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JALISON FIGUERÊDO DO RÊGO

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JALISON FIGUERÊDO DO RÊGO

DETECÇÃO DE COR E FORMA POR

Callithrix jacchus EM

CATIVEIRO

Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Mestre no Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia.

NATAL

2006

(2)

JALISON FIGUERÊDO DO RÊGO

DETECÇÃO DE COR E FORMA POR

Callithrix jacchus EM

CATIVEIRO

Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Mestre no Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Fívia de Araújo Lopes.

Co-Orientador: Prof. Dr. Daniel Marques de Almeida Pessoa

(3)
(4)
(5)

"Aquele que conhece verdadeiramente os animais é por isso mesmo capaz de compreender plenamente o caráter único do homem."

(6)

AGRADECIMENTOS

A Deus e todos os seus auxiliares pelas lições da vida, pelas conquistas e por

tudo que aprendi nessa jornada.

À minha família, por todo o apoio prestado e carinho, mesmo estando

distantes.

À minha orientadora Fívia Lopes, pela paciência que teve comigo durante

todo o decorrer do curso. Suas orientações e seus conhecimentos foram

exemplos que espero poder colocar em prática durante minha vivência

científica.

Ao meu co-orientador Daniel Pessoa pela sua dedicação, paciência e

compreensão durante as primeiras fases do seu trabalho e estudo. Um

professor muito esforçado a qual admiro sua dedicação.

A Prof.ª Emília Yamamoto pela ajuda concedida para execução inicial do

projeto.

Aos meus amigos da UFRN, em especial as amigas Pollyana e Priscila por

terem me auxiliado na execução material do projeto, realização das coletas e

nos dados estatísticos. A amiga Rochele Castelo Branco pelo incentivo,

orientações e auxílio em material bibliográfico. Ao amigo Danilo, pelo

auxílio em material bibliográfico. E sem esquecer dos amigos Wall e Felipe a

qual poderam me ajudar nas análises estatísticas. Eles realmente

FRQVHJXLUDP³TXHEUDU´XPHQRUPHJDOKRQHVWDSHVTXLVD$JUDGHoRPXLWRD

ajuda destes garotos.

Aos funcionários do Núcleo de Primatologia, principalmente a pessoa

maravilhosa de Ednólia e Tota, a qual puderam auxiliar muito na execução

deste trabalho.

A coordenação do Mestrado em Psicobiologia e ao Departamento de

Fisiologia da UFRN, pelo auxílio que puderam conceder durante a execução

do projeto.

(7)

SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES...vi

RESUMO...vii

ABSTRACT...viii

INTRODUÇÃO...1

OBJETIVO GERAL...7

OBJETIVOS ESPECÍFICOS...7

HIPÓTESES E PREDIÇÕES...8

MATERIAIS E MÉTODOS...10

Local de estudo...10

Animais experimentais...10

Condições de Alojamento e manejo dos animais...10

Materiais Experimentais...11

Procedimento...13

Categorias Comportamentais...14

Análise Estatística...15

RESULTADOS...16

Análise das categorias comportamentais nas diferentes fases do dia...17

1) Latência de aproximação...17

2) Aquisição dos Alvos...18

3) Término de Realização da Tarefa...18

Análise das categorias comportamentais quanto ao sexo...19

DISCUSSÃO...21

CONCLUSÕES...25

(8)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Apresentação do aparato experimental...12

Figura 2: Médias e Intervalo de Confiança da latência de aproximação, durante

os períodos do dia...17

Figura 3 A e B: Médias e IC dos desempenhos dos animais durante a aquisição

dos alvos nos períodos do dia...18

Figura 4: Médias e IC do término de realização da tarefa dos alvos apresentados

no aparato durante as fases do dia...19

Figura 5: Médias e IC da latência de aproximação (A), latência de aquisição do

alvo 1 (B), latência de aquisição do alvo 2 (C) e tempo para o término da tarefa

(D) de acordo com os sexos e fase do dia. Círculo vazio = média para fêmeas;

círculo cheio = média para machos; linha pontilhada = IC 95% para fêmeas; linha

contínua ± IC 95% para machos...20

Tabela I: Descrição dos animais quanto ao registro, idade, sexo e origem

...11

Tabela II: Situações, diferindo o contraste entre o fundo (substrato em madeira) e

o alimento-alvo (goma comestível), apresentadas no aparato

experimental...13

Tabela III: Resultados dos testes para cada categoria comportamental de acordo

com as situações experimentais...16

Tabela IV: Análise de GLM Multivariado considerando todas as situações

(9)

RESUMO

Estudos com Callithrix jacchus que envolve diferenças entre os sexos

quanto ao desempenho em tarefas alimentares ainda oferece espaço para a

investigação de alguns fatores, dentre eles as diferenças quanto à visão de cores,

que pode influenciar diretamente a detecção de pistas visuais sobre itens

alimentares. O presente trabalho teve como objetivo analisar o desempenho de C.

jacchus em tarefas que envolvam detecção de itens alimentares. Alguns fatores

foram analisados como as diferenças de desempenho entre os sexos e as

categorias comportamentais que se apresentaram durante a realização da tarefa.

