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FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO LICENCIATURA EM ENGENHARIA ELECTROTÉCNICA E DE COMPUTADORES. Apontamentos das Aulas Teóricas

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(1)

LICENCIATURA EM ENGENHARIA ELECTROT ´

ECNICA

E DE

COMPUTADORES

An´

alise Matem´

atica 3

Equa¸c˜

oes Diferenciais

Apontamentos das Aulas Te´

oricas

Maria do Ros´ario de Pinho e Maria Margarida Ferreira

Edi¸c˜ao revista. Agosto 2004

(2)

Estas notas poder˜ao ter algumas incorrec¸c˜oes. Os autores agradecem que estas lhes sejam comunicados.

Agradecem-se tamb´em quaisquer sugest˜oes para melhorar a exposi¸c˜ao. Pede-se aos alunos que verifiquem todos os c´alculos aqui apresentados.

(3)

1 Introdu¸c˜ao 5

1.1 No¸c˜oes B´asicas . . . 5

1.2 Equa¸c˜oes Diferenciais: Algumas Defini¸c˜oes . . . 7

2 Equa¸c˜oes Diferenciais de Primeira Ordem 11 2.1 Campos de Direc¸c˜oes . . . 11

2.2 Existˆencia e Unicidade de Solu¸c˜ao . . . 15

2.3 Resolu¸c˜ao de Equa¸c˜oes Diferenciais . . . 20

2.3.1 Equa¸c˜oes de Vari´aveis Separadas . . . 21

2.3.2 Equa¸c˜oes Diferenciais “Homog´eneas” . . . 26

2.3.3 Equa¸c˜oes Redut´ıveis a Equa¸c˜oes Homog´eneas . . . 28

2.3.4 Equa¸c˜oes Diferenciais Lineares de Primeira Ordem . . . 29

2.3.5 Equa¸c˜ao de Bernoulli . . . 31

2.3.6 Equa¸c˜oes Diferenciais Exactas . . . 31

2.3.7 Equa¸c˜oes Diferenciais Redut´ıveis a Exactas . . . 35

2.4 Aplica¸c˜oes de Equa¸c˜oes Diferenciais de Ordem Um . . . 37

3 Equa¸c˜oes Diferenciais Lineares de Ordem N 43 3.1 Conceitos Fundamentais . . . 43

3.2 Operadores Diferenciais . . . 45

3.3 Wronskiano . . . 51

(4)

3.4 Equa¸c˜oes Diferenciais Lineares Homog´eneas de Coeficientes Constantes de Ordem 2 58 3.5 Equa¸c˜oes Diferenciais Lineares Homog´eneas de Coeficientes Constantes de Ordem N 65

3.6 Equa¸c˜oes Diferenciais N˜ao Homog´eneas de Coeficientes Constantes . . . 69

3.7 Redu¸c˜ao de Ordem de uma Equa¸c˜ao Diferencial Linear de Ordem N . . . 75

4 Sistemas de Equa¸c˜oes Diferenciais 78 4.1 Introdu¸c˜ao . . . 78

4.2 Sistema Linear de Equa¸c˜oes Diferenciais . . . 80

4.3 Solu¸c˜ao de Sistemas Lineares Invariantes no Tempo . . . 83

4.4 Conceitos de ´Algebra Linear: Formas de Jordan . . . 92

4.5 C´alculo das Solu¸c˜oes de Sistemas Lineares . . . 105

4.6 Sistemas Lineares For¸cados . . . 113

4.7 Diagramas de Fase . . . 115

(5)

Introdu¸

ao

O estudo das equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias ´e de particular importˆancia em engenharia, porque muitas leis f´ısicas traduzem-se matematicamente nestas equa¸c˜oes. Agora, em An´alise Matem´atica 3, iremos considerar v´arios problemas que podem ser modelizados matematicamente usando equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias. Ser˜ao abordados trˆes grandes quest˜oes relacionadas com estas equa¸c˜oes (n˜ao necessariamente por esta ordem): 1) modeliza¸c˜ao de situa¸c˜oes f´ısicas, 2) existˆencia e unicidade de solu¸c˜ao e 3) resolu¸c˜ao de equa¸c˜oes diferenciais.

1.1

No¸

oes B´

asicas

Chama-se equa¸c˜ao diferencial a uma equa¸c˜ao que relaciona uma fun¸c˜ao y(x), as suas derivadas e a vari´avel independente x, i.e., ´e uma equa¸c˜ao do tipo:

F (x, y, y0, y00, . . . , y(k)) = g(x) (1.1) onde g ´e uma fun¸c˜ao que depende somente de x. As equac˜oes,

(y0)2 = cos(x),

y00

− 3y = 0, x2y000

− xy0+ y = ex,

s˜ao exemplos de equa¸c˜oes diferenciais. Nestes exemplos a inc´ognita, ou seja, a fun¸c˜ao y, depende de uma s´o vari´avel independente, x∈ R.

Em geral, a inc´ognita ´e uma fun¸c˜ao

y : D⊂ Rn−→ Rm 5

(6)

onde n, m≥ 1.

Equa¸c˜oes envolvendo fun¸c˜oes deste tipo e que se podem escrever na forma (1.1) designam-se por equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias (ou, para simplificar, EDO).

Existe um outro tipo de equa¸c˜oes diferenciais designadas por equa¸c˜oes `as derivadas parciais, equa¸c˜oes essas do tipo:

F³x, y, ∂y ∂x1 , . . . , ∂y ∂xn ,∂ 2y ∂x2 1 . . . , ∂ 2y ∂x1∂xn , . . .´= 0.

Neste caso a vari´avel independente x est´a definida emRn, com n > 1. Exemplo de uma equa¸c˜ao

`as derivadas parciais ´e a da difus˜ao ou condu¸c˜ao do calor:

α2∂

2u(t, x)

∂x2 =

∂u(t, x) ∂t . Neste caso, a vari´avel independente ´e (t, x)∈ R × R.

O estudo das equa¸c˜oes diferenciais `as derivadas parciais sai do ˆambito desta cadeira.

Nos exemplos que demos at´e aqui de equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias e de equa¸c˜oes `as derivadas parciais, a inc´ognita ´e uma fun¸c˜ao tomando valores em R. Contudo, nada nos impede de considerar y(x)∈ Rm. S˜ao de particular interesse as equa¸c˜oes diferenciais de “primeira ordem”

(em que k = 1 em (1.1)) onde a vari´avel independente ´e escalar e a inc´ognita y toma valores em Rm, ou seja, ´e da forma:

y : I ⊂ R −→ Rm,

com I ⊂ R e m ≥ 1. Este tipo de equa¸c˜oes aparecem historicamente ligados a problemas de movimento em que a vari´avel independente representa o tempo. Assim, ´e usual represent´a-la por t e a fun¸c˜ao que se deseja encontrar por x, uma vez que, em problemas de movimento, ´e a vari´avel usada para representar o vector posi¸c˜ao de um m´ovel. ´E pr´atica geral escrever ˙x em vez de x0 quando queremos designar a derivada de uma fun¸c˜ao que depende do tempo. Esta

nota¸c˜ao parece ser geralmente aceite por todos. S˜ao equa¸c˜oes diferenciais da forma

˙x(t) = f (t, x(t)) (1.2) onde x : I −→ Rm t 7→ (x1(t), x2(t), . . . , xm(t)) f : I× Rm −→ Rm (t, x) 7→ (f1(t, x), f2(t, x), . . . , fm(t, x))

(7)

A equa¸c˜ao diferencial (1.2) ´e uma representa¸c˜ao vectorial do sistema de equa¸c˜oes diferenciais              ˙x1(t) = f1¡t, x1(t), x2(t), . . . , xm(t) ¢ ˙x2(t) = f2¡t, x1(t), x2(t), . . . , xm(t) ¢ · · · · · ˙xm(t) = fm¡t, x1(t), x2(t), . . . , xm(t) ¢ Como exemplo de um sistemas de equa¸c˜oes diferenciais consideremos:

(

˙x1(t) = x2(t)

˙x2(t) = x1(t) + t

Vamos agora introduzir alguma ordem e precis˜ao para que nos possamos entender no estudo futuro que pretendemos fazer.

1.2

Equa¸

oes Diferenciais: Algumas Defini¸

oes

Consideremos uma EDO (equa¸c˜ao diferencial ordin´arial) tal como est´a definida em (1.1).

Defini¸c˜ao 1.2.1 Designa-se por ordem de uma equa¸c˜ao diferencial `a maior das ordens das derivadas da inc´ognita que nela aparecem. ¤

Consideremos a equa¸c˜ao

y0− cos(x) = 0.

A vari´avel y representa uma fun¸c˜ao que depende de x. Presente na equa¸c˜ao apenas a derivada de 1a

¯ ordem de y. Logo trata-se de uma equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem.

Consideremos agora a equa¸c˜ao

y9(y00)5− 3y0

− x6= 0

Esta ´e uma equa¸c˜ao de segunda ordem. O facto da segunda derivada estar elevada a uma potˆencia n˜ao modifica em nada a ordem da equa¸c˜ao.

No que se segue focaremos a nossa aten¸c˜ao nas equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias escritas na forma (1.1) onde a inc´ognita y ´e uma fun¸c˜ao da forma

y : I → R (2.1)

e I ´e um intervalo de R.

Definida ordem, interessa agora saber o que se entende precisamente por resolver uma equa¸c˜ao diferencial. A pergunta que se p˜oe ´e a de saber o que ´e uma solu¸c˜ao de uma equa¸c˜ao diferencial.

(8)

Defini¸c˜ao 1.2.2 Uma solu¸c˜ao de uma equa¸c˜ao diferencial ordin´aria de ordem k, definida num intervalo I = (a, b) (onde a poder´a ser −∞ ou b = +∞) ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua, com derivadas at´e `a ordem k, definidas nesse intervalo, e que, juntamente com as suas derivadas, satisfaz a

equa¸c˜ao diferencial dada. ¤

´

E de importˆancia fundamental saber em que intervalo I consideramos a equa¸c˜ao definida. Pela exposi¸c˜ao anterior, dever´a ser claro que “resolver uma equa¸c˜ao diferencial” ser´a determinar “a” ou “as” fun¸c˜oes y que satisfazem a equa¸c˜ao, se ´e que existem. De facto, h´a exemplos de equa¸c˜oes diferenciais para os quais n˜ao h´a solu¸c˜ao.

Na defini¸c˜ao anterior referimos uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial. Estamos assim `a partida a supor que poder˜ao existir mais do que uma. Vejamos que tal pode ser o caso.

