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Proposta de guia para validação de métodos bioanalíticos por ensaios de ligação de ligantes para análise de biossimilares

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA

DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA E FARMACOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FARMACOLOGIA MESTRADO PROFISSIONAL EM FARMACOLOGIA CLÍNICA

DULCYANE NEIVA MENDES FERNANDES

PROPOSTA DE GUIA PARA VALIDAÇÃO DE MÉTODOS BIOANALÍTICOS POR ENSAIOS DE LIGAÇÃO DE LIGANTES PARA ANÁLISE DE BIOSSIMILARES

FORTALEZA 2019

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DULCYANE NEIVA MENDES FERNANDES

PROPOSTA DE GUIA PARA VALIDAÇÃO DE MÉTODOS BIOANALÍTICOS POR ENSAIOS DE LIGAÇÃO DE LIGANTES PARA ANÁLISE DE BIOSSIMILARES

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Farmacologia - Mestrado Profissional em Farmacologia Clínica da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Farmacologia Clínica.

Orientadora: Profa. Dra. Geanne Matos de Andrade.

FORTALEZA 2019

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DULCYANE NEIVA MENDES FERNANDES

PROPOSTA DE GUIA PARA VALIDAÇÃO DE MÉTODOS BIOANALÍTICOS POR ENSAIOS DE LIGAÇÃO DE LIGANTES PARA ANÁLISE DE BIOSSIMILARES

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Farmacologia – Mestrado Profissional em Farmacologia Clínica da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Farmacologia Clínica.

Aprovada em: ____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Profa. Dra. Geanne Matos de Andrade (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Profa. Dra. Caroline de Fátima Aquino Nunes Moreira

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Prof. Dr. Danilo Damasceno Rocha

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A Deus.

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AGRADECIMENTOS

À Deus por sua permissão, bondade e amor.

Ao Benzinho pelo amor, apoio, incentivo e compreensão durante esta jornada. À minha família e amigos por todo apoio incondicional.

Aos colegas da turma de mestrado, pelo companheirismo, as reflexões, críticas e sugestões recebidas.

À ANVISA, pela oferta deste mestrado profissional.

À UFC, por ter ofertado e me selecionado para participar deste mestrado. À Profa. Dr. Geanne Matos de Andrade, pela orientação.

Aos professores participantes da banca examinadora Geanne, Caroline e Danilo pelo tempo, pelas valiosas colaborações e sugestões.

Aos professores do Mestrado em Farmacologia Clínica pelos conhecimentos transmitidos durante as aulas ministradas.

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“Todo medicamento é potencialmente um veneno; o que distingue um medicamento de um veneno é tão somente a dose” (Paracelsus)

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RESUMO

Com a introdução crescente dos medicamentos biossimilares no mercado, torna-se essencial que exista, nas diferentes regiões do globo, uma estrutura regulamentar mais consistente para que a eficácia das terapêuticas e a segurança dos doentes sejam preservadas. Para comprovar a similaridade farmacocinética (PK) os medicamentos biossimilares precisam provar através de testes de biodisponibilidade relativa que são semelhantes aos medicamentos biológicos já registrados. Para que estes estudos sejam realizados é necessário que haja a validação do método bioanalítico a ser empregado. Por os biológicos se tratarem de macromoléculas o método empregado normalmente utiliza ensaios de ligação de ligantes (LBA), diferente das moléculas sintéticas que empregam a técnica de cromatografia líquida acoplada a espectrometria de massas. A maioria das agências reguladoras do mundo elaboraram guias para direcionar as indústrias de como a validação necessita ser feita nos dois tipos de técnica. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) não possui um guia específico para a técnica de ligação de ligantes, fazendo com que as empresas possuam dúvidas em como apresentar a validação dos métodos bioanalíticos a serem empregados em estudos com biossimilares. No intuito de auxiliar as empresas nos ensaios a serem apresentados na submissão do registro de biossimilares, este trabalho teve por objetivo elaborar um guia dos ensaios de validação de métodos bioanalíticos que empregam LBA que devem ser conduzidos em estudos para embasar a demonstração de biossimilaridade PK entre medicamentos biológicos no Brasil, baseado nos guias das principais agências reguladoras do mundo, além de descrever os ensaios de validação descritos na legislação brasileira e os ensaios por LBA das principais agências reguladoras do mundo. Assim, foi feito um estudo bibliográfico analítico descritivo com coleta de dados dos guias publicados de validação de métodos bioanalíticos por LBA das principais agências reguladoras do mundo e do International Council of Harmonization (ICH). Foi apresentada primeiramente uma descrição com os requerimentos para validação de métodos bioanalíticos por LBA da ANVISA e das principais agências reguladoras e do ICH, para padrões de referência, especificidade, seletividade, efeito residual, seleção de matriz, diluição mínima requerida, curva de calibração, controle de qualidade, precisão, exatidão, linearidade da diluição, paralelismo, estabilidade e reagentes. Ademais, foi elaborado um guia que elenca os ensaios a serem apresentados, pelas empresas na submissão de registro de biossimilares no Brasil, com o intuito de validar os métodos bioanalíticos dos estudos farmacocinéticos de similaridade para medicamentos

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biológicos, com a sugestão que o mesmo se torne futuramente uma resolução da ANVISA para validação de métodos bioanalíticos que empregam LBA.

Palavras-chave: Biossimilares. Biossimilaridade. Farmacocinética. Ensaio de ligação de

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ABSTRACT

With the increase of biosimilar drugs on the market, it is essential that there be a more consistent regulatory framework in the different regions of the globe so that the efficacy of therapeutics and patient safety are preserved. To prove pharmacokinetic (PK) similarity, biosimilar drugs need to be proven through bioavailability tests that are similar to biological drugs. To perform these tests is necessary validate the bioanalytical method to be used. Because biologicals are macromolecules, the method normally employed uses the ligand binding technique, unlike synthetic molecules that normally employ liquid chromatography coupled to mass spectrometry. Most regulatory agencies in the world have developed guidelines to guide industries how validation needs to be done in both types of technique. Brazilian Health Regulatory Agency (ANVISA) does not have specific guideline for ligand binding assay (LBA), making companies have doubts on how to present validation of methods to be used in biosimilars studies. In order to assist companies in trials to be presented for bioanalytical method validation, which employs LBA, in relative bioavailability studies to be presented in the submission of the registry this work had as objective to elaborate a guide of bioanalytical methods validation by LBA to support the demonstration of PK biosimilarity among biological medicines in Brazil based on the guidelines of the main regulatory agencies in the world, as well as to describe the validation tests of bioanalytical methods in Brazilian legislation and the assays of LBA described in guidelines of main regulatory agencies. Thus, a descriptive analytical bibliographic study was carried out with the collection of qualitative data from published bioanalytical method validation guidelines by LBA of the main regulatory agencies of the world and the International Council of Harmonization (ICH). This study presents a description with the requirements for validation of bioanalytical methods by LBA of ANVISA and the main regulatory agencies and ICH, for reference standards, specificity, selectivity, residual effect, matrix selection, minimum required dilution, calibration curve, quality control, precision, accuracy, dilution linearity, parallelism, stability and reagents. In addition, a guide was made with the assays to be presented by companies in order to support the validation of the bioanalytical methods of pharmacokinetic similarity studies for biological drugs with the suggestion that the same becomes in future an ANVISA resolution for bioanalytical methods validation that employ LBA.