Não foram encontradas diferenças de desempenho entre os animais na realização

da tarefa, em todas as situações apresentadas, analisando as categorias

comportamentais observadas. A condição de a tarefa ser muito simples pode ter

influenciado nos resultados, não sendo possível observar diferenças de

desempenho. Machos e fêmeas apresentaram o mesmo desempenho em todas as

situações analisadas. As diferenças intersexuais não foram encontradas

possivelmente devido à influência de fatores externos, como por exemplo, a

estrutura do aparato experimental. Os animais são mais eficientes na realização

da tarefa durante o período da manhã, em comparação ao período da tarde. A

luminosidade pode ter sido um dos fatores que influenciou nestes resultados.

Devido à influência de outros fatores que possivelmente contribuiu para estes

resultados, acreditamos que resultados diferentes possam ser encontrados em

trabalhos futuros.

(10)

ABSTRACT

Callithrix jacchus studies involving differences between the sexes

regarding the performance on tasks food still offers room for the investigation of

some factors, among them there is the differences in color vision, which can

directly influence the detection of visual clues on food items. This study aimed to

analyze the performance of C. jacchus in tasks involving detection of food items.

Some factors were analyzed such as the differences in performance between the

sexes and behavioral categories present during the task. There were no

differences in performance between the animals in carrying out the task, for all

situations presented, examining the behavioral categories observed. The fact of

the task to be very simple might have influenced the results, and it was not

possible to observe differences in performance. Males and females showed the

same performance in all analyzed situations. The sex differences were not found

possibly due to the influence of external factors, such as the structure of the

experimental apparatus. The animals are more efficient in carrying out the task

during the morning, in comparison to the afternoon. The light may have been one

of the factors that influenced these results. Due to the influence of other factors

that probably contributed to these results, we believe that different results can be

found in future work.

(11)

INTRODUÇÃO

No decorrer da história evolutiva, a visão tornou-se muito importante para

os animais favorecendo a capacidade de detecção e identificação de estímulos

com grande eficiência (Lent, 2002). Esta desempenha papel importante em

segmentações de cenas, permitindo um componente estético para as experiências

visuais que resulta na percepção do mundo onde vivem (Gerfurtner & Kiper,

2003).

Não obstante, o mecanismo de processamento biológico que possibilita a

visão de cores, possui uma variação de fotopigmentos entre os cones

fotorreceptores. Tal variação pode definir duas classes de pigmentos, o que

caracteriza o dicromatismo, três classes para o tricromatismo (Jacobs, Neitz,

Deegan & Neitz, 1996a), e mesmo quatro tipos de cones, como é o caso de

muitos vertebrados (peixes, répteis e pássaros) que são caracterizados como

tetracromatas (Melin, Fedigan, Hiramatsu, Sendall & Kawamura, 2006).

Animais tricromatas têm uma dimensionalidade muito reduzida na visão

de cores, comparados aos possuidores de tetracromatismo, apesar de possuírem

uma intensidade em número indeterminado de comprimento de onda, variando

entre 400 e 800 nanômetros (Gerfurtner & Kiper, 2003). Os fótons do

comprimento de onda têm diferentes condições de serem absorvidos pelas três

classes de fotorreceptores, devido ao aumento na intensidade de luz; mudança

mais favorável para um do que outro ou ambos (Gerfurtner & Kiper, 2003).

Dessa forma, tricromatas são assim definidos como animais que possuem três

classes de fotorreceptores: com comprimento de onda longo (L); médio (M) e

curto (S) (Jacobs, 1996). Tais fotorreceptores são comumente denominados de

cones vermelhos, verdes e azuis o que se constitui um enorme engano, pois

todos

os tipos de cones são sensíveis uma ampla gama de comprimentos de onda

(Gerfurtner & Kiper, 2003).

A visão tricromata está presente em ambos os sexos para humanos,

grandes macacos, macacos do Velho Mundo, uma porcentagem de fêmeas na

(12)

maioria das espécies de macacos do Novo Mundo e alguns prossímios (Jacobs et

al., 1996). Osorio e Vorobyev (2008), sugerem que a condição tricromata está

mais presente em primatas diurnos, uma vez que a mesma traria vantagens na

utilização do ambiente. Uma teoria que é amplamente discutida está relacionada

ao contraste dos objetos sobre um fundo onde se encontra. Numa ação de

forrageamento, o alimento pode ser encontrado contra o fundo brilhante na

folhagem madura, em meio à floresta tropical, por exemplo (Surridge et al.,

2003).

A grande discussão que persiste, é quanto ao tipo de item alimentar que

poderia ser mais facilmente detectado por um indivíduo com visão tricromata.

Uma das hipóteses é que existe uma eficiência significativa em selecionar frutas

maduras em relação aos dicromatas, o que significa uma maior rapidez na

execução de tarefas de forrageio em primatas

(Smith, Buchanan-Smith, Surridge,

Osorio & Mundy, 2003). Entretanto, Stoner, Riba-Hernández e Lucas (2005)

pesquisando primatas tricromatas da espécie Alouatta palliata, sugerem que a

visão tricromata é mais relevante para a folivoria do que para a frugivoria, pois

folhas jovens são mais avermelhadas e ricas em nutrientes. Ainda, outros autores

sugerem que o tricromatismo seja mais vantajoso para outras tarefas de forrageio,

como por exemplo, a aquisição de insetos não-camuflados sobre substratos

(Melin et al., 2006).

Os dicromatas possuem uma sensibilidade espectral verde-vermelha

determinada pelos fotorreceptores L e M (Jacob, 1996). Esta condição pode

auxiliar na descoberta de texturas e sinais acromáticos (Melin et al., 2006), como

a percepção de brilho (Osorio, Smith, Vorobyev & Buchanan-Smith, 2004) a

qual poderia quebrar uma camuflagem de difícil detecção. Tal capacidade pode

possibilitar primatas selvagens nas descobertas de presas em potencial (Merlin et

al., 2006). Sendo assim, primatas não-humanos dicromatas possivelmente

possuem uma habilidade visual superior em relação à tricromatas para detectar

alimentos ou predadores quando estão camuflados (Saito, et al., 2005).

