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UNIVESIDADE FEDERAL DO ESTADO DE MATO GROSSO
Campus de Cuiabá - MT
DIREITO DA PERSONALIDADE: PRINCIPAIS POSSIBILIDADES DE ALTERAÇÃO DO
REGISTRO CIVIL
CARLOS VICTOR ALVES TRAMPUSCH
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CARLOS VICTOR ALVES TRAMPUSCH
DIREITO DA PERSONALIDADE: PRINCIPAIS POSSIBILIDADES DE ALTERAÇÃO
DO REGISTRO CIVIL
Monografia apresentada à Pós Graduação de Direito
Civil Contemporâneo da Universidade Federal do
Estado de Mato Grosso, para a obtenção do título de
Especialista.
Orientador: Professor Dr. Carlos Eduardo Silva e
Souza
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Se não puder voar, corra.
Se não puder correr, ande.
Se não puder andar, rasteje, mas continue em
frente de qualquer jeito.
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a quem sempre esteve presente nesta trajetória,
apoiando a todo momento cada passo desta caminhada que se finaliza, e, motivo pelo
qual estou a seguir meu caminho.
Agradeço aos professores que transmitiram parte de seus conhecimentos
durante o desenvolvimento de cada módulo da pós realizada.
Agradeço também, ao professor orientador, o qual teve muita paciência e
dedicação para desenvolvimento deste projeto
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RESUMO
Através da metodologia desenvolvida, visa abordar uma das principais
expressões dos direitos da personalidade: o direito ao nome e as principais
possibilidades de alteração. De tal maneira, será analisada de forma objetiva assuntos
referentes aos direitos da personalidade e ao direito à identidade sob a luz do direito
civil e constitucional. Em um primeiro momento será delineado um breve estudo sobre
a pessoa natural, trazendo à baila aspectos históricos e contemporâneos de sua
conceituação e de sua personalidade. Após, busca-se delimitar as bases conceituais
dos direitos da personalidade procurando relacioná-lo com o princípio da dignidade
humana, verificando a correlação de personalidade e dignidade. O questionamento
central da pesquisa está guiado no direito à identidade, como direito personalíssimo e
a autonomia jurídica sobre o direito ao nome. Assim, apresenta-se o nome como
expressão maior da personalidade, ressaltando a possibilidade de sua alteração frente
a situações de excepcionalidade, como busca de uma maior humanização, na
tentativa de desvinculá-lo do caráter patrimonial que lhes foram atribuídos ao longo
dos séculos. Há de se considerar, ainda a possibilidade de disposição do direito ao
nome para fins patrimoniais. Toda esta investigação objetiva demonstrar que os
direitos da personalidade, em especial o direito ao nome, são fundamentais à
realização da dignidade da pessoa no contexto social.
Palavras-chave: personalidade, nome, dignidade da pessoa humana,
retificação, alteração.
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ABSTRACT
Through the methodology developed, it aims to address one of the main
expressions of personality rights: the right to the name and the main possibilities for
change. In such a way, subjects related to the rights of the personality and the right to
the identity under the light of the civil and constitutional law will be analyzed of objective
form. At first, a brief study of the natural person will be outlined, bringing to the fore
contemporary and historical aspects of his conceptualization and personality.
Afterwards, it seeks to delimit the conceptual bases of the rights of the personality,
seeking to relate it to the principle of human dignity, verifying the correlation of
personality and dignity. The central question of the research is guided by the right to
identity, as a very personal right and legal autonomy over the right to the name. Thus,
the name is presented as a major expression of personality, highlighting the possibility
of its alteration to situations of exceptionality, as a search for greater humanization, in
an attempt to detach it from the patrimonial character attributed to them throughout the
centuries. It is also necessary to consider the possibility of disposing of the right to the
name for property purposes. All this research aims to demonstrate that the rights of
the personality, especially the right to the name, are fundamental to the realization of
the dignity of the person in the social context.
Key words: personality, name, dignity of the human person, rectification,
change.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO... 08
O Nome Na Sociedade Civil... ...09
I. Direitos da Personalidade sob a Ótica Constitucional... 13
1.1 Características Dos Direitos da Personalidade... 16
1.2 Da Dignidade da Pessoa Humana:...22
II. Do Direito à Identidade Pessoal... ... 25
2.1
Do Direito ao Nome e Prenome:...25
2.2
Natureza Jurídica do Nome:...26
2.3
Da Composição do Nome:...27
2.4
Princípio da Imutabilidade:...28
III. Lei de Registros Públicos e as principais possibilidades de alteração do
Registro Civil...:...29
3.1 Das Possibilidade De Alteração Do Prenome, Conforme A LEI Nº 9.708, DE 18
DE NOVEMBRO DE 1998:. ...30
3.2. Do Erro Gráfico:...33
3.3. As alterações possíveis ao atingir a maioridade:...35
3.4. Substituição E Alteração do Prenome Por Exposição Ao Ridículo Devido A
Nome Constrangedor Ou Que Causa Angustia...38
CONCLUSÃO...42
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INTRODUÇÃO
A sociedade contemporânea atualmente convive com diversas transformações
que sempre refletem nas mais diversas esferas do direito. Referida afirmação é
observada nas mudanças dos valores que ocorrem na órbita social que resultaram na
reformulação da conduta humana buscando principalmente a dignificação e
valorização da pessoa ser humano, idealizador de novas propostas e concepções.
Contundo, no Brasil, fez-se necessário uma reavaliação objetiva dos valores
que vieram a ser protegidos a partir do implemento da atual Carta Magna
– aqui,
caracterizados pelo processo de constitucionalização dos interesses privados. Este
movimento de constitucionalização de direitos, contudo, não é novidade, mas só pôde
ser notado a partir da instituição de um regime político inerente à proteção dos Direitos
Humanos. Por esta razão, foi apenas com a Constituição Federal de 1988, que se
delineou uma redemocratização política no país, e que, efetivamente, pôde-se
reconhecer a sedimentação dos direitos fundamentais.
Portanto, o referido trabalho visa analisar fatores que caracterizam o nome civil,
o qual é formado pelo prenome e sobrenome atribuídos a cada pessoa. Veja que o
nome dado a cada pessoa possui uma origem ancestral (descendente), a qual
acompanhara o ser humano, possivelmente por toda a vida, pois este traz
característica individual, ou seja, a identificação da pessoa ao decorrer da vida perante
a sociedade.
Posteriormente, serão expostas as características do nome, passando-se ao
estudo da tutela jurisdicional do direito ao nome, demonstrando as ações possíveis
para a sua proteção.
Enfim, será estudado o direito à identidade, assim como o direito ao nome e
sua natureza jurídica, composição e possibilidades de alteração/modificação,
baseada na Lei Federam nº 9.708, De 18 De Novembro De 1998, as quais serão
expostas de forma clara e elucidativas. Por fim, restarão demonstrados os direitos da
personalidade e o direito ao nome sedimentado como garantias constitucionais.
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O NOME NA SOCIEDADE CIVIL
“O nome é mais que um acessório ou simples denominação. Ele é de extrema
relevância na vida social, por ser parte intrínseca da personalidade”
1.