Keywords: Biosimilars. Biosimilarity. Pharmacokinetic. Ligand Binding Assay. Bioanalytical

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Diferença estrutural entre produtos biológicos e drogas sintéticas... 20

Figura 2 - Comparação entre origem, tamanho e peso molecular de moléculas sintéticas e biológicas... 21

Figura 3 – Diferenças de tempo entre o desenvolvimento de um medicamento biológico e um biossimilar... 31

Figura 4 - Etapas da via de desenvolvimento por comparabilidade dos biossimilares... 33

Quadro 1 - Dados resumidos requeridos pelos guias das instituições para padrões de referência... 47

Quadro 2 - Dados resumidos requeridos pelos guias das instituições para especificidade... 49

Quadro 3 - Dados resumidos requeridos pelos guias das instituições para seletividade... 52

Quadro 4 - Dados resumidos requeridos pelos guias das instituições para efeito residual... 54

Quadro 5 - Dados resumidos requeridos pelos guias das instituições para seleção de matriz. 56 Quadro 6 - Dados resumidos requeridos pelos guias das instituições para MRD... 57

Quadro 7 - Dados resumidos requeridos pelos guias das instituições para CCA... 60

Quadro 8 - Dados resumidos requeridos pelos guias das instituições para CQ... 62

Quadro 9 - Dados resumidos requeridos pelos guias das instituições para precisão e exatidão... 65

Quadro 10 - Dados resumidos requeridos pelos guias das instituições para linearidade da diluição... 67

Quadro 11 - Dados resumidos requeridos pelos guias das instituições para paralelismo... 68

Quadro 12 - Dados resumidos requeridos pelos guias das instituições para estabilidade... 71

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LISTA DE TABELAS

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária ASC Área sob a curva

BD Biodisponibilidade relativa BE Bioequivalência

CCA Curva de calibração

CETER Coordenação de Equivalência Terapêutica Cmáx Concentração máxima

CoA Certificate of analysis ou Certificado de análise CONEP Comitê Nacional de Ética em Pesquisa

COPEC Coordenação de Pesquisa Clínica em Medicamentos e Produtos Biológicos CQ Controle de Qualidade

CQA Controle de qualidade de alta concentração CQB Controle de qualidade de baixa concentração CQD Controle de qualidade de diluição

CQM Controle de qualidade de média concentração CV Coeficiente de variação

Da Daltons

DNA Ácido desoxirribonucleico DPR

ELISA

Desvio padrão relativo

Enzyme Linked ImmunoSorbent Assay ou Ensaio de imunoabsorção enzimática EMA European Medicines Agency

EPR Erro padrão relativo

EUA Estados Unidos da América

Ex Exemplo

FDA US Food and Drug Administration

GPBIO Gerência de Avaliação de Produtos Biológicos HC Health Canada

ICH International Council of Harmonization

LBA Ligand Binding Assay ou Ensaio de ligação de ligante LC Liquid chromatography ou Cromatografia líquida LIQ Limite inferior de quantificação

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LSQ Limite superior de quantificação mAbs Anticorpos monoclonais

MHLW Ministry of Health Labour and Welfare of Japan

MRD Minimum required dilution ou Diluição mínima requerida

MS Mass spectrometer ou Espectrômetro de massa

OMS Organização Mundial de Saúde OS Orientação de Serviço

PD Farmacodinâmico (a)

PDP Parceria de Desenvolvimento Produtivo PI Padrão interno

PK Farmacocinético (a)

PMDA Pharmaceuticals and Medical Device Agency SUS Sistema Único de Saúde

Tmáx Tempo para atingir a concentração máxima UE União Europeia

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

1.1 Medicamentos biológicos ... 18

1.2 Biossimilares ... 25

1.3 Biossimilaridade ... 30

1.4 Análise Farmacocinética e Ensaio de Ligação de Ligantes... 33

1.5 Validação de Método Bioanalítico... 37

2 JUSTIFICATIVA... 40

3 OBJETIVO GERAL... 42

3.1 Objetivos específicos... 42

4 MATERIAIS E MÉTODOS... 43

5 DISCUSSÃO E RESULTADOS... 45

5.1 Discussão dos critérios para a escolha de cada ensaio de validação para o guia... 46 5.1.1 Padrões de referência... 46 5.1.2 Especificidade... 48 5.1.3 Seletividade... 50 5.1.4 Efeito residual... 52 5.1.5 Seleção de matriz... 54

5.1.6 Diluição mínima requerida (MRD)... 57

5.1.7 Curva de calibração... 58 5.1.8 Controle de qualidade... 61 5.1.9 Precisão e exatidão... 63 5.1.10 Linearidade da diluição... 66 5.1.11 Paralelismo... 68 5.1.12 Estabilidade... 69 5.1.13 Reagentes... 72

5.2 Resultado do compilado para a proposta de guia de validação de métodos bioanalíticos por LBA... 73

5.2.1 Padrões de referência... 74

5.2.2 Especificidade... 75

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5.2.4 Efeito residual... 76

5.2.5 Seleção de matriz... 77

5.2.6 Diluição mínima requerida (MRD)... 77

5.2.7 Curva de calibração... 78 5.2.8 Controle de qualidade... 78 5.2.9 Precisão e exatidão... 79 5.2.10 Linearidade da diluição... 79 5.2.11 Paralelismo... 80 5.2.12 Estabilidade... 81 5.2.13 Reagentes... 83 6 CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS... 85 REFERÊNCIAS... 86

APÊNDICE A - GUIA DE VALIDAÇÃO DE MÉTODOS BIOANALÍTICOS POR LBA... 90

ANEXO A - ENSAIOS DE VALIDAÇÃO DE MÉTODOS

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1 INTRODUÇÃO

Os gregos acreditavam que a terapêutica era uma forma de relacionamento do homem com a natureza, que teria como consequência a cura e assim, para alcançar este objetivo, o homem buscou no meio ambiente o remédio, que proporcionaria a cicatrização dos ferimentos, a melhoria dos sintomas e até a superação da morte. Com a evolução no decorrer da história houve o uso de medicamentos como recurso terapêutico, tornando-se este o principal instrumento tecnológico do campo da saúde (RENOVATO, 2008).

A origem da indústria farmacêutica como mercado global remonta ao final do século XIX, quando ocorreu a intensificação da pesquisa científica aplicada à indústria e a produção em maior escala, que fez que esta possuísse além do principal objetivo de produção de medicamentos, a necessidade de constante pesquisa e desenvolvimento, inovação, comercialização e distribuição de produtos. Uma vez que a expectativa e a qualidade de vida da época eram extremamente limitadas, existia uma imensa demanda latente por medicamentos e a indústria em voga encontrou ambiente propício para se desenvolver. Todavia, os resultados iniciais foram lentos, pois as pesquisas e o aperfeiçoamento destas que levam à produção e à comercialização dos fármacos, exigiram anos de esforço e testes clínicos (DUARTE et al., 2015).

A partir da Segunda Guerra Mundial houve uma maior evolução dos medicamentos, através da sua industrialização acompanhada de avanços na ciência, que permitiram a síntese de novos fármacos, bem como a utilização de recursos instrumentais que pudessem comprovar sua eficácia e segurança (RENOVATO, 2008).

Especificamente no Brasil, o nascimento e o desenvolvimento da indústria farmacêutica estiveram consideravelmente atrelados ao Estado, que para tratar questões de saúde pública e de promover práticas sanitárias de prevenção e de combate a doenças infecciosas, como malária e febre amarela, incentivou a produção de soros, vacinas e medicamentos de forma geral (DUARTE et al., 2015).

Durante o século XIX e início do XX, com a intensificação do ciclo do café que provocou ondas de imigração e ampliação do processo de urbanização, a população brasileira teve um crescimento significativo que gerou aumento no quantitativo de doenças e epidemias, causadas normalmente pelas péssimas condições de higiene dos navios e cortiços da época, estimulando a demanda por medicamentos produzidos pela indústria farmacêutica nacional. No início do século XX, os medicamentos consumidos no Brasil eram originários da atividade de um grande número de pequenos e médios laboratórios nacionais, poucos estrangeiros e

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também de importações (RENOVATO, 2008). Na década de 1950, com o desenvolvimentismo do período JK e a abertura do mercado farmacêutico nacional a empresas estrangeiras, promovida pelos militares, o setor ganhou impulso em termos de crescimento e de dinamização, gerada pela maior concorrência (DUARTE et al., 2015).