(13)

Alguns grupos primatas podem ser caracterizados pela ocorrência de um

polimorfismo visual bem evidente como, por exemplo, em primatas do gênero

Saguinus (Smith et al., 2003), da espécie Callithrix geoffroyi (Caine, Surridge &

Mundy, 2003), Callithrix penicillata (Pessoa, Tomaz & Pessoa, 2005), Callithrix

jacchus (Willian, Hunt, Bowmaker & Mollon, 1992), Ateles geoffroyi

(Riba-Hernández, et al., 2005), e Cebus capucinus (Melin et al., 2006), fato que

determina a existência de fêmeas dicromatas ou tricromatas e machos dicromatas

(Jacobs, 1998).

Se o polimorfismo está presente em várias espécies de primatas, pode-se

perguntar: Quais as vantagens que ele proporcionou? Polimórficos podem ter

uma condição mais favorável para uma dieta frugívora, devido à maior

capacidade de detectar frutas (Jacobs, 1998). Estudos feitos entre Alouatta

palliata (primata tricromata) e Ateles geoffroyi (polimórfico) demonstraram que

A. geoffroyi tem uma maior preferência por frutas avermelhadas que A. palliata,

que consumiu frutas mais esverdeadas, o que sugere uma vantagem do

polimorfismo na dieta frugívora em Platyrrhines (Stoner, Riba-Hernández &

Lucas, 2005). Se o polimorfismo proporciona vantagens na dieta frugívora,

seriam esperadas algumas variações individuais consistentes na escolha da dieta

ou estilo da coleta alimentar na mesma espécie. Contudo, até o momento

nenhuma variação foi demonstrada (Jacobs, 1998). Entretanto, o polimorfismo

também pode ser mantido por uma seleção dependente de freqüência através de

diferentes tipos de visão de cores, trazendo vantagens quanto a diferentes tipos de

itens da dieta, principalmente quando as freqüências do genótipo de dicromatas

são baixas (Saito et al., 2005).

Caine

et al., (2003) sugerem que não existem dados totalmente

conclusivos a respeito da diferença de desempenho entre dicromatas e

tricromatas. Fazendo uma análise do desempenho de Cebus capucinus selvagens,

por exemplo, Vogel, Neitz e Dominy (2007), demonstraram que não existem

diferenças entre dicromatas e tricromatas em sua taxa de aquisição de frutas, e

sugerem que possivelmente tricromatas tenham maiores vantagens na descoberta

de predadores, presas animal ou frutos sob determinadas condições. Entretanto,

(14)

Melin et al., (2006) concluíram que primatas dicromatas podem ser mais

eficientes em detectar alimento camuflado (no caso, insetos), sob condições de

luz baixa. O que se pode observar é que, de fato, outros fatores podem influenciar

o desempenho, seja de dicromatas ou de tricromatas, como a luminosidade, por

exemplo.

Assim como na maioria dos primatas do novo mundo, os calitriquídeos

são caracterizados pela presença de polimorfismo visual, o que permite a

realização de pesquisas que envolvam o desempenho em tarefas controlando

algumas variáveis e fazendo comparações intra-específicas (Caine et al., 2003).

Dessa forma, alguns estudos sugerem que primatas do gênero Callithrix

oferecem um excelente modelo para estudar as diferenças de desempenho entre

tricromatas e dicromatas (Caine et al., 2003).

Ao estudar Callithrix geoffroyi, por exemplo, com pesquisas direcionadas

para visão de cores e forrageio Caine e Mundy (2000), demonstraram que

tricromatas têm um melhor desempenho em relação a dicromatas, para encontrar

alimento de coloração laranja quando colocados alimentos de coloração verde e

laranja sobre o chão do recinto, a uma distância de seis metros do local onde foi

jogado. Ou seja, os autores verificaram diferenças no desempenho dos animais

em função do contraste entre a coloração dos alvos (verde ou laranja) e a do

substrato (verde), considerando a distância em que o estímulo foi apresentado.

Contudo, os mesmos autores concluíram que não existem diferenças de

desempenho entre tricromatas e dicromatas, quando colocados alimentos verde e

laranja sobre bandejas contendo pedaços de madeira verde, uma vez que a

distância dos animais dos alvos alimentares era menor. Em outra pesquisa, Caine

et al. (2003), utilizando à mesma espécie, demonstraram que tricromatas são

menos eficientes em encontrar cereais de coloração verde e/ou laranja, em

distâncias longas (<6m) e curtas (<0.5m) estando os alimentos camuflados, ao

contrário dos não-camuflados. Os dicromatas, por sua vez, não apresentaram

diferenças no desempenho quando os mesmos tinham que detectar cereais

(15)

alimentos não estavam camuflados, o que sugere que apesar do contraste que

possa se formar entre o alimento o substrato, a distância do animal em relação ao

alvo possivelmente não influencia sua detecção, para esses alimentos mais

conspícuos.

Derrington et al. (2002), treinando Callithrix jacchus machos para

distinguir entre as cores e tons monocromáticos da mesma imagem apresentada,

como por exemplo, objetos camuflados (principalmente na coloração vermelho e

verde), demonstraram que estes animais conseguem rapidamente aprender a

distinguir as cores. Estes resultados sugerem que estes animais, todos dicromatas,

possivelmente consigam detectar e identificar frutos comestíveis em meio às

folhagens avermelhadas.

