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Vista do UMA ANÁLISE JURÍDICA DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE EM FACE DA LIBERDADE DE IMPRENSA | Acta Científica. Ciências Humanas

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EM FACE DA LIBERDADE DE IMPRENSA

Michely Vargas Delpupo 1 Expedito Claudenilton Pereira Lima 2

Resumo: O presente artigo visa retratar sobre os direitos da personalidade, espe-cificamente do direito à imagem, o direito de autor, e sua relação com a liberdade de imprensa. Assim, investigar sobre o surgimento desse direito no âmbito social, se tornando legalizado, averiguar acerca da liberdade de impressa e encontrar os aspectos em que eles podem causar um conflito entre esses dois direitos fundamen-tais. Esses são os principais objetivos do trabalho. Dessa forma, usando o debate teórico e o método dedutivo, analisa-se desde o que se considera como direito de personalidade, o direito à imagem – este como direito autônomo, como o direito de autor – e a liberdade de imprensa dentro do direito à informação que todo indiví-duo possui. Ademais, compreender os fatores históricos e suas transformações até o que se tem positivado na sociedade contemporânea. Portanto, percebeu-se que o direito à imagem é um dos direitos fundamentais, mas que possui algumas com-plexidades ligadas à liberdade de imprensa, e consequentemente cria-se um dilema para se entender as limitações que existem entre esses tais direitos.

Palavras-chave: Direito de personalidade; Direito à imagem; Liberdade de im-prensa; Direito à informação.

1 Mestra em Direitos Fundamentais Coletivos e Difusos pela Universidade Metodista de Pira-cicaba (Unimep). Professora de Direito Civil no Centro Universitário Adventista de São Paulo

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A JURIDICAL ANALYSIS OF PERSONALITY RIGHTS IN VIEW OF

FREEDOM OF PRESS

Abstract: The present article aims to portray the personality rights, specifically

the right to the image, author’s right, and its relation to freedom of the press. In this point, investigating on the appearance of this right in the social scope, becoming legalized, inquire about the freedom of the press and find the aspects in which they can cause a conflict between these two fundamental rights. These are the main objectives of the article. In this way, using the theoretical debate and the deductive method, we analyze what is considered as a right of persona-lity, the right to the image – this one as an autonomous right, such as author´s right – and freedom of the press within the right to information that every individual possess. Furthermore, to understand the historical factors and their transformations that has been very positive in the contemporary society. There-fore, it has been realized that the right to the image is one of the most important rights, but it has some complexities associated with freedom of the press, and, consequently, a dilemma is created to understand the limitations that exist bet-ween these rights.

Keywords: Right of personality; Right to the image; Freedom of the press; Right to information.

Introdução

O ser humano sempre está buscando por proteção em todas as áreas do meio social. Encontrar essa proteção no ordenamento jurídico também é algo que o mesmo busca, a fim de defender seus direitos, e assim evitar ofensas e conflitos entre ele e outrem.

A imagem do indivíduo é muito mais do que um simples retrato, está além de uma fotografia e, consequentemente, necessita de meios legais que irão pro-tegê-la de ser usada de uma forma que não seja agradável ao dono.

O direito à imagem é defendido pela Constituição Brasileira e existe no Código Civil com esse objetivo de proteger tudo aquilo que se relaciona à ima-gem do indivíduo, quer seja fala, gesto, fotos, e atributos que a sociedade impõe sobre o mesmo.

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Não obstante, tem-se a liberdade de imprensa, que está vinculada ao direi-to de informação que o homem possui. Salienta-se que a imprensa é muidirei-to mais do que uma televisão, seu campo de atuação é amplo, logo, é indubitavelmente necessária uma legislação que regule seus limites.

O que será abordado neste trabalho, de uma forma, suscita demonstrar algumas características pertinentes ao direito à imagem, como a liberdade de impressa, visando demonstrar os limites que cada um possui para que não ve-nham a ser colididos.

Assim, primeiramente será demonstrado sobre os direitos da personali-dade, sabendo que ele, como afirma Diniz (2005), é o direito de defender o que lhe é próprio, e em seguida destacar sobre o direito de imagem, conceitos e seu campo de atuação.

Ademais, será retratado ainda sobre o direito do autor, pelo fato de que esse direito pode ser, em alguns casos, indispensável para se ter um equilíbrio sobre o direito de imagem e a liberdade de imprensa.

