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A dialogicidade no cotidiano da Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto

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Academic year: 2021

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Dissertação

A dialogicidade no cotidiano da Escola Estadual de Ensino

Médio João Simões Lopes Neto

Michele Silveira Azevedo

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MICHELE SILVEIRA AZEVEDO

A dialogicidade no cotidiano da Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Educação da

Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial a obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientadora: Profª. Drª. Neiva Afonso Oliveira.

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Dados de Catologação na publicação:

Bibliotecária Simone Godinho Maisonave – CRB-10/1733

A994d Azevedo, Michele Silveira

A dialogicidade no cotidiano da Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto / Michele Silveira Azevedo ;

Orientadora: Neiva Afonso Oliveira. – Pelotas, 2013. 312f.

Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal de Pelotas.

1. Educação. 2. Escola Pública. 3. Diálogo. 4. Paulo Freire. 5. Ensino Médio 6. Turuçu – RS I. Oliveira, Neiva Afonso, orient. II. Título.

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Banca Examinadora:

Profª. Drª. Neiva Afonso Oliveira –UFPel (Orientadora) Prof. Dr. Danilo Streck (UNISINOS)

Profª. Drª. Conceição Paludo – UFPel Prof. Dr. Gomercindo Ghiggi – UFPel

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Dedicatórias e Agradecimentos

Dedico o esforço dessa pesquisa aos sujeitos que acompanharam e acompanham minha caminhada enquanto educadora, tendo em vista que a mesma só se torna possível pela presença deles e por meio da permanente construção e reflexão sobre a prática pedagógica que realizo a partir da experiência de estarmos juntos.

Ofereço esta, bem como todas as minhas demais conquistas, aos meus amados filhos Bruno e Miguel, pela parceria e tolerância com a mãe sempre ocupada, entre trabalho e estudo.

Agradeço ao trabalho junto ao Observatório de Educação do Campo Núcleo UFPel/RS (CAPES/INEP), que me oportunizou, na qualidade de bolsista, a inserção nas pesquisas de educação do campo.

Em especial, quero expressar meu agradecimento à comunidade da Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto, que durante o processo de construção da dissertação, permitiu e colaborou em sua construção, em especial a professora e amiga Arlete Hartwig, pela dedicação e compromisso com a qualidade da educação.

Agradeço, também, a todos os professores que me acompanharam durante o mestrado, em especial a Profª Dra. Neiva Afonso Oliveira e a Profª Dra. Conceição Paludo, co-responsáveis pela realização deste trabalho.

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AZEVEDO, Michele Silveira. A dialogicidade no cotidiano da Escola Estadual de

Ensino Médio João Simões Lopes Neto. 2013. 114f. Dissertação (Mestrado)

Programa de Pós-Graduação em Educação Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS.

Esta dissertação tem como proposição de pesquisa investigar a ocorrência do diálogo no cotidiano da Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto, em Turuçu/RS, uma escola urbana (na aparência) com características de escola rural (na essência). Pretende-se, também, levantar questionamentos acerca dos fatores que interferem no diálogo a partir da perspectiva teórica de Paulo Freire. O pano de fundo ou o contexto da pesquisa possui antecedentes, na experiência enquanto educadora neste espaço escolar, objetivando evidenciar junto à comunidade escolar que constitui a Escola João Simôes Lopes Neto a importância do diálogo na escola. Mostra os limites e condicionamentos presentes no cotidiano da comunidade escolar, bem como anuncia as potencialidades presentes nas relações estabelecidas com vistas a promover a qualidade do ensinoda escola pública do campo. O aprofundamento da investigação sustenta-se no estudo teórico e levantamento bibliográfico do processo histórico da categoria diálogo, dos antecedentes históricos da investigação, apoiados na metodologia de trabalho, fazendo a relação com os dados levantados pela pesquisa, e os acontecimentos que marcam a história da comunidade escolar em questão. Para a realização da pesquisa,nossa análise bibliográfica possui suporte teórico nas obras de Paulo Freire. Outras obras, com o objetivo de aprofundamento da análise, foram utilizadas, compondo substancial bibliografia. Como caminho metodológico, procuramos analisar a compreensão do diálogo na escola, por parte da comunidade, realizando entrevistas, observação. Utilizamos o diário de campo, para fundamentar nossa análise.A pesquisa apresenta-se como pesquisa participante,filia-se à tradição de estudo de caso, com a proposta de pesquisa qualitativa e está organizada em três capítulos dispostos da seguinte forma: Trajetória da investigadora e antecedentes históricos da investigação; metodologia e entrelaçamento da pesquisa e o diálogo no espaço escolar e suas implicações no fazer pedagógico. Dentre os resultados encontrados, é possível destacar que a prática dialógica nas escolas apresenta-se como exercício que necessita de uma construção que viabilize o diálogo entre os diversos segmentos da comunidade escolar, tendo em vista ser de fundamental importância que a escola discuta os problemas da comunidade de maneira ampla que possibilite a reflexão acerca do papel da comunidade nos processos de melhoria na qualidade de vida no território camponês. O movimento de análise e os achados desta pesquisa sustentam a conclusão de que o diálogo, na Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto, constitui-se como tarefa complexa, apesar dos esforços da gestão escolar. Porém, no momento histórico em que estamos inseridos, emergem problemas que, de alguma forma, absorvem a escola como espaço burocrático, não permitindo a ampliação da reflexão e do diálogo.

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AZEVEDO, Michele Silveira. The dialogicity in routine of Escola Estadual de

Ensino Médio João Simões Lopes Neto. 2013. 114p. Master’s Thesis – Education

Post-Graduation Program. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS.

This Master thesis has the purpose of verifying dialogue occurrence in routine of Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto, in Turuçu/RS/Brazil an urban school (in its appearance), with rural school characteristics (in essence). It is also intended to arise questioning about elements that interfere in dialogue from Paulo Freire’s theoretical perspective. The background or the context of the investigation has the preceeding events in the teacher’s experience as an educator in this school space, having the objective of evidencing the importance of dialogue close to the school community which constitutes Escola João Simões Lopes Neto. The research shows the limits and conditioning situations that are present in nowadays of school community, as well as announces the potentialities present in established relations that intend to promote the quality of public rural school. The deepening study of the investigation is based in a bibliographical survey about historical process of the category dialogue, of investigation historical antecedents, supported in a methodological work that makes relations with the inputs raised by the research, and happenings that mark school community history. For the investigation accomplishment, our bibliographical analysis has the theoretical support in Paulo Freire’s texts. Others, with the target of deepening analysis, were used and compose substantial bibliography. As a methodological way, we tried do analyze dialogue comprehension in school by the community. For that purpose, intervews were done and also observation was accomplished. The fieldwork notebook was used in order to grounding our analysis. The research is a Research-Action-Participant, enrolls to the tradition of Study Case with the proposal of a Qualitative Research and is organized into three chapters, so disposed: Researcher’s Trajectory and historical antecedents of the investigation; Methodology and research interlacing and dialogue in school space and its implications in pedagogical doing. Among the findings, it is possible to highlight that pedagogical practice in schools presents itself as an exercise which needs a construction that enables dialogue among different segments of school community, because it is of a relevant importance that school discusses the community’s problems in a large way and makes possible the reflection about the community’s role in improvement processes in quality of life in rural space. The analysis movement and the findings of this research grounds the conclusion that the dialogue in Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto represents a complex task, besides efforts of school management. In the historical moment in which we are inserted, problems emerge and absorb the school as a burocratic space and do not allow reflection and dialogue.