A habilidade para aprender rápido a realizar tarefas, tendo uma

considerável eficiência em sua execução (Caldwell & Whiten, 2004) é também

outra característica interessante deste grupo de primatas, os calitriquídeos, o que

torna possível a realização de vários estudos utilizando esta ferramenta no

cativeiro. Laska e Metzker (1998), estudando Saimiri sciureus e Callithrix

jacchus em cativeiro, constataram que ambas as espécies aprendem rápido a

utilização de sinais visuais para detectar alimentos. Nos estudos com C. jacchus

observou-se que estes animais conseguem detectar cor e forma através da

associação de sinais visuais e olfativos na realização da tarefa.

Apesar do bom desempenho de uma forma geral na realização de tarefas,

os calitriquídeos podem apresentar diferenças de desempenho quanto à realização

de tarefas alimentares em relação ao sexo (Box, Röhrber & Smith, 1995; Box,

Yamamoto & Lopes, 1999; Yamamoto, Domeniconi & Box, 2004). Fêmeas de

sagüis podem ser mais eficientes, em relação a machos, na aquisição de

alimentos (Michels, 1998), realizando estratégias comportamentais que podem

estar associadas a sua condição social ou aspectos ecológicos (Bicca-Marques &

Garber, 2005). As diferenças intersexuais sugerem uma maior motivação por

parte das fêmeas em realizar tarefas que envolvem forrageio, com os machos

tendendo mais à expressão do comportamento de vigilância (Pessoa et al., 2005).

(16)

No que se refere às diferenças de desempenho em realizar tarefas

alimentares, entre gêneros, alguns fatores poderiam justificar essas situações,

como, por exemplo, a necessidade da fêmea em obter mais alimento devido ao

seu papel na reprodução (Box, 1997). Outras questões poderiam estar

relacionadas às atividades exploratórias da fêmea e sua condição de

agressividade frente às situações diversas (Box, 1997; Box et al., 1999).

Entretanto, tais resultados parecem estar relacionados ao tipo de tarefa proposta

aos animais. Castelo-Branco (2006), por exemplo, pesquisando o desempenho de

C. jacchus em realizar tarefas alimentares em cativeiro, não observou diferenças

de gênero no desempenho da tarefa. A autora atribuiu tal resultado ao fato de se

tratar de uma tarefa simples, em que machos e fêmeas estariam igualmente

motivados para sua realização.

Dessa forma, o corpo teórico que se apresenta até o momento em relação a

diferenças entre os sexos quanto ao desempenho em tarefas alimentares ainda

oferece espaço para a investigação de outros fatores, dentre eles as diferenças

quanto à visão de cores, que pode influenciar diretamente a detecção de pistas

visuais sobre itens alimentares.

(17)

OBJETIVO GERAL

Analisar o desempenho de C. jacchus em tarefas que envolvam detecção

de itens alimentares.

Objetivos Específicos

1. Investigar a existência de diferença sexual no desempenho durante

realização de tarefas alimentares que envolvam contraste entre cor e forma dos

alimentos-alvos em relação ao substrato;

2. Classificar os animais com dicromatas ou tricomatas a partir da

avaliação do desempenho de detecção do alimento;

3. Analisar as categorias comportamentais dos animais nas diferentes fases

do dia.

(18)

HIPÓTESES:

H1: O desempenho do animal em relação às tarefas de detecção de cor é

influenciado pelo sexo.

Predições:

P1: Não havendo contraste entre a coloração do alimento-alvo e a coloração do

fundo do aparato, machos apresentarão melhor desempenho na detecção do

alimento.

P2: Na condição em que a coloração dos alvos seja diferente do substrato, 2/3 de

fêmeas apresentarão melhor desempenho em relação aos machos na detecção do

alimento.

Na situação em que o alimento esteja camuflado em relação ao substrato,

espera-se que dicromatas sejam mais eficientes na tarefa alimentar, devido à

dificuldade de tricromatas terem em localizar os alimentos-alvos. Apesar de

resultados obtidos na literatura apontarem para semelhanças entre dicromatas e

tricromatas na eficiência de realizar tarefas (Caine & Mundy, 2003), isso pode

ocorrer devido à ausência significante de contraste entre o substrato e o alimento

alvo no referido trabalho. Na ocorrência de contraste entre o alvo e o substrato,

acreditamos que a maioria das fêmeas apresente melhor desempenho em função

da melhor detecção do referido contraste em decorrência de uma visão

tricromática.

H2. O desempenho do animal em relação às tarefas de detecção de forma é

influenciado pelo sexo.

(19)

Predições:

P1: Não havendo diferenças entre o formato do alimento-alvo e o formato do

fundo do aparato, machos e fêmeas apresentarão desempenho semelhante na

detecção do alimento.

P2: Na condição em que a forma dos alvos seja diferente do substrato (porém

com a mesma coloração), machos apresentarão melhor desempenho em relação

às fêmeas na detecção do alimento.

P3: Na situação em que alimento-alvo e fundo tiverem formas e cores diferentes

no mesmo aparato, machos demonstrarão maior vantagem na detecção do

alimento-alvo.