A partir de 1950, com a estratégia de dominação do mercado mundial, as indústrias farmacêuticas incorporaram o processo denominado integração vertical, onde estas realizariam todas as etapas da fabricação do medicamento, da produção à comercialização. Porém, nos países em desenvolvimento, como o Brasil, as indústrias farmacêuticas transnacionais operam apenas nas últimas etapas do processo produtivo, ficando o aspecto tecnológico retido em suas matrizes que oferecem condições adequadas para a pesquisa e o desenvolvimento de novos fármacos. Assim, com a descoberta de novos fármacos e o avanço das pesquisas científicas, o processo de desnacionalização se avolumou acentuadamente, sendo que já em 1970, a produção de medicamentos se concentrou em laboratórios farmacêuticos estrangeiros que avançaram no mercado brasileiro adquirindo as pequenas e médias empresas nacionais (RENOVATO, 2008). Na década de 1980, em razão da acentuada redução de investimentos, ocorreu uma retração na indústria farmacêutica e na economia como um todo, sendo este período marcado por estagnação econômica e da inflação (DUARTE et al., 2015).

Desde a década de 1990 a indústria foi se recuperando, entretanto, ainda sofre de diversos males, como extrema dependência do mercado externo e de produtos importados, baixo investimento público e privado em pesquisas e desenvolvimento de novos farmoquímicos, políticas públicas ineficientes de estímulo à indústria nacional, dificuldades com o controle de preços por parte do governo e alta concentração do mercado (DUARTE et al., 2015).

Em 1998, foi aprovada a Política Nacional de Medicamentos, um documento amplo, mas que requeria força política para que se concretizasse e em 1999, ocorreu a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), agência brasileira responsável por diversas funções, dentre elas a regulação do setor farmacêutico (RENOVATO, 2008).

Em 1999, foi publicada da Lei nº 9.787, que criou o programa de medicamentos genéricos no Brasil, e esta definiu o medicamento genérico como o medicamento similar a um produto de referência ou inovador, que se pretende ser com este intercambiável, geralmente produzido após a expiração ou renúncia da proteção patentária ou de outros direitos de exclusividade, comprovada a sua eficácia, segurança e qualidade. O medicamento referência foi definido como o produto inovador registrado no órgão federal responsável pela vigilância

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sanitária e comercializado no País, cuja eficácia, segurança e qualidade foram comprovadas cientificamente junto ao órgão federal competente, por ocasião do registro (BRASIL, 1999).

O controle regulatório dos genéricos é rigoroso e a intercambialidade, ou seja, a substituição do medicamento de referência pelo seu genérico, é assegurada por testes de equivalência terapêutica, que incluem comparação in vitro para assegurar que a composição do produto seja idêntica à do medicamento referência através dos estudos de equivalência farmacêutica (ensaios físico-químicos e, quando aplicáveis, microbiológicos e biológicos) e in vivo, com os estudos de bioequivalência (BE) realizados em seres humanos para garantir que os genéricos serão absorvidos em concentração e velocidade comparáveis aos medicamentos de referência. A BE é a demonstração de biodisponibilidades (velocidade e extensão de absorção de um princípio ativo proveniente de uma forma farmacêutica, a partir de sua curva concentração/tempo na circulação sistêmica ou sua excreção na urina, medida com base no pico de exposição e na magnitude de exposição ou exposição parcial) equivalentes entre produtos, quando estudados sob um mesmo desenho experimental (BRASIL, 2010a).

Apesar dos problemas gerados com as indústrias dos medicamentos de referência, já que medicamentos referência são fabricados e comercializados após anos de pesquisas, testes e vultosos investimentos, o crescimento e a consolidação do mercado de genéricos, aliado a menores custos relacionados a pesquisa, desenvolvimento e marketing, permitiu a redução dos preços dos medicamentos e teve papel central no estímulo do consumo farmacêutico no Brasil (DUARTE et al., 2015).

O século XX, no âmbito da pesquisa farmacêutica, foi considerado a era das pequenas moléculas. O descobrimento de medicamentos capazes de tratar doenças endêmicas como as infecções bacterianas, o diabetes melito, a hipertensão arterial sistêmica e a dislipidemia propiciou grande prosperidade à indústria farmacêutica. Nas últimas décadas do século XX, todavia, os fabricantes tiveram dificuldades em desenvolver novos fármacos, sendo a salvação de muitas empresas os investimentos em inovação na área da biotecnologia (DUARTE et al., 2015).

O termo Biotecnologia é utilizado pela primeira vez em 1919, pelo engenheiro agrícola húngaro Karl Ereky (1878-1952), com objetivo de unir a biologia com a tecnologia, entretanto, sua definição oficial aconteceu apenas em 1992 na Convenção sobre Diversidade Biológica sendo posteriormente confirmada por 168 países e aceita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como sendo qualquer aplicação tecnológica que usa sistemas biológicos, organismos vivos ou seus derivados, para criar ou modificar produtos e processos para usos específicos (FERRO, 2010). Apesar de a Biotecnologia ser um conceito relativamente recente,

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a utilização de processos biológicos é feita a séculos pois seu emprego na produção de cerveja e pão inicia-se no antigo Egito entre 4000 e 2000 a.C. e posteriormente, mas ainda antes da descoberta dos microrganismos, os homens já exploravam esta área através da fermentação de sumo de uva em vinho ou a coagulação do leite em queijo, podendo assim afirmar que, inadvertidamente, recorria-se a bactérias e leveduras para manipulações biotecnológicas (FERRO, 2010).

Na área da saúde, a biotecnologia tem sido aplicada para o desenvolvimento de vacinas, terapia gênica e celular, desenvolvimento e uso de células-tronco embrionárias, assim como para o desenvolvimento de biofármacos, que podem ser entendidos como proteínas recombinantes destinadas à terapêutica (FERRO, 2010).

Após o entendimento aprofundado da patologia, os cientistas selecionam o alvo, que normalmente é uma molécula que desempenha um papel fundamental na doença, e um novo medicamento é então desenvolvido para atuar sobre o alvo selecionado, o que afeta o processo patológico e minimiza os possíveis efeitos secundários. Em todo este processo, as técnicas de biotecnologia têm um papel fundamental (MADEIRA, 2016).

Medicamentos produzidos a partir de biotecnologia tem beneficiado mais de 350 milhões de doentes em todo o mundo, ajudando no tratamento ou prevenção de numerosas doenças raras e graves, como câncer, ataque cardíaco, acidente vascular cerebral, esclerose múltipla, diabetes, artrite reumatoide e doenças autoimunes (MADEIRA, 2016).

O entusiasmo da indústria farmacêutica por essa classe de produtos se baseia no sucesso do Humira, medicamento biológico, anticorpo monoclonal (mAbs) aprovado nos Estados Unidos da América (EUA), em 2002, que tem como princípio ativo o adalimumabe e é utilizado no tratamento da artrite reumatoide. A empresa norte-americana AbbVie, seu fabricante, arrecadou em 2013 onze bilhões de dólares com a venda desse produto (DUARTE et al., 2015).

De maneira geral, estima-se que os medicamentos biológicos foram responsáveis por 22% das vendas das grandes companhias farmacêuticas e há previsão de que, em 2023, essa participação nas vendas aumentará para 32% (DUARTE et al., 2015).

1.1 Medicamentos biológicos

Avanços científicos em técnicas de engenharia genética recombinante e refinamentos em processos de fabricação levaram a várias décadas de crescimento no

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desenvolvimento de proteínas biológicas para uso no tratamento de doenças humanas (COLBERT et al., 2014).

