inclusão já apontados.

As idosas se mostraram muito disponíveis e interessadas nas participações e nas possíveis contribuições que pudessem dar para este estudo, uma vez que se fizeram presentes desde o início das pesquisas. Todo o processo sempre foi em compartilhamento com elas. Assim, uma modalidade específica de pesquisa escolhida foi a participativa:

A pesquisa participativa foi definida como um enfoque da pesquisa social mediante o qual se busca a plena participação da comunidade na análise da própria realidade para promover a transformação social para o benefício dos participantes da pesquisa. (GROSSI, 1988, p. 69 apud ESTEBAN; SANDIN, 2010, p. 178)

Com o intuito e cuidado de não revelar as identidades das idosas participantes, utilizo nomes de pedras preciosas, sem ajuizar qualquer valor específico, relação de importância ou preciosidade.

Reforço que esta pesquisa fala delas e com elas (as senhoras idosas). As entrevistas foram aplicadas em quatro etapas, por um período de quatro semanas uma vez ao dia, no período das manhãs de sextas-feiras, com duração de 6 horas.

Participaram do estudo um total de 15 idosas dentre as quais 2 participaram da primeira etapa, 8 na segunda etapa, na terceira etapa participaram 8 das quais 3

12 As entrevistas foram gravadas e guardadas em recurso digital e documental e estarão disponíveis

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já haviam participado da entrevista anterior contabilizando apenas 5 e na quarta fase retornaram as 15 participantes novamente.

Como ponto de partida e após angariação de dados e observações em mãos, dei início à análise de discurso em conjunto com as observações feitas em sala de aula em anotações em diário de campo, com isso, apurei as falas implícitas e explícitas presentes nas mensagens.

Para Franco (2005), o ponto de partida para análise de conteúdo é a mensagem, seja ela expressa de forma verbal (oral ou escrita) ou não verbal (por meio de gestos, do silêncio, figurativa, do movimento, documental ou diretamente provocada, pois ela expressa um significado, um sentido.

Problematizei por meio da análise de conteúdo, presente nas entrevistas as mensagens e verbalizações das idosas entrevistadas e diário de bordo que trouxeram novas questões que surgiram a partir do processo analítico, com o intuito de deixar explícitos pensamentos e reflexões encontrados nos achados.

Para análise desta pesquisa qualitativa, a opção se deu pela Análise Temática, a fim de melhor compreender o posicionamento das entrevistadas, por meio da identificação, análise e categorização dos temas, permitindo assim, apresentar tais dados.

A técnica da Análise Temática visa à apresentação de conteúdo que pode ser em forma de gráficos, frases, resumos, tabelas, por palavras. “O tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura” (BARDIN, 1977, p. 105). Realizar uma análise temática significa desvelar os “núcleos de sentido”.

Núcleos de sentidos são os processos que formam a comunicação e, mediante o aparecimento ou frequência de aparição de palavras (temas) esses podem traduzir um sentido para as pessoas idosas envolvidas nesta pesquisa. Nesse processo de análise, algumas categorias surgiram e configuraram o ladrilhar desta pesquisa.

Foi realizada a transcrição das entrevistas, a partir da escuta dos áudios das entrevistadas, a fim de melhor efetivar-se tal procedimento de análise. Após a transcrição, foi realizada a textualização, ou seja, o tratamento linguístico e ortográfico para melhor compreensão e organização das ideias. Em seguida, foi feita a decomposição temática, cujo objetivo foi o de apreender os sentidos e convertê-los

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em ideias-chave. Após a decomposição, realizou-se a categorização das temáticas e a construção de uma narrativa.

De acordo com Triviños (1987), a análise do que está escrito no material coletado por meio de diário de bordo e das entrevistas semiestruturadas, desvela as mensagens implícitas e dimensões contraditórias em temas sistematicamente apresentados, porém, não devem configurar-se como material restritivo para obtenção dos resultados.

Foram utilizados os softwares Word Counter e Wordle. O primeiro constitui- se como um programa utilizado na versão web disponível gratuitamente em https://wordcounter.net, para contagem de palavras, caracteres, frases, parágrafos e densidade de palavras-chave, na presença de editor on-line que ajuda na escolha de palavras e estilos de escrita. Para verificar a contagem de palavras basta colocar o cursor na caixa de texto e começar a digitar, e permite excluir caracteres.

O segundo programa, disponível em http://www.wordle.net, foi utilizado na versão 0.2 do Windows que funciona no Win32 e Win64. O aplicativo reconhecerá o texto colocado no formato. Ele é um dispositivo para gerar “nuvens de palavras” a partir do texto que é fornecido. As nuvens dão maior destaque às palavras que aparecem com mais frequência no texto de origem. Ainda é possível ajustar as nuvens com diferentes fontes, layouts e esquemas de cores que se transformam em imagens.

