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2. Metodologia e entrelaçamento da pesquisa

2.1 Caminho metodológico

Na análise de Frigotto (1991, p.87) “o início de uma pesquisa requer uma problemática que nos provoca a elencar uma série de questionamentos a respeito”. No tocante a nossa metodologia, encontramos nas observações de Trivinõs elementos que contribuem para a compreensão do movimento de pesquisa a que nos propomos, principalmente no que se refere à pesquisa qualitativa. Assim, destacamos como apontamentos centrais em nossa construção, a seguinte passagem a respeito da centralidade de nossa pesquisa:

Os enfoques crítico-participativos com visão histórico-estrutural – dialética da realidade social que parte da necessidade de conhecer (através de percepções, reflexão e instituição) a realidade para transformá-la em processos contextuais e dinâmicos complexos (Marx, Engels, Gramsci, Adorno, Horkheimer, Marcuse, Fromm, Habermas, etc.) (117, 1995).

A prática docente na Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto favoreceu o desenvolvimento da pesquisa exploratória, no transcorrer do ano de 2011, “com o objetivo de proporcionar maior familiaridade com o problema.” (Gil, p.42, 2002) Nesse período, investigaram-se as relações no interior da escola, bem como as relações desta com a comunidade. Tal proximidade vinha se desencadeando desde o início da experiência docente da pesquisadora na escola, em 2009, com o ingresso como professora de Filosofia e Sociologia, período anterior ao ingresso no Curso de Mestrado em Educação.

Optamos pela realização de um estudo de caso, baseado na ação pedagógica da Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto e sua ação dialógica frente aos educandos/trabalhadores, visto que a pesquisadora possui laços de interação com a comunidade que contribuem com a linha metodológica escolhida. Destacamos a proposta descrita por Lüdke:

O estudo de caso é o estudo de um caso, seja ele simples e específico, como o de uma professora competente de uma escola pública, ou complexo e abstrato como o das classes de alfabetização (CA) ou do ensino noturno. O caso é sempre bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente definidos no desenrolar do estudo. O caso pode ser similar a outros, mas é ao mesmo tempo distinto, pois tem um interesse próprio, singular. Segundo Goode e Hatt (1968), o caso se destaca por se constituir numa unidade dentro de um sistema mais amplo. O interesse, portanto, incide naquilo que ele tem de único, de particular, mesmo que posteriormente venham a ficar evidentes certas semelhanças com outros casos ou situações (1986, p.17).

Enquanto educadores, nos deparamos com realidades contrastantes com a do mundo acadêmico. Cabe salientar que, como forma de qualificação da prática pedagógica, é necessário o esforço de conhecer a realidade. Paulo Freire (1971, p.34), ao sinalizar para as questões de pesquisa, ressalta:

Um destes problemas com que primeiro nos confrontamos quando nos obrigamos a conhecer uma dada realidade, seja a de uma área rural ou a de uma área urbana, enquanto nela atuamos ou para nela atuar, é saber em que realmente consiste a realidade concreta.

Com intenção de compreender a comunidade investigada, esta pesquisa, em seu primeiro momento, contou com uma descrição a respeito da história do município de Turuçu, de forma a desvelar a realidade e, nesse instante, foi possível

observar que devido ao fato de se tratar de um município novo, existem poucas pesquisas sobre a região. Notemos que as investigações dão conta de questões agropecuárias e não mencionam a história e as raízes da região. Em se tratando de pesquisas relativas à Escola Estadual de Ensino Médio Simões Lopes Neto, não foram encontradas referências. Desse modo, tornou-se essencial para nossa pesquisa realizar um levantamento documental13 inicial, em jornais e documentos da região, como forma de conhecer tal história.

