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AGRADECIMENTOS

Esta secção é dedicada a todas as pessoas e entidades que contribuíram para a concretização deste estudo.

Começo por agradecer à Senhora Professora Doutora Teresa Ferreira Rodrigues, pela forma como orientou o meu trabalho, em especial, nos planos metodológico e conceptual e ainda pela grande disponibilidade e cordialidade que sempre evidenciou.

Quero também expressar uma palavra de grande apreço ao Doutor José Félix Ribeiro, por me ter estimulado a aceitar este desafio e por ter acompanhado este meu percurso, apresentando sugestões e observações de suma relevância para o desenvolvimento do trabalho.

Agradeço igualmente à minha filha e à minha esposa, pelo apoio logístico e, sobretudo, pela paciência de que deram provas durante este longo período.

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O GOLFO DA GUINÉ E A SEGURANÇA ENERGÉTICA DOS EUA E DA CHINA

CARLOS MANUEL DA COSTA NUNES

RESUMO

ABSTRACT

PALAVRAS-CHAVE: Segurança Energética; Petróleo; Golfo da Guiné; EUA; China.

KEYWORDS: Energy Security; Crude Oil; Gulf of Guinea; U.S.A., China

O objetivo deste estudo centra-se na análise e na comparação do contributo do petróleo do golfo da Guiné para a segurança energética dos EUA e da China no período 1990-2000, tendo presente a afirmação recente da região africana num quadro de escassez da matéria-prima.

Foram elaborados três case studies visando caracterizar as potencialidades e riscos associados à região produtora e analisar o crescente envolvimento dos EUA e da China, através da implementação de políticas públicas conducentes à obtenção dos resultados visados e mediante o reforço da exposição da vertente empresarial.

Os resultados obtidos traduziram-se no reforço do abastecimento dos EUA, mantendo uma posição ímpar perante o maior fornecedor regional, a Nigéria, enquanto a China assumiu posição de crescente relevância na região e sedimentou uma relação de grande preponderância face ao outro grande produtor, Angola.

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Esta análise de base quantitativa não foi replicada quanto à exposição da China, dadas as limitações estatísticas existentes. Em todo o caso, os bons resultados registados por estes dois potentados económicos, respetivamente, na Nigéria e em Angola, parecem remeter para bases explicativas distintas, evidenciado no primeiro caso, a importância da componente securitária, enquanto o segundo evidencia a vertente económica.

***

This study’s main goal is focused on the analysis and comparison of the contribution of gulf of Guinea’s oil to the energy security of the USA and China between 1990 and 2010 keeping in mind the recent affirmation of the African region on a prevailing framework of the raw material scarcity.

In this perspective, three case studies were elaborated aiming the characterization of the potentialities and risks associated to the mentioned producing region and to analyze the increasing engagement of the USA and China, through the implementation of public policies leading to the obtaining of the targeted outcomes and by strengthening the exposition of the business sides.

The contribution of the gulf of Guinea’s to the reinforcement of oil supply, in a critical period experimented by the crude market, shows the USA have achieved increasing provisioning, maintaining an unparalleled position before Nigeria, the biggest regional producer, while China assumed a position of growing relevance while affirming a relation of notorious preponderance compared with another big supplier, Angola. The existence of causality effects between levels of energy security and the use of public policies instruments is a complex domain, and it should be noted that the hypothesis of the recourse to economic statecraft by the USA as an explanatory factor of the performances of this country in the region does not appear to be founded; the lack of statistical data has not allowed to expand this method to the study of China’s relations in this quadrant.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ... 1

CAPÍTULO 1. - OS REFERENCIAIS TEÓRICOS DA ABORDAGEM DA SEGURANÇA ENERGÉTICA ... 10

1.1. A segurança energética nas RI no período anterior à década de 90 ... 11

1.2. A reconfiguração do contexto global pós década de 80 e as suas consequências no domínio das formulações teóricas de enquadramento ... 17

1.3. A evolução do contexto e o sector energético ... 24

1.4 Os reflexos na EPI, e as formulações relacionadas com a região-alvo ... 34

1.5. Consequências no domínio da segurança energética ... 39

CAPÍTULO 2 – O GOLFO DA GUINÉ E O PETRÓLEO ... 47

2.1. Caracterização e enquadramento dos principais países produtores de petróleo do golfo da Guiné ... 47

2.1.1. A base geográfica da opção retida e respetiva fundamentação ... 47

2.1.2. A evolução recente da vertente político-institucional face a um passado comum ... 49

2.1.3. Evolução e perspetivas no domínio económico ... 53

2.1.4. Desenvolvimentos relativos ao domínio social ... 65

2.2. Dimensão e mobilização dos recursos em petróleo e sua desigual repartição entre os países do golfo da Guiné ... 69

2.2.1. A ótica das reservas ... 69

2.2.2. A vertente produção... 73

2.2.3. As exportações de crude ... 78

2.3. Fatores explicativos do sucesso relativo da indústria petrolífera na região . 80 2.3.1. Fatores relacionados com o contexto global da indústria ... 81

2.3.2. O papel das condições naturais (adequação de recursos e localização) .... 87

2.3.3. Fatores do domínio organizacional ... 91

2.3.4. As exigências no plano ambiental ... 104

2.4. Riscos associados ao petróleo do golfo da Guiné... 108

2.4.1. A perspetiva empírica dos riscos ... 108

2.4.2. Da descrição empírica à explicação dos fenómenos: pistas teóricas disponíveis ... 112

2.5. Conclusões ... 119

CAPÍTULO 3 - O GOLFO DA GUINÉ E A SEGURANÇA ENERGÉTICA DOS EUA ... 121

3.1. A segurança energética dos EUA e o papel do golfo da Guiné ... 122

3.1.1. A centralidade do petróleo no abastecimento de fontes de energia primária nos EUA ... 123

3.1.2. A evolução das reservas e da produção domésticas de petróleo ... 130

3.1.3. O recurso acrescido às importações de crude e as alterações de contexto ... 136

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3.1.5. As respostas introduzidas e a relevância do petróleo do golfo da Guiné 149 3.2. Implementação de políticas, instrumentos utilizados e desenvolvimentos recentes ... 156 3.2.1. A política comercial, ou o AGOA como instrumento específico ... 159 3.2.2. A ajuda ao desenvolvimento ... 162 3.2.3. A política seguida no respeitante ao IDE nos países do golfo da Guiné . 167 3.2.4. A utilização de instrumentos relativos à esfera financeira ... 171 3.3. Presença e dinâmicas das empresas petrolíferas americanas no upstream dos países do golfo da Guiné ... 177 3.3.1. Uma perspetiva de conjunto referente à evolução da dimensão dos interesses norte-americanos no petróleo da região... 178 3.3.2. As majors norte-americanas e o petróleo do golfo da Guiné ... 183 3.3.3. A evolução da presença dos outros segmentos empresariais no upstream do petróleo do golfo da Guiné ... 190 3.3.4. As empresas fornecedoras e prestadoras de serviços ao upstream dos hidrocarbonetos (oil service and supply sector) ... 197 3.4. A evolução das importações de petróleo com origem nos países do golfo da Guiné e o seu significado em termos de segurança energética... 203 3.4.1. Evolução das importações da matéria-prima e interpretação dos resultados atendendo à existência de grupos específicos de fornecedores ... 203 3.4.2. O contributo do petróleo oriundo dos países do golfo da Guiné para a segurança energética dos EUA ... 209 3.4.3. Algumas formulações teóricas relativas ao contributo do petróleo do golfo da Guiné na segurança energética dos EUA ... 213 3.5. Conclusões ... 217

CAPÍTULO 4 – O GOLFO DA GUINÉ E A SEGURANÇA ENERGÉTICA DA CHINA ... 223

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4.2.4. A utilização de instrumentos da esfera financeira ... 278