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Sumário

Introdução ... 8

1 Trajetória da investigadora e antecedentes históricos da investigação ... 13

1.1 Caminhada de estudo e trabalho ... 13

1.2 Encontro e estabelecimento de vínculo com a Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto ... 16

1.3 Antecedentes históricos da investigação ... 19

1.4 Aspectos territoriais e históricos do Município de Turuçu: economia, política e cultura ... 19

1.5 Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto ... 29

1.6 Urbano em aparência, rural em essência: características do território escolar ... 32

2. Metodologia e entrelaçamento da pesquisa ... 36

2.1 Caminho metodológico ... 36

2.2 Dialogicidade ... 41

2.3 Cultura e trabalho: no contexto das relações geradoras de diálogo entre escola e comunidade ... 51

2.4 Educação Popular na Escola Pública ... 56

3 O diálogo no espaço escolar e suas implicações no fazer pedagógico ... 63

3.1 O sistema estadual de educação e suas implicações na construção do diálogo na Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto ... 64

3.2 A Escola João Simões Lopes Neto e a compreensão do diálogo... 70

Conclusões ... 84

Referências ... 89

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Introdução

As razões que motivaram esta pesquisa científica em torno do diálogo, no contexto da Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto, forjam-se a partir da trajetória de formação teórica/prática da pesquisadora que, partindo da experiência docente no município de Turuçu, estabeleceu um vínculo e aproximação com o contexto escolar por ela vivenciado e que culminou no presente trabalho.

A pesquisa buscou contribuir por meio de subsídios, obtidos através da investigação, na identificação das formas de dialogicidade ocorridas na escola, de forma a potencializar o fazer pedagógico por meio do diálogo. A prática docente da aluna-professora-pesquisadora na escola favoreceu o desenvolvimento da pesquisa, que, em sua fase inicial, partiu de observações do espaço educacional (incluindo neste rol, atividades festivas e informativas, que envolvem comunidade e escola).

Na tentativa de reflexão sobre a prática educativa e a respeito das relações que permeiam a realidade investigada, esta dissertação busca responder à questão: Que aspectos interferem no aprofundamento do diálogo e na relação escolar – a partir da perspectiva teórica de Paulo Freire – na Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto?

Buscando responder à nossa questão investigativa, procuramos problematizar algumas constatações, a partir do contexto escolar levando em conta a categoria analisada, ou seja, o diálogo na Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto. Os sujeitos que procuramos envolver na pesquisa foram acionados por meio de questionários semiestruturados e responderam aos seguintes eixos/perguntas investigativos: O que entendem como diálogo? Como compreendem o diálogo na escola João Simões Lopes Neto? Em que a escola pode melhorar em relação ao diálogo? Estas questões foram tentando considerar as possibilidades do efetivo diálogo na perspectiva freiriana, no interior da escola. Ainda podemos dizer que a investigação não se esgota na apresentação da pesquisa, pois apresenta

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elementos de uma reflexão inicial que podem contribuir em sua continuidade com a problematização das reflexões aqui sistematizadas para a construção de alternativas dialógicas no interior da escola.

A partir de estudo bibliográfico sobre a categoria diálogo e de análise documental sobre a localidade, realizou-se um apanhado histórico do município e da escola. Assim, foi possível constatar um quadro atípico no que se refere aos educandos, uma vez que o funcionamento da escola, apesar de sua localização urbana, acontece em decorrência do número de alunos oriundos da zona rural.

A escola localiza-se na cidade de Turuçu/RS, situada às margens da BR-116, sendo originariamente parte/distrito da cidade de Pelotas, da qual dista cerca de 47 km, e do município de São Lourenço do Sul, vizinho a 26 Km. A economia local está focada no modo de produção da agricultura familiar. Dentre diferentes funções atribuídas a escola no contexto de municípios com base populacional do campo, a Escola Estadual João Simões Lopes Neto apresenta-se como atrativo principal para o público juvenil que cursa o Ensino Médio, configurando-se como espaço de socialização, devido à distância entre as colônias que formam o território municipal.

À realidade territorial1da Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto articula-se a complexidade de formação do próprio município de Turuçu, que apresenta características essencialmente camponesas mescladas com o contexto de aparência urbana. Trata-se de uma localidade em que a maioria dos habitantes vive no perímetro rural e trabalha no campo, e pelo fato de a escola situar-se no centro urbano, acaba por abranger grande parte de sua comunidade escolar2, com características da realidade camponesa.

A essas contradições territoriais, junta-se a importância de apreender o sentido da estrutura curricular no conhecimento e aprofundamento sobre a

1 Em análise de Fernandes (2008, p.52): “Na essencialidade do conceito de território estão seus

principais atributos: totalidade, multidimensionalidade, escolaridade e soberania. Portanto, é impossível compreender o conceito de território em sua escolaridade, ou seja, em suas diversas escalas geográficas, como espaço de governança de um país, de um estado ou de um município, o sentido político da soberania pode ser explicitado pela autonomia dos governos na tomada de decisões. Quando nos referimos ao território como propriedade particular individual ou comunitária, o sentido político da soberania pode ser explicitado pela autonomia de seus proprietários na tomada de decisões a respeito do desenvolvimento desses territórios.

2 Quando nos referimos à comunidade escolar, estamos empregando o seguinte sentido: “Refere-se

aos segmentos que participam, de alguma maneira, do processo educativo desenvolvido em uma escola. Na maioria dos casos em que a expressão é mencionada, agrupa professores, funcionários, pais e alunos” (TEIXEIRA, 2010, p.1).

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realidade, através de uma inserção de pesquisa que tenha como intuito resgatar o caráter humanizador da educação. Contribuir com a superação das contradições existentes, através da promoção de reflexões sobre a valorização do contexto local e identificar, por meio dos encontros e desencontros da comunidade escolar, as possibilidades de qualificação do diálogo no espaço da escola são questões de extrema importância. Sendo esta escola uma forte referência para os jovens da localidade, julgamos imprescindível analisar o contexto histórico e cultural de Turuçu, de forma a possibilitar o desvelamento das relações que emergem no cotidiano escolar, bem como contextualizá-las e aproximá-las da realidade local.

Assim, justifica-se a importância de compreendermos que aspectos interferem no aprofundamento do diálogo na perspectiva de Paulo Freire na Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto,para que ela se construa efetivamente como espaço dialógico entre os fazeres científicos e as reais necessidades existentes na realidade da comunidade escolar. Sobre este questionamento, verifica-se a relevância de mapearas relações que se estabelecem na comunidade, com o objetivo de identificar as contradições existentes e investigar as possibilidades dialógicas no cotidiano escolar.

Para o desenvolvimento investigativo, as escolhas metodológicas utilizadas comprometeram-se com a pesquisa qualitativa e participativa, sob a especificidade do Estudo de caso que, segundo Triviños (1987, p.133) “é uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa aprofundadamente”.

A coleta de dados contou com análise de 65 questionários aplicados a educandos da escola e também com entrevista realizada com a diretora da escola. O objetivo da coleta preliminar era de compreender/conhecer a escola e seus membros.

Na continuidade, foram realizadas 10 entrevistas com questionários semiestruturados apresentados a diferentes membros da comunidade, que constituem/compõem o contexto escolar. Para a escolha de tais sujeitos, optamos pela participação de pais, estudantes, professores e funcionários que fazem ou, em algum momento, fizeram parte do conselho escolar. Por compreender a importância deles para os processos decisórios no interior da escola, também convidamos um dos motoristas que é responsável pela vinda de alunos do interior. O diário de campo” da pesquisadora contribuiu para a construção da reflexão e da sistematização dos dados apresentados.

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Compreende-se como período da investigação, o tempo de docência da pesquisadora na escola, que teve seu início no ano de 2009, e estende-se até 2013, período em que se baseiam as anotações no “diário de campo”. O mês escolhido para a execução das entrevistas foi o mês de outubro de 2012.