Exemplo 1.2.3 Consideremos a equa¸c˜ao diferencial xy0 = 2y onde x

∈ (0, +∞). Trata-se de uma equa¸c˜ao de primeira ordem (note-se que x 6= 0). Consideremos uma fun¸c˜ao y(x) = x2

definida em (0, +∞). Facilmente se verifica que y0(x) = 2x e que xy0 = 2x

· x = 2x2 = 2y. Ou seja, conhecemos uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial dada. Contudo, qualquer fun¸c˜ao definida em (0, +∞), da forma y(x) = Kx2 onde K simboliza uma qualquer constante n˜ao nula

tem derivada dada por y0(x) = 2Kx, ou seja, ´e tamb´em solu¸c˜ao da equa¸c˜ao. N˜ao obtemos

uma solu¸c˜ao mas sim uma infinidade de solu¸c˜oes da equa¸c˜ao diferencial, todas elas definidas no mesmo intervalo (0, +∞). Tal n˜ao nos deve surpreender; na resolu¸c˜ao desta equa¸c˜ao est´a impl´ıcita uma integra¸c˜ao (porquˆe?) e sabemos que a integra¸c˜ao introduz constantes arbitr´arias.¤

Lembremos que uma fun¸c˜ao ´e definida por um trio (A, B, f ), onde A ´e o dom´ınio, B o conjunto de chegada e f a correspondˆencia entre elementos de A e B. A express˜ao f (x) = x2 quando definida em (0, +∞) ou, por exemplo, em R representa duas fun¸c˜oes distintas. Em particular, quando definida em (0, +∞), ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial dada no exemplo anterior, mas n˜ao o ´e quando o dom´ınio ´eR.

A determina¸c˜ao de solu¸c˜oes de uma equa¸c˜ao diferencial n˜ao ´e, em geral, f´acil. Perante uma dada equa¸c˜ao diferencial, a primeira quest˜ao que se levanta ´e de saber se existe solu¸c˜ao. Esta quest˜ao de existˆencia de solu¸c˜ao de equa¸c˜oes diferenciais ´e crucial. Como j´a afirm´amos nem todas as equa¸c˜oes diferenciais tˆem solu¸c˜ao.

Suponhamos que sabemos que uma dada equa¸c˜ao diferencial tem solu¸c˜ao. Ser´a que a solu¸c˜ao ´e ´

unica? Neste caso, estamos perante uma quest˜ao de unicidade de solu¸c˜ao. No exemplo anterior verificou-se que pode existir uma infinidade de solu¸c˜oes correspondentes a uma infinidade de escolha de uma constante. Suponhamos que estamos s´o interessados nas solu¸c˜oes dessa equa¸c˜ao

(9)

diferencial que satisfazem a condi¸c˜ao inicial y(1) = 0. Ser´a que existe alguma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao dada que satisfaz esta condi¸c˜ao? Consideremos uma fun¸c˜ao da forma y(x) = Kx2 definida para todo o x > 0 e tal que y(1) = 0. Ent˜ao y(x) = 0 ´e uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial que satisfaz a condi¸c˜ao dada y(1) = 0. Ser´a que ´e a ´unica solu¸c˜ao?

Por vezes uma solu¸c˜ao de uma equa¸c˜ao diferencial poder´a n˜ao ter uma forma simples. Por exemplo, existem solu¸c˜oes de equa¸c˜oes diferenci´aveis que s˜ao definidas implicitamente por uma equa¸c˜ao alg´ebrica.

A existˆencia e unicidade de solu¸c˜ao s˜ao quest˜oes importantes no estudo de equa¸c˜oes diferenciais. Para que o estudo das equa¸c˜oes diferenciais seja o mais simples poss´ıvel ´e usual dividir as equa¸c˜oes em classes. Podemos dividi-las em equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias e em equa¸c˜oes `as derivadas parciais. Nesta disciplina, estudaremos apenas equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias. Estas podem ser tamb´em divididas por ordem da equa¸c˜ao: equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias de primeira ordem, de segunda ordem, etc. H´a ainda uma outra divis˜ao poss´ıvel e desej´avel: a divis˜ao entre equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias lineares e n˜ao lineares. O estudo de, por exemplo, equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias de ordem 1 lineares e o de equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias de ordem 1 n˜ao lineares ´e muito diferente.

Defini¸c˜ao 1.2.4 A equa¸c˜ao diferencial ordin´aria (1.1) diz-se linear se a fun¸c˜ao F for uma fun¸c˜ao linear nas vari´aveis y, y0, . . . , y(n). Caso contr´ario, a equa¸c˜ao diferencial diz-se n˜ao

linear. ¤

Lembremos que uma fun¸c˜ao G(w) diz-se linear se satisfizer a

G(αw1+ βw2) = αG(w1) + βG(w2)

para quaisquer w1, w2 pertencentes ao dom´ınio de G e α, β ∈ R.

Exemplo 1.2.5 Consideremos a equa¸c˜ao diferencial

y00− x2y0− y = cos(x)

Comparando com (1.1) vem F (x, y, y0, y00) = y00− x2y0− y. Consideremos ent˜ao duas fun¸c˜oes

y1 e y2 e dois escalares α, β. Queremos verificar se F ´e linear nas vari´aveis y, y0, y00. Assim,

F (x, α(y1, y01, y100) + β(y2, y02, y200)) = F (x, αy1+ βy2, αy10 + βy20, αy100+ βy002)

= αy00

1 − x2αy10 − αy1+ βy200− x2βy20 − βy2

(10)

Seguindo o mesmo procedimento, ´e facil verificar que a equa¸c˜ao diferencial (y0)2− y = 0

n˜ao ´e linear. Realmente, para y = αy1+ βy2 onde α, β ∈ R, y1 e y2 duas fun¸c˜oes e F (y, y0) =

(y0)2− y, temos

F (y, y0) = α2(y01)2+ β2(y02)2+ 2αβy10y20 − αy1− βy2 6= αF (y1, y10) + βF (y2, y20)

Observe-se que a n˜ao linearidade da equa¸c˜ao diferencial dada ´e consequˆencia directa do termo (y0)2, que ´e obviamente n˜ao linear. ¤

Exerc´ıcio 1.2.6 Determine a ordem e classifique as seguintes equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias em lineares e n˜ao lineares: (i) y00− y0+ y2= 0 (ii) exy(5)− x2 = 1 y (iii) sen(x)y00− y000 = 0 (iv) sen(y0)x3− y = 0

O estudo de equa¸c˜oes diferenciais lineares est´a bem desenvolvido. O mesmo j´a n˜ao se pode dizer sobre as equa¸c˜oes diferenciais n˜ao lineares. Para colmatar muitas lacunas na teoria de equa¸c˜oes diferenciais n˜ao lineares e sempre que o que se pretende ´e um estudo “local” das equa¸c˜oes, podem aproximar-se as equa¸c˜oes n˜ao lineares por outras que s˜ao lineares. Como exemplo, consideremos a equa¸c˜ao que modela o movimento do pˆendulo. O ˆangulo α que um pˆendulo de comprimento l, em oscila¸c˜ao, faz com a direc¸c˜ao vertical satisfaz a equa¸c˜ao

d2α d t2 +

g

l sin(α) = 0

Trata-se de uma equa¸c˜ao de segunda ordem n˜ao linear cuja inc´ognita ´e a fun¸c˜ao α. A ”n˜ao lin-earidade” ´e causada pelo termo sin(α). Sabe-se contudo que para valores pequenos do ˆangulo α, sin(α) ´e aproximadamente α. Substituindo ent˜ao sin(α) por α obtemos uma equa¸c˜ao diferencial linear

d2α

d t2 +

g lα = 0.

Verifica-se que esta equa¸c˜ao ´e realmente uma “boa aproxima¸c˜ao” da equa¸c˜ao n˜ao linear dada, pois, qualquer solu¸c˜ao da equa¸c˜ao linear ´e uma boa aproxima¸c˜ao de alguma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao n˜ao linear para valores de α pr´oximos de 0.

(11)

Equa¸

oes Diferenciais de Primeira

Ordem

Vamos agora dedicar-nos ao estudo de equa¸c˜oes diferenciais de primeira ordem. Partes da mat´eria aqui abordada, em especial muito do que se refere a equa¸c˜oes diferenciais lineares, foi j´a dada na disciplina de An´alise Matem´atica 1.

2.1

Campos de Direc¸

oes

Considere-se equa¸c˜oes diferenciais da forma

y0(x) = f (x, y) (1.1) Por motivos que se tornar˜ao claros mais tarde ´e usual escrever a derivada de y na nota¸c˜ao de Leibniz:

y0(x) = dy dx

Resolver a equa¸c˜ao (1.1) ´e determinar a solu¸c˜ao (se existir!) ou solu¸c˜oes da equa¸c˜ao, ou seja, determinar a fun¸c˜ao ou fun¸c˜oes que satisfazem a equa¸c˜ao. A informa¸c˜ao sobre uma dada fun¸c˜ao f poder´a ser dada de v´arias formas. Pode-se definir uma fun¸c˜ao explicitando o dom´ınio,o conjunto de chegada e a lei que une os objectos `as respectivas imagens. Alternativamente informa¸c˜ao sobre a fun¸c˜ao poder´a ser dada por uma tabela de pontos da forma (x, y) onde y = f (x), ou ainda pode-se ter o gr´afico de f , i.e., a representa¸c˜ao geom´etrica da fun¸c˜ao.

A equa¸c˜ao diferencial (1.1) fornece ela mesmo informa¸c˜ao sobre o gr´afico das solu¸c˜oes. Sendo f uma fun¸c˜ao definida em<2 e tomando valores em <, considere-se um ponto (x

1, y1) do plano

(12)

R2 para a qual a fun¸c˜ao f da equa¸c˜ao diferencial (1.1) est´a bem definida e suponhamos que

tal ponto pertence ao gr´afico de uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao (i.e., que existe uma fun¸c˜ao ¯y tal que (x1, y1) satisfaz a

(x1, y1)∈ Gray¯={(x, y) ∈ R2 : ¯y(x) = y},

ou seja, ¯y(x1) = y1).

Deduz-se de (1.1) que a derivada de ¯y no ponto x1 ´e ¯y0(x1) = f (x1, y1). Geometricamente este

facto pode ser representado tra¸cando emR2 um vector v1:

• de norma unit´aria com ponto inicial (x1, y1),

• apontando no sentido de crescimento dos valores da abcissa, • cujo declive ´e f(x1, y1).

Assim, o gr´afico da poss´ıvel solu¸c˜ao da equa¸c˜ao que passa no ponto (x1, y1) dever´a ter como

tangente nesse ponto uma recta cujo vector direc¸c˜ao ´e dado por v1. O conjunto de todos estes

vectores aplicados a pontos (x, y) onde a fun¸c˜ao f est´a definida designa-se por campo de direc¸c˜oes ou campo de vectores da equa¸c˜ao (1.1) (ver figura da p´agina seguinte).

Os campos de direc¸c˜oes podem ser facilmente esbo¸cados `a m˜ao. ´E evidente que n˜ao podemos tra¸car segmentos de rectas em todos os pontos do plano. O ideal ´e considerar uma rede de pontos no plano e marcar, em cada ponto extremo da rede, os referidos vectores.