Desde a aprovação da insulina humana recombinante Humulin® da empresa Genentech em parceria com a Eli Lilly Company, o primeiro produto biológico aprovado pela US Food and Drug Administration (FDA) em 1982, mais de 160 medicamentos biológicos e vacinas foram licenciados apenas nos EUA (FERRO, 2010; FERNANDES et al., 2018). Como resultado desses avanços, mais de 250 moléculas biológicas foram aprovadas para uso terapêutico, representando aproximadamente 30% de todas as drogas comercializadas, com vendas no mercado global atingindo mais de US$ 100 bilhões (COLBERT et al., 2014).

Ao contrário das drogas simples compostas de pequenas moléculas, cuja estrutura e características são bem definidas, os produtos biológicos derivam da aplicação de métodos modernos de biotecnologia à fabricação industrial de substâncias ativas a partir de sistemas vivos (células e/ou microrganismos) que são geneticamente manipulados para produzir a droga (FERNANDES et al., 2018; de ASSIS e PINTO, 2018).

Atualmente, a maioria dos produtos biológicos é produzida em células de mamíferos, porque as modificações pós-traducionais que ocorrem em proteínas de mamíferos não humanos se assemelham às das células humanas (FERNANDES et al., 2018).

Assim, biofármacos são tipicamente proteínas produzidas por tecnologia de DNA recombinante que podem ser compostas de ácidos nucléicos, proteínas, açúcares complexos, extrato de tecidos ou combinações complexas dessas substâncias (FERNANDES et al., 2018).

Para a ANVISA, órgão responsável pela regulação de medicamentos no Brasil, produto biotecnológico é o produto farmacêutico, de origem biológica, obtido por processo biotecnológico, com finalidades profiláticas, curativas, paliativas ou para fins de diagnóstico in vivo e o produto biológico novo é definido como o medicamento biológico que contém molécula com atividade biológica conhecida, ainda não registrado no Brasil e que tenha passado por todas as etapas de fabricação (formulação, envase, liofilização, rotulagem, embalagem, armazenamento, controle de qualidade (CQ) e liberação do lote de medicamento biológico novo para uso) (BRASIL, 2010b). Ainda estabelece que produto biológico é o medicamento biológico não novo ou conhecido que contém molécula com atividade biológica conhecida, já registrado no Brasil e que tenha passado por todas as etapas de fabricação (formulação, envase, liofilização, rotulagem, embalagem, armazenamento, CQ e liberação do lote de produto biológico para uso) (BRASIL, 2010b), ou seja, este seria um produto que já possuiria seu ativo registrado na ANVISA não tendo uma molécula desconhecida.

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Para a ANVISA são produtos biológicos: vacinas; soros hiperimunes; hemoderivados; biomedicamentos classificados em: a) medicamentos obtidos a partir de fluidos biológicos ou de tecidos de origem animal; e b) medicamentos obtidos por procedimentos biotecnológicos; mAbs e medicamentos contendo microrganismos vivos, atenuados ou mortos (BRASIL, 2010b).

Os medicamentos biológicos são diferentes das drogas sintéticas tradicionais e de pequenas moléculas em vários aspectos (de ASSIS e PINTO, 2018), lembrando que são considerados medicamentos sintéticos aqueles medicamentos com substâncias ativas sintéticas e que são produzidos por meio de manipulação química de substâncias. Os medicamentos de origem química apresentam, geralmente, um tamanho pequeno e uma estrutura química simples e bem definida sendo por isso fácil de caracterizar (MADEIRA, 2016). Os medicamentos biológicos apresentam uma dimensão muito superior, cerca de 200 a 1000 vezes maior, que os medicamentos de origem sintética, conforme o exemplo (ex) que pode ser visualizado na figura 1. Além da óbvia diferença de tamanho entre os analitos de pequenas e macromoléculas, existem diferenças estruturais importantes (VISWANATHAN et al., 2007). Moléculas pequenas são tipicamente moléculas orgânicas, enquanto macromoléculas são biopolímeros complexos, tornando difícil a sua caracterização, conforme pode ser visualizado na figura 2.

Figura 1- Diferença estrutural entre produtos biológicos e drogas sintéticas.

Fonte: adaptado de GREENBERG et al., 2017.

Além disso, pequenas moléculas são preparadas por síntese enquanto macromoléculas são tipicamente formadas biologicamente (VISWANATHAN et al., 2007).

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Os medicamentos de origem sintética são normalmente produzidos por reações químicas bem definidas com reagentes de estrutura bem conhecida, tornando possível a reprodução de cópias idênticas. Os medicamentos biológicos são produzidos em sistemas vivos, em linhas celulares únicas, através de um complexo processo de fabricação, portanto, as suas características estão sujeitas a variabilidade intrínseca e, por isso, são dificilmente reprodutíveis (MADEIRA, 2016). Devido à sua complexidade e ao fato de que o processo de produção influencia fundamentalmente as características do produto final, apesar do elevado controle de produção dos biológicos, é comum e aceitável que os biofármacos tenham pequenas diferenças detectáveis entre os lotes, desde que tal microheterogeneidade não afete a eficácia e a segurança do produto final (FERNANDES et al., 2018).

Figura 2 - Comparação entre origem, tamanho e peso molecular de moléculas sintéticas e biológicas.

Fonte: ESPARTEIRO, 2016.

Como resultado direto de como as macromoléculas são produzidas, os padrões de referência tendem a ser heterogêneos, muitas vezes por causa da modificação pós-tradução (por ex, glicosilação ou fosforilação). Em contraste, os padrões de referência de moléculas pequenas são homogêneos com alto grau de pureza (VISWANATHAN et al., 2007). A produção de medicamentos biológicos é um processo complexo com um elevado CQ sendo,

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tipicamente, necessário cerca de 250 ensaios para CQ, enquanto os medicamentos de origem sintética requerem cerca de 50 ensaios (MADEIRA, 2016).

Os medicamentos biológicos são considerados instáveis por serem extremamente sensíveis a variações externas e por este motivo, estes medicamentos são transportados e armazenados em ambientes controlados. Contrariamente, a maioria dos medicamentos de origem sintética, devido às suas propriedades, são muito mais estáveis (MADEIRA, 2016). Embora a estabilidade química seja avaliada para moléculas pequenas com relativa facilidade, a avaliação da estabilidade de macromoléculas é geralmente mais complexa, exigindo a avaliação não apenas das propriedades químicas e físicas, mas também da integridade biológica, com a verificação se a afinidade do receptor é mantida. As moléculas pequenas são muitas vezes hidrofóbicas e as macromoléculas são frequentemente hidrofílicas (VISWANATHAN et al., 2007).

Em relação à imunogenicidade, os medicamentos biológicos, devido ao seu elevado tamanho molecular, tendem a ser reconhecidos pelo organismo como um corpo estranho, induzindo reações imunológicas.A possibilidade de induzir uma reação imunológica no organismo humano pode ser desejada para alguns medicamentos biológicos, como é o caso das vacinas que exploram especificamente o seu potencial imunogênico, provocando uma resposta imunológica que reconhece e combate a substância invasora. No entanto, para alguns medicamentos à base de proteínas, a estimulação de uma resposta imunológica é considerada um efeito adverso. Os medicamentos de origem sintética, por outro lado, sendo de composição diferente, são geralmente muito pequenos para serem reconhecidos pelo sistema imunológico e normalmente não apresentam este efeito adverso (MADEIRA, 2016).

A Tabela 1 resume as principais diferenças entre os Medicamentos Sintéticos e os Medicamentos Biológicos descritas anteriormente.