Por fim, será abordado sobre a liberdade de imprensa, visto que o ser humano tem o direito à liberdade e, quanto à imprensa, esse direito também é garantido. Com isso, será exposto um pouco de sua abrangência e conceitos sobre essa liberdade.

Para a realização desse artigo, buscou-se utilizar o método dedutivo, como também de algumas ferramentas, tais como, pesquisas bibliográficas sobre o assunto, da legislação existente no ordenamento jurídico e de doutrinadores que estudam sobre essa temática.

Direitos da personalidade

Na sociedade contemporânea é muito comum o ser humano ouvir a ex-pressão “direito de personalidade”. Mas afinal, o que é personalidade jurídica? Em que momento ocorre o aparecimento desse direito? E o que realmente é esse direito? Tais indagações estão propensas a surgirem na mente dos indivíduos.

Assim, é fundamental que se tenha um entendimento sobre o que é perso-nalidade. Com isso, Chaves (1978, p. 2), na obra Enciclopédia Saraiva do Direito, aponta que a personalidade é uma junção de elementos psíquicos que irão re-sultar na formação de uma pessoa, sendo diferente das demais, ou seja, possui um caráter individual e características próprias.

Isto posto, no âmbito jurídico, tem a personalidade jurídica que, segundo Bevilaqua (2007, p. 91), é “a aptidão reconhecida pela ordem jurídica para exer-cer direitos e contrair obrigações”. Além disso, ressalta que:

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A personalidade jurídica é mais do que um processo superior da atividade psíquica; é uma criação social, exigida pela necessidade de pôr em movimen-to o aparelho jurídico, e que, portanmovimen-to, é modelada pela ordem pública (BE-VILAQUA, 2007, p. 93).

Nesse contexto, urge-se a discussão sobre os direitos da personalidade, os quais, segundo Gagliano e Pamplona Filho (2009, p. 136), são aqueles que visam os atributos físicos, como também os psíquicos e os de moralidade do indivíduo em si e “em suas projeções sociais”.

Em contrapartida, Bittar (2001) defende os direitos de personalidade como sendo inerentes ao ser humano, que não estão à mercê do ordenamento jurídico, ou seja, são transcendentes ao poder judiciário, já que este está inseparável do homem. Assim, possui um olhar voltado para a tese defendida pelos naturalistas.

Não obstante, Diniz (2005, p. 120) aborda que o reconhecimento desse di-reito vem desde a Antiguidade, fazendo punições quando ocorria alguma ofen-sa física e moral à pessoa, em Roma por meio do injuriarum, e na Grécia, pelo dike kakegorias.

Ademais, sabe-se que os direitos da personalidade, sendo enquadrado no ramo do direito subjetivo, fazem parte de algo recente. O reflexo que se tem para considerá-los como subjetivos pode ser encontrado na Declaração dos Di-reitos do Homem de 1789 e na Declaração dos DiDi-reitos Humanos de 1948, bem como na Convenção Europeia de 1950 (GONÇALVES, 2009, p. 153).

Ainda, Gonçalves (2009, p. 1156-1158) aborda, em sua obra Direito Civil Brasileiro, algumas características dos direitos da personalidade, tais como a intransmissibilidade e a irrenunciabilidade, o caráter absoluto, a não-limitação, a imprescritibilidade, a impenhorabilidade, a não-sujeição à desapropriação, e a vitaliciedade.

No que concerne ao caráter absoluto, Ascenção (2010, p. 75) defende que isso não torna os direitos de personalidade como “não suscetíveis de limitações”. Assim, por mais que os direitos de personalidade sejam entre os direitos

subje-tivos mais importantes, não são exceção dessa regra.

Destarte, Diniz (2005, p. 123) afirma que os direitos de personalidade são os direitos que a pessoa possui de defender o que é próprio, como por exemplo, a vida, a própria imagem, a privacidade, a própria intimidade, a própria liberda-de e a honra, ressaltando que todos eles são tutelados pela Constituição.

Dessa forma, “o objetivo essencial de tais direitos é proteger a dignidade da pessoa humana, impondo regras para as violações, que porventura venham a ferir a integridade física, intelectual ou moral das pessoas” (BORGES, 2007, p. 27).