4.3. Presença e dinâmica da esfera empresarial no upstream dos países do golfo da Guiné ... 285

4.3.1. As NOCenquanto operadores externos ... 286

4.3.2. As NOC no upstream do petróleo dos países do golfo da Guiné ... 298

4.4. Os contributos dos países do golfo da Guiné para a segurança energética da China ... 307

4.4.1. O contributo das trocas externas de petróleo e seus produtos ... 308

4.4.2. O contributo do equity oil ... 316

4.4.3. Algumas formulações teóricas, relativas ao contributo do petróleo do golfo da Guiné para a segurança energética da China ... 320

4. 5. Conclusões ... 324

CAPÍTULO 5 - ANÁLISE COMPARATIVA DOS RESULTADOS OBTIDOS PELOS EUA E PELA CHINA, NOS PAÍSES DO GOLFO DA GUINÉ, NA PROSSECUÇÃO DOS SEUS OBJETIVOS DE SEGURANÇA ENERGÉTICA ... 330

5.1. Comparações no respeitante à introdução de novos meios e medidas ... 330

5.1.1. A evolução referente à esfera diplomática ... 331

5.1.2. O recurso ao economic statecraft ... 333

5.1.3. A evolução no domínio securitário-militar ... 339

5.2. Análise comparativa dos resultados alcançados pelos EUA e pela China, no golfo da Guiné, visando a melhoria dos respetivos níveis de segurança energética ... 341

5.2.1. Enquadramento e limitações da abordagem ... 341

5.2.2. A prossecução de objetivos de segurança energética na ótica estrita, ou o contributo da região-alvo para o reforço do abastecimento de crude e para a diversificação das fontes geográficas ... 343

5.3. A existência de relações de causalidade entre o uso de instrumentos de política e a obtenção de efeitos no domínio da segurança energética ... 351

5.3.1. O enfoque quantitativo centrado nos contributos do economic statecraft para a melhoria dos níveis de segurança energética dos dois países ... 351

5.3.2. O recurso a algumas pistas de explicação baseadas em análises qualitativas ... 356

CAPÍTULO 6 - CONCLUSÕES GERAIS RELATIVAS AO CONTRIBUTO DO GOLFO DA GUINÉ PARA A SEGURANÇA ENERGÉTICA DOS EUA E DA CHINA ... 365

BIBLIOGRAFIA/ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 372

Lista de figuras ... 396

Lista de gráficos... 397

Lista de tabelas ... 398

Caixas de texto ... 401

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LISTA DE ACRÓNIMOS

ACOTA - Africa Contingency Operations Training and Assistance ACRI - Africa Crisis Response Initiative

AFRICOM - United States Africa Command AGOA - Africa Growth and Opportunity Act ANWR - Artic National Wildlife Refugee AOPIG - Africa Oil Policy Initiative Group API - American Petroleum Institute

AQMI - Al Qaida au Magreb Islamique BC - Balança comercial

BEA - United States Bureau of Economic Analysis BIT - Bilateral Investment Treaty

BM/WB - Banco Mundial BPC - Bipartisan Policy Center BRIC - Brasil, Rússia, Índia e China BTC – Balança de transações correntes

CAEMC – Central African Economic and Monetary Community CAFE - Corporate Average Fuel Economy

CCCGN - Centrais de Ciclo Combinado a Gás Natural

CEDEAO/ECOWAS - Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental CENTCOM - United States Central Command

CEO - Chief Executive Officer CFR - Council on Foreign Relations C.G.G. - Comissão do Golfo da Guiné CO2 -Dióxido de carbono

CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa CSR – Corporate Social Responsibility

DoE - United States Department of Energy DRC/RDC - República Democrática do Congo dwt - deadweight tonnage

ECA - Excess Crude Account

ECCAS - Economic Community of Central African States EIA - Energy Information Administration

EITI - The Extractive Industries Transparency Iniatiative

ESLC-SAFE –Energy Security Leadership Council – Securing America’s Future EUA – Estados Unidos da América

E&Y – Ernst & Young

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FMS - Foreign Military Sales

FNLA – Frente Nacional para a Libertação de Angola FPA - Foreign Policy Analysis

FRS - Financial Reporting System

GAO - U.S. Government Accountability Office GEEs - Gases com Efeito de Estufa

GPOI - Global Peace Operations Initiative GTL - Gas to Liquids

H/C Ratio - Relação Hidrogénio/ Carbono HIPC - High Indebtned Poor Countries HDI – Human Development Indicators HHD – High Human Development HIC – High-Income Countries

IDE/FDI - Investimento Direto Externo IDH - Índice de Desenvolvimento Humano IEA - International Energy Agency

IEP Agreement – Agreement on an International Energy Program IOC - International Oil Company

IPAA - Independent Petroleum Association of America ISC - Integrated Service and Supply Company

ISES - Instituto Superior de Estudos de Segurança JCET - Joint Combined Exchange Training JV – Joint Ventures

KWh - Kilowatt-hora

LHD - Low Human Development LIC – Lower-Income Countries

LMIC - Lower-Middle-Income Countries

LOGIC- Linking the Oil and Gas Industries to Improve Cyber Security (Project) MASSOB – Movement for the Actualization of Sovereign State of Biafra MCA - Millennium Challenge Account

MDGs - Millennium Development Goals MENA - Médio Oriente e Norte de África MDRI - Multilateral Debt Relief Initiative

MEND – Movement for the Emancipation of Niger Delta MGGRA - Midwest Green Gas Reduction Accord MHD –Medium Human Development

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NGL - Natural Gas Liquids

NIEO - New International Economic Order

NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration NOC - National Oil Company

NOSDRA – National Oil Spill Detection and Response Agency NPC - National Petroleum Council

OCDE/OECD - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico OECD-DAC - Development Assistance Committee

OECD-ODA - Official Development Assistance OCS - Organização de Cooperação de Shangai ONU - Organização das Nações Unidas Opc - Oodua People’s Congress

OPEP/OPEC - Organização dos Países Produtores de Petróleo OPIC - Overseas Private Investment Corporation

PCC - Partido Comunista Chinês

PEPFAR - President’s Emergency Plan for AIDS Relief PIB - Produto Interno Bruto

PMEs/SMEs - Pequenas e Médias Empresas

PPIAF - Public-Private Infrastructure Advisory Facility ppm - Partes por milhão (medida em volume)

PRC/RPC - People’s Republic of China PSCs – Production Sharing Contracts RGGI - Regional Green Gas Initiative RI - Relações Internacionais

SADC – Southern African Development Community SAFE - Securing America’s Future Energy

SCADA – Supervisory Control and Data Acquisition Systems SEC - United States Security and Exchange Commission SLOC - Sea Lanes of Communication

SPDC – State Plan and Development Commission SPR - Special Petroleum Reserves

SSA - África Subsaariana

TICs - Tecnologias da Informação e Comunicação TIFA - Trade and Investment Framework Agreement TSCTP - Trans Sahara Counter Terrorism Partnership

UEMAO/WAEMU - União Económica e Monetária da África Ocidental UMIC – Under-Middle-Income Countries

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UNDP - United Nations Development Program UNEP – United Nations Environment Program

UNFCCC - United Nations Framework Convention on Climate Change UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola USAID – United States Agency for International Development USD – United States Dolars

USGS – United Stated Geologic Survey

USTIC – United States International Trade Commission VAB – Valor Acrescentado Bruto

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1 INTRODUÇÃO

O tema a tratar no âmbito deste trabalho de investigação, centra-se no contributo da região do golfo da Guiné para a melhoria dos níveis de segurança energética das duas principais potências presentes na cena mundial, os EUA e a China.

Trata-se de uma matéria que será balizada pelas conceções prevalecentes no domínio teórico referido, historicamente focalizadas no petróleo e reportadas à ótica do consumo, assentando ainda, de acordo com os mesmos referenciais, num universo mental em que, no essencial, não estavam presentes as preocupações correspondentes à aceção do desenvolvimento sustentável, que remonta a 1987 e à Conferência de Brundtland.