Os campos de vectores s˜ao particularmente ´uteis na determina¸c˜ao do comportamento qualitativo das solu¸c˜oes de equa¸c˜oes diferenciais. Podem mesmo ajudar a determinar regi˜oes de interesse particular.

Determinar uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao (1.1) resume-se assim a determinar uma fun¸c˜ao cujo gr´afico ´e uma curva, designada por curva integral, tal que a direc¸c˜ao da tangente `a mesma em cada ponto coincide com a direc¸c˜ao do campo de direc¸c˜oes nesse ponto.

Algum cuidado deve ser posto no esbo¸co dos campos de direc¸c˜oes e na sua interpreta¸c˜ao. Os pontos para os quais a fun¸c˜ao f n˜ao est´a definida s˜ao pontos singulares da equa¸c˜ao diferencial (1.1).

Defini¸c˜ao 2.1.1 Chama-se isoclina ao lugar geom´etrico dos pontos nos quais as tangentes `as curvas integrais de uma equa¸c˜ao diferencial tˆem todas o mesmo declive. ¤

Qualquer isoclina da equa¸c˜ao (1.1) ´e definida pelo conjunto de pontos (x, y) para os quais f (x, y) = C, onde C ´e uma constante (e diz-se que esse conjunto de pontos forma a isoclina C).

(13)

Quando C = 0, obtemos a isoclina nula. Por defini¸c˜ao, qualquer curva integral que passa por um ponto da isoclina nula, ter´a nesse ponto derivada nula, ou seja, a tangente `a curva integral dever´a ser horizontal. Os pontos em que a derivada ´e nula s˜ao pontos cr´ıticos de solu¸c˜oes da equa¸c˜ao.

Exemplo 2.1.2 Consideremos a equa¸c˜ao diferencial y0(x) = y

x

A fam´ılia de isoclinas ´e formada por rectas todas passando pela origem. Realmente: y

x = c ⇐⇒ y = cx sse x 6= 0

Todos os pontos sobre o eixo das ordenadas, x = 0 s˜ao pontos singulares da equa¸c˜ao diferencial.¤

Exemplo 2.1.3 Consideremos a equa¸c˜ao:

y0(x) = y− 1

A figura apresenta um esbo¸co do campo de direc¸c˜oes desta equa¸c˜ao.

x y

Para pontos da forma (x, 0) o declive dos vectores do campo de direc¸c˜oes ´e−1 e para pontos da forma (x, 1) o declive ´e 0 (vectores horizontais).

Tal como j´a foi dito, qualquer solu¸c˜ao desta equa¸c˜ao ´e tal que o gr´afico dessa fun¸c˜ao num ponto ´e tangente ao vector do campo de direc¸c˜oes tra¸cado nesse ponto. Da an´alise da figura podemos concluir que a fun¸c˜ao constante y(x) = 1 ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao. Qualquer solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial cujo gr´afico contenha um ponto (x1, y1) onde y1> 1, ´e crescente e ser´a decrescente se

(14)

y1 < 1. Ou seja, os gr´aficos de todas as solu¸c˜oes da equa¸c˜ao diferencial que n˜ao contˆem pontos

da forma (x, 1) afastam-se da recta de equa¸c˜ao y = 1.

Observe-se que n˜ao podem existir duas curvas integrais que se intersectem. Fica ao cargo do aluno justificar esta afirma¸c˜ao.

Vejamos agora que as conclus˜oes tiradas a partir da an´alise do campo de direc¸c˜oes s˜ao ver-dadeiras. Por integra¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial dada podemos concluir que a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial ´e da forma

y(x) = Cex+ 1

onde C ´e uma qualquer constante (lembremos que falamos em solu¸c˜ao geral quando queremos referir uma express˜ao que, para cada valor da constante C, permite obter uma solu¸c˜ao particular da equa¸c˜ao diferencial)1. Determinada a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial, podemos tra¸car os gr´aficos de algumas solu¸c˜oes particulares de forma a verificar as conclus˜oes anteriores . ¤

Exerc´ıcio 2.1.4 1. Determinar as isoclinas da equa¸c˜ao

y0(x) = y x Trace tamb´em algumas curvas integrais desta equa¸c˜ao.

2. Esboce os campos de direc¸c˜oes, determine e esboce as fam´ılias de isoclinas e esboce algumas curvas integrais das seguintes equa¸c˜oes diferenciais:

dy dx = e −x− 2y y0 = 3− y 2 y0+ 0.5y = 0 y0+ 0.5y = 1 y0 − 2xy = 1 y0− 2xy = y

Em cada caso pronuncie-se sobre qualquer caracter´ıstica de interesse das curvas integrais e determine, sempre que poss´ıvel, o lugar geom´etrico dos m´aximos e/ou m´ınimos.

¤

1A resolu¸ao desta equa¸ao n˜ao dever´a ser de qualquer dificuldade, pois, em An´alise Matem´atica I, esta mat´eria

(15)

2.2

Existˆ

encia e Unicidade de Solu¸

ao

Focamos agora a nossa aten¸c˜ao em quest˜oes que se relacionam com a existˆencia e unicidade de solu¸c˜ao. Comecemos por equa¸c˜oes diferenciais de primeira ordem lineares. Qualquer equa¸c˜ao diferencial deste tipo pode ser representada na forma

y0+ p(x)y = g(x), (2.1) onde p e g s˜ao fun¸c˜oes dadas.

Comparando com a equa¸c˜ao diferencial (1.1), concluimos que a equa¸c˜ao (2.1) pode ser escrita na forma (1.1) onde f (x, y) = g(x)− p(x)y ´e uma fun¸c˜ao linear em y.

Deseja-se saber se existe uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao (2.1) que satisfa¸ca a condi¸c˜ao inicial

y(x0) = y0 (2.2)

Se existir tal solu¸c˜ao, ser´a ela ´unica? E em que intervalo ´e que tal solu¸c˜ao estar´a definida?

Teorema 2.2.1 Considere a equa¸c˜ao diferencial

y0+ p(x)y = g(x).

Se as fun¸c˜oes p e g s˜ao cont´ınuas num intervalo aberto I que cont´em o ponto x0, ent˜ao existe

uma ´unica solu¸c˜ao y = ϕ(x) que satisfaz a equa¸c˜ao diferencial para todo o x ∈ I e que satisfaz tamb´em a condi¸c˜ao inicial (2.2). ¤

Este Teorema d´a-nos condi¸c˜oes suficientes para garantir a existˆencia e unicidade de solu¸c˜ao. Mas diz mais: garante que a solu¸c˜ao est´a definida em todo um intervalo I em que essas condi¸c˜oes s˜ao satisfeitas.

Em vez de demonstrar este resultado, vamos agora ver como obter a solu¸c˜ao desta equa¸c˜ao que satisfaz `a condi¸c˜ao inicial.

Observa¸c˜ao atenta da equa¸c˜ao leva-nos a desejar que tivessemos uma outra equa¸c˜ao em vez desta. Por exemplo, se multiplicarmos ambos os membros desta equa¸c˜ao por uma fun¸c˜ao diferenci´avel e positiva r(x), obtemos

r(x)y0(x) + r(x)p(x)y(x) = r(x)g(x) (2.3) O primeiro membro desta nova equa¸c˜ao lembra imediatamente a derivada de um produto. Como ¡r(x)y(x)¢0 = r0(x)y(x) + r(x)y0(x), podemos somar e subtrair , na equa¸c˜ao, o termo que falta

(16)

para obter a derivada de um produto e teremos ¡r(x)y0(x) + r0(x)y(x)

¢ − ¡r0(x)y(x)

− r(x)p(x)y(x)¢ = r(x)g(x). (2.4) O primeiro membro desta equa¸c˜ao corresponder´a exactamente `a derivada de um produto se

r0(x)− r(x)p(x) = 0.

Como n˜ao definimos at´e agora qual a fun¸c˜ao r a tomar, podemos considerar r uma fun¸c˜ao que toma valores positivos e que satisfaz a r0(x)

− r(x)p(x) = 0. Como r(x) 6= 0, podemos dividir ambos os membros da equa¸c˜ao por r e obtemos

r0(x)

r(x) = p(x). (2.5)

Integrando ambos os membros e lembrando que r

0(x)

r(x) = d

dxln(r(x)) tem-se r(x) = eR p(x)dx+C

ou seja, uma fam´ılia de fun¸c˜oes positivas. Interessa-nos ter apenas uma fun¸c˜ao r. Assim, e para simplificar, consideremos a constante C = 0. Temos

r(x) = eR p(x)dx> 0 Substituindo em (2.4) e lembrando que r0(x)

− r(x)p(x) = 0, vem ¡r(x)y(x)¢0 = r(x)g(x). Integrando esta ´ultima equa¸c˜ao, deduz-se que

y(x) = K +

Z

r(x)g(x)dx

r(x) . (2.6)

A express˜ao (2.6) ´e a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao: para cada valor de K obtemos uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao. Em particular, a solu¸c˜ao que satisfaz a condi¸c˜ao inicial (2.2) ´e aquela para o qual o valor da constante ´e

K = r(x0)y0− F (x0),

onde F ´e a primitiva de r(x)g(x), i.e., F0(x) = r(x)g(x).

Observa¸c˜ao 2.2.2 Observe-se que o m´etodo acima descrito para a resolu¸c˜ao de equa¸c˜oes difer-enciais de primeira ordem lineares obriga ao c´alculo de uma primitiva da fun¸c˜ao r(x)g(x). Acontece que existem fun¸c˜oes para os quais n˜ao ´e conhecida uma forma fechada para a primi-tiva. Nestes casos, aceita-se que na solu¸c˜ao geral apare¸ca o integral. Tais solu¸c˜oes podem ser facilmente tratadas numericamente.

(17)

Exerc´ıcio 2.2.3 1. Demonstre o teorema 2.2.1.

(Sugest˜ao: Verifique que a determina¸c˜ao da solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial feita acima poder´a ser usada na demonstra¸c˜ao.)

2. Determine a forma geral da equa¸c˜ao (2.1) quando (i) g(x) = 0; (ii) p(x) = 0; (iii) g(x) = p(x) = 0.

3. Se tem acesso a um computador onde esteja instalado Maple ou Mathematica, utilize este software para esbo¸car os campos de direc¸c˜oes e para analisar o comportamento das solu¸c˜oes das seguintes equa¸c˜oes quando x tende para +∞:

y0+ 3y = x + e−x ; y0+ y = ex.

4. Calcule, analiticamente, a solu¸c˜ao dos seguintes problemas de valor inicial y0+ 3y = x + e−x, y(0) = 1,

y0 2

x2 = cos(x), y(1) = 0.

¤

Segue-se a discuss˜ao de quest˜oes de existˆencia e unicidade de equa¸c˜oes diferenciais mais gerais, i.e., aquelas que podem ser escrita na forma (1.1) onde f ´e possivelmente n˜ao linear.