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Nesse ínterim, na concepção de Rodrigues (2007, p. 62), a discussão con-cernente aos direitos de personalidade como lei, sendo organizado de forma sistemática, mesmo sem usar essa denominação ainda, teve seu estopim por meio do Código italiano de 1942.

De mesmo modo, o atual Código Civil brasileiro também traz uma defini-ção sobre esses direitos. De acordo com o Art. 11: “Com excedefini-ção dos casos pre-vistos em lei, os direitos de personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária”.

Ressalta-se ainda que a pessoa jurídica também está enquadrada dentro dos direitos de personalidade, visto a disposição do Art. 52 no Código Civil vigente: “Aplica-se as pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos de propriedade”.

Como leciona Rodrigues (2007, p. 72):

O reconhecimento desses direitos no campo público conduz a necessidade de seu reconhecimento no campo do direito privado; neste caso, encaram-se as relações entre particulares e o jurista se propõe a propiciar meios para defen-der esses direitos não matrimoniais mais contra a ação do podefen-der público, mas contra as ameaças e agressões advindas de outros homens.

Levando em consideração tal definição, pode-se trazer à tona o que Ga-gliano e Pamplona Filho (2009, p. 140) abordam sobre a relação entre os direitos de personalidade e as liberdades públicas:

Alguns dos direitos da personalidade, porém, se examinados em relação ao Estado (e não em relação aos outros indivíduos), ingressam no campo das liberdades públicas, consagradas pelo Direito Constitucional. […] tem-se que os direitos de personalidade situam-se acima do direito positivo, sendo considerados, em nosso entendimento, inerentes ao homem. Deve o Estado, através das normas positivas, apenas reconhecê-los e protegê-los. Todavia, mesmo que tal reconhecimento não ocorra, esses direitos continuariam exis-tindo, em função de seu caráter transcendentes da natureza humana, ao con-trário das chamadas liberdades públicas, que dependem necessariamente da positivação para assim serem consideradas (grifo do autor).

Sabe-se que os direitos de personalidade estão divididos em duas catego-rias: na primeira estão os direitos à vida e à integridade física e moral, chama-dos de direitos inatos; na segunda, estão os adquirichama-dos, os quais são decorrentes do status individual e são ligados à disciplina que lhes foi conferida por meio do direito positivo (GONÇALVES, 2009, p. 155).

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Por outro lado, tem-se ainda a classificação desses direitos de acordo com a proteção que ele oferece, sendo divididos em três categorias. Gagliano e Pamplona Filho (2009, p. 150) observam que não deve ser considerada ta-xativa, mas apenas para melhor reflexão sobre eles. Assim, expõe a seguinte classificação: proteção à vida e integridade física (corpo vivo, cadáver, voz); proteção à integridade psíquica e criações intelectuais (liberdade, criações in-telectuais, privacidade, segredo); e proteção à integridade moral (honra, ima-gem, identidade pessoal).

Nesse contexto, abre-se espaço para o que se refere ao direito à imagem dos indivíduos, que está relacionado ao direito de personalidade do ser humano.

Direito à imagem

É bastante comum escutarmos a expressão “meu direito de imagem” ou mesmo “você pode ser processado por conta do direito à imagem’”. Ou seja, a sociedade já é ciente de que existe proteção à imagem, contudo, será que todos estão cientes a respeito do que realmente é esse direito? É de suma importância que se tenha um conhecimento sobre esse direito e suas limitações.

Mas afinal o que pode ser definido como imagem? Neste seguimento, an-tes de adentrar a essa temática, é necessário entender um pouco do que vem a ser “imagem”, tal palavra que vem do latim, imago, imaginis.

Nesse ínterim, Gagliano e Pamplona Filho (2009, p. 175), de uma forma bem sucinta e simples, conceituam que a imagem “constitui a expressão exterior sensível da individualidade humana, digna de proteção jurídica”.

Pode-se dividir a imagem em duas vertentes: na primeira está a imagem--retrato, qual é a representação dos aspectos físicos do ser humano, seja de for-ma completa ou apenas ufor-ma parte, como, por exemplo, em fotografias, desenho, cinematografia, esculturas, entre outros. Na segunda vertente está a imagem-a-tributo, cuja criação acontece por meio de um conjunto de caracteres ou qua-lidades vistas por outrem, ou seja, a maneira como a pessoa é vista no âmbito social (DINIZ, 2005, p. 131).