Desde sua descoberta até o registro um biofármaco leva em média 12 anos para ser desenvolvido. Para obter aprovação e registro, um biofármaco deve passar através de três fases de pesquisa e desenvolvimento: a fase de descoberta que leva de 2 a 5 anos e consiste na identificação de substâncias com potencial atividade biológica; a fase pré-clínica que leva de 1 a 2 anos e envolve estudos in vitro para estabelecer processos de fabricação e formulação de produtos, testes para entender melhor o mecanismo de ação do composto, desenvolvimento de métodos analíticos para CQ e estudos in vivo para estabelecer eficácia e parâmetros de segurança; e a fase clínica que envolve testes em humanos para determinar os parâmetros de segurança, dosagem e eficácia do fármaco e estabelecer protocolos de tratamento. Os ensaios clínicos são realizados somente depois de terem recebido aprovação dos comitês de ética no

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país onde o medicamento está sendo desenvolvido. No Brasil, esses estudos são conduzidos de acordo com as diretrizes do Comitê Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e a aprovação do registro é concedida pela ANVISA. Desenvolver um novo biofármaco é um processo longo, dispendioso, de alto risco, e menos de 10% de todos os compostos testados chegam ao mercado. O custo do desenvolvimento de um novo medicamento, de estudos in vitro e in vivo e os riscos associados, é somado ao custo final do biofármaco comercializado e é estimado em aproximadamente US$ 2 bilhões (FERNANDES et al., 2018).

Tabela 1- Comparação entre medicamentos sintéticos e biológicos.

Sintéticos Biológicos

Tamanho Pequenas;

Baixo Peso Molecular (~centenas de Da)

Grandes;

Elevado Peso Molecular (~centenas de KDa)

Estrutura Simples, pode ser descrita por uma fórmula química

Complexa, não pode ser descrita por uma fórmula química

Caracterização Fácil Difícil

Produção Processo Químico;

Fácil produção de cópias idênticas

Linhas celulares únicas;

Reprodução impossível de cópias, variabilidade inter lote

Estabilidade Estável Instável

Controle de Qualidade ≤ 50 Ensaios ≥ 250 Ensaios

Imunogenicidade Baixo potencial imunogênico Elevado potencial imunogênico Via de Administração Geralmente oral Geralmente parenteral

Especificidade Específico Altamente específico ao receptor,

enzima e antígeno alvo

Patentes Geralmente única Múltiplas

Fonte: elaborada pela autora.

Normalmente, os medicamentos biológicos são produzidos a partir de linhas celulares geneticamente modificadas, ao qual cada empresa de biotecnologia tem as suas próprias e únicas linhas celulares, e desenvolve os seus próprios processos de fabrico, onde as menores variações podem resultar em alterações significativas nos medicamentos biológicos, alterando o seu perfil de segurança e a eficácia, como a seleção inadequada da linha celular pelo fabricante; características biofísicas das proteínas; mudanças na temperatura ou nas condições de pH durante as fases de cultivo; manuseio e conservação do produto nas várias

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etapas do fabrico; formulação do produto farmacológico e local de produção. É, portanto, vital controlar com precisão os processos de fabrico e o ambiente dentro de uma unidade de produção, para obter resultados consistentes e garantir a segurança e eficácia do produto final (MADEIRA, 2016).

O alto custo dos produtos biológicos, especialmente mAbs como o rituximabe, é responsável pela maior parte do custo do tratamento do câncer, no entanto, a introdução de mAbs na prática de cuidados de saúde melhorou significativamente a sobrevida global de pacientes com câncer, em geral sendo menos citotóxica e tendo efeitos colaterais mais leves em comparação com agentes quimioterápicos, e fornecendo tratamento direcionado preciso (FERNANDES et al., 2018).

Embora os biológicos já tenham comprovado sua eficácia perante os tratamentos tradicionais, existem grandes preocupações quanto à viabilidade de ofertar esses produtos aos usuários dos serviços públicos de saúde, pois por ex, os medicamentos biológicos utilizados no tratamento da artrite reumatoide, geralmente de uso prolongado, custam mais de US$ 12.000,00 por paciente por ano (DUARTE et al., 2015). Alguns medicamentos custam ainda mais caro, o que onera sobremaneira o orçamento público e a oferta de tais tratamentos tem causado grandes impactos no orçamento dos serviços de saúde pública de países ricos, o que faz inferir que os biológicos têm custo quase que proibitivo aos sistemas de saúde de países em desenvolvimento (DUARTE et al., 2015).

Diante desse panorama, um dos grandes dilemas dos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) é ofertar, com o orçamento de que dispõem, tratamentos mais modernos e eficazes, baseados em uso de medicamentos biológicos. Com isso, no Brasil, os biofármacos respondem por apenas 2% de todos os medicamentos comprados pelo Ministério da Saúde, no entanto, representam 41% do orçamento de medicamentos do Ministério da Saúde (FERNANDES et al., 2018).

Como forma de tentar contornar o problema do alto custo desses produtos, o Ministério da Saúde instituiu a Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP), através da Portaria do Ministério da Saúde/GM n° 2.531 de 2014, parcerias que envolvem a cooperação mediante acordo entre instituições públicas e entre instituições públicas e entidades privadas para desenvolvimento, transferência e absorção de tecnologia, produção, capacitação produtiva e tecnológica do País em produtos estratégicos para atendimento às demandas do SUS(BRASIL, 2014c), geralmente por prazo de cinco anos.

Durante a vigência do acordo, o Governo Federal garante aos laboratórios privados a exclusividade na compra de seus produtos e passado o prazo para a transferência

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de tecnologia, o laboratório público inicia, de forma autônoma, a produção completa do medicamento visando atender à demanda nacional (DUARTE et al., 2015).

No final de 2014, o Ministério da Saúde publicou lista de produtos prioritários para o SUS (BRASIL, 2014d), entre os quais se encontravam seis medicamentos biológicos, cujos projetos de PDP aguardavam aprovação: adalimumabe (artrite reumatoide), filgrastima (neutropenia), infliximabe (artrite reumatoide), rituximabe (artrite reumatoide, leucemia linfocítica aguda e linfoma não Hodgkin), somatropina (hormônio do crescimento) e l-asparaginase (leucemia linfocítica aguda). Em 2017, nova lista de medicamentos estratégicos foi publicada através da PORTARIA No 704/2017 e onde constam mais de 20 produtos

biotecnológicos (BRASIL, 2017b).

O Brasil ampliou a produção de medicamentos biológicos com o objetivo de gerar competição entre os laboratórios e estimulá-los a acelerar a transferência de tecnologia para alcançar a produção 100% nacional.Com essa medida, o país vai aumentar de 14 para 25 o número de biológicos produzidos nacionalmente, o que representa atualmente um gasto de R$ 1,8 bilhão por ano nas compras públicas do Ministério da Saúde, mas a produção nacional deve gerar economia de R$ 225 milhões por ano. As 27 parcerias para a produção dos medicamentos incorporam 11 medicamentos no desenvolvimento nacional, somados a 3 parcerias já firmadas, e dá ao Brasil maior autonomia e garante à população brasileira acesso a 14 produtos importantes (BRASIL, 2014a).

1.2 Biossimilares

Após a introdução do termo medicamento biológico similar, surgiram vários novos termos em diferentes partes do mundo que se referem ao mesmo tipo de medicamento, incluindo biossimilares, biofármacos similares, biogenéricos, proteínas não-inovadoras, subsequent-entry Biologics (SEB) e follow-on biologics.

Para a ANVISA, segundo a Nota de esclarecimento no 003/2017 da Gerência de Avaliação de Produtos Biológicos (GPBIO), os produtos biossimilares são aqueles registrados no Brasil pela via de desenvolvimento por comparabilidade preconizada pela RDC 55/2010, que descreve que esta é a via regulatória que poderá ser utilizada por um produto biológico para obtenção de registro junto à autoridade regulatória, na qual foi utilizado o exercício de comparabilidade em termos de qualidade, eficácia e segurança, entre o produto desenvolvido para ser comparável (biossimilar) e o produto biológico comparador; sendo o produto biológico comparador o produto biológico já registrado na ANVISA com base na submissão

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de um dossiê completo, e que já tenha sido comercializado no País. Com o termo submissão de um dossiê completo subtende-se que este produto tenha sido registrado pela via de desenvolvimento individual que é a via regulatória que poderá ser utilizada por um produto biológico para obtenção de registro junto à autoridade regulatória, na qual é necessária a apresentação de dados totais sobre o desenvolvimento, produção, CQ e dados não-clínicos e clínicos para demonstração da qualidade, eficácia e segurança do produto (BRASIL, 2015).