O nome civil da pessoa natural é mais do que simples denominação no
ambiente social, pois é de grande relevância na vida social, por ser um direito subjetivo
da personalidade e também de interesse da coletividade, já que carrega a função de
distinguir os indivíduos e atribuir-lhes corretamente direitos e deveres, o que torna o
nome obrigatório e regrado.
Conforme José Roberto Neves, o mesmo descreve o seguinte:
“É certa e incontroversa a importância de cada pessoa ser identificada socialmente, individualizando-se em relação às demais. Aliás, data de priscas eras a importância conferida ao nome, percebendo-se até mesmo na Bíblia Sagrada que, entre os hebreus, emprestava-se nome individual aos recém-nascidos logo aos oito dias de vida, momento em que se dava a circuncisão, somente vindo a ser admitida a homonímia tempos depois, fruto do crescimento populacional”2.
O nome é um direito da personalidade, eis que toda e qualquer pessoa – natural
ou jurídica – tem direito à identificação. Esclarece, corretamente, Pedro Henrique de
Miranda Rosa que “o nome é um direito essencial da pessoa, pois é através dele que
é conhecido na sociedade”
3.
Ademais, atualmente existe a possibilidade de retificar, acrescentar ou
modificar o prenome existente, pois muitas pessoas sentem-se inconfortáveis com o
próprio nome ou sobrenome lhes atribuído, por lhes causarem constrangimento ou
porque querem apenas que seu direito de usar o nome de seus ascendentes seja
reconhecido, assim, em muitos casos se faz necessário recorrer à justiça para referida
alteração.
Assim, a legislação civil, inclusive, coaduna-se com esse entendimento,
cuidando do nome civil no capítulo dedicado aos direitos da personalidade (arts. 16 a
19, Capítulo II, do Título I, do Livro I), conferindo-lhe idêntica proteção (CC, art. 12).
Ao que se refere às mudanças no registro civil, existe a Lei Federal 9.708, de 18 de
novembro de 1998, indicando a possibilidade de substituição do prenome por apelidos
1 Portal Jusbrasil, Publicado pelo Superior Tribunal de Justiça. Disponível em
https://stj.jusbrasil.com.br/noticias/100069714/o-stj-e-as-possibilidades-de-mudanca-no-registro-civil. Acesso em 08 de Agosto de 2017.
2 AMORIM, José Roberto Neves. Direito ao nome da pessoa física. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 2 ss. 3 ROSA, Pedro Henrique de Miranda. Direito civil: Parte Geral e Teoria Geral das Obrigações. Rio
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notórios, alterando assim, o art. 58 da Lei de Registros Públicos, de n° 6.015, de 31
de dezembro de 1973.
Portanto, é admitido no ordenamento jurídico a substituição de prenome
existente que possa causar constrangimento ou humilhação pública, assim como,
acrescentar apelido notório o qual a pessoa é reconhecida na sociedade em que vive.
Assim, reconhecido o nome como direito da personalidade, impõe-se,
outrossim, detectar algumas de suas características mais relevantes. Assim, o direito
ao nome civil é
4:
‘i) absoluto (produzindo efeitos erga omnes);
ii) obrigatório (o art. 50 da Lei no 6.015/73 – Lei de Registros Públicos proclama a necessidade de registro civil de todas as pessoas nascidas, inclusive os natimortos);
iii) indisponível (uma vez que não pode o titular ceder, alienar, renunciar,
dentre outras formas de disposição);
iv) exclusivo (característica inerente, apenas, à pessoa jurídica, uma vez que
impossível de ser aplicada à pessoa natural, a quem se permite a homonímia);
v) imprescritível (não sendo possível perder o nome pelo não uso);
vi) inalienável (reconhecida a impossibilidade de a pessoa humana vender ou
dar o seu nome como decorrência lógica da própria impossibilidade de dispor da própria identificação pessoal. No entanto, não se olvide que a pessoa jurídica poderá dispor de seu nome de fantasia, que se trata de elemento componente de seu patrimônio);
vii) incessível (caráter privativo, também, da pessoa natural, inaplicável à
pessoa jurídica);
viii) inexpropriável (não sendo suscetível de desapropriação pelo Poder
Público, salvo em se tratando de nome de pessoa jurídica, em face de seu conteúdo patrimonial);
ix) irrenunciável (salvo casos especiais, em que se admite o despojamento
de parte do nome);
x) intransmissível (consequência natural da indisponibilidade).’
Assim, observa-se que o nome civil possui diversas características próprias,
resguardado constitucionalmente sendo absoluto, intransmissível, dentre outras, eis
que o nome é relacionado com a pessoa por toda a existência e também após a morte.
Dentre todas, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald dispõe sobre a
principal característica do nome, assim, vejamos:
‘A principal característica do nome, entretanto, é a imutabilidade relativa, compreendendo-se que, por estar intimamente ligado à identidade da pessoa, permitindo sua identificação no meio social, o nome civil somente pode ser alterado em circunstâncias excepcionais, com justa motivação e desde que não imponha prejuízo para terceiros.
’
54 Farias, Cristiano Chaves de Curso de direito civil: parte geral e LINDB, volume 1 / Cristiano Chaves
de Farias, Nelson Rosenvald. – 13. ed. rev., ampl. e atual. – São Paulo: Atlas, 2015. Pg. 239 ss.
5 Farias, Cristiano Chaves de Curso de direito civil: parte geral e LINDB, volume 1 / Cristiano Chaves
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E preconiza o art. 58 da Lei de Registros Públicos – LRP, que “o prenome será
definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios”.
Diante do exposto, cumpre ressaltar que o nome civil é matéria de ordem
pública, uma vez que todo nascimento deve ser registrado no Cartório do Registro
Civil de Pessoas Naturais, conforme disposto na Lei de Registros Públicos, nos artigos
54 e 55
6. Ademais, o Ministério Público intervirá em todos os procedimentos (judiciais
6 Art. 54. O assento do nascimento deverá conter:
1°) o dia, mês, ano e lugar do nascimento e a hora certa, sendo possível determiná-la, ou aproximada;
2º) o sexo do registrando;
3º) o fato de ser gêmeo, quando assim tiver acontecido; 4º) o nome e o prenome, que forem postos à criança;
5º) a declaração de que nasceu morta, ou morreu no ato ou logo depois do parto;
6º) a ordem de filiação de outros irmãos do mesmo prenome que existirem ou tiverem existido; 7º) Os nomes e prenomes, a naturalidade, a profissão dos pais, o lugar e cartório onde se casaram, a idade da genitora, do registrando em anos completos, na ocasião do parto, e o domicílio ou a
residência do casal.
8º) os nomes e prenomes dos avós paternos e maternos;
9º) os nomes e prenomes, a profissão e a residência das duas testemunhas do assento, quando se tratar de parto ocorrido sem assistência médica em residência ou fora de unidade hospitalar ou casa de saúde;
10) número de identificação da Declaração de Nascido Vivo, com controle do dígito verificador, exceto na hipótese de registro tardio previsto no art. 46 desta Lei; e
11) a naturalidade do registrando.