Os players ativos considerados, os EUA e a China, serão tomados, sobretudo, na ótica convencional, de Estados-nação, perspetiva que, no entanto, não esgota a abordagem prosseguida, dadas as profundas interligações existente com outros agentes domésticos, nomeadamente, os mais diretamente presentes nas distintas vertentes englobadas no sector do petróleo.

A escolha da região-alvo, decorreu do facto do golfo da Guiné corresponder a uma oportunidade, então, quase rara no que respeita às possibilidades quer de expandir os níveis da capacidade produtiva global quer, também, no que concerne ao acesso de interesses forâneos às atividades englobadas no upstream desta indústria, situação de que alguns mercados de oferta localizados na Ásia Central, como resultado do desmantelamento do Império Soviético.

No plano formal, o desenvolvimento do tema proposto assenta numa estrutura que compreende quatro partes sequenciais, que são o enquadramento metodológico e teórico, a caracterização da região-alvo, as políticas implementadas e os resultados obtidos por cada um dos players nacionais ativos, visando, a introdução da última vertente, estabelecer comparações entre essas performances e, em simultâneo, explorar algumas pistas explicativas para o fenómeno em estudo.

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No que respeita à segunda parte, está em causa a caracterização da região-alvo, considerar-se-ão os contributos, efetivo e potencial, do golfo da Guiné no que respeita à produção de petróleo, atendendo-se às especificidades inerentes a esta atividade, bem como aos condicionalismos relativos ao seu desenvolvimento nesta geografia produtiva, nomeadamente, no referente aos quadros sociopolíticos relativos aos principais produtores, enquanto elemento essencial para a apreciação dos riscos em presença, desde logo, a instabilidade política e social;

Passando à terceira parte, que compreende a apresentação dos dois case studies referentes a cada um dos agentes nacionais ativos (EUA e China), é de salientar que eles visam estabelecer um balanço global da evolução da presença e do significado de interesses de cada um destes potentados na região-alvo, tendo em conta o foco da análise. Deste modo, esta abordagem comporta, em simultâneo, escopo alargado, ao analisar instrumentos de política que visam atingir outros objetivos, e específico, ao considerar, por outro lado, as performances obtidas no domínio centralmente em consideração (o reforço dos abastecimentos oriundos da região quer as suas perspetivas de evolução), matéria que não pode ser dissociada da dinâmica das esferas empresariais de cada um destes países que, aliás, revestem especificidades marcantes quaisquer que seja o enfoque assumido.

A fase final abarca duas vertentes de natureza distinta, visando a primeira, estabelecer paralelos entre as performances alcançadas pelos dois países na região africana, para o que se recorrerá, sobretudo, a indicadores empíricos relacionados com a matéria centralmente em apreciação, ainda que este quadro circunscrito de análise seja alargado por forma a compreender o papel das empresas petrolíferas e as opções assumidas pelos decisores políticos no referente a domínios de enquadramento, conforme acima aludido.

Quanto à segunda componente, pretende introduzir pistas explicativas referentes ao fenómeno analisado, começando por recorrer a metodologias quantitativas para averiguar da eventual existência de relações de causalidade entre variáveis relacionadas com a segurança energética e outras reportadas ao economic statecraft.

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De acrescentar que, à data da elaboração da proposta que deu origem a esta tese (2010/2011), o tema revestia grande atualidade, sendo muito debatido nos media, em resultado, sobretudo, da permanência da perspetiva de escassez da matéria-prima surgindo, normalmente, associado a óticas de apreciação muito enviesadas, ditadas pela natural prevalência de preocupações primárias, que pontificavam perante um quadro marcado pela ausência quase total de trabalhos teóricos.

Tendo presente que o enquadramento deste estudo compreende a abordagem das disciplinas relevantes para a análise da segurança energética (a desenvolver no capítulo 1), passaremos a focalizarmo-nos no balizamento conceptual que norteará a nossa pesquisa, i. é., a definição do objeto e a especificação de objetivos correspondentes, perspetiva que será complementada com a explicitação dos métodos científicos a que recorremos para alcançar e fundamentar os resultados obtidos.

Atendendo ao enunciado no parágrafo inicial da introdução e, uma vez, analisados os constrangimentos e as potencialidades da região-alvo, abordar-se-ão os respetivos contributos para a segurança do abastecimento, de crude, quer dos EUA quer da China, tendo presentes as especificidades de cada um destes países, nomeadamente, quanto à posição relativa que ocupa na cena internacional, à relevância do consumo e dotação nestes recursos energéticos, ao papel na organização do negócio do petróleo e, last but not least, as idiossincrasias evidenciadas aos atores empresariais presentes nesta área de atividade, sobretudo, quanto a exposição no golfo da Guiné.

Deste modo, o objeto da análise, focalizar-se-á nas relações que se estabelecem entre os países produtores do golfo da Guiné e cada um dos dois grandes potentados económicos referidos, compreendendo dois níveis distintos de abordagem, começando pelo estudo da utilização de instrumentos utilizados pelos dois players nacionais ativos para alcançar os objetivos visados e compreendendo, numa fase subsequente, a tentativa de estabelecer um quadro comparativo e explicativo dos resultados, assim, alcançados.

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especificidades indissociáveis da presença e da ação da vertente empresarial em cada caso nacional.

Quanto ao domínio complementar é de salientar que a análise do primeiro destes tópicos, que abarca os distintos domínios mencionados no parágrafo anterior e incide sobretudo na aceção estrita da segurança nacional, está algo condicionada por fatores de ordem conceptual decorrentes, nomeadamente, da existência de um quadro de valores específicos inerentes a cada um dos dois universos de partida, a que se adicionam disparidades de natureza empírica, com tradução, p. e., nas fontes de documentação, aos níveis nacional e da atividade específica.

Para a elaboração de um esboço de avaliação de resultados das ações implementadas por cada um daqueles dois grandes players nacionais, que corresponde à tentativa de isolar nexos de causalidade em contextos que envolvem interações múltiplas e, em simultâneo, níveis diferenciados de explicação, recorreremos a métodos quantitativos e qualitativos visando procurar a possível correlação entre evoluções registadas na variável-objetivo face à utilização de instrumentos relativos ao economic statecraft, e procurar explicações para a existência de relações bilaterais-âncora no domínio analisado.

Num plano complementar, impõe-se referir os seguintes elementos enquadrantes presentes de forma reiterada nas abordagens subsequentes:

a) A opção pela região do golfo da Guiné (cuja área e respetiva justificação constitui razão de ser da subsecção 2.1.1.), radica na relevância que esta geografia produtiva assumiu, sobretudo cerca da transição do milénio, surgindo, então, como uma das raras novas áreas, que disporiam de algum potencial produtivo à escala global;

b) A escolha do período a analisar (1990-2010), justifica-se pelo facto de, nesta fase de profundas mudanças na cena internacional, o petróleo ter revestido grande protagonismo e evidenciado num espaço de tempo relativamente curto as facetas antagónicas da superabundância e da escassez aguda. Veja-se p. e., que as cotações que, nos dias 10.12.1998 e 03.07.2008 atingiram respetivamente 10.86 e 143.51 dólares (cf. EIA, WTI Spot Price, FOB, daily);

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do país asiático dispensa abordagens de escopo retrospetivo mais lato, sobretudo, no que respeita a matérias relacionados com o crude.

No que respeita aos objetivos deste trabalho está em causa estudar a evolução da contribuição dos países do golfo da Guiné para a segurança do abastecimento de petróleo das duas principais potências presentes atualmente na cena mundial, os EUA e a China. Deste modo, formulando o problema nos termos clássicos da explicitação da questão-chave que se colocou aquando da elaboração do projeto de investigação, e a que procuraremos responder de seguida, é o seguinte:

Nas duas últimas décadas, que alterações de estratégia e, sobretudo, que novos meios e medidas introduziram, respetivamente, os EUA e a China em relação aos países produtores de petróleo da grande região acima referida?