Vale esclarecer que segundo a ANVISA a comparabilidade é a comparação científica, no que diz respeito a parâmetros não-clínicos e clínicos em termos de qualidade, eficácia e segurança, de um produto biológico com um produto biológico comparador, com o objetivo de estabelecer que não existam diferenças detectáveis em termos de qualidade, eficácia e segurança entre os produtos (BRASIL, 2010b; BRASIL, 2015). Dessa forma, o produto biossimilar não precisa estabelecer a eficácia e segurança da molécula, uma vez que estas já foram estabelecidas pelo produto biológico comparador.

Para que os biossimilares sejam comercializados, têm de lhes ser concedido o registro, o que normalmente ocorre vários anos após a aprovação do medicamento biológico de referência devido à referência se beneficiar de um período de exclusividade de comercialização, através da patente, durante o qual os medicamentos biossimilares não podem ser autorizados. Os direitos de patente dão ao detentor do registro o direito de impedir terceiros de produzir, vender, usar e importar o produto durante um período limitado de tempo (MADEIRA, 2016).

O interesse no desenvolvimento de medicamentos biossimilares tem sido estimulado por uma população crescente de pacientes com uma necessidade aguda de produtos biológicos de alta qualidade a preços acessíveis, mas também foi complementado por um número crescente de patentes de produtos biológicos de referência que expiraram ou expirarão nos próximos anos (MARINI et al., 2014).

Os biossimilares podem ser desenvolvidos utilizando uma tecnologia de custo mais baixo que a utilizada para o desenvolvimento do produto de referência,levando o custo de fabricação de um biossimilar ser menor em comparação ao referência, os tornando uma alternativa econômica, uma vez que levam a uma redução direta dos custos para o SNS, permitindo que um maior número de doentes tenha acesso à sua terapêutica (MADEIRA, 2016). No Brasil, a saúde pública é um direito constitucional, assim, o governo brasileiro é o maior comprador de produtos biológicos do país, respondendo por 60% de todas as compras realizadas, despertando o interesse das indústrias nacionais pela produção de produtos biológicos ou biossimilares (FERNANDES et al., 2018). A redução de custos foi o principal

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motivador do desenvolvimento de biossimilares, mas a proporção de economia não é comparável à magnitude observada com os genéricos (de ASSIS e PINTO, 2018).

Como muitos produtos biológicos de primeira geração já atingiram o prazo de validade das patentes, oportunidades comerciais se abriram globalmente para o desenvolvimento de biossimilares, que poderiam competir ou mesmo substituir os medicamentos biológicos atualmente disponíveis no mercado. Os dez produtos biológicos mais vendidos perderão a proteção de patentes até 2020, e sozinhos respondem por vendas no mercado global de aproximadamente US$ 50 bilhões (COLBERT et al., 2014). Compreensivelmente, os fabricantes globais de medicamentos estão se concentrando no desenvolvimento e comercialização mundial desses produtos como um objetivo imediato (MARINI et al., 2014).

Entretanto, enquanto o mercado oferece oportunidades, com o fim de suas patentes, o desenvolvimento e o processo de fabricação de biossimilares é mais complexo e, por conseguinte, mais caro que a produção de formulações similares aos medicamentos sintéticos tradicionais(DUARTE et al., 2015), o que inclui desafios únicos que exigem custos de investimento significativos para o fabricante. Os biossimilares embora semelhantes, não são cópias idênticas dos biológicos referência porque não é possível copiar uma molécula complexa com a tecnologia atualmente disponível, mas apenas reproduzir uma molécula semelhante com a mesma atividade da molécula de referência (COLBERT et al., 2014; FERNANDES et al., 2018). Enquanto a patente para o biofármaco pode revelar algumas características da molécula de referência, tais como peso molecular, sequência e modo de ação, os fabricantes subsequentes não têm acesso a informações detalhadas sobre o seu processo de produção, como informações sobre condições de cultura, sistema e projeto de biorreatores, processo de filtração e técnicas de centrifugação e purificação que não são divulgadas pelo proprietário da patente. Assim, o processo de fabricação de um biossimilar é muitas vezes diferente do biológico de referência, resultando em diferenças no produto final incluindo padrão de imunogenicidade, atividade biológica e glicosilação da molécula, o que poderia afetar a qualidade, segurança e eficácia do biossimilar e modificar suas propriedades em relação ao referência (FERNANDES et al., 2018).

Embora a sequência proteica primária de um biossimilar seja idêntica ao produto de referência, pode haver diferenças na estrutura tridimensional como resultado das variações no processo de fabricação que ocorrerão entre os produtos, tornando essencial determinar se as diferenças afetam todas as funções da molécula, incluindo as propriedades farmacocinéticas (PKs) e farmacodinâmicas (PDs) (COLBERT et al., 2014).

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Assim, o conceito de biossimilares é diferente daquele dos genéricos, porque o último é uma réplica real da estrutura e características das moléculas do medicamento de referência (FERNANDES et al., 2018). Ao contrário dos genéricos de pequenas moléculas que são produzidos por síntese química usando um processo de fabricação controlado e geralmente previsível, o desenvolvimento de biossimilares é complexo e as propriedades terapêuticas da molécula biológica são altamente dependentes de cada etapa do processo de desenvolvimento. Para que haja o registro dos medicamentos genéricos é necessário que estes demonstrem BE ao medicamento de referência, que quando comprovada, estes medicamentos ficam dispensados de apresentar ensaios pré-clínicos e clínicos. O tempo de desenvolvimento dos genéricos ronda os 2 a 3 anos com custos na ordem dos 2 a 5 milhões de dólares, sendo o seu preço de venda ao público 75% inferior do que o medicamento de referência. Em comparação, os medicamentos biossimilares têm de demonstrar similaridade nos aspectos de qualidade, não-clínica e clínica com o medicamento biológico de referência e o seu desenvolvimento leva em média de 5 a 8 anos com custos que variam de US$ 100 a 200 milhões, sendo que o seu preço de venda ao público é, em média, 20% inferior ao medicamento de referência (COLBERT et al., 2014).

Designar cópias aprovadas de produtos biológicos como biossimilares após o exercício de comparabilidade tem sido bem recebido pela maioria das autoridades reguladoras e do mundo acadêmico (de ASSIS e PINTO, 2018). A FDA aprovou o seu primeiro biossimilar, o Zarxio ou filgrastim-sndz, em 6 de março de 2015. O European Medicines Agency (EMA) aprovou o seu primeiro biossimilar, o Omnitrope ou somatropina, em 12 de abril de 2006.

O primeiro biossimilar aprovado, em 27 de abril de 2015, pela via de desenvolvimento por comparabilidade no Brasil, foi o mAbs infliximabe, Remsima® (Pfizer).

A ANVISA aprovou seu primeiro produto biossimilar totalmente fabricado no Brasil, a Fiprima (filgrastima) em 20 de outubro de 2015, para redução da duração da neutropenia e incidência da neutropenia febril em pacientes com neoplasias não-mielóides tratados com quimioterapia citotóxica estabelecida e para redução da duração da neutropenia e suas sequelas clínicas em pacientes submetidos à terapia mieloablativa seguida de transplante de medula óssea. No ano passado cinco medicamentos biossimilares foram registrados na ANVISA, sendo eles o Renflexis (infliximabe), Tecpar trastuzumab (trastuzumabe), Admelog (insulina lispro), Insuliv R (insulina humana) e Glargilin (insulina glargina), conforme infográfico que traça panorama dos principais registros de medicamentos sintéticos e

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biológicos concedidos no ano passado (2018) divulgado pela ANVISA através da publicação em seu site em 13 de fevereiro de 2019.