É de conhecimento geral que a imagem, além de possuir um valor íntimo, possui o valor delegado pela sociedade. No cotidiano, pode-se encontrar tam-bém a sua utilização sendo uma forma de fator econômica sobrelevada. Devido a isso, é necessário que se tenha um regulamento com o fito de regrar e proteger os indivíduos (VENDRUSCOLO, 2008, p. 77).

A atual Magna Carta, em seu artigo 5º, inciso X, apresenta uma disposição sobre a temática que está sendo abordada: “São invioláveis à intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização

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pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Ademais, tem-se ain-da outro dispositivo que assegurava o direito à imagem, o inciso XXVIII que dispõe o seguinte: “a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas”.

O direito de imagem pode ser definido como um “direito de personalidade quando tem como conteúdo a reprodução das formas, ou da voz, ou dos gestos, identificativamente” (MIRANDA apud CALDAS, 1997, p. 29).

Por esse mister, pode-se ainda considerar o direito à imagem, segundo Vendruscolo (2008, p. 77), como:

[…] uma emanação da personalidade do sujeito e merece proteção efetiva do ordenamento jurídico contra eventuais violações pelo Estado ou por parti-culares, bem como enseja a sua compensação monetária, acaso já efetivada a lesão, ou a cessação da agressão ou o impedimento de que ela venha a se concretizar ou repetir.

Indubitavelmente, o direito à imagem é de suma importância e necessi-dade para os indivíduos, afinal, eles consistem na projeção que são realizadas de sua personalidade, seja fisicamente ou moralmente face à sociedade, sendo englobado assim, como um conjunto de fatores que tornam o indivíduo identi-ficável no âmbito social (GUERRA, 2006, p. 11).

Para melhor entender, ou simplificar, a definição que Diniz (2005, p. 131) aborda é que o direito à imagem seria, então, o de ninguém se deparar com sua imagem ou retrato sendo exposto em lugares públicos com fins de mercadorias sem antes ter o seu consenso, isto é, de proteger a sua personalidade para que não seja alterada material ou intelectualmente, resultando em danos à sua reputação.

Além disso, Gomes (2012, p. 28) expõe que este é um direito absoluto, e que “as pessoas nascem já revestidas de uma figura, que naturalmente compõe uma personalidade. A própria imagem é para o seu titular um bem inato, como inato é o direito a ela”.

O Código Civil vigente, em seu Art. 20, designa sobre como o direito à imagem deve ser respeitado, assim, estabelece que:

Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manu-tenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa po-derão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.

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O direito à imagem é considerado como autônomo. Assim, mesmo que ele esteja ligado ou relacionado a outros, como por exemplo, o direito à intimidade e à privacidade, ele não se enquadra integralmente entre eles. Com isso, existe a possibilidade de causar danos à imagem de alguém sem que atinja a honra ou a intimidade do indivíduo (DINIZ, 2005, p. 135).

Posto isso, pode-se então surgir uma dúvida sobre o que seria o dano à imagem e o dano à moral. Nesse contexto, Moreira (2002, p. 2) defende que:

O dano moral é uma lesão absolutamente subjetiva, atingindo apenas a vítima. É ela quem sofre diretamente no seu íntimo os respectivos efeitos. É ela quem perde o sono diante das dores, da angústia, do sofrimento. Tanto é verdade que a legitimação ativa para postular a devida reparação é única e exclusiva da vítima, não podendo qualquer outro pleitear tal direito. É necessário destacar que em caso de morte, os familiares podem entrar na justiça em nome próprio, defendendo a justa indenização pelos sofrimentos que efetivamente assolaram suas próprias vidas com a perda do ente querido. Eles não entram em nome do de cujus ou defendendo interesse daquele. Por sua vez, no dano à imagem a vítima sentirá os efeitos da lesão pela mudança na forma de tratamento ou até mesmo no modo de pensar de outrem. É objetivo, é externo e não menos grave. Isso para seres sociais como somos, é altamente relevante.

O Supremo Tribunal de Justiça deixa explícito, em sua súmula 403, que o direito à imagem deve ser respeitado. Em seu dispositivo, afirma que “inde-pende do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais”.