No desenvolvimento da resposta a esta questão, que começaremos por associar à implementação de políticas públicas tidas como relevantes, não deixaremos de analisar os contributos das vertentes empresariais de cada um dos países acima mencionados, dadas as interações necessariamente existentes entre estas duas esferas de ação que, aliás e em função de particularidades nacionais, revestem especificidades que serão atempadamente analisadas. Por outro lado, a interrogação nuclear acima referida não corresponde a uma questão isolada no quadro do presente processo de investigação, sendo complementada por duas outras duas perguntas derivadas, a que também procuraremos dar resposta. Assim:

1. Dos resultados empíricos alcançados, pelos EUA e pela China, na região

produtora e no período analisados, na prossecução da melhoria dos respetivos níveis de segurança energética, que padrões de relacionamentos estruturados se parecem evidenciar relativamente a cada um destes players ativos?

2. Que pistas teóricas explicativas se poderão formular para explicar os

contributos dos países produtores de petróleo do golfo da Guiné para a melhoria dos níveis de segurança energética dos EUA e da China?

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A resposta à segunda é obrigatoriamente mais complexa. Procurámos dilucidar a eventual existência de causa-efeito entre o recurso a instrumentos de política (na realidade circunscritos ao economicstatecraft),e a produção de efeitos no domínio da melhoria da segurança energética, tomada na aceção do reforço das importações de crude, proveniente do golfo da Guiné, análise que foi implementada, através de metodologias de natureza quantitativa e qualitativa.

Por outro lado, atendendo ao âmbito, objeto e objetivos de trabalho já explicitados, que condicionam a estratégia de investigação (M. Dogan, 1990), no planometodológico, o desenvolvimento da tese assentará no recurso à elaboração de case studies e ao método comparativo.

Começando por considerar a relevância que assume o recurso a case studies, lembramos a definição de R. Yin: “…investiga um fenómeno contemporâneo dentro do seu

contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenómeno e o contexto não estão claramente definidos; enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados e, como resultado, baseia-se em várias fontes de

evidência (…), e beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir

a coleta e análise de dados”(citado em A. M. Cesar, p. 6, s/ data). Com efeito, a metodologia acima referida, cuja utilização está muito difundida no âmbito dos estudos em Relações Internacionais, adequa-se às exigências do trabalho que nos propomos implementar, que envolve a escolha de um referencial teórico, a condução do estudo e a análise de dados à luz de uma teoria selecionada (cf., respetivamente, D. Sprinz et al., pp, 5-6, 2002, e A. M. Cesar, op. cit., p. 8).

Em consonância com o plano da tese elaboraremos três estudos de caso reportando-se o primeiro às potencialidades e condicionalismos da exploração petrolífera vigentes na região do golfo da Guiné que na transição do milénio emergiu como uma das raras novas províncias petrolíferas, enquanto os dois últimos, de natureza e âmbito formalmente idênticos, abordarão o crescente envolvimento dos dois maiores players nacionais (os EUA e a China), comportamentos, em boa medida, ditados pelas crescentes preocupações com os abastecimentos de crude.

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novas variáveis e hipóteses de explicar mecanismos de causalidade, de fornecer explicações históricas de casos e ainda de lidar com relações causais complexas(cf., A. Benett et C. Elman, 2007). No que respeita às limitações são de referir a ocorrência de enviesamentos (erros sistemáticos no estabelecimento de causalidade entre variáveis), de situações de potencial indeterminação explicativa e a falta de representatividade, estando limitada a um trade off entre generalização e especificidade (cf., D. Sprinz et al. 2002).

Neste último domínio impõe-se precisar dois aspetos de crucial importância relacionados com a sobredeterminação de variáveis independentes e com o significado teórico do estudo. O primeiro é especialmente aplicável a pesquisas que procuram explicações gerais e em que em simultâneo ocorra sobredeterminação, i. e., em que várias variáveis independentes explicam uma parte da variação de um fenómeno ou variável dependente, o que significa que o investigador está colocado perante uma situação de grande complexidade (cf., J. J. Lopez), contexto em que também se enquadra o presente trabalho. Atendendo à existência de várias sobreposições entre a metodologia case study e o método comparativo(cf. A. Lijphart, pp. 691-693), é de salientar as referências que J. J. Lopez faz às soluções que C. Ragin ou T. Skocpol vieram propor para minimizar o problema da sobredeterminação, focando-se o primeiro numa perspetiva mais geral e o segundo numa mais específica. Passando à segunda ordem de limitações acima mencionadas, é de reconhecer, em função da natureza do trabalho, e dos considerandos apresentados no respeitante à metodologia a seguir, que o significado do estudo está condicionado na perspetiva da teorização ou generalização.

Quanto à utilização do método comparativo, que adquirirá especial relevância na parte final do estudo, reportar-se-á a uma situação que S. Lipset designa por análise binária explícita envolvendo dois casos nacionais muito distintos (vide, M. Dogan et al., 1994, pp. 5-6). Estão em causa matérias com diferentes níveis de agregação e planos distintos de análise, de natureza qualitativa (por vezes, assumindo natureza globalizante), e quantitativa, aos domínios económico-financeiro, incluindo a vertente empresarial, diplomático e securitário-militar, concluindo pela comparação de resultados ao nível da própria segurança energética.

Acresce que a condução de um trabalho focalizado na segurança energética enfrenta dificuldades específicas, que decorrem do estado de desenvolvimento teórico limitado e do âmbito desta última, sendo a última das vertentes referidas, definida por S.

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abordagem preliminar aponta para a existência de conceções e praxis específicas por parte de cada um dos países, moldadas por distintas formas de organização socioeconómica, estruturantes da vida coletiva de cada um deles. Está em causa comparar dois países relativamente aos quais é flagrante a existência de disparidades, no que respeita a histórias, valores, quadros político-institucionais, níveis de desenvolvimento económico e posicionamentos na cena internacional (cf. capítulos 3 e 4).1

Num plano interpretativo comum, ambos os casos tendem a ser tomados como reflexos da dicotomia mercado vs. Estado; porém, numa perspetiva mais elaborada, esta conclusão revela-se reducionista, dada a presença de referenciais muito díspares, uma vertente explorada na ótica da segurança energética, por autores como S. Randall (2005) e C. Constantin (2007). No entanto, nas presentes circunstâncias a comparação que S. Rokkam classifica como de 2ª ordem continua a fazer sentido, sendo de acrescentar que a ótica integracionista de A. Benett, reportada ao quadro alargado que corresponde ao case study, permite dar resposta a este tipo de preocupações (cf., respetivamente, M. Dogan et al., 1990, e A. Benett et C. Elman, 2007).

Mas as dificuldades encontradas ao longo do desenvolvimento do trabalho não permitiram completar o ciclo de investigação previsto pelos autores supracitados (cabal identificação das categorias de análise e elaboração de uma estrutura explicativa integrada ou modelo), pelo que no essencial, ficámos circunscritos a um quadro empírico-descritivo, conforme ressalta da leitura do capítulo 5, chave neste processo de investigação e que, em simultâneo, se focalizou nesta vertente comparativa. Retomando o plano operacional, é de referir a disponibilidade diferenciada de elementos de trabalho, situação visível no respeitante às fontes primárias, em resultado de conceções distintas que vigoram nos dois países e afetam os meios e os conteúdos. Nomeadamente no que respeita a relatórios oficiais relevantes para os nossos propósitos, onde se incluem

conteúdos ideológicos em documentos, como o China African Policy(IOSCPRC, 2006).

Esta questão coloca-se igualmente no domínio das fontes secundárias, em especial no que respeita à vertente quantitativa, fazendo-se sentir na limitada informação disponibilizada pelas petrolíferas chinesas, ainda que também afete outros domínios sensíveis, como a

1As situações acima aludidas traduzem-se em ruturas ou ausência de termo comparativo, podendo ser

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ajuda externa (vide, pela mesma ordem, pontos 4.3. e 4.2.2.). Já no relativo às fontes secundárias de natureza qualitativa é de reconhecer a manifesta densificação de materiais disponibilizados, sejam documentos de natureza teórica, de enquadramento geral, ou trabalhos de fundamentação empírica centrados no sector específico a analisar ou em domínios complementares. De salientar, no respeitante à aplicação desta metodologia à reflexão em domínios afins da ciência política, a escassez de informações sobre a China, que decorre de complexidades intrínsecas como a língua e do facto de muitos analistas se deixarem influenciar pelo que M.-E. Reny (cf., 2011) designou por democratic prism.