Em 2015, a FDA publicou um documento com considerações sobre o desenvolvimento do biossimilar e os requisitos para sua aprovação; documentos semelhantes foram publicados na União Europeia (UE) (FERNANDES et al., 2018).

Os relatos de especialistas da indústria farmacêutica de que os medicamentos biossimilares dificilmente serão produzidos de maneira idêntica aos biológicos de referência, suscita questionamentos quanto à eficácia do tratamento indicado à base de similares. Diante disso, a despeito da possibilidade de haver cópias mais baratas de biológicos no mercado, muito provavelmente os biológicos de referência permanecerão sendo a primeira opção dos médicos, os quais não arriscariam indicar tratamento para doença potencialmente grave com produto de qualidade, para eles, questionável (DUARTE et al., 2015).

A intercambialidade de um medicamento refere-se a uma situação em que um medicamento pode ser trocado por outro produto equivalente, com uma equivalência comprovada de eficácia e mecanismo de ação, sem o risco de um resultado adverso para a saúde (FERNANDES et al., 2018).

As agências reguladoras não chegaram a um consenso sobre a intercambialidade dos produtos de referência e biossimilares.Na Europa, diferentes países adotaram políticas de intercambialidade semelhantes, enquanto nos EUA, embora as regulamentações do FDA permitam substituir biossimilares pelo produto de referência, as leis estaduais podem ser diferentes. No Canadá, a Health Canada (HC) não aceita a permutabilidade entre biossimilares e seus respectivos produtos de referência (FERNANDES et al., 2018).

A intercambialidade de biossimilares está atualmente em discussão no Brasil e a ANVISA permite que a biossimilaridade de um biossimilar com seu produto de referência tenha sido estabelecida com base em dados clínicos obtidos de estudos que visavam mostrar a intercambialidade entre fármacos, mas o acompanhamento do paciente e a avaliação do médico são críticos para determinar se um biossimilar pode ser considerado intercambiável com o respectivo produto de referência (FERNANDES et al., 2018). A escolha de um medicamento biológico de referência ou do seu biossimilar para tratar um doente deve ser tomada pelo médico prescritor, conforme a Nota de esclarecimentos no 003/2017 da GPBIO, tendo em conta que estes medicamentos são semelhantes, mas não idênticos. Afinal, a intercambialidade e a substituição estão mais diretamente relacionadas à prática clínica do que a um status regulatório, que se atém a comprovação da comparabilidade em termos de qualidade, eficácia e segurança, incluindo a avaliação de imunogenicidade (BRASIL, 2015).

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Os Órgãos Regulatórios em sua maioria determinam a biossimilaridade, mas não a intercambialidade e a substituição.

É necessário prestar atenção para o crescente conhecimento sobre aspectos técnicos e regulatórios dos biossimilares, especialmente no Brasil, onde há um grande mercado privado para o uso de produtos biológicos, ou um grande custo para o governo que subsidia esses medicamentos gratuitamente dentro do sistema de saúde pública para várias doenças (de ASSIS e PINTO, 2018).

1.3 Biossimilaridade

A biossimilaridade é o termo utilizado para se referir à comparabilidade entre um biossimilar e o seu medicamento de referência.

Segundo a OMS, as comparações de um candidato biossimilar contra o produto de referência são obrigatórias para estabelecer a biossimilaridade entre produtos biológicos, ou seja, se uma versão cópia de um produto biológico é desenvolvida sem o exercício de comparabilidade, não deve ser rotulada como biossimilar.Os produtos que desconsideram o exercício de comparabilidade não podem assegurar os dados gerados para o produto de referência e devem ser licenciados através dos processos comuns usados em uma submissão de licenciamento completo (de ASSIS e PINTO, 2018).

A OMS define o exercício de comparabilidade como sendo a comparação direta de um produto biológico (biossimilar) com o produto biológico inovador (referência), já aprovado, com o propósito de estabelecer similaridade em atributos de qualidade, segurança e eficácia.

Regulamentações específicas foram desenvolvidas por muitos países para a aprovação de produtos biossimilares. De acordo com as autoridades reguladoras mais respeitadas do mundo, como FDA e EMA, a ANVISA através da RDC55/2010 especifica os requisitos mínimos para submeter pedido de registro de produtos biológicos novos e cópias e estabeleceu que o registro de um produto biológico pode seguir o caminho de um medicamento inovador (via de desenvolvimento individual) ou biossimilar (via de desenvolvimento por comparabilidade).

De acordo com a regulamentação brasileira, o requerente pode apresentar um produto biológico (cópia) por meio de duas possíveis vias: (a) pela comparabilidade ao produto de referência, resultando em um biossimilar; ou (b) através da via de desenvolvimento individual, com um dossiê reduzido e resultando em uma cópia não-similar

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e introduzindo uma abordagem mais permissiva na qual o produto de cópia não requer uma comparação completa com o referência. Para a via da biossimilaridade, é fornecida extensa documentação pré-clínica sobre as características biossimilares em comparação com o produto de referência, e o biossimilar deve demonstrar de forma crucial a semelhança com o referência em termos de segurança e eficácia com base em dados clínicos e o ensaio clínico deve ser um estudo comparativo com o medicamento de referência (FERNANDES et al., 2018).

O processo de desenvolvimento de um biossimilar leva menos tempo que o dos medicamentos biológicos de referência pois não há fase de descoberta e nem estudos fase 2, conforme demonstrado na Figura 3.

Figura 3 – Diferenças de tempo entre o desenvolvimento de um medicamento biológico e um biossimilar.

Produção de Biológicos de Referência

• Tempo de desenvolvimento: Mais de 10 anos • Custo: ~US$2,6 bilhões

Produção de Biossimilares

• Tempo de desenvolvimento: ~ 5 a 9 anos • Custo: ~US$100 milhões

I I I I I I I I I I I 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 anos Fonte: adaptado de Pfizer, 2019.

O exercício de comparabilidade, ou biossimilaridade, para os medicamentos biossimilares pode ser dividido em três etapas, conforme demonstrado na figura 4 e descrito abaixo:

a) Primeira etapa: comparabilidade da qualidade (físico-química e biológica); A comparabilidade da qualidade, realizada entre o medicamento biológico de referência com o biossimilar, é estabelecida a partir de uma comparação entre as características físico-químicas e biológicas, pureza, estrutura molecular, funcionalidade e potência farmacológica. Estas comparações devem ser demonstradas, mediante uma caracterização analítica detalhada, com estudos relevantes de ligação aos receptores e bioensaios, sendo que estes últimos devem ser realizados através de um método comparativo rigoroso, pois caso existam diferenças

Descoberta Desenvolvimento Pré clínico Fase 1 Fase 2 Fase 3

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significativas, o processo de desenvolvimento do biossimilar teria de ser modificado até que o produto gerado tivesse um perfil que correspondesse ao perfil do medicamento biológico de referência (MADEIRA, 2016).

b) Segunda etapa: comparabilidade não-clínica (ensaios não-clínicos ou pré-clínicos comparativos);

Antes de qualquer ensaio clínico envolvendo seres humanos, a realização de ensaios pré-clínicos para medicamentos biológicos similares é fundamental, como para qualquer biológico. Análises pré-clínicas envolvem o uso de ferramentas analíticas atualizadas com sensibilidade adequada para detectar até mesmo pequenas diferenças em resíduos não-proteicos, estrutura quaternária, imunogenicidade e propriedades PKs e PDs. A alternativa é focar na produção de evidência suficiente de semelhanças na composição química e atividade biológica, através de validação analítica pré-clínica rigorosa (MADEIRA, 2016).

c) Terceira etapa: comparabilidade clínica (ensaios clínicos comparativos). Se os estudos de qualidade e pré-clínicos evidenciarem similaridade, a prova final de biossimilaridade será sempre obtida através de estudos clínicos, comparando o candidato a biossimilar com o de referência, mas os ensaios clínicos dos biossimilares não são tão exigentes como os dos referências, já que é possível adquirir informação sobre o biossimilar a partir da vasta experiência clínica do medicamento biológico referência.