A contagem de palavras encontradas e a criação de nuvens a partir das mesmas, serviu à pesquisa, ao permitir ter uma visão das relações dos termos e seus índices de ocorrências em redes relacionais usando os softwares.

Assim, com o auxílio da plataforma tecnológica Word Counter, foi possível categorizar as ideias-chave por meio da recorrência dessas palavras no discurso das entrevistadas, de acordo com a tabela abaixo:

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Tabela 1 – Frequência de palavras recorrentes em discurso PALAVRAS FREQUÊNCIA Eu 640 Dança 60 Grupo 53 Nós 40 Corpo 32 Movimento 31 Vida 28 Dançar 25 Poder 24 Pessoa 23 Nosso 22 Metáfora 21 Professores 21 Idade 20 Empoderamento 20 Colegas 20 Comigo 17 Mulher 16 Memorizar 14 Senhora 14 Empoderada 13 Movimentos 12 Aprender 11 Grisalho 11 Processo 11 Mundo 10 Aulas 10 Envelhecer 8 Participar 7 Saber 6 Mulheres 6 Conhecimento 6 Aprendizado 6 Ensinando 5 Viver 5

Fonte: Elaboração do Autor, 2019.

Categorizei as respostas por unidades de significado, a partir das semelhanças e não por oposições. Dessa forma, pude interpretar mais livremente essas categorias e o cruzamento com as referências teóricas. As análises foram dispostas por grupo e em conjuntos de categorias relacionadas às questões presentes na entrevista semiestruturada. Houve um agrupamento pelo maior número

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de palavras que se repetiram ou que foram similares, baseado nas respostas das entrevistadas, pois a convergência de dados entre as respostas das senhoras foi importante durante a análise.

Neste sentido, após a análise das palavras e das ideias-chave oriundas do Word Counter, foram extraídas as seguintes categorias de análise: metáforas; memória, conhecimento e aprendizagem; e empoderamento. Essas categorias foram analisadas e dispostas neste capítulo, no qual lancei mão de outra ferramenta tecnológica denominada de Wordle.net para a construção das nuvens de palavras a partir dos discursos das entrevistadas.

As nuvens de palavras expressam a importância das mesmas no discurso, de acordo com o seu tamanho na figura, o que, por conseguinte, oportunizou realizar um cruzamento com a ferramenta Word Counter e reforçar a escolha da categoria. As imagens geradas pelas nuvens compuseram uma ilustração imagética e a sua disposição arquitetural, por repetição de palavras no discurso, foi criada para buscar compreender o sentido da alocução das entrevistadas.

As análises e interpretações obtidas na pesquisa permitiram comparação dos dados levantados, em discussão com as leituras realizadas, que resultou na interação e possibilitou as correlações entre as variáveis, propiciando assim, amplo significado das respostas que foram articulados a outros conhecimentos.

Por fim, a narrativa foi construída por meio dos fragmentos dos depoimentos das idosas reforçada com dados, imagens e referenciais corponectados e utilizados neste trabalho dissertativo, a fim de dar sustentação ao discurso das entrevistadas que culminaram com os objetivos propostos no trabalho.

(34)

CAPÍTULO II

ENVELHECENDO E O (EN)VELHO SER: UM PROCESSO NO TEMPO

2.1 CONTEXTUALIZANDO O ENVELHECIMENTO

Pensemos. Nós, estamos todos, sem exceção, envelhecendo. O processo é da condição da existência, determinante e inerente a todos os seres viventes. O fato de a pessoa perceber o envelhecimento implica em caracterizar-se enquanto em estado de velhice. Ouvimos (e sentimos) “eu estou ficando velho”, “estou envelhecendo”, “um velho ser”. Enquanto se envelhece vai se compreendendo este fenômeno natural da vida. O (en)velho ser, portanto, passa nesse contexto a ser conectado como experiências e processos trilhados ao longo do viver, a partir de inferências que se apresentam no e com o corpo, e com o passar do tempo.

Este capítulo busca tratar de questões que englobem o envelhecimento da pessoa idosa em seu estado de se tornar velho, como um processo no tempo. Para tanto, vale conceituar por meio da Gerontologia a contextualização do envelhecimento e dos processos de envelhecer. Pretende ainda dialogar com os conceitos do ser idoso e idosa, pautados nas leis que os amparam e por conseguinte, trazer reflexões acerca do envelhecer como processo evolutivo de futuro e apresentar o grupo de idosas intitulado Grupo Poder Grisalho.

O século XX é marcado por estudos relacionados com a velhice. Essa temática tornou-se alvo de interesse e motivação para pesquisadores voltados a realizar investigações que ampliaram as discussões sobre o interesse pelo envelhecer e como esta etapa do desenvolvimento humano contempla perdas e ganhos como indicadores desse processo.

