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AS AÇÕES DE DANÇA E OS PROCESSOS DE ENSINO/APRENDIZAGEM EM GRUPO

METÁFORAS DE EMPODERAMENTO – PROCESSOS DE ENSINO/APRENDIZAGEM

3.4 AS AÇÕES DE DANÇA E OS PROCESSOS DE ENSINO/APRENDIZAGEM EM GRUPO

As ações se configuram nos encontros de conhecimento que expressam a alegria de viver na diversidade e que agregam as experiências na igualdade de serem idosas e nas oportunidades vividas por elas.

Como já relatado, trabalho com o GPG há 14 anos, e desde então, já tratando questões com estas idosas que envolvem empoderamento e emancipação. Nesse tempo como professor de dança, percebi e percebo a existência de atividades que envolviam a arte para idosas em ricas iniciativas em que venho a destacar a dança como principal atividade. No entanto, há muito, ainda, a se contribuir no sentido da inserção social, do autorreconhecimento e da autoestima.

Figura 4 – Logomarca do GPG

Fonte: Acervo pessoal.

Sendo assim, aprimorei meus estudos durante este percurso como professor com as idosas do GPG e procurei instituir ações e estratégias que colaborassem para os processos de ensino/aprendizagem desde então, a fim de que pudessem contribuir com a dinâmica de atividades do grupo. A compreensão de agirmos por trânsito entre o que sensório-motor e o que é conceito (procedimento metafórico do corpo) foi chave para estar atento ao que fazer, ao que dizer e estar aberto à escuta.

A escolha por metáforas usadas nos processos dentro e fora de sala de aula implica na responsabilidade e no compromisso com estas pessoas, e é importante lembrar que o cuidado ao pô-las no mundo é imprescindível no processo de desenvolvimento humano. O engajamento constante foi por metáforas que enfatizassem, que revelassem, que tocassem o corpo com o empoderamento e emancipação, que colaborassem com o processo de envelhecimento dessas mulheres, envolvendo suas alegrias, tristezas e todas as especificidades de estarem idosas e inseridas na sociedade.

A estratégia desenvolvida durante as aulas tem como premissa potencializar o empoderamento que já existe nelas e de fato, a preocupação com o uso das metáforas de empoderamento, que vem sendo usadas com estas mulheres, traz consigo a ideia de que elas podem proporcionar um melhor autorreconhecimento do processo de envelhecer. Envelhecer com reflexões que reverberem no fato de sentir e reconhecer este processo, entendendo que a dança pode ser dançada por uma

pessoa idosa e que elas podem dançar na diversidade de corpos velhos e suas igualdades.

Então como as coisas acontecem? A preparação das idosas começa a partir de estimulação corporal que se inicia no espaço (aqui chamaremos de espaço todo e qualquer lugar de produção de conhecimento, seja ele a sala de ensaios, os locais de apresentação, a praia, ou mesmo, qualquer ambiente onde sejam estabelecidas e desenvolvidas as práticas com aulas de dança). “Sempre é sensório-motor e abstrato” (RENGEL, 2018).

As formas de acesso aos caminhos de aprendizagem aconteceram por meio dos interesses das idosas e das abordagens apresentadas com o uso de metáforas, metáforas estas, integradas com as práticas lúdico-criativas, permitindo diversificação e dinâmica e nas experimentações nas aulas de dança. “Tudo acontece na carne, no corpo, no dançar” (RENGEL, 2018).

São nessas aulas que associo as minhas experiências como docente em dança às técnicas de fisioterapia neurofuncional, com os processos lúdicos-criativos por meio do uso de metáforas em ações de empoderamento em dança junto às idosas do GPG.

Nos encontros objetivava-se trabalhar com a execução de exercícios e atividades lúdicas com uso de danças variadas, livres de técnicas aprimoradas para percepções do “eu corpo” a partir do fazer determinados temas presentes na vida e no cotidiano.

Como procedimentos, utilizamos em nossas aulas, estímulos verbais por meio do uso de palavras (metáforas) que permitissem entender como seu uso evocava sentimentos guardados no corpo, e estes se configuravam como danças presentes nas relações e convivências compartilhadas em grupo e que provocavam o corpo. As provocações despertavam múltiplas sensações como as de sentir o sol em seus primeiros raios da manhã, “agora o eu corpo é sol da manhã”, ou o do cair das gotas de chuva em uma tarde de inverno “eu sou uma gota de chuva na tarde de inverno”.

Usava também estimulações visuais, sonoras, táteis ou até mesmo gustativas, para aguçar a os sentidos por meio das metáforas de empoderamento.

Vale lembrar como registro que as experiências, apenas, não se alicerçam sozinhas sem um corpo teórico que balize as possibilidades e trajetórias. Em paralelo ao planejamento das aulas e sua realização, foram agregadas leituras sobre temas que abordavam o envelhecimento, a dança, memória, de diferentes formas e

denominações. Essas leituras estiveram presentes nos seminários, congressos, cursos de capacitação e aperfeiçoamento, nas rodas de discussão promovidas por mim e pelas próprias idosas em nossos encontros semanais, para aulas e ensaios e em ações que tivemos a oportunidade de participarmos e executarmos nossas andanças.

Uma das atividades envolvendo ações de empoderamento se deu com a partilha dos processos de investigação dos autores ainda na concepção desta dissertação. Esses processos contaram com a participação das senhoras quando imersas em nossas aulas, nas discussões trazidas por mim, frente aos autores que dialogariam com o pensar/fazer em dança. Quando questionado por elas acerca de quem seriam aquelas pessoas que referenciavam e dialogavam com a pesquisa, sobre elas (nós) e os processos de práticas em dança.

Enquanto caminhos de ensino/aprendizagem me senti convidado a motivá-las na busca por tais autores, sugeri que fôssemos ao local de produção de conhecimento em dança, a Universidade Federal da Bahia (UFBA) na Escola de Dança. O grupo de idosas se reuniu às 14 horas nos portões de acesso da UFBA. Munidas com uniformes constando o nome do Grupo Poder Grisalho, com suas saias de samba de roda, folhas de papel ofício com os nomes dos autores presentes nas referências do projeto, a fim de se apresentarem e conhecê-los e (com) partilhar um pouco de sua dança.

Neste momento do processo investigativo, pude refletir a partir das relações entre pesquisador/pesquisadas o fato de que estas senhoras ao se posicionarem assim, questionam e discutem o mundo a sua volta com ações de empoderamento, bem como emancipatórias.

Nas práticas pedagógicas advindas desse processo relacional e de autonomia, Jacques Rancière (2002) e Paulo Freire (1996) são referências. Os autores trazem considerações que apontam para um ensino (neste caso o da investigação na universidade e Dança com idosas) que construa a autonomia, a reflexão como formas do emancipar, e do empoderar, no qual o professor seja visto como parte do processo de mediação da ação criativa, sem estabelecer direção única.

Disponível em: <http:// youtu.be/4rLEsGPXrPw>. Acesso em: 30 ago. 2017.

Link 2 – Processos em sala: Grupo Poder Grisalho – Parte 2

Disponível em: <http:// youtu.be/-fvNYFnQDiO>. Acesso em: 30 ago. 2017.

Figura 5 – Experimento Grupo Poder Grisalho, Escola de Dança (UFBA), 2017

Foto: Maria Fernanda.

Foto: Maria Fernanda.

Figura 7 – Experimento Grupo Poder Grisalho, Escola de Dança (UFBA), 2017

A única coisa que quero nesse meu final de