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10 PARTEI

CAPÍTULO 1. - OS REFERENCIAIS TEÓRICOS DA ABORDAGEM DA

SEGURANÇAENERGÉTICA

A presente secção aborda a evolução do tratamento teórico da segurança energética no quadro das RI, incluindo uma referência ao quadro histórico-empírico de partida presente nesta análise, bem como desenvolvimentos recentes e menos elaborados sobre a evolução registada pelo contexto global e suscetíveis de produzir impacto nesta quadro de reflexão.

As preocupações de ordem prática, leia-se política, com a segurança energética não são novas como o atesta S. J. Randall, que alude à permanência deste problema ao longo de toda a história da política petrolífera externa dos EUA, ainda que o fenómeno tenha conhecido distintos níveis de premência no decurso do longo período estudado por este autor, que se inicia com a primeira Guerra Mundial (cf. 2005, em especial, pp. 1-11). Neste mesmo sentido deve ser entendida a apreciação de D. Yergin, que salienta que determinados fatores ou situações vêm enfatizar a relevância daquela matéria, tendo presente que a focalização no petróleo remonta à decisão de Churchill relativamente à adoção pela armada britânica desta forma de energia primária como novo meio de propulsão (cf. 2006, p. 69).

Na realidade, o termo segurança energética reportou-se originalmente a uma conjuntura precisa, a crise petrolífera de 1973/74, correspondendo-lhe a seguinte definição: Secure oil supplies on reasonable and equitable terms (cf. R. Scott, 1994, Vol. 2, p. 35, de acordo com o IEP Agreement, de Novembro de 1974). Neste período, o hemisfério ocidental defrontava um problema grave, dada a eclosão em Outubro do 1972 da 1ª grande crise petrolífera devido ao embargo decretado pela OPEP aos fornecimentos aos EUA e demais países que apoiaram Israel, no diferendo que opunha este país aos árabes. Num curto espaço de tempo os preços do crude quadruplicaram (cf. idem, pp. 25-33 e P. Stevens, 2010. pp. 10-12).

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74). Os desenvolvimentos negativos acima aludidos só puderam ocorrer devido à existência de crescentes níveis de dependência da matéria-prima (a relação entre as importações líquidas e a oferta da matéria-prima, no caso concreto no espaço económico constituído pelos países da OCDE). Assim, este indicador, cujo valor agregado em 1950 se cifrava em cerca de 27.5% alcançava, em 1973, 66.6%, embora com disparidades significativas entre os países membros desta organização (vide. R. Scott, 1994, quadro da p. 379).

O caso extremo acima invocado corresponde a um meio não só adequado para compreender a relevância da segurança energética, como para abrir pistas para os distintos planos teóricos necessários para clarificar esta matéria num domínio que comporta um conjunto de aceções que não são estanques nem estáticas ao longo do tempo, pelo que a complexidade é um dado incontornável.

1.1. A segurança energética nas RI no período anterior à década de 90 Na abordagem da presente secção iremos considerar três vertentes teóricas essenciais, a Segurança, a Economia Política Internacional e a Geopolítica, isto sem prejuízo de ulteriores menções a outros domínios especializados do conhecimento.

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Sociologia Histórica utiliza esta dimensão enquanto fator de causalidade no seu referencial de análise (cf. A. Macleod et al., 2010, pp. 379-399).

Começamos por considerar a vertente Segurança (Nacional), uma área do conhecimento também ela tomada como subdesenvolvida, a aceitar a apreciação B. Buzan que se reporta sobretudo até à década de 80 do século passado (vide D. Baldwin, 1997, p. e, relativamente à ênfase na vertente nacional no período, em referência, J. Baylis, 2001, pp. 254-255). Buzan assentaria a sua posição num conjunto de 5 argumentos: as dificuldades inerentes ao próprio conceito de segurança, seguindo-se a sobreposição aparente deste conceito e o de poder, a falta de interesse dos críticos da escola teórica prevalecente (realista), a subalternização a que os académicos o remeteram dados outros desenvolvimentos recentes e o interesse dos próprios decisores políticos na ausência de clarificação conceptual (idem, p. 9). Deixando de lado a vertente fundamentação e entrando no universo das teorizações correspondentes relativamente ao período em consideração ressalta óbvia a predominância de uma perspetiva estatal-militar da segurança que, com algumas nuances, se manteria ao longo das décadas de 60 e 70 do século passado, sem prejuízo do aparecimento de correntes exteriores surgidas logo após com as escolas de defesa alternativa e de segurança do Terceiro Mundo (Fernandes, 2011, p. 195-200).

Com efeito, e segundo A. Macleod et al., no período da Guerra fria as reflexões sobre segurança estavam quase sempre relacionadas com a escola realista, excetuando a escola liberal, aludindo estes autores, à tese liberal da Paz Democrática (cujos desenvolvimentos mais relevantes se registariam já fora deste horizonte temporal), e à Comunidade de Segurança, uma ideia que seria abraçada pela escola construtivista (op. cit., vide, em especial, p. 465). Os estudos assim desenvolvidos inscreviam-se no que eles designam por quadro do paradigma hegemónico, possuindo a qualidade de serem bem circunscritos, no interior de parâmetros relativamente claros, que lhe conferiam uma certa coerência. A supracitada tese não correspondeu a uma rutura naquele âmbito, tal como as posições dos construtivistas convencionais que seguiram uma perspetiva muito conservadora da segurança (pp. 468-471).

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assume que o nível da conflitualidade internacional pode ser minimizado (cf. F. M. Gomes, 2007, p. 4).

Em conclusão, os enfoques considerados pecam desde logo por serem unidimensionais quanto aos atores considerados, dada a prevalência quase monopolista da importância conferida aos de carácter estatal, uma premissa decorrente da herança vestefaliana, que viria a ser posta em causa, de forma crescente, pela evolução histórica. Passando a considerar a perspetiva da Economia Política Internacional, há que recuar a A. Macleod et al.. A E. P. I. estuda as dinâmicas económicas entre formações sociais, estando continuamente colocada perante o problema fundamental de reunir o que foi originalmente dissociado por Adam Smith (p. 439). Estamos na presença de um universo teórico que, em termos históricos, comporta três perspetivas (ou ideologias), segundo R. Gilpin, a liberal, a que, de forma implícita, se aludiu no parágrafo anterior e que remonta ao século XVIII, a nacionalista, mais vulgarmente conhecida por mercantilista, e a marxista. Aquele autor baliza as linhas de fratura respetivas, que se focalizam no papel do mercado quanto ao crescimento económico e distribuição de riqueza, à organização da sociedade nos planos doméstico e internacional, e quanto aos seus efeitos a nível da paz e da guerra (vide 1987, p. 25), a que correspondem destrinças relevantes no que respeita aos dois atores nacionais ativos que iremos analisar (a China e os EUA).

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Àquela tese, os liberais (em especial a corrente institucionalista), contrapuseram a Teoria dos Regimes, que segundo A. Macleod et al., correspondem a um conjunto de princípios e procedimentos decisionais que governam uma esfera de atividade internacional, permitindo formatar a ordem política entre Estados, impor medidas que estes devem adotar, harmonizar práticas nacionais e assegurar uma certa supervisão para garantir a aplicação de decisões por parte dos diversos países aderentes (op. cit., pp. 451-452). A existência de regimes internacionais, uma matéria que em termos teóricos se afirmou a partir da segunda metade da década de 70 (cf. M. F. Castro, 2001, p. 25, que alude a Hasenclever, 1997), aumenta as possibilidades de cooperar, acarreta penalizações acrescidas para os seus infratores e potencia a gestão da ordem económica internacional sem a presença de uma potência hegemónica, ou seja, a ultrapassagem do Dilema da Segurança (cf., A. Macleod et al, p. 452).