§ 1o Não constituem motivo para recusa, devolução ou solicitação de retificação da Declaração de Nascido Vivo por parte do Registrador Civil das Pessoas Naturais:
I - equívocos ou divergências que não comprometam a identificação da mãe; II - omissão do nome do recém-nascido ou do nome do pai;
III - divergência parcial ou total entre o nome do recém-nascido constante da declaração e o escolhido em manifestação perante o registrador no momento do registro de nascimento, prevalecendo este último;
IV - divergência parcial ou total entre o nome do pai constante da declaração e o verificado pelo registrador nos termos da legislação civil, prevalecendo este último;
V - demais equívocos, omissões ou divergências que não comprometam informações relevantes para o registro de nascimento.
§ 2o O nome do pai constante da Declaração de Nascido Vivo não constitui prova ou presunção da paternidade, somente podendo ser lançado no registro de nascimento quando verificado nos termos da legislação civil vigente.
§ 3o Nos nascimentos frutos de partos sem assistência de profissionais da saúde ou parteiras tradicionais, a Declaração de Nascido Vivo será emitida pelos Oficiais de Registro Civil que lavrarem o registro de nascimento, sempre que haja demanda das Secretarias Estaduais ou Municipais de Saúde para que realizem tais emissões.
§ 4º A naturalidade poderá ser do Município em que ocorreu o nascimento ou do Município de residência da mãe do registrando na data do nascimento, desde que localizado em território nacional, cabendo a opção ao declarante no ato de registro do nascimento.
§ 5º Na hipótese de adoção iniciada antes do registro do nascimento, o declarante poderá optar pela naturalidade do Município de residência do adotante na data do registro, além das alternativas
previstas no § 4º.
Art. 55. Quando o declarante não indicar o nome completo, o oficial lançará adiante do prenome escolhido o nome do pai, e na falta, o da mãe, se forem conhecidos e não o impedir a condição de ilegitimidade, salvo reconhecimento no ato.
Parágrafo único. Os oficiais do registro civil não registrarão prenomes suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores. Quando os pais não se conformarem com a recusa do oficial, este submeterá por escrito o caso, independente da cobrança de quaisquer emolumentos, à decisão do Juiz competente.
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ou administrativos) que vincularem sobre o nome civil (CPC, art. 176)
7, velando pela
composição de uma justa decisão judicial a ser proferida.
Portanto, no decorrer das páginas deste trabalho será realizado o
desenvolvimento ao que se refere as possibilidades de alteração ou implementação
de/do prenome civil previstas na legislação vigente arguidas pela doutrina, assim
como pela jurisprudência contemporânea.
7 O Ministério Público atuará na defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses e
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I.
Direitos da Personalidade sob a Ótica Constitucional:
Ao que se tange ao início da personalidade civil, dispõe o artigo 2° da Lei
Federal 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que a “personalidade civil da pessoa
começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direito
do nascituro”. Ademais, dispõe também, no enunciado da I Jornada de Direito Civil,
cujo teor dispõe que “A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto
no que concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e
sepultura.”
8Assim, ao nascer ou ainda nascituro, o ser humano adquire a condição de
sujeito de direitos, isso significa que sua dignidade, seus direitos fundamentais devem
ser respeitados. Vários direitos são inerentes à personalidade desta pessoa, como:
sua imagem, sua honra, privacidade e intimidade, religião, moral, a intelectualidade,
pois se refere a “um conjunto de direitos subjetivos que incidem sobre a própria pessoa
ou sobre alguns fundamentais modos do indivíduo, físicos ou morais, da
personalidade da pessoa humana”, segundo análise de Mota.
9“Os direitos da personalidade são como uma classe especial de direitos
subjetivos que, fundados na dignidade”
10da pessoa humana, que visam trazer e
garantir a paz e o bem-estar da pessoa consigo mesma.
Com o Código Civil de 2002, os direitos referentes à personalidade foram
elencados entre os artigos 11 ao 21
11. Ao que se refere ao aspecto constitucional, a
8 Disponível em
http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-cej/vii-jornada-direito-civil-2015.pdf. Acesso em 12/08/2017.
9 MOTA PINTO, Paulo. Notas sobre o direito ao livre desenvolvimento da personalidade e os direitos
de personalidade no direito português. In: SALET, Ingo Wolfgang (Org). A constituição concretizada: construindo pontes com o público e com o privado. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2000. pág. 62.
10 MIRANDA, Jorge; RODRIGUES JUNIOR, Otávio Luiz; FRUET, Gustavo Bonato. Direitos da
personalidade. São Paulo: Atlas, 2012.
11 Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis
e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau. Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
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Constituição Federal de 1988 enumerou os direitos fundamentais das pessoas, no
título II, à que se dispõe sob o título “dos direitos e das garantias fundamentais”, à qual
traz as prerrogativas que possuem como objetivo garantir convivência digna, livre,
igualitária para todas as pessoas, sem distinção de cor, credo ou origem.
O Código Civil de 2002, no artigo 11
12, classifica os direitos da personalidade,
caracterizando-os como: intransmissíveis, irrenunciáveis e ilimitados. Essa definição
garante a exigibilidade destes direitos, pois não podem ser transmitidos, com única
exceção (artigo 12, parágrafo único), que permite aos parentes do morto reclamar
indenização da lesão causada, nem tampouco irrenunciável ou sofrer limitação
voluntária, conforme defende Guerra.
13‘Absolutos: porque são oponíveis a todos. Intransmissíveis porque não há possibilidade de transmitir estes direitos que são inerentes da pessoa humana. Irrenunciáveis porque não existe a possibilidade de renunciar a um direito. Imprescritíveis porque o titular do direito da personalidade poderá a qualquer tempo, exercer o direito subjetivo contra os abusos a ele relacionados. Inexpropriáveis porque ninguém pode se apropriar dos direitos da personalidade, o estado e tampouco o particular.’
Para efetivação de referidos direitos, Gustavo Tapedino defende a existência
de uma cláusula geral de tutela e promoção da pessoa humana
14:
‘
Com efeito, a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento da República, associada ao objetivo fundamental de erradicação da pobreza e da marginalização, e de redução das desigualdades sociais, juntamente com a previsão do §2° do artigo 5°, no sentido de não exclusão de quaisquerArt. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial. Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome. Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.
12 CÓDIGO CIVIL de 2002: Artigo 11: Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da
personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. Disponível em www.planalto.go.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm. Acesso em 08/08/2017.
13 GUERRA, Sidney. A Liberdade de imprensa e o direito a imagem. 2. ed. São Paulo: Renovar. 2004,
Pág. 14/15.
14 TAPEDINO, Gustavo. A tutela da penalidade no ordenamento civil-constitucional brasileiro. Temas
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direitos e garantias, mesmo que não expressos, desde que decorrentes dos princípios adotados pelo texto maior, configuram uma verdadeira clausula geral de tutela e promoção da pessoa humana, tomada como valor máximo pelo ordenamento’
Portanto, se verifica que existem múltiplos conceitos quanto aos direitos da
personalidade, podendo estes serem de diversos modos, sejam de ser, físicos ou/e
morais, portanto estes precisam ser protegidos eis que cada um é específico de
acordo com as características de cada pessoa, como modo de pensar, agir e conviver
dentre os demais membros da sociedade.