Na condição em que a forma do alimento e do substrato seja semelhante,

pode não haver diferença no desempenho dos animais, devido ao elevado grau de

dificuldade de detecção dos alvos. Entretanto, em condições que alimento-alvo e

fundo do aparato tenham formatos diferentes, machos demonstrarão melhor

desempenho em relação às fêmeas, mesmo que ambos apresentem mesma

coloração, pois os mesmos poderiam, em função da visão dicromata, estarem

sendo guiados por outras pistas, como por exemplo, intensidade de brilho.

Quando apresentados alimento-alvo e fundo do aparato, com formas e cores

diferentes, machos poderão apresentar melhor desempenho durante a tarefa de

forrageio. Nesta situação o dicromatismo pode ser favorecido através capacidade

de detecção destes animais em meio à camuflagem.

(20)

MATERIAL E MÉTODOS

Local de Estudo

As observações foram realizadas no Núcleo de Primatologia da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Este biotério de pesquisa é

composto de viveiros construídos em alvenaria, contendo telas e painéis de

observação, bem como plataformas em madeira, plataformas em alvenaria, e

elementos de enriquecimento ambiental, como galhos e balanços.

Animais Experimentais

Utilizamos para a coleta de dados 20 animais adultos (10 machos e 10

fêmeas), todos da espécie Callithrix jacchus, conforme as descrições da Tabela I.

Condições de Alojamento e manejo dos animais

Cada animal foi mantido em uma gaiola-viveiro individual, medindo

2 x 2 x 1 m. O isolamento dos animais ocorreu antes do início do experimento.

A alimentação rotineira foi mantida para os indivíduos observados, tendo sido

feita entre 07:00 e 09:00h para a alimentação da manhã, e entre 13:00 e 15:00h

para a alimentação da tarde. Alimentação rotineira é a alimentação normalmente

oferecida aos animais mantidos no Núcleo de Primatologia. Consiste de

alimentos naturais como, por exemplo, frutas (banana, melancia, melão), ovos

cozidos e alimentos industrializados como pães, mingau (com pedaços de carne

desfiada de frango). Manteve-se as condições naturais de temperatura,

(21)

Tabela I: Descrição dos animais quanto ao registro, idade, sexo e origem.

Nº DO ANIMAL SEXO FAIXA ETÁRIA ORIGEM ENTRADA NO NUCLEO DE PRIMATOLOGIA/ NASCIMENTO 874 Fêmea ADULTA CATIVO 13/01/2002 908 Fêmea ADULTA CATIVO 21/04/2003 682 Fêmea ADULTA CATIVO 19/01/1999 924 Fêmea ADULTA CATIVO 26/11/2003 1016 Fêmea ADULTA CATIVO 11/10/2006 1014 Fêmea ADULTA CATIVO 09/09/2006 952 Fêmea ADULTA CATIVO 31/07/2004 848 Fêmea ADULTA CATIVO 30/07/2001 868 Fêmea ADULTA SELVAGEM 25/08/2006 954 Fêmea ADULTA SELVAGEM 13/08/2006 771 Macho ADULTA SELVAGEM 29/09/1999 1051 Macho ADULTA SELVAGEM 21/12/2006

971 Macho ADULTA CATIVO 12/03/2003 1023 Macho ADULTA CATIVO 16/04/2006 1055 Macho ADULTA CATIVO 11/10/2006 1059 Macho ADULTA SELVAGEM 08/01/2007 1057 Macho ADULTA SELVAGEM 22/12/2006 1063 Macho ADULTA CATIVO 12/02/2007 1049 Macho ADULTA CATIVO 09/09/2006 937 Macho ADULTA SELVAGEM 16/12/2002

Materiais Experimentais

Na avaliação do desempenho dos sagüis, utilizamos alimentos à base de

DPLGR GH PLOKR JRPDV FRPHVWtYHLV SRSXODUPHQWH GHQRPLQDGDV ³MXMXEDV´

fabricadas pela empresa Dori Alimentos Ltda.), sem o açúcar que normalmente

vem em torno desses produtos. O açúcar foi retirado totalmente através de uma

imersão das gomas em água por alguns minutos. A apresentação do

(22)

alimento-alvo era realizada em depósitos plásticos, sendo colocadas apenas duas gomas

em cada recipiente (Figura 1).

Figura 1: Apresentação do aparato experimental.

Cada porção de gomas (alimentos-alvos) teve formato esférico ou

quadrado, tendo aproximadamente 1cm³. Todo o trabalho de corte da jujuba foi

realizado manualmente, até a obtenção do formato desejado. A estrutura do

aparato foi completada com pedaços cúbicos de madeira (substrato) com mesmo

tamanho dos alimentos-alvo. Os alvos de goma foram cobertos com anilina

comestível comum (esta utilizada na composição de doces e alimentos) e os

cubos de madeira foram pintados de tinta a base de óleo. Este substrato, após a

pintura, permaneceu exposto ao sol durante uma semana para diminuir o cheiro

forte dos produtos que faziam parte da composição da tinta. Tanto a anilina como

as tintas tinham a coloração verde e laranja. A escolha das cores teve como

referência o estudo de Caine e Mundy (2003). Tais cores podem ser consideradas

como de difícil discriminação para animais dicromatas. Os alimentos-alvos e os

cubos de madeira foram acondicionados em depósitos plásticos, com dimensões

de 7 x 11 x 6 cm. Estes aparatos possuíam um suporte de arame na parte lateral

do depósito plástico que os fixava à gaiola. Cada animal teve um aparato

(23)

realizado para evitar possíveis interferências em decorrência do odor dos animais

que pudesse ser deixado por outro animal no aparato.