A partir da coleta de dados, iniciam-se a sistematização e análises, momento em que foram sendo articuladas as reflexões apontadas pelos sujeito se as construções bibliográficas mencionadas anteriormente, bem como a ampliação e reconstrução de categoria diálogo, aqui analisada, em conjunto com a análise dos apontamentos do “diário de campo”.

Dando continuidade ao processo de sistematização, procuramos apresentar a seguinte estrutura de trabalho: primeiro capítulo “Trajetória da investigadora e antecedentes históricos da investigação: encontro e estabelecimento de vínculo com a Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto”, onde busca-se a retomada formativa e de contato da pesquisadora com a escola, orientando a análise de necessidade do aprofundamento sobre a categoria utilizada para a investigação. A seguir, “Antecedentes históricos da investigação” relaciona os aspectos territoriais históricos, em nível micro e macro e leva em conta os acontecimentos na realidade econômica e social e suas reações na comunidade investigada. Propõe, ainda, uma análise sobre a escola e seu contexto.

O segundo capítulo “Metodologia e entrelaçamento da pesquisa” analisa o caminho metodológico da pesquisa e elenca categorias que contribuíram para as reflexões da pesquisa. Apresenta a reconstrução histórica da categoria analisada, construída a partir de uma leitura bibliográfica e salienta as relações entre cultura e trabalho, presentes no contexto das relações geradoras de diálogo na escola. Nos entrelaçamentos, encontra-se a educação popular na escola pública.

No desenvolvimento da análise de dados, no terceiro capítulo, denominado “O diálogo no espaço escolar e suas implicações no fazer pedagógico” encontra-se a reflexão sobre as políticas públicas na escola, salientada desde a perspectiva dos sujeitos de pesquisa, por meio dos achados realizados, no que se refere à compreensão sobrea dimensão do diálogo no interior da escola e suas implicações no fazer pedagógico, a pesquisa buscou contribuir para o alcance de alternativas que levam em conta a possibilidade de avançar na proposta de um efetivo diálogo no fazer pedagógico e no contexto escolar.

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Para a realização da pesquisa, nossa análise bibliográfica possui suporte teórico nas obras de Paulo Freire. Outras obras, com o objetivo de aprofundamento da análise, foram utilizadas, compondo substancial bibliografia.

O movimento de análise e os achados desta pesquisa sustentam a conclusão de que o diálogo, na Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto, constitui-se como tarefa complexa, apesar dos esforços da gestão escolar. Porém, no momento histórico em que estamos inseridos, emergem problemas que, de alguma forma, absorvem a escola como espaço burocrático, não permitindo a ampliação da reflexão e do diálogo.

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1 Trajetória da investigadora e antecedentes históricos da investigação

O interesse da pesquisadora justifica a escolha do tema de pesquisa, impulsionada pelas necessidades que emergem do campo empírico, neste caso na Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto. Com esse entendimento, torna-se necessário trazer aos leitores a trajetória da pesquisadora, bem como seu encontro com o objeto de pesquisa. Desse modo, procuramos nesta parte da dissertação, retomar a caminhada de estudo e trabalho e ainda contextualizar o encontro entre pesquisadora e escola, tentando assim demonstrar o delineamento da motivação de pesquisa, Conforme Marques (1998, p.26), analisando uma investigação, afirma que esta “deve se pautar por experiências antecedentes e ser impulsionada por vontades presentes”, o que compreendemos caracterizar o panorama de nossa motivação para a pesquisa.

1.1 Caminhada de estudo e trabalho

Considera-se importante resgatar momentos da caminhada pessoal da pesquisadora, pois partindo daí, podemos pontuar as referências que contribuíram e motivaram a realização do processo de investigação apresentado na dissertação.

Dessa forma, salientamos a primeira referência que compõe o mosaico de inter-relações que formam ou estão a formar a pesquisadora. Sendo assim, retomamos o período da infância, em que residia na cidade de Herval, no Estado do Rio Grande do Sul. O convívio com o campo, a vivência por meio do trato com os animais e com a terra constituem um cenário para meu ingresso na escola, lugar em que o mundo campesino parecia ficar à parte, pois as recordações de então dão conta da centralidade de assuntos que em nada faziam corresponder minha vivência.

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Recordando um dos momentos, lembro a impressão de “grandiosidade” da professora e da escola, que no período em questão representavam, no imaginário infantil, enormes, o que parecia contribuir para um sentimento de solidão frente às relações que se impunham no interior da escola. Outra experiência significativa no período foi o teste de leitura,ao qual, ao término do ano letivo, cada aluno deveria se submeter. Tratava-seda leitura de um texto para a diretora da escola, figura que assombrava nossa imaginação infantil com suas ameaças de castigo. Dispostos em fila por ordem alfabética no corredor da escola, aguardávamos a entrada para a sala da diretora com o intuito de realizar a tarefa. As sensações de angústia e medo parecem povoar a memória desse período, ainda nos dias de hoje, tendo o teste sido realizado no ano de 1984.

A cidade de Herval muito se assemelha a Turuçu, por possuir características urbanas e rurais. Podemos dizer que a população é predominantemente oriunda do campo e mantém sua subsistência também por meio das atividades agrícolas.

O ano de 1987 marca a minha chegada à cidade de Pelotas, por transferência do pai, funcionário público. A partir de então, começa a tentativa de adaptação ao ambiente urbano escolar, o que se apresentava de modo conflituoso, com os impactos e impressões causados pelos entornos urbano e rural.

No final da década de 1990, período da adolescência, cursando magistério, os relatos do professor Paulo Sergio Moreira sobre sua experiência com as escolas multisseriadas no interior de Arroio do Padre e da professora Elisabete Silveira Ribeiro, a respeito de seus anseios decorrentes dos fazeres docentes apresentam-se como modelos de grande significado, na construção de referencial para continuidade dos estudos.

Com o nascimento do primeiro filho Bruno, no ano de 1996, inicia-se a luta pela sobrevivência e a premência de estudar e trabalhar. Sendo assim, como grande parte das colegas de magistério, na época, passa-se ao estudo noturno para conclusão do segundo grau.

Devido à morte prematura da mãe, no ano de 2000, surge o convite de trabalho, para ocupar o cargo que ela exercia na Universidade Católica de Pelotas, como auxiliar de biblioteca, momento em que se torna possível, no ano de 2001, o ingresso no curso de Filosofia da mesma universidade.

As respostas para questões procuradas na filosofia, inicialmente, não vêm de encontro ao magistério e as primeiras experiências com a educação do campo.

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Porém,em 2003, tendo participado da seleção do programa Universidade Solidária na época, coordenado pela professora Jara Fontoura, surge a oportunidade de trabalhar por um período de 21 dias junto à comunidade situada no Rio Grande do Norte, na cidade de São Miguel do Gostoso. No território, a composição da localidade apresentava-se de forma diversificada, com vasta área de sertão e com zona litorânea, espaço onde as grandes pousadas e turistas costumam frequentar. A presença de assentamentos, bem como a rica estrutura e tecnologia empregada chamaram atenção para as potencialidades do local. A população diversifica suas atividades laborativas entre o comércio e as pousadas locais. A pesca e o cultivo da terra também destacam-se.

Na oportunidade, conhecemos um professor de Filosofia que desenvolvia um projeto junto à comunidade que objetivava alfabetizar adultos, quando jovens, em uma troca solidária com os idosos da região, desenvolvi parceria de alfabetização, embasada teoricamente na obra de Paulo Freire. No período, fomos a campo conhecer tal trabalho, momento em que mantivemos contato com comunidades isoladas da região que nos contaram suas histórias, suas necessidades. A partir de então, com uma nova visão sobre o modo de trabalhar com a filosofia, retomo às aulas, já neste período voltada para a análise dos textos de Paulo Freire, escrevendo a monografia de graduação com base na antropologia do autor.