Quanto aos conceitos sobre os direitos da personalidde, é de grande
importância trazer à baila alguns procedentes de grandes doutrinadores da área
civilista:
‘Rubens Limongi França: “Os direitos da personalidade dizem-se as faculdades jurídicas cujo objeto são os diversos aspectos da própria pessoa do sujeito, bem assim da sua projeção essencial no mundo exterior”.15
Maria Helena Diniz: “São direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe é próprio, ou seja, a sua integridade física (vida, alimentos, próprio corpo vivo ou morto, corpo alheio, vivo ou morto...)...e sua integridade moral (honra, recato, segredo pessoal, profissional e doméstico, imagem, identidade
pessoal, familiar e social.).”16
Francisco Amaral: “Direitos da personalidade são direitos subjetivos que têm por objeto os bens e valores essenciais da
pessoa, no seu aspecto físico, moral e intelectual”17
Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald: “Consideram-se, assim, direitos da personalidade aqueles direitos
subjetivos reconhecidos à pessoa, tomada em si mesma e em suas necessárias projeções sociais. Enfim, são direitos
essenciais ao desenvolvimento da pessoa humana, em que se convertem as projeções físicas, psíquicas e intelectuais do seu
titular, individualizando-o de modo a lhe emprestar segura e avançada tutela jurídica”.18
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho: “aqueles que têm por objeto os atributos físicos, psíquicos e morais da
pessoa em si e em suas projeções sociais.’19
15 FRANÇA., Rubens Limongi. Instituições de direito civil. 4. Ed. São Paulo: Saraiva, 1996. P. 1033. 16 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Teoria geral do direito civil. 24. Ed. São Paulo:
Saraiva, v.1, p.142.
17 AMARAL, Francisco. Direito civil. Introdução. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. P.249.
18 FARIAS. Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direito civil. Teoria Geral. 4. Ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2006. P.101-102.
19 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 6 ed. São
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Pelos conceitos acima transcritos, observa-se que os direitos da personalidade
têm por objeto os modos de ser, físicos ou morais do indivíduo. O que se busca
proteger com tais direitos são os atributos específicos da personalidade, sendo esta a
qualidade do ente considerado pessoa. “Em síntese, pode-se afirmar que os direitos
da personalidade são aqueles inerentes à pessoa e à sua dignidade (art. 1.º, III, da
CF/1988).”
20Portanto, os direitos da personalidade podem, sob este aspecto serem
reconduzidos de sua sede civil, com fundamento no artigo 11 e seguintes do Código
Civil, para as normas mais gerais do artigo 5º, X, da Constituição Federal de 1988,
segundo o qual “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação
”, assim, dessa forma, na ordem constitucional brasileira
coíbe-se quaisquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais,
conforme ensina o art. 5º, XLI, da Constituição Federal de 1988
21”. Tais direitos,
mesmo reconhecidos e garantidos pela Constituição Federal, não podem atacar os
demais direitos fundamentais, de modo que o ambiente coletivo não sofra com
individualismos e que toda sociedade venha a ter seus direitos resguardados e
apostos, sem recriminação, mas também sem infringir a vida particular das pessoas.
1.1. Características Dos Direitos da Personalidade:
Os direitos da personalidade são aqueles que resguardam a dignidade
humana.
Conforme Paulo Nader, o mesmo dispõe sobre os direitos da personalidade da
seguinte forma:
‘Os direitos de personalidade, constituem direitos subjetivos do ser humano, e assim como todo direito se origina de um fato jurídico lato sensu, os direitos da personalidade decorrem do nascimento. Este fato instaura uma relação jurídica, na qual a pessoa figura como portadora de direito subjetivo, ocupando o polo ativo, e a coletividade integra o polo passivo, assumindo a titularidade do dever jurídico. Aquele se denomina sujeito ativo da relação jurídica, enquanto a coletividade se apresenta como sujeito passivo. Depreende-se desta análise que os direitos subjetivos são absolutos, ou seja, oponíveis contra todos – erga omnes’22.
20 TARTUCE, Flávio; Manual de Direito Civil: volume único. 6 ed. Ver., atual. E ampl. Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: Método, 2016. P 99.
21 Referido inciso do artigo citado dispõe que a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos
direitos e liberdades fundamentais.
22 NADEr, Paulo. Curso de direito civil, parte geral – vol. 1 / Paulo Nader – 10.ª ed. rev. e atual. – Rio
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Portanto, os direitos da personalidade são intransmissíveis, irrenunciáveis,
imprescritíveis e, de acordo com a análise acima, absolutos, pois defluem diretamente
da individualidade da própria pessoa, algo conexo à sua natureza, e não há como
modificar o polo ativo das relações jurídicas quando o elemento é um bem que unifica
a personalidade de cada ser. Ademais, leciona Orlando Gomes, “que nos direitos da
personalidade estão compreendidos os direitos essenciais à pessoa humana, a fim de
resguardar a sua própria dignidade”.
23Assim, sendo direitos ínsitos à pessoa, em suas projeções física, mental e
moral, os direitos da personalidade são dotados de certas características particulares,
que lhes conferem posição singular no cenário dos direitos privados.
Assim, os direitos da personalidade são
24:
a) absolutos;
b) gerais;
c) extrapatrimoniais;
d) indisponíveis;
e) imprescritíveis;
f) impenhoráveis;
g) Vitaciliedade
25;
Portanto, analisemos brevemente cada um:
a) Direitos de Caráter Absolutos:
Conforme Paulo Nader
26, “os direitos da personalidade são absolutos porque
possuem eficácia contra todos (ou seja, são oponíveis erga omnes), impondo-se à
coletividade o dever de respeitá-los. É um verdadeiro dever geral de abstenção,
dirigido a todos.”
Para Pablo Stolze
27:
“O caráter absoluto dos direitos da personalidade se materializa na sua oponibilidade erga omnes, irradiando efeitos em todos os campos e impondo
23 GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995. P. 153.
24 GAGLIANO, Pablo Stolze Novo curso de direito civil, volume 1 : parte geral / Pablo Stolze Gagliano,
Rodolfo Pamplona Filho. — 14. ed. rev., atual e ampl. — São Paulo : Saraiva, 2012. P. 164.
25 GAGLIANO, Pablo Stolze Novo curso de direito civil, volume 1 : parte geral / Pablo Stolze Gagliano,
Rodolfo Pamplona Filho. — 14. ed. rev., atual e ampl. — São Paulo : Saraiva, 2012. P. 168.
26 NADER, Paulo. Curso de direito civil, parte geral – vol. 1 / Paulo Nader – 10.ª ed. rev. e atual. – Rio
de Janeiro: Forense, 2016. P. 144.
27 GAGLIANO, Pablo Stolze Novo curso de direito civil, volume 1 : parte geral / Pablo Stolze Gagliano,
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à coletividade o dever de respeitá-los. Tal característica guarda íntima correlação com a indisponibilidade, característica estudada abaixo, uma vez que não se permite ao titular do direito renunciar a ele ou cedê-lo em benefício de terceiro ou da coletividade.”
b) Direitos Gerais:
Como a própria palavra já pressupõe, a noção de generalidade significa que os
direitos da personalidade são concedidos a todas as pessoas, simplesmente pelo fato
de existirem, adquirindo assim os direitos ao nome, prenome e demais direitos
previstos constitucionalmente.
c) Direitos Extrapatrimoniais:
Referente ao tópico, Pablo Stolze dispõe da seguinte forma:
‘Uma das características mais evidentes dos direitos puros da personalidade é a ausência de um conteúdo patrimonial direto, aferível objetivamente, ainda que sua lesão gere efeitos econômicos. exemplo mais evidente dessa possibilidade é em relação aos direitos autorais, que se dividem em direitos morais (estes sim direitos próprios da personalidade) e patrimoniais (direito de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou científica, perfeitamente avaliável em dinheiro) do autor’28.
d) Indisponíveis:
A indisponibilidade significa que nem por pretensão própria do indivíduo o
direito pode mudar de titular, o que faz com que os direitos da personalidade sejam
alçados a um patamar diferenciado dentro dos direitos privados.
