• Nenhum resultado encontrado

A EJA E O DESAFIO DE CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O CAMPO.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "A EJA E O DESAFIO DE CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O CAMPO."

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

A EJA E O DESAFIO DE CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O CAMPO.

Maria Elioneide de Souza Costa ALUNA (elibaby15@gmail.com) – UECE-FAFIDAM Francisca Solyanne Alves Costa ALUNA (solyanneshow@hotmail.com) – UECE-FAFIDAM João Paulo guerreiro de Almeida ALUNO (joão_paulo_guerreiro@hotmail.com) – UECE-FAFIDAM Sandra Maria Gadelha de Carvalho PROFESSORA DRA.

(sandragade@yahoo.com.br) – UECE-FAFIDAM

RESUMO

A EJA no Brasil tem sua origem com a catequização dos Jesuítas na Colônia e no Século XIX temos as escolas noturnas. Com o avanço tecnológico e econômico exige-se mão-de-obra alfabetizada. Na Constituição de 1988 a modalidade EJA é reconhecida como direito de todos. Referente à educação do Campo ao longo da nossa história, as escolas foram sempre tratadas com políticas compensatórias. O presente trabalho apoiado pelo CNPQ tem o desafio de mostrar como a EJA pode ser importante na construção de escolas adequadas à população do campo entre outros benefícios. Esta pesquisa se insere nos estudos realizados pelo Laboratório de Estudos de Educação do Campo – LECAMPO da Universidade Estadual do Ceará – UECE, campus Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos – FAFIDAM faz parte da construção do projeto de pesquisa de Iniciação Científica, com o título de: “A Educação de Jovens e Adultos no Vale do Jaguaribe: Políticas, Concepções e Ações – 1960 a 2010”. A pesquisa buscou dados bibliográficos em documentos, livros e projetos. Conclui- se que é necessário que se apresente políticas públicas que garanta a todos os cidadãos acesso a uma educação gratuita e de qualidade, respeitando a realidade dos mesmos.

PALAVRAS CHAVES: EJA, POLÍTICAS PÚBLICAS, EDUCAÇÃO DO CAMPO.

1.APRESENTAÇÃO

O presente artigo tem como objetivo refletir a importância da EJA na transformação social, compreender as dificuldades de sua implantação como política permanente, num país desigual como o Brasil e referente à Educação do Campo como esta pode ser de grande importância para que se construam políticas públicas destinadas

(2)

a realidade das pessoas que vivem e trabalham no campo com o objetivo de erradicar o analfabetismo. Ressaltando que este trabalho se insere no Projeto de pesquisa, de Iniciação Científica, com o título de: “A Educação de Jovens e Adultos no Vale do Jaguaribe: Políticas, Concepções e Ações – 1960 a 2010.” Que acontece no âmbito do Laboratório de Estudos da Educação do Campo- LECAMPO, da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos- FAFIDAM, que pertence à Universidade Estadual do Ceará- UECE.

É importante lembrar que o LECAMPO foi uma conquista através do projeto de pesquisa: “Educação do Campo: uma análise político – pedagógica do PRONERA/UECE e suas relações com o desenvolvimento sócio - econômico no Vale do Jaguaribe”, coordenado pela professora Dra. Sandra Maria Gadelha de Carvalho foi aprovado no edital nº 3/2006 da Fundação Cearense de Apoio à Pesquisa- FUNCAP.

Este trabalho orientado a partir dos objetivos do projeto de pesquisa do LECAMPO busca também relacionar a Educação de Jovens e Adultos com o Desenvolvimento Sustentável no Campo, para com os Movimentos Sociais e trabalhadores rurais, residentes em áreas de assentamentos rurais de Reforma Agrária e em que esta fortalece a agricultura familiar, proporcionando uma vida de melhor qualidade para estes sujeitos.

Usando como método de investigação, estudos bibliográficos, sobre a história da Educação de Jovens e Adultos, (EJA) no Brasil, Educação do Campo, Reforma Agrária, Agricultura Familiar, Assentamentos Rurais e Movimento dos trabalhadores rurais Sem Terra (MST).