Dando continuidade aos estudos, no ano de 2006, começa a participação no GAPE3, que se mantém até o ano de 2007, quando houve oportunidade de trabalho no Uni Colégio, como professora das disciplinas de Filosofia e Sociologia. A partir de então, acontece a formação em curso de Psicopedagogia e Gestão Escolar. A intenção de cursar tais especializações era qualificar a prática docente.

Compreendemos que este momento representa grande significado para a pesquisadora, pois aqui o embate entre teoria e prática apresenta-se como primeiro desafio na carreira docente, o que inevitavelmente, leva ao aprofundamento teórico dos temas de aula, causando a necessidade de aprofundamento dos estudos.

O primeiro contato com a Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto mostrou uma realidade diferente da vivida no período escolar na cidade de Pelotas e também em Herval, enquanto estudante de escola pública, pois esta

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apresentou-se como uma realidade material diferenciada, contando com recursos de multimídia, sala de informática, laboratório de ciências, ampla biblioteca, sala de jogos para os alunos, ar condicionado em todas as salas de aula, mantendo um belo jardim ao seu redor, de onde se percebe o entorno ao longe, pois não existem muros que o escondam, apenas uma cerca de arame.Indagando à direção sobre as condições privilegiadas da escola, ouvimos o relato de que isto é possível pela luta da comunidade na busca e captação de recursos para a educação do município, o que motiva a reflexão sobre as formas de intervenção da comunidade na escola.

A experiência educativa como professora no espaço de investigação, vivenciando temas delimitados pelo próprio currículo escolar, suscita questionamentos relativos ao papel da Escola João Simões Lopes Neto na ação pedagógica referente ao “diálogo” da escola com os sujeitos e seu contexto.

1.2 Encontro e estabelecimento de vínculo com a Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto

Em se tratando de uma escola, onde o público juvenil é predominantemente camponês, é prática comum o comércio de produtos agrícolas no interior da escola. No entanto, segundo os próprios educandos, essa prática causa constrangimento a eles, fazendo com que, de alguma forma, sintam-se inferiorizados perante aos colegas moradores do perímetro urbano.

A partir de tal observação, no ano de 2009, criaram-se ações de trabalhos nas disciplinas de Filosofia e Sociologia em que os educandos deveriam revisitar suas raízes históricas. A atividade foi sugerida com o objetivo de uma retomada da história de vida e de promover a ampliação sobre as reflexões entre as relações campo e cidade.

Esta experiência indicou a necessidade de aprofundamento sobre o conhecimento da realidade local, a fim de fazer acontecer um movimento de qualificação das práticas pedagógicas, de forma a contribuir no processo de aproximação e valorização da comunidade escolar. Promover, no espaço educativo, a reflexão sobre o papel da escola e sua prática enquanto espaço dialógico passou a ser objetivo principal da presente pesquisa.

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Para isso, mostrou-se necessária a construção de um referencial com possibilidade de apontar para uma pedagogia libertadora que valoriza a subjetividade, pedagogia essa aliada à práxis humana, em um movimento dialético de construção. Propusemo-nos, assim, o desafio investigativo de compreender como o ambiente escolar pode apresentar-se enquanto espaço dialógico entre os fazeres científicos e as reais contradições existentes no cotidiano da comunidade local.

O tema da pesquisa está inserido no debate atual em torno da educação popular do campo e traz ênfase na possibilidade dialógica da escola pública frente às comunidades rurais. Os aspectos econômicos e sociais apontados como fatores da desigualdade social presente no campo brasileiro, exposta pela baixa escolaridade ou escolaridade precária, entre outros fatores depreciativos destes sujeitos (Oliveira, 2010), refletem a ausência da compreensão do trabalho do campo no espaço escolar, em especial as relações complexas entre campo e cidade e suas respectivas visões de mundo que operam no sentido de articular o saber pedagógico. A não problematização dessas questões no espaço escolar resulta num movimento histórico que naturaliza a supervalorização do território urbano de modo que as comunidades rurais, cada vez mais se dissipam em busca de trabalho e melhor qualidade de vida, como se estas oportunidades fossem acessíveis apenas no espaço urbano.

Cabe ressaltar que a escola como lugar de dialogicidade deveria oportunizar a análise da própria realidade de forma que a comunidade pudesse vir a lutar por condições de acesso em seu espaço. Experiências no campo educacional vêm demonstrando a falta de concatenação entre a realidade e a escola, o que torna o conhecimento desarticulado da realidade. Cabe salientar que muitos fatores contribuem para esta ocorrência, entre eles: a formação precária de professores no sentido de compreender o papel político escolar e a construção de políticas públicas desarticuladas e contraditórias em relação às necessidades dos sujeitos do campo.

Despertada em nós a necessidade de compreender as relações históricas que constroem o contexto escolar de forma a perceber suas implicações no interior da escola e seus efeitos em nosso problema de pesquisa, encaminhamos para a pergunta norteadora da pesquisa: Que aspectos interferem no aprofundamento do diálogo e na relação escolar – a partir da perspectiva teórica de Paulo Freire – na Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto?

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Na tentativa de responder a nosso questionamento, procuramos descrever a seguir, os antecedentes históricos da investigação, com o objetivo de relacionar os aspectos territoriais históricos, em nível micro e macro, ou seja, levando em conta os acontecimentos da totalidade econômica e social e seus reflexos na comunidade investigada. Uma análise sobre a escola e seu contexto também compõe o mosaico construído nos passos seguintes.

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O referencial teórico da dissertação encontra seu aporte em Paulo Freire, como já foi dito na introdução. Sendo assim, em respeito à base teórica por nós eleita, é fundamental situarmo-nos historicamente na comunidade, caracterizando o primeiro momento da pesquisa como aquele que procura perceber a realidade, de forma a analisar os elementos que formam e confrontam a realidade com a prática pedagógica, dando conteúdo à problemática de pesquisa. Deste modo, procuramos desenvolver a estrutura desse capítulo, em dois momentos: o primeiro está direcionado a elencar as particularidades da comunidade. Em um segundo movimento, procura-se trazer a discussão sobre a escola e a relação urbano-rural.

1.4 Aspectos territoriais e históricos do Município de Turuçu: economia, política e cultura

O panorama agrário brasileiro aponta uma problemática histórica, pautada por diversos estudos que enfatizam o modo de produção capitalista. Por representar nosso objeto de pesquisa, as peculiaridades territoriais e seus aspectos devem ser percebidos por nós, principalmente em relação à necessidade de mostrar a situação territorial e o modo como o espaço que ocupamos nas lides pedagógicas pode contribuir para a reflexão acercado modo como as relações pedagógicas acontecem. Uma breve análise bibliográfica feita torna possível perceber que, na história do território rural brasileiro, as desigualdades sociais e a exploração da mão de obra, apresentam-se como uma constante, que implica no modelo de desenvolvimento econômico proposto para o campo. Assim, Fernandes (2005, p.6) analisa:

A conflitualidade é inerente ao processo de formação do capitalismo e do campesinato. Ela acontece por causa da contradição criada pela destruição, criação e recriação simultâneas dessas relações sociais. A conflitualidade é inerente ao processo de formação do capitalismo e do campesinato por causa do paradoxo gerado pela contradição estrutural.