Compreendemos que esse primeiro levantamento contribui para a comunidade escolar pesquisada conhecer a si própria, pois o município carece de material que retome e reconheça sua história. Visto que as fontes de relatos históricos são predominantemente orais, a intencionalidade da pesquisa é que os sujeitos envolvidos dela façam parte, de tal forma a identificar-se com a mesma. Sendo assim:

Na perspectiva libertadora em que me situo, pelo contrário, a pesquisa, como ato de conhecimento, tem como sujeitos cognoscentes, de um lado, os pesquisadores profissionais; de outro, os grupos populares e, como objeto a ser desvelado, a realidade concreta (FREIRE, 1971, p.35).

O movimento da pesquisa dá-se na prática pedagógica e no ato de conhecer a realidade, movido pela curiosidade da pesquisadora, mas com a intenção de qualificar a prática docente, o que pode reverberar em aspectos positivos, tanto para docentes como para discentes. Em outras palavras, significa construir com a comunidade envolvida. Em suma, pode transformar-se a pesquisa em um referencial para qualificar o ato de conhecer, de forma crítica a realidade e os limites que dela fazem parte. Segundo Freire:

Deste modo, fazendo pesquisa, educo e estou me educando com os grupos populares. Voltando à área para pôr em prática os resultados da pesquisa não estou somente educando ou sendo educado: estou pesquisando outra vez. No sentido aqui descrito, pesquisar e educar se identificam em um permanente e dinâmico movimento (1971, p.36).

O panorama escolar de pesquisa é composto por um quadro atípico, no que se refere ao público de educandos, uma vez que o funcionamento da escola apesar de sua localização urbana, acontece hoje em dia, em decorrência do número de alunos oriundos da zona rural.

13 São considerados documentos “quaisquer materiais escritos que possam ser usados como fonte de

Mantenho uma forte crítica ao modelo positivista de ciência que qualifica o conhecimento científico enquanto puro, autônomo e neutro, assumido como expressão de uma verdade universal inexistente. Reafirmo o caráter classista da ciência e sua historicidade, bem como sua perspectiva dialética que busca, mediante movimentos de contato com a realidade assumida criticamente, ir da aparência à essência, partindo do concreto ao abstrato. Movimento esse que considera os grupos e as populações enquanto sujeitos do processo de conhecimento e procura estabelecer uma relação dialética entre teoria e prática. Ademais, o conhecimento é aqui considerado em sua aplicabilidade para a solução dos graves problemas sociais que afligem a humanidade. (...) destaco o compromisso da ciência com a crítica da realidade para sua transformação, ou seja, o compromisso social do pesquisador, compromisso com as classes subalternizadas da sociedade, numa busca de articulação e superação da dicotomia sujeito-objeto; teoria- prática (BRANDÃO & STRECK, 2006, p.147).

A escola no sistema capitalista apresenta uma função social seletiva e tem por finalidade o preparo de mão-de-obra qualificada para os vários tipos de trabalho (Freitas, 1995). Assim, a instituição escolar não tem por finalidade um desvelamento das relações de trabalho, históricas e sociais que levam as classes populares a um distanciamento da realidade, fazendo com que conteúdos e vida se distanciem.

Esta pesquisa propõe que o trabalho pedagógico junto à comunidade aconteça de forma crítica e dialógica, levando em conta as contradições presentes dentro e fora da escola. Para tanto, impera a necessidade de redimensionar as práticas pedagógicas, pois como indica nossa pesquisa exploratória, é possível observar a presença constante da comunidade no interior da escola, porém os espaços de decisão acontecem de forma unilateral. Desse modo, carece investigar a articulação entre realidade e escola para assim “constituir-se em uma situação gnosiológica, [em que] o papel do educador problematizador é proporcionar, com os educandos, as condições em que se dê a superação do conhecimento no nível da doxa pelo verdadeiro conhecimento, o que se dá no nível do logos” (FREIRE, 1987, p.70).