Além disso, o texto constitucional expõe que “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material moral ou à imagem” (Art. 5º, V, CF). Sendo assim, percebe-se que, no ordenamento jurídico, encontram-se bases legais para a proteção do uso de imagem sem con-sentimento (que é um direito inerente ao ser humano(.

Dessa forma, Guerra (2006, p. 12) defende que,

O direito à imagem é considerado bem inviolável, diretamente voltado à defe-sa da figura humana, protegido pela garantia de impedir que alguém a utilize indevidamente sem o seu prévio consentimento. Este uso indevido pode ser de uma fotografia ou da exposição da imagem em um filme ou anúncio co-mercial, por exemplo.

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Todavia, nas situações que ocorrerem a exposição da imagem, será neces-sária uma investigação sobre o indivíduo que teve sua imagem exposta, a fim de discernir se é um fator que interessa ou não à sociedade. Além disso, o magis-trado deve fazer uso da equidade, quando, em ações, se pleiteia indenização por usar indevidamente a imagem alheia ou expor em lugares públicos de determi-nado indivíduo (TARTUCE, 2005, p. 3).

Sendo assim, quer seja uma utilização indevida da imagem, no caso sem a autorização, quer seja um desvio na finalidade inicial da imagem, podendo ser, por exemplo, o uso em outdoors e outros meios publicitários, é caracterizado como uma violação ao direito à imagem e, consequentemente, o infrator deve ser responsabilizado civilmente (GAGLIANO; PAMPLONA FIHO, 2009, p. 175).

Por outro lado, como relata Chaves (apud GONÇALVES, 2009, p. 170), o direito a imagem não tem a intenção de impedir que outras pessoas conheçam a imagem de alguém, mas que não seja usada contra a vontade, afinal não se pode impedir que outros indivíduos conheçam a nossa imagem.

À luz disso, as pessoas que se tornam de interesse público, seja por meio da fama, da política, da arte, ou outro meio, não possuem o direito de alegar ter seu direito à imagem ofendido, exceto se o que foi exposto teve a inten-ção de “devassar sua privacidade”, afinal, a vida íntima deve ser preservada (DINIZ, 2005, p. 133).

Portanto, destaca-se o que afirma Gomes (2012, p. 28),

É inquestionável a importância do direito à imagem para as pessoas, eis que consiste no direito que a própria pessoa tem sobre a projeção de seus atribu-tos físicos e da sua personalidade perante a sociedade, que os tornará único dentro de uma coletividade.

Direito à imagem nas constituições brasileiras

No ordenamento jurídico brasileiro, um dos primeiros momentos que se teve o debate para o reconhecimento do direito à imagem foi por meio da prote-ção da inviolabilidade do domicílio, garantia esta que estava prevista na Cons-tituição Imperial de 1824, em seu Art. 179, inciso VII.

Nessa realidade, pode-se afirmar que “ao proteger o domicílio, a imagem também é protegida de forma reflexa, como característica da intimidade, sendo, assim, uma proteção da imagem do indivíduo desde que dentro do domicílio” (D’AZEVEDO, 2001, p. 1).

Posteriormente, na Lei Maior de 1891, continuava ligada à proteção da ima-gem devido à proteção ao domicílio, este que, conforme destaca Ramos (2007, p. 32), tinha como objetivo da lei não somente a proteção do indivíduo de invasões

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estatais em seu domicílio, mas como também havia um reflexo na proteção da sua imagem, desde que dentro do seu patrimônio.

A Magna Carta de 1934 continuou seguindo a mesma ideia das Leis ante-riores, contudo vale destacar que:

A Constituição de 1934 traz uma inovação na proteção da imagem, embora permaneça ainda no campo inespecífico. Trata-se do art. 114 que assegura outros direitos e garantias não expressos no texto, mas decorrentes do regi-me princípios que adotam: “art. 114. A especificação dos direitos e garantias expressos nesta Constituição não exclui outros, resultantes do regime e dos princípios que ela adota”. […] Ora, como direito da personalidade, o direito a imagem pode, perfeitamente, ser subtendido dentre os direitos não expressa-dos, garantidos pelo art. 114. Como decorrência do direito à vida, o direito à imagem é assegurado pelo regime e pelos princípios adotados. O preâmbulo do texto fala em “organizar um regime democrático”. Ora, só se pode con-ceber um regime democrático com proteção da vida e, em consequência, da imagem (ARAUJO apud RAMOS, 2007, p. 33).