Procedimento

As observações foram realizadas pela manhã (entre 08:00 e 10:00h) e à

tarde (entre 14:00 e 16:00h) de segunda à quinta-feira. Os animais estiveram

submetidos aos experimentos em ordem alternada, procurando assim evitar a

realização dos testes nos mesmos horários, para os mesmos sujeitos. A

organização do procedimento respeitou a apresentação do aparato experimental

em cinco situações distintas, conforme especificado na Tabela II. Cada animal foi

submetido às cinco situações, com quatro repetições por situação, por animal.

Como as observações foram distribuídas pela manhã e à tarde, das quatro

repetições previstas para cada situação, duas observações ocorreram pela manhã

e duas à tarde, durante a semana. Dependendo do horário em que fosse realilzada

a sessão de observação, a alimentação rotineira só era oferecida após o

procedimento experimental. Cada sessão observada teve tempo máximo de 10

minutos, sendo utilizado um cronômetro para medir a duração de cada sessão e

um gravador de voz portátil para registrar as categorias comportamentais.

Tabela II: Situações, diferindo o contraste entre o fundo (substrato em madeira) e

o alimento-alvo (goma comestível), apresentadas no aparato experimental.

Situação Fundo (em madeira) Alvo (goma comestível)

Forma Cor Forma Cor

1 Quadrada Verde Quadrada Laranja 2 Quadrada Verde Quadrada Verde 3 Quadrada Verde Esférica Laranja 4 Quadrada Verde Esférica Verde 5 Quadrada Verde/laranja Esférica Laranja/verde

(24)

Categorias Comportamentais

Durante

a

realização

do

experimento, observaram-se as seguintes

categorias comportamentais:

Aproximações e afastamentos: Registro do número de vezes que o animal

realizou aproximações e afastamentos em relação ao aparato (medida em

freqüência). Foi considerada aproximação quando o animal mantinha um espaço

de menos de 15 cm de distância em relação ao aparato, assim como foi

considerado afastamento quando o primata estivesse a uma distância superior a

15 cm em relação ao aparato.

Latência para aproximação do aparato: Registro do tempo transcorrido do início

da observação (colocação do aparato na gaiola do animal), até o momento que o

animal se aproxima do aparato.

Latência para aquisição do alimento: Registro do tempo transcorrido após a

aproximação do animal ao aparato, até a aquisição de um dos itens alimentares

(esta medida foi repetida para cada um dos dois itens disponibilizados para o

animal. A partir do segundo item, era considerado como tempo zero, o momento

em que o animal tivesse ingerido o item anterior).

Tempo para a realização da tarefa: Foi registrado o tempo gasto pelo animal

(25)

Análise Estatística

Utilizamos o GLM Medidas Repetidas para todas as comparações:

(1) entre as condições experimentais, para cada categoria comportamental;

(2) considerando todas as condições juntas, na comparação das variáveis: fase do

dia (manhã e tarde), sexo (macho e fêmea), e fase do dia e sexo; e

(3) entre as latências de cada categoria comportamental observada, de acordo

com a fase do dia (manhã e tarde) ou sexo (macho e fêmea). O nível de

significância adotado foi p<0,05.

(26)

RESULTADOS

Para efeito de análise, dois animais (ambos machos) foram excluídos de

nossa amostra, pois os mesmos não mostraram interesse em relação ao aparato,

mesmo tendo sido observados em todas as situações experimentais. Portanto, os

resultados apresentados a seguir referem-se às análises do desempenho de 18

animais.

Nas categorias comportamentais realizadas para a obtenção dos alvos, não

houve diferenças significativas entre as situações de realização da tarefa. Nas

cinco situações, os animais obtiveram desempenhos semelhantes durante a

interação com os alvos, não tendo sido observadas diferenças no desempenho,

considerando as categorias comportamentais observadas (Tabela III).

Tabela III: Resultados gerais dos testes para cada categoria comportamental,

quando comparadas as cinco situações experimentais.

Categorias comportamentais Período do dia gl F p

Latência de Aproximação Manhã 4, 68 0,239 0,915 Latência de Aproximação Tarde 4, 68 0,539 0,708 Latência de Aquisição (1º alvo) Manhã 4, 68 0,684 0,606 Latência de Aquisição (1º alvo) Tarde 4, 68 0,89 0,602 Latência de Aquisição (2º alvo) Manhã 4, 68 1,267 0,292 Latência de Aquisição (2º alvo) Tarde 4, 68 0,406 0,804 Latência de Término Manhã 4, 68 1,155 0,339 Latência de Término Tarde 4, 68 0,343 0,848

Como não houve diferenças entre as situações, agrupamos os resultados

das cinco situações propostas para investigar o efeito do horário da observação

(manhã ou tarde) e do sexo, tendo sido encontrada diferença significativa de

desempenho em função da fase do dia, conforme pode ser observado na Tabela

IV. As categorias de aproximação e afastamento em relação ao aparato

(27)

experimental apresentaram baixa freqüência. Após análises destas categorias, não

encontramos diferenças significativas entre as mesmas

Tabela IV: Análise de GLM Multivariado considerando todas as situações

observadas. Em destaque a diferença significativa.