Assim, na ótica das implicações que decorrem das duas teorias supracitadas, são de referir, por mais relevantes para o desenvolvimento subsequente do presente trabalho, a natureza relativa ou absoluta dos ganhos admitidos por cada uma delas, e a importância, mais ou menos alargada, que é conferida ao mercado. Deste modo, enquanto a perspetiva realista está associada à obtenção de ganhos relativos e a um quadro de relações bilaterais, a ótica liberal reporta-se a um quadro de relações multilaterais, e à obtenção de ganhos absolutos, uma decorrência dos pressupostos admitidos, apresentados de forma implícita por A. Macleod et al., (vide, em especial, p. 450), e que são desenvolvidos, quanto à primeira das coordenadas mencionadas, p. e., por R. Powell (1991), e D. L. Rousseau (1999).

Em particular no que respeita ao papel do mercado a análise daquelas duas escolas é bem distinta, reportando-se a tradição realista a um quadro em que estas forças são tomadas por condicionadas, que alguns autores denominam por neomercantilismo, uma herança da emergência do Estado-nação no domínio económico, ao invés, do que acontece na perspetiva liberal, assente na tradição da escola inglesa, muito focada na centralidade daquele instrumento e, também, do indivíduo (cf. R. Gilpin, 2001).

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D., 2009, Dannreuther, R., 2010, S. Haghighi, 2007, Sébille-Lopez, 2006). Em termos académicos, porém, a geopolítica clássica remonta a R. Kjellen, e assenta na gestão do poder a duas dimensões, o espaço e o tempo. Trata-se de um domínio teórico que conheceu distintas formulações, sendo de evidenciar, sobretudo, os nomes de A. T. Mahan (teorias do poder marítimo), de H. Mackinder (teorias do poder terrestre), e de N. S. Spykman, que elaborou uma teoria dualista (cf. Pezarat Correia, op. cit., respetivamente, p. 248, pp. 133-135, pp. 177 e seguintes).

Assim, de acordo com Kjellen, entende-se por geopolítica a ciência que concebe os Estados como organismos geográficos ou como fenómenos no espaço uma perspetiva que, no essencial, prevaleceu nos desenvolvimentos subsequentes que a disciplina conheceu e que, inclusive, encontrou eco, bem mais recente, em H. Kissinger, autor se insere nos desenvolvimentos da escola de pensamento realista, e que a entende como … uma abordagem que presta atenção às exigências do equilíbrio na política internacional (cf. J. T. Fernandes, 2011, p 140-141 e P. Buc̆ka et al., 2011, respetivamente, p. 65 e p. 66). O tratamento destas matérias no quadro da escola realista assume natureza interventiva, decorrente das coordenadas em que assentam as respetivas abordagens que, segundo R. Dannreuther, entroncam na tradição da realpolitik que remonta, a Maquiavel (cf., 2010, p. 2).

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promoção das instituições regionais e internacionais da energia e da liberalização económica (ibidem, vide, pp. 5-8), evolução que, no entanto, só se fará sentir na sua plenitude na fase subsequente da nossa abordagem. Assim, a análise que esta corrente faz desta matéria assenta, não na perspetiva do confronto, inerente à” tradição da escola clássica mas, antes, numa visão do mundo estruturada no princípio que atores, designadamente, os estatais estão empenhados em implementar um sistema de trocas benéfico para as partes envolvidas (cf., o comércio baseado na especialização e vantagem comparativa), que conduz a crescentes interdependências, que dão respostas aos diferentes interesses nacionais em presença e, em última análise ao estabelecimento da ordem baseada na cooperação (vide R. L. Pfaltzgraff Jr., 2007, pp. 42-45). Corroborando aquela perspetiva, ainda que a reportando a uma ótica específica poder-se-ia referir que o multilateralismo (a aplicação dos princípios democráticos às relações interestatais), foi concebido como ageográfico, ou seja, universal, ainda que seja indissociável de um desenho geopolítico (vide, P. M Desfarges, 2004, pp. 577-579).

Em conclusão, segundo A. Macleod et al., o Paradigma Hegemónico das RI, encontra-se balizado por uma perspetiva positivista e estruturado numa epistemologia empirista, em que as duas escolas de pensamento principais (a realista e a liberal), apesar da existência de importantes antagonismos no plano interpretativo, coexistem e procuram a convergência (cf., p. 27).

De acordo com aquele horizonte mental poder-se-á acrescentar que no foco daquela análise se encontrava a vertente Segurança, que permanecia moldada por uma lógica estado centrada, desempenhando a EPI um papel subordinado, enquanto a Geopolítica assumia funções coadjuvantes.

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1.2. A reconfiguração do contexto global pós década de 80 e as suas consequências no domínio das formulações teóricas de enquadramento

A evolução do universo teórico de enquadramento da segurança energética é uma matéria de suma importância para a compreensão das alterações que se registaram neste último âmbito, importando referir as grandes ruturas que mais correntemente são associadas à reformulação daquelas reflexões, isto dada a capacidade de reconfiguração destes vetores no contexto a analisar. São elas:

a) A queda do Muro de Berlim, em Novembro de 1989, que arrastou a ruína do bipolarismo, ou seja, do quadro do relacionamento interestatal e securitário mundial, sendo de referir que este facto histórico é associado, por alguns autores não académicos ao aprofundamento do processo de globalização (vide, respetivamente Panorama 01/2009, 20 Years After the Fall of Berlin Wall, e T. Friedman, 2005).). Com efeito, após uma prolongada fase assente na supremacia dos EUA e da URSS, passou-se para o claro predomínio do poderio americano e, a breve trecho, para uma situação relativamente indefinida, a atual, em que o hegemon surge crescentemente condicionado (cf., R. Gilpin, 2001, em especial, pp. 343-345);

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global), no plano político (perda de autonomia do Estado, crescentemente condicionado e desafiado na sua ação tradicional), no domínio social (afirmação da sociedade em rede e, noutro plano, salvo de avaliações antagónicas), e tecnológico (em que as TIC, o elemento possibilitador, introduziu enormes margens de vulnerabilidade, incluindo o ciberterrorismo (vide respetivamente, M. Castells, 2000, p. 311, D. Held et al., 2002, p. 23, M. Castels, op. cit., e GAO, 2007),

c) A emergência dos BRIC, focado no crescente peso internacional de algumas grandes economias subalternas (Brasil, Rússia, Índia e China), uma evolução que potencia a afirmação do multipolarismo, captada através das performances superiores evidenciadas por estes países nos últimos 15 anos, resultado baseado na análise de um conjunto de indicadores reportados à envolvente do crescimento (vide, Goldman Sachs, 2007, p. 73-84, e IMF, 2010, p. 29). Trata-se de um fenómeno em que tem sobressaído a China, dado o desempenho económico de longo prazo e a capacidade concorrencial evidenciada por este país, estruturados numa dimensão demográfica extrema. De acrescentar que as evoluções mais recentes parecem apontar no sentido do reforço deste sentido evolutivo, seja numa ótica mais conjuntural, que pode ilustrada pela disparidade de respostas face à recente crise mundial (vide decoupling, in IMF, 2010, p. 29),ou numa ótica mais estrutural, sendo de recordar que o predomínio económico do hemisfério ocidental poderá, a prazo, ser posto em causa (vide, p. e., Goldman Sachs, 2008 e A. Subramanian, 2011, pp. 99-118).

Em conclusão, no período analisado assistiu-se, não só ao alargamento e descentralização drásticos das fontes de ameaça, como se registaram alterações no domínio do poder relativo dos atores nucleares em presença (Estados vs. grandes empresas e NGO), isto no quadro de uma revolução científico-tecnológica que potenciou a afirmação quer de novas dimensões da vida socioeconómica quer de novos riscos afetando, deste modo, todas as vertentes de reflexão teórica consideradas

As grandes mudanças ocorridas ao longo da década de oitenta, tornaram necessário reequacionar a problemática teórica da segurança, tendo-se refletido no

domínio das formulações teóricas relativas à problemática da Segurança.