A experiência clínica adquirida, a eficácia estabelecida e o perfil de segurança do medicamento de referência podem ser tidos em conta para a avaliação do biossimilar, o que reduz os requerimentos para a sua aprovação, permitindo que não se realizem testes desnecessários em humanos e que haja uma redução dos custos associados a estes ensaios. A comparabilidade clínica geralmente começa com estudos PKs e/ou PDs, e podem ser seguidos por ensaios para comparação da eficácia clínica e de segurança (em termos de gravidade e frequência dos diferentes efeitos adversos). A comparação do perfil imunogênico do biossimilar e do medicamento biológico de referência, também faz parte dos dados de segurança clínica (MADEIRA, 2016).

O estudo clínico para avaliar os perfis PKs do biossimilar e do produto de referência serve para estabelecer a similaridade da relação dose-resposta dos produtos, com os dados bioanalíticos fornecendo a base para essa avaliação. O apoio bem-sucedido dos estudos comparativos in vivo baseia-se no desenvolvimento do método PK bem caracterizado e robusto, que mede os produtos biossimilares e de referência na matriz biológica de forma equivalente; com precisão e exatidão comparáveis (COLBERT et al., 2014).

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Figura 4 – Etapas da via de desenvolvimento por comparabilidade dos biossimilares.

Fonte: European Medicines Agency and European Comission, 2017.

A prova positiva de comparabilidade não-clínica e clínica, demonstram que qualquer diferença ao nível da qualidade, não afeta a segurança e a eficácia do medicamento biossimilar, quando comparado com o medicamento de referência e quaisquer diferenças encontradas devem ser explicadas e justificadas com relação ao impacto na segurança e eficácia do biossimilar, o que leva os patrocinadores de biossimilares enfrentarem um vasto conjunto de desafios científicos para demonstrar que seu produto biológico é realmente biossimilar ao produto de referência (MARINI et al., 2014).

1.4 Análise Farmacocinética e Ensaios de ligação de ligante

Perfis PKs semelhantes entre produtos biológicos, quando correlacionados a segurança e eficácia clínicas, constituem uma das evidências fundamentais para a demonstração de biossimilaridade, necessária para a conclusão sobre o registro do produto pela via de desenvolvimento por comparabilidade (BRASIL, 2015), estes são realizados utilizando como modelo os estudos de BE/biodisponibilidade relativa (BD).

Quando um fármaco é administrado no organismo, ele geralmente atravessa as fases de absorção, distribuição, metabolização e, finalmente, eliminação, conhecidas como PK do fármaco.

Considera-se biodisponibilidade como sendo a taxa e a extensão na qual uma molécula ativa é absorvida e torna-se disponível no sítio de ação da droga. Assim, assumindo-se que a quantidade do fármaco contida no fluido biológico está em equilíbrio com o sítio de

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ação, a biodisponibilidade é determinada através da medida da concentração do princípio ativo do medicamento no fluido biológico apropriado, em função do tempo, ou seja, um método PK pode ser descrito como um procedimento para a quantificação de concentrações de fármaco em uma matriz biológica ao longo do tempo após a administração do medicamento em um estudo para a avaliação de características tais como PK in vivo, biodisponibilidade, BE e interação medicamentosa (MARINI et al., 2014; MWLH/PMDA, 2014). Dois produtos são considerados bioequivalentes se as suas quantidades e velocidades de absorção não apresentarem diferenças significativas, quando administradas na mesma dose molar do princípio ativo, sob condições experimentais similares.

A realização de estudos de biodisponibilidade e BE, de forma rotineira, no Brasil, pode ser creditada a Lei dos genéricos, que utilizam estes estudos para comprovar a intercambialidade do medicamento referência com o seu genérico através de três etapas, clínica, analítica e estatística.

Os principais parâmetros PKs utilizados para a avaliação da biodisponibilidade são pico de concentração máxima (Cmáx); tempo para atingir a concentração máxima ou pico (Tmáx) e área sob a curva (ASC0-t), entretanto, outras medidas como a ASC0-inf e a meia vida de eliminação do fármaco também devem ser determinadas. Essas medidas são obtidas diretamente das curvas de concentração sanguínea versus tempo, construídas no estudo e analisados estatisticamente (BRASIL, 2006).

A primeira e mais importante medida avaliada é ASC de concentração plasmática do fármaco versus tempo, frequentemente utilizada para medir a extensão da absorção, ou a quantidade total de droga absorvida pelo organismo após administração de um medicamento. A determinação da BE entre dois medicamentos resulta da comparação das ASCs obtidas no experimento.

A Cmáx é a medida que representa a maior concentração do fármaco observada e é diretamente proporcional ao montante total de droga absorvido pelo organismo. Tmáx é o tempo de coleta no qual foi observada a ocorrência de Cmáx e relaciona-se com a velocidade de absorção do fármaco.

Os perfis PKs de dois produtos serão considerados semelhantes se os valores extremos do intervalo de confiança de 90% da razão das médias geométricas (ASC0-t teste/ASC0-treferência e Cmáxteste/Cmáxreferência) forem maiores que 0,8 e menores que 1,25 (BRASIL, 2015).

Os estudos de BE empregam a utilização de voluntários, que não podem ser envolvidos no estudo sem a certeza de que os seus sacrifícios resultem num benefício para a

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sociedade. A certeza desses resultados para os voluntários só pode ser garantida se o método analítico para realização do estudo tiver sido desenvolvido e validado previamente de forma a assegurar que os fluídos biológicos obtidos dos voluntários serão devidamente analisados. No desenvolvimento de um método é necessário verificar toda a metodologia de preparação da amostra, a qual envolve os processos de extração, separação, purificação, identificação e quantificação do fármaco na matriz biológica. Para tanto, alguns estudos preliminares de validação devem ser efetuados. A validação consiste na avaliação de parâmetros que permitam atestar que o método analítico pode ser utilizado para o fim a que se destina, possibilitando a obtenção de resultados precisos, exatos e isentos de interferentes, dentro de uma margem de erro estabelecida.

Os resultados de estudos de BE, são utilizados para tomar decisões críticas que apoiam a segurança e a eficácia de uma substância ou produto medicinal e a qualidade desses estudos, que costumam ser usados para apoiar requerimentos regulatórios, está diretamente relacionada à qualidade dos dados bioanalíticos subjacentes. Portanto, é de suma importância que os métodos bioanalíticos aplicados utilizados sejam bem caracterizados, totalmente validados e documentados em um padrão satisfatório, a fim de produzir resultados confiáveis (EMA, 2011), e que princípios orientadores para a validação desses métodos analíticos sejam estabelecidos e disseminados.

A similaridade bioanalítica entre um biossimilar e seu produto de referência é avaliada durante a fase de desenvolvimento do ensaio PK, onde a similaridade das curvas de calibração (CCAs) e das amostras de CQ do ensaio é estudada e denota que os dois produtos biológicos demonstram comparativamente um grau aceitável de comportamento bioanalítico em relação às suas relações concentração-resposta em um ensaio de ligação de ligante (LBA). O uso de estatística comparativa nas fases de desenvolvimento e validação de ensaios estabelece um processo sistemático derivado matematicamente para avaliar a similaridade bioanalítica (MARINI et al., 2014).

LBAs ou imunoensaios são especialmente utilizados para macromoléculas. Os LBAs apresentam vários desafios devido às características inerentes e estrutura complexa das macromoléculas, além do processo de extração ser problemático e, como tal, estes ensaios são frequentemente realizados sem separação prévia do analito de interesse. Além disso, estes ensaios não medem diretamente a macromolécula em si, mas medem indiretamente uma reação de ligação com os reagentes empregados no ensaio. Por estas razões, várias questões precisam de atenção especial (EMA, 2011).

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