A no¸c˜ao de fun¸c˜ao de Lipschitz tem um papel importante no que se segue e vamos aqui intro-duzi-la para o caso de fun¸c˜oes reais de vari´avel real.

Defini¸c˜ao 2.2.4 Seja I ⊂ R um intervalo e considere-se a fun¸c˜ao

f : I→ R

f diz-se Lipschitz cont´ınua em I se existir uma constante L > 0 tal que

|f(x1)− f(x2)| ≤ L |x1− x2| ∀ x1, x2 ∈ I (2.7)

¤

Algumas propriedades de uma fun¸c˜ao Lipschitz cont´ınua est˜ao descritas no exerc´ıcio que se segue.

(18)

2. Mostre que toda a fun¸c˜ao diferenci´avel no intervalo [a, b] e com derivada limitada em (a, b) ´e Lipschitz cont´ınua.

3. Verifique que a fun¸c˜ao f (x) = |x| , definida em [−1, 1], ´e de Lipschitz com constante L = 1.

4. Ser´a que toda a fun¸c˜ao Lipschitz cont´ınua ´e diferenci´avel? Se n˜ao, forne¸ca um exemplo. 5. Uma fun¸c˜ao diz-se convexa se para todo o α∈ R e todo o x, y do dom´ınio se tem

f¡αx + (1 − α)y¢ ≤ αf(x) + (1 − α)f(y). (a) Dˆe uma interpreta¸c˜ao geom´etrica `a condi¸c˜ao anterior. (b) Verifique que f (x) = x2 ´e convexa, mas g(x) = x3 ao ´e.

(c) Ser´a que toda a fun¸c˜ao convexa ´e Lipschitz cont´ınua?

¤

A defini¸c˜ao de continuidade de Lipschitz pode ser facilmente generalizada a fun¸c˜oes reais de vari´avel vectorial, ou seja, a fun¸c˜oes definidas em conjuntos de Rn. Para o estudo em causa

interessa-nos a seguinte defini¸c˜ao:

Defini¸c˜ao 2.2.6 Seja f : D→ R, onde D ´e um dom´ınio em R2. A fun¸c˜ao f diz-se Lipschitz cont´ınua em ordem a y se existir uma constante L > 0 tal que

|f(x, y1)− f(x, y2)| ≤ L |y1− y2| , (2.8)

para qualquer x e quaisquer y1, y2 tais que

(x, y1), (x, y2)∈ D.

¤

Observa¸c˜ao 2.2.7 Recorde que se diz que um conjunto D⊂ Rn ´e um dom´ınio se D for um

conjunto aberto e conexo, ou seja, um conjunto aberto tal que quaisquer dois pontos desse conjunto podem ser unidos por uma curva totalmente contida em D.

Exerc´ıcio 2.2.8 • Seja f : D → R, onde D ´e um dom´ınio em R2. Verifique que se existe um L > 0 tal que ¯ ¯ ¯ ∂f ∂y(x, y) ¯ ¯ ¯ < L, ∀ (x, y) ∈ D ent˜ao f satisfaz a condi¸c˜ao de Lipschitz em ordem a y em D.

(19)

• Considere a fun¸c˜ao f(x, y) = 2|y| cos(x) definida em R2. Determine os pontos em que ∂f

∂y n˜ao existe. Verifique ainda que a fun¸c˜ao dada satisfaz a condi¸c˜ao de Lipschitz em ordem a y emR2. Que pode concluir? (Sugest˜ao: Relacione a sua resposta com a al´ınea anterior). ¤

Teorema 2.2.9 Se uma fun¸c˜ao f : D → R, onde D ´e um dom´ınio em R2, for cont´ınua e se

satisfizer a condi¸c˜ao de Lipschitz em ordem a y em D, ent˜ao o problema do valor inicial y0(x) = f (x, y)

y(x0) = y0

onde (x0, y0)∈ D, tem solu¸c˜ao ´unica. ¤

A condi¸c˜ao de Lipschitz em ordem a y ´e essencial para garantir a existˆencia de solu¸c˜ao ´unica do problema de valor inicial, como o seguinte exemplo ilustra.

Exemplo 2.2.10 Considere-se a EDO y0 = f (x, y) onde

f (x, y) =      4x3y x4+ y2 se x2+ y2 6= 0 0 se x = y = 0

Comecemos por ver que esta fun¸c˜ao ´e cont´ınua em todo o seu dom´ınio. Note-se que continuidade em todos os pontos, excepto na origem, decorre das propriedades b´asicas da continuidade. Basta, ent˜ao, averigurar a continuidade na origem. Observe-se que

(x2− y)2 = x4+ y2− 2x2y≥ 0 e − (x2+ y)2=−x4− y2− 2x2y≤ 0 Concluimos assim que

|2x2y| ≤ x4+ y2 para qualquer (x, y) pr´oximo da origem. Assim

0 ¯ ¯ ¯ ¯ 4x3y x4+ y2 ¯ ¯ ¯ ¯≤ 2 | x | x4+ y2 x4+ y2 = 2| x |

Deduz-se pelo teorema das fun¸c˜oes enquadradas que f ´e continua em (0, 0).

Passemos ent˜ao ao estudo da continuidade de Lipschitz com respeito a y. Sejam (x, y1) e (x, y2)

dois pontos de R2 com a mesma abcissa x 6= 0 e para os quais existem dois escalares α, β tais que y1= αx2 e y2 = βx2. Obtemos |f(x, y1)− f(x, y2)| = ¯ ¯ ¯ ¯ 4αx5 x4(1 + α2) − 4βx5 x4(1 + β2) ¯ ¯ ¯ ¯ = 4 |x| | y1− y2 | ¯ ¯ ¯ ¯ 1− αβ (1 + α2)(1 + β2) ¯ ¯ ¯ ¯ .

(20)

Se f satisfizesse a condi¸c˜ao de Lipschitz em ordem a y, ent˜ao deveria haver uma constante L tal que L 4 | x | M, (2.9) onde M = ¯ ¯ ¯ ¯ 1− αβ (1 + α2)(1 + β2) ¯ ¯ ¯ ¯

. Contudo, em qualquer aberto que contenha a origem, qualquer que seja o L > 0, ´e sempre poss´ıvel determinar um x6= 0 para o qual (2.9) n˜ao se verifique. Pode verificar-se ainda que a equa¸c˜ao admite como solu¸c˜ao geral a fam´ılia de fun¸c˜oes

y(x) = C2−px4+ C4

De facto, para esta fun¸c˜ao y, tem-se

y0(x) = 2x

3

−√x4+ C4 =

2x3 y(x)− C2

e, como x4 = (C2− y(x))2− C4, vem 4x3y(x) x4+ y(x)2 = 4x3¡C2x4+ C4¢ (C2− y(x))2− C4+ y2 = y 0 (x).

Consideremos a condi¸c˜ao inicial y(0) = 0. Vejamos para que valor de C a fun¸c˜ao y(x) = C2−√x4+ C4 satisfaz esta condi¸c˜ao inicial. Obtemos

y(0) = C2−√C4= 0 ∀ C ∈ R.

Quer isto dizer que qualquer solu¸c˜ao da forma y(x) = C2−√x4+ C4 satisfaz a condi¸c˜ao inicial,

ou seja, o problema de valor inicial dado n˜ao tem solu¸c˜ao ´unica. ¤

2.3

Resolu¸

ao de Equa¸

oes Diferenciais

Seja f : D→ < onde D ⊂ <2 qualquer. Se sabemos que um problema de valor inicial (

y0(x) = f (x, y)

y(x0) = y0

tem solu¸c˜ao, ´e l´ıcito perguntar qual ´e ela. Observe-se que y0(x) = f (x, y) ´e uma equa¸c˜ao

diferencial de primeira ordem que poder´a ser n˜ao linear.

Como n˜ao h´a uma s´o abordagem para determinar solu¸c˜oes deste tipo de equa¸c˜oes, ´e usual considerar grupos ou classes de equa¸c˜oes diferenciais que podem ser resolvidas por uma certa

(21)

t´ecnica. Na resolu¸c˜ao de uma equa¸c˜ao diferencial, o primeiro passo ´e sempre o de caracterizar a equa¸c˜ao dada de forma a que uma determinada t´ecnica de resolu¸c˜ao possa ser escolhida. De salientar, contudo, que poder´a haver mais do que uma maneira de resolver uma equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem.

2.3.1 Equa¸c˜oes de Vari´aveis Separadas

Designam-se por equa¸c˜oes diferenciais de vari´aveis separadas as equa¸c˜oes da forma y0(x) =

f (x, y) para as quais a fun¸c˜ao f , uma fun¸c˜ao cont´ınua, pode ser escrita como o produto de duas fun¸c˜oes reais de vari´avel real, cada uma dependendo apenas de x ou y, ou seja, equa¸c˜oes da forma:

dy

dx = α(x)β(y). (3.1)

Suponhamos que as duas fun¸c˜oes α e β s˜ao ambas cont´ınuas e consideremos a condi¸c˜ao inicial y(x0) = y0. Distinguem-se dois casos.

(i) β(y0) = 0. Neste caso, a fun¸c˜ao constante y(x) = y0 ´e solu¸c˜ao. Realmente, a derivada

desta fun¸c˜ao ´e zero e β(y(x)) = β(y0) = 0.

Mas ser´a esta a solu¸c˜ao ´unica? S´o poderemos garantir a unicidade desta fun¸c˜ao se β, al´em de cont´ınua, for Lipschitz cont´ınua.

Exerc´ıcio 2.3.1 Dˆe um exemplo, se existir, de uma equa¸c˜ao diferencial de vari´aveis se-paradas satisfazendo as condi¸c˜oes mencionadas em cima e para o qual a fun¸c˜ao constante

y(x) = y0

n˜ao ´e ´unica. ¤

(ii) β(y0)6= 0. Defina-se, ent˜ao, quatro outras fun¸c˜oes, P , R, Q e S, tais que

P (x) = α(x) Q(y) = 1

β(y) R

0(x) = P (x) S0(y) = Q(y).

(Observe-se que a fun¸c˜ao Q est´a bem definida num aberto em torno de y0 (porquˆe?).)

Ent˜ao, lembrando que

d

dxh(g(x)) = h

0

(22)

temos dy dx = α(x)β(y) ⇓ Q(y)dy dx = −P (x) ⇓ P (x) + Q(y)dy dx = 0 ⇓ R0(x) + Q(y)dy dx = 0 ⇓ R0(x) + dS(y(x)) dx = 0 ⇓ d dx[R(x) + S(y)] = 0. Integrando esta ´ultima equa¸c˜ao, vem

R(x) + S(y) = C (3.2)

onde C ´e uma constante. A equa¸c˜ao (3.2) poder´a ou n˜ao ser resolvida em ordem a y. Se tal for poss´ıvel, ent˜ao obtemos a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial na forma expl´ıcita, ou seja, dever´a ser poss´ıvel determinar uma fun¸c˜ao φ e uma constante C0 , com R(x0) +

S(y0) = C0, y0 = φ(x0) e tal que, para x numa vizinhan¸ca de x0,

y = φ(x) ⇐⇒ R(x) + S(φ(x)) = C0.