No primeiro momento, procuro fazer um breve percurso da EJA no Brasil, no âmbito de várias transformações, num segundo, falo um pouco sobre o Movimento Sem Terra (MST), sobre a Educação do Campo, destacando o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) e faço uma relação com a Agricultura Familiar. Num terceiro momento mostro a importância da relação entre Universidade e movimentos sociais, citando exemplos de duas instituições que fazem parceria para que se desenvolvam projetos educativos no Campo beneficiando ambos os lados, mostrando a importância da socialização.

2. Implantação da EJA no Brasil: Breve histórico.

No período colonial, a alfabetização de adultos, tinha o objetivo de instrumentalizar a população, ensinando a ler e escrever. Nesta concepção os colonos poderiam ler o catecismo e seguir as ordens da corte, assim também como os índios e, mais tarde, para que os trabalhadores conseguissem cumprir as tarefas impostas pelo Estado. Tais educadores religiosos transmitiam normas de comportamento e ensinavam os ofícios necessários ao funcionamento da economia colonial. No entanto, com a expulsão dos jesuítas em 1759, o sistema de ensino sofreu grande desorganização e somente no Império é que surgem novas iniciativas de escolarização de adultos.

A primeira Constituição brasileira de 1824 firmou sob influência européia, a garantia de uma “instrução primária e gratuita para todos os cidadãos”, mas não passou da intenção legal, pois no período imperial o direito a cidadania cabia apenas pequena parcela da população que pertencia à elite econômica, ficando sem o direito á educação primária, os negros, indígenas e muitas mulheres. Ao final do Império, 82% da população com idade acima de cinco anos eram analfabetas.

A constituição de 1934 propôs um Plano Nacional de Educação (PNE) e pela primeira vez a Educação de Jovens e Adultos era reconhecida e recebia um tratamento particular. Na década de 1940 a Educação de Adultos firmou-se como um problema de políticas nacional instituiu-se em 1942 o Fundo Nacional do Ensino Primário (FNEP) e

(3)

através dos recursos do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), o fundo deveria ampliar a educação primaria e incluir o Ensino Supletivo. Ao mesmo tempo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO, criada em 1945 exerceu influencia positiva em relação à educação no Brasil e em especial a EJA.

Em 1947 foi instalado um movimento em favor da educação de adultos chamada de Serviço de Educação de Adultos (SEA) estendendo-se até o final da década de 1950 e denominando-se em Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos – CEAA, com o objetivo não só de alfabetizar, mas aprofundar o trabalho educativo, esta atuou tanto no meio rural como no meio urbano. Esta contribuiu até certo ponto para a diminuição do analfabetismo no Brasil, apesar de estar muito ligada à formação de contingente eleitoral. O Ministério da Educação e Cultura (MEC) realizou mais duas outras Campanhas, sendo elas: a Campanha Nacional de Educação Rural (CNER) e a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (CNEA). As duas realizaram pouco e não se prolongaram.

Os esforços empreendidos durante as décadas de 1940 e 1950 fizeram cair os índices de analfabetismo das pessoas acima de cinco anos de idade para 46,7% no ano de 1960. Os níveis de escolarização da população brasileira permaneciam, no entanto, em patamares reduzidos quando comparadas à média dos países do primeiro mundo e mesmo de várias dos vizinhos latino – americanos. Em 1958, no contexto da CEAA, ocorreu o II Congresso Nacional de Educação de Adultos no Rio de Janeiro, tinha como objetivo avaliar as ações realizadas na área e visando propor soluções adequadas para a questão.