F gl p ȘðParcial Poder observado

Período do dia 6,116 5, 10 0,008 0,754 0,924 Sexo 0,139 5, 10 0,979 0,065 0,070 Período do dia * Sexo 0,320 5, 10 0,890 0,138 0,099

Análise das categorias comportamentais nos diferentes períodos do dia

1)

Latência de aproximação

Houve diferenças significativas de aproximação quando se compara os

períodos em que foram realizadas. Os animais apresentaram uma latência de

aproximação significativamente menor

(F

1,14

= 7,758, p= 0,015) no período da

manhã quando comparados ao período da tarde (Figura 2).

Figura 2: Médias e IC (Intervalo de Confiança) da latência de aproximação, durante os períodos do dia.

(28)

2) Aquisição dos Alvos

Em relação à aquisição dos alvos, tanto para o alvo 1 (Figura 3 A), quanto

para o alvo 2 ( Figura 3 B), foram encontradas diferenças significativas entre os

períodos do dia (F

1,14

=

8,869, p= 0,010 para alvo 1 e

F

1,14

= 18,508, p= 0,001 para

alvo 2). Durante a manhã, os animais parecem estar mais motivados a obter o

alimento.

Figura 3 A e B: Médias e IC da latência de aquisição dos alvos nos diferentes

períodos do dia.

3) Término de Realização da Tarefa

Em relação ao término de realização da tarefa, também foi encontrada

diferença entre os períodos do dia. O animal termina a tarefa com maior rapidez

pela manhã, quando se compara com o período da tarde (F

1,14

= 8,117, p= 0,013)

(Figura 4).

(29)

Figura 4: Médias e IC do tempo para término da tarefa nos diferentes períodos do

dia.

Análise das categorias comportamentais quanto ao sexo

Na análise do desempenho quanto ao sexo, não havíamos encontrado

diferenças entre machos e fêmeas (ver Tabela IV). Os animais apresentaram

desempenhos semelhantes no que se refere à obtenção dos alvos, tal como pode

ser observado na Figura 5 (A, B, C, D).

(30)

Figura 5: Médias e IC da latência de aproximação (A), latência de aquisição do alvo 1 (B), latência de aquisição do alvo 2 (C) e tempo para o término da tarefa (D) de acordo com os sexos e fase do dia. Círculo vazio = média para fêmeas; círculo cheio = média para machos; linha pontilhada = IC 95% para fêmeas; linha contínua ± Intervalo de confiança de 95% para machos.

A

B C

(31)

DISCUSSÃO

Alguns estudos sugerem que machos e fêmeas de C. jacchus apresentam

diferenças de desempenho na aquisição de alimento (Box, Röhrber & Smith,

1995; Box, Yamamoto & Lopes, 1999; Yamamoto et al., 2004). Michels (1998),

pesquisando fêmeas de sagüis observou que estas são mais eficientes do que

machos para obter comida, eficiência também observada no trabalho de Pessoa et

al. (2005).

Como essas diferenças poderiam ser explicadas? Inicialmente, é

importante destacar, que as diferenças intersexuais podem ser moduladas por

alguns fatores, tais como a condição social em que o animal se encontra no

grupo, e ainda as condições ecológicas que se apresentam no local, uma vez que

esses fatores podem interferir para uma maior ou menor eficiência no

desempenho dos animais quando estão em busca de alimento (Bicca-Marques &

Garber, 2005).

Por outro lado, as necessidades nutricionais das fêmeas em calitriquídeos,

por exemplo, decorrentes de uma reprodução custosa (Box, 1997; Box et al.,

1999), exerceria uma pressão para que a mesma buscasse com maior empenho o

alimento em diversas situações que poderiam ser apresentadas no contexto do

grupo. Tal característica poderia ser algo evolutivamente marcante para fêmea.

Analisando sobre outro ponto, fêmeas em geral podem ser mais eficientes

na execução de tarefas devido à condição tricromática, se comparadas aos outros

animais de uma mesma população (Jacobs, 1998). Tricromatas são mais

eficientes em encontrar alimentos quando estes estão em contrate em relação ao

fundo o qual se observa, sendo assim mais eficientes em realizar tarefas de

forrageio (Smith et al., 2003). Mas em outras condições machos podem ser mais

eficientes em localizar comida. Numa situação onde o alimento se encontra

camuflado, que torna difícil a sua localização, machos podem quebrar esta

camuflagem e então executar com mais êxito sua obtenção por alimento (Saito et

(32)

Em relação ao nosso estudo, entretanto, não observamos diferenças

significativas quanto ao desempenho dos animais nas situações apresentadas. A

maioria dos animais conseguiu realizar a tarefa com êxito em todas as situações

apresentadas (a exceção de dois animais que foram retirados das análises, pois

sequer se aproximavam do aparato experimental), isto sendo então uma

característica interessante nestes primatas: a rápida capacidade de aprender a

execução de tarefas (Caldwell & Whiten, 2004)

.

Também não apareceram diferenças entre os sexos quando da execução da

tarefa. Esperávamos que o desempenho dos animais fosse diferente em relação

ao sexo, para localização de cor e forma dos estímulos apresentados. Contudo, na

observação feita em relação ao desempenho dos animais para detecção de

estímulos em tarefas alimentares, não existe diferenças significativas entre os

sexos. Machos e fêmeas obtiveram resultados semelhantes em todas as situações

testadas. Tal condição também foi observada por Caine e Mundy (2002), ao

realizar pesquisa semelhante tanto no que se refere à apresentação de estímulos,

como na demonstração do aparato.