´

E o que acontece se, por exemplo, considerarmos S(y) = y em (3.2). Contudo, nem sempre ´e poss´ıvel resolver (3.2) explicitamente em ordem a y. Na impossibilidade de o fazer, a constante C ´e calculada como anteriormente e falamos ent˜ao na solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial definida implicitamente pela equa¸c˜ao

R(x) + S(y) = C0

Nestes casos, poderemos obter alguma informa¸c˜ao sobre a solu¸c˜ao numa vizinhan¸ca do ponto (x0, y0). Informa¸c˜ao qualitativa poder´a ainda ser fornecida pelo estudo do campo

(23)

Regra pr´atica

Os problemas de valor inicial envolvendo equa¸c˜oes diferenciais de vari´aveis separadas no caso (ii) podem ser resolvidas facilmente se se usar uma regra pr´atica que “usa e abusa” da nota¸c˜ao de Leibniz para derivadas. Dizemos uma regra pr´atica porque as opera¸c˜oes matem´aticas efec-tuadas n˜ao s˜ao “formalmente” v´alidas. Contudo assentam em resultados te´oricos bem definidos e rigorosos e o resultado final ´e verdadeiro.

Consideremos a equa¸c˜ao diferencial dy

dx = α(x)β(y), onde β(y0)6= 0. Escrevendo

dy

β(y) = α(x)dx,

“separamos” as vari´aveis, escrevendo num dos membros os objectos relacionados com y e no outro os objectos relacionadas com x. Integrando ambos os membros

Z dy β(y) =

Z

α(x)dx,

e relembrando as defini¸c˜oes de S e R vem

−S(y) = R(x) + C, ou seja,

R(x) + S(y) = C, onde C ´e calculado de acordo com a condi¸c˜ao inicial. Trat´amos o operador dy

dx como um quociente de n´umeros reais o que, como sabemos, n˜ao ´e verdadeiro. Sabemos que tal n˜ao ´e verdade. No entanto, esta “regra pr´atica” permite-nos chegar formalmente `a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao.

Exemplo 2.3.2 Considere-se a equa¸c˜ao diferencial

y0+ ln(x)y = 0, x > 0.

Podemos garantir que esta equa¸c˜ao tem solu¸c˜ao e qualquer solu¸c˜ao est´a definida para x > 0 (porquˆe?).

Para resolver a equa¸c˜ao, comecemos por escrevˆe-la na forma: dy

(24)

Suponhamos que y(x) nunca se anula. Ent˜ao dy y =− ln(x)dx. Integrando, obt´em-se: ln(|y|) = − Z 1. ln(x) dx = · x ln(x) Z dx ¸ =−x ln(x) + x + K. Donde, |y(x)| = eKexe−x ln(x) = C 1exe−x ln(x).

Como C1 = eK, esta constante ´e sempre positiva. Eliminando o m´odulo no primeiro membro

obtemos

y(x) =±C1exe−x ln(x) = Cexe−x ln(x).

onde C pode agora tomar qualquer valor real, positivo ou negativo, com excep¸c˜ao do valor 0. Contudo, e como se pode verificar facilmente e directamente em (3.3), a fun¸c˜ao nula tamb´em ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial. Conclus˜ao: a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial dada ´e y(x) = Kexe−x ln(x), onde K ´e uma qualquer constante real. Qualquer solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial pode escrever-se nesta forma, para algum valor de K ∈ R ¤

O pr´oximo exemplo ilustra um comportamento de alguns problemas de valor inicial onde as equa¸c˜oes diferenciais s˜ao n˜ao lineares, nomeadamente o facto das singularidades da solu¸c˜ao (pontos onde as solu¸c˜oes n˜ao est˜ao definidas) poderem depender n˜ao s´o, da equa¸c˜ao diferencial em si, mas tamb´em das condi¸c˜oes iniciais.

Exemplo 2.3.3 Considere o problema de valor inicial y0 = y2 y(0) = 1.

Determine o intervalo em que a solu¸c˜ao existe.

Os resultados anteriores garantem a existˆencia de uma solu¸c˜ao ´unica (verifique!). Se y(x)6= 0, ent˜ao dy y2 = dx, donde y(x) =− 1 x + C. (3.4)

(25)

Para y(0) = 1, vem C =−1. Assim y(x) = 1

1− x ´e a solu¸c˜ao do problema dado. Como se pode ver a solu¸c˜ao n˜ao ´e limitada quando x tende para 1 ( a solu¸c˜ao est´a definida em (−∞, 1)). Da an´alise da equa¸c˜ao diferencial em si nada nos indica que x = 1 ´e um ponto diferente de qualquer outro.

Consideremos agora a condi¸c˜ao inicial y(0) = y0 onde y0 ´e qualquer. A solu¸c˜ao do problema de

valor inicial dado ´e agora

y(x) = y0 1− y0x

. (3.5)

Neste caso, a solu¸c˜ao ´e ilimitada quando x tende para 1 y0

. Logo, o intervalo de existˆencia de solu¸c˜ao ´e µ −∞, 1 y0 ¶ se y0> 0 e µ 1 y0 , +∞ ¶ se y0 < 0.

A solu¸c˜ao geral (3.4) da equa¸c˜ao diferencial foi obtida considerando y6= 0. Facilmente se verifica que a fun¸c˜ao nula, y≡ 0, ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao. Ser´a poss´ıvel detereminar um C tal que (3.4) representa a fun¸c˜ao nula? ´E evidente que n˜ao. Este exemplo mostra que nem toda a solu¸c˜ao desta equa¸c˜ao diferencial n˜ao linear poder´a ser escrita na forma (3.4) para algum C ∈ R, ou seja, h´a solu¸c˜oes da equa¸c˜ao diferencial que n˜ao podem ser obtidos atribuindo um dado valor `a constante C de integra¸c˜ao. Como vimos em AMI, no caso das equa¸c˜oes diferencias lineares toda e qualquer solu¸c˜ao pode ser obtida da “solu¸c˜ao geral”. Quando passamos para equa¸c˜oes diferencias n˜ao lineares, tal n˜ao se verifica.

Neste caso, devemos dizer que qualquer solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial dada ou ´e a fun¸c˜ao nula

y(x)≡ 0, ou ´e dada por (3.4). ¤

Muitas vezes as equa¸c˜oes diferenciais s˜ao escritas fazendo j´a a “divis˜ao” do operador dy

dx como se de um quociente se tratasse. Vejamos como proceder em tais casos atrav´es de mais um exemplo.

Exemplo 2.3.4 Considere-se a EDO

3extan(y)dx + (2− ex) sec2(y)dy = 0.

Equa¸c˜oes escritas desta maneira podem ter duas interpreta¸c˜oes; podemos considerar y como uma fun¸c˜ao de x ou, x como uma fun¸c˜ao de y. Ao resolver este tipo de equa¸c˜oes deve ficar sempre claro que tipo de solu¸c˜ao procuramos.

Comecemos por resolver a equa¸c˜ao como se se tratasse de determinar uma fun¸c˜ao y. Dividindo ambos os termos da equa¸c˜ao por (2− ex) tan(y), obtemos

3exdx

2− ex +

sec2(y)dy tan(y) = 0.

(26)

donde

tan(y)

(2− ex)3 = C. (3.6)

Ao dividirmos ambos os membros da equa¸c˜ao diferencial pelo produto (2− ex) tan(y), estamos a

supor que os factores s˜ao n˜ao nulos. Contudo, os factores anulam quando:

y = kπ para k = 0, 1, . . . ou x = ln(2)

Ao resolver esta equa¸c˜ao eliminamos `a partida solu¸c˜oes deste tipo. ´E pois necess´ario verificar se estas fun¸c˜oes poder˜ao ser solu¸c˜oes, pois, determinar a “solu¸c˜ao geral”, ´e determinar todas as poss´ıveis solu¸c˜oes da equa¸c˜ao dada.

Verifica-se que, para qualquer k ∈ Z, as fun¸c˜oes constantes y ≡ kπ s˜ao solu¸c˜oes da equa¸c˜ao. Observe-se, contudo, que se obt´em y≡ kπ da solu¸c˜ao geral fazendo C = 0. Este ´e um exemplo de uma equa¸c˜ao diferencial n˜ao linear cujas solu¸c˜oes s˜ao todas dadas pela express˜ao (3.6). Que dizer, por ´ultimo, sobre a singularidade x = ln(2)? Reescrevendo a equa¸c˜ao diferencial dada na forma

y0 = 3e

xsin(y) cos(y)

2− ex .

torna-se pois evidente que x = ln(2) ´e ponto singular, ou seja, qualquer solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial estar´a definida num intervalo que n˜ao cont´em ln(2). ¤

Exerc´ıcio 2.3.5 Resolva a equa¸c˜ao diferencial do exemplo anterior, considerando que a inc´ognita

´e uma fun¸c˜ao da forma x(y). ¤

2.3.2 Equa¸c˜oes Diferenciais “Homog´eneas”

Uma fun¸c˜ao f :R2 → R diz-se homog´enea de grau α se e s´o se, para t 6= 0,

f (tx, ty) = tα−1f (x, y). (3.7) S´o nos interessam pontos t, x, y para os quais a fun¸c˜ao esteja bem definida em (x, y) e em (tx, ty). Equa¸c˜oes Diferenciais escrita na forma

y0(x) = f (x, y),

onde f ´e uma fun¸c˜ao homog´enea de grau um (α = 1) herdam a designa¸c˜ao da fun¸c˜ao que as define e dizem-se equa¸c˜oes diferenciais de primeira ordem homog´eneas.

(27)

Consideremos, como anteriormente, a condi¸c˜ao inicial

y(x0) = y0,

e vejamos como se resolvem.

M´etodo de Resolu¸c˜ao

Ideia geral: Transformar a equa¸c˜ao diferencial dada numa equa¸c˜ao diferencial de vari´aveis separ´aveis.

Passos:

(i) Seja y = xz onde z ´e ainda uma fun¸c˜ao de x. Ent˜ao y0 = z + xz0.

(ii) Substituindo na equa¸c˜ao dada e lembrando que f (x, xz) = x0f (1, z) = f (1, z), obt´em-se z + xz0 = f (1, z).

Seja g(z) = f (1, z). Ent˜ao

z0 = g(z)− z

x ,

ou seja, obt´em-se uma equa¸c˜ao diferencial de vari´aveis separadas.

(iii) Resolvendo a equa¸c˜ao anterior, tem-se a solu¸c˜ao geral z(x). A solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial inicial ser´a ent˜ao y(x) = xz(x).