No período que vai do fim da Ditadura Militar até a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 9.394/96. Foi marcada por intensa mobilização dos movimentos sociais, dos anos 1959 até 1964 aconteceram movimentos e campanhas, a partir da concepção político-pedagógica esboçada por Paulo Freire surgem, nos anos 60-70 novos movimentos e experiências educativas, como os Centros Populares de Cultura - CPCs da UNE, Movimentos de Cultura Popular- MCPs (PE e RN), Movimento de Educação Base - MEB, Comunidades Eclesiais de Base- CEBs, dentre outras que, por compreenderem a educação numa perspectiva política transformadora, vão contribuir para o redimensionamento das lutas e práticas educativas da fase de redemocratização, pós-ditadura militar, subsidiando político e filosoficamente, propostas educativas vigentes no momento atual.

Considerado um momento fértil na história da educação no país, os anos 60-70 têm sido referência na história da educação de jovens e adultos, no Brasil, sendo por isso um marco delimitador de inúmeros estudos e pesquisas na área.

Surge o Movimento Brasileiro de Alfabetização- MOBRAL em 1967, este chegava com a promessa de acabar com o analfabetismo em dez anos, chegou imposto, sem a participação dos educadores e de grande parte da sociedade, mais adiante o ensino Supletivo foi implantado, precisamente no ano de 1971, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de número 5.692. No capítulo IV dessa LDB que o mesmo foi regulamentado. Na visão de (Haddad, 1991) os centros de Estudos Supletivos não atingiram seus objetivos verdadeiros, pois, não receberam o apoio político nem os recursos financeiros suficientes para sua plena realização. Alem disso, seus objetivos estavam voltados para os interesses das empresas privadas de educação.

Com a extinção do MOBRAL, em 1985, este foi substituído pela Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos - EDUCAR. Na Constituição de 1988, importantes avanços foram destinados à Educação de Jovens e Adultos. O ensino

(4)

fundamental, obrigatório e gratuito, passou a ser garantida pela Constituição e também para os que a ela não tiveram acesso na idade apropriada.

No Governo de Collor 1990, a Fundação Educar foi Extinta, substituída pelo Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania (PNAC), esta proposta que já nasceu morta nunca se fez política e foi abandonada.

O Programa Alfabetização Solidária- PAS implantada em 1997 teve uma expansão rápida, destinada ao público juvenil e aos municípios e periferias urbanas em que se encontram altos índices de analfabetismo do país. Ao mesmo tempo em que o PAS se afirmava, uma luta se organizava na sociedade, representada pelos Fóruns de EJA, que se formam através das preparações para a V Conferencia Internacional de Educação de Adultos em Hamburgo, Alemanha (V CONFINTEA), esta alargou o sentido de Educação por toda a vida e direitos de todos.

O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) foi operacionalizado a partir de 1998, está ligado ao Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB) com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), coordenado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) vinculado ao Ministério Extraordinário da Política Fundiária (MEPF). Foi capaz de introduzir uma proposta de políticas públicas de Educação de Jovens e Adultos no meio rural no âmbito das ações governamentais da Reforma Agrária.

Em Janeiro de 2003, foi criada a Secretaria Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo (SEEA) e foi lançado o Programa Brasil Alfabetizado (PBA) que objetiva alfabetizar Jovens e Adultos e também formar alfabetizadores, o qual se encontra em andamento.

Em 2004 em resposta às reivindicações dos movimentos sociais de que a alfabetização se integrasse a políticas públicas de educação básica- resposta facilitada por mudanças políticas na direção do MEC, a SEEA foi incorporada à Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) que, além de gerir o PBA, assumiu também a responsabilidade sobre a EJA e sobre programas voltadas a atenção e valorização da diversidade, entre elas a Educação do Campo.

Em 2004, por iniciativa do Ministério da Educação, foram promovidos em vários Estados brasileiros, em parceria com as Secretarias Estaduais de Educação, seminários para se discutir com representantes dos movimentos sociais rurais, ONGs, gestores municipais de educação e professores, entre outros, as Diretrizes Curriculares para a Educação do Campo. Neste evento, enquanto se realizavam diagnósticos da realidade dos Estados, levantaram-se propostas para o futuro que sinalizam para uma atuação fundada em bases concretas da Coordenação da Educação do Campo, integrante da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) deste ministério. (CARVALHO, 2006 P: 38).