Uma das possibilidades de interpretação quanto ao desempenho, pode se

dever à própria natureza da tarefa proposta aos animais. Machos e fêmeas podem

ter apresentado desempenho semelhante na resolução de nossa tarefa de

encontrar alimento, devido à simplicidade da execução da mesma, que não exigiu

deles habilidades cognitivas mais complexas. Castelo-Branco (2006) também

analisando o desempenho de C. jacchus na resolução de tarefas alimentares,

observou um efeito semelhante: ao apresentar uma tarefa simples, que no caso da

referida autora consistia na abertura de um pequeno pote plástico para aquisição

de alimento, machos e fêmeas apresentaram padrões semelhantes na resolução da

tarefa. Além disso, a própria estrutura do aparato (considerando sua forma), pode

ter favorecido a execução da tarefa. Caine e Mundy (2002), ao utilizar bandejas

com pedaços de madeira e alimento para verificar a diferença de desempenho em

(33)

táteis e as formas dos estímulos (foi utilizado cereal esférico sob substrato

angular), pode ter auxiliado alguns animais na obtenção de êxito na realização da

tarefa.

Em outra pesquisa, Caine et al. (2003), verificaram diferenças no

desempenho em tarefas alimentares quando os estímulos eram colocados a certa

distância do recinto. Nessa pesquisa, tricromatas tiveram pior desempenho nas

habilidades de forrageio para comida camuflada, tendo mais êxito em alimento

não-camuflado a distâncias longas (<6m) e pequenas distâncias (>0.5m). Porém,

não encontraram diferenças nas habilidades de dicromatas para descobrir comida

camuflada e não-camuflada. Não obtiveram nenhuma diferença entre tricromatas

e dicromatas para aquisição de alimento camuflado e não-camuflado. Em nosso

estudo, verificou-se que não houve diferenças de desempenho entre os animais

testados para estímulos camuflados e não-camuflados. A distância em que os

animais se encontravam do aparato era pequena (<15cm), para realização da

tarefa. Tal condição pode ter contribuído para a semelhança dos resultados,

quando se refere ao êxito dos primatas testados.

Dessa forma, a estrutura do

aparato experimental poderia exercer grande influência, tal como observado por

Gomes et al. (2005), pesquisando primatas da espécie Cebus apella. Esses

autores verificaram que mesmo considerando o polimorfismo visual, dicromatas

apresentaram a mesma capacidade de discriminação na localização de estímulos

quando comparados a tricromatas, quando o aparato era montado numa estrutura

muito grande, demonstrando, portanto, a influência que a estrutura do aparato

experimental pode exercer sobre o desempenho de aquisição dos itens

alimentares pelos animais.

Quando se analisa o desempenho dos animais nas situações apresentadas,

em relação aos períodos do dia, verificamos uma diferença de desempenho entre

todos os animais. Estes primatas são mais eficientes na execução de tarefas

durante o período da manhã em comparação ao período da tarde. Fatores

externos contidos no recinto podem propiciar estas condições. A luminosidade,

por exemplo, em certas condições pode favorecer a visibilidade dos animais em

(34)

localizar alimento (Melin et al. 2006), ou então até mesmo contribuir para que

alguns outros possam obter sucesso no forrageio devido à melhora na sua

capacidade de detecção visual. Apesar de não termos a medida exata da

incidência de luz em cada uma das gaiolas dos animais, nos diferentes horários

de observação, durante o período da manhã, a luminosidade é mais intensa,

mesmo em locais mais isolados (Melin et al., 2006), o que pode ter favorecido

uma maior capacidade de detecção de estímulos aumentando assim o êxito na

execução de tarefas. Esta pode ter sido uma variável que influenciou a

visibilidade dos animais.

Outra

possibilidade

de

interpretação do melhor desempenho no período da

manhã que também não pode ser descartada é a rotina dos animais na colônia. No

Núcleo de Primatologia, onde realizamos nossa coleta de dados, o alimento

rotineiramente distribuído aos animais é retirado de sua gaiola-viveiro por volta

das 16:30h, sendo oferecido novamente alimentação no dia seguinte. Um maior

período de privação alimentar durante a manhã se comparado ao período da

tarde, pode ter motivado mais fortemente os animais para a realização da tarefa.

Por fim, não nos foi possível uma classificação de dicromatas e

tricromatas em nossa amostra. Numa população de calitriquídeos, observa-se

normalmente o fato de que existem fêmeas dicromatas ou tricromatas e machos

dicromatas (Jacobs, 1998). Uma vez que faríamos tal classificação a partir de

inferência de acordo com os padrões comportamentais dos animais, e devido à

falta de diferenças no desempenho entre machos e fêmeas na execução de tarefas,

não tivemos como realizar tal classificação.

(35)

CONCLUSÕES

Nossos resultados nos permitiram chegar às seguintes conclusões:

1.

Os animais obtiveram desempenhos semelhantes na realização da tarefa, não

tendo sido observadas diferenças no desempenho, nas cinco situações

apresentadas, analisando as categorias comportamentais observadas;

2. Não existiram diferenças de desempenho em relação ao sexo. Machos e

fêmeas obtiveram desempenhos semelhantes em todas as situações analisadas;

3. Os animais são mais eficientes na realização da tarefa durante o período da

manhã, em comparação ao período da tarde;

4. Não possível classificar os animais em dicromatas e tricromatas através das

análises de desempenho em tarefas alimentares.

Em decorrência de outras variáveis que possam ter influenciado nossos

resultados, tal como apresentamos na discussão, acreditamos ser possível à

observação de resultados diferentes dos aqui apresentados se tais variáveis

puderem ser controladas em experimentos futuros.

(36)

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