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Urbano em aparência, rural em essência: características do território

O geógrafo Milton Santos (1996), na discussão a respeito da definição de espaço e território, destaca o conceito de espaço geográfico e o considera resultado da construção social. Para ele “o espaço reúne a materialidade e a vida que as anima”. Enquanto o território apresenta-se como construção social manifesta a partir de domínio do espaço enfatiza o espaço pode ser entendido como uma “acumulação desigual dos tempos”. (1988)

A análise sobre o histórico do município de Turuçu e a constituição das relações existentes no cotidiano da Escola permitem afirmar que a cidade, apesar de se estabelecer como um panorama urbano, apresenta características essencialmente rurais. Entramos em um debate que hoje acompanha a Educação do Campo, muito por causa das nucleações das escolas rurais. A urbanização do território, em análise realizada por Veiga, pode ser observada a partir das diferentes interpretações mundiais a respeito da caracterização da população quanto ao território. No caso do Brasil, destaca o autor:

O entendimento do processo de urbanização do Brasil é atrapalhado por uma regra que é única no mundo. O país considera urbana toda sede de município (cidade) e de distrito (vila), sejam quais forem suas características estruturais ou funcionais. O caso extremo está no Rio Grande do Sul, onde a sede do município União da Serra é uma “cidade” na qual o Censo Demográfico de 2000 só encontrou 18 habitantes. (2004, p.6)

Frente à relação urbano-rural, a história conta que no Estado do Rio Grande do Sul, em diferentes momentos, aconteceram movimentos emancipatórios como tentativa de suprir as necessidades básicas da população. (Mesquita, 2009) No caso do município de Turuçu, segundo a análise dos moradores, representada pelas reportagens aqui destacadas, as conquistas nesse sentido são de grande importância para a qualidade de vida local, porém, em contrapartida, observamos um decréscimo da população. Assim representado em análise IBGE, no ano de 1991 (PREFEITURA DE TURUÇU, 2013), o município mantinha um índice de desenvolvimento humano, relativo à renda de 0,725. No ano de 2000, o índice cai para 0,649, sendo que a população urbana somava o total de 1638 habitantes, enquanto os residentes na zona rural representavam 2.072, somando 3.829 habitantes. Em nova análise realizada no ano de 2010, podemos observar no total da população, segundo dados do INEP (FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA, 2011), uma queda considerável. Nesta data, 3.522 habitantes ocupam o território, o que resulta no fato de que, no espaço de tempo de 9 anos, 307 pessoas deixaram o município, se considerarmos a constituição familiar com média de cinco pessoas, aproximadamente sete famílias por ano deixaram/deixam o município.

Podemos atribuir o êxodo à falência do curtume Arthur Lange no período administrado pelo grupo Extremo Sul, que ocorreu no ano de 2008. E, no tocante ao desenvolvimento e à infraestrutura, durante o mesmo espaço de tempo (de 1991 a 2010), não há grandes mudanças que permitem a população manter-se na cidade; por isso, a migração para cidades da região.

As políticas territoriais representam interesses particulares e, sendo assim, a dimensão que damos ao espaço de ocupação das comunidades tem uma influência direta no modo de vida dos sujeitos que dela fazem parte. Estimulamos a padronização dos diferentes territórios, esquecendo que o panorama brasileiro comporta dois modelos distintos de territorialização, o do campesinato e o neoliberal. Para Fernandes:

Quando o território é concebido como uno, ou seja, apenas como espaço de governança, e se ignora os diferentes territórios que existem no interior do espaço de governança, temos então uma concepção reducionista de território, um conceito de território que serve mais como instrumento de dominação por meio das políticas neoliberais (2008, p.53).

No que se refere à escola, conforme expusemos anteriormente, o público vindo da zona rural representa a grande maioria. Os problemas apresentados, como consequência de uma educação essencialmente urbana, implantada para o público campesino, estão presentes também nessa realidade. Assim, temos que:

A inadequação idade-série, percebida ainda nas séries iniciais do ensino fundamental, desencadeia uma onda perversa, que afeta a trajetória escolar dos alunos do meio rural e se transforma numa das principais causas do abandono e, até mesmo de evasão escolar. Nos anos iniciais do ensino fundamental, 38,9 % dos alunos apresentam distorção idade-série. Nos anos finais do ensino fundamental, esse quadro atinge 51% das crianças que se mantêm no sistema de ensino, chegando a 55,8% para os jovens do ensino médio (OLIVEIRA, 1993, p.59).

Em seu estudo, a autora salienta as causas que levam ao abandono escolar, entre elas as longas distâncias e a inadequação entre idade-série, que acaba por levar os alunos ao desestímulo. Podemos acrescentar a ausência de formação adequada dos professores dessas localidades, que, em sua maioria, como em nosso caso, percorrem longas distâncias para trabalhar. As consequências dessa realidade afetam diretamente os jovens do meio rural, principalmente em seus projetos para o futuro, pois a falta de escolarização os remete inevitavelmente à carência de oportunidades de trabalho.

No tocante à formação de professores, é importante salientar que os professores oriundos de outros municípios, devido a sua formação, em sua maioria, não acompanham os problemas e necessidades locais, pois, não raro, em suas concepções, estes fatores não são relevantes no processo educativo. Sendo assim, perpetua-se a desigualdade escolar no campo. No sentido de transpor esta barreira, é de fundamental importância a formação de professores específicos para essas realidades.

O que buscamos é salientar a importância de uma educação que leva em conta as características locais, possibilitando às comunidades do campo a permanência e continuidade dos estudos, o que torna necessário outro projeto de educação, exposto por Paludo (2010, p.264):

Muito se discute, hoje, no interior da Via Campesina e de outros Movimentos, sobre a importância do fortalecimento da articulação campo- cidade para o avanço da luta popular. Assim, a educação poderia contribuir para o restabelecimento desse elo. Da Educação do Campo para a Educação Popular do Campo e da Cidade, essa parece ser a síntese: escola pública popular do campo e escola pública popular das vilas e bairros populares. O MST e os demais Movimentos Sociais do Campo, assim como na Articulação por uma Educação do Campo, teriam um papel

central na reconstituição de um movimento educativo popular maior, a fim de contribuir na elaboração e na prática de uma outra escola para o povo, para as classes populares também da cidade: Pedagogia do Movimento, Educação Popular do Campo e Educação Popular da Cidade.

Entendemos que é necessário que as escolas públicas, principalmente aquelas localizadas no campo, – nosso objeto de pesquisa, – implantem o ideal de escola popular, proposto por Paulo Freire, pautado pelo diálogo, fazendo de sua prática cotidiana a possibilidade de reflexão-ação, com a intencionalidade de transformação de sujeitos integrantes do processo e da realidade que os circundam.

Compreender as categorias que representam elementos centrais para a proposta de uma educação dialógica, popular, voltada para as necessidades dos educandos é essencial para o desenvolvimento da pesquisa.