Podemos perceber que a construção territorial é um aspecto de grande relevância para as condições de vida das populações oriundas do campo e, em um contexto mais amplo, chamamos atenção para a expansão do capital e sua representação na territorialidade, necessitando uma análise das relações

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econômicas, políticas e culturais determinadas pelas forças hegemônicas que atuam no território. Segundo Santos (2012, p.83):

Por meio da regulação, a compartimentação dos territórios, na escala nacional e internacional, permite que sejam neutralizadas diferenças e mesmo as oposições sejam pacificadas, mediante um processo político que se renova, adaptando-se às realidades emergentes para também renovar, desse modo, a solidariedade.

Os fenômenos expostos em um contexto mais amplo nos permitem relacionar a importância da compreensão da história do município analisado e sua luta para se construir como território independente das cidades ao seu redor.

O município de Turuçu, localizado às margens da BR-116, conta com uma rica história de luta e trabalho de sua comunidade, em busca de melhoria da qualidade de vida. Dados da Fundação Econômica de Estatística (2011) mostram que no ano de 2010, a cidade contava com 3.522 habitantes, abrangendo uma área total de 254,9 km² e exibia um PIB4 municipal, no ano de 2008, de R$ 42.467,00.

Sendo o município de Turuçu, território originário das cidades de Pelotas e São Lourenço do Sul, torna-se relevante, para compreensão dos fatores educacionais da Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto, realizar um breve retrospecto histórico, com o intuito de contribuir com a explicitação do contexto da pesquisa.

Retomamos aqui os acontecimentos que marcam a história do Brasil, no período em questão, como forma de compreensão da origem da cidade de Turuçu. O período colonial é marcado pela proteção das divisas brasileiras e expedições em busca de riquezas em nosso continente. O Rio Grande do Sul, no período em questão, ou seja, no século XVIII, tem como sua principal atividade pecuária a produção de couro.A divisão territorial era feita por meio de estâncias que agregavam o trabalho cotidiano e a disputa por terras (Cotrin, 2007). Salientamos o cotidiano das estâncias na leitura de Cotrin (2007, p.241):

Nas estâncias, o trabalho era realizado pelo capataz e pelos peões (na maioria das vezes brancos, índios e mestiços assalariados). Em geral, o próprio dono da estância e sua família administravam diretamente o trabalho pecuário, gerenciando a realização do serviço.

No contexto em questão, as disputas entre indígenas e brancos marcam o período, o que nos remete para a “Guerra Guaranítica” que representou no Estado

4

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do Rio Grande do Sul conflitos violentos, onde indícios históricos dão mostras de que a ocupação do espaço territorial da localidade de Turuçu deu-se devido às disputas contra os guaranis, entre os anos de 1754 e 1756, na famosa batalha em que o líder indígena Sepé Tiarajú foi derrotado, sendo este lote posteriormente doado a Tomás Luís Osório. Sobre o tema, Gutierrez (2011, p.45-46) destaca:

Tomás Luís Osório reforçou o contingente de Rio Pardo. Nessa ocasião, dirigiu as obras de reforço e ampliação da fortaleza, desbaratou seus inimigos e prendeu o próprio chefe e seu filho. Também teve participação decisiva na luta onde tombou o líder guarani Sepé Tiarajú. [PINHEIRO, 1982: 81] É possível que esses feitos tenham contribuído para que o governador Gomes Freire de Andrade o presenteasse, em 18 de junho de 1758, com o rincão de Pelotas. O rincão possuía os seguintes limites naturais: laguna dos Patos; sangradouro da Mirim, atualmente chamado de canal São Gonçalo; arroios Pelotas e Correntes. [BPP, RPTMP, 93: 11] [FIG. 8] Nesse lugar, quando o tenente-coronel não era mais proprietário, chegaram a funcionar, como já assinalamos, sete charqueadas, unidas, ou não, às respectivas fazendas.

O Arroio Correntes, hoje Corrientes, mencionado pela autora, faz parte do perímetro rural do município de Turuçu, representando ativamente a comunidade originária da zona rural em disputas posteriormente destacadas pela emancipação política da região.

A análise histórica da formação do Estado do Rio Grande do Sul permite perceber os motivos que levam à estagnação populacional da região, onde se destacam as constantes disputas territoriais entre portugueses e espanhóis por território, o que leva, posteriormente, ao extermínio quase completo da população guarani residente da região. Destacamos:

Assim o norte do estado, após o extermínio dos índios e expulsão dos jesuítas, só em fins do século XIX, é que volta a ser novamente ocupado; desta vez por outro contingente populacional de famílias de imigrantes europeus. Os lotes então distribuídos pela política imigratória do governo central, são a origem da pequena propriedade policultora de exploração familiar que predominou até há pouco em todo o norte do estado. Foi em parte esta estrutura fundiária que, mais tarde, devido a problemas de visão das propriedades por herança, levou várias gerações a emigrar mais para o norte. À medida que se esgotava a fronteira agrícola regional. (²) Esta conformação histórica inicial aliada à própria situação excêntrica do Rio Grande do Sul no território nacional é que explicam a sua tradicional base agropecuária e o seu modo de se integrar com o mercado nacional (MESQUITA, 2009, p.6).

Leitzke (2001), a respeito da origem do nome da cidade, registra que o arroio Turuçu, limite da cidade com São Lourenço do Sul, tem como significado a

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retomada da presença indígena na região, significando “águas grandes”. Ainda, segundo a autora:

O Arroio Grande é fruto de várias vertentes do lençol freático e também de pequenas sangas que deságuam nele. [...] Podemos dizer que ele deu origem a nossa cidade, pois, muitos anos atrás, quando os índios habitavam nossas terras, eles se instalaram próximos ao arroio, devido à necessidade de água e também para praticar a pesca. Por ser um arroio de águas grandes, os índios passaram a chamá-lo de Turuçu. (LEITZKE, 2001, p.6)

Posteriormente, o arroio tornou-se lugar propício para a instalação da Vila Arthur Lange, o que fez com que ocorressem as condições necessárias para o desenvolvimento do trabalho junto ao curtume criado na região.

A crise econômica na Europa impulsionou a emigração para o ‘novo mundo’. Em contrapartida,o Brasil, no mesmo período, passa por diversas transformações políticas e sociais, em que o poder mantém-se nas mãos das oligarquias agrárias, o que impele revoltas populares pela melhoria nas condições de vida. Como alternativa para o trabalho nas fazendas de café, entre os anos de 1847 e 1857, os primeiros grupos de alemães e italianos são trazidos para o território brasileiro. Salienta Cotrin a respeito das condições de trabalho que:

Os imigrantes foram contratados pelo sistema de parceria: davam ao proprietário da fazenda uma parte da colheita e ficavam com a outra parte. No entanto, eram enganados e explorados pelos fazendeiros, trabalhando de sol a sol e sendo tratados como escravos (2005, p.389).

A cidade de Turuçu conta com a presença de descendentes de imigrantes alemães e pomeranos. Em reportagem do jornal Diário Popular sobre a colonização, é possível perceber um pouco das expectativas dos imigrantes alemães, vindos para o Brasil em busca de melhores condições de vida:

“Aqui estamos ricos” diz Albertina Gremm ao marido Alberto Stumpf, no desembarque em São Lourenço do Sul em meados de 1850. A frase da jovem pomerana recém-chegada da Europa é repetida com orgulho até hoje por sua neta Ida Stumpf Kichöffel. Aos 90 anos, Dona Ida mantém viva na memória as histórias dos avós que cruzaram o Atlântico para fugir da miséria. “Lá, (na Pomerânia) eles carneavam um porco e essa carne tinha de durar o ano todo”, conta.