Como mostra a citação, a Educação do Campo é feita especificamente para atender os interesses dos sujeitos que vivem no Campo, atendendo suas realidades do dia a dia, por isso a necessidade de se criar as Diretrizes Curriculares. Pensar sobre uma política pública curricular para a Educação do Campo que conceba os sujeitos do processo educativo como povos do campo, como povos que possuem sua marca territorial bem definida, significa pensar a política curricular como um espaço de direitos da população do campo.

3. MST, Educação do Campo e Agricultura Familiar.

Em 1984, foi fundado oficialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), através do seu Primeiro Encontro Nacional que reuniu dezesseis Estados brasileiros em Cascavel, Estado do Paraná. Neste encontro foi colocada em prática uma das principais estratégicas dos sem-terra a união dos diversos movimentos

(5)

que agiam de forma isolada, dando um caráter nacional ao movimento. Segundo Fernandes (2000) os objetivos delineados foram: lutar pela Reforma Agrária; por uma sociedade justa, fraterna e acabar com o Capitalismo; integrar à categoria dos sem-terra:

trabalhadores rurais, arrendatários, meeiros, pequenos proprietários etc.; a terra para quem nela planta e dela precisa para viver.

A luta do MST não abrange somente um pedaço de terra, eles lutam também por educação, saúde, moradia, política agrícola, transporte, lutam por respeito ao cidadão, contra o Capitalismo, pois as condições que os levaram a essa condição de Sem Terra, foi fruto do desenvolvimento do Capitalismo no Campo a na cidade. Nestes 26 anos de sua existência, realizando ocupações de fazendas passíveis de desapropriação, acampamentos permanentes, pressões em órgãos públicos que são ocupados, marchas nacionais, caminhadas, jejuns, o MST tem conquistado vitórias e libertado muitas terras.

De 2003 a 2008, 3.089 assentamentos foram implantados em todo o Brasil, num total de 519.11 famílias assentadas. Apesar de toda a resistência e batalhas de séculos contra essa estrutura de poder, ainda não foi possível implantar a Reforma Agrária, tão sonhada por trabalhadores rurais, devido a uma oligarquia rural presente há 500 anos em nosso país.

A luta dos movimentos sociais pela Reforma Agrária questiona a estrutura agrária brasileira e a produção agrícola que se constitui a partir da colonização e que se caracterizou pela predominância de latifúndios e por uma produção agrícola extensiva de monoculturas voltadas para o mercado externo e também de grandes extensões de terras ociosas ou improdutivas, que funcionavam mais como reserva e valorização do mercado de terras. Dados do Censo Agropecuário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2006, e divulgado em 2009, mostram que os estabelecimentos com mais de 1000 hectares ocupavam 43% da área total de estabelecimentos agropecuários no Brasil, enquanto que os menos de 10 hectares ocupavam somente 2,7% da área total. Isso nos mostra que o Brasil é o 2º país com maior concentração de terras. A luta continua e os movimentos sociais enxergam a organização social como um fortalecimento para se conseguir alcançar seus objetivos.

Contudo, nos assentamentos tem sido conquistadas escolas, projetos produtivos, segurança alimentar, pois a Reforma Agrária não se restringe somente á conquista da Terra, se tornou uma luta por políticas públicas de apoio a agricultura familiar e camponesa que assegurem melhores condições de vida, justiça e paz no Campo. Um dos principais desafios do MST, entre vários, é a formação política dos trabalhadores, dos participantes dessa grande luta, é levar os militantes á construção de uma consciência social e política.

O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) como já foi dito é um programa criado desde 1998 com iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, para o desenvolvimento de educação nas regiões de assentamentos e acampamentos de Sem Terra, oferta alfabetização, educação básica e profissional, além da formação e habilitação de professores nas regiões de assentamentos e de acampamentos. Entre 1999 e 2002 o PRONERA alcançou 105.491 assentados inscritos em cursos de alfabetização, elevação de escolaridade e formação técnica profissional, dos quais 56.776 concluíram o nível ou modalidade de estudo pretendida. Foram habilitados no nível Superior ou médio 1074 professores. No período de 1998 a 2002, foi executada, no Programa, uma média anual de R$ 9,4 milhões. No período 2003-2006, a execução do Programa apresenta expansão, saindo de uma execução de R$ 10,9 milhões, em 2003, subindo em

(6)

2004 para R$ 22,1 milhões, chegando a R$ 32,8 milhões em 2005, e a R$ 35 milhões em 2006.