Exemplo 2.3.6 Considere-se

y0 = y− x y + x. A fun¸c˜ao f (x, y) = y− x

y + x ´e hom´ogenea; realmente, para qualquer t 6= 0, f(tx, ty) =

ty− tx ty + tx = f (x, y). Seja ent˜ao y = xz. Vem

z + z0x = zx− x zx + x = z− 1 z + 1, donde 1 + z z2+ 1dz =− dx x

(28)

´

E uma equa¸c˜ao diferencial de vari´aveis separadas. Tem-se 1 2 2z z2+ 1dz + dz z2+ 1 = − dx x integrando: ln(pz2+ 1) + arctan (z) = − ln¡ | x | ¢ + K juntando os logar´ıtmos: − arctan (z) = ln¡ |x|pz2+ 1¢ − K eliminando os logar´ıtmos: e− arctan(z) = e−K|x|pz2+ 1.

Ora, como y = zx, verifica-se que y est´a definida implicitamente pela equa¸c˜ao

e− arctan ³y x ´ = Cpy2+ x2. ¤

2.3.3 Equa¸c˜oes Redut´ıveis a Equa¸c˜oes Homog´eneas

Equa¸c˜oes Diferenciais escritas na forma y0(x) = ax + by + c

ex + f y + g onde c6= 0 ou g 6= 0

podem ser reduzidas a equa¸c˜oes diferenciais de primeira ordem homog´eneas. Consideremos, como anteriormente, a condi¸c˜ao inicial

y(x0) = y0,

e vejamos como proceder.

M´etodo de Resolu¸c˜ao

Ideia geral: Transformar a equa¸c˜ao diferencial numa equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem homog´enea. Passos: (i) Considera-se ( y = y1+ k x = x1+ h

(29)

(ii) Escrever-se a equa¸c˜ao original em termo de x1 e y1. Vem dy1 dx1 = ax1+ by1+ c + ah + bk ex1+ f y1+ g + eh + f k . (3.8)

(iii) Determinar k e h de forma a que os termos independentes no numerador e denominador da frac¸c˜ao do segundo membro sejam nulos, i.e.,

(

c + ah + bk = 0 g + eh + f k = 0 .

(iv) Substituir k e h em (3.8); obt´em-se uma equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem homog´enea dy1

dx1

= ax1+ by1 ex1+ f y1

. (3.9)

(v) Resolver (3.9) e expressar a solu¸c˜ao geral em ordem a x e y.

2.3.4 Equa¸c˜oes Diferenciais Lineares de Primeira Ordem

Como j´a vimos, tratam-se de equa¸c˜oes diferenciais da forma

y0+ p(x)y = g(x),

onde p e g s˜ao fun¸c˜oes cont´ınuas no seu dom´ınio. Voltamos a falar delas, n˜ao s´o em prol de uma exposi¸c˜ao o mais completa poss´ıvel, mas tamb´em, porque s˜ao ´uteis para a introdu¸c˜ao do m´etodo da varia¸c˜ao dos parˆametros de que voltaremos a falar brevemente. Consideremos dois casos:

g ≡ 0: Neste caso a equa¸c˜ao diz-se linear homog´enea (n˜ao confundir com o caso anterior; neste caso o termo ”homog´enea” refere-se ao facto do segundo membro da equa¸c˜ao diferencial dada ser nulo) e ´e f´acil verificar que se trata de uma equa¸c˜ao de vari´aveis separ´aveis. A solu¸c˜ao geral ´e

y(x) = Ce−R p(x)dx.

g 6= 0: Trata-se de uma equa¸c˜ao linear n˜ao homog´enea (segundo membro n˜ao ´e uma fun¸c˜ao nula). A solu¸c˜ao geral pode ser determinada pelo m´etodo da varia¸c˜ao dos parˆametros que pas-samos a expor.

(30)

M´etodo da Varia¸c˜ao dos Parˆametros

Considera-se uma solu¸c˜ao do tipo

y(x) = C(x)e−R p(x)dx,

onde C representa agora uma fun¸c˜ao de x e n˜ao uma constante como anteriormente. Derivando e substituindo na equa¸c˜ao diferencial inicial obt´em-se a solu¸c˜ao geral

y(x) = k + Z r(x)g(x)dx r(x) , onde r(x) = eR p(x)dx.

Exerc´ıcio 2.3.7 • Considere uma equa¸c˜ao diferencial linear de ordem 1 qualquer. Verifique que todas as solu¸c˜oes podem ser obtidas da express˜ao da solu¸c˜ao geral fixando valores para a constante de integra¸c˜ao. Tais solu¸c˜oes dizem-se solu¸c˜oes regulares.

• Cada uma das equa¸c˜oes diferenciais seguintes tem pelo menos um coeficiente com uma descontinuidade em x = 0. Resolva cada uma das das equa¸c˜oes para x > 0 e descreva o comportamento das solu¸c˜oes quando x tende para 0 para v´arios valores da constante. Esboce os gr´aficos de algumas curvas integrais.

y0+ 2 xy = 1 x2 y0 1 xy = √ x y0− 1 xy = x y0+ 1 xy = cos(x) x

• Determine o maior intervalo no qual pode garantir que a solu¸c˜ao de cada um dos seguintes problemas de valor inicial existe.

(x− 3)y0+ ln(x)y = 2x e y(1) = 3

y0+ tan(x)y = sin(x) e y(π) = 0

(31)

2.3.5 Equa¸c˜ao de Bernoulli

Equa¸c˜oes diferenciais da forma

y0+ p(x)y = g(x)yn,

para n6= 0, 1 dizem-se equa¸c˜oes de Bernoulli. Atrav´es da mudan¸ca de vari´avel z = 1

yn−1,

estas equa¸c˜oes podem ser reduzidas a uma equa¸c˜ao diferencial linear. Exemplo 2.3.8 Considere a equa¸c˜ao

y0+ y = y2

Seja y(x)6= 0 e z = 1/y. Ent˜ao y = 1/z e y0 =z

0 z2. Assim, −z 0 z2 + 1 z = 1 z2 ⇓ z0 − z = −1. Seja r(x) = e−x. Ent˜ao z(x) = k + e −x e−x ,

ou seja, z(x) = kex+ 1, donde se conclui que y(x) = 1

kex+ 1. Verifica-se ainda que a fun¸c˜ao

nula, y≡ 0 ´e solu¸c˜ao. ¤

2.3.6 Equa¸c˜oes Diferenciais Exactas

Seja D⊂ R2um conjunto aberto simplesmente conexo, i.e., um conjunto que n˜ao tem “buracos”

no seu interior. Mais precisamente, D ´e um conjunto aberto simplesmente conexo se qualquer curva fechada contida em D tem todo o seu interior completamente contido em D.

Consideremos duas fun¸c˜oes M, N : D→ R com derivadas parciais cont´ınuas em D, e a equa¸c˜ao diferencial da forma

M (x, y) + N (x, y)dy

dx = 0. (3.10)

Suponhamos que ´e poss´ıvel identificar uma fun¸c˜ao φ : D → R de classe C2 (i.e., as quatro

derivadas parciais de segunda ordem existem e s˜ao cont´ınuas) tal que ∂φ

∂x(x, y) = M (x, y) (3.11) ∂φ

(32)

e para a qual a equa¸c˜ao alg´ebrica

φ(x, y) = C, (3.13)

define y como fun¸c˜ao impl´ıcita de x. Neste caso, a equa¸c˜ao diferencial (3.10) pode ser escrita como ∂φ ∂x(x, y) + ∂φ ∂y(x, y) dy dx = 0, que ´e equivalente a escrever

d

dxφ(x, y(x)) = 0. (3.14) Assim, a equa¸c˜ao diferencial (3.10) reduz-se `a equa¸c˜ao diferencial (3.14) e designa-se por equa¸c˜ao diferencial exacta.

De (3.14) deduz-se que a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial exacta (3.10) est´a definida implici-tamente por uma equa¸c˜ao alg´ebrica da forma

φ(x, y) = C.

A quest˜ao que se levanta neste momento ´e a de identificar uma equa¸c˜ao diferencial exacta. Ou seja, dada uma equa¸c˜ao diferencial escrita na forma (3.10), onde M e N s˜ao fun¸c˜oes de classe C1, quando poderemos n´os afirmar que a equa¸c˜ao diferencial ´e de facto exacta? A resposta ´e

dada pelo seguinte resultado.

Teorema 2.3.9 Sejam M, N : D → R duas fun¸c˜oes definidas num conjunto aberto simples-mente conexo D, e de classe C1. A equa¸c˜ao diferencial (3.10)

M (x, y) + N (x, y)dy dx = 0 ´e uma equa¸c˜ao diferencial exacta se e s´o se

∂M ∂y (x, y) = ∂N ∂x(x, y), (3.15) para todo o (x, y)∈ D. ¤ Demonstra¸c˜ao.

• Mostramos primeiro que se a equa¸c˜ao diferencial for exacta, ent˜ao M e N satisfazem (3.15). Quer isto dizer que (3.15) ´e uma condi¸c˜ao necess´aria para que a equa¸c˜ao diferencial seja exacta.

(33)

Suponhamos ent˜ao que existe uma fun¸c˜ao φ de classe C2 que verifica (3.11) e (3.12) para

alguma fun¸c˜ao y(x). Derivando (3.11) e (3.12) em ordem a x e y respectivamente, segue que ∂M ∂y (x, y) = ∂2φ ∂y∂x(x, y), ∂N ∂x(x, y) = ∂2φ ∂x∂y(x, y).

Logo, as derivadas parciais cruzadas de segunda ordem s˜ao iguais, ou seja, verifica-se (3.15).

• Suponhamos agora que (3.15) ´e verificada. Teremos ent˜ao que construir uma fun¸c˜ao φ que satisfa¸ca (3.11) e (3.12) para alguma fun¸c˜ao y(x). Seja

φ(x, y) = Z

M (x, y)dx + h(y), (3.16)

para alguma fun¸c˜ao h real de vari´avel real. Suponhamos ainda que ∂φ

∂y(x, y) = N (x, y). Determina-se a ”constante” de integra¸c˜ao h(y); derivando (3.16) em ordem a y, obt´em-se

∂φ ∂y(x, y) = ∂ ∂y Z M (x, y)dx + h0(y) = Z ∂M ∂y (x, y)dx + h 0(y), donde h0(y) = N (x, y) − Z ∂M ∂y (x, y)dx.

Ora, como estamos a supor que (3.15) ´e verificada, podemos concluir que

h0(y) = N (x, y) Z

∂N

∂x(x, y)dx = N (x, y)− N(x, y) + g(y) = g(y)

onde g(y) ´e a constante de integra¸c˜ao (estamos a integrar algo que depende de (x, y) em ordem a x; logo a “constante” de integra¸c˜ao pode ser fun¸c˜ao de y). Ou seja, h0(y) depende

apenas de y e podemos determinar h. Assim, temos, por ´ultimo,

φ(x, y) = Z M (x, y)dx + Z ³ N (x, y)− Z ∂M ∂y (x, y)dx ´ dy e facilmente se verifica que

∂φ

∂y(x, y) = N (x, y)

∂φ

∂x(x, y) = M (x, y), completando a demonstra¸c˜ao.