Ademais, referido preceito é consagrado lei n° 10.406, de 10 de janeiro de
2002, no artigo 11, que dispõe que com exceção dos casos previstos em lei, os direitos
da personalidade “são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício
sofrer limitação voluntária.”
Assim, a irrenunciabilidade exprime a ideia de que os direitos personalíssimos
não podem ser recusados. Nenhuma pessoa deve dispor de sua vida, da sua
intimidade, assim como a sua imagem, as quais, que por motivos de ordem pública
conferem o reconhecimento dessa característica. A intransmissibilidade, por sua vez,
deve ser percebida como barreira excepcional da regra de possibilidade de
modificação do sujeito nas relações genéricas de direito privado. Vale dizer, é
28 GAGLIANO, Pablo Stolze Novo curso de direito civil, volume 1 : parte geral / Pablo Stolze Gagliano,
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intransmissível, no alcance em que não se acolhe a cessão do direito de um indivíduo
para outro.
e) Imprescritíveis:
Ao que se tange à imprescritibilidade, Pablo Stolze dispõe da seguinte forma:
“A imprescritibilidade dos direitos da personalidade precisa ser entendida no sentido de que inexiste um prazo para seu exercício, não se extinguindo pelo não uso. Ademais, não se deve condicionar a sua aquisição ao decurso do tempo, uma vez que, segundo a melhor doutrina, são inatos, ou seja, nascem com o próprio homem.”29
Para Cristiano Chaves Farias, o mesmo descreve da seguinte forma:
“... a imprescritibilidade impede que a lesão a um direito da personalidade venha a convalescer com o passar do tempo, obstando a pretensão de assegurar o livre exercício do direito da personalidade. Inexiste, portanto, prazo extintivo para que seja exercido um direito da personalidade. Não se confunde, todavia, com a prescritibilidade da pretensão indenizatória decorrente de um eventual dano à personalidade. Nesse caso (pretensão reparatória pecuniária), prescreve, normalmente, em três anos a pretensão de obter indenização pelos danos sofridos, inclusive decorrentes de violação aos direitos da personalidade (CC, art. 206, § 3o, V).42 Imprescritível, assim, é a pretensão de garantir o exercício do direito, mas não a de reparar pecuniariamente um eventual dano sofrido.”30
Ademais, os Tribunais reconhecem a imprescritibilidade dos direitos de
personalidade, como se observa abaixo nas jurisprudências colacionadas:
‘IMPRESCRITIBILIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. TRABALHO EM CONDIÇÃO ANÁLOGAS À DE ESCRAVO. Seguindo o magistério doutrinário de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, a imprescritibilidade dos direitos de
personalidade deve ser entendida no sentido de que inexiste um prazo para o seu exercício, não se extinguindo pelo não-uso. Ademais, não se deve condicionar a sua aquisição ao decurso de tempo, por serem inatos, ou seja, nascem com o próprio homem. Todavia, a
imprescritibilidade do direito de personalidade, está-se referindo aos efeitos do tempo para a aquisição ou extinção de direitos. Não há como confundir,
porém, a prescritibilidade da pretensão de reparação por eventual violação a um direito de personalidade. Se há uma violação, consistente em ato único, nasce nesse momento, obviamente, para o titular do direito, a pretensão correspondente, que se extinguirá pela prescrição,
que, no caso, submete-se aos prazos previstos no art. 7º, XXIX, da Constituição Federal. (TRT-18 279200900518001 GO 00279-2009-005-18-00-1, Relator: KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE, Data de Publicação: DJ Eletrônico Ano III, Nº 179, de 01.10.2009, pág.34.)
PROCESSO CIVIL. DECISÃO QUE NEGOU SEGUIMENTO AO RECURSO E REMESSA OFICIAL, NOS TERMOS DO ART. 557, CAPUT, DO CPC. AGRAVO PREVISTO NO ART. 557, § 1º, DO CPC. PENSÃO POR MORTE.
29 GAGLIANO, Pablo Stolze Novo curso de direito civil, volume 1 : parte geral / Pablo Stolze Gagliano,
Rodolfo Pamplona Filho. — 14. ed. rev., atual e ampl. — São Paulo : Saraiva, 2012. P. 167.
30 FARIAS, Cristiano Chaves de Curso de direito civil: parte geral e LINDB, volume 1 / Cristiano
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DESMEMBRAMENTO. BENEFICIÁRIO INCAPAZ. IMPRESCRITIBILIDADE
DO DIREITO. ESTADO DE FATO. INCAPACIDADE RECONHECIDA PELA
PERÍCIA JUDICIAL. RECURSO IMPROVIDO. 1. A atual redação do art. 557 do Código de Processo Civil indica que o critério para se efetuar o julgamento monocrático é, tão somente, a existência de jurisprudência dominante, não exigindo, para tanto, jurisprudência pacífica ou, muito menos, decisão de Tribunal Superior que tenha efeito erga omnes. Precedentes. 2. Não merece prosperar o inconformismo da agravante, tendo em vista que a decisão recorrida foi prolatada em consonância com a jurisprudência do C. Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que a incapacidade, por se tratar de condição física do beneficiário, pode ser declarada a qualquer momento e não se sujeita a prescrição. 3. Afastadas conclusões do laudo administrativo: parecer unilateral. Acatadas conclusões do perito judicial, sobretudo por se tratar de perícia produzida sob contraditório. Prova devidamente analisada. conclusão alcançada em primeiro grau e ratificada na decisão agravada, segue no sentido de afastar as, por se tratar de parecer conduzido unilateralmente, acatando as 4. Precedentes citados do próprio Superior Tribunal de Justiça, julgados recentemente. 5. Considerando que a parte agravante não conseguiu afastar os fundamentos da decisão agravada, esta deve ser mantida. 6. Recurso improvido. (TRF-3 - APELREEX: 5283 SP 0005283-16.2007.4.03.6183, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO FONTES, Data de Julgamento: 12/05/2014, QUINTA TURMA) DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO - RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO - PERSEGUIÇÃO POLÍTICA DURANTE O REGIME DE EXCEÇÃO - PRISÃO E TORTURA - DANOS MORAIS - INDETERMINAÇÃO DO QUANTUM - IRRELEVÂNCIA - AUTENTICAÇÃO DE DOCUMENTOS - DESNECESSIDADE (ART. 225, CC/02)- INTERESSE DE AGIR PRESENTE - LEI FEDERAL Nº 10.559/02 E LEI ESTADUAL Nº 10.726/01 -
IMPRESCRITIBILIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS -
PRESSUPOSTOS DO DEVER DE INDENIZAR DEMONSTRADOS - JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA - TERMO INICIAL E ÍNDICES -
SUCUMBÊNCIA - NATUREZA ALIMENTÍCIA DA INDENIZAÇÃO