No que se refere à Agricultura Familiar, esta defendida pelos movimentos sociais do Campo, em confronto ao Agronegócio. A mesma é reconhecida no Brasil como um setor estratégico para o desenvolvimento e abastecimento do país em termos de produção de alimentos, geração de ocupações no Campo e conservação dos recursos naturais. Segundo o Censo Agropecuário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2006 e divulgado em 2009, Os 4,3 milhões de estabelecimentos familiares de produção são responsáveis por 38% do Valor Bruto da Produção (VBP) gerado no país. Setor responsável por mais de 50% da produção de importantes produtos da cesta alimentar diária da população, exemplo: o feijão (70%), a mandioca (87%), leite (58%), aves (50%), suínos (59%), o milho com (46%), o arroz (34%) e 38% do café. Existe uma diversidade de produtos ofertados pela Agricultura Familiar que garante o abastecimento diário de alimentos e a soberania alimentar no país.

Em termos de trabalho no Campo, a Agricultura Familiar se destaca por absorver 79% das pessoas ocupadas na Agropecuária brasileira, com apenas 32% da área total de produção do país e computando 88% do número de estabelecimentos existentes no meio rural. O Rural, no entanto possui especificidades e oportunidades para o alcance do desenvolvimento sustentável que devem ser trabalhadas e pautadas na construção de políticas públicas.

O processo de reconstrução da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER) no país teve início em 2003, por meio do Decreto nº 4.739, de 13 de junho de 2003, que transferiu o Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (DATER) para a Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). No mesmo ano foi elaborada, a nova PNATER, com a participação das diversas esferas do Governo Federal, sociedade civil, lideranças das organizações de representação dos agricultores familiares e dos movimentos sociais comprometidos com a questão. O público beneficiário da PNATER são os agricultores familiares, assentados, quilombolas, pescadores artesanais, etc.

conforme a Lei nº 11.326/2006.

A Política Nacional de Ater tem como objetivo estimular, animar e apoiar iniciativas de desenvolvimento rural sustentável envolve tanto atividades agrícolas e não agrícolas, tendo como centro o fortalecimento da Agricultura Familiar.

O Governo Federal ampliou gradativamente os recursos financeiros para ATER no país de forma a reestruturar o serviço nos Estados. O montante de recursos financeiros para ATER passou de R$ 400 milhões em 2009. A disponibilização do recurso financeiro para as instituições nos Estados passa por avanços na descentralização do recurso do Governo Federal, que deverá ter maior agilidade atendendo as especificidades do rural.

O Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PRONATER) para Agricultura Familiar e Reforma Agrária no Programa Plurianual (PPA) – é um instrumento de implementação da PNATER, visando disciplinar, ampliar, organizar e qualificar as ações de ATER. Mais de 10 mil profissionais foram capacitados nos últimos anos em temáticas como agroecologia, metodologias participativas, desenvolvimento sustentável, crédito rural, entre outras, para atuarem com a nova ATER.

Alguns destaques são importantes na reflexão sobre os avanços em políticas estruturais para a Agricultura Familiar. Um exemplo é o Programa de Alimentação Escolar, instituído pela Lei nº 11.947/2009 que determina a utilização de, no mínimo,

(7)

30% dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para alimentação escolar, na compra de produtos da Agricultura Familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando os assentamentos de Reforma Agrária, as comunidades tradicionais indígenas e quilombolas.