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um novo enfoque assente, em simultâneo, no alargamento e no aprofundamento do conceito de segurança, para o que considerou a existência de cinco sectores ou dimensões (militar, político, económico, societal e ambiental), e de três níveis (interestatal, estatal e internacional. Trata-se de uma perspetiva de abordagem muito enriquecedora que correspondeu a uma reconceptualização, dado o Estado (as instituições públicas, o território e a população), continuar a ser o objeto referente principal da segurança, ou seja, a proteção dos seus elementos constituintes manteve-se como prioritária face à emergência de quaisquer fontes de ameaça, em primeiro lugar, as de carácter militar (A. Macleod, op. cit., p. 463). Segundo B. Buzan, o Estado continua a subordinar os outros dois níveis de segurança, como o comprovam a permanência dos pressupostos do seu comportamento a nível internacional, sendo de referir a introdução de duas alterações relevantes, o alargamento da aceção com que são tomadas as forças e fraquezas respetivas (que da tradicional base material, foram refocalizadas na estabilidade institucional e na coesão sociopolítica interna), e a noção de complexo securitário, que considera a existência de grupos de Estados com preocupações comuns, que conduziu a tomar a

segurança de cada um dos membros como inseparável da dos restantes (idem, pp.

472-474). Ao contributo daquele autor acrescem outros desenvolvimentos sendo, sobretudo de enfatizar as posições que tendem a amenizar a agressividade externa do Estado, que são corporizadas pelo realismo defensivo e pela anarquia madura (cf. J. Baylis, 2001, pp. 258-261), expressão da convergência do que, A. Macleod et al., designam por paradigma hegemónico.

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cooperação institucionalizada entre Estados abre ótimas perspetivas para o reforço da paz e segurança internacionais (cf. J. Baylis, 2001, pp. 261-262).

Apesar dos antagonismos face aos desenvolvimentos registados pela escola realista é de frisar que, A. Macleod et al. e J. Baylis, são explícitos quanto ao âmbito limitado das ruturas introduzidas por esta corrente liberal, com os primeiros autores a referirem que se trata de uma evolução no seio do paradigma hegemónico, e o segundo a explicitar que os dois pilares referidos aceitam as premissas teóricas da escola rival, incluindo a persistência do poder militar (vide, J. Baylis, 2001, pp. 258-263). No entanto, não foram só as duas principais escolas das RI que conheceram desenvolvimentos significativos sendo, sobretudo de referir, na perspetiva crítica, a Escola de Copenhaga, que desenvolveu o domínio societal da segurança e introduziu o conceito de securitização; esta última vertente corresponde a considerar a segurança como um processo sujeito a avaliação moral, e ainda que seja uma matéria controversa (cf., A. Macleod, pp. 474-475) assume especial relevância em função do alargamento e aprofundamento dos referenciais de análise. A um nível de rutura superior e numa fase posterior, é de referir um conjunto de autores e correntes, de que salientaremos a Teoria da Segurança Mundial, de K. Booth e R. W. Jones que, partindo da contestação das premissas realistas da separação entre a segurança do Estado e a dos restantes atores, preconiza o aprofundamento, alargamento e extensão da segurança, e os Estudos Críticos de Segurança, de que destacaremos a Escola de Paris, que junta o político e o sociológico na análise securitária das RI, enfatizando o papel dos diferentes agentes de segurança, em detrimento da rutura segurança interna/ externa (cf., J. P. Fernandes, pp. 205-206 e A. Macleod et al., pp. 481-485).

Em conclusão, o conceito de segurança, foi alargado a novas fontes de ameaça (outros sectores), e aprofundado, passando a considerar outros objetos referentes para além do Estado; J. T. Fernandes sintetiza esta evolução através da expressão …de uma segurança unidimensional para uma segurança do tipo multidimensional, sendo esta perspetiva sistematizada num estudo do COT tendo, no entanto, permanecido a ausência de entendimento em torno do conceito analisado (vide, COT 2011, p. 208 e 58-59, e J. T. Fernandes, 2007, pp. 43-44).

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traduzir na superação da ordem vestefaliana tendo, tambémditado a emergência da EPI no contexto das RI (cf., N. Woods, 2001, p. 7 e A. Macleod et al., pp. 452-453).

Este processo de afirmação da EPI remete para o processo de globalização, pelo que numa situação de acrescida interdependência, os crescentes desenvolvimentos transnacionais foram tomados como variáveis que transformaram os parâmetros do sistema internacional (vide Macleod et al., p. 449). Conquanto a globalização assuma grande relevância na afirmação da EPI, ela não esgota a explicação deste fenómeno, sendo de relevar o próprio início do declínio económico dos EUA e a erupção de novos desafios na década de 70, como a OPEP e os esforços dos países em desenvolvimento na afirmação de uma nova ordem económica internacional (vide N. Woods, 2001, p. 9).

O processo de afirmação da EPI comportou leituras diversas no contexto do paradigma hegemónico tendo, também, subvertido as posições relativas das duas grandes escolas presentes neste contexto, o realismo e o liberalismo. Assim, o contributo central do neorrealismo, a tese da estabilidade hegemónica terá, no final da década de 60, começado a sofrer um acentuado processo de erosão, ditado pela evolução do mundo real (cf. R. Gilpin, 1987, p. 90), mostrando-se inadequada para enquadrar, de forma consistente, as alterações de contexto e as novas dinâmicas. Na verdade, o que se registou foi a afirmação de um sistema liberal internacional, inclusive, ao nível da gestão de diferendos, situação que se pode considerar estabelecida ao longo da primeira metade da década de oitenta, tendo comos figuras políticas proeminentes R. Reagan e M. Thatcher. No plano teórico, as posições liberais comportam três níveis distintos, a tese da Paz Democrática (enquanto substrato de filosofia política), a teoria dos regimes internacionais (o modo de articulação de interesses de uma plêiade alargada de atores) e o respetivo programa operacional, Washington Consensus, (a propósito do âmbito, evolução e avaliação deste, vide, respetivamente, J. Williamson, 2004, p. 3, J. Stiglitz, 1998, e N. Birdsall et al, 2011). No quadro de análise da teoria dos regimes, é de recordar a abordagem da secção 1.2.2, no que se refere à natureza dos ganhos decorrentes da cooperação (ganhos absolutos vs. ganhos relativos ou soma zero dos neorrealistas), e à tese que defende que do reforço da cooperação e da penalização dos infratores, resulta a superação do dilema da segurança (vide, A.Macleod et al., p. 452).

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clássico dos Estados (Aglietta), enquanto a corrente neogramsciana (R. Cox e S. Gill), desenvolveu a perspetiva da hegemonia ou da internacionalização do Estado (vide, respetivamente, A. Macleod et al., p. 454-455, e N. Woods, 2001, p. 13). No polo oposto surge um conjunto de autores que contestam o declínio do papel do Estado, casos de L. Weiss, que considera que este não só desempenha um papel na globalização como perpetua formas distintas de organização social ou, noutro plano, de J. Rosenau, que privilegia a governação global, ou seja, a articulação do político à escala global (cf., A. Macleod et al., p. 453).

Em conclusão, para além da afirmação do pensamento liberal, em especial, da sua corrente neo institucionalista sujeita, no entanto, a dificuldades crescentes no final do período é de referir, de acordo com A. Macleod et al., que, nesta fase, a EPI inverteu largamente a sua problemática tradicional centrada na segurança, sendo crescentemente constrangida a autonomizar-se face a esta disciplina, isto tendo presente que o desafio de integrar o político e o económico permanece uma missão espinhosa (cf., p. 458).