Nas seguintes Constituições, tanto na de 1937 como na de 1946, o direito à imagem continuou vinculado a outro, sendo na de 1937 com a proteção do domicílio, e na de 1946 “[…] através da intimidade e reforçada com a inclusão da inviolabilidade dos direitos concernentes à vida. Mas a proteção ainda vem de forma implícita e não expressa” (D’AZEVEDO, 2001, p. 1).

Não obstante, na Constituição de 1967 ainda se tinha a mesma

caracte-rística das demais, sendo a imagem protegida de forma implícita, por meio do caput do art. 150, que traz a seguinte disposição: “A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a

inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança individual e à propriedade nos termos seguintes”.

Por esse mister, somente uma vigente Lei Maior é que se encontra expres-sando diretamente esse direito, como já citado em outro momento o Artigo 5º e seus incisos, V, X e XXVIII. Além de incluir o direito à imagem de forma explí-cita no texto constitucional, ele se tornou, como aponta Gagliano e Pamplona Filho (2009, v. 1, p.174), um direito fundamental do indivíduo.

Direito de autor

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duos que são denominados de “autores” também têm seu direito

resguardado e garantido juridicamente, e positivado.

Ao tratar de direitos autorais (ou direito de autor), é de suma importância entender o campo em que ele está inserido. Salienta-se, portanto, que tais direi-tos estão relacionados com os direitos intelectuais. Sobre o assunto, Bittar (2013, p.2) explica que,

Direitos intelectuais (jura in re intelectual) são, de outra parte, aqueles refe-rentes às relações entre pessoas e coisas (bens) imateriais que criam e trazem a lume, vale dizer, entre homens e os produtos do seu intelecto. Expressos sob determinadas formas, como expressões do espirito criativo humano.

Para melhor entender sobre esse direito no território brasileiro, sabe-se que seu reconhecimento se deu por meio do primeiro Código Civil de 1916, no Art. 666, destacando que,

Não se considera ofensa aos direitos de autor: X - a reprodução de retratos ou bustos de encomenda particular, quando feita pelo proprietário dos obje-tos encomendados. A pessoa representada e seus sucessores imediaobje-tos pode opor-se à reprodução ou pública exposição do retrato ou busto.

De maneira bem simples, Bittar (2013, p. 27) retrata que o direito de autor pode ser considerado como um ramo do direito privado que visa a regulamen-tação das relações no ordenamento jurídico, resultantes da criação e do seu uso econômico de obras, que vão desde obras intelectuais estéticas e compreendidas na literatura, nas ciências e nas artes.

No Brasil existe uma lei que dispõe integralmente a respeito dos direitos autorais, a Lei nº 9610/98. Nesse dispositivo legal encontram-se fundamentos jurídicos que reconhecem os direitos autorais e os que lhe são conexos.

Conforme Diniz (2005, p. 133), a imagem, além de ser protegida na atual Magna Carta, é protegida como direito autoral, desde que esteja ligada à criação intelectual, quer seja de obra fotográfica, cinematográfica, publi-citária, entre outros.

Dessa forma, deve-se salientar que,

Isto significa dizer que o objetivo do Direito de Autor é a disciplinação das relações jurídicas entre o criador e sua obra, desde que de caráter estético, em função seja da criação (direitos morais), seja da respectiva inserção em

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lação (direitos patrimoniais), e perante todos os que, no circuito correspon-dente, vierem a ingressar (o Estado, a coletividade como um todo, o explora-dor econômico, o usuário, o adquirente de exemplar) (BITTAR, 2013, p. 43).

Logo, indubitavelmente, quanto aos direitos autorais de forma geral, “não se pode apresentar texto não declarado pela pessoa ou divulgar escritos ou de-clarações verbais sem a autorização do seu autor” (DINIZ, 2005, p. 133).

Liberdade de imprensa

O homem sempre esteve buscando o seu direito à liberdade, desde seu sur-gimento até os dias atuais. É comum essa busca. Grandes pensadores já afir-mam que a liberdade é inerente ao ser humano. Como bem dizia Jean Jacques Rousseau, o homem nasceu livre.

De mesmo modo, Montesquieu (2010, p. 166) abordou um conceito de li-berdade que é necessário ser citado, afinal, diz respeito ao que seria então a liberdade que o indivíduo possui. Segundo ele, a liberdade é diretamente rela-cionada com as leis de um Estado.