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) é outra referencia, criado em 1995, financia projetos individuais ou coletivos, que geram renda aos agricultores familiares e assentados da Reforma Agrária. O Programa possui baixas taxas de juros dos financiamentos rurais. Embora o Governo Lula, em 2003, tenha acabado com o Programa Banco da Terra e lançado em 21 de novembro deste mesmo ano, na Conferência da Terra, o II Plano Nacional de Reforma Agrária (MDA/2003), e com ampliação dos recursos para o Programa de Crédito Rural (PRONAF) com o objetivo de seu fortalecimento o desafio da sustentabilidade dos assentamentos continua permanente.

Associada a necessidade de convergência de políticas públicas para a Agricultura Familiar, está a necessidade de convergir os projetos dos diferentes setores para melhorar a saúde, a educação, a infroestrutura e a pesquisa no rural. A ATER pública, gratuita e de qualidade tem viabilizado nos últimos anos processos sustentáveis no rural, potencializando a capacidade da Agricultura Familiar de destacar-se em termos de produção e consumo. Porem, o desafio é de todos os que buscam construir um desenvolvimento sustentável no Campo e nas cidades.

4. A Universidade e sua contribuição para a Educação do Campo: dois exemplos.

As instituições de Ensino Superior, especialmente as Universidades públicas são fundamentais na execução dos projetos vinculados a programas que beneficiem a Educação do Campo, especificamente o PRONERA que como já foi mostrado anteriormente este Programa consiste na conquista esforçada dos movimentos dos trabalhadores rurais sem terra (MST) junto ao CRUB, coordenado pelo INCRA e vinculado ao MEPF.

No Ceará, na Universidade Estadual do Ceará (UECE), o PRONERA institui-se desde 27 de Dezembro de 2005, quando foi assinado convenio com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, para a execução de três Projetos educativos no Campo, pela constatação de uma demanda pelo MST. Os Projetos são Escolarização I e II de Trabalhadores (as) Rurais em Áreas de Assentamentos no Estado do Ceará, coordenado pela professora Dra. Sandra Maria Gadelha de Carvalho (FAFIDAM-UECE) e Formação de Educadores em Áreas de Assentamentos – Magistério da Terra, coordenado pelo professor Dor. José Ernandi Mendes (FAFIDAM-UECE). Este último, concluído neste ano de 2010, formou 107 educadores (as) de nível médio na modalidade de Magistério que atuaram nos dois projetos anteriores sem formação específica, havendo uma integração entre os demais.

Os dois primeiros escolarizaram em nível de 4ª série do ensino fundamental, próximo de 1.700 jovens e adultos viventes em áreas de Reforma Agrária.

Na Universidade Estadual do Ceará, os projetos Magistério da Terra e Escolarização I e II, tiveram uma proposta curricular, envolvendo seus diversos sujeitos com seus diferentes saberes, aprofundando as relações entre Universidade e os movimentos sociais, entre realidade Urbana e do Campo.

Outro exemplo entre a parceria Universidade e movimentos sociais é a Universidade Federal da Paraíba, que promove o curso de Especialização em Educação do Campo e Agricultura Familiar Camponesa para o desenvolvimento do Campo. Tem o objetivo de preparar profissionais das Ciências Agrárias e áreas correlatas para

(8)

interagir e intervir adequadamente na realidade das áreas de Reforma Agrária e assentamentos buscando dar sua contribuição para o processo de desenvolvimento sustentável, melhorando a qualidade de vida dos sujeitos que vivem e trabalham no Campo do nosso Brasil.

Diferentemente do modelo de Agricultura Industrial, os cursos promovidos pelas Universidades através do PRONERA incorporam as idéias dos movimentos sociais, buscando atender aos interesses dos pequenos produtores, que tem sua produção mais voltada para a subsistência e para o mercado.

Considerações finais

A Educação no Brasil vem enfrentando grandes desafios desde quando esta no período colonial não contava com muitos recursos nem era destinada a todos. A Educação de Jovens e Adultos, fortalecido o sentido de aprender por toda a vida e educação continuada a partir da V CONFITEA vem sendo fortalecida com as lutas dos movimentos sociais que referente à Educação do Campo vem formando Jovens e Adultos, desde a alfabetização até cursos superiores.

