QUESTÃO DE ORDEM
Sr. Presidente,
Submeto a V.Exa. QUESTÃO DE ORDEM, com fulcro nos art.s. 403 e 363, ambos do Regimento Interno desta Casa, nos termos aduzidos a seguir:
O Eminente Senador Roberto Rocha, apoiado pelo número regimental de senadores, apresentou, e Plenário, na data de ontem (08/05/2017), a Emenda nº 14-PLEN, à PEC nº 10, de 2013, que extingue o chamado foro por prerrogativa de função, popularmente conhecido como “foro privilegiado”.
Ocorre que a emenda em questão É INTEMPESTIVA na medida em que apresentada APÓS A VOTAÇÃO EM PRIMEIRO TURNO da Proposta de Emenda à Constituição em comento. É a dicção cristalina do art. 363, do Regimento Interno do Senado, senão vejamos:
Art. 363. Incluída a proposta em Ordem do Dia, para o segundo turno, será aberto o prazo de três sessões deliberativas ordinárias para discussão, quando poderão ser oferecidas emendas que não envolvam o mérito.
Ora, a norma regimental é clara em admitir, no entreturno constitucional de deliberação de PECs, apenas emendas que não envolvam mérito, ou seja, as chamadas emendas de redação.
Emendas de redação são aquelas que não alteram o mérito, mas que apenas corrigem erros materiais, como contradições normativas, erros
léxicos, dentre os quais os de ortografia e sintaxe, como um erro grosseiro de escrita ou de concordância verbo-nominal.
É da natureza do erro material ser detectável pelo leitor mesmo numa primeira e rápida leitura, na linha do que alude o brocado latino primo ictu
oculi (ao primeiro relance da vista).
Sendo assim, passemos, pois, à análise do conteúdo da Emenda nº 14-PLEN, da lavra do Eminente Senador Roberto Rocha.
A referida emenda, em apertada síntese, promove as alterações que se seguem:
1. Institui varas especializadas nos Tribunais da Justiça da União (Justiça Federal, Eleitoral, Trabalhista e do DF) e dos estados-membros para processar, nos crimes comuns, “autoridades públicas”; 2. Dispõe sobre as regras de competência criminal, já disciplinadas no
Código de Processo Penal em relação a estas autoridades;
3. Estabelece o famigerado monopólio da denúncia em relação às altas autoridades da República (Presidente da República, Ministros de Estado, magistrados das Cortes Superiores, parlamentares federais, etc.) para o Procurador-Geral da República, eliminado a possibilidade de qualquer membro do Ministério Público, no âmbito da sua circunscrição de competência, ajuizar tais denúncias;
Ora, sem adensarmo-nos no mérito desta medida, que parece ir em rota de colisão frontal com os interesses do povo que este Parlamento deveria representar, fica patente que a emenda confrontada não é de redação: altera radicalmente a essência da matéria aprovada em primeiro turno, desnaturando seu sentido.
Deste modo, sendo emenda de mérito e apresentada no entreturno deliberativo da PEC em epígrafe, outra sorte não deve assistir à referida proposição que não o seu “NÃO RECEBIMENTO” peremptório por parte da Mesa do Senado Federal.
O recebimento da emenda ocasionaria a deletéria remessa da PEC à CCJ, para novo parecer sobre seu teor, num círculo vicioso eterno de protelação. Admitir que esse exotismo seja cabível a essa altura implicará grave prejuízo à celeridade na tramitação de toda e qualquer PEC, além de assombrosa violência explícita ao Regimento Interno dessa Casa.
Desse modo, sequer deve ser oferecido parecer a seu teor, mas antes a Mesa deve rejeitar seu conhecimento, de modo peremptório, por absoluta intempestividade.
Saliente-se que o teor da referida emenda já fora apresentado antes no Plenário, por meio da EMENDA Nº 7-PLEN, do mesmo autor, ocasionando a restituição da PEC nº 10/2013 à CCJ, e lá tendo sido devidamente REJEITADA, naquela altura. Trata-se de repetição de jogo jogado e vencido!
Admitir essa “excepcionalidade” resultaria em admitir também que toda e qualquer PEC poderia, a qualquer tempo, ser restituída à CCJ, em qualquer fase, bastando, para tanto, o oferecimento de emenda por uma minoria parlamentar de 27 membros.
Apenas ad argumentandum tantum, num nível hipotético, caso essa emenda fosse admitida e aprovada no regresso da matéria à CCJ, a PEC seria votada apenas no segundo turno restante, em Plenário? Ou deveria se
submeter novamente a dois turnos de votação, para atender esse imperativo revisionista imposto pela Constituição (art. 60, §2º, CF1)?
Essa especulação hipotética é capaz de revelar o descalabro de se admitir essa emenda a essa altura.
Ressalte-se também que, na última terça (02/05/2017), interpelei o Sr. Vice-Presidente desta Casa, Eminente Senador Cássio Cunha Lima, no exercício interino da Presidência, exatamente a este respeito. Questionei eu, naquela ocasião:
RANDOLFE RODRIGUES(Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP. Pela
ordem)
Presidente,[...] um questionamento que faço a V. Exª, e sobre a qual peço
esclarecimento é: segundo o art. 356, também do Regimento Interno, no intervalo entre o primeiro e o segundo turno de trâmite de proposta de emenda à Constituição, as emendas que poderão ser apresentadas e apreciadas somente serão emendas de redação. Parece-me que está claro isso
no Regimento Interno. Eu queria só ter essa confirmação por parte da Mesa
para ficar clara a tramitação – que está ansiosa no plenário – da Proposta de
Emenda à Constituição nº 10, de 2013, que acaba com o foro privilegiado e que nós já votamos em primeiro turno na semana passada. Então, para ficar claro
para o Plenário. Parece-me que, se vierem a haver propostas novas em relação a essa proposta de emenda à Constituição, essas propostas só poderão ser de redação.
É o esclarecimento que eu peço à Mesa [...]: [...]sobre como V. Exª deverá proceder em relação aos regimentos; segundo, sobre o trâmite da PEC 10, de 2013.
Ao que o Sr. Presidente respondeu prontamente nos seguintes termos, conforme notas taquigráficas, confirmando a tese da presente questão de ordem:
CÁSSIO CUNHA LIMA, NO EXERCÍCIO DA PRESIDÊNCIA
Senador Randolfe, para esclarecer a V. Exª e ao Plenário: acabei de fazer a leitura do item 2 da pauta, que é a Proposta de Emenda à Constituição nº 10, e vou fazer a releitura apenas para que fique devidamente consignado.
A matéria constará da Ordem do Dia durante três sessões deliberativas, em fase de discussão em segundo turno, quando poderão ser oferecidas emendas que não envolvam mérito. Então, a preocupação de V. Exª está devidamente contemplada.
1Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
[...]
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
Face o exposto, REQUEIRO à Eminente Presidência desta Câmara Alta o DEFERIMENTO da presente questão de ordem, com vistas a NEGAR SEGUIMENTO à Emenda nº 14-PLEN, cujo primeiro subscritor é o Eminente Senador Roberto Rocha, de modo a SEQUER RECEBER a referida proposição.
Respeitosamente,
RANDOLFE RODRIGUES Senador da República (REDE-AP)