AFASTADA. 1. Desnecessária a autenticação dos documentos acostados pelo autor, os quais, nos termos do art. 225 do CC/02, gozam de presunção de veracidade. 2. Os danos morais, por não ostentarem natureza econômica, são insuscetíveis de avaliação pecuniária precisa de sua extensão, razão pela qual sua indeterminação no momento do ajuizamento da ação não implica inépcia da inicial. 3. A Lei Federal nº 10.559/02 diz respeito, tão somente, à reparação dos prejuízos materiais, não inviabilizando a busca judicial de compensação dos danos morais. Precedentes do C. STJ. 4. Com relação ao pedido de indenização formulado nos termos da Lei Paulista nº 10.726/01, não há notícia de que o autor tenha efetivamente recebido a reparação especial. Há, apenas, a informação de se encontrar o valor em lista de preferência, dependendo de previsão orçamentária para implementação. Princípio da inafastabilidade da jurisdição. 5. A pacificação social não pode
conviver com a perpetuação dos litígios, sendo imprescindível a fixação de prazos para o exercício de direitos e pretensões (princípio da segurança jurídica). Ademais, o decurso do tempo pode tornar extremamente difícil a resolução da lide sob a ótica probatória, sobretudo no âmbito das denominadas provas pessoais, intimamente relacionadas aos sentidos e à memória humana. 6. Não se pretende negar a natureza imprescritível dos direitos fundamentais e, consequentemente, das pretensões declaratórias subjacentes. Todavia, estender tal atributo aos efeitos patrimoniais decorrentes de sua violação redundaria em cenário de severa instabilidade jurídica. 7. Diante da inexistência de norma jurídica específica e com aptidão para declarar a imprescritibilidade da pretensão indenizatória deduzida nos autos, revela-se imperiosa a incidência do prazo geral estabelecido no artigo 1º do Decreto nº 20.910 /32, o qual deve ser contado partir da
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instauração da nova ordem constitucional. 8. A Lei Federal nº 10.559/02 (regulamenta o art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e dá outras providências), ao reconhecer o direito de reparação econômica a anistiados políticos, importou em renúncia tácita à prescrição, dando início a nova contagem do prazo. A mesma
razão deve operar em relação à Lei Paulista nº 10.726/01, modificada pela lei estadual nº 12.714/07. Prescrição afastada. No ponto, a Turma acompanhou o relator pelo resultado, reconhecendo a imprescritibilidade das pretensões decorrentes de atos perpetrados pelos agentes do Estado e equiparados na vigência do regime militar, ante a natureza fundamental dos direitos violados (cf. AgRg no Ag 1392493/RJ, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/06/2011, DJe 01/07/2011). 9. A teoria do risco administrativo já figurava como regra em nosso sistema jurídico desde a Constituição de 1.946, não sendo excluída pelo poder constituinte de 1.967, tampouco pelo de 1.969. In casu, portanto, o reconhecimento do direito à compensação dos danos morais, ainda que considerada a legislação em vigor à época dos fatos, prescinde da demonstração de dolo ou culpa dos agentes estatais. 10. Os documentos juntados aos autos comprovam a prisão indevida do autor, por motivação exclusivamente política, durante considerável período de tempo, bem assim a submissão à prática de tortura. Dano e nexo causal demonstrados. Compensação devida no importe de R$ 100.000,00. 11. Juros de mora a partir do evento danoso, nos termos da Súmula nº 54 do C. STJ (vencido o Relator nesse aspecto), considerados os índices previstos na Resolução nº 134/10 do Conselho da Justiça Federal. 12. Honorários advocatícios limitados a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), nos termos do art. 20, §§ 3º e 4º, do CPC, assim como na esteira da orientação adotada por esta Sexta Turma. 13. Os danos morais destinam-se a compensar prejuízos de ordem extrapatrimonial, não possuindo natureza alimentícia. (TRF-3 - APELREEX: 3149 SP 0003149-08.2006.4.03.6100, Relator: JUIZ CONVOCADO HERBERT DE BRUYN, Data de Julgamento: 20/06/2013, SEXTA TURMA)
IMPRESCRITIBILIDADE DO DIREITO DE AÇÃO. VÍNCULO DE EMPREGO E RESPECTIVO REGISTRO. A decisão judicial que reconhece existente o vínculo empregatício tem natureza declaratória, e não constitutiva. Tratando-se de ação declaratória, vale dizer, aquela que busca a declaração de um
direito pré-existente, não se opera a prescrição. Neste aspecto, merece destaque o § 1º, do art. 11, da CLT, que estabelece a imprescritibilidade das ações que tenham por objeto anotações para fins de prova junto à Previdência. (TRT-15 - RO: 55959 SP 055959/2006, Relator: GISELA
RODRIGUES MAGALHÃES DE ARAÚJO E MORAES, Data de Publicação: 06/12/2006)
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PERSEGUIÇÃO POLÍTICA OCORRIDA DURANTE O REGIME MILITAR. INAPLICABILIDADE DO ART. 1º DO DECRETO 20.910/1932. VIOLAÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. IMPRESCRITIBILIDADE. 1. O STJ ostenta entendimento uníssono no
sentido de ser imprescritível a pretensão indenizatória decorrente de danos a direitos da personalidade, ocorridos durante o regime militar,
razão pela qual não se aplica, nesta hipótese, o prazo prescricional quinquenal do Decreto n. 20.910/32. Precedentes: AgRg no REsp 1.467.148/SP, Relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 11/2/2015; AgRg no AREsp 611.952/SC, Relator Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 10/12/2014; AgRg nos EDcl no AgRg no REsp 1.371.539/RS, Relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 26/11/2014; e AgRg no AREsp 478.312/RS, Relator Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 2/5/2014. 2. Agravo regimental não provido.
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BENEDITO GONÇALVES, Data de Julgamento: 12/05/2015, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 19/05/2015)’31
Portantoos dos direitos da personalidade são imprescritíveis, uma vez que
asseguram os direitos individuais de cada pessoa, pois referem-se aos efeitos do
tempo para a aquisição ou extinção de direitos, conforme amplamente demonstrado
através das jurisprudências oriundas de diversos Tribunais do país.
f) Impenhoráveis:
Embora consequência lógica da indisponibilidade dos direitos da
personalidade, a ideia de impenhorabilidade merece destaque especial, eis que há
determinados direitos que se manifestam patrimonialmente, como os direitos autorais.
Para Pablo Stolze, os direitos da personalidade são impenhoráveis, vejamos:
‘Ademais, os direitos morais do agente jamais poderão ser penhorados, não existindo, porém, qualquer empecilho legal na penhora do crédito dos direitos patrimoniais correspondentes. Sob o mesmo argumento, há que se admitir a
penhora dos créditos da cessão de uso do direito à imagem’32.
g) Vitaliciedade:
Os direitos da personalidade são inatos e permanentes, os quais acompanham
a pessoa desde a primeira manifestação de vida até sua morte. Veja, que sendo
inerentes à pessoa, extinguem-se, em regra, com o seu desaparecimento. Contudo,
há direitos da personalidade que se projetam além da morte do indivíduo, como por
exemplo, o direito a imagem e o direito ao reconhecimento de seus feitos realizados
em vida (livros escritos, dentre outros).