A história dos Kichöffel é muito parecida com a de centenas de famílias de imigrantes que apostaram nas cercanias de Pelotas a partir de 1858, quando a primeira colônia alemã de São Lourenço do Sul (Coxilha do Barão) foi fundada por Jacob Rheingantz (DIÁRIO POPULAR, 25/07/2004).

Originariamente, de acordo com o que relatamos acima, o município de Turuçu organiza-se em decorrência da vila Lange, que teve na sua raiz a fundação

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do Curtume pertencente a Arthur Lange. É importante destacar a presença do senhor Lange para o desenvolvimento da região:

No ano de 1920, a família do Sr. Arthur Lange mudou-se para a região da colônia Azevedo, morando em um rancho aos fundos da Escola Carlos Koseritz, onde plantou arroz na costa do Arroio Grande. A seguir, mudou-se para a Feitoria onde continuou sua plantação de arroz, desenvolvendo paralelamente as atividades, com uma oficina mecânica e ferraria, onde ficou até 1930; ocasião em que se associou ao Sr. José Halfen no curtume, transferindo para Arroio Grande sua oficina mecânica e a ferraria, que asseguravam a manutenção dos poucos e rudimentares implementos agrícolas existentes na época (UCPEL, 2011).

Devido à possibilidade de trabalho, aos poucos, famílias de agricultores vindas de São Lourenço do Sul e de Pelotas, “se estabeleceram na região no ano de 1935, o senhor Arthur Lange fundou uma fábrica de tamancos e chinelos, um ano mais tarde, já conseguiu comprar a parte de seu sócio passando então a ser proprietário único” (LEITZKE, 2001, p.16).

Notemos que, no mesmo período histórico que marca o estabelecimento dos agricultores no território do futuro município de Turuçu, o Brasil apresenta avanços na industrialização. Trata-se, em termos políticos da Era Vargas (1930-1945), que em seu governo instaura profundas mudanças sociais, como o voto secreto, os direitos trabalhistas e o nacionalismo da economia. Cotrin (2005, p.485) chama atenção para os fenômenos aqui destacados:

Durante esses 15 anos, ocorreram significativas transformações político-sociais no país, principalmente em função do novo rumo das políticas públicas. A população urbana cresceu em relação à agrária, a importância da indústria e da economia nacional se ampliou e o poder dos empresários das cidades aumentou, em comparação com o poder dos produtores rurais. Os setores médios urbanos (pequenos empresários, profissionais liberais etc.) e o operariado cresceram em número e conquistaram maior importância na vida política do país.

O crescimento econômico do curtume propiciou a criação da empresa Arthur Lange e Filhos Ltda, no ano de 1949, constituindo-se em promissora fonte de emprego para famílias da região de Pelotas e de São Lourenço do Sul, ficando conhecida nacional e internacionalmente por seus produtos. A construção da BR-116 contribuiu também para o avanço econômico local, impeliu o surgimento da Vila Arthur Lange, destinada aos trabalhadores da fábrica, vindo hoje a constituir o perímetro urbano do município de Turuçu.

O curtume Arthur Lange, fundado em 1949, já teve seus tempos de alta produção. Chegou a exportar diversos tipos de couro para mais de 50

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países. Segundo o supervisor do Departamento Pessoal, Mario Paulo Buss, na década de 90 e em 2003 foram produzidos 50 mil couros por mês, número considerado alto e suficiente para abastecer os clientes com que a empresa trabalhava na época. Foi também durante esse tempo que a administração investiu em alta tecnologia de produção (REIS, 2011).

O crescimento econômico e populacional da região conhecida como Vila Arthur Lange, – anteriormente 4º distrito da cidade de Pelotas, – seguido de um descontentamento da população local com o descaso do poder público impulsionam a emancipação do município.

A comunidade, na luta pela emancipação, realizou diversas reuniões com o intuito de formar uma comissão encarregada de discutir o assunto e, à frente dessa comissão, como presidente da mesma, encontrava-se o senhor Edemar Sherdien, empresário local. Também faziam parte da mesma comissão João Seus, agricultor, Padre Luciano e Arlete Hartwig, professora, entre outros. 5

Os motivos apresentados para a emancipação do município de Turuçu eram, principalmente, a possibilidade de melhoria da qualidade de vida da população local, deixada de lado pelo poder público. E, em reportagem do jornal pelotense, Diário Popular, sobre o plebiscito que estimava levantar a opinião dos moradores do 4º distrito de Pelotas sobre a emancipação, é possível observar a insatisfação da população quanto à administração:

Segundo Eleda Soares de Oliveira, o seu voto é devido à falta de perspectivas de progresso da Vila Arthur Lange que “precisa de alguém que toque para frente o local. Eleda afirmou que na sua residência outros quatro integrantes pensam como ela e votarão a favor do desmembramento. Jaime Renato Krause apontou o abandono completo do 4º distrito e a carência em diversos setores da comunidade como a falta de uma escola de 2º grau. Na sua casa podem ser contados mais sete votos no sim, disse Krause (TOMASCHEWSKI, 1995, p.4).

O horizonte de possibilidades da emancipação política levou o 4º distrito de Pelotas a uma disputa e dividiu a população da localidade, encontrando partidários favoráveis à emancipação e forte oposição, frente às perspectivas contrárias, já apontadas na reportagem do jornal Diário Popular:

Amparados em dados oficiais obtidos pela vereadora Virgínia Fetter, os vereadores contrários ao sim acreditam que o distrito é inviável economicamente, pelo menos por enquanto. Ter como base uma única indústria e uma economia tradicional, baseada no setor primário, não daria garantias de êxito administrativo, “Apostar tudo em uma única indústria é

5 É pratica comum, junto as Vilas que almejam a emancipação, a construção de uma “comissão

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um risco enorme, até porque dá a ela um grau de responsabilidade muito grande”, reforça Virginia (PEREIRA, 1995, p.3).

Durante o período em que ocorre a emancipação do município de Turuçu, estão acontecendo, concomitantemente, em todo o Rio Grande do Sul, processos emancipatórios em localidades semelhantes a essa. Em análise sobre os movimentos emancipatórios, Mesquita (1992, p.8) destaca:

Metaforicamente, um processo de emancipação territorial é um iceberg, cuja ponta visível parece moldar todos os motivos, justificativas e interesses sob a égide do bem comum. Por que se emancipar? Configura-se como uma estratégia territorial para obter benefícios justos, de uma lógica incontestável, e, até o momento, reivindicados, mas não atendidos; a escola, as estradas, o atendimento de saúde (o posto, o médico, a farmácia, o hospital). Os depoimentos nesse sentido são numerosos e estão presentes no território dos (na época) três distritos onde se realizou a pesquisa, especialmente por parte da população do interior deles, das áreas rurais, cuja difícil acessibilidade se evidencia em distâncias, às vezes longas, a serem vencidas em estradas intransitáveis, nas épocas de intempéries e com um sistema de transportes, quando existente, de periodicidade irregular e de alto custo, se comparado ao das cidades.

A emancipação dos municípios, em nosso caso específico do município de Turuçu, acontece através de articulações municipais, comunitárias, lideradas por representantes locais que lutam pela melhoria da qualidade de vida da comunidade, porém as implicações econômicas de longo prazo e as questão de fundo dos critérios emancipatórios são analisadas superficialmente.

Em análise realizada por João Carlos Magalhães (2007), é possível perceber a evolução do processo de emancipação no Brasil. O autor destaca e retoma o movimento emancipatório ocorrido na década de 1930, elencando as emancipações nacionais em diferentes momentos históricos e chamando atenção para a intensificação do processo nas décadas de 1950 e 1960. O movimento apresenta um decréscimo no período ditatorial, elevando-se a partir da década de 1980. A constituição federal de 1988 contribui para o fenômeno:

a Constituição de 1988 atribuiu aos municípios competências tributárias próprias e participações no produto de arrecadação de impostos da União e dos estados. Em contrapartida, foi ampliada a esfera de obrigações dos municípios na prestação de serviços públicos essenciais (MAGALHÃES, 2007, p.13).