A alteração de referenciais ditou, também o registo de desenvolvimentos no domínio daGeopolítica, tendo-se assistido na transição para a última década do século passado, ao abandono dos enfoques tradicionais e privilegiado a vertente estratégica das relações internacionais e a Geoeconomia, que E. Luttwak, o seu principal expoente, dizia …ser o melhor termo que encontrava para descrever a mistura da lógica do conflito com os métodos do comércio (citado por S. Baru, 2012, p. 3). No pós-Guerra Fria, o económico surgiu como o principal fator explicativo das relações internacionais entre países desenvolvidos, tendo como contrapartida a perda da importância relativa do poder militar e da diplomacia (cf., J. P. Fernandes 2011, p. 142), prevalência que, no plano internacional, é veiculada através da implementação de políticas económicas de cariz neo mercantilista, de natureza agressiva e sistemática. É esta perspetiva que permite compreender que a principal ameaça tenha passado a corresponder à dependência comercial e financeira face a outros Estados, que a procura do balanceamento de poder se tenha deslocado para as bases da racionalidade geoeconómica, que em situações de conflito a prevalência tenha sido conferida às respostas de natureza económica (e não militar), e que os Estados se tenham reorientado para a salvaguarda dos recursos num panorama de concorrência feroz à escala internacional (cf., J.-F. Gagné, 2007, pp. 13-15).

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clássicas, cujas expressões mais significativas correspondem, segundo J. P. Fernandes, à Cronopolítica e à Geopolítica Critica.

A Cronopolítica está associada aos nomes de P. Virilio e de J. der Derian e focaliza-se na evolução da vertente imaterial e no estudo crítico das consequências da aceleração associada à informatização/ digitalização (a Dromologia, vide J. P. Fernandes, pp. 180-182), remetendo, em última instância, para a análise da sociedade em rede de M. Castells, referida na subseção anterior. Para estes autores, as noções de tempo e de velocidade substituíram as de território e distância, uma mutação rica em implicações, mormente no que respeita à desterritorialização e alargamento das fontes de ameaça.

A Geopolítica Critica, que surgiu após 1990, compartilha os mesmos pressupostos nos domínios filosófico e epistemológico, conceptualizando a Geopolítica como um complexo de discursos, representações e práticas, em vez de ciência coerente, visando desmontar os modos como as elites políticas transcreviam e representavam os locais nos seus exercícios de poder (cf., E. S. Santos, 2007, 3ª parte, p. 1). A sua principal figura é G. Ó Tuathail, que se baseia na existência de uma disjunção crescente entre poder de Estado e territorialidade capitalista, salientando a existência de três processos-chave (a globalização, a informacionalização, e a proliferação de riscos desterritorializados), fatores que reconfiguraram o papel dos Estados e a ordem mundial, a prática da governação, e a conceptualização da segurança no final do século passado (cf. J. P. Teixeira, 2011. p. 183) e G. Ó Tuathail, 2000, p. 168).

Assim, sem esquecer a importância dos contributos das correntes críticas, temos que a geopolítica conheceu desenvolvimentos relevantes, com a análise convencional a refocalizar-se, na vertente económica ou geoeconomia, a resposta da escola realista, que entronca na lógica neomercantilista (vide subseção anterior, 1.3.3., EPI). Quanto aos émulos liberais, o discurso prevalecente articula-se em torno do económico e do seu veículo, por excelência, o mercado, enquanto meio universal para aplainar conflitos, que não invalidou a emergência de problemas de grande escopo, por vezes, articulados à esfera energética (vide, p. e., S. Roberts et al., 2003).

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1.3. A evolução do contexto e o sector energético

Nesta secção abordar-se-á a evolução do enquadramento do sector energético, enfatizando o papel de fatores que lhe são específicos, bem como os condicionalismos associados à emergência de novos ameaças e riscos, sendo referidas as implicações no domínio teórico, focalizadas na explicação de fenómenos reportados a esta esfera, concluindo pela abordagem das consequências no domínio da segurança energética.

Começando pelas grandes alterações registadas pelo contexto (a afirmação do

mercado e a emergência de dificuldades crescentes), é de referir que no período

analisado uma das evoluções mais marcantes foi a reorientação do sector energético (petróleo, gás natural e eletricidade), dando enfâse ao papel da iniciativa privada em detrimento do sector público, tendência visível a partir da década de 80 (no respeitante ao petróleo, vide S. Randall, p. 2005, em especial, p. 293).

Os impactos da liberalização nos três subsegmentos foram muito distintos no que respeita às cronologias e resultados, sendo de relevar no referente aos países-líder:

a) No respeitante ao mais avançado (o petróleo), é de relevar que nos EUA, o processo de desregulação subsequente às crises petrolíferas da década de 70, foi concluído no início da era Reagan, tendo originado uma forte reconversão/ integração da esfera empresarial, coroada pela afirmação da matéria-prima como commodity (vide S. Randall, 2005, pp. 291-301 e, NPC, Topic Paper #30, 2007); b) Quanto ao gás natural a desregulação foi lançada em 1978 nos EUA, país que concluiu este processo em década e meia. Trata-se porém, de um combustível em que reinam mercados regionais, dada a simultaneidade histórica da subalternidade (town gas) e da utilização condicionada (transporte, vide P. Stevens, 2010, pp. 3-12);

c) No que respeita à eletricidade, o processo foi lançado, em 1984, no Reino Unido, tendo alastrado à EU, aos Estados Unidos, e a outros países, com sucesso muito variável, inclusive, nos diferentes estados norte-americanos (para uma perspetiva sintética, vide P. Joskow, 2006, pp. 11-13),

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Fattouh, 2011, pp. 7-8). Entre 1986 e 1988 este cartel cedeu, mostrando-se incapaz de continuar a impor as cotações por via administrativa, situação que prevalecia desde o desencadear da crise de 1973/74, tendo esta alteração resultado da conjugação da quebra da procura mundial e do grande incremento da oferta não controlada por este grupo de produtores (vide, B. Fattouh, op. cit., p. 15-17, e J. L. Williams, 2011, pp. 4-6).

Trata-se do principal item que integra o Dow Jones-UBS Commodity Index, correspondendo-lhe em 2011 uma ponderação de 15% (cf. R. Newell, 2011, p. 11). De acordo com algumas interpretações, a afirmação deste mercado global tem correspondência na afirmação da hegemonia dos EUA (vide na perspetiva da segurança energética, P. Noel 2002, pp. 44-68 e na da geopolítica Sébille-Lopez, 2006, pp. 71-104). Esta situação de predomínio arrastou-se cerca de 15 anos, podendo o índice ser tomado como indicador avançado, ainda que tenha evidenciado alguma volatilidade na passada década de 90, recuperando protagonismo a partir do início do presente século (vide dados de J. L. Williams, 2011, p. 1 e interpretações de P. Noel).

Por outro lado, esta evolução é indissociável de um conjunto de esforços convergentes que para além dos estímulos à oferta de longo prazo, adotados pela IEA (cf., 1994, pp. 56-59), compreendem medidas implementadas por distintos países, em especial pelos EUA, em articulação com ações empresariais, que constituem o lastro do sistema, de que referiremos:

a) Os estímulos à autoprodução, incluindo a exploração de áreas remotas (Alasca) e a mobilização dos recursos energéticos dos países vizinhos, em particular do Canadá (cf., S. Randall, pp. 291-292);

b) A mobilização dos recursos não controlados pela OPEP (Mar do Norte) e, numa

fase posterior, na África Subsaariana;

c) A expansão para mercados da Ásia Central, tirando partido do desmembramento

da União Soviética (cf. G. Germanovich, 2008, A. Jaffe et al., 2007, p. 40); d) Numa fase mais recente o arranque da exploração de hidrocarbonetos não

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Tabela 1 - Alguns indicadores relativos à evolução das economias subsaarianas  e do golfo da Guiné, no período 2004-2008
Tabela 2 - Evolução de alguns indicadores macroeconómicos relativos   a Angola, Guiné Equatorial e Nigéria (2004-2008)
Tabela 3 - IDH 2011 e seus componentes, relativos aos países do golfo da Guiné  HDI  Ind
Tabela 4 - Evolução do IDH no período 2000-2010
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