(34)

A ´ultima parte da demonstra¸c˜ao do Teorema fornece-nos um m´etodo para calcular solu¸c˜oes de equa¸c˜oes diferenciais exactas. Recomenda-se que se siga este processo sempre que se quer resolver uma equa¸c˜ao deste tipo. Ilustremos o procedimento com um exemplo.

Exemplo 2.3.10 • Pretende-se resolver a equa¸c˜ao diferencial

2x sin(y)dx + (x2cos(y)− 1)dy = 0, sujeita a y(0) = 1/2.

Considere-se M (x, y) = 2x sin(y) e N (x, y) = x2cos(y)− 1. A equa¸c˜ao ´e exacta pois

∂y¡2x sin(y)¢ = 2x cos(y) = ∂ ∂x¡x

2cos(y)− 1¢,

ou seja, (3.15) ´e verificada. Seja f uma fun¸c˜ao tal que

∂f ∂y = x 2cos(y)− 1 = N(x, y), ∂f ∂x = 2x sin(y) = M (x, y). Deduz-se que f (x, y) = Z

2x sin(y)dx = x2sin(y) + h(y).

Derivando f em ordem a y e igualando a x2cos(y)− 1, concluimos que h0(y) =−1, i.e.,

h(y) =−y + k. Donde

f (x, y) = x2sin(y)− y + k.

A solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial exacta dada pode ser assim escrita na forma

f (x, y) = C,

ou seja, a solu¸c˜ao geral est´a implicitamente definida pela equa¸c˜ao x2sin(y)− y = K,

para alguma constante K ∈ R. Quando y(0) = 1/2, vem −1/2 = K. Portanto, a solu¸c˜ao desejada ´e definida implicitamente por

x2sin(y)− y = −1 2

(35)

Observe-se que, definindo g(x, y) = x2sin(y)− y + 1

2, a curva de n´ıvel 0 desta fun¸c˜ao

N0(g) ={(x, y) ∈ R2| g(x, y) = 0},

representa localmente o gr´afico da solu¸c˜ao do problema de valor inicial dado. Recorde-se que o teorema da existˆencia e unicidade de solu¸c˜ao de equa¸c˜oes diferenciais de primeira ordem, s´o garante a existˆencia de solu¸c˜ao numa vizinhan¸ca do ponto inicial. Sabemos tamb´em que, de uma forma geral, s´o podemos garantir a existˆencia de fun¸c˜oes definidas implicitamente numa vizinhan¸ca de um ponto.

• Encontre a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao (usando sofware como o Mathematica, se quiser) ¡ − 1 + exyy + y cos(xy)¢dx + ¡1 + exyx + x cos(xy)¢dy = 0,

onde M (x, y) = −1 + exyy + y cos(xy) e N (x, y) = 1 + exyx + x cos(xy). Facilmente se

verifica que estamos na presen¸ca de uma equa¸c˜ao diferencial exacta. Integrando M em ordem a x tem-se

φ(x, y) = Z

¡ − 1 + exyy + y cos(xy)¢dx + h(y) = −x + exy+ sin(xy) + h(y).

Derivando φ a ordem a y e igualando a N (x, y) vem h0(y) = 1 permitindo concluir que a

solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial exacta dada ´e definida implicitamente pela equa¸c˜ao exy − x + y + sin(xy) = C

¤

2.3.7 Equa¸c˜oes Diferenciais Redut´ıveis a Exactas

Nalguns casos, quando a equa¸c˜ao diferencial (3.10) n˜ao ´e exacta, ´e poss´ıvel multiplicar a equa¸c˜ao por uma dada fun¸c˜ao de forma a torn´a-la exacta. Este ´e um procedimento similar ao usado para resolver equa¸c˜oes difrenciais lineares de primeira ordem. Consideremos a equa¸c˜ao diferencial (3.10)

M (x, y) + N (x, y)dy

dx = 0. (3.17)

• Multiplique esta equa¸c˜ao por uma fun¸c˜ao γ(x, y). Vem

γ(x, y)M (x, y) + γ(x, y)N (x, y)dy

(36)

• Esta nova equa¸c˜ao ´e exacta se e s´o se ∂γ ∂y(x, y)M (x, y) + γ(x, y) ∂M ∂y (x, y) = ∂γ ∂x(x, y)N (x, y) + γ(x, y) ∂N ∂x(x, y), ou, o que ´e o mesmo,

∂γ ∂y(x, y)M (x, y)− ∂γ ∂x(x, y)N (x, y) + ³∂M ∂y (x, y)− ∂N ∂x(x, y) ´ γ(x, y) = 0

• Se γ(x, y)M(x, y)+γ(x, y)N(x, y)dy

dx = 0 ´e uma equa¸c˜ao diferencial exacta, ent˜ao a fun¸c˜ao γ ´e designada por factor integrante.

• Se a equa¸c˜ao (3.18) ´e exacta, a sua solu¸c˜ao poder´a ser determinada usando o m´etodo descrito anteriormente.

• Qualquer solu¸c˜ao da equa¸c˜ao

M (x, y) + N (x, y)dy dx = 0

´e solu¸c˜ao de (3.18). Realmente, se y(x) ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao inicial, tem-se M (x, y) + N (x, y)dy

dx = 0 para todo o x do dom´ınio de y. Logo, como (3.18) pode ser escrita como o produto γ(x, y) µ M (x, y) + N (x, y)dy dx ¶ = 0,

y ´e solu¸c˜ao de (3.18). Contudo, nem todas as solu¸c˜ao da equa¸c˜ao (3.18) s˜ao solu¸c˜oes da equa¸c˜ao inicial. Por exemplo, poderemos ter uma fun¸c˜ao ¯y tal que γ(x, ¯y(x)) = 0 para todo o x no dom´ınio de ¯y e ¯y poder´a n˜ao ser solu¸c˜ao da equa¸c˜ao inicial.

Precisamos ent˜ao de verificar quais as solu¸c˜oes de (3.18) que s˜ao solu¸c˜oes de 3.17. No caso de γ(x, y)6= 0, para todo o (x, y), ent˜ao tal verifica¸c˜ao n˜ao ser´a necess´aria.

Infelizmente, a determina¸c˜ao de factores integrantes nem sempre ´e tarefa f´acil. Na pr´atica, eles s´o s˜ao usados em casos especiais. A maior parte das situa¸c˜oes em que factores integrantes podem ser determinados ocorre quando γ depende de uma s´o vari´avel. Ser´a fundamentalmente com este tipo de situa¸c˜oes que iremos trabalhar neste cap´ıtulo.

Determinamos agora condi¸c˜oes necess´arias e suficientes sobre M e N para garantir que a equa¸c˜ao (3.17) tem um factor integrante que depende s´o de x.

Se γ ´e uma fun¸c˜ao s´o de x, ent˜ao ∂ ∂y ³ γ(x)M (x, y)´ = γ(x)∂M ∂y (x, y) ∂ ∂x ³ γ(x)N (x, y)´ = ∂γ ∂x N (x, y) + γ(x) ∂N ∂x(x, y).

(37)

Ora, ∂ ∂y ³ γ(x)M (x, y)´= ∂ ∂x ³ γ(x)M (x, y)´se e s´o se ∂γ ∂x = ∂M ∂y (x, y)− ∂N ∂x(x, y) N (x, y) · γ(x). (3.19)

Para que a equa¸c˜ao diferencial 3.19 tenha solu¸c˜ao (γ(x)) o termo

∂M

∂y (x, y)− ∂N

∂x(x, y)

N (x, y) s´o poder´a depender da vari´avel x e nesse caso,

γ(x) = e Z ∂M ∂y(x, y)− ∂N ∂x(x, y) N (x, y) dx

ser´a ent˜ao um factor integrante da equa¸c˜ao (3.17) que depende s´o de x.

Exerc´ıcio 2.3.11 Determine em que condi¸c˜oes existe um factor integrante dependente apenas

de y. ¤

2.4

Aplica¸

oes de Equa¸

oes Diferenciais de Ordem Um

O interesse das equa¸c˜oes diferenciais adv´em do facto destas poderem ser usadas para estudar problemas nas mais diversas ´areas. O estudo de tais problemas, sejam eles de Biologia, Economia, etc, comporta sempre trˆes fases distintas

(1) Modeliza¸c˜ao: “tradu¸c˜ao” para linguagem matem´atica de uma situa¸c˜ao f´ısica; (2) Resolu¸c˜ao do Problema Matem´atico escolhido em (1);

(3) Interpreta¸c˜ao dos Resultados.

Estamos aqui interessados apenas em problemas cuja modeliza¸c˜ao obrigue `a utiliza¸c˜ao de equa¸c˜oes diferenciais.

A modeliza¸c˜ao de um certo sistema n˜ao ´e tarefa f´acil. Conv´em ter sempre em aten¸c˜ao que o modelo matem´atico a ser usado dever´a caracterizar o que h´a de mais importante no sistema f´ısico em estudo. Qualquer modelo matem´atico escolhido ´e sempre uma aproxima¸c˜ao do problema f´ısico. De facto, o sistema f´ısico em si ´e ele mesmo caracterizado com base em observa¸c˜oes, elas mesmo aproxima¸c˜oes do sistema real.

Uma vez escolhido um certo modelo ´e necess´ario resolve-lo de forma a obter a informa¸c˜ao desejada. Nesta fase, ajustamentos ao modelo matem´atico podem ser feitas. Realmente, o que

(38)

fazer por exemplo, com um modelo matem´atico para o qual n˜ao ´e conhecido a solu¸c˜ao nem existe a possibilidade de inferir informa¸c˜ao sobre o seu comportamento? Tais ajustamentos podem envolver a lineariza¸c˜ao de um modelo que ´e intrinsecamente n˜ao linear (ver o caso do pˆendulo) ou, ent˜ao, a sua convexifica¸c˜ao. Qualquer simplifica¸c˜ao matem´atica poss´ıvel deve ter em conta as caracter´ısticas do sistema f´ısico que se pretende estudar de forma a garantir que o modelo matem´atico simplificado ainda traduza as propriedades mais importantes do sistema em estudo.