É histórica a luta por qualidade de vida no Estado, fato que verificamos em diferentes pesquisas realizadas sobre a historicidade dos municípios no Estado do Rio Grande do Sul. Porém, em dado momento, entendemos que o que está em questão é a relação de território que representa a emancipação de uma determinada

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região. Sendo assim, destacamos a concepção de território apresentada por Fernandes (2008, p.52):

Sempre é importante enfatizar a relação entre os territórios como espaço de governança e como propriedade. Essa relação é determinada por políticas de desenvolvimento, portanto quem determina a política define a forma de organização dos territórios. Aqui, é necessário lembrar seus atributos: cada território é uma totalidade, por exemplo: os territórios de um país, de um estado, de um município ou de uma propriedade são totalidades diferentes pelas relações sociais e escalas geográficas. Essas totalidades são multidimensionais e só são completas neste sentido, ou seja, relacionando sempre a dimensão política com todas as outras dimensões: social, ambiental, cultural, econômica, etc. Compreender essas relações é essencial para conhecermos as leituras territoriais realizadas por estudiosos de diversas áreas do conhecimento e por diferentes instituições que impõem seus projetos de desenvolvimento às comunidades rurais.

O plebiscito pela emancipação da cidade de Turuçu ocorreu no dia 23 de outubro do ano de 2005, regido pela Lei nº 10.445/95 e em sua análise, podemos observar os contornos do município:

Autoriza a realização de consulta plebiscitária para emancipação da localidade de Turuçu, abrangendo as localidades formadas pelas colônias da Feitoria, Azevedo, Corrientes, São Domingos e Vila Arthur Lange, do 4º distrito, e Picada Carlos, Picada Palmeira, Picada Flor e complemento das colônias São Domingos e Corrientes, do 6º Distrito de Pelotas, e Colônia Santana, pertencentes ao Município de São Lourenço do Sul.

O território em destaque dado pelo plebiscito representa a zona rural dos municípios de Pelotas e São Lourenço do Sul, que conta com uma população essencialmente campesina6, tendo destaque o minifúndio, e consequentemente, a produção agrícola. A formação cultural das colônias em questão é, em sua maioria, oriunda de imigrantes alemães e pomeranos e o espaço de origem do que forma hoje o perímetro urbano da cidade representa uma pequena porção do montante territorial, conhecida, conforme já destacamos, como Vila Lange.

A votação do plebiscito acontece em uma atmosfera de divisão de interesses quanto às vantagens e desvantagens da emancipação, como podemos observar na reportagem do jornal A Tribuna:

No plebiscito de ontem, coordenado pelo juiz Sérgio Vanderlei Pires, da 60ª Zona Eleitoral, o “sim” obteve 1.036 votos favoráveis contra 878 votos

6 Segundo Costa, “Campesinato é o conjunto de famílias camponesas existentes em um território. As

famílias camponesas existem em territórios, isto é, no contexto de relações sociais que se expressam em regras de uso (instituições) das disponibilidades naturais (biomas e ecossistemas) e culturais (capacidades difusas internalizadas nas pessoas e aparatos infraestruturais tangíveis) de um dado espaço geográfico politicamente delineado” (2012, p.113).

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contrários, num universo de 2.683 eleitores habilitados a votar, com uma abstenção de 28%.

Turuçu passará a contar com uma área de 250 quilômetros, tendo como base econômica uma indústria de couros do Grupo Extremo Sul e plantação de fumo extensiva. A emancipação foi abertamente apoiada pelo prefeito de Pelotas, Irajá Andara Rodrigues (PMDB), e pelo vice-prefeito, Michel Hallal (PSDB), fato considerado decisivo à aprovação plebiscitária (ASSESSORIA, 1995, p.2).

Na primeira eleição ocorrida no ano de 1997, o prefeito eleito foi Edmar Scherdien, representante ativo da comissão pela emancipação, que contou com apoio estadual e da cidade de Pelotas. A emancipação municipal trouxe para a localidade uma série de melhorias iniciais, entre elas, as relativas à saúde, através da construção de posto de saúde, tanto na colônia, quanto na parte urbana. A construção do ginásio de esportes também foi implementada. Foi atraído para a localidade o Banco Sicredi, houve melhorias nas estradas e ocorreu incentivo à implantação da Escola de Ensino Médio. Tais vantagens acabaram proporcionando à localidade um clima de satisfação e progresso. Em entrevista ao jornal Diário Popular, Scherdien destaca:

Hoje, existem em funcionamento dois postos de saúde com gabinete odontológico, está sendo construído um terceiro que em breve deverá estar em funcionamento.

A área de educação também foi muito trabalhada com reforma nas escolas e aquisição com recursos do Estado, de dois micro-ônibus para transporte dos alunos. Turuçu também investiu no ensino fundamental (1º a 8º série) que não existia no local (ASSESSORIA, 1998, p.1).

No setor administrativo do município, é possível observar a oscilação da manutenção no poder por parte da família Scherdien e Fehrenbach tendo a presença consecutiva na prefeitura, na seguinte ordem: Edmar Scherdien (eleito em 1997, deposto em seu mandato, por improbidade administrativa), Selmira Milech Fehrenbach (eleita em 2000 e 2004). Atualmente, é prefeito da cidade Ivan Eduardo Scherdien eleito em 2008 (PREFEITURA DE TURUÇU, 2011) e novamente em 2012.

A economia do município de Turuçu, como já exposto, mesmo antes de sua emancipação, trazia centralidade no curtume Arthur Lange, tendo grande importância também a cultura de pimenta calabresa:

A produção de 2,4 mil toneladas de pimenta vermelha calabresa está elevando a região de Turuçu ao patamar de maior produtor desse tempero no País, um orgulho para produtores locais, que não sabem sequer explicar como tudo começou.

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De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater, Lauro Schneid não se tem exatamente uma data ou não se sabe como a pimenta chegou à região. “Há mais de 50 anos a pimenta é plantada aqui, uma tradição que está sendo passada de pai para filho” (ACD/DP, 2001, p.2).

O clima de prosperidade na agricultura não foi acompanhado pelo desenvolvimento industrial e, sendo assim, o curtume de grande importância para a região fechou suas portas na data de 15 de janeiro de 2008, sob administração do grupo Extremo Sul naquele momento, o que originou uma situação de desespero para muitas famílias que mantinham seu sustento por meio do trabalho com o couro: “O saldo: mais de 500 desempregados no município de Turuçu e um prejuízo socioeconômico sem precedentes”. (ACESSORIA, 2001)

Em razão da decadência do curtume, o município decresce em número de habitantes, que, em busca de trabalho, procuram a serra gaúcha. Aqueles que ficam no município voltam-se para o trabalho no campo, como alternativa de renda. Cabe destacar que hoje o município possui a maioria de seus recursos oriundos de pequenas propriedades rurais.

Do transcurso do período de emancipação aos dias atuais, o município conta com a implementação de sua agricultura e diversifica sua produção:

Segundo a prefeita Selmira Fehrenbach, para incrementar ainda mais a vocação agrícola do município, este ano entrará em funcionamento o

packing house – unidade de frigoconservação de frutas e hortaliças, onde o

produtor poderá estocar o seu morango no intuito de esperar um preço mais elevado, que ocorre após o período da safra. O packing house possibilitará também que o produtor agregue mais valor ao produto, vendendo-o na forma de polpa ou suco (ACD/DP, 2002, p.7).