A comunidade escolar é ativa nos processos participativos, sendo ela a responsável, como já exposto, pela possibilidade de criação da própria escola. Streck destaca, quando redige o verbete Esperança, a dimensão dessa categoria no diálogo proposto por Freire. Tomemos a seguinte passagem: “A confiança se instaura no diálogo que, por sua vez, é movido pela esperança. O diálogo em busca do Ser mais não pode ocorrer na desesperança”. (2010, p.161) O imperativo para a construção do movimento dialógico no interior da escola é trazer os problemas e as necessidades da comunidade, o que compreendemos possibilitar o caminho da

participação, no sentido de contribuir com a esperança na transformação da realidade.

A coleta de dados foi realizada, em um primeiro momento, com questionário escolar fechado, aplicado no ano letivo de 2011, tendo como objetivo analisar a origem e o interesse dos educandos na participação das atividades escolares. Ainda no ano de 2011, realizamos entrevista aberta com a Diretora Arlete Hartwig, tendo em vista a sua participação na criação da escola e seu trabalho na instituição que acompanha até os dias de hoje.

No andamento da pesquisa, consideramos que a pesquisadora representa em sua ação pedagógica os parâmetros da observação participante, pois durante o período de execução da pesquisa fazia parte do quadro de professores da referida escola, contribuindo para a utilização permanente do “diário de campo”.

Contribuindo para a análise documental-histórica do município, bem como a construção de nosso referencial teórico, realizamos uma breve análise sobre a proposta de implantação do Ensino Médio Politécnico, tendo como base o ‘Regimento Referência das Escolas de Ensino Politécnico da Rede Estadual’.

Em um segundo momento, fizemos uso de entrevistas semiestruturadas realizadas com dez membros da escola e integrantes da comunidade escolar. A opção de escolha dos entrevistados seguiu critério de participação. Para a aplicação das entrevistas, contamos com a participação de duas estudantes, representantes do conselho escolar, sendo uma delas moradora do perímetro urbano e outra do meio rural. As mães entrevistadas igualmente compõem o conselho escolar e,quanto ao grupo de professores escolhidos, todos já fizeram parte em algum momento do conselho escolar, tendo estes um tempo mínimo de docência de (professor 1-8 anos), (professor 2-4 anos), (professor 3-3 anos).Na escolha, procuramos dar espaço para diferentes áreas do currículo e, em se tratando das funcionárias da escola, pudemos observar que no momento da entrevista, contava-se com o quadro das duas entrevistadas.Buscamos,também,a opinião de um dos motoristas do transporte escolar que trabalha na rota da Escola João Simões Lopes Neto há sete anos.

O período de realização dessa fase da pesquisa foi o mês de outubro de 2012, momento em que se efetivava a eleição de diretores na rede estadual de ensino. Nessa oportunidade, foi possível, por meio das entrevistas,investigar a

compreensão da categoria eleita para análise, –‘diálogo’ – no interior da Escola Estadual de Ensino Médio João Simões Lopes Neto.

As entrevistas semiestruturadas continham quatro questões centrais e abordavam a) a compreensão da categoria diálogo e sua dimensão na escola João Simões Lopes Neto, b) a existência do diálogo dentro da escola, c) como o diálogo acontece na escola e d) a efetiva ocorrência, da escola como um espaço de diálogo entre comunidade/escola e problematização das condições de melhoria do espaço escolar como contexto dialógico.

Para a organização de dados, levantados ao longo da pesquisa, foi realizada montagem com um quadro de resultados obtidos de gravações das entrevistas semiestruturadas, organizado de forma a trazer as respostas dos entrevistados em cada questão da entrevista. Ainda, para análise minuciosa dos critérios apontados, cada questão foi separada em quadros específicos de forma a contribuir para a análise. Criamos, desse modo, em cada quadro, separadamente, os itens semelhantes e os divergentes para contemplar as falas não abordadas nas questões levantadas.

Por fim, o período escolhido para a realização das entrevistas, ou seja, a eleição para diretor propiciou a discussão informal com todos os membros que dela participaram, de modo a compreender a significação de tal ato para o andamento das atividades escolares, destacando anseios e angústias, presentes no contexto escolar.