Com o PRONERA em âmbito nacional os sujeitos do Campo vêm adquirindo seus espaços na sociedade, e a reflexão do social em termos políticos se fazem necessário na construção de consciências críticas, no que se refere às lutas por Reforma Agrária, por uma sociedade mais justa, por direitos do cidadão, por uma agricultura fortalecida no campo, por políticas públicas que beneficiem e melhore a vida no Campo.

A união entre trabalhadores do Campo se torna essencial quando se busca um novo modelo de desenvolvimento, que seja conservador das estruturas agrárias vigentes em nosso país, um modelo que privilegie aqueles que trabalham com a terra e dela tiram o sustento. Lembrando que a sustentabilidade nos assentamentos onde passam a residir após a desapropriação da terra são desafios constantes para o MST, levando-os a protagonizarem sua sobrevivência.

O papel da Universidade em união com os movimentos sociais para a promoção de uma educação no Campo se torna necessário para que aja uma interação, uma troca de valores entre o Urbano e o Rural. Os cursos do PRONERA realizados nestas universidades públicas têm provocado alguns impactos do ponto de vista do ensino, da pesquisa e da extensão, no entanto mesmo com algumas conquistas os movimentos sociais continuam lutando por políticas que beneficiem a Educação do Campo, a Agricultura Familiar, terra para se habitar e construir vivências mais humanas com valorização da natureza.

Referencias Bibliográficas

Geração de trabalho e renda, gestão democrática e sustentabilidade nos empreendimentos econômicos e solidários/ Organizadores Claiton Mello, Jorge Streit, Renato Rovai. São Paulo: Publisher Brasil, 2009.

CARVALHO, Sandra M. G. de. Educação do Campo: Pronera, uma política pública em construção. 2006. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará – UFC, Fortaleza, 2006.

FERNANDES, Bernardo Mançano. A formação do MST no Brasil. Petrópolis, RJ, Vozes, 2000.

(9)

CONFINTEA V. Declaração de Hamburgo. V Conferencia Internacional de Educação de Adultos. Hamburgo, Alemanha, Jul.1997.

HADDAD, Sérgio. Estado e educação de adultos (1964-1985). 1991. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1991.

IBGE. (2006) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário.

Brasília – Brasil.

Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Documento Nacional Preparatório a VI Conferência Internacional de Educação de Adultos (VI CONFINTEA) / Ministério da Educação (MEC). Brasília:

MEC; Goiânia: FUNAPE/UFG, 2009.

Referências

Documentos relacionados

PAGAMENTO DA COMISSÃO DO LEILOEIRO: A comissão devida ao Leiloeiro será de 5% (cinco por cento) sobre o valor da arrematação, não se incluindo no valor do lanço (art. 7 da

Com a garantia do melhor serviço e com todo o conforto, realizamos a sua inspeção automóvel no centro de inspeções de Aveiro, na zona industrial da Tabueira, perto da

Resultados obtidos do primeiro dia da análise para as sete amostras utilizando-se a curva analítica da sibutramina (Figura 15). Amostra Corrente (nA) Concentração (mg L -1 ) (mg

O tema proposto neste estudo “O exercício da advocacia e o crime de lavagem de dinheiro: responsabilização dos advogados pelo recebimento de honorários advocatícios maculados

d) Os portões de acesso ao interior dos lotes, através dos muros, terão altura igual à destes. Os projetos das novas edificações ou de alteração das

firmada entre o Sinduscon-AL e Sindticmal e que não tiver nenhuma ausência em cada período de aferição, bem como contar com 3 (três) meses ou mais de vigência de contrato de

nesta nossa modesta obra O sonho e os sonhos analisa- mos o sono e sua importância para o corpo e sobretudo para a alma que, nas horas de repouso da matéria, liberta-se parcialmente

Nos termos do Acordo de Empresa em vigor, a Empresa assumiu responsabilidades pelo pagamento aos empregados que foram admitidos na Empresa até 31 de Dezembro de 2003, de