A implementação da agricultura ocorre por meio de convênios com a Emater e com a Embrapa que desenvolvem no município programas de ajuda ao pequeno produtor que contribuem para a diversificação da produção. Acontece, também, em grande escala o cultivo do fumo na região:

O produtor Roni Neuschank é o pioneiro na atividade no município de Turuçu. Estabelecido na localidade de Corrientes, ele introduziu a cultura do fumo na propriedade, há dois anos, anteriormente apenas voltada à produção de cebola, milho, pimenta e leite. As outras atividades ainda permanecem, mas o fumo é hoje a principal cultura (ACD/DP, 2003, p.11).

Os cultivos do morango e da pimenta são celebrados com duas grandes festas no município e que movimentam a economia local, a Oktoberfemorango realizada no mês de outubro e a Fepimenta, que ocorre no mês de abril, momentos em que a comunidade apresenta sua tradição.

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No que se refere à educação, a cidade conta com uma escola infantil, administrada pela prefeitura, duas escolas de ensino fundamental, também de responsabilidade do município, sendo estes números correspondentes às zonas rural e urbana.

O nível de escolarização local pode ser analisado através de pesquisa referente ao ano de 2010, disponível no IBGE, onde é possível observar a necessidade de ampliação dos anos escolares:

No município, em 2010, 6,0% das crianças entre 7 a 14 anos não estavam cursando o ensino fundamental.

A taxa de conclusão, entre jovens de 15 a 17 anos, era de 47,1% [...] O percentual de alfabetização da população de 15 ou mais de idade, em 2010, era de 93,8%.

A população do município de Turuçu costumava, antes da criação da Escola de Ensino Médio João Simões Lopes Neto, deslocar seus educandos para estabelecimentos de ensino em Pelotas e São Lourenço do Sul. Conforme já destacamos anteriormente, era uma das reivindicações da comunidade a construção de uma escola de Ensino Médio para ampliar a escolarização do município e facilitar o acesso dos estudantes.

1.5 Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto

A Escola Estadual de Ensino Médio João Lopes Neto iniciou suas atividades escolares no dia 22 de abril do ano de 2002. Atualmente, é composta por um quadro docente de 11 professores, vice-diretora e diretora e possui uma capacidade total de 400 educandos, sendo que, em 2013, efetivou 180 matrículas. Conta, ainda, com três funcionários, secretária, merendeira e faxineira em sua estrutura funcional. Inserida num contexto que abrange as áreas urbana e rural do município de Turuçu, compreende assim, educandos oriundos não só da localidade, mas também da área rural de municípios vizinhos, tais como: Pelotas, mais precisamente da Colônia Osório, Colônia Corrientes, Santa Silvana, Santa Clara a colônia Py Crespo e de São Lourenço do Sul, da Colônia Sant’ana.

Devido à distância entre as diversas colônias da escola, o transporte escolar é de extrema importância para a viabilidade da escolarização. Sendo assim, horários

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de entrada e saída da escola são marcados pela movimentação de micro-ônibus e vans, no período da tarde, com um deslocamento de 8 veículos. No turno da noite, devido ao menor número de matrículas, o atendimento é feito por quatro veículos. A frota é disponibilizada,em grande parte, pela parceria entre estado e município, sendo que, para as localidades Colônia Osório, Santa Silvana, Santa Clara e colônia Py Crespo, o transporte é realizado por empresa particular e pago pelo município de Pelotas.

Em pesquisa anterior7, levantando dados sobre o andamento das atividades escolares, foi possível constatar que, dos 65 educandos que responderam ao questionário8, apenas 12 moram na zona urbana do município. Dos 53 moradores da zona rural, apenas 10 não trabalham no campo.

O quadro de professores é composto por moradores das cidades de Pelotas e São Lourenço do Sul, assim distribuídos: dez professores são naturais de Pelotas e um professor é morador da cidade de São Lourenço do Sul. O retorno dos professores à noite é viabilizado por transporte escolar, devido à falta de ônibus que atenda a esta demanda.

O processo de consulta popular9 criou a possibilidade de implantação da escola no município, trazendo os recursos necessários para sua construção no ano de 2002, período em que a escola, devido às necessidades locais, funcionava nos três turnos (manhã, tarde e noite), com a intenção de proporcionar aos trabalhadores do curtume Arthur Lange a continuidade dos estudos.

Em reportagem do jornal Diário Popular (ACD/DP, 2002, p.12), é destaque a inauguração da escola e sua importância para a comunidade:

A escola, primeira no município a oferecer o Ensino Médio, começou suas atividades no início deste ano e atende mais de 300 alunos nos turnos manhã, tarde e noite, com as três séries do aprendizado. O prédio foi construído em terreno doado pela prefeitura, na zona central da cidade, ao lado do Ginásio de Esportes. Além de computadores e completa infra-estrutura, que proporciona um ambiente ideal para o oferecimento de uma educação com qualidade, a administração municipal, através de alguns

7

Este questionário foi realizado na disciplina de Filosofia como prática de conhecimento da realidade dos alunos, sendo aproveitado como instrumento para realização da pesquisa exploratória.

8

Apêndice 1.

9

Consulta Popular: processo em que todo e qualquer cidadão, portando o título de eleitor pode ir a urna escolher quais as demandas que julga mais importante para o desenvolvimento de seu município, região e estado. Sempre obedecendo aos critérios pré-estabelecidos e embasados por lei (CODEMAU, 2013).

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convênios firmados com o Governo do Estado, também será responsável pelo transporte escolar dos alunos residentes em zonas mais distantes.

Em entrevista realizada com a diretora da Escola, indagamos a respeito da escolha do nome da Escola, quando foi-nos explicado que na Semana Farroupilha do ano de 2009, em consulta popular, foi escolhido pela maioria da comunidade o nome João Simões Lopes Neto10 e, na ocasião, estavam em competição mais três possibilidades de nomes para apreciação da comunidade: Leonel Brizola, Integração e Alberto Buss. No período anterior à consulta para escolha do nome da escola, a mesma era conhecida apenas como Escola de Ensino Médio.

Em termos de participação, a comunidade está presente de maneira ativa na escola, compõe o conselho escolar e atua em conjunto com professores e alunos nas festividades, com a finalidade de arrecadação de verbas. Nas decisões, apoia a equipe diretiva em relação à melhoria e ampliação das condições da escola. Porém, os problemas e as necessidades da comunidade representam um desafio para a escola. Assim, o número de alunos que consegue completar os estudos em idade adequada é baixo, conforme pesquisa do INEP11, realizada sobre a realidade do município no ano de 2010:

A distorção idade-série eleva-se à medida que se avança nos níveis de ensino. Entre alunos do ensino fundamental, 29,7% estão com idade superior à recomendada chegando a 31,0% de defasagem entre os que alcançam o ensino médio12.

Esta realidade faz parte da maioria das escolas com características rurais no Brasil, demonstrando que o acesso à escolarização de comunidades rurais continua sendo precária e deficiente.

A formação de professores acontece anualmente conforme recomendação da coordenadoria de educação, no tocante a projetos escolares, no turno inverso. Nas quartas-feiras, é desenvolvido o projeto Arteútil, de responsabilidade da professora de Artes, que tem como objetivo central a geração de renda para a comunidade carente.

Os festejos escolares estão em grande parte associados às festas municipais, como a Oktoberfemorango e a Fepimenta, sendo de grande importância

10

Em conversas informais, observa-se que este nome refere-se a uma formalização que decorreu da disputa no interior da escola, optando-se assim, pelo nome do escritor pelotense.

11

Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa.

12

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