1.2. Da Dignidade da Pessoa Humana:
Primeiramente é de grande importância citar a Declaração Universal dos Direitos
do Homem, adotada em 10 de dezembro de 1948, pela Organização das Nações
Unidas, em Assembleia Geral, a qual consagra em seu art. XXII, que:
‘Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos
31 Jurisprudências disponíveis em https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/. Acesso em
18/08/2017.
32 GAGLIANO, Pablo Stolze Novo curso de direito civil, volume 1 : parte geral / Pablo Stolze Gagliano,
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econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.’.33
A Constituição da República Federativa do Brasil consagra, em seu primeiro
artigo, o reconhecimento da matéria, destinando ainda, outros artigos com rol
exemplificativo de direitos fundamentais para garantir ao ser humano sua dignidade e
seu desenvolvimento social e pessoal. Sarlet
34, esclarece o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana:
‘[...] o reconhecimento e proteção da dignidade da pessoa pelo Direito resulta justamente de toda uma evolução do pensamento humano a respeito do que significa este ser humano e de que é a compreensão do que é ser pessoa e quais os valores que lhe são inerentes que acaba por influenciar ou mesmo determinar o modo pelo qual o Direito reconhece e protege esta dignidade.’
Por sua vez, Alexandre de Moraes, dispõe o seguinte sobre dignidade da
pessoa humana:
‘Concede unidade aos direitos e garantias fundamentais, sendo inerente às personalidades humanas. Esse fundamento afasta a ideia de predomínio das concepções transpessoalistas de Estado e Nação, em detrimento da liberdade individual. A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as
pessoas enquanto seres humanos e a busca ao Direito à Felicidade’35
Portanto, veja que ao possuir nome constrangedor a pessoa tem sua honra e
moral atingidas, de forma que lhes retiram a paz de espirito, as quais ficam
constrangidas em locais públicos, ou seja, em convívio com os demais membros da
sociedade, ou seja, de acordo com os princípios constitucionais superiores,
especialmente o princípio da dignidade da pessoa humana, em voga no mundo
contemporâneo, o indivíduo não pode ficar à mercê de um formalismo rigoroso
desnecessário, tolhedor de uma vida digna, não lhe admitindo a alteração do
prenome, ficando exposto ao ridículo, à gozação, eis que, em muitos casos, o
indivíduo chega até mesmo a adoecer perante as humilhações sofridas pelo nome
que lhe foi atribuído.
33 UNICEF BRASIL. Disponível em https://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10133.htm; Acesso em
09/08/2017.
34 SARLET, Ingo Wolfgang, Dimensões da Dignidade: ensaios de filosofia do direito e direito
constitucional. Beatrice Maurer; org. Ingo Sarlet. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2005, pág. 14.
35 MORAES, Alexandre de Direito constitucional / Alexandre de Moraes. – 33. ed. rev. e atual. até a
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Ademais, como se observa no julgado abaixo o próprio Poder Judiciário vêm
acatando os pedidos realizados pelas pessoas que se sentem humilhadas face ao
prenome, vejamos:
‘APELAÇÃO CÍVEL - RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL - MODIFICAÇÃO DE PRENOME - DIREITO DA PERSONALIDADE - ARTIGO 58 DA LEI Nº 6.015/1973 - PRINCÍPIO DA IMUTABILIDADE - RELATIVIZAÇÃO - EXCEPCIONALIDADE NÃO CONFIGURADA - RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. - De acordo com a redação do parágrafo único do art. 58, da Lei 6.015/73, impera a regra da imutabilidade do prenome, sendo permitida
excepcionalmente a sua alteração, para inclusão de nome publicamente notório, quando o prenome exponha a pessoa a situações constrangedoras ou vexatórias, ou caso a pessoa esteja sofrendo coação
ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime a justificar a substituição. - No caso destes autos, contudo, é inviável a alteração do nome da autora, porquanto o fato de ter apelido pelo qual é chamada por todos os conhecidos, por si só, não constitui hipótese excepcional a justificar a supressão do prenome. - Tendo em vista que o pedido autoral se limita à substituição do prenome, e não ao acréscimo do apelido público, o pedido deve ser julgado improcedente. - Recurso a que se nega provimento. (TJ-MG - AC: 10005140017418001 MG, Relator: Claret de Moraes (JD Convocado), Data de Julgamento: 02/02/2016, Câmaras Cíveis / 6ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 16/02/2016)’
Assim sendo, observa-se que o nome atribuído a cada pessoa no nascimento,
quando se torna motivo de humilhações, atingindo a honra, o trajeto a ser seguido, é
a alteração do registro civil pela via judicial, que será abordado posteriormente.
Portanto, ao proteger o nome, o Código Civil de 2002 nada mais fez do que
concretizar o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. Essa tutela é
importante para impedir que haja abuso, o que pode acarretar prejuízos e, ainda, para
evitar que sejam colocados nomes que exponham ao ridículo seu portador.
Porém, mesmo com essa preocupação, muitos não se sentem confortáveis
com o próprio nome ou sobrenome, ou porque lhes causam constrangimento ou
porque querem apenas que seu direito de usar o nome de seus ascendentes seja
reconhecido, uma vez que estes possuem uma história.
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II.
Do Direito à Identidade Pessoal:
No Código Civil de 2002, em seu artigo 16, dispõe que toda pessoa tem direito
ao nome, nele compreendidos o prenome e sobrenome, sendo este a maior forma de
expressão da individualidade da pessoa.
Veja que, uma vez delimitados os aspectos norteadores da evolução da
utilização do nome pelas civilizações ao longo dos tempos, existem diversas teorias
sobre a natureza jurídica do nome, sua composição e considerações sobre os atos
registrais realizados. Correspondente a isso, averígua-se possibilidades de alteração
do nome que acabam por influenciar no princípio da imutabilidade.
Por fim, apresentam-se o direito de identidade e os direitos de personalidade
como garantias constitucionais a serem seguidas, desde que observados todos os
princípios existentes.
2.1.
Do Direito ao Nome e Prenome:
Em primeiro lugar, é preciso asseverar que a ordem jurídica garante à cada
pessoa, indistintamente, o direito ao nome, que se constitui por prenome e
sobrenome.
O direito ao nome está compreendido no artigo 16 do Código Civil Brasileiro, o
qual dispõe que “toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e
o sobrenome”
36.
O nome é o meio responsável por identificar cada ser humano de forma única,
conferindo caráter personalíssimo e o distinguindo dos demais membros da
sociedade. Possui início com o registro que, em regra, acontece logo após o
nascimento e acompanha a pessoa natural por toda a vida, podendo haver reflexos,
inclusive, após sua morte.
Ademais, conforme Lei Nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, em seu artigo
50, é disposto que os pais devem realizar o registro no cartório em prazo
pré-determinado, conforme transcrição da letra da lei a seguir:
‘Art. 50. Todo nascimento que ocorrer no território nacional deverá ser dado a registro, no lugar em que tiver ocorrido o parto ou no lugar da residência dos pais, dentro do prazo de quinze dias, que será ampliado em até três meses para os lugares distantes mais de trinta quilômetros da sede do cartório.’