De acordo com Carvalho Filho e Netto (2006, p. 3) fenotipicamente13 o 13 De acordo com Justina et al. (2010), os conceitos de genótipo e fenótipo foram propostos por

Wilhelm Ludwig Johannsen (1857-1927), no início do século XX, como forma de facilitar a

comunicação entre os pesquisadores daquela época. Wilhelm L. Johannsen afirma: “[...] vou propor os termos “gene” e “genótipo” e mais alguns termos, como ‘fenótipo’ e ‘biótipo’, a serem utilizados na ciência da genética. O ‘gene’ é uma palavra muito pouco aplicável, facilmente combinado com outros, e, portanto, pode ser útil como uma expressão para a ‘unidade de fatores’, ‘elementos’ ou

‘alelomorfos’ nos gametas, utilizadas por modernos pesquisadores mendelianos. O ‘genótipo’ é a soma de todos os ‘genes’, em um gameta ou em um zigoto [...] Todas as características de organismos, distinguíveis por inspeção direta da aparência ou por descrição dos métodos de medição, poderão ser caracterizadas como ‘fenótipo’. [...] Quanto à natureza dos ‘genes’ não é de valor propor alguma hipótese, mas a noção de ‘gene’ abrange uma realidade que é evidente a partir do Mendelismo. Os mendelianos têm o grande mérito de serem prudentes em suas especulações. Em completo acordo com essa limitação – uma reação natural contra a especulação morfológica fantástica da escola de Weismann – poderia ser enfaticamente recomendado o uso do termo adjetivo

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envelhecimento é marcado por indicadores característicos e presentes em seu contínuo desenvolver, retratados por meio do espelho do tempo, nas alterações mentais, fisiológicas e físicas, na tessitura enrugada e nos fios de cabelos grisalhos, por exemplo. Esses reflexos apresentados aos olhos de quem os observam são somados a alterações do corpo que se transforma de forma mais rápida ou lenta dependendo de cada pessoa idosa, pois se trata de um processo individual, e está inerente às modificações que envolvem os mecanismos do estar velho no mundo.

Existe a hipótese que o processo de envelhecimento se inicia antes mesmo do momento do coito e do gene dos gametas (espermatozoides e óvulo). Ele se estabelece na concepção do pensamento e do encontro de corpos, que já em processo sináptico perpassam ao momento da nidação. Nesse consiste a fixação do espermatozoide no óvulo para o processo do desenvolvimento14 e formação do ovo

zigoto, processo esse que compreende múltiplas divisões celulares, formação de células diferenciadas que comporão nossas estruturas. Para Netto (2002), o processo de envelhecer começa a acontecer desde o momento de concepção da vida e só termina com a morte. Durante esse processo, é possível observar fases do desenvolvimento humano, que podem ser consideradas como marcadores biofisiológicos do envelhecimento, por exemplo, a puberdade e a velhice.

Ainda nessa fase, não podemos saber ao certo se teremos uma ou mais formações de estruturas que constituirão a(as) pessoa(as) humana(as). Isso se dá por conta da replicação celular das possibilidades dos fatores que envolvem esses processos de formação dentro da cavidade intrauterina. Não podemos também

genotípico ao invés do nome genótipo. Nós não conhecemos um ‘genótipo’, mas somos capazes de demonstrar diferenças ou semelhanças genotípicas. Utilizados desta maneira, os termos ‘gene’ e ‘genótipo’ não seriam prejudiciais.” (JOHANNSEN, 1911, p. 133).

14 Trataremos o termo desenvolvimento humano como muito complexo, e por isso seu estudo exige

uma parceria entre estudiosos de muitas disciplinas, incluindo psicologia, psiquiatria, sociologia, antropologia, biologia, genética (o estudo das características herdadas), ciência da família (o estudo interdisciplinar das relações familiares), educação, história, filosofia, artes e medicina. Os contextos

histórico e cultural influenciam fortemente o desenvolvimento. Cada pessoa desenvolve-se dentro de

um ambiente ou contexto específico, limitado por tempo e lugar. Eventos históricos importantes, como guerras, depressões e escassez de alimentos afetam profundamente o desenvolvimento de gerações inteiras. Isso também ocorre com novas tecnologias revolucionárias, como o computador. Nas sociedades industriais ocidentais, os avanços na medicina, bem como as melhorias na nutrição e no saneamento reduziram dramaticamente a mortalidade infantil e os óbitos de mulheres durante o parto; mudanças sociais, como o número cada vez maior de mães que trabalham fora, alteraram profundamente a vida familiar. Ao estudar os seres humanos, precisamos estar cientes dos padrões contextuais que são específicos a uma determinada cultura. Por exemplo, no povo Efe do país africano do Zaire, os bebês têm até cinco pessoas que os cuidam desde o nascimento e são amamentados por outras mulheres que não suas mães; os Gusii do oeste do Quênia não têm uma etapa de vida reconhecida comparável à meia-idade (NETTO, 2002, p. 40).

Referências

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