Obtida uma solu¸c˜ao (ou alguma informa¸c˜ao sobre ela) do modelo matem´atico, ´e ent˜ao necess´ario verificar se tal solu¸c˜ao ´e fisicamente poss´ıvel. Em particular, a solu¸c˜ao obtida deve depender con-tinuamente da informa¸c˜ao recolhida sobre o sistema real. Como j´a referimos, essa informa¸c˜ao, que depende de observa¸c˜oes, n˜ao ´e exacta e pode conter erros. Se pequenas perturba¸c˜oes dessa informa¸c˜ao conduzem a grandes altera¸c˜oes das solu¸c˜oes, ent˜ao devemos concluir que o modelo matem´atico escolhido n˜ao foi uma boa aproxima¸c˜ao do problema real. Diz-se que n˜ao ´e ro-busto. Consideremos, por exemplo, o estudo do crescimento de uma certa popula¸c˜ao de insectos. Observa¸c˜oes f´ısicas do comportamento destes insectos levam-nos a concluir que a taxa de cresci-mento de popula¸c˜oes isoladas ´e proporcional ao n´umero de elementos da popula¸c˜ao presente. Traduzindo este facto matematicamente obtemos a equa¸c˜ao diferencial

dN

dt = rN (t) (4.1)

onde N representa o n´umero de elementos da popula¸c˜ao e r > 0 ´e uma constante de propor-cionalidade. Esta constante de proporcionalidade ´e calculada com base em observa¸c˜oes f´ısicas. Logo, o valor escolhido para r ´e j´a uma aproxima¸c˜ao. Observe tamb´em que uma outra simpli-fica¸c˜ao foi feita ao escolher este modelo; realmente, na equa¸c˜ao acima a vari´avel N ´e tratada como cont´ınua apesar de, na realidade, ser discreta. Esta simplifica¸c˜ao n˜ao ser´a muito significa-tiva se o n´umero de elementos da popula¸c˜ao for “grande”. Estudando o comportamento desta popula¸c˜ao atrav´es da equa¸c˜ao diferencial dada depressa concluimos que a popula¸c˜ao ir´a crescer indefinidamente. Tal contradiz a nossa pr´opria experiˆencia e isto porque o crescimento de uma certa esp´ecie est´a tamb´em relacionada com factores como as reservas de alimento e o espa¸co f´ısico que ocupam (lembremos que estamos a considerar que esta popula¸c˜ao est´a isolada). Ora, ao escolher esta equa¸c˜ao diferencial para modelizar o sistema n˜ao consider´amos estas restri¸c˜oes. Deveriamos ent˜ao abandonar este modelo e tentar obter um modelo matem´atico mais preciso. Contudo, este modelo serve para o estudo de popula¸c˜oes num curto espa¸co de tempo. Basta comparar os resultados obtidos com algumas observa¸c˜oes feitas. Podemos ent˜ao dizer que este modelo ´e uma boa aproxima¸c˜ao do sistema f´ısico quando a vari´avel t, o tempo, ´e ”suficiente-mente” pequena. Com este exemplo, quisemos mostrar que simplifica¸c˜oes a fazer ao modelo

(39)

matem´atico devem entrar em linha de conta com o estudo que se pretende fazer do fen´omeno f´ısico.

Exemplo 2.4.1 Dinˆamica das Popula¸c˜oes: Seja N (t) a popula¸c˜ao de uma certa esp´ecie num dado instante t. A hip´otese mais simples que se pode fazer relativamente ao crescimento desta popula¸c˜ao ao longo do tempo ´e a de considerar que a taxa de crescimento desta popula¸c˜ao ´e proporcional a N . Ou seja, considerar que a popula¸c˜ao varia de acordo com a equa¸c˜ao diferencial

dN

dt = rN (t) onde r representa a taxa de crescimento caracter´ıstica dessa popula¸c˜ao. Se r > 0,

ent˜ao a popula¸c˜ao ir´a crescer infinitamente o que n˜ao ´e poss´ıvel. Ilustremos este fen´omeno tra¸cando o campo de direc¸c˜oes e sobrepondo-lhe algumas solu¸c˜oes desta equa¸c˜ao diferencial para, por exemplo, r = 2.5. Obt´em-se o seguinte gr´afico:

Observa-se que, como j´a foi dito, este modelo pode ser utilizado apenas para estudar a dinˆamica de uma certa popula¸c˜ao durante intervalos de tempo curtos. O crescimento das popula¸c˜oes pode ser condicionado por outros factores, como, por exemplo, a quantidade de alimento e/ou de espa¸co f´ısico. Contudo, ´e sempre razo´avel considerar que o crescimento da popula¸c˜ao est´a directamente relacionado com o n´umero de elementos dessa mesma popula¸c˜ao, ou seja, h´a uma rela¸c˜ao entre dNdt e N . Podemos modelizar o crescimento das popula¸c˜oes escolhendo agora a equa¸c˜ao

dN

dt = f (N )N

Ora, perante as considera¸c˜oes feitas no texto acima, poderemos supor que f (N ) ≈ r se N ´e pequeno e que f (N ) < 0 quando N ´e suficientemente grande (porquˆe?) Em prol da simplicidade,

(40)

consideremos f (N ) = r− aN com a > 0 (qual o significado f´ısico desta fun¸c˜ao?). Definindo k = r/a, obtemos a equa¸c˜ao diferencial

dN dt = r µ 1N k ¶ N, (4.2)

supondo r > 0. Esta equa¸c˜ao diferencial ´e n˜ao linear. Realmente

F (N ) = r µ 1− N k ¶ N,

´e uma fun¸c˜ao n˜ao linear devido ao termo −rN

2

k . Iremos ver que por mais pequeno que este termo seja, o comportamento das solu¸c˜oes desta equa¸c˜ao diferencial ´e totalmente diferente do comportamento das solu¸c˜oes da equa¸c˜ao diferencial linear. A solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial (4.2) ´e f´acil de calcular. Contudo, muita informa¸c˜ao pode ser obtida geometricamente como veremos em seguida. Come¸camos por estudar a fun¸c˜ao F . Tra¸cando o seu gr´afico obtemos o seguinte esbo¸co:

Para 0 < N < k, vem F (N ) = dN/dt > 0; logo N (t), neste caso, ´e uma fun¸c˜ao crescente. Para N > k, vem F (N ) = dN/dt < 0; logo N (t) ´e decrescente. Evidentemente que existem duas outras solu¸c˜oes da equa¸c˜ao diferencial; s˜ao elas N (t)≡ 0 e N(t) ≡ k. Nestes dois casos, a equa¸c˜ao diferencial fica reduzida a dN/dt = 0. Estas duas solu¸c˜oes dizem-se solu¸c˜oes de equilibr´ıo. Para qualquer outra solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial dada, os pontos N = 0 e N = k no eixo dos N ’s dizem-se pontos de equil´ıbrio ou pontos cr´ıticos (pontos onde a derivada de N se anula). O estudo de F (N ) permite-nos obter informa¸c˜ao sobre as solu¸c˜oes da equa¸c˜ao diferencial para v´arios valores da condi¸c˜ao inicial. Podemos resumir tal informa¸c˜ao na seguinte tabela:

(41)

Se F (N ) ´e ent˜ao N (t) ´e

Positiva e crescente, Crescente e com a concavidade virada para cima Positiva e decrescente, Crescente e com a concavidade virada para baixo Negativa e crescente, Decrescente e com a concavidade virada para cima Negativa e decrescente, Decrescente e com a concavidade virada para baixo.

Com base nesta informa¸c˜ao tra¸camos solu¸c˜oes da equa¸c˜ao diferencial para v´arios valores da condi¸c˜ao inicial sem que para isso a tenhamos que resolver. Discutindo o que acontece para valores de N maiores ou menores que k, verifica-se que as solu¸c˜oes tendem para a solu¸c˜ao de equil´ıbrio N (t) = k quando t tende para infinito, independentemente do valor de k. Por exemplo, se r = 2.5 e k = 2.5, temos o seguinte campo de vectores conjuntamente com os gr´aficos de algumas solu¸c˜oes:

Observe-se que este modelo (n˜ao linear!) para o crescimento de popula¸c˜oes d´a origem a solu¸c˜oes totalmente diferentes das que se obtˆem com a equa¸c˜ao diferencial (4.1). Lembremos que as solu¸c˜oes da equa¸c˜ao diferencial linear (4.1) (linear) crescem exponencialmente, ou seja, s˜ao n˜ao limitadas. Ora, por mais pequeno que seja o termo n˜ao linear da equa¸c˜ao (4.2), as solu¸c˜oes aproximam-se sempre da solu¸c˜ao de equil´ıbrio N (t)≡ k. O teorema sobre existˆencia e unicidade de solu¸c˜ao de equa¸c˜oes diferenciais de ordem um, garante que duas solu¸c˜oes nunca passam pelo mesmo ponto. Ora N (t) ≡ k ´e solu¸c˜ao de equil´ıbrio. Logo qualquer outra solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial (4.2) aproxima-se desta solu¸c˜ao de equil´ıbrio, mas n˜ao a corta. Popula¸c˜oes cujo valor

(42)

inicial ´e inferior a k, tˆem como limite superior k e quando o valor inicial y0 ´e superior a k tˆem

como limite inferior k. k ´e por isso mesmo designado por n´ıvel de satura¸c˜ao. Em geral, e como j´a referimos, verifica-se que se N (0) > 0, N tende para k quando t tende para infinito. A solu¸c˜ao N (t)≡ k designa-se assim por solu¸c˜ao assimptoticamente est´avel. O comportamento da solu¸c˜ao de equil´ıbrio N (t)≡ 0 ´e radicalmente diferente. Realmente, qualquer solu¸c˜ao para a qual N (0) > 0, afasta-se desta solu¸c˜ao de equil´ıbrio. Por isso, a solu¸c˜ao N (t) ≡ 0 designa-se por solu¸c˜ao de equil´ıbrio inst´avel. ¤

(43)

Equa¸

oes Diferenciais Lineares de

Ordem N

3.1

Conceitos Fundamentais

Considere a equa¸c˜ao diferencial de ordem dois:

y00(x) = f (x, y, y0) (1.1) Esta equa¸c˜ao ´e linear se existirem fun¸c˜oes reais de vari´avel real g, p e q tais que

f (x, y(x), y0(x)) = g(x)− p(x)y0(x)− q(x)y(x) Se tal acontecer, escreve-se

y00+ p(x)y0(x) + q(x)y = g(x),

Se tal n˜ao se verifica, ent˜ao (1.1) ´e uma equa¸c˜ao diferencial de segunda ordem n˜ao linear. Recorde-se que uma equa¸c˜ao diferencial de ordem n ´e uma equa¸c˜ao diferencial da forma

y(n)(x) = F (x, y(x), y0(x), . . . , y(n−1)(x)) (1.2) Esta equa¸c˜ao ´e linear se F for uma fun¸c˜ao linear em y, y0, . . . , y(n−1). A forma can´onica de

equa¸c˜oes diferenciais de ordem n lineares ´e

y(n)(x) + pn−1(x)y(n−1)(x) + . . . + p1(x)y0(x) + p0(x)y = g(x) (1.3)

Uma equa¸c˜ao diferencial linear de ordem n pode ainda aparecer na forma mais geral an(x)y(n)(x) + an−1(x)y(n−1)(x) + . . . + a1(x)y0(x) + a0(x)y = h(x)

Referências

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