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Portanto, o direito ao nome é garantido a todos, pois este é elemento
designativo do indivíduo perante a sociedade, pois o nome integra a individualidade
do ser, individualizando a pessoa e indicando também, de grosso modo, a sua
procedência familiar ao longo das gerações.
Sem elemento de identificação do ser humano não existiriam documentos
históricos das civilizações, uma vez que os maiores pensadores, políticos, artistas,
dentre outras figuras importantes no cenário histórico mundial possuíam nome que os
diferenciavam de todos os demais membros existentes no planeta. Contudo, a história
e o caráter comportamental da pessoa humana sempre se refletiram nos nomes das
pessoas. Neste sentido, Pontes de Miranda discorre:
‘A história e o caráter do povo refletem-se, de certo modo, nos nomes que inventou. As invasões e as guerras inscrevem-se neles, as suas classes sociais refletem-se, bem como as suas qualidades de espiritualidade, de materialidade, de prosaísmo, de preocupação religiosa, de valentia, de heroicidade e insolência.’37
Assim, o direito de ter um nome é implicação da entrada da pessoa humana no
mundo jurídico, pois todo ser que nasce precisará auferir um nome no qual seja
identificado no grupo e ser designado na língua que é comum aos outros. É sem
dúvida o sinal maior da identificação humana.
Contudo, existem casos em que é possível a retificação, alteração do prenome,
assim como inclusão de apelido notório na sociedade, dentre outras possibilidades de
alteração a serem analisadas posteriormente.
2.2.
Natureza Jurídica do Nome:
A natureza jurídica do direito ao nome é um tema divergente, pois alguns
identificam como um direito de propriedade, onde a família é apresentada como titular
ou portadora do nome. Mas esta teoria é falha, eis que a propriedade é alienável,
prescritível e de caráter patrimonial, ao contrário do nome que é inalienável e de
caráter extrapatrimonial.
Para Paulo Nader, o nome é de patrimônio moral da pessoa, pois é o que
acompanha a mesma por toda a vida, vejamos referida citação:
‘O nome constitui um patrimônio moral da pessoa. Há profissionais que, ao longo dos anos e por força de seu valor pessoal, mérito, conseguem projetá-lo perante o público, tornando-se alvo muitas vezes de expprojetá-loração alheia
37 MIRANDA, Pontes. Tratado de Direito Privado – Parte Geral, Introdução. Pessoas Físicas e
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indevida. A utilização do nome de alguém em propaganda comercial requer a sua autorização prévia. Em segundo lugar, a lei veda a sua utilização em publicações ou representações, capazes de provocar o desprezo social. A mesma proteção dada ao nome se estende ao pseudônimo, desde que adotado para atividade lícita. Pseudônimo é recurso literário pelo qual alguém adota nome fictício sob as motivações mais diversas38’.
“A tutela deste direito da personalidade se faz impedindo o uso do nome e
pseudônimo por outras pessoas, garantindo o seu uso pelo titular do direito e
permitindo a sua modificação nos casos previstos em lei”.
39Ademais, o nome é extremamente protegido no ordenamento jurídico existente,
como se observa o disposto nos artigos 17 e 18 do Código Civil brasileiro.
2.3.
Da Composição do Nome:
A composição do nome é segundo a Lei dos Registros Públicos, composto de
duas partes: o prenome, popularmente chamado de “primeiro nome”; e o nome, que
é o patronímico ou apelido de família, habitualmente apontado como o sobrenome.
Na lei civil brasileira, além de enunciar o direito ao nome também determina sua
composição ao expor que: toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendido o
prenome e o sobrenome, conforme art. 16 do CC.
Para Jander Mauricio Brum, o mesmo dispõe da seguinte forma sobre
prenome:
‘Em relação ao prenome observa-se que este é convenientemente chamado de nome de batismo, o prenome evidencia-se como um vocábulo ou vocábulos que tem por característica individualizar a pessoa no seio de sua família e na sociedade. É o que popularmente chamamos de nome próprio ou primeiro nome de cada pessoa, mas que a lei preferiu chamar de prenome, ou seja, o que vem antes do nome.’40
Ademais, como citado anteriormente, é indispensável a existência do prenome,
já que é ele o responsável por individualizar a pessoa dentro da própria família, eis
que seus membros compartilham o mesmo sobrenome.
“A principal forma de aquisição do sobrenome é a filiação, mas existe também
a possibilidade de, durante a vida, se adquirir sobrenome através de adoção,
38 Nader, Paulo. Curso de direito civil, parte geral – vol. 1 / Paulo Nader – 10.ª ed. rev. e atual. – Rio
de Janeiro: Forense, 2016. P. 258.
39 Nader, Paulo. Curso de direito civil, parte geral – vol. 1 / Paulo Nader – 10.ª ed. rev. e atual. – Rio
de Janeiro: Forense, 2016. P. 259.
40 BRUM, Jander Maurício. Troca, Modificação e Retificação de Nome das Pessoas Naturais: doutrina
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casamento e de certa forma por mudança voluntária”
41, possibilidades estas que serão
realizadas futuramente. A Lei de Registros Públicos não determina como deve ser
feita a escolha do sobrenome do registrando, dispõe apenas no seu artigo 55
42, que
havendo omissão por parte do declarante, o oficial de registro acrescentará, ao
prenome escolhido, o nome do pai e, na falta, o da mãe.
2.4.
Princípio da Imutabilidade:
Considerando que o nome é direito da personalidade, o sistema jurídico
brasileiro abraça a regra da sua inalterabilidade relativa (LRP, art. 58), com a visível
intenção de proteger a pessoa humana.
Para Pedro Henrique de Miranda Rosa, o princípio da imutabilidade é descrito:
“Em sendo assim, em linha de princípio, o nome será alterável, tão somente, em situações excepcionais, previstas expressamente em lei, ou por força de situações outras, igualmente excepcionais, reconhecidas por decisão judicial. A situação é justificável. É que o nome implica em registro público e, via de consequência, os registros públicos devem espelhar, ao máximo, a
veracidade dos fatos da vida. Assim, “o que se pretende com o nome civil é
a real individualização da pessoa perante a família e a sociedade”, como já se disse em sede pretoriana.43”
“Desse modo, é fácil perceber a possibilidade (excepcional) de modificação do
nome, nas hipóteses previstas em lei ou com base em hipóteses outras, admitidas
judicialmente”
44.
Portanto, referido princípio dispõe que o nome não poderá ser alterado, salvo
motivo excepcional que seja possível, onde vale citar nomes constrangedores e
humilhantes.
41 FRANÇA, Rubens Limongi. Do nome civil das pessoas naturais. 3.ed. rev. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1975. p. 220.
42 Lei de Registros Públicos. Lei Nº 6.015, De 31 De Dezembro De 1973. Art. 55. Quando o declarante
não indicar o nome completo, o oficial lançará adiante do prenome escolhido o nome do pai, e na falta, o da mãe, se forem conhecidos e não o impedir a condição de ilegitimidade, salvo reconhecimento no ato.
43 ROSA, Pedro Henrique de Miranda. Direito civil: Parte Geral e Teoria Geral das Obrigações. Rio
de Janeiro: Renovar, 2003. P. 202.
44 Farias, Cristiano Chaves de Curso de direito civil: parte geral e LINDB, volume 1 / Cristiano Chaves