A liberdade possui várias vertentes, seja ela de culto, religiosa, de consciên-cia, de expressão, entre outras que estão previstas no texto constitucional (Art. 5º, CF/88).

Para a temática que está sendo abordada, destacam-se os seguintes incisos do Art. 5º da Constituição vigente:

IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de co-municação, independentemente de censura ou licença.

XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.

Tais dispositivos, segundo Gomes (2012, p. 43-44), envolvem um problema entre o direito à imagem e o direito à informação, pois a norma não delimita “a liberdade de expressão/informação, no que tange a violação da privacidade, da intimidade e da honra de pessoas, ou seja, da própria dignidade”.

No tocante à liberdade de informação, percebe-se que:

Esse direito de informação ou de ser informado, então, antes concebido como um direito individual, decorrente da liberdade de manifestação e expressão do pensamento, modernamente vem sendo entendido como dotado de forte

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componente e interesse coletivos, a que corresponde, na realidade um direito coletivo à informação (GODOY, 2001, p. 58).

É nesse contexto que se destaca a liberdade de imprensa, visto que seu ob-jetivo como base informar a sociedade a respeito de diversos assuntos. Por con-seguinte, a Lei 5.250/67 em seu artigo 12º, parágrafo único, deixa explícito sobre o que vem a ser o campo da liberdade de imprensa, dispondo que são: “meios de informação e divulgação, para os efeitos deste artigo, os jornais e outras publi-cações periódicas, os serviços de radiodifusão e os serviços noticiosos”.

Pode-se, então, considerar como áreas dessa liberdade, jornais, revistas, te-levisão, rádio, internet, dentre outros meios de comunicação de massa.

Desde a primeira Lei Maior que o Brasil teve, a liberdade de imprensa já estava sendo abordada. Contudo, usando como referência a atual legislação, destaca-se o artigo 220º, que dispõe,

A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, obser-vado o disposto nesta Constituição.

§ 1º - Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena

liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.

Por outro lado, não se pode esquecer que o direito à liberdade de imprensa também possui suas limitações. Ademais, no que concerne à temática traba-lhada, que é o direito à imagem, o artigo 12º da Lei 5.250/67, em seu caput, já deixava explícito que o uso indevido de publicações na imprensa teria que ser responsabilizado.

Art. 12. Aqueles que, através dos meios de informação e divulgação,

prati-carem abusos no exercício da liberdade de manifestação do pensamento e informação ficarão sujeitos às penas desta Lei e responderão pelos prejuízos que causarem.

Nesse diapasão, como ressalta Borges (2007, p. 42):

A relação entre o direito à informação e os direitos à imagem é um tema complexo, pois é tratado, na maioria das vezes, como sendo um ato unilateral e de confronto entre princípios fundamentais, quando, na verdade, ambos os direitos devem privar pela harmonização. É previsível que, em um plano fático, o exercício concomitante destes direitos pode gerar colisão real entre

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eles, pois do ponto de vista jurídico, não há um princípio absoluto. Vale res-saltar, que não existe uma regra prévia, anterior ao conflito, aplicável a todos os casos que versem sobre essas divergências. Cada situação é analisada no caso concreto, pois elas possuem características que lhes são próprias, tor-nando-as diferentes.

Portanto, deve-se entender que, por mais que a liberdade seja inerente ao ser humano, não se pode ignorar que necessita de alguns tipos de proibição no ordenamento jurídico, “por superiores razões de interesse público e convivência social” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2009, p. 167).

Considerações finais

Diante do que foi exposto, percebe-se que a imagem do indivíduo é, antes de tudo, um direito da personalidade que ele possui, e devido a isso, se tem positivado hoje no ordenamento jurídico para que não exista dúvida sobre a importância dela para o ser humano.

Portanto, o direito de imagem é de suma importância para que o indivíduo não tenha sua imagem usada de uma forma que venha a ofendê-lo ou ainda ser usada em meios em que ele não autorizou.

Além disso, para o que concerne à liberdade de imprensa, é necessário que também seja um direito desfrutado na sociedade. Contudo, essa liberdade possui limitações para que não se venha a fazer o uso dela de uma forma que prejudique outros direitos ou colida com eles.

Referências

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Referências

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